UNIDADE II
FUNDAMENTOS DA BIOÉTICA
Elaboração
Milton Luiz Nascimento
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO
UNIDADE II
FUNDAMENTOS DA BIOÉTICA......................................................................................................................................................... 5
CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO, HISTÓRICO E A BIOÉTICA NO BRASIL........................................................................................................... 6
CAPÍTULO 2
BIOÉTICA EM SITUAÇÕES PERSISTENTES E EMERGENTES......................................................................................... 13
CAPÍTULO 3
MODELO PRINCIPIALISTA........................................................................................................................................................ 15
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................20
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FUNDAMENTOS DA
BIOÉTICA
UNIDADE II
Para iniciar: você saberia definir bioética? Que princípios da bioética você conhece?
Qual o limite da ciência?
Figura 2. Bioética.
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CAPÍTULO 1
DEFINIÇÃO, HISTÓRICO E A BIOÉTICA NO BRASIL
Definição
“Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais – incluindo visão moral,
decisões, conduta e políticas – das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando
uma variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar” (REICH,
1995, XXI).
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Transdisciplinar
Interdisciplinar
Multidisciplinar
Disciplina
Pela figura 3, podemos perceber que há relação disciplinar, não exclusão disciplinar
em detrimento da outra. Existe, sim, uma crítica ao uso isolado da disciplina,
multidisciplinar e interdisciplinar; há o reconhecimento também de cada fase que
antecede a outra como parâmetro para a construção do conhecimento. Juntas,
alcançam o nível de compreensão integral do objeto estudado. Para isso, é necessário
que a comunicação e interação entre elas cheguem ao patamar transdisciplinar.
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Histórico
A bioética é uma disciplina recente. A palavra “bioética” surgiu no início da
década de 1970, criada por Van Rensselaer Potter, com a publicação do livro
“Bioética: uma ponte para o futuro” (1971). Desde então, vem sendo desenvolvida
academicamente. O neologismo foi criado por Potter, com a junção de bios (vida)
e ethos (ética). O autor via a bioética como “uma ciência para sobrevivência”.
Sua preocupação é voltada para as consequências dos avanços científicos e seus
desfechos para o meio ambientes (POTTER, 1971).
A bioética, assim como qualquer outro conhecimento ou outra ciência, passa por
fases evolutivas, como sua fase de fundamentação com Potter, na década de 1970;
a expansão com Beauchamp e Childress, na década de 1980; a revisão crítica,
na década de 1990; e a ampliação conceitual, com a Declaração Universal Sobre
Bioética e Direitos Humanos (DUBDH), a partir de 2005 (NEVES, 2005). Sendo
assim, a bioética vem se contextualizando e buscando oferecer ferramentas que
possam ser aplicadas e adaptadas conforme as culturas de cada local.
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Bioética no Brasil
No Brasil, assim como na América Latina, o foco da Bioética é relacionado a
questões sociais; ao contrário do modelo principialista, que privilegia a autonomia
e o individualismo, a bioética no Brasil já enfatiza a prioridade pela coletividade
em busca da equidade. Como vimos, a bioética deve observar as pluralidades; no
Brasil, ela se configura de forma que contemple as vulnerabilidades sociais em
função do histórico de exclusão e desigualdade social que carregamos.
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A bioética brasileira, então, tem seu foco inicial relacionado a questões de saúde
pública, as quais têm relação direta com o histórico da desigualdade social, de
modo que tenta estreitar essa desigualdade. Utiliza-se de referências de direitos
humanos no enfrentamento desse problema que persiste em nossa história. Desse
modo, a Reforma Sanitária brasileira, junto com o contexto de saúde pública
enfrentado na época, serviu como terreno fértil para pensar a bioética com a
nossa realidade.
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CAPÍTULO 2
BIOÉTICA EM SITUAÇÕES PERSISTENTES E EMERGENTES
Bioética de intervenção
Antes de falar sobre a bioética em situações persistentes e emergentes, é necessário
falar que essa classificação metodológica tem origem na construção da bioética de
intervenção, desenvolvida por Dora Porto e Volnei Garrafa. Sua teorização começa
em 1995, mas só foi anunciada publicamente, em 2001, no I Congresso Boliviano de
Bioética, em La Paz. A bioética de intervenção, ao contrário da proposta da teoria
principialista, propõe análise politizada de como as relações de poder interferem
diretamente nos conflitos.
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Situações persistentes
Os problemas persistentes são aqueles que historicamente se mantêm na linha do
tempo, tendo como contexto os problemas sociais que se perpetuam em ciclos de
conflitos morais. Estão relacionados a questões que repercutem tanto na vida em
sociedade como na vida privada, em que estão presentes conflitos relacionados a
direitos humanos, exclusão social, estigmatização, discriminação, universalidade do
acesso à saúde e alocação de recursos escassos.
Situações emergentes
Os problemas emergentes são os temas atuais, das últimas décadas, que geram
conflitos morais. O desenvolvimento de experimentos científicos e tecnológicos
que tenham repercussão direta ou indireta na vida humana e não humana. Temos
engenharia genética com o mapeamento do genoma humano, fecundação assistida,
pesquisa com seres humanos, eugenia, descarte de embriões, biobancos, bigdata,
biossegurança, doação e transplante de órgãos, nanotecnologia, entre outros.
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CAPÍTULO 3
MODELO PRINCIPIALISTA
Definição
A ideia original de Potter tomou corpo biomédico em 1979, com o lançamento
do livro “Princípios da Ética Biomédica”, escrito por Tom Beauchamp e James
Childress. No livro, os autores estadunidenses formularam quatro princípios a
serem seguidos para mediar conflitos éticos. Três princípios já eram conhecidos
após a elaboração do Relatório Belmont, de 1978, quais sejam, o respeito à
pessoa (que se tornou respeito à autonomia); beneficência; e justiça. O quarto
princípio incorporado na obra dos autores foi a não maleficência (BEAUCHAMP;
CHILDRESS, 2013).
A teoria principialista leva esse nome porque foca toda a dinâmica dos conflitos
éticos sob a avaliação dos quatro princípios. São aplicados ao considerarem a
existência de uma moralidade comum. Esse modelo dominou tradicionalmente
todo o pensamento da bioética até a fase de revisão crítica e o surgimento de outras
formas de pensar a bioética no mundo plural.
Princípio Destaque
Respeito à autonomia A pessoa escolhe
Beneficência Fazer o bem
Não maleficência Evitar danos
Justiça Prioriza igualdade formal
Fonte: Principles of Biomedical Ethics, 2013.
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Entre esses princípios, a justiça foi o tema menos explorado contextualmente pelos
autores. Isso demonstra a dificuldade de tentar universalizar um princípio com
base em uma moralidade comum. Como vimos, vivemos em um mundo repleto de
moralidades, um pluralismo moral que impede a tomada de decisões padronizadas
como os autores propõem. Mais uma vez, é necessário contextualizar para a tomada
de decisão diante de conflitos éticos.
O uso de princípios não é o ponto que leva à revisão crítica do modelo predominante
que recebeu o nome de principialismo, até porque os princípios são pontos iniciais
das discussões éticas, sejam elas para as normais morais, sejam para os cuidados
em saúde, como proposto por Beauchamp e Childress (2013). Dessa forma,
os princípios devem ser aplicados inicialmente quando forem identificados os
conflitos. Em seguida, serão analisados diante de contextos específicos.
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Como vimos nesta unidade, a bioética tem como pano de fundo crimes contra
a humanidade no decorrer da história, que contribuem para a reflexão sobre
ética global, já que envolve todas as vidas humanas e não humanas, e toda
a biodiversidade do planeta que se encontra em risco diante do avançar
biotecnológico e da persistência da desigualdade social. A fundamentação da
bioética é recente, mas hoje apresenta uma variedade de teorias que podem ser
argumentos nas discussões de dilemas éticos e problemas morais.
Diante do que foi apresentado até o momento, é possível ter uma única bioética
que responda aos temas que envolvem dilemas e problemas morais em todas
as partes do mundo?
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REFERÊNCIAS
BEECHER, H. K. Ethics and clinical research. New England J Med., v. 274, n. 24, pp. 1354-60, 1966.
Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJM196606162742405. Acesso em: 27 jul.
2020.
CUNHA, T.; GARRAFA V. Vulnerability: a key principle for global bioethics?. Camb Q
Healthc Ethics, v. 25, n. 2, pp. 197-208, 2016. Disponível em: https://www.cambridge.
org/core/journals/cambridge-quarterly-of-healthcare-ethics/article/vulnerability/
EBA6F98309E0E833EACE7E1AD8E6F1E2. Acesso em: 15 out. 2021.
GARRAFA, V.; PORTO, D. Intervention bioethics: a proposal for peripheral countries in a context
of power and injustice. Bioethics, v. 17, n. 5-6, pp. 399-416, 2003. Disponível em: https://
pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/14870763/. Acesso em: 27 jul. 2020.
GARRAFA, V. Bioética cotidiana. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 1, pp. 333-334,
feb. 2005. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
311X2005000100038. Acesso em: 27 jul. 2020.
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Referências
PORTO, D.; GARRAFA, V. A influência da Reforma Sanitária na construção das bioéticas brasileiras.
Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 16, supl. 1, pp. 719-729, 2011. Disponível em: https://www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011000700002. Acesso em: 27 jul. 2020.
POTTER, V. R. Bioethics: Bridge to the Future. Englewood Cliffs: Prentice-Hall New Jersey, 1971.
RAMOS, D. L. P. Bioética, pessoa e vida: uma abordagem personalista. 2. ed. São Paulo: Difusão
Editora, 2018.
REICH, W. T. Encyclopedia of Bioethics. Rev. Ed. MacMillan: New York, XXI, 1995.
WITIUK, I. L.; FRANÇA, B.; KRUGER, C.; GUEBERT, M. C. C. Ética em pesquia envolvendo
seres humanos. Curitiba: PUCPRESS, p. 15, 2018.
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