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Índice

I. Introdução......................................................................................................................2

II. Objectivos......................................................................................................................3

III. Metodologias.................................................................................................................4

1. A Doutrina Social da Igreja...............................................................................................5

1.1.Referencial Teórico sobre os Conceitos dos Termos da Igreja Católica.....................7

1.2.Justiça..........................................................................................................................7

1.3.Justiça social................................................................................................................7

2.Caridade..........................................................................................................................9

2.1.Bem Comum................................................................................................................9

2.2.Subsidiariedade..........................................................................................................11

2.3.Solidariedade.............................................................................................................12

2.4.Boa Governação........................................................................................................13

2.5.A Paz: Fruto da Justiça e da Caridade.......................................................................13

2.6.Defesa da Cultura......................................................................................................14

2.7.A Família...................................................................................................................15

3.Conclusão.....................................................................................................................16

4.Referências Bibliográficas............................................................................................17

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I. Introdução

O trabalho em destaque, foi nos incubados no âmbito da disciplina de Fundamentos de


Teologia Católica I. Que este mesmo tem o prazer de abordar os aspectos inerentes,
importantes, interessantes, demonstrativos sobre O Pensamento Social de Igreja
Católica.

A Doutrina Social da Igreja, que para a Igreja Católica é um elemento fundamental,


baseou-se, inicialmente, nos ensinamentos dos profetas do Antigo Testamento que
evocavam a justiça como referência para a conduta social e religiosa, (Bigo, 1969).
Nessa época, o santo era o justo. O Novo Testamento dá outra dimensão a essa questão,
pois, para Cristo, a base é o amor. A caridade aperfeiçoa toda a justiça, é seu
cumprimento e sua superação.

Como consequência dessa nova visão, o tema do humilde e do pobre passou a ocupar
lugar essencial no Evangelho. A questão da propriedade também passou a ser analisada.
Ela, em si mesma, não é condenada, mas a acumulação e o uso dos bens além da
necessidade constituem pecado.

Padre Laércio Moura (2002), em suas reflexões acerca dos impactos sofridos pela
pessoa humana em decorrência da constante mutação do mundo, relata as
transformações sofridas pela humanidade no decorrer dos séculos. Ele salienta que o
progresso das ciências, bem como diversas descobertas e inúmeras invenções,
colocaram à disposição dos homens recursos de tal potencialidade que alteraram
profundamente as condições de vida de grande parte da humanidade.

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II. Objectivos

Objectivos Geral:

 Realizar uma Pesquisa Cientifica geral sobre O pensamento Social da Igreja


Católica.

Objectivos Específicos:

 Abordar as discussões de vários estudiosos sobre o assunto em destaque;


 Definir os termos da igreja católica (Justiça, Paz, Família, Solidariedade Cultura);
 Falar da Doutrina Social da Igreja e o seu Historial; e,
 Descrever os objectivos da igreja católica quanto ao seu contributo desde na época
pré-histórica ate na história.

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III. Metodologias

A pesquisa terá procedimentos técnicos com base em Fontes Bibliográficas que de


acordo com Marconi (2007), esse tipo de pesquisa explica um problema a partir de
referências teóricas publicadas em documentos, procurando analisar a questão do
Pensamento Social da Igreja Católica e seu status actual.

Para evitar uma das desvantagens da Pesquisa Bibliográfica, as fontes de informação


são de fontes primárias (directas) e são seleccionadas porque representam as melhores
informações obtidas necessária à pesquisa como diz Luna (1999), Lembrando que as
fontes de pesquisa deste trabalho são escassas.

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1. A Doutrina Social da Igreja

No campo da organização política, verificaram-se, ao longo da Idade Contemporânea, o


fortalecimento do Estado e o de tendências de implantação de novos Estados. Com essa
tendência, acentuou-se, também, a necessidade de explicitar e exigir, com maior rigor, a
pertinência de cada ser humano a um determinado Estado.

No âmbito da vida social, Moura salienta que foram verificadas inúmeras


transformações que causaram impacto negativo sobre grandes proporções da
humanidade. A Revolução Mercantil contribuiu para a expansão das empresas
capitalistas e, em seguida, para a formação de grandes agrupamentos de empresas com
poder em todos os domínios, inclusive o político. A actuação do capitalismo, buscando
somente o lucro, provocou a ‘questão social’, que discute problemas humanos e sociais
do operariado.

Nesse panorama, cabe questionar como a Igreja foi percebendo a mutante realidade e
como foi se posicionando frente aos novos acontecimentos.

As primeiras comunidades cristãs viviam valores evangélicos de tal maneira que se


tornaram sinais visíveis do amor de Cristo, levando a conversões cada vez mais
numerosas.

Na Idade Média, as comunidades, mesmo sem a força dos primeiros séculos, dedicavam
lugar privilegiado às relações sociais do Homem. Emery e Trist (1973), mostram que é a
partir dessa época que surgem as grandes regras de igualdade: a social – igualdade do
homem diante de Deus -, a legal – igualdade do homem na sociedade – e a
constitucional – igualdade do homem perante o Estado.

Segundo Freitas (1998), a decomposição dessas comunidades dá-se, no campo político,


com a Revolução Francesa e, no campo económico, com a Revolução Industrial. Esses
eventos provocaram grandes implicações sociais, que levaram ao surgimento de um
novo pensamento social cristão.

Ávila (1972), aborda a evolução desse pensamento em autores franceses que


antecederam Marx, dentre os quais destacam-se:

1. Lamennais (1782-1854) - sacerdote e fundador do jornal L’Avenir. Propagou idéias


sobre a separação da Igreja e do Estado, a liberdade de ensino, a liberdade de
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imprensa e de associação, o voto popular, o princípio da soberania do povo levado
ao direito de insurreição e de deposição da autoridade constituída. Sofreu sanções de
Roma, que condenou suas teorias e, em decorrência dessa pressão, suspendeu a
publicação do jornal, abandonou o sacerdócio e dedicou-se ao jornalismo e à
política, sem, contudo, abandonar a prática religiosa.
2. Montalembert (1810 – 1870) - colaborador de Lamennais, que dele se afastou
quando ele abandonou o sacerdócio. Pregou, também, a separação entre Igreja e
Estado, lutou para que a Igreja abrisse mão dos privilégios e ficasse próxima ao
povo. Foi a favor da intervenção do Estado, no plano social, para corrigir excessos
do liberalismo capitalista, como na questão do trabalho infantil.
3. Lacordaire (1810 – 1861) - sacerdote dominicano e companheiro de Montalembert.
Discutiu a questão da propriedade da terra sendo contrário à apropriação colectiva
que concentra poder nas mãos de uma burocracia anónima e onipotente e a favor de
que a propriedade individual fosse limitada pela consciência dos proprietários.
Como essa solução mostrou-se ineficaz, os Estados modernos criaram mecanismos
sociais, como as imposições tributárias, para suprirem, em parte, essa falta de
consciência.
4. Antoine Ozanam (1813-1853) - fundador das conferências de São Vicente de Paulo.
Para ele, o progresso significava renovar sempre, nunca destruindo totalmente.
Assim, opôs-se ao socialismo de Saint Simon, censurando a destruição do direito de
propriedade. Considerou que antes de se fazer o bem ao grande público, devia-se
experimentar fazer o bem a alguns. Foi o primeiro a falar de democracia cristã,
desvinculando o cristianismo do que o antigo regime chamava de cristandade.
Antecipou-se a Marx na denúncia da exploração do homem pelo homem.

Para Ávila (in Freitas, 1998), a demora da Igreja em pronunciar-se favoravelmente ao


pensamento social cristão expresso por religiosos e leigos fez com que o catolicismo
social perdesse a grande hipóteses, no século XIX, de se afirmar como uma posição
descomprometida com sistemas e ideologias, sendo não só portadora de uma mensagem
alternativa, como, também, catalisadora de energias disponíveis.

Ante o exposto, percebe-se a necessidade de estudar como se deu o posicionamento da


Igreja com relação ao aspecto social. A análise dos Documentos da Igreja permite traçar
um paralelo entre o discurso eclesiástico e as transformações que ocorreram no mundo
ao longo do tempo.
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Os princípios permanentes da doutrina social da Igreja constituem os verdadeiros
pilares do ensinamento social católico. Eles radicam no princípio da dignidade da
pessoa humana e podem ser desenvolvidos em temas referentes à vida em sociedade.

1.1. Referencial Teórico sobre os Conceitos dos Termos da Igreja Católica


1.2. Justiça

Justiça é um conceito essencial para todo pesquisador da área filosófico jurídico. E um


conceito que envolve, necessariamente, a compreensão de dois valores humanos
fundamentais: igualdade e liberdade. Qualquer sistema político que invoque a justiça
como fundamento, deve tratar os homens que o compõem de forma igualitária. Para que
a lei possa ser aplicada de forma justa, todos os homens devem ser iguais perante ela.
Além de iguais, os homens devem ser livres, inclusive para optar pela sujeição à lei, não
porque é uma forma de coerção, mas porque a lei deve garantir a todos uma sociedade
mais justa e paritária.

Igualdade e Liberdade é o título de um opúsculo escrito Norberto Bobbio, que associa


directamente as ideias de justiça e igualdade.

Os dois valores da liberdade e da igualdade remetem um ao outro no pensamento


político e na história. Ambos se enraízam na consideração do homem como pessoa. (...)
Liberdade indica um estado; igualdade, uma relação. O homem como pessoa (...) deve
ser, enquanto indivíduo em sua singularidade, livre; enquanto ser social, deve estar com
os demais indivíduos numa relação de igualdade/

A análise etimológica dos vocábulos Direito e Justiça, coloca em evidência a mesma


origem. A raiz nominal latina de direito é directum, ou rectunr, o que é recto, correcto,
conforme a regra. Também é de origem latina a raiz nominal de justiça (jus) que
significa direito, radical que compõe diversas palavras associadas ao direito, como
“jurídico”, “judiciário”, “judicial”.

1.3. Justiça social

“Justiça social” é uma expressão que desfruta de grande popularidade nos dias actuais.
Não há cidadão que não clame por ela. Não há partido ou discurso político, de esquerda
ou de direita, em que ela não esteja presente. Não há noticiário ou discussão a respeito
dos problemas ou das conquistas sociais em que ela não seja citada. De tão frequente e

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indiscriminada a sua utilização, chega ate a soar banal. Isso explica, talvez, o sentido
vazio e automático que as vezes emprestam a ela. Claro que isso não deveria ser assim.
Como diz Barbosa (1984, p. 7), “pode-se dizer com segurança que o interesse
primordial do homem sobre a Terra e a justiça. A fim de estabelece-la e mantê-la, os
homens se agruparam e criaram suas instituições.

Rawls (1997, p. 7), estabelece uma teoria da justiça social que tem como objecto
primário a estrutura básica da Sociedade.

A estrutura básica da Sociedade e aquela que reúne as principais instituições sociais —


ai se incluem, dentre outras, a constituição e os regimes jurídicos e económico — e a
maneira pela qual se articulam num único sistema. Esse arranjo da estrutura básica, por
sua vez, deve proporcionar um sistema auto-suficiente de cooperação social, hábil para
a concretização dos fins essenciais da vida humana, (Rawls, 2000, p. 157).

Para atingir esse desiderato, Rawls concentra e acentua importância no papel das
instituições, as quais tem a incumbência de garantir condições justas para o contexto
social. Isso porque se, através delas, a estrutura não for apropriadamente regulada e
ajustada, por mais equitativas e justas que possam parecer as relações particulares,
consideradas isoladamente, o processo social não conseguira efectivamente se manter
justo, (Rawls, 2000, p. 13-14). Assim e que a justiça, para Rawls, deve ser a primeira
virtude das instituições sociais, (1997, p. 3). A existência destas, em resumo, e
condicionada a realização e manutenção da justiça.

Em outro sentido, tendo como premissa a liberdade e a igualdade dos cidadãos, Rawls
(2000, p. 18), assinala que o quadro institucional tem ligação directa não só com a
formação das aspirações, esperanças das pessoas, mas também com a concretização
daquelas e com o desenvolvimento e aproveitamento das capacidades e talentos
individuais. Isso se deve, segundo Rawls (2000, p. 18), ao facto de que as perspectivas
individuais dependem em parte da ideia que as pessoas têm de si. Alem disso, essa ideia
apresenta ligação com a posição social e com os meios e as oportunidades com os quais
cada um pode racionalmente contar. Para Rawls (2000, p. 138), pessoas são seres
humanos capazes de se tornarem membros da cooperação social e de respeitarem seus
compromissos e suas relações durante toda a vida. Cidadão, para o filósofo, e o membro
da Sociedade plenamente activa durante toda a sua existência, (2000, p. 215).

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2. Caridade

Entre as virtudes no seu conjunto e, em particular, entre virtudes, valores sociais e a


caridade, subsiste um profundo laço, que deve ser cada vez mais acuradamente
reconhecido. A caridade, não raro confinada ao âmbito das relações de proximidade, ou
limitada aos aspectos somente subjectivos do agir para o outro, deve ser reconsiderada
no seu autêntico valor de critério supremo e universal de toda a ética social. Dentre
todos os caminhos, mesmo os procurados e percorridos para enfrentar as formas sempre
novas da actual questão social, o «mais excelente de todos» (1 Cor 12,31) é a via
traçada pela caridade.

A caridade pressupõe e transcende a justiça: esta última «deve ser completada pela
caridade». Se a justiça «é, em si mesma, apta para “servir de árbitro” entre os homens
na recíproca repartição justa dos bens materiais, o amor, pelo contrário, e somente o
amor (e portanto também o amor benevolente que chamamos “misericórdia”), é capaz
de restituir o homem a si próprio. Não se podem regular as relações humanas
unicamente com a medida da justiça: «A experiência do passado e do nosso tempo
demonstra que a justiça, por si só, não basta e que pode até levar à negação e ao
aniquilamento de si própria, se não se permitir àquela força mais profunda, que é o
amor plasmar a vida humana nas suas várias dimensões.

2.1. Bem Comum

O bem comum, antes de mais nada, contempla o Bem supremo das comunidades, o fim
mais elevado para o qual tendem as acções sociais do homem, tornando-se critério de
elaboração de leis justas.

Outra questão muito importante a ser considerada é a de que o bem comum não é a
soma dos bens particulares. Segundo Jacques Maritain (em: A pessoa e o bem comum),
ele não é sequer “a simples colecção dos bens privados, nem o bem próprio de um todo,
que somente diz respeito a si próprio e sacrifica as partes em seu proveito. O bem
comum da cidade é sua comunhão no bem-viver; é pois comum ao todo e às partes,
sobre as quais ele transborda e as quais devem tirar proveito dele”.

A terceira constatação é de que os governantes devem ter dois olhares: para o interesse
geral e para os interesses particulares.

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O interesse particular não é necessariamente mau, mas, por natureza, é “menos belo e
menos divino que o interesse comum”, conforme afirmou Aristóteles em Ética a
Nicômaco.

Em Política (III), ele identifica interesse comum com interesse mútuo, por estar
fundado na reciprocidade dos serviços prestados. Na politeía, governo da maioria, os
homens agem em prol do interesse comum, e as leis da cidade são justas quando
assumem como finalidade o bem comum.

Para distinguir bem comum de bem particular, Johannes Messner – jurista e político
austríaco – associa os conceitos de “ser” e “valor”. “O bem comum” – afirma – “é uma
realidade social com categoria supra individual de ser e valor, em virtude da pluralidade
dos membros da sociedade que dela dependem no seu ser humanamente perfeito; o bem
particular é uma realidade com categoria de ser e valor supra social, própria da pessoa
humana”.

Messner conclui que “o âmbito do bem comum é a cultura, e o do bem particular é a


pessoa; as duas esferas de valores são ao mesmo tempo essencialmente diferentes e
essencialmente dependentes uma da outra” (Ética social. O Direito Natural no Mundo
Moderno).

Essas normas acentuam o carácter do bem comum expresso no dever de solidariedade


das partes no interior do todo familiar, por exemplo: o amor, a convivência, assistência,
zelo material e moral, enfim, o cuidado com outro.

Essa pauta de regras também oferece um conceito central que deve ser entendido como
“somos todos irmãos”, fundamento do conceito de fraternidade (de frater, fratris,
irmão). Não é uma expressão sentimental ou religiosa, mas uma categoria jurídica
consagrada desde a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, de
1789, ao afirmar que “os homens nascem e permanecem livres e iguais em direito”,
ampliada em 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, ao proclamar
que “Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de
razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de
fraternidade”.

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2.2. Subsidiariedade

O termo subsidiariedade provém do latim, subsidiarius, que, na linguagem vulgar,


significa ajuda, reforço, estímulo, encorajamento, supletivo ou que vem em segundo
lugar, (Silva, de Plácido, 2006, p. 1336).

Referir-se a princípio é compreender que se está diante de verdadeiras regras jurídicas


(enquanto compreendidas como parâmetros, linhas gerais e nortes, não se reduzindo a
questão hermenêutica de diferenciação entre princípios ou regras). Isso porque, “[...] os
princípios são uma espécie de fronteira do Direito, eles orientam e guiam os que
realizam as tarefas de interpretação, pois permitem a compreensão das normas
jurídicas” , (Baracho, p. 98). Contudo, não podem os princípios serem valorizados como
verdadeiros ou falsos, mas tão-somente como vigentes ou não vigentes, sendo
verificado na prática que alguns são explícitos (positivados) no texto jurídico ou apenas
implícitos (extraídos a partir da leitura conjunta do sistema), (Grau, 2006, p. 76-79).

Compreender o princípio da subsidiariedade, antes de tudo, é alçá-lo a nível


constitucional e considerá-lo como parâmetro maior de actuação estatal, não podendo
tratá-lo como mera ideia de aplicação em última instância. Nesse sentido é que o
princípio constitui princípio de actuação do Poder Público, partindo da ideia do respeito
à inerente liberdade e iniciativa das pessoas em busca de equilíbrio no relacionamento
entre o indivíduo e os entes governamentais, de forma que estes somente se legitimam
na sua actuação para subsidiar os indivíduos nas suas demandas sociais e económicas
que não podem sozinhos alcançar, (Silva, de Plácido, 2006, p. 995).

Mais ainda: o princípio da subsidiariedade é um princípio de organização social e


política, pois é um princípio normativo que indica qual é a função da autoridade, bem
como quais são os limites para seu exercício, (Silva, Daniela, 2006).

Portanto, num primeiro momento compreende-se que o princípio da subsidiariedade


parte da consideração do binómio existente entre privado x público, onde de um lado há
indivíduos iguais, buscando assegurar seus direitos e liberdades e de outro lado verifica-
se o poder estatal, interferindo quando necessário – de forma subsidiária – nas relações
sociais. Contudo é necessário ir além e compreender o fundo de tal princípio, isto é, sua
essência e intenção.

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2.3. Solidariedade

Segundo Théry (2007), em nossos dias, quando se fala em solidariedade, tal citação
comummente refere-se ao conceito jurídico do direito social, que une um conjunto de
credores ou devedores em uma mesma obrigação: nos casos previstos pela lei, o que é
pago a um dos credores libera o devedor da dívida, assim como aquilo que é tomado
emprestado por um devedor em ‘sociedade’ com outros, é devido por todos. A palavra
se origina, do latim, em in solidum (um por todos). Ela permite pensar a relação de
obrigação em termos colectivos, mesmo na ausência de uma autorização expressa,
enquanto no direito civil comum, habitualmente, só há o reconhecimento da obrigação
individual.

É com Durkheim que a palavra ‘solidariedade’ se insere nas discussões sociológicas, na


metade do século XIX (antes dele Leroux, em 1841, já havia utilizado a palavra em um
sentido mais ligado à moral cristã). Em Durkheim, o sentido está mais directamente
ligado à dicotomia de Tonnies entre os conceitos de sociedade e comunidade. Aqui, a
comunidade seria fundada sobre a afeição, enquanto a sociedade seria fundada sobre a
razão, em uma caricaturarão das relações sociais que beira uma conotação ideológica,
(Boudon e Bourricaud, 1982; Paugam, 2007). Em Durkheim, a solidariedade parece
preencher um vazio, pois ele acreditava que o contrato social, ou o interesse individual,
e nem mesmo a opressão do Estado, sozinhos, poderiam garantir a coesão social com o
desenvolvimento da sociedade moderna. Este papel seria desempenhado pela
solidariedade, a partir dos célebres conceitos de solidariedade mecânica e orgânica,
(Durkheim, 2004).

Segundo ele, a solidariedade mecânica seria fundada sobre a igualdade e semelhança


entre os membros de um grupo, mas também sobre a semelhança das condições de
existência entre estes. Ela implica uma proximidade geográfica, mas principalmente de
valores. São os casos de comunidades em que as famílias habitam há muito tempo no
mesmo local; os antepassados dessas famílias já tinham convivência entre si, muitas
destas famílias têm laços sanguíneos, mesmo que distantes. Honra, lealdade e respeito
pelas tradições são princípios valorizados, e o respeito a eles é determinante nas
ascensão/declínio social.

A solidariedade orgânica, por sua vez, é por sua natureza uma estrutura nascida com a
sociedade dita moderna, de indivíduos desiguais (Durkheim tinha uma visão bastante
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linear e positivista do desenvolvimento e de seus conceitos). A divisão do trabalho seria
a questão determinante no progresso e na passagem de uma sociedade primitiva para
uma sociedade moderna, e portanto de relações sociais fundadas na solidariedade
mecânica para relações sociais fundadas na solidariedade orgânica.

2.4. Boa Governação

Esta caracteriza-se pela capacidade de ter um projecto, orientado a favorecer uma


convivência social mais livre e mais justa, em que vários grupos de cidadãos,
mobilizando-se para elaborar e exprimir as próprias orientações, para fazer frente às
suas necessidades fundamentais, para defender legítimos interesses.

A comunidade política e a sociedade civil, embora reciprocamente ligadas e


interdependentes, não são iguais na hierarquia dos fins. A comunidade política está
essencialmente ao serviço da sociedade civil e, em última análise, das pessoas e dos
grupos que a compõem. A sociedade civil, portanto, não pode ser considerada um
apêndice ou uma variável da comunidade política: antes, ela tem a preeminência,
porque justifica radicalmente a existência da comunidade política.

O Estado deve fornecer um quadro jurídico adequado ao livre exercício das actividades
dos sujeitos sociais e estar pronto a intervir, sempre que for necessário, e respeitando o
princípio de subsidiariedade, para orientar para o bem comum a dialéctica entre as livres
associações activas na vida democrática. A sociedade civil é heterogénea e articulada,
não desprovida de ambiguidades e de contradições: é também lugar de embate entre
interesses diversos, com o risco de que o mais forte prevaleça sobre o mais indefeso.

2.5. A Paz: Fruto da Justiça e da Caridade

O estudo da paz é, notoriamente, multidisciplinar e complexo. A coexistência de


tendências díspares do pensamento nas Ciências Políticas dificulta ainda mais a
compreensão e o trabalho de análise sobre o significado real de paz. Desse modo, a
ideia principal é tentar listar alguns conceitos relevantes nas Ciências Políticas,
oferecendo uma base teórica para quem se predispor a estudar o tema paz.

A palavra paz, usualmente, significa a ausência da guerra. Os termos guerra e paz


seriam, nesse caso, opostos, antónimos. São, portanto, situações extremas. E estão, de
fato, situadas em pólos opostos. Mas entre uma e outra existem situações e estágios

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intermediários. Johan Galtung (1995), tenta definir melhor a palavra paz ao apontar os
conceitos de uma paz negativa e de uma paz positiva. A paz negativa, segundo esse
ilustre professor, é a mera ausência da guerra, o que não elimina a predisposição para
ela ou a violência estrutural da sociedade. A paz positiva, por outro lado, implica ajuda
mútua, educação e interdependência dos povos. A paz positiva vem a ser não somente
uma forma de prevenção contra a guerra, mas a construção de uma sociedade melhor, na
qual mais pessoas comungam do espaço social.

Concordando com Galtung, evolui-se da polarização guerra e paz para, no mínimo, três
estágios distintos: a guerra, a paz negativa e a paz positiva. Uma maior reflexão ainda se
faz necessária sobre as situações que envolvem guerra e paz.

No entanto, em um primeiro momento, pode-se identificar: a guerra declarada e em


curso, a chamada guerra fria, a preparação para a guerra ou para a eventualidade da
guerra, a guerrilha, o terrorismo, a violência estrutural, a não-coopependência ração da
paz negativa e, finalmente, a paz verdadeira ou, utilizando-se o termo de Galtung, a paz
positiva.

2.6. Defesa da Cultura

Define-se cultura como uma propriedade humana ímpar, baseada em uma forma
simbólica, ‘relacionada ao tempo’, de comunicação, vida social, e a qualidade
cumulativa de interacção humana, permitindo que as ideias, a tecnologia e a cultura
material se “empilhem” no interior dos grupos humanos.

Desde 1877, quando Edward Burnett Tylor empregou pela primeira vez o termo
“cultura” para referir-se a todos os produtos comportamentais, espirituais e materiais da
vida social humana, os sentidos mais antigos e restritos desse termo foram perdendo
terreno.

Entre esses sentidos mais antigos de cultura, dois, em especial, sobreviveram em


formato modificado. Um deles é que em certas sociedades algumas pessoas possuem
cultura, e outras não. O outro se refere ao conceito, próximo embora bastante diferente,
de que certas sociedades possuem cultura, enquanto outras não. Estas duas ideias
diferem qualitativamente; a primeira estabelece diferenças de grau, e a segunda,
diferenças de espécie.

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A palavra “cultura” indica, em geral, todas as coisas por meio das quais o homem apura
e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por
dominar, pelo estudo e pelo trabalho, o próprio mundo; torna mais humana, com o
progresso dos costumes e das instituições, a vida social, quer na família quer na
comunidade civil; e, finalmente, no decorrer do tempo, exprime, comunica aos outros e
conserva nas suas obras, para que sejam de proveito a muitos e até à inteira
humanidade, as suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações (GS, 53).

Daqui se segue que a cultura humana implica necessariamente um aspecto histórico e


social e que o termo “cultura” assume frequentemente um sentido sociológico e
etnológico. É neste sentido que se fala da pluralidade das culturas.

2.7. A Família

Ao longo da nossa revisão bibliográfica fomos reunindo diferentes definições do


conceito: “família”. Para além de serem perspectivas escritas de diferentes formas,
iremos constatar que quase todas elas têm algo em comum. Os pontos mais
mencionados têm a ver com o facto de a família ser um local onde existem laços ou
relações, esta é vista como um sistema onde cada membro tem as suas funções,
finalmente, varia de acordo com o tempo, não sendo um conceito estático.

Desta forma, Fazenda (2005), refere que a família é uma unidade social que não é fácil
definir. Para o autor, esta é baseada em laços de parentesco e afinidades estando em
permanente mudança para se adaptar às necessidades dos seus membros, sendo algo que
não se apresenta de modo nenhum estático no tempo. Domingues e Domingues (2005),
partilham da opinião de Fazenda (2005), ao referirem que a família é um conjunto de
pessoas ligadas por laços onde cada um tem os seus direitos, obrigações e expectativas
próprias. No entanto, estes autores, têm uma visão da família como um sistema que
assegura funções indispensáveis ou úteis aos seus elementos individuais, consideram-na
ainda um pilar, pilar este que terá de estar assente sobre bases éticas e morais de modo a
que o agir dos seus constituintes seja um agir racional, tendo como meta o bem comum.

De acordo com Paulo II (1994, cit. Domingues e Domingues, 2001), a família é uma
comunidade de pessoas, a mais pequena célula social, e como tal é uma instituição
fundamental para a vida da sociedade.

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3. Conclusão

Diante do aqui exposto pode-se concluir que a Doutrina Social da Igreja, como nos
enfatiza o Bigo (1969), diz que a Igreja Católica é um elemento fundamental, que ela
baseou-se, inicialmente, nos ensinamentos dos profetas do Antigo Testamento que
evocavam a justiça como referência para a conduta social e religiosa. Nessa época, o
santo era o justo. Quanto ao Novo Testamento dá outra dimensão a essa questão, pois,
para Cristo, a base é o amor. A caridade aperfeiçoa toda a justiça, é seu cumprimento e
sua superação. Como consequência dessa nova visão, o tema do humilde e do pobre
passou a ocupar lugar essencial no Evangelho. A questão da propriedade também
passou a ser analisada. Ela, em si mesma, não é condenada, mas a acumulação e o uso
dos bens além da necessidade constituem pecado.

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4. Referências Bibliográficas
1. Barbosa, Julio Cesar Tadeu. O que é justiça. Sao Paulo: Abril Cultural, 1984. 107 p.
(Colecao Primeiros Passos).
2. Bobbio, Norberto. A era dos direitos. 10. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992. 217 p.
3. Bobbio, Norberto; Matteucci, Nicola; Pasquino, Gianfranco et alii. Dicionái-io de
política. Vol. 2. Brasília: Edunb, 12a ed., 1999.
4. Baracho, José Alfredo de Oliveira. O Princípio de subsidiariedade: conceito e
evolução. Rio de Janeiro: Forense, 1997.
5. Bento XVI, Papa. Carta Encíclica Caritas in Veritate: do Sumo Pontífice Bento XVI
aos bispos, presbíteros e diáconos, às pessoas consagradas, aos fieis leigos e a todos
os homens de boa vontade sobre o desenvolvimento humano integral na caridade e
na verdade. São Paulo: Paulinas, 2009.
6. Boundin , Raymond; Bourricaud, François. Dictionnaire critique de la sociologie.
Paris : Presses universitaires de France, 1982.
7. Durkheim, E. Le suicide. Paris : Puf, 2007.
8. Domingues, A., Domingues, A. (2001). A família. Boletim do hospital de S.Marcos.
ano XVII, n.2: 55-64.Fazenda, I. (2005). Família, coesão e diferenciação. Integrar.
Secretariado nacional para a reabilitação e integração das pessoas com deficiência.
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18. O autor é advogado e professor de Direito, livre docente pela UNESP (Franca–SP) e
autor de obras jurídicas Para aprofundar o tema recomendamos: O princípio
esquecido, vol. 1 e vol. 2 – Antonio Maria Baggio, ed. Cidade Nova.

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