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MOOT COURT DE DIREITO DA FAMÍLIA

António e Beatriz conheceram-se em junho de 2008 e, desde o primeiro momento em que se


viram, naquele quente dia de verão, perceberam que seria amor para a vida toda.

O amor que nutriam um pelo outro era de tal forma grande que decidiram casar 3 meses depois.
Convencidos de que o amor seria mesmo para a vida toda, António e Beatriz casaram segundo o
regime da comunhão geral. Como disse António ao procurador do Ministério Público que celebrou
a Convenção Antenupcial, “o amor não separa patrimónios”. O que se percebe facilmente, tendo
em conta que Beatriz tinha uma fortuna avaliada em largos milhões de euros. Da convenção
antenupcial resultava também uma cláusula que afastava o dever de fidelidade. Apesar do enorme
amor que nutriam um pelo outro, ambos consideravam que uma relação aberta seria uma relação
mais saudável.

António e Beatriz casaram em setembro de 2008 e, em outubro, Beatriz engravidou da sua


primeira filha, Josefa, que viria a nascer em junho de 2008.

Os anos que se seguiram foram de extrema felicidade e o casal teve mais quatro filhos, Filipa,
José, Marta e Francisco, e ainda adotaram um cão, chamado Zezinho, e dois peixes, o
Laranjinha e o Bolinhas.

Os problemas chegaram quando o cão Zezinho integrou a família. No dia 4 de janeiro de 2017,
num dos passeios que dava com o cão, António conheceu a Leonor e sua cadela Pantufa.
António e Leonor e os cães Zezinho e Pantufa, de imediato, sentiram o tempo parar e
perceberam que era amor.

António manteve a relação extraconjugal em segredo até novembro de 2021, momento em que
Beatriz se apercebeu da existência de Leonor e da sua cadela Pantufa.

Nesse mesmo mês, Beatriz expulsou o seu companheiro de casa e, farta de ser traída, intentou
uma ação de divórcio baseada no incumprimento culposo do dever conjugal de fidelidade. Beatriz
requer ainda:

I. A “guarda” do cão Zezinho e dos peixes Bolinhas e Laranjinha.


II. A guarda de Josefa, Filipa, José, Marta e António;
III. Apesar de ter casado em comunhão geral, entende que tem direito a ficar com a
totalidade dos bens que levou para o casamento, visto que o António em nada
contribuiu para a fortuna do casal.
IV. Beatriz exige, também, ficar com a casa de morada de família, não só por ser herança
do seu avô, como, por ser ela a ficar com a guarda dos filhos e dos animais, assim
designados aqui com muita relutância, diga-se.
V. Por fim, exige que lhe seja paga uma indemnização por António e outra por Leonor,
por violação do dever conjugal e por eficácia externa, respetivamente.

António, por seu turno, opõe-se ao divórcio invocando a cláusula da convenção antenupcial que
afastou o dever de fidelidade. Ainda assim, caso o divórcio seja concedido, considera que:

I. Os peixinhos Bolinhas e Laranjinha devem ficar com ele porque foi ele que os pagou.
II. Quanto aos filhos, exige ficar com a guarda porque sempre foi ele que se dedicou à sua
educação. Propõe que estejam com a mãe uma vez por mês.
III. Opõe-se, tremendamente, ao pedido relativo à guarda do cão e, para isso, menciona que
(i) É sempre ele que o passeia;
(ii) É ele que sabe a comida que o Zezinho mais gosta;
(iii) Os cães Zezinho e Pantufa começaram uma relação amorosa e separá-los
neste momento poderia ser trágico, visto que Pantufa está grávida de 8
cachorros.
IV. Deve receber um crédito compensatório por ter renunciado à sua carreira de comediante
para se dedicar ao cão Zezinho e às tarefas domésticas.
V. Deve receber uma prestação de alimentos, mensalmente, por não ter fonte de
rendimento e, por essa mesma razão, deve ficar com a casa de morada de família, que
passará a ser a segunda habitação, uma vez que tenciona viver na casa da nova
namorada. Exige que esta prestação lhe permita manter o nível de vida que teve até
então.
VI. Por fim, entende que tem direito a metade da fortuna de Beatriz, por ter casado em
comunhão geral de bens.

[13/03/2022] 02
Informação Adicional

Beatriz tem uma carreira de sucesso, assume um cargo de


gestão na Hambúrgueres Variados e Companhia, famosa
multinacional, e aufere mensalmente um ordenado no valor
de 30.000,00€. Este cargo permite-lhe ter flexibilidade
horária, apesar de preferir trabalhar no escritório para não
Sobre Beatriz
ser distraída com as crianças. Tem 13 imóveis em seu
nome e uma fortuna avaliada em largos milhões.

António tenciona começar a viver com a sua nova


namorada, na sua casa de Cascais. Atualmente não tem
trabalho e nem tenciona arranjar porque prefere viver à
custa da ex-mulher. O seu lema de vida é “não separe o
Sobre António divórcio o dinheiro que o casamento uniu”. António sempre
cuidou dos filhos e tem uma profunda angústia por ter
preterido a sua vida profissional em benefício de uma
relação que fracassou.

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