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NOVA ABORDAGEM À MANUTENÇÃO DE ACCIONAMENTOS

MECÂNICOS / MOTO-REDUTORES

David Braga
Departamento de Engenharia
SEW-EURODRIVE PORTUGAL
dbraga@sew-eurodrive.pt

Resumo
É hoje possível através de uma criteriosa selecção de accionamentos mecânicos, e
recorrendo a um software específico (por exemplo o WESILAB desenvolvido pela
SEW), calcular o tempo de vida dos rolamentos, dos lubrificantes e identificar as
engrenagens ou secções de veios com menores coeficientes de segurança. Isto é,
actualmente, as tarefas relacionadas com os serviços de manutenção de accionamentos
mecânicos, estão intimamente relacionadas com o processo de selecção de
equipamentos: (1) no momento da selecção, pode prever-se quais os elementos com
menor durabilidade dos accionamentos, calcular o tempo de vida dos rolamentos e assim
gerir as paragens para manutenção e os stocks de sobressalentes, em conformidade; (2)
ao efectuar manutenção aos accionamentos e, através da análise dos componentes, é
possível identificar fragilidades e introduzir as necessárias alterações de melhoria
(alterar materiais utilizados nos retentores, nos veios e/ou engrenagens, recorrer a
rolamentos reforçados, alterar o tipo de lubrificante, etc); (3) a utilização de
equipamentos para monitorização da condição dos accionamentos: instalação de
sensores de análise de vibrações, de sensores que permitem analisar o desgaste dos freios
ou de sensores que indicam o tempo de vida do lubrificante.
Os fornecedores de accionamentos mecânicos, nomeadamente de moto-redutores, têm
por isso um papel fundamental no apoio às equipas de manutenção durante todo o ciclo
de vida destes equipamentos.
Este trabalho pretende enumerar os elementos críticos de um accionamento, relacionar
esses elementos com o processo de selecção, apresentar os benefícios inerentes à
utilização de um software, desenvolvido especificamente para prever o tempo de vida
dos accionamentos, e apresentar sucintamente as vantagens que os novos sistemas de
monitorização da condição oferecem no aumento da disponibilidade dos sistemas
produtivos onde estão inseridos. Por outras palavras, pretende demonstrar a necessidade
de diálogo e proximidade entre o utilizador final e o fornecedor de accionamentos.

1 - Introdução
O peso das acções de manutenção no conjunto das actividades produtivas e o nível
actual de competitividade entre empresas, de cada um dos sectores da indústria, obriga a
que as equipas de manutenção mantenham uma elevada disponibilidade dos
equipamentos, um tempo mínimo de paragens e, se possível, inexistência de paragens de
produção não planeadas.
Um elemento quase sempre presente nos sistemas produtivos, e crítico ao bom
funcionamento dos mesmos, é o conjunto moto-redutor. A manutenção deste tipo de
equipamento (constituído por um motor eléctrico com ou sem freio e um redutor) deve
por isso ser vista como um dos factores condicionantes ao correcto funcionamento dos
sistemas onde está inserido.

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A Manutenção Condicionada, por razões quer do âmbito técnico quer económico, é hoje
em dia uma prática que se impõe na generalidade das indústrias. Quando se fala de
moto-redutores e redutores industriais, nomeadamente em unidades críticas ao processo
produtivo, a manutenção deverá passar por intervenções sistemáticas (anuais ou
semestrais) e pela monitorização da condição entre paragens para detectar
prematuramente eventuais danos ou perturbações.
A SEW-EURODRIVE, como fornecedor de referência em accionamentos
electromecânicos, oferece actualmente um suporte global, sistemático e de longo termo a
cada um dos seus produtos. Este apoio é apresentado num conjunto de módulos de
serviços e, em produtos, criados pela vasta experiência acumulada e suficientemente
flexíveis para cobrir as necessidades particulares de cada cliente.
No que toca à manutenção preventiva, a SEW-EURODRIVE oferece uma gama de
serviços distintos e complementares [1]
- Serviços de reparação em accionamentos;
- Serviços de Inspecção de accionamentos;
- Serviços de lubrificação;
- Contratos de manutenção;
- Serviços de intervenção em redutores industriais em oficina dedicada;
Relativamente à monitorização da condição, a SEW-EURODRIVE divide a sua oferta
em serviços e produtos. No que se refere aos serviços, destacam-se [1]:
- Serviço de Controlo da Condição (Termografia);
- Serviço de monitorização da condição;
Relativamente aos produtos, destacam-se os sensores DUV10A para análise de
vibrações, os sensores DUO10A para monitorização do tempo de vida do lubrificante e
DUB10A para monitorização da funcionalidade e desgaste do freio. Estas unidades de
diagnóstico permitem efectuar, de uma forma fiável e económica, a monitorização da
condição de accionamentos. Estes equipamentos têm como objectivo dar resposta à
crescente procura de formas de manutenção preventiva, isto é, prever uma possível falha
tão cedo quanto possível, ajudando desta forma a planear intervalos de manutenção, a
prevenir tempos de paragem não planeados e aumentar a disponibilidade dos sistemas.
Podem ser aplicadas separadamente, ou em conjunto.
Neste trabalho abordam-se vários pontos relativos à manutenção de accionamentos
mecânicos que pretendem demonstrar a necessidade de diálogo permanente e vantagens
na proximidade entre o utilizador final e o fornecedor de equipamento, por forma a
optimizar as instalações produtivas [2].

2.1 - Elementos críticos de um moto-redutor


Quer as acções preventivas quer as acções de monitorização incidem, obviamente, sobre
os elementos críticos de um moto-redutor. Todos os elementos que sofrem desgaste com
a sua normal utilização são críticos, pois a sua falha pode influenciar a deterioração
prematura de outros componentes e daí levar à destruição total ou parcial da unidade.
Elementos como os retentores, o lubrificante e os rolamentos têm um tempo de vida
normalmente finito e devem por isso ser inspeccionados com frequência. Outros
elementos, como as engrenagens, o cárter e os veios têm um tempo de vida que está
dependente do processo de selecção, isto é, do factor de serviço e dos coeficientes de
segurança utilizados, sendo que na maioria dos casos são dimensionados, teoricamente,
para vida infinita.
Nas tabelas seguintes apresentam-se os intervalos de inspecção/manutenção
normalmente recomendados pelos vários fabricantes de moto-redutores.

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Tabela 1 – Intervalos de Inspecção/Manutenção dos redutores
Intervalos de Inspecção/ Manutenção Acções a executar
Diariamente ou com a maior frequência . Verificar existência de ruídos ou vibrações anormais
possível
Mensalmente . Verificar temperatura do cárter*
Mensalmente . Verificar nível de lubrificante
A cada 3000 horas de funcionamento, ou . Verifique o estado do lubrificante
pelo menos de seis em seis meses. . Controlo visual das vedações (fuga)
. Em redutores com braço de binário, verifique os
sinoblocos e substitua-os, se necessário
Anualmente Executar uma inspecção completa à unidade
Dependendo das condições de operação, pelo . Substitua o lubrificante mineral
menos a cada 3 anos, e de acordo com a . Substitua a massa dos rolamentos (recomendação)
temperatura do óleo. . Substitua os retentores (não volte a montar na mesma
zona de trabalho)
Dependendo das condições de operação, pelo . Substitua o lubrificante sintético.
menos a cada 5 anos, e de acordo com a . Substitua a massa dos rolamentos (recomendação).
temperatura do lubrificante. . Substitua os retentores (não volte a montar na mesma
zona de trabalho).
Variável (dependente de factores externos) . Retoque ou renove a pintura anticorrosiva.
*A temperatura do lubrificante está normalmente 20% acima da temperatura medida no cárter e que os
limites máximos aconselhados pelos fabricantes de lubrificantes são as seguintes: Lubrificante mineral:
Tmáx funcionamento ≤ 80ºC; Lubrificante sintético: Tmáx funcionamento ≤ 110ºC.

Tabela 2 – Intervalos de Inspecção/Manutenção dos motores


Intervalos de Inspecção/ Manutenção Acções a executar
A cada 10.000 horas de funcionamento. Inspeccione o motor:
. Verifique os rolamentos e, se necessário,
substituía-os;
. Substitua os retentores de óleo;
. Limpe as passagens do ar de arrefecimento.
A cada 10.000 horas de funcionamento, em . Mude a massa lubrificante de baixa viscosidade do
motores com anti-retorno: anti-retorno.
Variável (dependente de factores externos) . Retoque ou renove a pintura anticorrosiva.

Tabela 3 – Intervalos de Inspecção/Manutenção dos freios


Intervalos de Inspecção/ Manutenção Acções a executar
Se for usado como freio de serviço: Inspeccione o freio:
Pelo menos a cada 3000 horas de . Meça a espessura do disco de freio;
funcionamento . Meça o ajuste do entre-ferro;
. Verifique o prato de pressão;
. Inspeccione o carreto
. Verifique estado das molas
Se for usado como freio de sustentação: . Remova a matéria abrasiva
Cada 2 a 4 anos, dependendo das condições . Inspeccione os contactores, e em caso de desgaste
de operação substitua-os

2.2 Sistemas de monitorização da condição para apoio às acções de manutenção


Estão disponíveis no mercado alguns sensores para monitorização da condição
desenvolvidos especificamente para moto-redutores e que cobrem a monitorização de
praticamente todos os elementos críticos destes accionamentos mecânicos. A utilização

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Monitorização do freio
A utilização de micro-sensores para monitorizar o desgaste do freio permite:
• Identificar o desgaste prematuro do freio, com a unidade em funcionamento;
• Evitar períodos de paragem – aumento da disponibilidade dos sistemas;
• Planeamento individual de períodos de manutenção em função do grau especifico
de desgaste;, i.e., adaptar os intervalos para manutenção dos freios ao desgaste
real;
• Monitorização segura da funcionalidade do freio;

Figura 3 - DUB10A / Sensor para monitorização do desgaste e funcionalidade do freio

2.3 Análise dos dados recolhidos nas acções de inspecção/manutenção


Actualmente, alguns fornecedores de moto-redutores colocam à disposição dos seus
clientes uma larga variedade de extras que podem, caso a caso, aumentar
consideravelmente o tempo de vida dos moto-redutores. Se houver, no momento da
selecção, um conhecimento profundo da aplicação é possível, desde logo, escolher os
extras necessários para optimizar a unidade para a aplicação concreta. No entanto é
muitas vezes nas acções de inspecção/manutenção que se descobrem eventuais
fragilidades da unidade face à exigência da aplicação e do ambiente em que este opera. É
também nesse momento que o diálogo entre o utilizador e fornecedor deve ser
novamente estimulado.
Como exemplo, apresentam-se algumas alterações de melhoria que, entre outras, podem
ser preconizadas quer no momento da aquisição da unidade, quer numa paragem para
manutenção (estudo caso a caso): alteração dos materiais dos veios, das engrenagens ou
dos retentores, montagem de dispositivos para melhorar a lubrificação dos componentes
internos do moto-redutor ou para melhorar o arrefecimento do lubrificante, utilização de
rolamentos reforçados e/ou isolados, alteração das dimensões do veio de saída, da sua
dureza, rugosidade ou do ponto de aplicação da carga, aplicação de tratamentos anti-
corrosão (interior e exterior da unidade), etc;

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2.4 Utilização de software de selecção para apoio às acções de manutenção
Alguns fornecedores disponibilizam aos seus clientes cálculos de apoio à selecção
(obtidos por software desenvolvido para o efeito) que indicam, para cada moto-redutor
versus aplicação concreta: (1) a temperatura do lubrificante para funcionamento em
regime nominal (para cada uma das posições de montagem), (2) o tempo de vida
previsto para cada um dos rolamentos, (3) os coeficientes de segurança para os flancos e
para a raiz do dente, de cada uma das engrenagens existentes, (4) os factores de
segurança para cada uma das secções transversais dos diferentes veios (veios de saída,
entrada e intermédios), (5) a carga axial máxima, (6) a carga radial máxima, (7) a carga
máxima que o cárter suporta, (8) a potência térmica (em função de cada posição de
montagem), entre outras informações que, de cada um destes resultados directos, se
podem extrapolar. Isto é, cálculos que ajudam o utilizador final a planear os períodos de
manutenção para mudança de lubrificante ou para troca de rolamentos e que permitem a
criação de um stock mínimo de peças, tendo em conta que se conhecem, à partida, quais
as engrenagens e rolamentos com menor tempo de vida.

3 - Conclusões
As tarefas relacionadas com os serviços de manutenção a moto-redutores estão
intimamente relacionadas com o processo de selecção de equipamentos: (1) no momento
da selecção pode prever-se quais os elementos com menor durabilidade dos
accionamentos, calcular o tempo de vida dos componentes críticos e assim gerir as
paragens para manutenção e os stocks de sobressalentes, em conformidade; (2) ao
efectuar manutenção aos accionamentos, através da análise de desgaste/estado dos
componentes, é possível identificar eventuais fragilidades e introduzir as necessárias
alterações de melhoria (alterar materiais utilizados nos retentores, nos veios e/ou
engrenagens, recorrer a rolamentos reforçados, alterar o tipo de lubrificante, etc).
Por outro lado, a utilização de equipamentos para monitorização da condição dos
accionamentos mecânicos: instalação de sensores de análise de vibrações, de sensores
que permitem analisar o desgaste dos freios e/ou de sensores que indicam o tempo
restante de vida do lubrificante, permite identificar atempadamente qualquer anomalia
na unidade e optimizar o tempo de vida do accionamento, diminuindo os tempos de
paragem e evitando paragens não planeadas.
Conclui-se que, desde o processo de selecção, ao planeamento das acções de
manutenção, à análise dos dados recolhidos dessas acções e ao seguimento das unidades
através da monitorização da condição é fundamental existir uma estreita colaboração
entre os responsáveis da manutenção e os fornecedores de accionamentos mecânicos.

Referências
[1] João Dias, SEW-EURODRIVE PORTUGAL, “Serviços Especializados em
Engenharia dos Accionamentos, 8º Congresso Nacional de Manutenção, 2005.
[2] David Braga, SEW-EURODRIVE PORTUGAL, “Accionamentos Mecânicos:
Manutenção de Moto-redutores”, Robótica, Nº68, 2007.

Mealhada, 12/10/2007

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