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Beatriz Ventura, TB

2021/2022

Direito das Sucessões


Aulas PRÁTICAS
Prof. Rodrigo Gonçalves

Aula nº1 – 03/03/2022


rodrigo.goncalves@fd.ulisboa.pt
Existem 4 modalidades de sucessão:
 Legítima;
 Legitimária;
 Testamentária;
 Contratual.

legítima

legitimária

Definição de sucessão segundo prof. JDP (sendo que não concorda com o art.
2124º) – aquisição por morte de uma liberdade ou vinculação à custa do património do
de cuius.
Ideia de que tem de ser patrimonial e tem de ser por morte.
“chamar à sucessão” – corresponde a assumir a posição jurídica que pertencia ao
de cuius. A doutrina diverge em relação a este conceito.

Aula nº2 – 15/03/2022


 Caso prático nº1
a) A faleceu num acidente, no qual também morreu E, 3 segundos depois. Abriu-se a
sucessão de A, seguida também da abertura de sucessão do seu legatário, E.
Art. 2058º + art. 2249º.
 Abertura de duas sucessões;
 Chamamento do 2º de cuius à 1ª sucessão;
 Morte do 2º de cuius sem ter exercido o direito de suceder (ou não);

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 Chamamento de uma 3ª pessoa à sucessão na qualidade de herdeiro ou legatário


do 2º de cuius;
 Aceitação por parte do 3º.
Nesta situação, o direito transmite-se aos sucessíveis do 2º de cuius. É um caso
de transmissão (?).
Há uma … originária e uma derivada.
Tipos de legados:
- transmissão da propriedade/coisa imóvel;
- transmissão de um direito de crédito.
(??)
- dispositivos: reais ou de crédito;
- obrigacionais: dívidas.
Distinção feita pelo prof. Galvão Telles.
b) Direito de preferência que se transmite por morte – art. 420º.

c) A vendeu o imóvel no Funchal, em 2019. Se quando fez o testamento já tinha


vendido a casa, a disposição testamentária …
Art. 2251º e ss.
d) Sucessão anómala; Lei da economia comum; direitos do unido de facto

e) A tinha dois irmãos: L – irmão germano; S – irmão uterino; faleceu; tem dois filhos.
Os pais de A faleceram, não é casado e não tem filhos. Neste caso, abre-se a
sucessão dos irmão e seus descentes (art. 2145º e ss), aplicando-se o art. 2146º - irmãos
germanos e unilaterais.
Assim, segundo o art. 2146º, L fica com 2/3 e S ficaria com 1/3. Contudo, uma
vez que faleceu, essa quota é repartida pela dois filhos, ficando cada um com 1/6. Os
filhos de S representam-no – art. 2138º; o direito não se transmite.
Neste caso, há duas exceções à sucessão por cabeça, sendo uma delas a regra do
art. 2146º e a outra o direito de representação, em que a parte de S é dividida pelos seus
filhos.
O direito de transmissão (art. 2058º) só ocorre quando há duas sucessões abertas
ao mesmo tempo.
O direito de representação prevalece face ao direito de acrescer. Por isso é que o
irmão germano não recebe a parte dos seus sobrinhos, que estão em representação do
irmão uterino.

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Aula nº3 – 17/03/2022


Continuação do caso prático nº1
Cláusula 1 – art. 2013º/1/a) – a obrigação de alimentos cessa com a morte do obrigado
ou do alimentando.
É um direito pessoal, que se extingue pela morte e, por isso, não se pode
transmitir. Esta deixa não é possível, logo, é nula (regime geral – art. 286º). Art. 2308º
- caducidade da ação. Não pode ser declarada oficiosamente pelo tribunal. Pode ser
confirmada – art. 2309º.
Cláusula 2 – art. 2030º/4 – N é legatário. Ver qual é o tipo de legado.
Cláusula 3 – corresponde a um encargo sobre o legado – art. 2276º (distingue-se do
encargo sobre a herança – art. 2068º e ss). Art. 2179º/2 – esta deixa tem cariz não
patrimonial. É uma cláusula válida, que não viola a lei nem os bons costumes.
Cláusula 4 – contrato a favor de terceiro, sendo que não é objeto de sucessão (?)
segundo prof. JDP; é um caso de sucessão anómala. A doutrina diverge em relação
àquilo que é efetivamente objeto da sucessão no caso do seguro de vida.

Aula nº4 – 22/03/2022


Continuação do caso prático nº1
Cláusula 5 – a perfilhação corresponde a uma disposição de caráter não patrimonial,
pelo que só é válida se cumprir os termos do art. 2179º/2 (fazer parte de um ato
revestido de forma testamentária).
No entanto, neste caso, a cláusula é considerada nula, nomeadamente por ser
contrária à lei e aos bons costumes (A quer perfilhar alguém, mesmo sabendo que C não
é sua filha). Atendemos ao regime geral da nulidade (art. 286º) e não ao regime
específico do art. 2308º.
Cláusula 6 – é nula, porque não é possível deixar a exploração de uma farmácia a
alguém. Art. 2025º.
Cláusula 7 – E é legatário – art. 2030º/4.
Cláusula 8 – direito de preferência convencional sobre o imóvel em Coimbra –
corresponde à transmissão de um direito de crédito, ou seja, é um legado dispositivo (?)
– art. 2249º e ss; art. 2261º.
Cláusula 9 – P é legatário (sucede num bem determinado) – art. 2030º/2.
Cláusula 10 – “deixo a casa aos meus herdeiros legítimos”. Neste caso, aplica-se o art.
2226º/1, por força do nº2; ou seja, a disposição considera-se feita a favor dos que
seriam chamado por lei à sucessão, segundo os regras da sucessão legítima (art. 2131º e
ss).

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 Caso prático nº2

a) Estatuto sucessório de Tércio (T)

Tendo em conta a cláusula 1 do testamento de António (A), T tem o estatuto


sucessório de herdeiro, uma vez que se trata de um caso de legado por conta da quota
(posição prof. JDP; alguns autores consideram que se trata de “herdeiro-legatário”) –
são-lhe atribuídos bens determinados em preenchimento de uma quota que o autor da
sucessão lhe atribuiu – art. 2030º/2, 1ª parte.
Para além disso, segundo o art. 2030º/5 – “a qualificação dada pelo testador aos
seus sucessores não lhes confere o título de herdeiro ou legatário”.

Aula nº5 e 6 – 24/03/2022


Continuação do caso prático nº2
b) A totalidade dos bens imóveis de A no estrangeiro constituía metade do valor da
herança.
Neste caso, poderia ser um caso de deixa categorial que esgota dicotomicamente
a totalidade da herança – o de cuius está a repartir a herança em duas quota apuradas por
referência a uma categoria abstrata de bens (bens imóveis/bens móveis).
Sub hipótese: os bens em causa constituem menos de 1/10 do valor da herança.
Se o valor dos bens determinados ficar aquém do valor da sua quota, o
sucessível que aceitar o legado por conta tem o direito de exigir a diferença.
Caso os bens constituíssem mais de 1/10 do valor da herança, quanto ao
remanescente do 1/10 do valor da herança, o sucessível é legatário.
c) No momento em que o testamento foi outorgado, o cravo afinal não constituía
metade do valor dos bens móveis de A, mas apenas 1/3 desse valor.
É um caso de legado por conta da quota. H (o herdeiro-legatário) tem o direito
de exigir a diferença do valor.
d) Estatuto sucessório de Zulmira – “herdeiro-legatário”; é um caso de legado por
conta da quota.

Z pretende vender o seu direito de suceder -

e) No momento da morte de A não existiam mais bens imóveis para além dos que
estavam no estrangeiro. Rebeca, como não recebe nada, não sabe se terá
legitimidade jurídica para velar pela memória do falecido.
Na cláusula 4, a disposição “será a verdadeira sucessora pessoal” não é válida,
segundo o art. 2030º/5. É um legado por conta da quota.

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Cláusula 5 – o remanescente dos bens móveis ficara para Xavier.


Aplica-se o art. 2030º/3 e X é havido como herdeiro.

Cláusula 6 – Vítor ficará com o usufruto de 1/5 da herança + responder pelas dívidas da
mesma.
Quanto ao usufruto, aplica-se o art. 2030º/4 e V é havido como legatário. Em
relação às dívidas – art. 2237º - administração da herança ou legado.

 Caso prático nº3

1) 2008 – Artur (A) doou em vida 15.000€ à sua amiga Rosa (R).

2) 2010 – A e Beatriz (B) casaram-se e não têm filhos.

3) 2017 – A outorgou um testamento público – atribui o remanescente da sua quota


disponível ao amigo Fernando (F). F é sacerdote e presta assistência espiritual a A
desde 2016;
A deixou a Gonçalo (G) o terreno no Algarve, no valor de 10.000€.
4) 2019 – A faleceu. Deixou bens no valor de 35.000€ e dívidas no valor de 5.000€.
Sobreviveram-lhe os pais, Carlota (C) e Dinis (D), assim como B e todos os
restantes intervenientes (R, F e G).

5) C repudiou a herança.

Na sucessão legitimária herda-se a quota indisponível:


Existem duas liberalidades: uma mortis causa e outra inter vivos.
As doações em vida feitas a legitimários são imputadas na quota indisponível. Se
for mortis causa vai para a disponível.
Redução de liberdades – art. 2168º e ss.
As heranças e os legados reduzem proporcionalmente dentro das suas classes.
As doações em vida reduzem por inteiro, por ordem cronológica.
Pactos sucessórios também podem reduzir inoficiosamente – ver artigos.

 Caso prático nº4


Em 2008, Albertina casou-se com Bernardo, tendo tido três filhos: Carlos, Daniela e
Edmundo. Em 2010, Albertina fez um tratamento público no qual deixou um automóvel antigo
ao seu amigo Márcio, por um período de cinco anos após a sua morte. Deixou igualmente seu

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imóvel sito em Corroios ao seu amigo Sílvio. Legou ainda o seu relógio de ouro a Leonardo, na
condição de este nunca se tornar judeu.

M é legatário, sendo que lhe foi deixado o usufruto do automóvel. Por isso, não
se inclui na QD.
A condição relativa a L é contrária à ordem pública, segundo o art. 2230º/2.
Ao tomar conhecimento desde testamento, Zélio ficou muito revoltado, pois, antes de
casar, Albertina tenha celebrado convenção antenupcial com Bernardo na qual tinha deixado o
imóvel sito em Corroios as Zélio. Na mesma Convenção antenupcial, em que Jaime também foi
outorgante, Albertina deixou-lhe 1/6 da herança. Em 2017, Albertina fez novo testamento no
qual deixou o seu relógio de ouro a Gabriela e metade da herança a Humberto.

Em relação à convenção antenupcial – arts. 1704º e 1705º. Corresponde a uma


sucessão contratual.
O testamento de 2017 constitui uma revogação tácita parcial em relação ao
testamento de 2010.
Em 2019, Albertina faleceu.
Faça a partilha da herança de Albertina, sabendo que esta deixou bens no valor de
1.400.000€ e dívidas no valor de 200.000€. No momento de sua morte, o automóvel antigo valia
40.000€, a casa sita em Corroios foi avaliada em 200.000€ e o relógio de ouro em 8.000€.

Aula nº7 – 29/03/2022


 Caso prático nº5
Em outubro de 2018, Alda e Bruno celebraram convenção antenupcial, tendo casado
seis meses depois. Dessa convenção constava o seguinte: “Ambos os nubentes renunciam à
qualidade herdeiros legais um do outro, na condição de Bruno falecer antes dos seus irmãos”.
Em 2019, Bruno doou a Alda a sua casa sita no Alentejo. Um ano depois, Bruno faleceu vítima
de doença prolongada. Sobreviveram-lhe Alda e os seus irmãos, Faustino e Guilherme, não
tendo deixado quaisquer descendentes.
1) Faça a partilha da herança de Bruno sabendo que este deixou bens no valor de 500.000€
e dívidas no valor de 150.000€. No momento da sua morte, a casa sita no Alentejo foi
avaliada em 100.000€.
2) Quais os direitos de Alda enquanto viúva de Bruno?

Segundo o prof. Daniel Moraes, a condição não tem de ser recíproca, mas a
renúncia sim. Neste caso, nunca seria possível a renúncia ser recíproca devido à
condição que lhe está subjacente. Logo, a cláusula é inválida.
O prof. JDP defende que o cônjuge não pode renunciar.
Neste caso, A renunciou à herança, ou seja, renunciou apenas à posição de
herdeiro legitimário e não à legítima. Arts. 1707º-A/1 + 1713º/1; art. 1700º/1/c).

Considerando que a cláusula é válida, A recebe metade da herança – art. 2158º.

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Quando não há legitimários, aplica-se a fórmula QD-liberalidades. Os irmãos


ficam apenas com aquilo que sobrar da QD. Quando só há legítimos, não se abate a
doação inter vivos do cônjuge, que renunciou.
O donatum apenas é considerado para os legitimários.
Considerando que a cláusula não é válida, aplica-se a sucessão legítima, porque
os irmãos são sucessíveis legítimos e não legitimários. Arts. 2133º/1/c) + 2136º +
2145º.

Aula nº8 – 31/03/2022


 Caso prático nº6
Em 2010, António doa por morte a Dário, seu amigo, na convenção antenupcial
celebrada entre Dário e Eugénia, 1/6 da herança.

Trata-se de um pacto designativo Art. 1700º/1/a) – não é necessário que ambos


os cônjuges sejam donatários; por isso, a cláusula é valida. D é considerado herdeiro,
segundo o art. 2030º/2.
Em 2009, Dário e Eugénia tiveram uma filha: Filipa.
Em 2015, António é objeto de uma sentença de acompanhamento nos termos da qual
este tem capacidade para testar.

O regime dos maiores acompanhados encontra-se no art. 138º e ss. Neste caso,
aplica-se o art. 2189º/b), a contrario, dado que a sentença atribui a A capacidade para
testar. Art. 2191º. Capacidade de gozo e não de exercício.
Em 2016, António faz um testamento público com as seguintes cláusulas:
1) Deixo todos os meus bens imóveis à minha irmã Bela, mulher de Carlos, meu curador;

Segundo o art. 2030º/2, B é havida como legatário. A disposição é válida,


segundo o art. 2192º/2.
2) Encarrego Carlos de decidir quem ficará com a totalidade dos meus bens móveis.
Deverá escolher o meu sucessor entre Manuela, Nuno e Óscar.

Art. 2182º/2/b) – a cláusula é válida. A alínea b) refere apenas “legatário”, o que


coloca um problema, uma vez que estamos perante um caso de herdeiro. Caso
adotemos a posição do prof. JDP, a cláusula seria inválida, porque não podemos fazer
analogia do artigo e abranger a partilha de herança.
Estamos perante um caso de deixas categorias dicotómicas que esgotam a
totalidade da herança. Há uma divergência doutrinária em relação à questão de saber se
estes sucessíveis são denominados herdeiros ou legatários.
1- Qualifique as disposições por morte indicadas na hipótese, apreciando ainda as suas
validade e eficácia.
2- Quid iuris se Dário e Eugénia se casaram em 2012?

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Neste caso, a convenção antenupcial teria caducado, por força do prazo de um


ano estipulado no art. 1716º, e, por isso, a doação por morte seria inválida.
3- Quid iuris se Dário morrer em 2018 e António falecer em 2019?

Estamos perante um caso em que o donatário falece antes do doador – art.


1703º/2 – podemos considerar que o pacto sucessório não caduca, havendo direito de
representação (considerando que a filha de D e E nasceu dentro do casamento – este
artigo suscita problemas de constitucionalidade).

Aula nº9 – 05/04/2022


 Caso prático nº7
Antónia, com 80 anos, tem um filho com 40 anos, Bernardo, adulto que foi objeto de
uma sentença de acompanhamento nos termos da qual este não pode fazer testamento. Carla,
prima de Bernardo, foi designada acompanhante, por indicação de Antónia, num documento
autêntico, pois esta já não se sente com forças para assegurar essa função. Visto que Carla é a
única pessoa, de entre os sucessíveis legítimos de Bernardo, que se preocupa com ele, e
atendendo ao facto de o pai de Bernardo, Dário, já ter falecido. Antónia dirige-se ao seu
Cartório Notarial pretendendo fazer um testamento com o seguinte teor:
1) Todos os bens de Bernardo, meu filho, ficam para Carla;
2) Em caso de predecesso de Bernardo, designo Carla minha herdeira universal.

1- Quid iuris?

Quanto à deixa 1, segundo o art. 2192º/1, a disposição é nula (ainda que tenha
sido feita por A e não por B, que é o maior acompanhado). A disposição poderia ser
válida, segundo o nº2 do mesmo artigo, mas C é colateral no 4º grau, não estando
abrangida por esta exceção.
B é maior acompanhado (art. 138º e ss), tendo sido estipulado que não pode
fazer testamento. Por isso, segundo o art. 2189º/b), B é incapaz de testar. C, colateral
no 4º grau (sucessível legítimo – art. 2133º/d)), foi designada seu acompanhante.
Saber se A, uma vez que não é acompanhante de B, pode fazer o seu testamento
– art. 2298º - substituição quase-pupilar. A substituição quase-pupilar é uma
substituição ativa do lado de quem está a fazer o testamento.
Esta deixa refere “todos os bens de B”, algo que não é possível, segundo o art.
2300º. A substituição quase-pupilar só pode abranger os bens que o substituído haja
adquirido por via do testador.
Em relação à deixa 2, estamos perante um caso de substituição direta, uma
substituição passiva, nos termos do art. 2281º e ss.
Suponha agora que o testamento tinha o seguinte teor:
1) Deixo a minha quota disponível a Bernardo;

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Capacidade sucessória – art. 2033º.


2) Se este falecer sem ter sido levantada interdição e sem deixar descendentes, a minha
quota disponível fica para Carla.

Art. 2298º/2, parte final – a substituição quase-pupilar fica sem efeito se o


substituído falecer deixando descendentes ou ascendentes.
Art. 2300º - pode dispor da sucessiva legítima do substituído, desde que a haja
adquirido por via do testador.

Aula nº10 - 07/04/2022


 Caso prático nº9
Em 2005, António fez uma doação em vida do seu imóvel y à sua amiga Kate.
Em 2010, doou por morte a Zaqueu o seu imóvel x por escritura pública.

Art. 946º - doação por morte + art. 2028º/2 – trata-se de um contrato sucessório. Art.
946º/2 – abrange testamento público e testamento cerrado; para além disso, a escritura
pública vale como disposição testamentária.
Em 2015, fez um testamento público no qual legou o imóvel x a Marta, com o encargo
de todos os meses se assegurar que seria rezada uma missa por sua alma.

Esta disposição constituiu uma revogação tácita da disposição feita em 2010,


segundo o art. 2313º/1.
Art. 2224º - disposição a favor da alma é válida.
Em 2016, o imóvel x ficou totalmente destruído num incêndio. No mesmo ano, António
fez testamento cerrado no qual deixou a Nuno metade da sua herança a ser preenchida com a
sua casa de férias no Algarve e, ainda, com o bem indicado num papel que se encontrava
escondido na gaveta da sua secretária. No referido papel, escrito e assinado por António, com a
data de 5 de março de 2015, encontrava-se escrito o seguinte: “Deixo ao meu amigo N a minha
quinta em Azeitão”. A deixa a Nuno foi realizada na condição deste nunca transmitir a Rui,
rival de António, os bens imóveis em causa.

Em relação ao facto de o imóvel x ter ficado destruído – considera-se que a


disposição caducou, segundo o art. 2317º, uma vez que este artigo não é taxativo
(refere “além de outros casos”).
Quanto ao testamento cerrado – art. 2206º/1 – o testamento cerrado é escrito e
assinado pelo testador, tendo de ser aprovado pelo notário (nº4). Segundo o art.
2209º/1, o testador pode conservar o testamento cerrado em seu poder.
O facto de A ter deixado a N metade da sua herança a ser preenchida com a sua
casa de férias no Algarve e a quinta em Azeitão, corresponde a um legado por conta da
quota, ficando N com o estatuto de herdeiro (posição prof. JDP), segundo o art.
2030º/2.

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Caso estes dois bens excederem metade da herança, o sucessível tem-se como
herdeiro até ao limite do valor dos bens que preenchem a quota e legatário em relação
ao excedente.
Art. 2184º - testamento “per relationem”.
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O testamento per relationem é aquele que remete para outro ato que, por ser
turno, completa uma disposição testamentária constante do primeiro testamento.
Segundo os profs. Pires de Lima e Antunes Varela, independentemente de se
tratar de disposição testamentária essencial, basta a remissão para um documento escrito
e assinado pelo testador, com a mesma data ou data anterior ao testamento.
Por outro lado, segundo o prof. JDP, a disposição testamentária remissiva só
seria válida se o próprio documento para o qual remete o testamento per relationem
tivesse a forma de testamento cerrado (ou outra prevista por lei). As disposições
testamentárias essenciais devem observar uma certa dignidade formal.
As exigências formais limitam a relevância do testamento per relationem, sendo
que essas exigências compreendem as disposições testamentárias essenciais (aquelas
que têm de ser feitas pessoalmente pelo testador – art. 2182º/1). Só será válida a sua
remissão para documento que observe as formas legais do testamento, a forma de
escritura pública ou de documento particular autenticado.
Quanto às demais disposições testamentárias, elas serão válidas se a remissão for
feita, pelo menos, para documentos escritos e assinados pelo testador com a mesma data
ou com data anterior à do testamento.
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O vício que incide sobre esta disposição é a inexistência – art. 2206º/5 + art.
286º.
A condição de N nunca transmitir os bens a Rui é contrária à lei, segundo o art.
2232º. Por isso, segundo o art. 2230º/1, esta condição tem-se por não escrita e não
prejudica o herdeiro (beneficiário da deixa), ou seja, ele recebe a casa, mas não está
condicionada a nada.
Para além disso, segundo o art. 2185º, é nula a disposição feita a favor de
pessoa incerta. Contudo, se for possível tornar certa essa pessoa, a deixa é válida.
Também pode ser um problema de interpretação do testamento, à luz do art. 2187º,
uma vez que A já tinha feito uma disposição a favor do seu amigo Nuno.
Em fevereiro de 2020, António morreu, deixando um relictum no valor de 600.000€ e
dívidas no valor de 50.000€. O imóvel y valia 50.000€; a casa de férias no Algarve valia
50.000€ e a quinta em Azeitão valia 150.000€.
António deixou sobrevivos a sua mulher Bernardete e os seus quatro filhos, Cátia,
Daniel, Eduardo e Filipe.
Faça a partilha da herança de António.

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VTH = 600.000+250.000-50.000 = 800.000


Cônjuge (B); 4 filhos (C, D, E, F).
Art. 2139º/1 – ¼ de 800.000 = 200.000 fica para o cônjuge; ¼ de 600.000 =
150.000 fica para cada um dos filhos.
Isto porque, segundo a parte final do artigo, o cônjuge nunca pode receber
menos do que ¼ da herança. Isto representa uma exceção à regra da divisão por cabeça,
presente no art. 2136º.

Aula nº11 – 12/04/2022


 Caso prático nº11
Em 2000, Armando casou-se com Bela, tendo previamente celebrado convenção
antenupcial na qual apenas Armando e Bela foram outorgantes. Nessa mesma convenção,
Armando doou por morte a Xavier o seu apartamento no Algarve.

Estamos perante uma sucessão contratual (mais precisamente um pacto


sucessório), segundo o art. 2028º. Doação por morte – art. 946º.
Esta disposição é possível, segundo o art. 1700º/1/b), uma vez que A (um dos
esposados) nomeou X seu legatário (art. 2030º/2 – é legatário aquele sucede em bens
ou valores determinados).
Art. 1704º - esta doação vale como disposição testamentária.
Em 2005, Armando fez uma doação em vida à sua amiga Joana, enfermeira, que cuidou
dele quando esteve quase a morrer com um cancro, no valor de 350.000€.

Segundo o art. 953º e o art. 2194º, esta doação corresponderia a um caso de


indisponibilidade relativa, sendo a disposição nula. No entanto, A não veio a morrer da
doença, logo a disposição é válida (art. 2194º, parte final).
Em 2010, Armando fez um testamento cerrado, com as seguintes cláusulas:

Testamento cerrado – art. 2206º e ss.


1) Deixo ao meu amigo Zacarias a minha conta bancária no banco Decenium;

Legado de coisa existente em lugar determinado – art. 2255º.


2) Deixo, ainda, ao meu amigo Zacarias a minha quinta Os Saloios, devendo o mesmo
construir na quinta uma estátua em homenagem a Marcos Portugal, esse grande
compositor português;

Segundo o art. 2244º, a nomeação de legatário pode ser sujeita a encargos. No


entanto, segundo o art. 2276º/1, o legatário só responde pelo cumprimento do encargo
que seja imposto dentro dos limites do valor da coisa legada.
3) A minha coleção de discos de música clássica deverá ficar para Manuel.

Constitui um legado (conjunto de bens determinados), sendo M legatário,


segundo o art. 2030º/2.
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Em 2015, por ocasião do casamento do seu sobrinho Fernando com Guida, Armando
doou por morte a Fernando o seu apartamento no Algarve, bem como 1/10 da sua herança.
Ambas as doações foram feitas na convenção antenupcial previamente celebrada entre Fernando
e Guida.

Art. 1700º/1/a)
Em relação à doação do apartamento no Algarve, corresponde a uma revogação
tácita da disposição feita em 2000, segundo o art. 2313º/1.
Neste caso, o prof. JDP considera que este tipo de deixa tem caráter de
revogação real, porque estamos no âmbito de um contrato, a convenção antenupcial,
aplicando-se o art. 2316º.
Quanto à doação de 1/10 da herança, está é válida e F fica com o estatuto de
herdeiro (art. 2030º/2).
Em 2020, Armando morreu num acidente de automóvel, tendo-lhe sobrevivido a sua
esposa Bela, os seus pais, Cármen e Diogo, e os restantes intervenientes na hipótese.
Ao tomar conhecimento do testamento de Armando, Zacarias disse que, se fosse
possível, aceitava só a deixa relativa à conta bancária, pois detesta Marcos Portugal, mas sempre
quereria receber algo da herança do seu amigo. Manuel, por sua vez, aceitou a deixa que lhe foi
feita, bem como todos os restantes sucessíveis.

Art. 2250º/1 – em primeiro lugar, não pode repudiar o encargo e aceitar a quinta
(1ª parte); não pode repudiar a quinta, porque está onerada com um encargo; mas podia
repudiar a conta bancária (2ª parte).
No momento da morte de Armando, o seu património foi avaliado em 650.000€.
Armando deixou, igualmente, dívidas no valor de 100.000€. No mesmo momento, o
apartamento no Algarve foi avaliado em 100.000€, a quinta Os Saloios em 110.000€, a coleção
de discos de música clássica em 3.000€, e o saldo da conta bancária era de 30.000€.
Faça a partilha da herança de Armando, sem esquecer de se pronunciar sobre a validade
e a eficácia das diversas liberalidades realizadas pelo mesmo, em vida e por morte.

Sucessão legitimária
R = 650.000; P = 100.000; D = 350.000
VTH = R+D-P= 900.000 (art. 2162º/1)
QI = 2/3 de 900.000 = 600.000 (art. 2161º/1)
QD = 300.000
Art. 2142º - 2/3 para o cônjuge = 400.000 e 1/3 para os ascendentes = 200.000, ou seja,
100.000 para cada um.
Sucessão contratual
Art. 1702º - VTHC = R+D (posterior)-P = 650.000-100.000 = 550.000
1/10 de 550.000 = 55.000 fica para F.
Mapa de partilhas

12
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

QI = 600.000 QD = 300.000
B = 400.000
C = 100.000
D = 100.000
Z = 110.000 + 30.000
M = 3.000
F = 100.000 + 55.000
J = 350.000

Uma vez que a soma das liberalidades imputadas na quota disponível é superior
ao valor desta, é necessário proceder à sua redução, segundo o art. 2168º/1. Segundo o
art. 2171º, a ordem da redução é a seguinte:
1. disposições testamentárias a título de herança;
2. disposições testamentárias a título de legado;
3. liberalidades feiras em vida do autor da sucessão (doações em vida).
No caso de haver duas disposições de convenções antenupciais reduz-se
primeiro a que tiver data mais recente, independentemente de ser herança ou legado.
Caso sejam as duas da mesma data, reduz-se primeiro a herança.
Segundo o prof. JDP, nos pactos renunciativos apenas se pode renunciar à
sucessão legitimária e não à legítima.

Aula nº12 – 21/04/2022


 Caso prático nº17
Em 2002, Armindo fez o seguinte testamento: “a) Deixo o bem x40 a Mário, notário que
está a lavrar este testamento público; b) O meu filho Ernesto não pode dispor dos bens que lhe
couberem na minha quota disponível”.

Em relação à deixa a), estamos perante um caso de indisponibilidade relativa,


sendo que, segundo o art. 2197º, a disposição feita a favor do notário que, neste caso,
lavrou o testamento público é nula.
Quanto à deixa b), trata-se de um fideicomisso irregular, segundo o art.
2295º/1/a).
Em 2005, Armindo doou em vida o bem x30 à filha Celestina.

Art. 2104º - colação. Imputa-se na quota indisponível. Neste caso, como o valor
da doação não excede o valor da legítima de cada descendente, não há necessidade de
haver partilha.
Segundo o art. 974º, a doação pode ser revogada por ingratidão quando,
nomeadamente, o donatário seja deserdado, nos termos do art. 2166º.

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Beatriz Ventura, TB
2021/2022

Em 2015, Armindo fez um testamento cerrado com as seguintes cláusulas: “a) Deserdo
Celestina, que foi condenada por falso testemunho contra Dionísio; b) Deixo o bem y10 ao meu
filho Dionísio”.

Quando à deixa a), A podia deserdar C, sua herdeira legítima, segundo o art.
2166º/1/b), uma vez que foi condenada por falso testemunho contra D, descendente de
A. Esta deserdação priva C da sua legítima e, segundo o nº2 do mesmo artigo, o
deserdado é equiparado ao indigno para todos os efeitos legais.
Em relação à deixa b), trata-se de um legado, segundo o art. 2030º/2, dado que
D sucede num bem determinado, ficando com o estatuto de legatário. Podemos entender
que o testador pretendeu beneficiar este legitimário, pelo que se imputa esta liberalidade
na quota disponível.
Em 2019, Armindo morreu. Sobreviveram-lhe: Mário; Bela, casada com Armindo no
regime de separação de bens; Celestina; Dionísio e Ernesto; Fernando, casado com Celestina;
Guilhermina e Heitor, filhos de Celestina.
À data da abertura da sucessão, Armindo tinha bens no valor de 160 e dívidas no valor
de 10. O bem x30 foi avaliado em 30 e o bem y10 foi avaliado em 10.
Celestina morreu logo que tomou conhecimento da morte de Armindo. Heitor repudiou
a herança de Celestina.

Art. 2037º/2 + 2166º/2 – a incapacidade do indigno (neste caso, do deserdado),


não prejudica o direito de representação dos seus descendentes.
No entanto, isto é um caso de transmissão, segundo o art. 2058º. Por isso, a sua
parte da herança transmite-se não só aos seus filhos, mas também ao cônjuge. Segundo
o prof. JDP, para haver direito de transmissão, os dois de cuius têm de ter capacidade
de sucessória. Neste caso, como C foi deserdada, a sua parte da herança não se
transmite, mas há direito de representação em relação aos seus descendentes.
Responda justificadamente às seguintes questões:
1) Pronuncie-se sobre o teor dos testamentos.
2) Proceda à partilha da herança de Armindo.

Aula nº13 – 26/04/2022


Posição do prof. JDP (diferente do livro) – é possível alterar a ordem da
redução das inoficiosidades (art. 2171º), mas apenas através de testamento!
Doações e pactos sucessórios estão em posições equivalentes, sendo o critério a
posição cronológica.
 Caso prático nº18
Em 1992, Armindo fez o seguinte testamento: a) Deixo o bem x50 a Mário, notário que
está a lavrar este testamento público; b) O meu filho Ernesto não pode dispor dos bens que lhe
couberem na minha herança.

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Beatriz Ventura, TB
2021/2022

Em relação à deixa a), estamos perante um caso de indisponibilidade relativa e,


por isso, segundo o art. 2197º, a disposição feita a favor do notário que, neste caso,
lavrou o testamento público é nula.
Quanto à deixa b), trata-se de um fideicomisso irregular, segundo o art.
2295º/1/a). No entanto, os termos desta disposição assemelham-se a uma deserdação,
porque está a privar o sucessível de todos os bens da herança e não apenas daqueles que
couberem na quota disponível. Podemos, então, considerar que a disposição é nula.
Em 1995, Armindo doou em vida o bem x50 à filha Celestina.

Estamos perante um caso de colação, segundo os arts. 2104º e 2105º, dado que
o valor do bem doado (50) é superior à legitima subjetiva de cada descendente (30). As
pessoas sujeitas à colação são os descontentes (legitimários prioritários), os seus
transmissários, os seus representantes e aqueles a que alienaram o seu direito de
suceder.
Prof. OA – defende que o cônjuge está sujeito à colação.
Prof. JDP – cônjuge não está sujeito à colação.
Em 2000, Armindo casou-se com Bela, mãe dos seus filhos, no regime da separação de
bens. Na respetiva convenção antenupcial, Armindo estipulou o seguinte: “a) Deixou 1/10 da
herança a Bela; b) Reservo a faculdade de livre revogação da cláusula anterior; c) No caso de
pré-morte de Bela, o mencionado 1/10 fica para Isabel, minha irmã”.
Bela interveio no ato como aceitante.

Quanto à deixa a), trata-se de uma disposição por morte considerada lícita,
segundo o art. 1700º/1/a).
Em relação à deixa b), segundo o art. 1705º/2, a disposição é válida como deixa
testamentária e não como convenção antenupcial.
Quanto à deixa c), trata-se de uma substituição direta, segundo o art. 2281º/1. O
testador substituiu o herdeiro legitimário por outra pessoa, no caso de o herdeiro não
poder aceitar (neste caso, porque morreu antes do testador). Neste caso, é uma
substituição expressa, em um grau, singular e não recíproca.
Em 2005, Armindo fez um testamento cerrado com as seguintes cláusulas: a) Deserdo
Celestina, que foi condenada por falso testemunho contra Dionísio; b) Deixo o bem y2 ao meu
filho Dionísio.

Quando à deixa a), A podia deserdar C, sua herdeira legítima, segundo o art.
2166º/1/b), uma vez que foi condenada por falso testemunho contra D, descendente de
A. Esta deserdação priva C da sua legítima e, segundo o nº2 do mesmo artigo, o
deserdado é equiparado ao indigno para todos os efeitos legais.
Em relação à deixa b), trata-se de um legado, segundo o art. 2030º/2, dado que
D sucede num bem determinado, ficando com o estatuto de legatário. Podemos entender
que o testador pretendeu beneficiar este legitimário, pelo que se imputa esta liberalidade
na quota disponível.

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Beatriz Ventura, TB
2021/2022

Neste caso, não há lugar à colação, porque trata-se de uma disposição


testamentária e o art. 2104º diz respeito apenas às doações em vida.
Em 2007, Armindo morreu. Sobreviveram-lhe: Mário; Bela; Isabel; Celestina, Dionísio
e Ernesto; Fernando, casado com Celestina; Guilhermina e Heitor, filhos de Celestina.
À data da abertura da sucessão, Armindo tinha bens no valor de 140 e dívidas no valor
de 10. O bem x50 foi avaliado em 50 e o bem y2 foi avaliado em 2.
Celestina morreu logo que tomou conhecimento da morte de Armindo. Heitor repudiou
a herança de Celestina. Bela repudiou o chamamento como sucessível legal à herança de
António.

Transmissão ou representação?
É possível B repudiar a sucessão legal e mesmo assim receber 1/10 da herança?
Segundo o art. 2055º/1, se a pessoa não sabia que também ia ser herdeiro por
testamento, pode repudiar a sucessão legal, e vice-versa. Só é possível aceitar ou
repudiar a herança legal se, à data em que aceito ou repudio, não sabia que iria ser
herdeiro testamentário – art. 2055º/1, 2ª parte.
Segundo o nº2, não se pode repudiar a herança legal e depois vir a aceitar a
testamentária.
Art. 1700º/1 – a instituição contratual de herdeiro e a nomeação de legatário em
favor de qualquer dos esposados não pode ser unilateralmente revogado depois da
aceitação.
Responda justificadamente às seguintes questões:
1) Pronuncie-se sobre as cláusulas dos testamentos e da convenção antenupcial.
2) Proceda à partilha da herança de Armindo.

Aula nº14 – 28/04/2022


 Caso prático nº19
Arnaldo é casado com Rita e tiveram cinco filhos: Bela, Carlos, Daniel, Edgar e Filipe.
Em janeiro de 2008, Arnaldo e os seus filhos Daniel, Edgar e Filipe decidiram ir passear de
carro e tiveram um grave acidente. Daniel teve morte imediata; Arnaldo sobreviveu-lhe ainda
durante 20 minutos, mas acabou por falecer também, após intenso sofrimento, consciente até ao
fim; Edgar ficou em estado de coma até hoje, e Filipe não teve a mesma sorte e acabou por
falecer duas semanas depois, devido aos ferimento que sofreu no acidente.

Como D morreu antes de A e não tem cônjuge nem filhos, não há lugar a
representação, e não se considera, também, o direito de acrescer, porque ele não é
sequer chamado à sucessão.
Em 2005, foi declarada a morte presumida de Bela. Esta deixou três filhos: Guida, Hélio
e Inocêncio. No entanto, estes não eram os únicos netos de Arnaldo; também Edgar tem dois
filhos, José e Liliana, bem como Filipe, que deixou um filho, Paulo.

16
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

Quanto à declaração de morte presumida de B, segundo o art. 115º, esta produz


os mesmos efeitos que a morte.
Direito de representação, nos termos do art. 2039º e ss.
Sabendo ainda que:
a) Hélio repudiou a herança de Arnaldo;

Art. 2062º e ss – é possível H repudiar. Deste modo, a quota de H acresce aos


seus irmãos, G e I, segundo o art. 2301º e ss.
b) Carlos vendeu a Xavier o seu direito de suceder a Arnaldo;

Alienação da herança – art. 2124º e ss. A principal característica da alienação da


herança diz respeito ao facto de a pessoa que alienou ficar sujeito à colação, caso a
mesma ocorra.
c) Filipe não chegou a aceitar nem a repudiar a herança de Arnaldo;

Há direito de transmissão em relação ao seu filho, P, segundo o art. 2058º.


d) Foi atribuída a Arnaldo uma indemnização devido ao seu sofrimento nos momentos de
antecederam a morte, bem como a consciência que teve de que ia morrer. Rita não
aceitou esta indemnização, porque ela não lhe permitia trazer Arnaldo de volta. Aceitou,
no entanto, a herança de Arnaldo.

Em relação à indemnização, trata-se de uma sucessão anómala, que, neste caso,


constitui um legado.
e) Em 2000, Arnaldo fez uma doação a Filipe no valor de 100.000€.

Não há lugar a colação porque a doação não excede o valor da legitima subjetiva
dos restantes sucessíveis legitimários.
f) Em 2003, Arnaldo fez uma doação a Guida no valor de 150.000€.

Não está sujeita à colação porque, à data em que foi feita a doação, G não era
herdeira legitimária prioritária. Por isso, segundo o prof. JDP, o valor em questão
imputa-se na quota disponível.
g) Na data da sua morte, Arnaldo deixou bens no valor de 800.000€ e dívidas no valor de
150.000€.

Aula nº15 – 29/04/2022


Hipótese: se o de cuius fizer uma doação em vida ao cônjuge, de valor superior à
sua legitima subjetiva, segundo o prof. JDP e o prof. PCR, imputa-se na quota
indisponível e o remanescente na quota disponível; esse valor que sobra não está sujeito
à colação.
O prof. Oliveira Ascensão diverge desta posição e sujeita o cônjuge à colação,
em relação ao valor remanescente que é imputado na quota disponível.
1) Faça a partilha da herança de Arnaldo.

17
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

Aula nº16 – 03/05/2022


2) Pressuponha agora que, no mesmo passeio de carro, juntamento com Arnaldo, também
se encontravam as duas melhores amigas, Zulmira e Kelly, tendo ambas falecido no dia
seguinte ao acidente, devido aos ferimentos sofridos.
Arnaldo e Rita tinham feito convenção antenupcial na qual, entre outras disposições,
Arnaldo estipulou o seguinte: “Deixo a minha casa de Faro a Vítor, mas, se Victor for indigno, a
casa ficará para Zulmira. Se a Zulmira não puder aceitar, a mesma ficará para Kelly e, se esta
não quiser aceitar, o usufruto da casa ficará para Sara, sua filha, enquanto esta não voltar a
casar. Se Sara não puder aceitar, o usufruto da casa ficará para Xavier”. Vítor participou na
escritura pública como outorgante.
Posteriormente, em 2004, Arnaldo fez um testamento com o seguinte teor: “Em caso de
necessidade de redução das minhas liberalidades, reduza-se em primeiro lugar a liberalidade que
tem por objeto a minha casa de Faro”.

Art. 2172º/2 – o testador pode alterar a ordem da redução das disposição, por
testamento.
Isto só seria possível se tivesse sido feita na convenção em causa, uma vez que
não pode ser alterada unilateralmente.
Segundo o prof. JDP, a alteração da ordem das reduções não pode operar em
relação a doações em vida e convenções antenupciais.
Sabendo ainda que:
a) Zulmira tem um filho Manuel, declarado judicialmente indigno em relação a Arnaldo,
um mês após a morte deste último.
b) Sara casou-se em março de 2008.
c) Vítor morreu antes de Arnaldo, não deixando descendentes.
d) Em 2005, Arnaldo vendeu a casa de Faro a Walter.

Considerando que a convenção antenupcial foi feita antes da alienação da casa, …


Pronuncie-se sobre o teor da convenção antenupcial, bem como do testamento,
indicando para quem ficaria a casa de Faro se a sua alienação não se tivesse verificado.

Tópicos desta hipótese:


 Hierarquia entre representação e substituição direta
 Condições dúbias
 Se é possível ou não alterar a ordem da redução das inoficiosidades

 Caso prático nº22


Em 2010, Alfredo casado no regime imperativo da separação de bens com Bernardina,
fez um testamento cerrado no qual declarou que: a) deixava a Helena 1/10 da herança; b) no
caso de Helena repudiar, a mesma quota caberia a Luana, que deveria conservá-la até à sua
morte, ficando então os bens para Miriam; c) a deixa a Miriam era feita sob a condição de não-
alienação dos bens correspondentes aos descendentes do testador; d) eventuais encargos com a

18
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

administração da herança seriam satisfeitos só depois de terem sido liquidadas todas as dívidas
contraídas pelo autor da sucessão.

Deixa a) –
Deixa b) – substituição direta seguida de substituição fideicomissária (presume-
se que os fideicomissários são os sucessíveis legitimários); não é possível haver
substituição fideicomissário em vários graus.
Deixa c) – é uma condição contrária à lei, segundo o art. 2232º, na parte que diz
“não transmitir a determinada pessoa os bens deixados” por isso, tem-se por não escrita,
mas não prejudica o herdeiro ou legatário – art. 2230º/1.

Aula nº17 – 05/05/2022


Deixa d) – art. 2070º/2. Não se considera que seja uma condição contrária à lei,
sendo, por isso, válida.
Em 2012, Helena faleceu.
Em 2013, na convenção antenupcial relativa ao casamento do seu filho Edmundo com
Luana. Alfredo declarou deixar por morte um terreno em Sintra a Edmundo, disposição que este
aceitou.
Em 2015, Alfredo doou um casa em Oeiras à sua filha Daniela.
Em 2016, Luana foi declarada judicialmente indigna relativamente a Alfredo.

Aplica-se o art. 2293º/3 – como o fiduciário não pode aceitar, a substituição


converte-se de fideicomissária em direta. Por isso, passa de L para M, mas como a
condição relativa à Miriam tem-se por não escrita…
Alfredo faleceu em março de 2017, tendo-lhe sobrevivido todos os intervenientes já
referidos, com exceção de Helena, e ainda: Cifrão, o terceiro filho de Alfredo; Fernanda e
Gelson filhos de Daniela.
Daniela repudiou a herança de Alfredo e Fernanda repudiou quaisquer direitos que lhe
pudessem caber nesta herança.

Art. 2304º - não há lugar a direito de acrescer, quando o testador tiver disposto
outra coisa, se o legado tiver natureza puramente pessoal ou se houver direito de
representação.
1) Aprecie as disposições por morte.
2) Proceda à partilha da herança de Alfredo, tendo em conta que, à data da morte, ele tinha
bens no valor de 1800 e dívidas no valor de 400. À mesma data, a casa em Oeiras foi
avaliada em 400; e o terreno em Sintra valia 50.

Aula nº18 – 10/05/2022

19
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

 Caso prático nº25


Albano, casado com Bernardina, tinha três filhos de um anterior casamento: Carlos, Eva
e Daniel. Em 2013, Carlos foi objeto de uma sentença de acompanhamento, nos termos da qual
não tinha capacidade para testar. Albano foi designado acompanhante de Carlos.
Em 2016, Albano escreveu e assinou o seguinte testamento cerrado:
“Os bens que Carlos vier a adquirir na minha sucessão ficarão para o meu amigo
Tomás, se o meu filho morrer antes de cessar a limitação à sua capacidade testamentária. Tomás
deverá conservar esses bens, para que eles revertam, por sua morte, a favor dos netos que eu
entretanto venha a ter”.

Segundo o art. 2189º/b), C é incapaz de testar. Por isso, este testamento


corresponde a uma substituição quase-pupilar, de acordo com o art. 2298º/1. Segundo o
art. 2300º, a substituição quase-pupilar só pode abranger os bens que o substituído haja
adquirido por via do testador, o que se verifica.
Para além disso, também é feita uma substituição fideicomissária (art. 2296º -
aplica-se aos legados), em que T é designado fiduciário dos bens que couberem a C,
sendo que, por morte de T, esses bens revertem para os netos de A.
C é sucessível legitimário de A, por isso esta substituição irá operar na sucessão
legitimária. Deste modo, uma vez que não se pode impor encargos relativamente à
herança de herdeiros legitimários, também não se pode fazer uma substituição
fideicomissária neste âmbito.
Assim, concetualmente, não pode haver substituição fideicomissária em relação
à legítima.
Relativamente ao facto de os bens reverterem a favor dos netos que vierem a
nascer, esta disposição é nula, segundo o art. 2288º. É impossível manter o fideicomisso
por mais de uma geração.
Há alguma doutrina que entende que se o maior acompanhado casar ou tiver
filhos a substituição quase-pupilar deve ser cessada.
Em 2017, Albano doou em vida o bem k200 a Eva.

Trata-se de uma doação em vida feita a um sucessível legitimário prioritário.


Está sujeito a colação, porque o seu valor é superior ao valor da legítima subjetiva – art.
2104º e ss.
Em março de 2019, Albano fez o seguinte testamento público:
“a) Deixo a Daniel o bem x60; b) Nomeio Tomás meu testamenteiro, com poderes para
determinar a quem vai pertencer a casa y80 e para preencher as quotas dos meus herdeiros; c)
Deixo ao meu primo Guilherme 1/10 da herança, com o encargo de entregar a Tomás e a Maria
o automóvel z, que pertence ao próprio Guilherme.”
Albano faleceu em janeiro de 2020, em casa de Maria, sua amante desde janeiro de
2018.

Na deixa a), é feita uma doação por morte a D, filho de A, de um bem


determinado. Corresponde a um pré-legado. Entende-se que não há lugar a colação (art.

20
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

2104º e ss) porque é uma disposição mortis causa. O valor deste bem é imputado na
quota disponível (e não é sujeito a colação), segundo o prof. JDP (é uma antecipação da
sucessão legal).
Relativamente à deixa b), o art. 2182º/2/b), apenas permite que o testador
cometa a terceiro a nomeação de legatário, de entre pessoas por aquele determinadas, o
que não se verifica. Art. 2320º e ss – testamentaria.
Quanto à deixa c), G repudiou a herança de A, por isso, há representação
relativamente ao seu filho, L, segundo os arts. 2039º e 2041º/1.
Também podemos considerar o art. 2256º, segundo o qual é nulo o legado de
coisa que à data do testamento pertencia ao próprio legatário, se também lhe pertencer à
data da abertura da sucessão.
Art. 2196º/1 – a disposição a favor da pessoa com quem o testador casado
cometeu adultério, neste caso, a favor de M é nula. Trata-se de uma indisponibilidade
relativa.
O encargo é possível, não é contrário aos bons costumes, nem à ordem pública.
A questão é se seria possível de cumpri.
Sobreviveram a Albano todos os sujeitos mencionados e ainda Luís, filho de Guilherme.
Em fevereiro de 2020, cessou a limitação da capacidade testamentária de Carlos. Guilherme
repudiou a herança de Albano. Tomás decidiu que a casa y80 caberia a Luís.
Aprecie o conteúdo dos dois testamentos e proceda à partilha da herança de Albano. Na
altura da morte, o valor dos bens existentes no património do de cuius era de 700.000€. O bem
k200 valia 200.000€; o bem x60 valia 60.000€; a casa y80 valia 80.000€. O automóvel z, que
pertencia a Guilherme, valia 10.000€.

Aulas nº19 e 20 – 17/05/2022

 Caso prático nº27


António e Bia casaram-se em 1970. Deste casamento nasceram 3 filhos: Carlos, David e
Eduardo.
Em 2000, António doou em vida o bem k40 ao seu filho predileto, Carlos, “por conta da
quota disponível”.

Dispensa da colação – art. 2113º.


Em 2005, António fez um testamento público com o seguinte teor: “Deixo o bem y10 a
Xavier”.

Pré-legado – art. 2264º. Imputa-se na quota disponível.


Em 2006, atendendo ao facto de David se encontrar desempregado, António doou-lhe
em vida o bem x210.

21
Beatriz Ventura, TB
2021/2022

Está sujeito a colação – art. 2104º. Imputa-se na quota indisponível e se o valor


for superior à sua legitima subjetiva, o excesso imputa-se na quota disponível.
Em 2007, António fez um novo testamento cerrado em que atribuiu a Zulmira metade
do bem y10.

Revogação tácita em relação a metade do bem y10; pré-legado – art. 2264º.


Imputa-se na quota disponível.

Em 2014, António faleceu, tendo-lhe sobrevivido todos os intervenientes na hipótese,


menos o seu filho David, que faleceu em 2011, tendo deixado dois filhos, Fábio e Heitor, netos
de António.
Eduardo repudiou a herança do pai, por se encontrarem de relações cortadas há
bastantes anos. Por outro lado, Xavier foi declarado indigno de António, por ter tentado ocultar
o testamento cerrado que este havia realizado em 2007. Xavier tem uma filha, Kate, que
também sobreviveu a António.
No momento da sua morte, António deixou bens no valor de 750 e dívidas no valor de
100. No momento da abertura da sucessão, o bem k40 valia 40, o bem y10 valia 10, e o bem
x210 valia 210.
1) Faça a partilha da herança de António.
2) Pressuponha agora que, em 2009, António também tinha doado a Eduardo o bem t30,
que, no momento da abertura da sucessão, valia 30 e que António tinha deixado um
relictum no valor 720 e um passivo de 100. Faça a partilha da herança de António,
considerando estes novos dados.

Art. 2114º/2 – não há lugar à colação e a doação é imputada na quota indisponível.


3) Considere agora a seguinte sub hipótese: Em 2009, António também tinha doado em
vida a Eduardo o bem t100. Em 2010, António fez um testamento público com o
seguinte teor: “Deixo a Bia o bem w120. Se Bia aceitar este bem, nada mais receberá da
minha herança”.

LegÍtima fictícia de E = 130.


Legado em substituição da legítima. Divergência doutrinária entre JDP e PCR–
saber se quem renuncia à legitima, também renuncia à sucessão legal não.

No momento da abertura da sucessão, o bem t100 valia 100; e o bem w120 valia 120.
António deixou bens no valor de 650 e dívidas no valor de 100. Faça a partilha da herança de
António.
4) Resolva agora o caso tendo em conta que: em 2009, António também tinha doado em
vida a Eduardo o bem t170. Em 2010, António fez um testamento público com o
seguinte teor: “Deixo a Bia o bem w160. Se Bia aceitar este bem, nada mais receberá da
minha herança”.
No momento da abertura da sucessão, o bem t170 valia 170; e o bem w160 valia 160.
António deixou bens no valor de 580 e dívidas no valor de 100. Faça a partilha da herança de
António.

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Beatriz Ventura, TB
2021/2022

5) Por último, imagine que: em 2009, António também tinha doado em vida a Eduardo o
bem t100. Em 2010 António fez um testamento público com o seguinte teor:
“1ª Deixo a Bia o bem w120. Se Bia aceitar este bem, nada mais receberá da minha
herança.
2ª Deixo Carlos o bem z220 a ser imputado na sua legítima subjetiva”.
No momento a abertura da sucessão, o bem t100 valia 100; o bem w120 valia 120; e o
bem z220 valia 220. António deixou bens no valor de 650 e dívidas no valor de 100. Faça a
partilha da herança de António.

Legado por conta da legítima, em que o valor do legado é superior ao valor da


legítima (ver apontamentos).

Em caso de indignidade, não é possível o descendente aceitar o legado em


substituição da legítima – posição JDP.
Não é possível estabelecer o legado em substituição da legítima por pacto
sucessório – posição JPD.

Nota: Caso o valor do legado em substituição da legitima não chegue para


preencher a quota indisponível (ex.: a QI é 150 e o legado é 120) e não houver mais co-
herdeiros para operar acrescer ou representação, o remanescente (30) irá somar à quota
disponível (QD=75; passa para 105), operando em eventuais legados ou heranças feitos
a terceiros.

Frequência:
Passos da resolução:
1) Análise qualitativa das deixas;
2) Cálculo de quotas sucessões; regras especiais; vocações; legitimas subjetivas;
3) Mapa da partilha; imputações de doações; colação; inoficiosidades.

Matérias importantes que saem de certeza:


- Representação e acrescer
- Hierarquia das vocações indiretas

Aula nº21 – 19/05/2022


 Caso prático nº28

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Beatriz Ventura, TB
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Em 2005, Ana fez testamento cerrado, no qual declarou: a) deixar ao seu filho Carlos
um apartamento em Lisboa, por conta da legítima; b) atribuir a Henrique um terreno no Funchal
que ele deveria conservar até a sua morte, ficando o bem então para Luís; c) beneficiar Mariana
com uma biblioteca jurídica, por ela ser a única pessoa da sua família exercer uma profissão
forense.

Deixa a) – legado por conta da legítima – art. 2163º.

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Legado por conta da legítima
Deixa pela qual o testador designa os bens que devem preencher a quota de um
sucessível legitimário, caso ele o consinta e constitui uma exceção à intangibilidade qualitativa
da legítima (art. 2163º).
Corresponde a uma herança ex re certa.
O aceitante do legado beneficia de acrescer sobre os co-herdeiros legais e
testamentários.
O sucessível pode optar por:

 Repudiar toda a sucessão;


 Aceitar o legado por conta, caso em que continua a ser herdeiro legitimário;
 Aceitar a legítima por preencher.
Caso o legado exceda o valor da legítima subjetiva, será o excesso imputado na QD
(colação, por analogia); o legado só valerá por inteiro caso exceda toda a QH.
Ao aceitar o legado, o sucessível não perde o direito à diferença; ao aceitar a herança
por preencher caducará o legado.
Só operarão as vocações indiretas caso o sucessível não possa/não queira aceitar a
totalidade da sucessão.

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Deixa b) – substituição fideicomissária – art. 2286º e ss.
H é fiduciário; L é fideicomissário. Como se trata de um legado, aplica-se o art.
2296º.
Dado que L morreu em 2014, antes de H e do próprio autor da substituição
fideicomissária (A, que faleceu em janeiro de 2016) – situação de pré-morte, a
substituição fica sem efeito, e a titularidade dos bens considera-se adquirida
definitivamente pelo fiduciário, de acordo com o art. 2293º/2.
Como H faleceu em abril de 2016, sem se pronunciar sobre a sucessão de A,
opera direito de transmissão sobre os seus herdeiros, neste caso, T, a sua filha, segundo
o art. 2058º.
Deixa c) – legado; remissão para a questão do erro sobre os motivos.

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Beatriz Ventura, TB
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Em 2007, Eva foi declarada indigna relativamente à sua mãe, Ana, na sequência de ação
judicial que esta intentou.

Art. 2034º e ss – indignidade. Acrescer para os restantes herdeiros legitimários,


segundo o art. 2137º.
Em 2010, Ana doou uma casa em Cascais ao seu marido, Bruno.

Esta doação em vida não está sujeita a colação – o art. 2105º não inclui o
cônjuge, apenas os descendentes legitimários prioritários. Imputa-se na quota
indisponível. A doação feita ao cônjuge é imputada tendencialmente na QI, e o
remanescente na QD (PCR). Art. 64º, CRP
Prof. PC (Escola de Coimbra) – imputa na QD (vai fazer com que haja
inoficiosidade).
Só o professor Oliveira Ascensão é que considera que a doação feita a cônjuge
está sujeita a colação.
Art. 2114º - escola de Coimbra faz uma interpretação literal do artigo, incluindo
a situação do cônjuge neste artigo e, portanto, imputando os bens na QD.
Os profs. JDP e PCR fazem uma interpretação sistemática, dizendo que o artigo
se aplica apenas aos casos previstos no artigo anterior. Ou seja, o art. 2114º aplica-se
quando não há lugar a colação por esta ter sido dispensada. Argumentos: Não
favorecimento excessivo de um herdeiro legitimário; garantir a liberdade de testar; art.
64º, CRP – ver livro. Por isso, imputa-se os bens doados ao cônjuge na QI.

Em 2011, na convenção antenupcial relativa ao casamento de Isabel e Luís, Ana doou


por morte a Isabel 1/10 da herança.

Art. 1700º/1/a) – disposição por morte considerada lícita. Sucessão contratual.


Por testamento público de 2013, Ana deixou um depósito bancário a Eva.

Legado de coisa existente em lugar determinado – art. 2255º.


Eva, que foi declarada indigna em 2011, fica reabilitada (de forma tácita e
parcial) apenas em relação a esta deixa. Não recupera o direito à sucessão legal.
Luís faleceu no ano seguinte.
Ana faleceu em janeiro de 2016, tendo-lhe sobrevivido todos os intervenientes já
referidos, com exceção de Luís, e ainda: Daniel, o terceiro filho de Ana; Norberto, filho de
Isabel e Luís; e Teresa, filha de Henrique.
Henrique morreu em abril de 2016, sem se pronunciar sobre a sucessão de Ana. No
mesmo mês, descobriu-se que, ao contrário do que Ana supunha, Mariana não era da sua família
nem exercia profissão forense.

Art. 2202º - erro sobre os motivos


Essencialidade do erro. A disposição é anulável, nos termos do art. 2308º/2 – é
uma anulabilidade atípica. No entanto, há divergências sobre esta questão.

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Beatriz Ventura, TB
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Considera-se, neste caso, que não foi intentada nenhuma ação de anulabilidade,
pelo que se resolve o caso tendo em conta a deixa.
1) Aprecie as disposições por morte.
2) Proceda à partilha da herança de Ana, tendo em conta que, à data da morte, ela tinha
bens no valor de 300.000€ e dívidas no valor de 40.000€. À mesma data, o apartamento
em Lisboa valia 90.000€; a casa em Cascais foi avaliada em 100.000€; o terreno no
Funchal valia 18.000€; o saldo do depósito bancário correspondia a 14.000€; e a
biblioteca jurídica valia 6.000€.

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Legado em substituição da legítima
Disposição mortis causa de bens determinados em benefício de um sucessível
legitimário que, aceitando-os, deixa de poder reclamar qualquer quantia da sua legítima,
perdendo o direito à diferença se o valor do legado for inferior àquela.
O sucessível é chamado à sucessão simultaneamente por testamento e lei, sendo
inválida a substituição direta no legado e não podendo o descendente do indigno adquiri-lo por
representação (art. 2037º/2 – aplicação simultânea do regime da sucessão testamentaria e legal).
O sucessível só pode, porém, suceder por um dos títulos a que foi chamado.
É nula a deixa pactícia de legados em substituição de valor inferior à legítima, uma vez
que a sua aceitação tem o mesmo efeito de uma renuncia, em vida, da intangibilidade
quantitativa da legítima, proibida pelo art. 2170º.
A aceitação do legado implica uma impossibilidade jurídica de aceitar a herança
legitimaria, revertendo esta para um beneficiário de vocação indireta ou ampliando a QD.
As deixas a título de herança:

 Salvo disposição em contrário, imputam-se na QD;


 Pode, porém, ser imputadas na QI, quando feitas a sucessíveis legitimários, nos casos
em que a deixa coincida com o valor da sua legítima subjetiva;
 Não ocorre uma absorção do título testamentário pelo legitimário.

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Caso 26
Termos sobre direitos temporários – à partida não são possíveis. Ex.: alguém deixa um
automóvel durante 5 anos.

Posição JDP – se for feita uma doação a um herdeiro legitimário (que por isso,
está sujeita a colação) que depois foi declarado indigno, aplica-se analogicamente o art.
2114º/2, que diz respeito ao repúdio, ou seja, imputa-se na QI.
Se for um caso de pré-morte, isto é, foi feita uma doação a um herdeiro
legitimário que depois veio a morrer antes do de cuius, e não houver descendentes para
o representar, imputa-se na QD.

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Beatriz Ventura, TB
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1º herança pactícia; 2º legado pactício – aplica-se analgicamente o caso dos pactos


sucessórios (?).

Nota de rodapé da pág. 364 – manual novo

Efeitos da deserdação – discute-se se diz respeito apenas à sucessão legitimária


ou também à sucessão legítima. Qual é o âmbito objetivo da deserdação? Apenas a
legítima ou tudo?
Imputação das doações feitas a cônjuge – divergência entre JDP e PCR. Só o
prof. OA sujeita o cônjuge à colação.
O cônjuge é SEMPRE beneficiário da colação e de outro tipo de igualações. Mas
o remanescente da sua quota nunca é igualado.
Pactos sucessórios
Legado por conta e em substituição da legítima
Redução de liberalidades
Saber se o sucessível é sujeito a colação
Tutela quantitativa da legitima – cautela sociniana. Herança estar onerada com usufruto
ou pensão vitalícia. Valor associado ao tempo do usufruto – é imputado na QD,
podendo originar uma inoficiosidade.
Não há representação em relação ao usufruto e direito pessoais (ex.: pensão
vitalícia).

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