Tendo em vista a grave comoção social provocada pela atual situação dos riscos nos
ambientes de trabalho no Brasil, expresso pelo número de acidentes do trabalho verificados
ano a ano, e considerando os prejuízos causados à qualidade de vida dos trabalhadores
brasileiros e os custos em que incorrem as políticas públicas na área social, o Ministério da
Previdência e Assistência Social tem priorizado a adoção, em conjunto com o Ministério do
Trabalho, de políticas que permitam avaliar e controlar a atual situação, identificando os
setores que receberão maior atenção do governo para fins de prevenção e fiscalização.
A primeira etapa na elaboração de um sistema de avaliação e controle de acidentes
do trabalho é reunir um conjunto de informações armazenadas em um banco de dados que
permita construir indicadores básicos de risco, com todos os níveis de detalhe necessários. É
fato, reconhecido até mesmo por técnicos da OIT - Organização Internacional do Trabalho, que
conseguir retratar 100% dos acidentes ocorridos nas empresas é uma tarefa muito difícil, uma
vez que alguns empregadores, deliberadamente, não notificam as ocorrências. Além disso, as
estatísticas oficiais de acidentes de trabalho no Brasil são as disponíveis no Ministério da
Previdência e Assistência Social, ou seja, aqueles acidentes ocorridos com segurados empregados
sob regime CLT e trabalhadores rurais.
Tendo em vista a necessidade da construção de indicadores estatísticos de acidentes
do trabalho, que subsidiem as tomadas de decisão no âmbito do acidente do trabalho, a
primeira etapa foi avaliar a situação atual dos acidentes de trabalho e, a partir dessa avaliação,
propor uma metodologia para elaboração de vários indicadores.
2. Indicadores Utilizados para Medir o Risco no Trabalho
Há uma série de indicadores que podem ser construídos visando medir o risco no trabalho
e permitir comparações entre diferentes momentos de tempo. A OIT utiliza três indicadores para medir
e comparar a periculosidade entre diferentes setores de atividade econômica de um país (ILO, 1971):
o índice de freqüência, o índice de gravidade e a taxa de incidência. Esses indicadores, usados
internacionalmente, permitem avaliar e comparar os riscos de cada código de atividade econômica,
além de servirem como ponto de partida para a obtenção de uma medida de risco única para controle.
Ressalte-se ainda, que os indicadores aqui relacionados podem ser utilizados como ferramentas
básicas no acompanhamento da qualidade do ambiente de trabalho e para a avaliação dos atuais
graus de riscos já atribuídos orientando o INSS e o Ministério do Trabalho nas suas ações
preventivas e fiscalizadoras.
2.1. Indicadores Internacionais
a)Índice de Freqüência (If)
O Índice de Freqüência (If) mede o número de acidentes ocorridos para cada
1.000.000 de homens-hora trabalhadas
Número total de acidentes
If * 1.000.000
Número total de homens - hora trabalhadas
Além dos indicadores apresentados, outros podem ser calculados buscando retratar o
comportamento e as características dos acidentes de trabalho em um determinado período. Os
indicadores aqui apresentados não esgotam as análises que podem ser feitas a partir dos
dados de ocorrências de acidentes, mas permitem a elaboração de profundos estudos sobre o
tema.
a) Taxa de Incidência
A taxa de incidência é muito utilizada em países que não possuem uma medida precisa do
número de homens-hora trabalhadas, ou seja, é indicador que pode ser utilizado em substituição ao
índice de freqüência.
Esse indicador deve ser calculado para cada um dos motivos de acidentes, ou seja,
acidentes típicos, de trajeto e decorrentes de doenças do trabalho. Seu cálculo permite analisar
o número de acidentes ocorridos a cada 1.000 trabalhadores.
b) Taxa de Mortalidade
c) Taxa de Letalidade
Seu cálculo permite verificar o número de óbitos ocorridos a cada 100 acidentes de
trabalho registrados. É um bom indicador para medir a gravidade do acidente.
3. Bases de Dados
Para o cálculo destes indicadores serão utilizados dados extraídos de quatro bases de dados
distintas, todas residentes na DATAPREV. As informações necessárias são, principalmente,
trabalhadores, gastos com pagamento de benefícios por acidentes de trabalho, arrecadação para o SAT
e acidentes de trabalho registrados e liquidados por Classificação Nacional de Atividade Econômica -
CNAE.
3.1. Cadastro Nacional Informações Sociais - CNIS
O CNIS é a base de dados nacional que contém informações cadastrais de
trabalhadores empregados e contribuintes individuais, empregadores, vínculos empregatícios e
remunerações.
Outro dado importante a ser extraído do SUB é o gasto com pagamento de benefícios
decorrentes de acidentes de trabalho. A obtenção dos gastos com benefícios concedidos não
apresenta problemas e pode ser feita com os mesmos detalhamentos utilizados para a quantidade de
concessões. Entretanto, se desejamos medir o gasto total é preciso considerar os pagamentos dos
benefícios já em estoque.
3.4. Arrecadação
O sistema de Guias de Recolhimentos da Previdência Social - GRPS reúne
informações sobre o valor arrecadado pelas empresas e entidades equiparadas. Embora não
haja um campo separado que discrimine o valor da contribuição para o SAT, é possível calculá-
lo considerando a alíquota associada a cada código de atividade econômica (1%, 2% ou 3%).
Desta forma, a tabulação realizada fornece o valor total da arrecadação, segundo o mês
de competência, detalhado por CNAE e CGC/CEI a partir do qual será calculado a contribuição para
o SAT.
Serão, portanto, estabelecidos valores limite para os indicadores dos graus de risco,
que determinarão qual o enquadramento ideal de um determinado ramo de atividade. Sabe-se
a distância entre esse indicador e a média dos indicadores obtida para as atividades de risco
leve e médio. A partir daí será possível trabalhar com o conceito de variável reduzida
(SPIEGEL, 1979)
xx
Por exemplo, supondo que se pretende verificar se um código de atividade possui grau de
risco leve ou médio, considerando o valor obtido para um indicador de risco, pode-se afirmar que a
atividade será de risco leve se a distância até a média de risco leve for menor que a correspondente
para risco médio. Utilizando o conceito de variável reduzida, essas distâncias podem ser
padronizadas como (MATION, 1983)
x xl x m x
l m
x m m xl
x l
l m
onde o valor obtido para x na expressão acima é o valor limite para que uma atividade possa ser
enquadrada como de risco leve. Essa expressão pode ser generalizada para comparações entre os
três graus de risco. Desta forma, o valor limite para classificação de uma atividade como de risco
médio é dado por
m x g g xm
x
m g
4.2. Cálculo de um Indicador Único (Iu) para avaliação dos graus de risco
A construção de um indicador único, a partir dos índices de freqüência, de gravidade
e de custo, tem como objetivo permitir o correto enquadramento das atividades econômicas por
grau de risco. Seu resultado não tem um significado concreto de análise, oferecendo apenas
parâmetros para o estabelecimento de uma ordem de classificação e valores limite por grau de
risco.
A partir daí, o indicador único será dado pela média aritmética entre o índice de
freqüência, o de gravidade e o de custo modificado.
I f I g I cm
Iu
3
Conforme descrito anteriormente, serão calculados valores limite para esse indicador
único, que permitirá avaliar o enquadramento de cada atividade econômica nos três graus de
risco de acidente de trabalho.
5. Periodicidade e divulgação dos resultados
A periodicidade de cálculo dos indicadores dos itens 2.1 e 2.2 será anual e realizada
no 3º bimestre de cada ano, em referência ao ano imediatamente anterior, sendo que seus
resultados serão publicados no Diário Oficial da União.