Fernando Pessoa e Ricardo Reis encontram-se onze vezes no decorrer da
trama romanesca. Nesses encontros, ocorridos em diversos espaços (quarto do
Hotel Bragança, na rua, no Alto de Santa Catarina, num café, no Prazeres etc), através das longs conversas travadas entre ambos, vários detalhes da personalidade dos dois nos são revelados. Pessoa é, então, caracterizado como irônico e contraditório. De fato, esset dois aspectos da personalidade do personagem de José Saramago são passíveis de seem atribuídos a Fernando Pessoa, porém não sem uma certa polêmica. Gaspar Simões, por exemplo, não considera o poeta irônico, por julgar tal comportamento incompatível com a sua timidez. Sua opinião é de que o "sense of humour (...) domina as relações de Fernando Pessoa consigo próprio e com os demais seres humanos" (Simões, 1980, p.594- 595). Já António Cobeira, no artigo "Fernando Pessoa, vulgo o *Pessoa', e a sua ironia transcendente", defende, como o título do artigo deixa claro, posição oposta a de Simões. Obviamente, essa discussão não cabe na análise que estamos fazendo. Afinal, como já apontamos, não há, da parte do narrador, a