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O amendoim
Nas traseiras de uma casa chinesa havia um bocado de terra, pelo que a dona da casa
disse aos filhos:
– Visto vocês gostarem tanto de amendoins, podiam semeá-los acolá.
As crianças ficaram encantadas com a ideia da mãe. Daí, uns a comprarem as sementes,
outros a cavarem o solo, e outros a regarem. E passados poucos meses, a colheita.
Então a mãe disse:
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– Esta noite vamos organizar uma festa, convidando o vosso pai para provar o amendoim
fresco.
Todos concordaram. A mãe cozinhou vários pratos com o amendoim, e achou que a festa
devia ser no jardim, debaixo do caramanchão que tinha telhado de colmo.
O tempo não era muito bom, naquela noite, mas o pai, um professor que estava no seu
10 escritório a preparar as aulas, não deixou, contudo, de aparecer na festa. E sentando-se num
dos bancos de pau, ao lado dos filhos, perguntou:
– É verdade que vocês gostam mesmo de amendoim?
– Sim! Gostamos muito! – gritaram os pequenos.
– E porque é que vos parece uma boa fruta, o amendoim?
– Porque sabe bem – respondeu a menina mais velha.
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– Porque dele também se pode fazer óleo – disse o moço maior.
– Porque não é caro e toda a gente pode comprá-lo – acrescentou o mais novo.
Então o pai observou:
– Realmente, o amendoim tem muitas utilidades, mas o importante é ele não ser como a
macieira, o pessegueiro ou a romãzeira, árvores vaidosas que expõem nos ramos os seus
20 belos frutos para as pessoas os verem e os admirarem. Enquanto o amendoim fica debaixo da
terra até amadurecer e as pessoas o desenterrarem. Que se vocês passarem pela modesta
planta, difícil é dizer se ela está ou não pronta para comer. Só tendes a certeza depois de a
tirar cuidadosamente da terra.
As crianças acharam que ele tinha razão. E a mãe acenou que sim com a cabeça.
Mas o pai continuou:
25 – Devemos, portanto, ser todos como o amendoim que nem é grande nem bonito mas é
útil.
– Quer dizer que as pessoas devem tentar ser úteis mais do que ricas e famosas? –
perguntou um dos pequenos.
– Bem, é o que eu espero de vocês, meus filhos – atalhou o pai.
30 Noite fora, sem sono, os meninos e a menina conversaram sobre o que tinham ouvido. Pois
embora eles comessem os amendoins todos, as palavras do pai impressionaram-nos tanto
que ainda hoje, após muitos anos, permanecem nos seus corações.
Maria Ondina Braga, O Jantar Chinês e Outros Contos, Ed. Caminho, 2004
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