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Por 9 a 2, STF decide que estados e

municípios podem restringir cultos e


missas na pandemia
Plenário julgou pedido do PSD. Partido pedia derrubada
de decreto estadual de São Paulo que proibiu cultos e
missas presenciais em templos e igrejas a fim de evitar
expansão da Covid-19.

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STF decide que estados e municípios podem proibir cultos e missas


presenciais para combater a pandemia

Por 9 votos a 2, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu nesta quinta-feira


(8) que estados e municípios podem impor restrições a celebrações religiosas
presenciais, como cultos e missas, em templos e igrejas durante a pandemia
de Covid-19 — divergiram os ministros Nunes Marques e Dias Toffoli.

Os ministros do Supremo julgaram uma ação do PSD. O partido pedia a


derrubada de decreto estadual de São Paulo que proibiu cultos e missas
presenciais em templos e igrejas.

O julgamento foi marcado para esta semana pelo presidente do STF, Luiz Fux,
após decisões conflitantes sobre o mesmo tema dos ministros Nunes Marques
e Gilmar Mendes.

No sábado (3), ao julgar pedido da Associação Nacional dos Juristas


Evangélicos (Anajure), o ministro Nunes Marques aceitou o argumento da
liberdade religiosa e proibiu que celebrações em templos e igrejas fossem
vetadas por estados, municípios e Distrito Federal em razão da pandemia.

Na segunda (5), o ministro Gilmar Mendes tomou decisão divergente. Ele


rejeitou liminarmente (provisoriamente) a ação do PSD — que pedia a
derrubada do decreto estadual que proibiu cultos e missas em São Paulo
devido à pandemia — e enviou o caso ao plenário do STF.

Ministros do Supremo divergem sobre missas e cultos presenciais na


pandemia

Os votos dos ministros


Gilmar Mendes - Em seu voto, na sessão de quarta-feira (7), o relator
Gilmar Mendes afirmou que o Supremo já assegurou autonomia aos
estados e municípios para que tomem medidas de combate ao
coronavírus, inclusive restrições a atividades religiosas. O relator afirmou
que o país se tornou um "pária internacional" no âmbito da saúde. "Diante
desse cenário, faz-se impensável invocar qualquer dever de proteção do
Estado que implique a negação à proteção coletiva da saúde". Segundo o
ministro, "ainda que qualquer vocação íntima possa levar à escolha
individual de entregar a vida pela sua religião, a Constituição de 88 não
parece tutelar um direito fundamental à morte. A essa sutil forma de erodir
a normatividade constitucional deve-se mostrar cada vez mais atento este
STF, tanto mais se o abuso do direito de ação vier sob as vestes farisaicas,
tomando o nome de Deus para se sustentar o direito à morte”.
Nunes Marques - O ministro Nunes Marques apresentou seu voto nesta
quinta a favor da liberação dos cultos em todo território nacional, desde
que respeitados os protocolos definidos pelo Ministério da Saúde. O
ministro sugeriu que os cultos sejam realizados em locais arejados, com
uso de álcool em gel e máscaras, além do espaçamento entre os assentos
e aferição de temperatura. “Criou-se uma atmosfera de intolerância, na
qual não se pode falar do direito das pessoas, que isso é tachado de
negacionismo”, afirmou. Para o ministro, mesmo na pandemia, é
necessário que alguns setores não fechem totalmente. “Serviço de saúde
e alimentação não podem ser fechados evidentemente. Por outro lado,
festas e shows podem ser proibidos temporariamente. Há uma vasta zona
cinzenta”, disse. “Mesmo as igrejas estando fechadas, nem por isso estará
garantida a redução do contágio.”
Alexandre de Moraes - O ministro Alexandre de Moraes acompanhou o
relator, Gilmar Mendes, contra a liberação. “O mundo ficou chocado
quando morreram 3 mil pessoas nas torres gêmeas. Nós estamos com 4
mil mortos por dia. Me parece que algumas pessoas não conseguem
entender o momento gravíssimo dessa pandemia”, afirmou. Segundo o
ministro, medidas são temporárias e justificadas, já que, no estado mais
rico da federação, o de São Paulo, há pessoas aguardando vagas de
internação em UTI. “O Poder Público tem a obrigação constitucional de
garantir a liberdade religiosa, mas não pode ser subserviente, não pode
ser conivente com dogmas ou preceitos religiosos de uma ou várias fés.
Não pode se abaixar aos dogmas, colocando em risco sua própria
laicidade e a efetividade dos demais direitos fundamentais, no caso em
questão, direito à vida e à saúde”, afirmou. "O Estado não se mete na fé. A
fé não se mete no Estado”.
Edson Fachin - O ministro Edson Fachin destacou que outros tipos de
aglomerações foram proibidos e agradeceu os profissionais de saúde que
atuam na pandemia. “Não se trata apenas de restrição a reunião em
igrejas, mas restrição a todos os locais de aglomeração”. Ele afirmou que
inconstitucional é a "omissão" em relação a medidas para impedir mortes.
“Inconstitucional não é o decreto que na prática limita-se a reconhecer a
gravidade da situação. Inconstitucional é a omissão que não haja de
imediato para impedir as mortes evitáveis. Inconstitucional é não
promover meios para que as pessoas fiquem em casa, com o respeito ao
mínimo existencial. Inconstitucional é recusar as vacinas que teriam
evitado o colapso de hoje”, afirmou.
Luís Roberto Barroso - O ministro Luís Roberto Barroso acompanhou o
voto de Gilmar Mendes, contra a liberação de cultos, citando o número de
mortos pela Covid. “Nós nos atrasamos em obrigar o uso de máscaras,
em fomentar o isolamento e em comprar vacinas e estamos pagando esse
atraso com vidas. E em triste ironia, muitos negacionistas já deixaram essa
vida em razão da pandemia”, disse. Barroso argumentou que a
modernidade e a ciência não levaram ao ocaso das religiões e que a
restrição temporária dos templos não fere o núcleo essencial da liberdade
religiosa. “Fé e ciência são dimensões diferentes da vida”, disse. “No
espaço público, deve vigorar a razão pública.” “Todos podem continuar a
ler sua Bíblia em casa”, disse Barroso. “Os gestores locais que vão aferir
sobre a imprescindibilidade ou não do direito de culto. Os fiéis também
circulam e podem ser vetores de transmissão.”
Dias Toffoli - O ministro não apresentou justificativa para o voto. Limitou-
se a dizer que acompanhava o voto do ministro Nunes Marques.
Rosa Weber - A ministra Rosa Weber acompanhau o relator. Ela afirmou
que a "nefasta" consequência do negacionismo "é o prolongamento da
via crucis que a nação está a trilhar, com o aumento incontido e
devastador do número de vítimas e o indesejável adiamento das
condições necessárias para recuperação econômica. Nesse contexto
específico é que o decreto em exame instituiu medidas emergenciais de
caráter temporário e excepcional”. Segundo ela, escolas também foram
fechadas e, diante de evidências científicas, houve sinalização de colapso
do sistema de saúde no estado de São Paulo. “Restrições à liberdade
individual traduzem imposições do próprio complexo constitucional de
direitos, a exigir medidas efetivas a assegurar outros direitos
fundamentais, como a saúde e a vida”, considerou. Para Rosa Weber,
permitir os cultos “favoreceria a morte, quando deve ser prestigiada e
defendida a vida”.
Carmen Lúcia - Com o voto da ministra Cármen Lúcia, ficou formada a
maioria contra a liberação de cultos e missas na pandemia. Ela se
solidarizou com as vítimas da Covid-19, cientistas e profissionais de
saúde, além dos jornalistas, “como função essencial à democracia”.
“Sobram dores e faltam soluções administrativas. O Brasil tornou-se um
país que preocupa o mundo inteiro, pela transmissibilidade letal desse
vírus, de quem como eu já foram acometidos, também na forma branda,
essa doença é terrível. Não é algo que se possa subestimar. É uma
situação gravíssima, alarmante, aterrorizante e que realmente demanda
um comportamento do estado”, disse. Para a ministra, "não se põe em
questão a liberdade de crença nem a garantia dos cultos, apenas o
exercício temporário dos ritos coletivos, que levam as pessoas a transitar,
a se reunir”.
Ricardo Lewandowski - O ministro Ricardo Lewandowski disse que,
considerando o número de mortos e infectados, “não há como deixar de
optar pela prevalência do direito à vida, à saúde e à segurança sobre a
liberdade de culto, de maneira que ela seja pontual e temporariamente
limitada, até que nós nos livremos dessa terrível pandemia que assola o
país mundo”. Segundo o ministro, as medidas emergenciais estabelecidas
pelo estado de São Paulo são de caráter excepcional e temporário. “Nada
impede, ademais, penso eu, que os fieis, enquanto perdurarem essas
restrições, amparadas em critérios científicos, lancem mão de recursos
tecnológicos para exercerem a liberdade de culto.”
Marco Aurélio Mello - O decano (mais antigo ministro) do Supremo
Tribunal Federal, Marco Aurélio Mello, disse que o STF não governa e que
quem governa é o Executivo. “Queremos rezar, rezemos em casa. Não há
necessidade de abertura de templo". Mello afirmou ainda que, no atual
momento, "a maior vacina que nós temos — não as que estão na praça —
é a vacina do isolamento”.
Luiz Fux - Último a votar, o presidente da Corte, ministro Luiz Fux,
também se solidarizou com as famílias e agradeceu ao consórcio de
empresas jornalísticas que divulga os dados sobre a pandemia. “O
momento de conforto espiritual ao lado de parentes, em número reduzido,
mas cada um nos seus lares”, defendeu. “Não desconheço, até porque
sou um homem de fé, que a fé é muito importante nestes momentos,
principalmente de sofreguidão por que passa o povo brasileiro. Então é
momento de deferência à ciência.” Segundo Fux, "malgrado estejamos
num estado democrático de direito, vivemos num estado de calamidade
pública. Muito embora a Constituição consagre a liberdade de culto,
crença e de consciência, em determinadas circunstâncias excepcionais,
admitem-se medidas excepcionais".

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