APLICADA À
COMUNICAÇÃO
Introdução
A produção de um texto envolve muito mais do que um aglomerado de
palavras ou sentenças. Para que a produção textual ganhe sentido e seja
passível de interpretação por parte dos leitores, é preciso que o autor
se utilize de elementos fundamentais em sua produção, como coesão,
coerência, clareza e concisão. Além disso, é imprescindível que conheça
as diferentes modalidades da língua, a fala e a escrita, e os detalhes que
diferenciam essas modalidades, para, assim, fazer construções textuais
nos mais diferentes gêneros textuais.
Neste capítulo, você vai estudar as principais diferenças entre a pro-
dução de textos orais e escritos que compõem o processo socioco-
municativo e vai observar quais são os principais elementos de uma
produção textual. Além disso, você vai poder refletir sobre a importância
da oralidade como forma de comunicação.
Língua falada
Uma confusão bastante comum é associar língua apenas à modalidade escrita.
Conforme estabelecem Faraco e Tezza (2016, p. 104), é preciso lembrar que
a língua utiliza dois meios de comunicação bem distintos, a fala e a escrita,
sendo que a fala antecedeu a escrita.
Produção textual e expressão oral 3
A cultura letrada, em geral, tem uma forte tendência a confundir língua com
representação gráfica da língua (escrita). Por força da tradição escolar e da
própria ideia de autoridade que emana da escrita, parece-nos mesmo que a
‘verdadeira língua’ é a escrita, sendo a fala uma espécie de subproduto dela,
de menor importância e sem nenhum prestígio.
Língua escrita
Outra manifestação da língua abordada por Faraco e Tezza (2016) é a sua
representação gráfica, ou língua escrita. Os autores esclarecem que a tendência
de considerar linguagem apenas a modalidade escrita é parte do contexto
sociohistórico da humanidade. Ou seja, “[…] ao longo dos séculos, nós nos
transformamos numa civilização grafocêntricas, que tem no poder da palavra
escrita um elemento fundamental para sua sobrevivência e continuidade”
(FARACO; TEZZA, 2016, p. 105). Com o surgimento da escrita, o modelo de
sociedade se transformou radicalmente, e, devido à sua importância história,
a escrita passou a ser compreendida como língua, diminuindo a importância
da oralidade.
Faraco e Tezza (2016) revelam alguns aspectos importantes dessa temática.
Segundo os autores, não é apenas a linguagem escrita que vai caracterizar a
complexidade das sociedades e de suas relações. Para exemplificar isso, os
autores trazem dois fatos importantes, descritos a seguir.
Máximas conversacionais
Os estudiosos do campo da pragmática defendem que, ao analisarmos um texto,
nossa compreensão extrapola a compreensão visual. Para eles, uma produção
textual envolve um conjunto de palavras e frases tanto com significados ex-
plícitos como com significados implícitos. Desse modo, para a compreensão
total de um texto e de qualquer outra ação da língua, no contexto da oralidade,
é necessário identificar e compreender a enunciação em sua completude,
envolvendo o contexto, o significado explícito, o significado implícito e a
interpretação do receptor.
Produção textual e expressão oral 9
Máxima da quantidade:
■ faça com que a sua contribuição seja tão informativa quanto o
necessário;
■ não faça a sua contribuição mais informativa do que o necessário.
Máxima da qualidade:
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Além disso, a autora enfatiza que um texto, para se caracterizar como uma
produção bem construída e coesa, deve utilizar as regras gramaticais no interior
das sentenças de forma adequada. Essas regras auxiliam a proporcionar coesão
e coerência às frases. Elementos como conjunções, pronomes, preposições
e advérbios são essenciais para deixar um texto mais harmônico e facilitar
sua compreensão. As conjunções, por exemplo, auxiliam na interpretação de
uma explicação ou de uma sentença que apresenta fato e consequência. Já os
pronomes indicam sobre quem está se referindo a informação apresentada, sem
a necessidade de se repetir a todo instante o nome do sujeito. Já as preposições
auxiliam na conexão entre as palavras e as frases, auxiliando na construção
do sentido e da coerência textual.
Segundo Correia (2013, documento on-line), “[…] se esses elementos de
ligação forem mal-empregados, o texto não apresentará noção de conjunto,
ou ainda, sua linguagem se tornará ambígua e incoerente”. A coesão textual
se refere à forma ou à organização de um texto. Ela é construída por meio de
procedimentos gramaticais, isto é, pela escolha dos conectivos mais adequados
para a conexão dos diversos enunciados que compõem um texto. Por sua vez,
conforme estabelece Correia (2013), a coerência textual é resultado de uma
relação harmoniosa entre os pensamentos ou as ideais apresentadas pelo autor
de um texto sobre determinado assunto. Refere-se, assim, ao conteúdo desse
texto, que é apresentado por meio de uma sequência ordenada e lógica de
opiniões e informações expostas.
12 Produção textual e expressão oral
Concisão
Segundo Correia (2013), a conciso é o texto que consegue transmitir o máximo
de informações com o mínimo de palavras. Ou seja, a concisão pode ser des-
crita basicamente como a economia linguística. No entanto, conforme alerta a
autora, isso não significa economia de pensamento, mas, sim, a construção e a
organização textual que é objetiva e sucinta, sem se estender ou “enrolar”. A
concisão se trata, portanto, de excluir palavras sem necessidade, redundâncias
e passagens que não acrescentam ao objetivo do texto.
Outro aspecto a que se refere a concisão textual é a hierarquia de infor-
mações. Para Correia (2013, documento on-line), “[…] deve-se perceber a
hierarquia de ideias que existe em todo texto de alguma complexidade: ideias
fundamentais e secundárias”. Em uma produção textual adequada, as infor-
mações secundárias são utilizadas com o intuito de esclarecer o sentido das
informações principais, detalhando-as ou exemplificando-as. Desse modo, as
ideias secundárias que não complementem o texto ou as informações principais
podem ser dispensadas.
Clareza
De acordo com Correia (2013, documento on-line), a clareza deve ser uma
qualidade básica de qualquer produção textual. “Claro é aquele texto que
possibilita imediata compreensão pelo leitor. A clareza não é algo que se
atinja por si só: ela depende estritamente das demais características da redação
oficial”. Nesse sentido, a clareza pode ser compreendida como um elemento
complementar da coesão e da coerência. Afinal, um texto que se apresente
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Cacofonia
A cacofonia, segundo Correia (2013), é um vício de linguagem resultante
da junção entre o final de uma palavra e o início de outra. De origem grega,
a palavra cacofonia significa som ruim ou som desagradável. Nesses casos,
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Cacofonia intencional
A cacofonia pode ser uma estratégia linguística utilizada para criar duplo sentido e
produzir uma segunda mensagem, oculta. Um exemplo clássico desse uso é uma
performance realizada pelos artistas brasileiros Chico Buarque de Holanda e Caetano
Veloso, na gravação da música “Você Não Entende Nada/Cotidiano”. Eles conseguiram
driblar a censura da ditadura militar à época, a partir da união de duas canções, uma de
cada artista. Segundo a historiadora Priscila Correa (CAPELAS, 2011, documento on-line):
3 Oralidade
Conforme já apresentado no início do capítulo, a língua possui duas mo-
dalidades: fala e escrita. A fala é a primeira expressão da língua, ou seja,
a oralidade se configura como a primeira organização humana em função
da comunicação. Segundo Pugliese (2010), a oralidade se refere à forma de
linguagem mais básica do homem e se constrói por meio de duas tipologias
distintas: a oralidade primária e a oralidade secundária. O autor explica que
a oralidade primária está associada às culturas orais, ágrafas, ou seja, aquelas
culturas que não possuem escrita ou representação gráfica de suas línguas e,
portanto, são classificadas como sociedades não letradas de cultura oralista.
Ainda de acordo com Pugliese (2010), nessas comunidades, os signos
comuns da voz são compreendidos pelos membros do grupo, e é por meio
deles que as pessoas se comunicam e apreendem os significados. Além disso,
nessas comunidades, a cultura também é transmitida por meio oral, princi-
palmente por meio de narrativas, mitos e contação de histórias. E, para que o
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Leituras recomendadas
GRICE, H. P. Utterer’s meaning and intentions. The Philosophical Review, v. 78, nº. 2,
p. 147–177, abr. 1969. Disponível em: http://williamstarr.net/teaching/speech_acts/
Grice-1969-Utterers_Meaning%E2%80%93and_Intentions.pdf. Acesso em: 17 abr. 2020.
MCLUHAN, M. Os meios de comunicação como extensões do homem. São Paulo: Cultrix,
1964.
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