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Anténio Joaquim Severino Como ler jy um texto de filosofia Z> Antdnio Joaquim Severino Como lev um texto de filosofia oornagio casei ile cn di os Santas agen a3 aoa ESrrgso Pas rnp acabamento Paulus 2*edigao, 2009, ‘© pauus- 2008 funni 9079 arash wit S5vS3607 ote. qn) BTN vo au corb« dexnoas com be 151 97895349.29700 ABRESERTARS 0 A filosofia sempre ocupou um lugar proeminente na cultura ocidental. Pode-se até mesmo dizer que ela foi uma das principais forgas que contribuiram para a construcio histérica dessa cultura, pois todo o conhecimento cientifico e téenico que se encontra na base do edificio de nossa civilizag0, ‘emergiu sob essa modalidade flosofca, lé na Grécia eléssica, cerca de 500 anos antes de nossa era. Matriz da cultura ocidental, a filosofia se faz continua- ‘mente presente na educacio, pois &fntimo o vinculo entre a cultura de uma sociedade e a educagio que ela pratica. Nao podia ser diferente na hist6ria cultural da sociedade brasi leira, herdeira da tradigao européia. Ainda que enfrentando obstdculos ¢ solavancos decorrentes das muitas limitages de nosso processo cvilizatério, a flosofia nunca esteve au- sente da nossa vida sociocultural e de nossa educagao, nestes nnossos 500 anos de experiéncia histérica. Mesmo que seu lugar nao renha sido dos mais privilegiados, mesmo que sua importancia nao tenha sido reconhecida ¢ valorizada por todos, nem por isso ela deixou de existir entre nés, sob suas diversas formas. A filosofia & fundamentalmente, uma modalidade de conhecimento mediante a qual pretendemos conhecer algo 4 respeito dos diversos aspectos da realidade, exatamente rnaquilo que concerne & nossa relagio com 6 mundo no qual ‘nos encontramos situados. Conhecer é tomado aqui num sentido bem amplo: toda representagio que podemos ter, subjetivamente, da realidade que nos cerca. Filosofar é, pois, 4. Coma ler um texto de floc ‘uma experiéncia intelectual, um exercicio de nossa faculdade de pensar as coisas, de aprender os seus sentidos, de buscar a significagio que elas tém para nés. ‘Mas essa experigncia de pensar o mundo, de buscar conhecé-lo, nao pode ser uma tarefa soliticia. Até porque para pensar, nésjé precisamos estar inseridos numa cultura, ‘ou seja, quando comesamos a pensar, dependemos de toda uma experigncia de pensamento praticada e acumulada antes mesmo de termos nascido. Ademais, o nosso acesso a essa experiéncia acumulada, a essa cultuca que nos envolve, dar-se-d sobretudo mediante a linguagem. £ principalmente por meio do uso da linguagem que nés compartilhamos com rnossos semelhantes todos os saberes e valores que foram sendo acumulados pela humanidade, em geral, e pela nossa sociedade, em particular. por isso mesmo que as experiéncias do pensamento ¢ da linguagem praticamente se confundem, desde a sua genese, integrando-se dialeticamente, uma dependendo intrinseca- mente da outra. E a linguagem que garante um minimo de objetividade e de,exterioridade ao pensamento que, sem ela, « feariaencincheirado no intimo denossa subjetvidade, o que inviabilizaria toda comenicacio. E assim que, quando falamos de pensamento, de conhe- cimento, de cultura, de ciéncia, de filosofia, imediatamente nos lembramos da educagdo. Pelo fato de nao nascermos sabendo nada disso, temos de aprender tudo. E essa aprendi- zagem comega desde nossa mais tenca ida, num processo {que 56 acabard mesmo com a faléncia de nossa vida orginica ‘mental, com a morte. A ediucagdo € esse process total que nos envolve desde o nascimentoe por meio do qual vamos endo progressvamente integrados ao nosso mundo cultural. Nesse sentido, ela se da ‘ie mind informal difus, no seo da propria vida social. Dat “er alae de educagio informal, que acontece no seo da fami- Antone Joaquin Severino 5 lia, nos grupos de amigos, nas relagdes sociais, nos diversos ambientes em que estabelecemos relagbesinterpessoais. ‘Mas, 20 se tornarem mais complexas, as sociedades cram insttuigdes que se especializam em responder por determi- nnadas fungoes. Um bom exemplo é a escola, que vai entio responder sistematicamente pela tarefa da educagio. Assim, no interior da sociedade, temos a educagao formal. essa maneira, a0 longo de nossa vida, aprendemos infor- ‘malmente muitas coisas por imitacio, convivéncia, interagdes ‘com nossos companheiros; aprendemos a vida, como se cos- tuma dizer. Mas podemos avancar nessa aprendizagem, por meio da educagao formal que nos € oferecida nas insttuigBes educacionais, nas escolas. Ao saber é trabalhado, sistema- tizado, organizado e transmitido aos sueitos aprendizes, de forma que estes possam integrar-se na vida de sua sociedade, dispondo de um melhor conhecimento de sua cultura. A educagao escolar prepara-nos com 0 intuito de inserir-nos no mundo do trabalho, no convivio social ena esfera da cultura Pretende preparar-nos assim para o pr6prio exercicio de nossa ‘existéncia, que se consttui exatamente pela praticas concretas do trabalho, da politica e da cultura simbélica. A educagio e a aprendizagem, desenvolvidas pela me- diagdo do ensino, constituem-se como priticas efetivas de leitura e de eserita do mundo por meio da abordagem dos diferentes discursos que a cultura humana pronuncia sobre esse mundo, Por iss0, a educagao é, substantivamente, co- municagio, ¢ a escrita ¢ a leitura, como sistema de signos linguisticos, formas privilegiadas de comunicagao. Por isso, falar de escrita e de leitura é falar de comunicagio e pressupor a intersubjetividade, dimensio gracas 4 qual nossa existéncia se faz mediante um intenso ¢extenso processo de intercémbio de mensagens. ‘A comunicagao se instaura no sei da espécie humana por meio desse necessério e onipresente processo de intercmbio de 5 Come ler um ante de flosofc significagies, primeiramente com a fala, com a oralidade. S6 que a expressio oral se esvai no tempo, sobrecarregando nossa rmeméria, fagilizada que é pela precariedade de nosso corpo natural, érgio biol6gico da fala. Dai o avango representado pela escrita, simbolizacio coneretizante das sigaificagbes na linguagem, tornando-se uma nova forma de meméria capaz de vencer 0 tempo e a precariedade das condigées de nossa existéncia histérica, ‘A escrita torna-se, entio, uma das formas privilegiadas da consteugdo do acervo cultural da humanidade, da cultura como acervo de signifcacées produzidas ¢ acumuladas pela espécie, dos sistemas simbélicos que mais tém capacidade de guardar,sinteticamente, volumes maiores de saberes, de ex- perigncias vividas, de significados que, sem ela, perderiam-se aio longo da passagem corrosiva do tempo. Aescrtafilos6fica constitui parte fundamental, valiosssi- rma, desse grande acervo da cultura humana. E ébvio que essa escrta existe em todas as culturas. Aqui estamos nos referindo cultura ocidental, por meio da qual que participamos da cul- tura humana como um todo, Dafa importincia que a leitura + dos textos floséficos assume em nosso processo edueacional,, pois eles ratam fundamentalmente do sentido da nossa propria, existéncia, Esse sentido se constr6i ao longo da histéria da ‘espécie, por meio de um investimento que se di de forma cole- tiva, pela participagio de todas as pessoas, sob uma dimensio social, e de forma hist6rica, pois € uma construgio ao longo da temporalidade, O sentido da existencia humana, os homens, bbuscam construf-lo, sineronicamente, recorrendo & participa ‘so do todo social ¢, diacronicamente, recorrendo & partici pacio das sociedades existentes em todas as eras histéricas. Desse modo, ler os textos filoséficos deve representar, para nés, hoje, a busca de um didlogo com aqueles que nos procederam nessa tarefa de desvendar o sentido das coisas, ‘ou daqueles que o fazem hoje, em diferentes lugares, Antinlo Joaquin Severino Z Este livriho propde-se a apresentaraosjovens estudantes algumas orientagdes para ques iniciem na leturasstemstica dos textos filosdicos. £ preciso que incorporemos algumas orientagées, pois a leitura de textos cientificos e filoséficos nao € um procedimento espontineo: ele exige uma interven- iio mais sstematica para a decodificagio do texto do que quando se trata de textos lterrios, nos quai a apreensio dla mensagem apoia-se mais na nossa familiaridade com a linguagem coloquial e em nossa imaginaso. Pi ae Ke =S Texto, comunicacao e leitura == Deacordo com as premissas adiantadas na Apresentagio, ff text: um conjunto des todo texto € um conjunto de fh nos lingtistces que co signos lingisticos que codifi-. ff mum mensagem. ‘cam uma mensagem. £ um meio codifcado, utilizando signos lin siisticos, pelo qual se viabiliza a comunicagao entre as pes- soas, entre duas ou mais consciéacias capazes de decodificar cesses signos. Portanto, € um meio de comunicagio entre subjetividades. Quando alguém excreve um texto, esté se colocando como um emissor que pretende transmitir uma mensagem ara um receptor, Portanto, a0 EEE lo completo do processo comunicagio entee 0s sujeitos humanos._ ee Na peice dacomunicasio, pore, eae ‘impedindo que tanto a codificagio como a decodificagio da mensagem possam ser realizadas. Dai 10 Come lr um tant de floor se fazerem necessérias algumas precaugdes, certos cuidados ppara minimizar esses riscos ¢ garantir que a mensagem seja dequadamentecodicada edemiiicade _presentado pelo fluxograma abaixo: erate dotece & I~ Emissor fof wenveen bef neo berg weve ceptor nace Lf ers LL cosoo Lf wenagen Lf eter actos | Juma || asics nee nets pesosh ecto pesos. u AntinioTooqvim Severino 11 8 ey O que é ler? CGRURIEREAG, uma mediacio da comunicagio. Enquanto a ie eo ie para realizar a leitura, 0 leitor Press preencher algunas con ff SER» roe digoes wee ‘primeira éobviamente,o dominio do codigo usado para a produsio do texto, Aqui (ater ROSMOTeGaigoInBIstICo) ‘nos um documento pode ser produzido também mediante, outros tpos designs, como imagens, gesto, sonst, ss, © leitor precisa conhecer a lingua em que o texto foi escrito esse conhecimento dos signe implica dis aves: pire, E que quando falamos dos: preciso levar em conta da signo lingiistico carrega em si um _fifenites que 0 aco material (ografema, no sign escrito, ‘ou o fonema, no signo oral, ou seja, as letras ou os sons), € © SBEAAB, que €o lado conesiual, ou sea, o sentido que aquele sigifcante vai suscitar na mente do leitor. ‘As palavras ou termos sio 0 lado visivel e material da linguagem, estruturando-se de acordo ‘com as regras gramaticais de cada lingua. Jé 0s REED que correspondem a cada palavea, por meio dos quais representamos um objeto, 12 Como ler um texto de flosof pensamos uma coisa ou uma relagéo entre palavras. & pela ‘mediagao dos conceitos que pensamos e concebemos as coisas «, conseqiientemente, as mensagens que, sobre elas, 0s textos ‘scritos ou falados querem nos passar. OSORSEROFESESSEREAS _substituia coisa no ambito da consciéncia subjetiva eé gragas 88 ‘Assim, para nés, sujeitos humanos, a ‘Mas, para pensar, para claborar suas mensagens, a mente ‘humana no usa apenas conceitos e termos isolados: os con- ceitos, tanto quanto os termos que os representam, se unem. ¢ formam seqiiéncias chamadas juizos ou proposigées que, por sua vez, unidos, formam conjuntos maiores, chamados raciocinios Ou argumentagbes. Assim, ' Neste live, usamoso termoleoncito “represntagio™ parade signato conto do conbecimento em nossa mente, Na verdad, no ns bos palavea para ino, pos acaba pasando a kes de que @ onheamento & um proceso de rpresentacio. Mas 0 conkecimento isso sim, um proceso de constugde. © conedt, 0 conteide de ‘ent, no € uma foto das cosas, mato resultado de um complex proceso de consrugo, Fra euma dscns eptemologics que nfo ibe agul No entanto, desde fea um chamado de atengs0 " Tquaimene, a questo da ielag entre linguagem e pensamen to, entre conceit plata, € uma dae mais espahoss tanto para = lingusica como par a epistemologia. As coisas no so to simples amo agul apeesentadss stou expondo apenas algumesfeerecas tlemeaaves pars o entesdinento dic dene tema, th Ver que ‘lo eae apofindar nua dinero ag Antonio Joanvin Severino 13 “si idéias e juidos. A leitura 6 © processo de decodificagio da ‘mensagem, pela captagio e acompanhamento do raciocinio do autor O proceso da leitura © pro- cesto de decoditcasio de lum texto escrito, com vistas 2 apreensaolrecepeao da rmensagem nele cntida. Por essa modalidade delei- tura, entende-se aquela aborda- ‘gem de um texto a partir dos seguintes objetivos: apreender a ‘mensagem global da unidade de leitura, de modo que o leitor tenha uma visio da integralidade do racioeinio desenvolvido pelo autor, levando-o tanto & compreensio dessa mensagem como & sua interpretacio. E a modalidade mais teadicional de leitura, aquela que fazemos quando lemos um romance: ‘uma leitura do comego a0 fim.’ Mas, como veremos, 05, textos cientificos ¢ filosdficos demandam alguns recursos proprios, diferentes daqueles que usamos na leitura dos textos literarios, jornalisticos ou coloquiais. E que a ciéncia € a ilosofia so modalidades diferenciadas de conhecimento, usando termos e conceitos em niveis diferentes dos que so usados na linguagem cologuial ena literatura "Poe lar una owe mod de ar Ite de ocumentgdo, qd € prada quando sbordamor um texto apenas pars extra a un infrmagle paral O te €vomade Sm Ua fone pars forceennos gum dado, alguna ii. Ese tipo de [itvidade see até mesmo de subsdio para a lera anaes, como se verd ns exemplor que eto ardor nee mana. HA Come lar um tanto da floofin 2al As diretrizes para a leitura analitica A atividade de leitura de um texto, para fins de conhe- cimento e apreensio de seu contedido, como ocorre quando do estudo de um texto, realiza'se por meio de uma seqiéncia de ctapas essencias = etapa de andlise texte = etapa de andlise temtica; = etapa de andlise interpretativas = etapa de problematizacio; = etapa de reelaboragio reflexiva, Esta € uma fase preparatéria leitura propriamente dita, :mas éimprescindivel, justamente para nos ajudar a superar as, :miltiplas interferéncias que podem ocorrer na decodificagéo ena apropriagio da mensagem contida no texto, Seu objetivo ¢ identficar os elementos que permitem a adequada decodi- ficagio do texto, bem como o contexto de sua produsio. In- cli-se aqui levantamento de virios esclarecimentos prévos. + ‘Assim, a primeira iniciativa, quando vamos ler um texto, é delimitar wma unidade de leitura, Por exemplo, um capitulo, uma seco, uma parte do texto ‘que forme uma unidade. Quando se vai ler um livro inteiro, tendo por fim seu estudo, a leitura precisa ser feta por pares, passando-se& seguinte s6 quando a anterior estiver concluida, (© tamanho de cada unidade deve ser estabelecido em fungio dda maior ou menor facilidade do texto e da familiaridade do leitor com 0 assunto. © tempo disponivel para a leitura tam- bém deve ser levado em conta, no sentido de que a leitura nfo deve ser fita sob muita fragmentagio do tempo, evitando-se intervalos muito grandes entre uma etapa e outra. Definida a unidade de leitura, numeram-se, a lips, todos os parigrafos que compdem o texto. sso facilitaré 2 localizagio e a identi- Antonia Joaquim Severino 18 ficagio das passagens. Iss0 feito, 0 leitor deve abrir uma ficha bibliografica para o texto, conforme o modelo da pégina 33. Em seguida, impoe-se uma informagao preliminar: saber ‘quem é 0 autor do texto. Conhecer 0 autor do texto jd ajuda muito em seu entendimento, ainda que isso nao seja assim tao evidente ao leitor iniciante, £ fundamental dispor de informagses prévias sobre a vida, a obra e o pensamento do autor, pois tais elementos so muito tteis para a elucidagio, das idéias expostas no texto. Isso feito, abrimos uma ficha biogréfica para o autor, conforme o modelo da pagina 37. ‘A segunda iniciativa é levar em conta 0 perfil geral do texto: identificar sua finalidade, a oportunidade de sua pro- uso, sua natureza geral, como surgiu, porque foi escrito. Trata-se de fazer aqui uma contextuagdo geral do texto: em que citcunstancias foi escrito, para que, a que puiblico se dest na etc, Esses elementos sio levantados a partir de informagies, ue costumam acompanhar 0 pr6prio texto. Obviamente, se elas ndo esto af, facilmente acessives, passa-se adiant. Esses dados devem ser eransritos na abercura dafcha bibliografica, logo apés os dados da obra. Procede-se entio a uma primeira abordagem do texto, com a finalidade de se tomar contato com ele, na verdade, realizando-se uma preparagio para a leitura propriamente dita, para uma melhor compreensio do texto. Essa etapa com- preende uma série de atividades que visam a dar a0 leitor uma visio panoramica do conteiido do texto, de seu perfil, método ce contexto, Trata-se de um trabalho prévio de identificagio de pontos que eventualmente precisam ser esclarecdos para ‘que uma leitura efetivamente compreensiva possa acontecer ‘Com uma ficha-rascunho em méos, devemos fazer uma leinura corrida do texto da unidade escolhida, acompankando 1 exposigdo do autor. Ao percorrer assim o texto, certamente 16 Como ler um texte de lose vamos nos deparar com algumas palavras, conceitos, referé ciasa autores, a fatos hist6ricos ea teorias que, eventualmente, desconhecemos. Assinalemos esses pontos, transcrevendo-os, na fotha de rascunho. Para que possamos entender um texto que estamos lend, precisamos primeicamente saber & lingua em que texto fora escrito, a sua natureza e 0 seu perfil: do texto escrito (uma carta, por exemplo, é muito diferente de um artigo cientifco, pois exige a nogio de fatos hist6ricos e de situacoes referidas no texto, além de um minimo’ de familiaridade com as ca tegorias conceituais utilizadas pelo autor. Se, a0 ler 0 texto, 1s ja sabemos de tudo isso, tanto melhor, uma vez que esta primeira etapa fica dispensada. Mas se permanece alguma diivida, é preciso, a0 término dessa primeira leitura, resolvé- la, esclarecé-la, antes de continuar a busca de compreensio dda mensagem do autor. Para isso, a0 longo da leitura, mas sem interrompé-la, devemos transcrever esses pontos a ficha- rascunho, sempre indicando o pardgrafo em que se encontcam palavras desconhecidas, palavras conhecidas mas com sentido pouco claro, palavras que expressam conceitos especificos, - categoria tedricas, autores citados, desconhecidos ou pou- co conhecidos, fatos histéricos aludidos, doutrinas a que se fazem referencia, Terminada a letucacorrda, registrados esses clementos, interrompemos a continuidade de leitura do texto, mesmo que nao tenhamos compreendido completamente sua mensagem, « passamos para um segundo momento dessa preparagao. E hora de buscar a informagies eos esclarecimentos a rexpeito dessas dividas. Tomamos a folha de rascunho e vamos as fontes em busca das respostas. ‘Comegamos na busca por resolver os problemas de lin- guagem encontrados nessa leitura panorimica e que foram Amato Joaquim Severino 17 assinalados na folha de rascunho. As informagées sobre ter- ‘mos ¢ palavras desconhecidos tém seus sinGnimos e explica- «Ges nos dicionarios da lingua portuguesa (Aurélio, Houaiss ¢ semelhantes). ‘Mas, em se tratando de conceites novos, mesmo quando 4 palavra jé nos é conhecida, precisamos dirigi-nos a fontes cespecializadas, tais como os dicionérios de flosofia, de so- ciologia etc. Consultadas essas fontes, o resultado deve ser ‘tanscrito em seu “Vocabulirio pessoal”, o seu “Glossério”, conforme o exemplo da pagina 38. Em seguida, vamos buscar as primeiras informagées sobre os autores citados no texto, desde que essa referéncia seja im- portante na exposigdo das idéias. Se o autor écitado de forma sgenérica, nio é necessirio buscar suas informagdes. Os nomes, « biografias so encontrados nas enciclopédias, nos dicionérios especializados, nos livros de historia das idéias e em livros especializados ¢, agora, em sites igualmente especializados. Caso seja um primeico contato com esses pensadores apenas ligeiramente referidos pelo autor em estudo, e que no si0 imprescindiveis para a compreensio do pensamento constante do texto, basta abrira fcha bibliografica com as informagées, ‘mais gerais. Posteriormente, a medida que cruzarmos com novas referencias sobre esses autores, arescentaremos novos ddados, ampliando as informagBes contidas na ficha. Feito esse levantamento, processadas as devidas anota- ‘g0es, volee ao texto para uma nova leitura panoramica, agora ppara terminar a fase de preparagio para a leituea temética. E hora de fazer uma esquematizacio da unidade de leitura, Esse esquema deve ser transcrito na propria ficha de leitura (O esquema dé conta do plano, da estrutura do texto, embora ‘io seja o-reswmo. O esquema ajuda o leitor a ter uma visio sgeral do texto: a visio panorémica da unidade. 18 Como ler um texto de flosof Fazendo um pequeno resume Efetuada essa nova leitura panorimica ¢ esquematizado 0 texto, o leitor esta em condigbes de fazer um pequeno resumo, ‘uma ementa do texto, sintetizando-o. [221 A andllise tematica do texto Terminada essa fase de pre Aniiise tomatica ¢ 2 fase ff paracio do texto serlidofestu- de busca por compreenso, dio, estamos em condigio de 8 mais objetva pone, da imensagem do autor & ora proceder a uma segunda aborda- {Ge saber qual mensagemele gem do texto: é hora de uma se- nos transmite por meio 6¢ | gunda leitura da unidade de tex- seutoro, cuss oguece HL co, visando agora a realizar uma andlise temdtica, Esta éa fase de busea de compreensio, a mais objetiva possvel, da mensagem do autor. Ehora de saber qual mensagem ele no tansmite por meio de seu txt0, ou se, 0 que ele quer comunicar.Tratase, portanto, de e saber qual o contetido do texto. Busca-se explcitar e aprender, com 0 mé- + imo de objetvidade, o pensamento do autor exposto no keto Em nossos ambiente escolares © académicos, muitas vere, esta fase €confundida com a atividade de interpretacao (ue serd objeto da proxima etapa). £ que muita gente entende aleitaa como se ela fosce apenas a “interpretagao” do texto. Mas ha uma etapa prévia a ser levada em conta na letura: a fase de “compreensio", durante a qual precisamos “ouvir” © mais atentamente possvel 0 autor. E por isso que, ao fazer uma nova abordagem do texto da unidade em estudo, dirigimos ao autor 5 questdes bem dliretase precisas: 1. Do queen falando, qual o tema ou assunto do texto? 2. Qu2\0 pebiema qe se coca 0 ep, porque o tema est er queso? Aménio Joaquim Severin 19 3. Qual resposta que o autor dé a0 problema, qual a tese que defende ao tentar resolver o problema ou explicar o tema? 4, Como autor demonstra sua hip6tese? Como ele a comprova? 5. Que outras ideas secundsiaso autor, eventualmente, defend ‘no texta em analise? Guiados por essas questdes, relemos texto, perguntando 0 autor quais as respostas 0 texto di a clas, Essas respostas, sii registradas, de forma sintética, na ficha bibliogrifca refe- rente ao texto, correspondendo isso ao chamado fichamento do texto ido. Fica assim retomada, de forma sistemética, a mensagem etapa de problematizagio e reflexio. Antes de comegar uma atividade de leitura, é preciso delimitar a unidade de leitura, ou seja, definir a extensio do texto sobre o qual se vai trabalhat. No nosso exemplo, essa unidade sera a primeira parte do livro de Paulo Freire A importancia do ato de ler em trés artigos que se completam:-, parte que tem por titulo “A impor- tincia do ato de ler” e que se encontra da pagina 11 8 24 do livro, Pela nota de rodapé, somos informados que o texto foi escrito como uma comunicagdo que 0 autor apresentou num ccongresso sobre leitura realizado em Campinas, em 1981. Tra- tase, portanto, de um texto destinado a uma exposicio oral. Antinio Dooquim Severino 33. ‘Comecamos numerando, a lipis, todos os pardigrafos que ‘compdem o texto, Isso facilitard a localizacao ea identifcagao ddas passagens, Essa numeragdo jé a fiz quando da transcriga0, do texto, antecipando essa tarefa, Nossa unidade de leitura conta com 33 pardgrafos. Os niimeros serio usados para indicar as referéncias que serdo feitas ao longo da leitura. Feita essa escolha, abre-se uma ficha de leitura com a referéncia bibliogeafica dessa unidade, conforme modelo a seguir: FIRE, Paulo, Aimportanda do ato de en: importa do ato ler ‘em wes artigos que se completa. Colegio Plemicas 60 Nosso Tempo, A, Sto Paul Corta/Autoes Associa, 1982, . 11-24 squema Introsugse Lust da presenga do autor no congress edo procedimento aque seguir, bem come andncio da eta basca des faa, 1. Sua vine pessoal e seu canter htc: Vs na inna 12 naadoescnca: 13, na vid profisiona, 2.0 sentido do ato de ler no ambit do proceso de alabet- ex. Conctusso Nova ustiicaa do procediment e fectagto aes organizadores co events Resume (autor se propte a fala sobre a sgifcarzo eimporanda do ato ee, sobretudo no ambi do proesso de afabetizags, Aida fundamental que defende ¢ e qu a eituradalinguagem ecta deve ser precede impregnada pela etuaivncia do mundo «enquanto conterto de exsténca,descrevendo sus experiéncia pes sal, mosrando com er vis momentos de suavido oi “lendo™ ‘omunda eaprendendo ler a0 reso tempo, BA Comoler um tate da flosofin FEA Uma primeira leitura panoramica Procede-se ento a uma primeira abordagem do texto, ‘com a finalidade de se tomar contato com ele, na verdade, realizando-se uma preparasio para a leitura propriamente dita, para uma melhor compreensio de seu contesido. Essa etapa compreende uma série de atividades que possuem 0 intuito de dar ao leitor uma visio panorimica do texto, de seu perfil, método e contexto, Trata-se de um trabalho prévio de identifcacdo de pontos que eventualmente precisam ser cesclarecidos para que uma leitira efetivamente compreensiva ppossa acontecer. ‘Com um caderno ou com uma ficha de rascunho & nossa frente, devemos entdo fazer uma letura corrida da unidade «escolhida, acompanhando a exposicio do autor. Ao percorrer assim 0 texto, deparamo-nos com algumas palavras, conce- tos, referéncias a autores, a fatos historicos e a teorias que desconhecemos, Assinale esses pontos, transcrevendo-os na ficha de rascunho. A primeira indagagio que certamente 0 intrigaré é 0 proprio autor ‘Como dito na primeita parte deste trabalho, para enten-- der o texto que estamos lendo, precisamos saber quem é 0 seu autor, a lingua em que o texto esté escrito, sua natureza seu perfil. Se, a0 ler 0 texto, nds jd sabemos de tudo isso, tanto melhor: essa primeira etapa fica dispensada, Mas se Permanece alguma divida, € preciso, a0 término dessa pri- meira leitura, resolvé-la, esclarecé-la, antes de continuar a busca por compreensao da mensagem do autor, Para isso, a0 longo da leitura, mas sem interrompé-Ia, devemos transerever esses pontos para a ficha de rascunho, sempre indicando 0 pardgrafo em que se encontram, Nossa primeira indagagao é a prépria identidade do autor, no caso Paulo Freire. Vamos supor que vocé nao-o conhega ainda; entao anote seu nome na ficha-rascunho. Vocé constata entdo que, ao longo do texto, aparecem Aner referéncias'a dois outros pensadores - Marx (§ 22) ¢ Gra- sci (§ 31) ~ que Paulo Freire cita para reforgar algumas de suas passagens. Cita ainda alguns autores brasileros, Gilberto Freyee, Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado. Suponho também que possamos no conhecer ainda a palavra “amolegac” (§ 7); “indicotomizaveis” (§ 2 ‘outras palavras podem ter um sentido nao muito claro, como “palavramundo” (§ 4); outras ainda, embora comuns, parecem usadas em sentido diferente do corriqueiro: apa. rentam ter importincia no texto, como 0 adjetivo “critico”, usado varias vezes, e também as palavras “racionalista” (6 14), “arqueologia” (§ 25), “agdo contra-hegemdnics (§ 31); “fatalista” (§ 30). A certa altura, Paulo Freire refere-se & sua proposta de alfabetizagao de adultos (§ 25): eis ai um fato histérico que no tem suas coordenadas concreta explicitadas nesse texto, suscitando, para quem ainda nio a conhece, uma curiosi= dade, “Terminada a leitura corrida, registrados esses elementos, inerrompemos acontinuidade de estudo do texto, mesmo que no se tenha compreendido completamente sua mensagem, e passamos para um segundo momento dessa preparagio. £ hora de buscar as informagSes e esclarecimentos a respeito -dessas dhividas. Pego minha folha rascunho e vou as fontes, ‘em busca das respostas. FRB Snformagdes sobre @ autor Passando para esse momento de investigagio, comece- ‘mos levantando a primeira informagio de que precisamos: quem 6 0 autor, no caso, quem & Paulo Freire, supondo que ainda nao 0 conhegamos. Conhecer 0 autor jé ajuda muito rno entendimento do texto, ainda que isso nao seja assim tio cevidente 20 leitor iniciante. Joaguim Severine 35 36 Come ler um texte de flosofo Em geral, os préprios livros ja trazem alguma informa- 40 sobre seus autores. Nao é 0 caso do livro de onde foi retirada essa unidade de leitura. Talver as editoras que 0 publicaram nao tenham dado essa informacao por julgarem que Paulo Freire jf € muito conecido, Mas supondo que ainda nao o conhegamos, ou 0 cénhesamos superficialmen- te, & possivel encontrar mais informagées sobre ele. E hora entio de recorter a bibliotecas fisicas ou eleteGnicas. Entce as fontes impressas, os livros sobre historia da educagio brasileira ou de flosofia da educagio. Nos eatélogos im- pressos e digitais das bibliotecas, buscando-se pelo nome do autor, € possivel encontrar indicagdes de fontes biograficas ¢ bibliograficas sobre ele. O resultado dessa répida pesquisa deve ser teanscrito na ficha bibliogréfica. Nao se teata de esgotar toda a biografia do autos, no momentos trata-se de levantar alguns elementos iniciais para se conhecer 0 autor do texto, £ 56 isso que deve constar nessa ficha biogratica. Futuramente, vocé podera acrescentar outros elementos, caso volte a estudé-lo, ‘J4 existem muitos trabalhos sobre Paulo Freire, desta- cando-se, em nossos meios, o volume organizado por Moacit Gadotti, Paulo Freire: uma biobibliografia (Sao Paulo/Brasili Cortez Editora/lastituto Paulo Freire/Unesco, 1996). Para abrir nossa ficha, podemos consultar 0 Diciondrio de edu- adores no Brasil da Coldnia aos dias atuais, publicacio da Editora UFRJ e do INEP. Ai ha um verbete sobre ele, escrito por Celso Beisiegel, do qual tiramos os primeiros elementos para a fcha biografca. Como se trata apenas de um exemplo, sio colhidos e transcritos apenas alguns elementos gerais sobre a vida ¢ a ‘obra de Paulo Freire, Mas ela fica aberta para acréscimos que se fizerem relevantes ou necessarios. Toda vez. que obtiver novas informagées sobre o autor, 0 aluno retoma a ficha e continua a preenché-la, Annie Joaquin Severine Fd PAULO ERE Faulo Reglus Neves Free nasceu em Recife, er 19 de setembro de 1921. niu sua atvidade pefssona ome professor de portugues no olésio Oswaldo Cr, em Reile, Em 1946, dplomou-se em Diet, mas logo abandoncu a advocaca. Em seguda,atuou como diretor de ucagao Cultura no Ses e como profesor de Flosfia da Educaga0 1a Escalade Senco Soca Fi posterioment indcado como profesor cfetvo de HstériaeFlosofa da Educacbo, na Universidade Federal de Pernambuco. Paricipou da ciao do Movimento de Cultura Popular do Recife, na gesto do pefelto Miguel Ares, Dedicou-se 20 vaalho de afabetzagsa de actos, criando uma metodoiogia propria que apicou fem suas experéncas no Nordeste.O govern milta inaugurad pelo Golpede 1964, por motivosideolgios,inteompeu todas iniatnas ness campo e Paulo Fee fo peso levado ao autoextio. Paulo Freire ‘steve entio cirulando pelo mundo, tendo pasado pelo Ci, onde cecreveu uma de suas obras fundamentais: Pedagagi do opis, [steve também nos Estados Unidos « na Suga, sempre leconando, f- endo palsras econsuitrias no campo educacional De wlta a0 ra, fem 1979, fo profesor da PUC de Sto Paulo e da Unicamp, tenda sda scolido como Secreto do Educago da cidade de S50 Palo pela prefeta LuzaErunina De sua extensa producto escrita,regstram-se of livros Alfabet- zagho e conscientizacéo (1963), Educacio como prética do liber ‘ade (1967), Pedagogia do opeimido (1870), Agso cultural para a brace e outros escrits (1976), Cartas a Guiné-issou (1977), Ea ‘ago e madanca (1881) A importénca do ato de ler (1982). Fonte: Diciondrio de edcadores no Bras . 883-500. * Mosc de fcha Biblogrifia. Nela, vio sendo acrescentados todos os eementorevantador sobre o autor eoletor poe guards fm sea fehério pessoal. Toda ver que obeinernovasinformagies, © lan retema a fica e conti a presnehe ee 38 Come lum tanto de lof TDrando dlividas sobre 0 sentido das palavras A segunda providéncia, sem divida, é resolver os problemas de linguagem encontrados nessa leitura panori- rica. (Os termos e palavras desconhecidos tém seus sindnimos « explicagdes nos dicionaios de lingua portuguesa (Aurélio, Houaisse semelhantes). Assim, no nosso exemplo, “amolegac”™ significa “apalpar apertando um corpo mole”, como consta no Diciondcio da Lingua Portuguesa Aurélio; “indicotomizavel” significa “nao divisivel em partes que se opGem entre si”. Se 4 questio for apenas encontrar um sinénimo conhecido, és conferi-lo e anoté-to, a lépis, no proprio texto. Nesses casos, ‘no é necessirio criaralgum tipo de ficha. ‘Mas em se tratando de conceitos novos, mesmo quando 4 palavra jé nos é conhecida, precisamos nos dirigie a fontes «especializadas, como 0s dicionérios de filosofa, de sociologia ‘etc, Consultadas essas fontes, o resultado deve ser transcrito em seu Caderno Pessoal de Vocabuliio, conforme orienta- do anterior. Veja 0 exemplo de nosso caso: com as palavras * transcritas em fichas tematicas* calnica Postura ‘Aitude de continua reflxdo, de interogacio ante as cosas. Exorgo pare conhece as cosas como sucedem na readade, dasaiando as de ‘mas sem adotarprescig6es dogmaias. (Cf, Gado Paulo free: ums ioblografa, p. 727) ~ Modelos de cha vantica Enar Achar srvem para repro de concritor eateprias que em contd sgaiicatve slevants pars lam determinado campo de conhecimento ou no interior de um ste made pensmenta Awterio Joaquim Severino 38 PALAVRAMUNDO ar Paulo Frere, pronunciao mundo pla para & human, rane foemando. Flr @ mundo & dare entio um sgnifiado e um modo ser humanizado. (Cf. Gat. Paulo Freire: ume bobiblegafe,p. 726 Superadas as questes lingiisticas e conceituais, o pré- ximo passo é aproximar-se de outros autores citados, neste 280, Marx e Gramsci. Proceda como no caso do autor. ‘Tratando-se agora de pensadores clissicos que tém sua vida « pensamento bastante divulgados, seus nomes e biogea- fias serio encontrados nas enciclopédias, nos dicionérios especializados, nos livros de historia das idéias e em livros especializados. Caso seja um primeiro contato com esses pensadores apenas ligeiramente referidos pelo nosso autor, € ndo sendo eles imprescindiveis para a compreensio do pensamento constante do texto, basta abrir a ficha biblio- ‘grifica com as informagdes mais gerais, Porteriormente, A medida que encontrarmos novas referéncias sobre esses auto- res, acrescentaremos novos dados, de modo a ampliar a fcha. Feitos esse levantamento e pesquisa, processadas as devidas anotagées, volte ao texto para uma nova letura pa- nnordmica, agora com o intuito de terminar a fase de prepa- ragio para a letura temiética do texto. F hora de fazer uma esquematizagio da unidade de leitura, Esse esquema deve ser transerito na prépria Ficha de Leitura. O esquema dé conta do plano, da estrutura do texto, no & 0 resto. O esquema ajuda o leitor ater uma visio geral do texto: a visio panori- mica da unidade Al Fase da andlise tematica do texto ‘Terminada essa fase de preparagio do texto a ser lido/ estudado, j4 que obtivemos todos os esclarecimentos que se faziam necessécios, estamos em condigao de proceder a uma 49 Como ler wm testo de flotofia segunda abordagem do texto: éhora da andlise tematca, Essa €. fase de busca por compreensio, a mais objetiva possivel dda mensagem do autor. E hora de saber qual o conteido ele nos transmite por meio de seu texto, o que ele quer comunicar. Busca-se explicitare apreender, com o maximo de objetivida- de, 0 pensamento do autor. ‘Guiados pelas questdes postas pelas dretrizes da andlise temética (cf. p. 18/19), vamos relendo o texto, perguntando 40 autor quais respostas 0 texto dé a elas. Vejamos como 0 texto de Paulo Freie nos revela'sua mensagem: 4. Tema texto vata da signitcaioe da impertinca da tur, do proceso de _aerende et, paricvarmente no process deallabetizagio. 2. Problema Provocado por uma stuaczo cultural e educacinal deteiorada, 8 qual 12 aprendzagem da let, a afabetzaco, ende a ser vista apenas ‘ome letura mecca das palawas, apiando-se na memorzaio, 0 ‘autor se pergunta como sed 0 verdad processo de letra e seu ‘aprendado. 3. Mipdtese ‘Altura dalinguagem excita ¢ ato de exverarelevanca po sereinen- tementecriador mas elas ser ato criador na medida em que altura da palava exter em comtnuidade com impregnade pela letura do ‘mundo letura do mundo precese a letra da inguager formal 4. Demonstragio Com ete, 1) sua comivencia, durante a nf, com 0 espaco do- resto, a casa (§ 6), com 2 natureza fica e vegetal, om os psaros (67) com os animals domsstcos(§ 8), com as pessoas mais vehas (6 bs suas vrs psqucas, as sensacées etemores(§12), iam tornandoo autor ntine do mundo, cia letra dl ia fazendo aos poucos, de modo ue, quando de sua aabetzacio, itr da plow ect fia letura da “paavramondo® (4). Também 2 expeincia da letra durante & adolesctnca dese numa perceacio cra (618). na atidade docente Antonio Joaquim Severine AI de profesor de portugues, quando vveuintensamente aimportnci do ato de ler ede exrever(§ 20) 2) Desa retomada de sa experiécia exten o autor reafirma que & ifabetizgio de adultes & um ato politica eum ato de conhecimentoe consequentemente, um ato ciader que eovoheeducadore educardo ura prt pltica coum (§ 26), tudo iso mostando que a leture do mundo precede sempre a letra da palora ea letra desta implica 2 contnuidade daqula (6 27) Dala insta em que 3s plas usa- as para a alfabetizacio ese spre carregads de signicaoes d8 expen enstencial do afabetzando (5 28-29). 5. Idélas complementares demos identiicar dua diss abordadas pelo aut, que vem comple- rmentar a sua mensagem. A praia: es Feta cicada reside, ‘ssocata 2 priticas polticas de mobizagio e de organizers, pode Constiuirse em instumento de agio contr-hegeménica (§ 31). A segunda: constata-e, em nosts males, uma mogiiacgo do pala, Privegando-se a letra da inguagem, a quantidade sobre a quadade Mas esa cca no alma dscatr a nacessidadedaletura rigors, 2 ser feta mediante dicipina intelectual § 23) Retomando o texte para a interpretacdo A analiseinterpretativa, ltima etapa da eituraanalitica, € a fase mais dificil. Mas, mesmo assim, € preciso iniciarse também a ela, até porque é por meio dela que se pratica acri- tica, & ela que torna a leitura um processo critico na lida com © conhecimento, Enquanto na fase anterior, a compreensio dda mensagem do autor se dava a partir exclusivamente dos elementos presentes no texto escrito, nesta fase interpretativa, a compreensio se dari a partir de dados exteriores a0 texto, interpelando 0 autos, discutindo-se com ele. Ea fase da andlise interpretativa. E chegada a hora de dialogar com o autor, de situar o seu pensamento, de refletir sobre os contetidos de sua mensagem. 42 Como ler im texte da floofia Como visto no capitulo anterior, esta etapa pode adotar ‘0 seguinte roteiro: 1. Situagdo do conteddo da unidade no contexto da obra de onde ea foi estrada, bem como no conjunto do pensamento do autor. 2, Stuacio do autor ne bite do pensamento tebrico,nabistria {do pensamento de sua drea de relexso. 3, Expliitacso dos pressupostosimplicados no texto. 4. Levantamento de idlias associadas 8s que estdo presentes no text. 5. Formulagio de crticas 8 corstrugdo do texto, bem como 205 pontos de vista do autor ~ critics postvas e negatives. Vamos, entio, reler o texto de Paulo Freire, seguindo esse roteiro, BAIA situagdo da unidade no live eno conjunto da obra de Paulo Freire ‘Aleitura no contexto da alfabetizagd0 é0 fio condutor do livro, pois esse também é 0 cema dos outros dois capitulos que ‘o.compdem. © segundo capitulo versa sobre a importancia da biblioteca popular para a alfabetizacio e o terceiro traz. uma cexperiéncia de alfabetizagdo desenvolvida pelo autor em Si ‘Tomé e Principe, na Africa. Portanto, embora as partes cons titutivas dos capitulos sejam autnomas, independentes uma das outras, elas t2m a ver entre si em razio de sua temética. Mas nao estdo vinculadas numa relacio logica de tal maneica {que a compreensio de uma dependesse da compreensio da outra. Obviamente, que uma pode complementar ou reforcar a outra, Por outro lado, 0 pensamento aqui exposto representa bem 0 niicleo de toda a filosofia educacional de Paulo Freire. Além de um eficiente método de alfabetizagao, Paulo Freire desenvolveu, para fundamenté-lo, uma antropologia e uma filosofia da educago, ou seja, uma concepgio de homem Annie Joaquim Swern 43 ‘uma concepeio de educagio, De acordo com ele, 0 homem pode encontrar-se numa situagao de opressio, situagdo essa causada pela exploracio e pelo dominio de outros homens. Para sair dessa situagao e deixar de ser oprimido, portanto para libertar-s, para sair dessa condigio de alienagio, 0 ho- mem, ser livre que foi feito escravo, precisa de uma prética de liberdade, da qual uma das formas pode set a educacao, até mesmo sob a forma particular de alfabetizacao. Essa edu- cago clementar, popular, pode ser efciente instrumento de libertacao, se for praticada como atividade politica. Tal deve sera “pedagogia do oprimido”, ou sea leitura das palavras escritas deve ser um prolongamento da leitura do mundo. Isso quer dizer que a leitura dos textos se funda na apreensio do contexto histérico-social em que nos encontramos. Apren- de-se a ler, lendo o mundo, prestando atengio a situagdes reais em que estamos inseridos, analisando-as ¢ refletindo sobre elas em sua relacio conosco, e buscando caminhos que eventualmente possam nos libertar de situagdes de opressio econémica, social e politica que nos impedem de ser plena- ‘mente pessoas humanas. No texto lido, vemos essas posiges reafiemadas pelo autor, de forma sintética, mostrando por meio de sua propria experiéncia existencial, como se dé o pro- «eso de aprendizagem da leitura no convivio do mundo real. Situacae do autor em seu campo de conhecimento Paulo Freite, renomado educador brasileiro, tem uma cextensa obra sobre educacio, especificamente sobre educa- » Obviamente, para situar 0 pensamento do autor na rede do pensamento universal de seu campo, preciso que se estude 3 Antinis Joaquim Severna 45. partir as fontes primsriase secundéras, Por isso mesmo, esse 4 um trabalho mais extenso e intenso, Mas ele pode comecar ‘om estas primeirs investgagtes sobre a vida ea obra do autor. "Nessa ficha incl de leitura, so registrados esses elementos lencontredos nas fontes abordadas desde a preparacdo da uni- dade de letra Pressupostos Jos pressupostos que fundamentam as posigbes defen- didas pelo autor na unidade lida, muitas vezes, podem ser identificados a partir do proprio texto. Como se pode perceber, por exemplo, fica claro nesse texto que Paulo Freire pressupée que 0 homem & um ser que embora se encontre muitas vezes oprimido, em situagao de dominacio, é um ser livre, capaz de libertar-se e de ser sujeito da histéria e do seu destino, Pressupde também que a prética pedagdgica & eminentemente politica, ou seia, capaz de levar 0 homem a modificar suas condigaes de vida eas relacdes de poder entre os homens, Pres: ssupde ainda que, para o homem, a sensibilidade a experiéncia existencial é wma forma intuitiva de conbecimento, talvez ‘mais importante do que as formas racionais de conhecer. Si0 pposigdes que, embora no explicitamente trabalhadas pelo autor no texto, ficam implicitas nele, até porque sfo elas que fornecem as bases para as idéias claramente defendidas, Bl) Ddéias associadas O texto é rico em sugestdes para a associagdo de idéias. Por exemplo, vem logo 4 mente toda a proposta do Mobral,, ‘outro movimento de alfabetizacao de adultos desenvolvido ‘no Brasil com pressupostos diferentes, Nesse caso, cabe- ria uma comparagio. Igualmente, 6 possivel aproximar € confrontar as concepgdes de metodologias de leitura apre- sentadas por outros tedricos da educacdo, como Ezequiel ‘Teodoro da Silva (O ato de ler: fundamentos psicol6gicos 46 Come lar texto de fof. para uma nova pedagogia da leitura);o texto de Paulo Freire leva-nos a pensar sea vivencia de cada um dos leitores pode ser idéntica ou andloga & experiéncia dele, tal como descrita nna unidade lida. BB] Consideragses crticas Fazendo uma avaliagio critica desta unidade, é posstvel manifestarmos varios pontos de vist 1. O texto lido é, sem diivida, internamente coerente, uma vez que seqéncia do raciocinio nfo trancads tatase de vin texto expostvo em dois rtmos: pelo primeiro, 0 autor canbe sua exe, basandorse no acompanhamentodesciivo de sua experiéncias pessoais, vividas nas varias fases de sua ‘ida; pelo segundo, le apresenta de forma mats teérca as wae ts posiges, Pode-se conclir que, accitando-se seus fressuportos raciocinio deenvolvido esta core, sem Jacunas, bem articulado. 2, Sem divida, autor assume posigi bastané original, com areas profandamente pessoais. Ness sentido, suas SSlocagoe s30 muito relevanes para o trabalho educacional de alfabetizagio, contribuindo até mesmo para a reavaliagdo dds métodos tadvionas de ensino da leitura © da esta mesmo nas escola regulars. 3, As idiassugeridas pelo texto vio além das questOes ‘especificas da metodologia da alfabetizagao. A medida que retoma todas as posigdes filoséfico-educacionais do autor, tsor texto reeoloca graves quesBes sobre o papel da edca- ‘go numa sociedade desigual como a brasileira, exigindo dos Sdcadores uma rflexio atentae erica sobre sua atvaglo fritea, Nes linha, o pensamento apresentado contribui ‘grandemente para a reavaliagdo constante do papel da edu- wiedo, da escola e do trabalho dos educadores. Pano sequin Savaring 47 4. Com relagio & formulago de eiticas pessoais de ava- liagio das posiges defendidas por um autor, trata-se mesmo de avangar eventuais posicionamentos divergentes. Mas este € aquele momento em que o leitor finalmente vai colocar 0 que concorda e o que discorda do autor quanto as posigdes apresentadas por ele. Portanto, é uma critica eminentemente pessoal que pode ser formulada, seja a partir de outro pa- radigma conceitual, a0 qual o leitor se vincula, seja a partie da pe6pria experiéncia intelectual, propria de cada um. Por isso, estamos num momento no qual é muito forte a marca subjetiva da andlise.E também a parte mais dificil na avalia- 40 do trabalho alheio, pois nossas eriticas pessoais também precisam ser bem fundamentadas. BB A problematizacdo ‘Terminada a etapa de interpretagio, eintimamente ligada a ela, vem a de problematizagio, que € 0 momento de se le- vvantacem problemas para a reflexio pessoal e para a discussio coletiva (se for 0 caso, realizar um seminério ou um debate) __ Appartr das colocagdes que Paulo Frere faz nesse texto, virios sao os problemas que podem ser destacados para uma discussio ampliada: 1. Jd no primero parigrafo, Paulo Freire faz.uma répida afiemacio de que a pritica pedagogica, por ser pedagégica, ‘uma peitica politica. Essa afirmagio expressa, como vimos, sum de seus pressupostos no texto. Mas por que afirma isso? © conjunto do texto justifca essa afirmagio? Ampliando 0 uestionamento, essa afirmagio se justifica mesmo? A edu- cagio é um proceso politico? Por qué 2. Como Paulo Freire vé trabalha as vivénciaspsiquicas da infaincia e da adolescéncia? Tém elas algum papel no de- senvolvimento da aprendizagem? O autor nao acaba caindo ‘numa postura psicologizante? 48 Como lar um tate de flosofia 3, Pode-se caracterizar a teoria da aprendizagem da leitura, tal como apresentada por Paulo Freire, como uma teoria racionalista? 4.0 que se pretende dizer com “magicizago da palavea”? 5. © que 0 autor quis dizer-quando afirmou que esti fazendo “arqueologia da compreensio do complexo ato de ler”? 6.0 que vem aser a posisio fatalista dos grupos popula- resem face das injustigas? Como leitura critica possibilitaria, ‘esses grupos, uma nova compreensio de sua indigéncia? 7. Qual a idéia de homem que esse texto deixa entrever? 8. Qual metodologia de alfabetizagio é sugerida pelo texto, ou seja, quais os elementos que o texto fornece para essa metodologia? 171 A reflexdo pessoal “Todo esse processo de leitura analitca se enriquece se for concluido cor a elaboragio de uma sintese pessoal que, como o nome indica, é uma reflexio conclusiva a respeito das temiticasabordadas no texto eanalsadas ao longo da leiura. E um esforgo do leitor em relltir sobre 0 assunto, por conta prépria, inspirado e provocado pelo autor. ‘Apenas & guisa de exemplo: nessa palestra, mais uma vez Paulo Freire consegue nos traduzira riqueza de seu pensamen- to, profundamente enraizado em sua experiéncia existencial eem sua pritica profissional. Neste sentido, eu testemunho cala fundo porque é extremamente auténtico, Trata-se de um persamento engajado e comprometido com a causa dos ho- mens oprimidos, Nao esta preocupado em sistematizarteorias, mas em ajudar os homens a entender sua propria condico, para que se libertem daqueles elementos eseravizadores que rela se encontram, Lembra-nos Sécrates, porque seu método Antero Joaquin Severino $9 | igualmente tem por objetivo principal levar o homem ao au- toconhecimento para, em seguida, promover a autolibertacdo. E esta se fara por meio de uma pritica politica, na qual os homens se articulario solidariamente, de mos dadas, para construir um destino comum, ‘Todos esses elementos elaborados a0 longo da leitura temitica da leitura interpretativa devem ser registrados na ficha bibliogeéfica. Como em todos os casos da pratica de fichamento, toda vez que voltarmos a0 livro, podemos con- ‘inuar ampliando nosso bloco de fichas. Cada bloco de fichas, sobre um tinico texto deve ser arquivado no fchério, seguindo ‘uma ordem alfabética dos nomes dos autores. Ta pre A pesquisa no proceso de leitura Vimnos que para realizar uma compreensio einterpretagio de um texto, precisamos interromper nossa leitura corrida ¢ buscar, em fontes apropriadas, subsidios, esclarecimentos,, informagées que nos dario conta da mensagem que o autor juer nos passar por meio de seu [J Atvidade de pesauisa: bus quer nos passar por meio de ar em fontes apropriadas texto, Subsitos,esclarecimentos, Esta atividade de recorrer J inforagbs que nox dvdo 4s fontes € atvidade de pes- ff conta da mensagen que 0 aise, O registro das informae ff M2" et ot pater por des colhidas nas fontes € a documentagdo. Vamos apresen- tat, brevemente, nesta parte do livreto, algumas orientagées, para lidarmos com nossas fontes, subsidiando assim nossas, atividades de estudo e de leitura, tais como propostas neste manual. ‘A documentagio é um processo mais amplo de registro dos resultados de pesquisa. Aqui ela esta sendo tomada no seu sentido de técnica de identificagio, levantamento, explo- ragdo das fontes do tema pesquisado, bem como de registro das informaces obtidas. ‘No caso da realizagio da leitura e do estudo, de modo eral, visando a boa aprendizagem, a pratica ditdocumentacéo 52 Como ler um tent de flo é uma ajuda preciosa. No processo de leitura, de estudo ¢ de ‘aprendizagem, existe o levantamento eo registro de informa- ‘es, como ficou claro quando falamos das vérias etapas da leieura analitica, ‘Além disso, a prética da documentagio tem outras duas fungSes complementates: 2 primeira, de ampliar e garantir rosea meméria, que é um instrumento frdgile limitado, nf conseguindo reter tudo © que tentamos registrar nela; a se- sgunda 6 eficdcia das operagées praticas no efetvo aprendi- zado, confirmando o principio de que aprendemos ao fazer. Quando registramos, seja um informe levantado, seja uma ineuigdo pessoal, cal ato contribui significativamente para seu tentendimento e sua retengio, pois guardamos melhor © que melhor apreendemos. ‘Nas orientagGes ja dadas nas partes anteriores, quan- do estamos realizando uma leitura sistematica, precisamos levantar e registrar dados sobre 0 autor do texto, sobre a linguagem que utiliza, sobre as categorias tedricas que adota, sobre outros autores, sobre tcoris rferentes as areas em que se situam as colocagées do texto, sobre eventos historicos € sociais que contribuem para a contextuagao do pensamento do autor, sobre suas idéias, sobre idéias coreelacas etc Para nossos fins, neste manual, documentar é levantar € registrar de maneira sistemética os dados e informagBes que precisamos para realizar a letura analitica. Mas, uma vez registrados esses dados, e usados para a compreensio ¢ inter- pretagio da mensagem lida, eles ficam guardados, de modo {que ficam & nossa disposigdo para uso futuro. Portanto, estamos nos referindo, primeiramente, aos famosos apontamentos... Todos os apontamentos deve ser feitos em equipamentos préprios, adequados. © pri- ‘meiro, muito conhecido, é o famoso caderno escolar. Em ‘que pesem as mais variadas destinagbes que o caderno de apontamentos tem tido em nosso meio, ele nao é um equi- Artin Tooawin Severino $3 pamento adequado para a documentagdo, tal como a suge- rimos aqui. O caderno escolar deve ser usado apenas para rascunho, para anotagées provis6rias, para tomarmos notas durante as aulas, palesteas, debates e noutrassituagBes em que isso deve ser feito com certa rapidez. Os apontamentos definitivos devem ser feitos em fichas apropriadas a serem ‘guardadas de forma organizada, num fichario, Estamos falando aqui, por exemplo, das fichas do tipo monobloco, mesmo as folhas avulsas de cadernos universitarios, desde que soltas, de modo a poderem ser manuseadas livremente, como folhas de papel sulfite. E claro que quando falamos de fichas, apontamentos, fichérios, no atual contexto, imediatamente nos reportamos a arquivos, pastas e diretoris... Tudo que estamos falando aqui, referindo-nos ao universo do papel escrito, pode ser transposto para 0 universo do registro digital. O fichério € uma pasta, um diretro; as fichas so 0s arquivos. orn, quem dspuser dos instruments da informa, pode dese voker Méntce processa de dacumentagso mesiante procesimentos igi. ‘Vamos tratar da documentagio impressa, que pode, em seguida, ser tcansposta para os procedimentos informacionais cequivalentes, thy Ficha bibliografi Destinam-se a registrar informagées, anlises¢ sinteses 2 respeito de um texto que se estejalendo, seja um lvro, wm capitulo de liveo, um artigo cientfico, uma tese, um excerto. ‘Qualquerwinidade de leicura. WEIS Como lar wm texto de flosofia 1a Ficha biogréfica Destina-se 0 registro de informes biogrificos dos autores, ceja vida e obra sejam relevantes para o melhor conhecimento dde uma area, de um determinada texto, de uma teoria. S40 claboradas para o registro de resultados de pesquisa, seja no ‘contexto de um curso ou de uma disciplina, seja no processo de leitura analitica de um texto, como vimos no exemplo da parte anterior deste livro. 5By Ficha tematica ea Fecha tein Esa categoria deficha destina-se a registrar eselarecimen- tos, contedidos, estudos, reflexes ¢ informagdes sobre temas. Deade esclarecimentos de conceitos ¢ de categorias tebricas até intuigSes pessoais. Quando se tem uma idéia, surpida rum insight, ela deve ser registrada em ficha, devidamente ‘encabecada, para que possa ser classificada e organizada num fichério. Quando o aluno estiver pesquisando para fazer um trabalho, por exemplo, todos os apontamentos de subsidios {que levantar de suas fontes devem ser transcritos nas ichas, nao em cadernos espirais ou brochuras, que tém as paginas presas. ify © fichdrio pessoal Esta forma de tomar apontamentos ¢ registrar dados em fichas possibilita ao estudante formar sua propria colegio de informagdes, agrupando os materiais que precisa assimilar, sea com vistas a0 aprendizado, seja para fazer um traba- Iho escolar. O fato de elaborar pessoalmente esse registro Antone Tosqwin Severino | $5. SSS sistemético, sem a preocupagio de apenas ler para decorar, possibilita uma apropriacio mais personalizada esignificativa dos conhecimentos. ‘Materialmente falando, est fichério pode ser constituido daqueles classificadores escolares que tém um equipamento com presilhas de 2 eixos, nas quais se encaixam as fichas com ‘9 numero de furos correspondentes. Com pastas de maior largura, podem-se criar setores separdveis, para as fichas de cada disciplina. Bs As fontes de pesquisa em filosofia Ler textos de filosofia, no Ambito das atividades cucri- calares da disciplna Filosofia, vai nos fazer sentir anecessida- de de um convivio mais amplo com a tradigdo cultural dessa rmatéria. Seja porque precisamos continvamente consultar as, fontes, seia porque precisamos dialogar com os filésofos classi- cos econtemporineos. Por sinal, acontece um relacionamento dialético ent a leitura de textos especifcos € o intercimbio coma tradigio filos6fiea, uma vex que, a0 ler um texto de um filésofo, precisamos “mergulhae” nessa tradicio, a0 mesmo tempo que, a partir dela, estamos desenvolvendo uma ex: periéncia de reflexio flos6fiea que enriquece essa tradigao. Desse modo, a principal fonte da filosofia, enquanto objetivagio cultural, sio 0s textos escritos pelos proprios filésofos, aqueles que construiram, a0 longo da histéria da cultura humana, essa tradicio de pensamento. Séo, assim, fontes primérias a que devemos nos dirigir para esse didlogo, compartlhando idéias, andlises ¢ reflexdes. Mas, pela propria natureza da filosofia, nem sempre fécil penetrar nesse pensamento em suas formulagées originé- Fias, Essa aproximagio é entio feita por muitos outros pensa- 32-20 no extcto de Mauro de Nasu, pasa vtlos anos na Holand, sempreestuando. Busca resgatarametafica em novas bases, de modo 2 order condor suas vtdadesfundamantais com os nows conheci ‘mentor da cna nascent sobre o mundo e sobre o homer. Morr na Suéc, via de pneumonia, quando se transfere pare Estocomo com 2 finaldade de ensinarfesofia a raioha Cristina Escreveu: Discurso de metodo (1637) Melocdes metaisias (1641) 5 princes da ficsoia (1644), s pads da ama (1683), Owrotado ‘do home (1662); 0 tatado co mundo (165A) e Reraspaa a deco do esate (1700. (Cf. hiaman, 2001, p 269-276) ‘Do mesmo modo, podemos encontrar informagbes sobre 6 liveo em questio. Por exemplo, no Dicionério de obras fi- losofias, de Denis Huisman, constam registros importantes sobre ele, dos quais seleciono alguns, sintetizados 56 a titulo dle exemplo. Abrimos entéo uma ficha bibliografica para a cobra que nos serve de exemplo, Preliminarmente, busquemos algumas informagées sobre a vida de René Descartes e sobre a obra da qual éretirada esta passagem, 0 Discurso do método. Fil6sofo bastante conheci do, encontraremos dele sinteses biogréficas com informagoes tals como as que se seguem e que transcreveremos para a ficha biogratfica que abrimos para ele. Ficha biliogrstica DESCARTES, R. Dcuso do método. ad. 1. Ginsburg @ Bento Prado Ie Cal. Os Pensadores, vol 15. S80 Paulo: Abi Cultural, 1973, p. 54-5, A uid eetra€ uma parte do Discus do métedo, revela esto de persamentae expresso de Descartes. 58 obra € um casco da Como ler wm teste de floseia fiosoia moderna, um registro que representa, deforma signicatia, 2 inavgurgio da modernidade xe lio, cuj tule completo & Discuso 130 metodo pare bem cand aprtpri azSoeprecra a verade nas ‘ica, fo publcado em 1637, ¢destinarase a sero preficio de outro li, com elements de sia, ques fo pubiadopostumamente, como tule 0 totad do mundo, rs 1654, Tonause uma cba emblertica dd fiosoi, €oprimer lr da losta francesa esti em francs, ops80| de Descartescom vstasa ampliar opibico lear Apbs faze consierees Sobre oestigi das ccs sobre anecessidade de un bom mitodo pre superar senso comum, coloa a necessidade da divide metoica para se conduira descobeta de verde, coloa a necesidade de ua moral provséria,Apliado 0 metodo serd posse! estabeecer alguns {oreamentosmetasiosinabalives, bem como algunas verdades eas “aunciando as conquists da nora cia (Huisman, 2000, p. 137-139 ‘A vnidade eco para nossa letura integra a quarta parte do vo Nesta passagem, Descartes mostra como chegou a sla verde do cogito« quai ce cits que pevleceram par a Conhecendo um pouco sobre 0 autor ¢ sobre a obra, fagamos nossa primeira leitura panorimica desse trecho. Va- ‘mos anotando as palavras e conceitos que parecem demandar algum esclareciménto, a comesar por aquelas presentes no titulo: discurso, método, raz, verdade, ciéncia, metafisica, paralogismo, demonsteagdes, eéticos, Escola, meditagées. Pa- lavras que em si mesmas certamente ja sio nossas conhecidas, mas que desconfiamos ter, em filosofia, um sentido especifico, ‘Discurso: no seni wadidonal, no € uma “simples seqitncta de pal ‘as, mas un modo de pensomento que @opte 3 intuso".(.) "6 um pensamente operendo nur rac, segundo um perro, tng Seu objetivo por uma sre de etaps intermesisias; na asa flosofa {a linguager,ndo apenas “como simples texto, mas como 0 pxepio ‘campo de conctvigo do significado em que se estabeece a rede de reagbes seménticas com 8 visio de mundo que pressupGe” Uapasu, 1996, p. 74 tod: conjunto de procesmentes acon, baseado em egs, que \isam a atingr um objetivo determinado, O proprio Descartes define 0 Antonio Joaquim Severino ead rmétodo come “35 rears certas faci, akas 3s qua todos os Que 23 observa exatamente jamais toma come verdad aquila que & {aoe chegordo, em se cansar com esfrgos nites 0 conhecmento| verdadero do que pretender alcangar™Uapiassu, 1996, p. 181). -azdo: aculdade de jugar e distingi 0 verdadeire do flso Descartes, ‘apaciade de, pattindo de certos prnchios,estabelecer determinadas fagbes constants ente as cies, permitino ass chegar 8 verdade, ‘ou deronstar uma hiptese; uz natural ouconecmenta de quesomas ‘apazesnattamente, por oposicio 86 revlaio Uapiassu, 1996, 9. 229-230, Verda: adequacao do inteeco 20 rel propiedade dos utes, que podem ser verdadeires ou fates, dependende da corespandéncia ene ‘que afmam e a reaiade(apiasu, 1996, p. 263). ieni: no context cartesano, saber etécioe igorso, cojunto de ‘conhecimentos metodcamente adquides,sitematcamente organize os; mais modernament, fra deconhecento que pretende expica arealidace deforma raconal ebjeva e estadeleer rages univers necesis entre os fendmenos (piss, 1996, p. 43). Cetcimo:concepcéo segundo a qual a ra230 humana no € cpaz de ence a, abo havendo nunca certera da verdad de nosso conhe- ‘iments, O contro de dagmatismo Uapassy, 1956... Metaisica: parte da fosoia que estudaoserenquant se a ontologa {geal Coutna do ser em gra endo de suas determinacoes particles apis, 1996, p. 180). Paralogimo: acc tao quanto ua forma logic, ra zemintngo de enganar Vapiasu, 1996, p. 207) ‘Demonstracso: operacto logica que, partindo de proposées jd co- ecides, lva-os 9 estabelecer 2 verdad ou faidade de ume outa Droposgé, 2 concluso, raciocinio que pemitepassr de proposes ‘minds para una propos que resitanecessaamente dels Ja pass, 1996, p65). col: forma pala qual, até 0 séulo XX, designavase a escola, ou sia, ensinamentos de fiosfiaeteclogia minisrados as escola ecesistcas € universidades, no periodo medieval, Constuni-se pela tentatna de coniigio ds dogmas dof rit com elementos da flo sofia lsc, paiuarmente opatoismo e oarstotesmo (apis, 1996, p. 6687, Meditacio na flosofa cartesian, meditr€ elt, pensar, masa parte a propria nterirdade da cons, estudar em s mesmo (usar, 2000, p. 137. 655 Comer wm texto de flora Registremos esses conceitos em fichas temticas. Nao nos preocipemos seo sentido desses esclarecimentos que encontra~ ‘mos nas fontes subsididrias nao nos ficar plenamente claro, O importante étentar compreendé-los até onde nos for possivel rnesse momento. Mais tarde eles fcardo mais claros. Feitos esses registros, vamos fazer uma nova leitura da unidade, agora para esbocar o esquema e o resumo do texto, E jd 0s acrescentamos, em seguida, na ficha bibliogréfica. Esquema Introducto: ando pela qual cvlgard suas medtagbes 6») 1 Apesqusa da verde evige que se ccloque tudo vida (51 1.1 pr aus dos eres ds sents 112. por ease dos equoccs no accinlo matemsco ($1: 1.3. por cuss dae tues os sonhos (1). 2. Aressténcia do ato de pensar 2 dvds ueersal (§ 1. 3. A certezs do pensare minhanatueza com substi peasants 62. 4, Reg gral a vinci: aera csingso(§ 3) 5 Demonstagto da eustécia de Deu e sua natureza(§ 4) 5.1, Cepaclade do home imoerete de pensar a perteio a. 52, Necesidade da enstecia de ums pert: Deus (5 53, Austnca de impertiges em Deus (4 5.4 Dependénci, em ego a Deus, dossoresimpertetos (5) Resume Pela experignia dos ers do sentdos, dos racicrios matemsitios fds lusbes dos sonhos, sou obigado a colocar todos es meus conhecmentos em divida; mas quando assim procedo, dvidando de tuto, algo se tna indie, opréprio ato de dude, ov si, fo pens portato, s2 pens, eso, eexisto como uma cose Pe Sante, 8 que de tods as outrascraceristicas tenho de dui Ao, onhecerindubtevelente minha exsténcia de ser pensate, dou Conta de qu so re 6 gaantdo pela evidncia que cbtenho com 2 Claezae dstinge com que agenda meu ato de pensar, podendo Artie Toagein Severino za ‘entéo generalizar ese criteria, Rfletindo sobre o flo de pensar 2 perfec, sendo eu um se mpereto, sou frgadoa conch que se faz neceziria a enitrcia de um er perfito de quem posa deshoe ‘omeu pensarento de perfeiao. Nese serperfeito, que & Deus, no ‘existe impereges, sua natures no pode ser composta e dele ‘dependem todo of sees imperftos, Facamos agora uma nova leitura da unidade, com vistas a proceder a andlise temstica do texto. Esta nova leitura, atenta ‘e bem informada, deve responder As seguintes questdes: 1. Do que est falando Descartes, nese texto? Qual o seu tema ‘ou assunto? (© tema geral da unidade & o conhecimento verdade'o, 0 ‘método para se chegar a ele 2, Qual o problema que se colaca, ou sea, por que o tema esté fem questo? ‘Bo tantas as experéncias de eros e enganos em nosso Conhecimenta que acabamos por ficarinsegutos, sem saber se 0 conhecimento verdadeiro € possivel. Como superar pos 0 conhecimento enganoso e chegar & verdade? Seré Aue isso & possivel? Existe algum caminho (método) para se chegar is? 3. Qual a resposta que o autor da 20 problema? Qual a tese {que defende ao tentar resolver 0 problema ou explicar 0 tema? (© proprio ato de duvidar, de pensar, comprova que existe ‘ma possiblidade de um conhecimento verdadeir, pos ppenso, exito. Tenho assim um primeira princpio da nova filosofia 4, Coma a autor demonstra sua hipétese, como ele a com prove? ‘Se estou preocupado com 2 pesquisa da verdade, devo re Jeitar como faso tudo aqullo a respeito do que poss pairar ‘alguma divide, como 6 0 aso dos dados sensvels, das de- ‘monstragbes matematicas, das lus6es dersonho, pots tudo iss0 pode ser mesma pura lust. 68 Como ler wm tanto de flovofi S36 que, 20 generalzar assim a divide a respeto de todos 105 meus conhecimentos, vou encontrar um elemento que ‘do pode ser colacado em dvida, que ¢ 0 proprio ato de duvidar, ou se, 0 ato de pensar. Fosso duvidar de todos (05 conteddos do pensamento, mas nunca do ato mesmo de pensar, Por isso, se penso, posso concur indubitavelmente que eu esto como ser que pensa. Néo tenho certeza de mais ne- inhuma ovtracaracterstica de meu se, que nso sea aquels representada pela capacidade de pensar F posso admit ainda que essa certeza me vem da evi déncia dessa percencd0, que se impoe a meu espirito ‘com total clarezae distingdo, e que se torna um citéio, Goravante, pare que eu possa avaiar a certeza de outros conhecimentos. Como coroléio dessa inferencia, dou-me conta de minha imperfeicio, pois dusidar é uma imperfeigao. No entant,te- ‘iho em meu pensamento idsia clara dstntadeperteicso, ‘que nBo pode cbviamente vir de mir, pois sou impertito, evendo vi entao necessariamente de um ser perfeto, que precisa exist (pos se nao exists, seria uma impereig). Esse ser & Deus, er infinitamente pereitoe que, por isso, ‘go me efigana 5. Que outrasidéassecundirias 0 autor eventualmente, defende ro texto em andlise? A simplicidade, a unicdade da natureza de Deus. Tode composicéo ¢ una imperfecao. Ensaiemos agora uma anise interpretativa, sem a pre- tensio de esgotar todas as possibilidades. Pela importincia da contibuigo cartesiana&filosfia, de cuj trajet6riahistrica ¢ consttuigao teérica ele € uma das principais referéncias, seu pensamento jé foi muito estudado, analisado, discutido ecriticado, Coloquemos aqui apenas alguns aspectos, & guisa de exemplo. O professor poderd ampliar 0 leque de informa- bes e consideragBes a respeto do significado dessa etapa do pensamento cartesiano. Antonie Donguim Severine _APROFUNDANDO COM © PROFESSOR 1. Situagio do conte da unidade no contexto da cbra de onde la {el exalts, bem coma no onjunt do pensamento do auto, Esta passagem traz apenas uma pequena etapa do racocio de Descartes na grande construcio de seu discurso sobre o metodo, Mostra o momento da neces colocagio da divide metodia universal, da resstnca do cogit a esa dvida, a generaizacso do cite da evdénca © a necesiade do exsténca oe Devs coma ser perfito, Certament, essa pequena etapa & central no conjunto de su epstemologa, Nas MectagSes metfsies, ‘utr de suas obras, ele retomars ese racicnio eo desenvalvers sina mai 2, Stuagzo do autor no ambito do pensamento tric, na istria.do ensamento de sa area de refed, ‘As colocagies aqui defends por Descartes caracterizam bem seu pensament,inovado em seu tempo. Como se pode vet, tatase do exer inal de uma nora postura ante o conhecimanto, da postr cries, pelo que se posi contraa radio metafsica da ‘excolstica medieval, que asumia uma posture dogmstica, acted tando mut facimente na eadade do conheciment verdad, ‘A.novidade € que o conheciment, para ser declzado verdad, recs jusfcarse em fundamentos slides, posts to somente ‘ela ardo natural do homem, nao na fora da f¢ ou da revela- 0 reigiosa.Descaescontibul asim, ignfiatvamente, para a evolu eistemalégica que va acontecer na mederidade le ‘um de seus nauguadores,absndo caminho para conhecmento Cento sca, mecarica) eaté mesmo para uma nova perpectia 6 flesofa intlectuaisme,lminismo, ideaksme) que passard a porizar a subjetiidade no pracesso do conhecmento. Por 50 ‘mesmo, 2 flsafia moderna priegiara a episterologia, 30 con ‘toda flsofa medieval e antiga, que rvesiavar a ontoleia, a mettiica. Por eso mesme, Descartes & cansideradoo pitta da fca moderna como da flsofia moder, or outro ldo, nlutna de Santo Anelmona sua concepgéo da perfec de Deus sua repercssio em nossa condico existencal ‘ eplta. Ele etoma o fama argumentoontligico de acoxto ‘ome quala perio dna exig sua enitencia ral, pis se Deus no existe, no seria pert, 6 70 Come lar um tanto da flosofia 3. Explctacs dos pressupestesimplcados no toto Sem dinda, 0 racioiio tao bem artclado de Descartes 56 se susterta por estar apoiado no pressuposto de que a experinca interna da efledo & um ata absolutamente origins, indepen- ente de qualquer condionamento, € esse prestupest, por sua ‘ez, eswole outro, od duals da natureza humorae mesmo o rel, 3 substanclidade dos objtes que compéem areakdode, Fortano,ideasmo, dualismo e nas sto pesiesfleseas ‘ee Descartes cet prelminamente, prin dls para constr ‘edie de seu sistema, 4. Levontomento de iis assacadas ds que eto presents no tert. Descartes inrodu discusses paralelas no presente disso. NO lentano,aexistinca ea natureza de Deus, exrutura do proces mento metodolgic da itn, = hetergeneidade dos costumes, so idtas que poderam ser retomadose scutes a pretext das ceoocagoes aqui fetas. 5. Formulago deeticas&construgo do tet, bem como 20s pontos estado autor ~ ccs positiasenegatias ‘autor rtcuamuto bem oseu race, nao debando lcunas na 3 axgumentagio, Delende ums pes invadora para seu tempo, ra medida em que procuapraticar un postu cia em lado ® consrugbo do conhecimento, bre camino pata a abordagen ‘ientfica do éenhecimento,suprando o dogmatism mettsico da excolésica. Eidentemente, sua concluso & questionsve, ela ressupesio idealsta em que elas fund, 6, ais problemas ese texto nos coloca para nossa elec? Prateamente todos 0s problemas do campo epistemelégco 80 susctadospelotexto de Descartes, até porque ele fazpartede uma obra que @inagural com relagio 8 episterologia moderna. 0 pr ‘eso do conheciento, a condibes deus validate oakance do onhecimento humana, aparipagéo dasujetvidade no proceso epittmico, a rears suo e objeto, aexténca de wm matodo seguro de conhecimento, uridade humana, ene outros, so a ‘buns dos problemas que nos so colocados pl tua dese texto. 7. Que considerages poder fazer a pat deste dilogo com Des ‘questo do conhecmento questo permanente que naice com 4 flosfae continua intepelando 0 espito humano at hoje. A Atinio Joasuin Severna postu dbitativa de Descartes representou um grande avangona sa discusso, inaugurando sua abordagem modems, Maser que Desem as grandes conquistas,teorcas eprtcas, enseiacas pelo ciencia pla técnica, s sugestvas constagbes dos sistemas fi losfcsraionaistas da moderrdade, peclema fundamental do ‘onecmento continua nsuperado pla humanidade Na verdode, parece mesmo que o cannecnento no tem como ser exlicado, 08 toda explicagto | &pritca do prep conhecimenta Nao ha Como abord-o “de fora dee mes. Todosos elementos resutants dese movimento de andl do texto (de reflexz sobre os ders aspects devem ser transcritos par fica bogs, a er inllds no fico pessoal do ako, 2s Palovras fina a Cabe, finalmente, observar que, na leitara dos textos filossfcos, para a qual essas diretrizes foram apresentadas, pode nio se fazer necessicio passar obrigatoriamente por todas essas etapas, tais como descrtas neste livro. Cabera 0 professor avaliar o que é pertinente pri legiae em cada leitura, levando em conta a sua finalidade conereta, em cada circunstancia especifica de sala de aula, (© importante é cer presente que o estudo ¢ 0 aprendizado, da filosofia envolvem atividades de leitura, de reflexio, de discussio ¢ de reelaboracio, e que essas atividades supdem, cvidentemente, algumas priticas e técnicas de trabalho inte lectual, de natureza didatico-cientifica, a que seria vantajoso iniciar 0 aluno para que, além de maior agilidade e prazer, possa ter melhor desempenho ¢ aproveitamento em seu es- tudo. As orientagdes aqui oferecidas visam fundamentalmente cequiparo aluno com algumas habilidades para a investigacao filosofica por meio da letura, pautadas na premissa de que TZ Como ler um tanto da floofin toda aprendizagem é necessariamente um processo de constru- Ho do conhecimento e que s6o aprendiz pode desenvolvé-lo. “Mas levando em consideragio o estagio em que o estudante universirio ou do Ensino Médio se encontra, a intervengio inerativa do professor € imprescindivel, como reforgo a ese trabalho de iniciativa autodidatica. TRERESERS bibliograficas COSSUTA, F Elementos para a letura dos textos filossficos. 2 ed. ‘io Paulo: Martins Fontes, 2001 FOLSCHEID, D. Merodologia filossfcs. 2° ed, Sio Paulo; Martins Fontes, 3002, FREIRE, PR. A importincia do ato de ler 26° ed. Col. Polmicas de 'Nosso Tempo. S40 Paulo: Cortex/Autores Assciadoe, 1991 KATO, M. O aprendizado da leitura. 2 ed. io Paulo: Martins Fon- tes, 1987, SEVERINO, A. J. A importincia do ler € do escrever no ensing su perio. In: CASTANHO, M. Eugenia e CASTANHO, Sérgio. lores.) Temas erextos em metodologia do ensinaeuperior. 4 ed. ‘Campinas: Papirus, 2001. Flosofa, Sto Paulo: Cortez, 1994, Metodologia do trabalho cienfco. 23" ed. Sio Paulo: Cortea, 2007. | | 2 st 39 3 ~wreieey” Apresentacio PRIMEIRA PARTE Texto, comunicagdoe leitura ‘SEGUNDA PARTE Um exercicio de leitura TERCERA PARTE | pesquisa no processo de litre (QUARTA PARTE utro exercicio de etura INDICAGOES SIBLIOGRAFICAS Colegdo COMO LER FLOSORA + Como ler filesoia do mente, Jodo de Fenandes Tere 1 como ler um texto de oof, Antes agua Severino

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