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Contextos e Perspectivas
Brasília-DF.
Elaboração
Sandra N. L. P. Dutra
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8
UNIDADE I
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO
BRASILEIRO................................................................................................................................... 11
CAPÍTULO 1
CARACTERÍSTICAS DA EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA............................................................ 13
CAPÍTULO 2
BRASIL: A CONSTRUÇÃO DAS IDEIAS PEDAGÓGICAS............................................................... 17
CAPÍTULO 3
O BRASIL E AS TEORIAS PEDAGÓGICAS CONTRA-HEGEMÔNICAS............................................ 22
CAPÍTULO 4
A CIENTIFICIDADE DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO.............................................. 29
UNIDADE II
EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA
EDUCAÇÃO......................................................................................................................................... 44
CAPÍTULO 1
O BEHAVIORISMO E A ABORDAGEM CIENTÍFICA DO ENSINO................................................... 45
CAPÍTULO 2
O COGNITIVISMO E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS......................................................... 52
CAPÍTULO 3
JEAN PIAGET E O CONSTRUTIVISMO NA EDUCAÇÃO................................................................ 61
CAPÍTULO 4
LEV VYGOTSKY E O SOCIOCONSTRUTIVISMO NA EDUCAÇÃO.................................................. 65
UNIDADE III
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM........................................................... 76
CAPÍTULO 1
ABORDAGEM TRADICIONAL.................................................................................................... 80
CAPÍTULO 2
ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA..................................................................................... 88
CAPÍTULO 3
ABORDAGEM HUMANISTA....................................................................................................... 97
CAPÍTULO 4
ABORDAGEM COGNITIVISTA.................................................................................................. 102
CAPÍTULO 5
ABORDAGEM SOCIOCULTURAL............................................................................................. 109
UNIDADE IV
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NA PRÁTICA ESCOLAR...................................................................... 117
CAPÍTULO 1
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS LIBERAIS E SEUS PRESSUPOSTOS DE APRENDIZAGEM............. 119
CAPÍTULO 2
AS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS E SEUS PRESSUPOSTOS DE APRENDIZAGEM.. 133
REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 144
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Atenção
6
Saiba mais
Sintetizando
7
Introdução
Caracterizado por intensa atividade intelectual, o século XVIII, também
denominado como o século das luzes, foi palco da fértil produção dos pensamentos
iluministas. Importante marca do século XVIII e surgido na Europa, o Iluminismo
defendia o uso da razão (luz) contra o antigo regime (trevas) e pregava maior
liberdade econômica e política.
No campo da educação, a tendência liberal e laica, que buscava novos caminhos para
a aprendizagem e a autonomia do educando, estava se fortalecendo.
Nesse contexto histórico não havia mais sentido a educação estar atrelada à
religião, como nas escolas confessionais, nem aos interesses de uma única classe,
a aristocracia. A escola deveria ser leiga e livre: não religiosa e independente de
privilégios classistas, o que sugerem a defesa de algumas ideias, nem sempre
postas em práticas:
8
Como podemos perceber, a situação do ensino na Europa era bastante crítica, no
século XVIII. As escolas eram insuficientes e os professores (mestres) não tinham
a qualificação adequada, além das queixas ao conteúdo, extremamente literário.
O Iluminismo foi um período com muitos reflexos pedagógicos, tendo como uma
de suas marcas a política educacional focada no esforço para tornar a escola leiga
e a função do Estado. As contribuições predominantemente teóricas da pedagogia
do Iluminismo dividem-se em três tendências fundamentais: os enciclopedistas,
o naturalismo de Rousseau e a pedagogia idealista de Kant.
9
Ocupando lugar de destaque na filosofia política, em suas obras Rousseau
antecipa o ideário da Revolução Francesa e seu pensamento produziu uma teoria
da educação que ultrapassou o Século XVIII, constituindo-se em um marco na
Pedagogia Contemporânea. Sem dar muito valor ao conhecimento transmitido,
Rousseau defendia que a criança aprendesse a pensar, não como um processo que
vem de fora para dentro, mas como desenvolvimento interno e natural.
Agora que vimos um pequeno apanhado da educação do século XVIII, sob a ótica
do Iluminismo, iniciaremos nossa disciplina com as características da educação
contemporânea. Mas, antes, vejamos os objetivos desta disciplina.
Objetivos
Analisar os referenciais teóricos que norteiam o processo de ensino e
aprendizagem, considerando a escola, o aluno, o professor e o próprio processo
ensino-aprendizagem a partir das abordagens tradicional, comportamentalista,
humanista, cognitivista e sociocultural.
10
BREVE HISTÓRIA DAS
MATRIZES FILOSÓFICAS
E EPISTÊMICAS UNIDADE I
DO PENSAMENTO
PEDAGÓGICO BRASILEIRO
11
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
12
Revolução Russa que, apesar de apresentar o desejo de igualdade entre todos os
seres humanos, acabou reproduzindo a exploração e uma profunda divisão social.
CAPÍTULO 1
Características da educação
contemporânea
13
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
14
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
A partir daí, na visão de Gonçalves e Donatoni (2007), cada vez mais a pedagogia
se presta à vida social - na formação de indivíduos socializados para as vias
institucionais com múltiplas técnicas, que Cambi (1999) chamava de corpo social
- e a história se orienta por uma construção da totalidade, uma vez que a história
das teorias, das instituições, da didática, da infância, das mulheres e do imaginário
ultrapassa a história das ideias.
Ainda de acordo com Gonçalves e Donatoni (2007), nas décadas de 1950 e 1970,
para estabelecer um modelo aberto e vivo de pesquisa articulada, essa maneira
fechada de fazer história rompe com o modelo ideológico, teórico, unitário e
continuísta. Assim, surgem a história da educação e a pedagogia no Brasil.
Instituída no país em 1939, as autoras apontam que a pedagogia brasileira
sofreria influências dessa fase de transição entre história da pedagogia e história
da educação, sendo que esse novo modelo chega à metade dos anos de 1970
como uma revolução historiográfica, como uma nova imagem do fazer histórico
(GONÇALVES; DONATONI, 2007).
No Brasil, Paulo Freire (1996) defendia que o objetivo da educação deveria ser
a libertação do oprimido, permitindo que ele transformasse a realidade social
que o cerca por meio do conhecimento crítico do mundo (conscientização). Esse
pensamento foi colocado em prática no Brasil, pelo próprio autor, entre os anos
de 1958 e 1964 e no Chile, em 1964, tendo obtido bons resultados com seu método
na educação de adultos, a partir da realidade do próprio alfabetizando, das suas
experiências, do valor pragmático do seu cotidiano e situações existenciais.
15
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Ainda de acordo com Mota (2013), a mitificação da educação teve início a partir
do momento em que ela se colocou como substituta da política em virtude da
construção do homem moderno. Esse mito se impõe na elaboração cultural, até os
dias atuais, segundo essa estudiosa.
16
CAPÍTULO 2
Brasil: a construção das ideias
pedagógicas
17
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
18
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
»» Pedagogia Tecnicista.
Como consequência da Nova Teoria, Saviani (1984, p. 14) destaca que a Escola
Nova contribuiu para “desorganizar o ensino” nas escolas da rede oficial e
“rebaixar o nível da educação às camadas populares”. Dentre as consequências,
o autor destaca “o aprimoramento da educação das elites nas poucas escolas
experimentais e a não-educação das massas, ao instaurar o afrouxamento
da disciplina e o aligeiramento de conteúdos pela secundarização de sua
transmissão”.
De acordo com Xavier (1994, pp. 215-216, apud MIRANDA, 2006), os anos
iniciais da década de 60 deram continuidade “à tendência modernizadora que
já vinha sendo forjada desde meados dos anos 50”, exigindo a inclusão das
massas no processo econômico e político, por meio de reformas de base. Assim,
de acordo com Xavier (1994, apud MIRANDA, 2006), a primeira metade da
década de 60 ficou conhecida, no cenário educacional brasileiro, como o período
dos Movimentos de Educação Popular, com ênfase na alfabetização de adultos,
na politização das camadas populares e no intuito de esclarecer essas camadas
populares sobre os seus direitos de cidadãos, para que tivessem “voz e vez”.
19
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Nesse contexto, Xavier (1994, p.237 apud MIRANDA, 2006) destaca que tanto
as políticas globais quanto as políticas educacionais adotadas pelo Estado
foram “gradativamente assimilando a terminologia técnica característica
do planejamento consubstanciado pelas ideias de intervenção, controle e
racionalização”. No mesmo período, a alfabetização de adultos foi “tratada de
forma a neutralizar as experiências ocorridas no início dos anos 60, consideradas
de caráter subversivo pelo governo militar” (Ibid, p. 237).
»» Libertária.
»» Libertadora.
20
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
»» Histórico-crítica.
Com grande destaque nos anos 80 e com ações dentro e fora da escola, segundo
Miranda (2006) essas pedagogias:
21
CAPÍTULO 3
O Brasil e as teorias pedagógicas
contra-hegemônicas
Saviani (2008) destaca que toda teoria pedagógica é uma teoria da educação, mas
nem toda teoria da educação é uma teoria pedagógica, uma vez que “o conceito de
pedagogia se reporta a uma teoria que se estrutura a partir e em função da prática
educativa, buscando orientar o processo de ensino e aprendizagem” (SAVIANI,
2008 p. 12). Dessa forma, para o autor, as teorias que analisam a educação sob o
ponto de vista da sua relação com a sociedade, não tendo o objetivo de formular
diretrizes orientadoras da atividade educativa, são teorias da educação, porém,
não são teorias pedagógicas.
<https://www.biografiasyvidas.com/biografia/f/ferrer_francisco.htm>.
22
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Nos anos 80, viu-se a busca por teorias que se contrapusessem à pedagogia
oficial, surgindo a necessidade da construção de pedagogias contra-hegemônicas,
articuladas com os interesses dos dominados, de acordo com Saviani (2008).
O autor destaca que um conjunto de fatores como a abertura democrática, a
campanha pelas eleições diretas para presidente, a transição do governo militar
para o governo civil, a mobilização e organização dos educadores, as conferências
brasileiras de educação dentre outros marcaram a década de 1980 como um
privilegiado momento para o surgimento de propostas contra-hegemônicas.
Entretanto, o mesmo autor aponta dois fatores limitantes a essas propostas: o caráter
da transição do governo e, ligado a esse caráter de transição, a heterogeneidade dos
participantes e das próprias propostas.
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BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
1ª Tendência
2ª Tendência
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UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
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BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
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UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
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CAPÍTULO 4
A cientificidade do pensamento
pedagógico brasileiro
De acordo com o autor, com a expulsão dos jesuítas, a partir de 1759 o pensamento
pedagógico incorpora características das ideias iluministas, que podem ser
observadas no despotismo esclarecido que comandou as reformas da instrução
públicas, do Marquês de Pombal. Abrindo espaço para as ideias pedagógicas
laicas, essa orientação esteve presente durante o período imperial com a influência
do ecletismo espiritualista, do liberalismo e do positivismo no pensamento
pedagógico vindo a ser, com a proclamação da república, o vetor da política
educacional brasileira (SAVIANI, 2007).
Assim, se instala um Estado laico que leva à abolição do ensino religioso das
escolas públicas, segundo Saviani (2007, p.15) “até esse momento, só podemos
falar em pensamento pedagógico em sentido geral, como tributário de ideias
políticas, teológicas ou filosóficas, não possuindo autonomia, já que é despido de
especificidade”.
29
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
“instrução pública” (já mencionada neste texto) e que, ainda nessa época, também
surgiu a preocupação com a formação de professores.
Nesse cenário, em 1931 Lourenço Filho transforma a Escola Normal de São Paulo
no Instituto Pedagógico, o qual é composto pelo jardim de infância, escola de
aplicação, curso complementar, escola normal e curso de aperfeiçoamento
pedagógico (centrado nas ciências básicas da educação, de acordo com Monarcha
(1999 apud SAVIANI, 2007):
»» Sociologia.
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BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Jardim de
Infância
Campo de
experimentação,
Escola demonstração e prática de
Primária ensino para formação de
professores
Currículo
Escola
Secundária
1933
1932
História da Educação
Biologia Educacional
Filosofia da Educação
Psicologia Educacional
Educação Comparada
Sociologia Educacional
Biologia Educacional
Instituto de História da Educação
Introdução ao Ensino • Fisiologia
Pesquisas
• Higiene
Educacionais
Psicologia Educacional
• Testes e escalas
• Orientação profissional
Sociologia Educacional
• Problemas sociais
contemporâneos
• Investigações sociais em
nosso meio
Introdução ao Ensino
Fonte: elaborada pela autora, com base em Vidal (2001) e Monarcha (1999) apud Saviani (2007).
31
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Saviani (2008, p.51) destaca que o pedagogo foi rotulado como generalista, uma
vez que se procurou privilegiar a formação de técnicos habilitados em funções
supostamente bem específicas no âmbito das escolas e sistemas de ensino que
configurariam um mercado de trabalho e, consequentemente, demandando
profissionais com uma formação específica que seria sugerida pelo curso de
pedagogia. Segundo o autor, isso resultou na reestruturação do curso para atender,
especificamente, a essa demanda.
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BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Os que
ensinam
Os que Os que se
mantêm a empenham
educação na pesquia
educacional
Os que
aprendem
Os que Os que
estabelecem administram
a política escolas e
educaional faculdades
Fonte: elaborada pela autora, com base em Skinner (1972, p. 217 apud SAVIANI, 2007).
Quanto a Piaget, Lima (1976, p.9 apud SAVIANI, 2007) se voltou para os
estudos piagetianos e, passando a denominar sua visão pedagógico-didática de
“método psicogenético”, veio a se tornar um dos principais divulgadores da
teoria piagetiana nas escolas brasileiras, sob o estímulo da obra Didactique
psychologique de autoria de Hans Aebli, publicado em 1951.
Nesse sentido, de acordo com Aebli apud Saviani (2007) a obra Didática
psicológica pode ser considerada como sendo aquela que abriu caminho de uma
didática ativa (marcadamente operatória) para os educadores. Apesar de haver
outros ensaios e pesquisas nesse sentido, o autor aponta não conhecer outra
obra que dê mais “coerência e unidade aos aspectos teóricos e às aplicações
práticas das pesquisas piagetianas, situando-as no contexto da pedagogia
contemporânea (AEBLI, 1951, p. XV apud SAVIANI, 2007).
aproximando-se das áreas afins das ciências humanas” de acordo com Saviani
(2007, p.19), dando prosseguimento, por outro lado, à dinâmica dos anos
anteriores, que buscava conferir bases científicas ao pensamento pedagógico,
segundo o autor.
Por esse motivo, segundo o autor, a referência a essa nova fase do pensamento
pedagógico brasileiro se encontra fora dele, mais precisamente nos movimentos
que o precederam, fazendo com que sua denominação tenda a ser feita por
meio de categorias precedentes, às quais se antepõem prefixos como “pós” ou
“neo”, a começar pela denominação do clima cultural da época, chamado de
“pós-moderno”. Coincidindo com a revolução da informática, esse momento
se opõe ao moderno.
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BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
• Máquinas mecânicas.
• Conquista do mundo material.
• Mundo da comunicação.
Pós- • Informática.
• Máquinas eletrônicas.
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UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
NEOPRODUTIVISMO
Subverte as bases sócio-
econômicas que o pensamento
pedagógico buscava encontrar nas
ciências sociais
NEO-ESCOLANOVISMO
Metamorfoseia as bases didáticas
que se procurar definir pela
pedagogia entendida como ciência
da educação
NEOCONSTRUTIVISMO
Faz refluir as bases
psicopedagógicas que se buscava
construir pelas investigações da
ciência psicológica.
Neoprodutivismo
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BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Nessa direção, Saviani (2007) destaca que além do emprego formal, essa pedagogia
da exclusão apresenta ao indivíduo a possibilidade de:
»» Transformação em microempresário.
»» Informalidade.
»» Trabalho voluntário.
»» Trabalho terceirizado.
37
REFERÊNCIAS
Neo-escolanovismo
Nesse novo cenário, de acordo com Saviani (2007) o segredo do sucesso estaria
na capacidade de adaptação e de aprender a aprender e a reaprender.
Para atingir níveis flexíveis de operação simbólica, a adaptação à atual sociedade
cognitiva exige novos tipos de raciocínio, “[...] exige abandonar a segurança do
conhecido, do familiar e do habitual e voltar-se para uma aventura do inédito e do
imprevisível” (FONSECA, 1998, p. 320 apud SAVIANI, 2007). Dessa forma, para
alcançar esse objetivo, o papel da educação e da escola passa a ser definido como
“[...] consubstanciando uma maior capacidade de aprender a aprender” (FONSECA,
1998, p. 90 apud SAVIANI, 2007).
Neoconstrutivismo
38
REFERÊNCIAS
que de modo intuitivo os princípios dos novos métodos do escolanovismo podem ser
encontrados nos grandes clássicos da Pedagogia desde a Antiguidade, Piaget (1970,
1984, 1998 apud SAVIANI, 2007) se reporta ao escolanovismo, em vários de seus
trabalhos.
1 • A inteligência sensório-motora funciona como um filme em câmara lenta que representaria uma
imagem imóvel depois da outra, em vez de chegar à fusão de imagens.
• Como tem seu domínio delimitado pelo emprego de instrumentos perceptivos e motores, a
inteligência sensório-motora trabalha sobre as realiades, os índices perceptivos e os sinais motores,
não sobre os signos, os símbolos e os esquemas representativos ou os conceitos verdadeiros que
3 implicam inclusão de classes e relações.
Fonte: elaborada pela autora, com base em Ramozzi-Chiarottino (1984, p. 58 apud SAVIANI, 2007).
39
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
Segundo Lyotard (2002) essa retórica reformista está em sintonia com a visão
pós-moderna na sua “incredulidade em relação aos metarrelatos”, inclusive os de
ordem científica, em benefício de uma narrativa que, “obedece frequentemente a
regras que lhe fixam a pragmática” (LYOTARD, 2002, p. 38).
40
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Nesse sentido, o autor aponta para o novo perfil do professor, a partir do anseio do
mercado educacional e dos governantes, que seria um professor ágil, leve e flexível
que, a partir de uma formação inicial ligeira, de curta duração e a baixo custo,
refletindo sobre sua própria prática e eventualmente apoiado por cursos rápidos
(oficinas) que, recorrendo aos meios informáticos, lentamente transmitiriam as
habilidades que o tornariam competente nas pedagogias da “inclusão excludente”,
do “aprender a aprender” e da “qualidade total” (SAVIANI, 2007, p. 30).
Nesse novo perfil docente, exercer essas competências vai além do exercício da
atividade docente propriamente, segundo Saviani (2007), para quem, no espírito
da “qualidade total”, é esperado que o professor não apenas ministre suas aulas,
mas também participe da elaboração do projeto pedagógico da escola; da vida da
comunidade, animando-a e respondendo às suas demandas; participe da gestão
escolar e do acompanhamento dos estudos dos alunos, orientando-os e suprindo
suas dificuldades específicas.
Ainda de acordo com esse estudioso, beneficiadas por uma imensidão de publicações
e pela grande divulgação midiática, as novas ideias atraíram os educadores e, com
isso, a escola foi se esvaziando da sua função específica ligada ao domínio dos
conhecimentos sistematizados.
41
UNIDADE I │ BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO
trabalhar seriamente, desvaloriza a cultura elaborada, uma vez que nesse tipo de
cultura escolar há prevalência do utilitarismo e do imediatismo da cotidianidade
sobre o demorado e paciente trabalho de apropriação do patrimônio cultural da
humanidade (SAVIANI, 2007).
Para o autor, parece irônico que estejamos na época caracterizada pela sociedade
do conhecimento e, ao mesmo tempo, vivendo o decreto do falecimento da ciência
como a forma mais avançada de conhecimento, considerando que conhecer não
implica mais voltar-se para a realidade com vistas à sua compreensão e explicação.
42
BREVE HISTÓRIA DAS MATRIZES FILOSÓFICAS E EPISTÊMICAS DO PENSAMENTO PEDAGÓGICO BRASILEIRO │ UNIDADE I
43
EDUCAÇÃO MODERNA,
EDUCAÇÃO
CONTEMPORÂNEA E UNIDADE II
O NASCIMENTO DAS
CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
44
O terceiro capítulo nos apresentará o construtivismo de Jean Piaget, sua
psicologia e seu pensamento educativo, além das repercussões do construtivismo
piagetiano na pedagogia e na didática. Filosófica e pedagogicamente, o
construtivismo consiste em uma teoria da aprendizagem na qual o indivíduo
(como aluno) participa ativamente do seu próprio aprendizado, por meio de
experiências epistemológicas e interações constantes com o meio em que está
inserido.
CAPÍTULO 1
O behaviorismo e a abordagem
científica do ensino
Fundada por John B. Watson, essa escola de psicologia é baseada na crença de que
os comportamentos podem ser medidos, treinados e mudados. O behaviorismo foi
estabelecido com a publicação do artigo “A psicologia como o behaviorista a vê”, em
1913 (FURTADO, 1999 apud TERRA, 2003).
45
UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
De acordo com o Portal Psicoativo (2018), essa perspectiva da psicologia teve como
precedentes nomes como Vladimir Mikhailovich Bechterev (primeiro a propor
uma Psicologia baseada na pesquisa do comportamento) e Ivan Petrovich Pavlov, o
fisiologista russo responsável pelo condicionamento clássico, que é um processo
de aprendizagem que ocorre por meio de associações entre um estímulo ambiental e
um estímulo que ocorre naturalmente.
Após ouvir o som diversas vezes imediatamente antes de ser alimentado, o cão
começava a salivar quando ouvia o som: o cachorro tinha sido condicionado a
salivar em resposta ao novo estímulo (som) que normalmente não produziriam
salivação. O cachorro aprendeu a associar o som à comida.
46
EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
Condicionamento
Clássico
Estímulo Resposta
FENÔMENOS
47
UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
48
EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
Nesse cenário, concordando com a ideia de que “as revoluções são feitas,
geralmente, contra os grupos que estão no poder”, mas discordando de
revolucionários extremistas que “demolem a velha ordem e não se preocupam
em separar o que existe de certo e errado na mesma”, Staats (1980 apud TERRA,
2003) reivindica a sua posição de representante do behaviorismo social.
Staats (1980 apud TERRA, 2003) afirma que apesar de o programa watsoniano ter
sido uma correção para os abusos da época ele foi radical, rejeitando importantes
áreas de estudos, estendendo esta rejeição aos termos e métodos da introspecção.
Segundo o mesmo autor, a abordagem skinneriana seguiu o extremismo da
revolução original da corrente antecedente, rejeitando os métodos, conceitos,
princípios e observações das ciências sociais, não considerando, em seus princípios,
a forma que diferencia os seres humanos dos animais.
Nesse cenário, Staats (1980, p. 103 apud TERRA, 2003) reivindica a integração e
a união de áreas do conhecimento para a evolução do behaviorismo, destacando a
necessidade de “um paradigma que conduza à unidade todo esse esforço científico no
estudo do homem”, ou seja, uma terceira geração de behaviorismo, o behaviorismo
social.
49
UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
50
EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
51
CAPÍTULO 2
O cognitivismo e suas implicações
pedagógicas
Para os cognitivistas, o modo de pensar não pode ser um comportamento, uma vez que
a maneira de pensar tem impactos sobre o comportamento do indivíduo.
52
EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
A origem da escola cognitivista não é nova, remonta à Grécia Antiga, quando Platão
e Aristóteles já se referiam aos processos do pensamento, quando a psicologia era
uma subárea da filosofia, de acordo com Schultz e Schultz (2012 apud FERRARI,
2014). Até o início do Século XIX a Psicologia foi tratada como uma subdisciplina
da Filosofia, quando dela se torna independente e passa a ser considerada como
uma disciplina científica que tem como objeto principal o estudo dos estados de
consciência, ainda de acordo com os mesmos autores. Até o início do Século XIX, a
Psicologia foi tratada como uma subdisciplina da filosofia.
Segundo Santos (2013), é o processo por meio do qual o mundo de significados tem
origem. Para o autor, os significados não são entidades estáticas, eles são pontos
de partida (equivalências utilizadas como uma ponte para a aquisição de novos
significados) para a atribuição de outras significações que, por sua vez, possibilitam
a origem da estrutura cognitiva.
53
UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
O mesmo portal destaca a complexidade dos processos cognitivos, razão pela qual
não há uma teoria acabada, mas diferentes concepções dentro das teorias dos
diversos teóricos cognitivistas, como por exemplo:
54
EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Segundo Pereira (2018), o teórico russo Lev Vygotsky (1896-1934) defende que
o desenvolvimento do indivíduo e a aquisição de conhecimentos são resultados
da interação entre o sujeito e o meio, por meio de um processo sócio-histórico
coletivamente construído e mediado pela cultura. De acordo com essa teoria, a
aprendizagem promove o despertar de processos internos de desenvolvimento
que somente ocorreriam por meio das interações estabelecidas com o meio
externo ao longo da vida e, de acordo com a mesma autora, como resultado dessas
trocas e interações, o cérebro tem a capacidade de criar novos conhecimentos,
uma vez que o contato com outras experiências ativa as potencialidades do sujeito
em elaborar seus conhecimentos sobre os objetos, em um processo mediado pelo
outro (PEREIRA, 2018).
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»» Avaliar.
No ensino cognitivista, o aluno deve ser motivado a aprender a partir da análise das
suas necessidades e de suas experiências reais, seguindo o princípio de que a estrutura
cognitiva do sujeito depende da sua visão do mundo e da sua vivência, que devem ser
valorizadas no processo de aprendizagem. Para tanto, devem ser fornecidas informações
que levem o indivíduo a compreender, organizar e reter os conhecimentos de maneira
significativa, relacionando os novos conhecimentos àqueles que ele já possuía.
ABORDAGEM
IMPLICAÇÃO ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA APRENDIZAGEM
SÓCIO-HISTÓRICA DE
PEDAGÓGICA DE PIAGET SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL
VYGOTSKY
Ênfase nas interações com o meio e A relação desenvolvimento- O processo de ensino-
nos intercâmbios entre os sujeitos, por aprendizagem acontece de forma aprendizagem acontece por meio
meio de processos de equilibração, intricada, atribuindo importância de organizadores prévios (é
assimilação e acomodação. crucial às práticas educacionais como necessário que a aprendizagem
propulsoras do desenvolvimento ocorra a partir do que o aluno já
humano. sabe) e mapas conceituais
(organizar e representar o
A aprendizagem exige uma
conhecimento) como recursos
prática pedagógica que privilegie
didáticos específicos que põem em
a participação ativa do aluno e do
prática processos do ensino que
professor, por meio de situações
PROCESSO favorecem nos alunos a capacidade
que primem pelo intercâmbio,
ENSINO-APRENDIZAGEM de aprender.
diálogo, expressão criativa e
trabalho em grupo, respeitando as
Atividades discursivas do aluno e sua
singularidade. Deve ser considerada
a Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP) que discorre acerca
do limiar entre desenvolvimento
real (capacidades já completadas)
e desenvolvimento proximal
(capacidades na iminência de serem
efetivadas).
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ABORDAGEM
IMPLICAÇÃO ABORDAGEM CONSTRUTIVISTA APRENDIZAGEM
SÓCIO-HISTÓRICA DE
PEDAGÓGICA DE PIAGET SIGNIFICATIVA DE AUSUBEL
VYGOTSKY
Agente ativo e criador com o emprego Sujeito ativo no seu processo de O papel do aluno é integrar novos
de lógicas para solucionar questões. aprendizado e desenvolvimento, pois conteúdos na sua estrutura cognitiva,
é ele quem age sobre o instrumento ampliando e modificando os já
mediador de sua ação. Desta forma, existentes.
PAPEL DO ALUNO ele precisa estar apto a interagir
com esta ferramenta, dominar
suas funções, signos e sistemas de
símbolos para que a sua conduta
seja consciente e planejada.
Agente ativo, que mostra aos alunos Auxiliar no desenvolvimento de Mediar os conteúdos e auxiliar o
que seus esquemas assimiladores são funções psicológicas mais avançadas aluno a primeiramente descobri-
insuficientes para atingir um equilíbrio do aluno, como forma de domínio de los, significativamente, para depois,
permanente, apresentando atividades uma sistemática, levando em conta a incorporá-los em seus esquemas.
PAPEL DO PROFESSOR criativas, instigando-os à reflexão e experiência da criança.
à criação constantes, por meio de
O professor deve mediar, por
questionamento de suas respostas, de
meio de instrumentos e signos,
exemplos e de uma relação dialógica.
e potencializar o processo de
aprendizagem do indivíduo.
Fonte: elaborado pela autora, adaptado de Sousa (2018).
Como podemos observar no quadro acima, Piaget (1975; 1990 apud SOUSA,
2018) defende a construção do conhecimento a partir da evolução de esquemas
cognitivo-afetivos e que essa construção ocorre por assimilação, acomodação e
equilibração do objeto de conhecimento. Ou seja, o indivíduo apresenta esquemas
mentais que absorvem conhecimentos, confronta-nos, e por fim, promove uma
homeostase desses conhecimentos no seu campo intelectual. A aprendizagem é
ativa e singular, ressalvando que, assim como o ensino, a aprendizagem ocorre por
meio das interações sociais, nas quais professor e aluno devem ter uma relação
dialógica e ativa, cabendo ao professor instigar o aprendiz a construir lógicas para
o conhecimento (SOUSA, 2018).
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
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CAPÍTULO 3
Jean Piaget e o construtivismo na
educação
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Influenciado por sua formação em biologia, de acordo com Caetano (2010), Piaget
desenvolveu sua teoria sob a perspectiva dos instrumentos científicos utilizados por ele
como comprovadores empíricos, sempre baseados em métodos científicos rigorosos.
A autora aponta a concepção de inteligência como algo ligado à ação e à adaptação ao
meio como outra influência da biologia na teoria piagetiana.
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EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
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Objeto de Objeto de
Sujeito Sujeito
conhecimento conhecimento
ASSIMILAÇAO ACOMODAÇÃO
Adaptação
EQUILIBRAÇÃO
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CAPÍTULO 4
Lev Vygotsky e o socioconstrutivismo na
educação
De acordo com a mesma autora, em 1917, ano da Revolução Russa, Lev Vygotsky
se graduou em Direito e apresentou um trabalho intitulado “Psicologia da Arte”,
publicado na Rússia em 1965. Depois de formado, voltou para Gomel, onde
escreveu críticas literárias, proferiu palestras sobre temas ligados à literatura e à
psicologia em várias escolas e publicou um estudo sobre os métodos de ensino da
literatura nas escolas secundárias.
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Frazão (2018) destaca que seu interesse pelas funções mentais superiores, cultura,
linguagem e processos orgânicos cerebrais levaram Vygotsky a trabalhar com
neurofisiologistas como Alexander Luria e Alexei Leontiev, pesquisadores com
importantes contribuições no Instituto de Deficiência de Moscou, entre elas o livro
“A Formação Social da Mente”, que aborda processos psicológicos tipicamente
humanos, analisando-os a partir da infância e do seu contexto histórico-cultural.
Após sua morte, em 1934, as ideias de Vygotsky foram repudiadas pelo governo e,
durante o regime stalinista, suas obras foram proibidas na União Soviética, entre
1936 e 1958, segundo Frazão (2018). Em consequência, seus livros “Pensamento e
linguagem” e “A formação social da mente” foram publicados no Brasil apenas em
1962 e 1984, respectivamente (FRAZÃO, 2018).
Esse autor destaca que a interação entre o homem e o meio é considerada uma
relação dialética, uma vez que o indivíduo não apenas internaliza as formas
culturais, ele intervém e transformas essas formas. Assim, segundo Resende (2009
apud ROMERO, 2015), a obra de Lev Vygotsky é centrada no desenvolvimento
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EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
Destacando que dar voz às crianças é fundamental para que elas exercitem o
pensamento, Romero (2015) aponta as duas funções da linguagem:
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EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
Figura 9. A mediação.
Homem Homem/Objeto
MEDIAÇÃO
INSTRUMENTO SIGNOS
Todo objeto Instrumentos
(externo) criado pelo psicológiscos
homem para facilitar (internos) que,
seu trabalho e sua diretamente, auxiliam
sobrevivência. o homem nos
processos internos.
Fonte: elaborado pela autora, com base em Stadler et al (apud ROMERO, 2015).
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Nesse cenário, Romero (2015) aponta que a criança não adquire conhecimento
na escola, uma vez que, sem diminuir a importância do ambiente escolar, o
pensamento dela desenvolve seu potencial com todas as trocas ocorridas bem
como no desenvolvimento da língua escrita. Magalhães (2007, apud ROMERO,
2015) destaca que quando o sujeito se familiariza com o mundo da escola
acontece algo novo em seu desenvolvimento, ou seja, a criança sai da sua zona
de desenvolvimento real e, com a ajuda de um mediador (professor ou
correspondente) passa à zona de desenvolvimento potencial, o que caracteriza
a Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP), mencionada anteriormente.
Zona de
Desenvolvimento
PROXIMAL
• Saber atual • Saber a ser
• Mediação alcançado
Zona de
(ZDP)
Desenvolvimento
REAL
Zona de
Desenvolvimento
POTENCIAL
<https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/bridge-logo-627459212>
Fonte: elaborada pela autora, com base em Romero (2015); Stadler et al (apud ROMERO, 2015).
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EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
Você deve lembrar que, no início deste capítulo, vimos que Lev Vygotsky trabalhou
com importantes neurofisiologistas, como Alexander Luria e Alexei Leontiev. O
pensamento luriano entende que antes de adquirir a idade escolar a criança já tem a
capacidade de assimilar técnicas que preparam seu caminho para a sistematização
da escrita e, ainda, que a memória é precursora da escrita.
Mais que isso, nesse cenário o socioconstrutivismo defende que para aprender a
escrever a criança deve primeiramente entender a linguagem falada; seu ingresso
no mundo da escrita ocorrerá quando ela perceber que pode desenhar o que se
fala, de acordo com Resende (2009 apud ROMERO, 2015).
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Você deve ter percebido que os sistemas simbólicos têm grande importância,
sendo poderosos instrumentos para o pensar, e que o processo de aquisição de
todos esses instrumentos depende do conjunto de interações da criança com os
outros, em especial com aqueles que dominam as diversas linguagens simbólicas.
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EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
Ainda nesse sentido, o mesmo autor enfatiza que o construtivismo trata de estágios
e que o conhecimento é construído gradualmente, de acordo com o estágio onde
o sujeito se encontra. O socioconstrutivismo, por outro lado, não se refere a
estágios e sim à mediação e, ainda, que a relação do indivíduo com o mundo e com
a aprendizagem precisa da intervenção de alguém para que ocorra: tudo o que
sabemos é aprendido socialmente. Segundo Kohl (2000 apud LEMOS, 2011), essa
mediação remete ao pressuposto vigotskyano de que a relação do homem com o
mundo é indireta, necessitando da mediação dos sistemas simbólicos, que são os
elementos intermediadores do sujeito com o mundo.
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UNIDADE II │ EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO
Semelhanças:
Diferenças:
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EDUCAÇÃO MODERNA, EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA E O NASCIMENTO DAS CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO │ UNIDADE II
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AS ABORDAGENS
DO PROCESSO UNIDADE III
DE ENSINO E
APRENDIZAGEM
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AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
As teorias da aprendizagem não são um tema novo, elas vêm sendo formuladas
desde a Grécia antiga. Na educação contemporânea, diversos autores que estudam as
abordagens pedagógicas do processo ensino-aprendizagem as classificam e agrupam
seguindo critérios diferenciados, dentre os quais podemos destacar, de acordo com
Santos (2005):
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UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Conservadora
Pedagogia liberal Renovada progressista
Renovada não-diretiva
Libâneo (1982)
Libertadora
Pedagogia progressista Libertária
De conteúdos
Pedagogia da transmissão
Bordenave
Pedagogia da moldagem
(1984)
Pedagogia da problematização
Pedagogia tradicional
Teorias não-críticas Pedagogia nova
Abordagem tradicional
Abordagem comportamentalista
Mizukami
Abordagem humanista
(1986)
Abordagem cognitivista
Abordagem sociocultural
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AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
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CAPÍTULO 1
Abordagem tradicional
Sendo a busca pela essência do homem, essa abordagem tem o professor como o
centro de todo o processo de ensino e aprendizagem. A ação do professor independe
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AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
OS PRESSUPOSTOS DA
APRENDIZAGEM
- Fundamentados na receptividade do conteúdo e na
mecanização de sua recepção.
- A aprendizagem se dá por meio da resolução de
exercícios e da repetição de conceitos e
recapitulação do saber adquirido, para memorização.
- A avaliação também é mecânica e ocorre por meio
de resolução de tarefas enviadas para casa, provas
arguitivas e escritas.
Fonte: Elaborada pela autora, com base em Mizukami (1986).
Não podendo se manifestar, pois não tem nada a acrescentar, apenas a aprender,
o aprendiz é visto como depósito de informações o que nos leva à conclusão de
Freire (1996, p. 68), de que “a educação bancária tem por finalidade manter a
divisão entre os que sabem e os que não sabem, entre oprimidos e opressores”.
Denominada por Bordenave (1984 p.41) como pedagogia da transmissão, uma vez
que está centrada nos conhecimentos e valores que serão transmitidos e, como
consequência social, essa pedagogia forma alunos passivos e cidadãos obedientes,
81
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Nesse mesmo contexto, Saviani (1984) denomina essa abordagem como pedagogia
tradicional, tendo em vista que a escola surge como um antídoto à ignorância e,
portanto, é um instrumento para resolver o problema da marginalidade, tendo o
papel de disseminar a instrução e transmitir o conhecimento humano logicamente
sistematizado.
A ESCOLA
• Lugar ideal para realizar a educação.
• Organizada com funções claramente definidas.
• Normas disciplinares rígidas.
• Prepara os indivíduos para a sociedade.
O ALUNO
• É um ser passivo, que deve apenas assimilar o conhecimento transmitido pelo professor.
• Deve dominar o conteúdo cultura universal, transmitido pela escola.
O PROFESSOR
• É o transmissor do conhecimento aos alunos.
• Predomina como autoridade.
ENSINO E APRENDIZAGEM
• Os objetivos educacionais obedecemà sequência lógica dos conteúdos.
• Os conteúdos são bseados em documentos legais, selecionados a partir da cultura
universal acumulada.
• Predominância de aulas expositivas, com exercícios de fixação, leituras-cópia.
82
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
De acordo com Chartier (1978), a escola é, por excelência, o lugar onde essa
concepção pedagógica (o ato de aprender) é vista como uma cerimônia, havendo a
necessidade de o professor se manter distante dos alunos.
De acordo com o Mizukami (1986), para essa abordagem a escola não tem o papel
de mediador entre o aluno e os modelos e a relação social é vertical, ou seja, o
professor é a autoridade intelectual e moral para o aluno. No que diz respeito à
cooperação entre os alunos, ela é bastante reduzida, tendo em vista que a maioria
das atividades exige a participação individual dos alunos.
Ainda de acordo com essa autora, uma das vertentes dessa concepção
pedagógica atribui à educação a função de ajustamento social, cabendo a ela
oferecer os elementos dominantes em determinado momento sociocultural
garantindo, assim, a continuidade das ideais, sem rupturas nem crises.
83
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Nesse cenário, o mestre tem o papel de mediador entre cada um dos alunos
e os modelos culturais existentes, predominando uma relação individual
professor-aluno. Ainda de acordo com a mesma autora, nessa expectativa a
classe é apenas a justaposição dessas relações duais (na maioria das vezes,
paralelas), não existindo a constituição de grupo nos quais haja interação
entre os integrantes da classe.
Diante do que já foi estudado, você pode perceber que o ponto fundamental desse
ensino é o produto da aprendizagem, na qual o aluno reproduz automático e
invariavelmente o conteúdo, sendo essa reprodução considerada como um poderoso
(e suficiente) indicador de que a aprendizagem (produto) aconteceu. Pode-se dizer,
então, que nesse cenário a didática praticamente poderia ser resumida em dar a
lição (professor como agente) e em tomar a lição (aluno como ouvinte), sendo
frequentemente reprimidos todos os elementos da vida emocional ou afetiva, uma
vez que são considerados como fatores que impedem o bom andamento do processo
de ensino, de acordo com Mizukami (1986).
84
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
Nesse cenário, “o exame passa a ter um fim em si mesmo e o ritual é mantido. As notas
obtidas funcionam, na sociedade, como níveis de aquisição do patrimônio cultural”,
segundo Mizukami (1986, p.17).
86
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
• Inserido em um mundo que irá conhecer por meio de informações que a ele serão
Homem fornecidas.
• Receptor passivo.
Sociedade e • Os programas estabelecem os níveis culturais que devem ser adquiridos na educação
formal.
cultura • Visão individualista do sistema educacional.
87
CAPÍTULO 2
Abordagem comportamentalista
Resposta do organismo
COMPORTAMENTO a um extímulo externo
(meio ambiente)
Toda alteração do
ambiente, que seja ESTÍMULO
captada pelo individuo
Alterações que
RESPOSTA acontecem no
organismo, em função
dos estímulos externos
recebidos
88
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
Diante disso, você deve estar se perguntando qual é o papel da aprendizagem para
esta abordagem? Então, vamos lá: para os comportamentalistas a aprendizagem
ocupa um papel central e o mais importante na determinação do comportamento,
são as experiências apreendidas durante a vida do indivíduo, segundo Mizukami
(1986). A preocupação básica do comportamentalismo é explicar como os
comportamentos são aprendidos.
Condicionamento é o processo
de associar, pela repetição, um
estímulo a uma reação não
natural do estímulo, de maneira
que a exposição a esse estímulo
passe a provocar essa reação.
CONDICIONAMENTO CONDICIONAMENTO
CLÁSSICO OPERANTE
Quando determinado
estímulo externo Baseado em
provoca determinado comportamentos
comportamento emitidos pelo próprio
organismo que são
seguidos de uma
consequência
Envolve uma relação (reforçadores).
do organismo ao meio
e não uma ação do
organismo sobre o Reforçadores
meio. modelam o
comportamentos do
indivíduo, criando
hábitos.
89
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Nesse sentido, Skinner (1972 apud MIZUKAMI, 1986) destaca que a realidade é
um fenômeno objetivo e o mundo já é construído, enquanto o homem é produto
do meio. Entendendo que o meio pode ser manipulado e o comportamento pode
ser mudado se os elementos ambientais forem alterados, esse teórico aponta que
o ambiente social é uma cultura que, por sua vez, é quem forma e preserva o
comportamento dos indivíduos que vivem nesta cultura. Assim, nessa abordagem,
a cultura é o espaço experimental usado no estudo do comportamento, é um
conjunto de contingências de reforço (MIZUKAMI, 1986).
De acordo com a autora, esse tipo de ensino supõe e visa que o professor aprenda
a analisar os elementos específicos de seu comportamento e seus padrões de
interação para, então, ter controle sobre eles (comportamentos) e, quando
necessário, modificá-los em determinadas direções ou desenvolver novos padrões
comportamentais.
Nessa mesma direção, Bordenave (1984, p.41) entende que “se o fator é o efeito ou
resultado obtido pela educação – quer dizer, as mudanças de conduta conseguidas
no indivíduo -, isto definiria o tipo de educação comumente denominado Pedagogia
da Moldagem do Comportamento, ou pedagogia condutista”.
90
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
Nessa mesma direção, Saviani (1984, pp. 15-9) denomina a abordagem tradicional
como sendo a pedagogia tecnicista, na qual o autor vê como elemento principal
a organização dos meios, tendo o professor e o aluno uma posição secundária no
processo de ensino e aprendizagem. De acordo com esse estudioso “[...]é o processo
que define o que professores e alunos devem fazer, e assim também quando e como
o farão [...] marginalizado será o incompetente (no sentido técnico da palavra), isto
é, o ineficiente e improdutivo”.
Santos (2005) destaca que para que essa moldagem do comportamento seja
realizada, o ensino deve fazer uso de reforços e recompensas para, então, por meio
do treinamento, alcançar os objetivos previamente estabelecidos. Ainda segundo
esse estudioso, o ensino precisa de tecnologias oriundas da aplicação de pesquisas
científicas, como por exemplo “máquinas de ensinar”, instrução programada,
computadores, manuais tutoriais de treinamento etc.
Com base no que já foi apresentado neste capítulo, a figura a seguir mostra os
elementos relevantes da abordagem comportamentalista.
A ESCOLA
• Agência educacional.
• Escola no modelo empresarial.
• Divisão entre quem planeja e quem executa.
• No limite, a sociedade poderia existir sem escola.
• Uso da teleducação, ensino a distância.
O ALUNO
• Elemento para quem o material é preparado.
• O aluno eficiente e produtivo é o que lida "cientificamente" com os problemas reais.
O PROFESSOR
• Como educador, seleciona, organiza e aplica um conjunto de meios que garantam a
eficiência e a eficácia do ensino.
ENSINO E APRENDIZAGEM
• Os objetivos educaionais são operacionalizados e categorizados a partir de
classificações gerais (educacionais) e específicos (instrucionais).
• Ênfase nos meios: recursos audiovisuais, instrução programada, tenologias de ensino,
ensino individualizado (módulos instrucionais), computadores, hardwares, softwares.
• Os comportamentos desejados são instalados e mantidos nos alunos, por condicionantes
e reforçadores.
91
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Nesse sentido, a autora destaca que essa abordagem tem como finalidade básica
a promoção de mudanças nos indivíduos, de forma a levar tanto à aquisição de
novos comportamentos quanto à modificação de comportamentos pré-existentes.
De acordo com Rocha (1980, p.28 apud MIZUKAMI, 1986), para os behavioristas, a
aprendizagem pode ser defendida como “uma mudança relativamente permanente
em uma tendência comportamental e/ou na vida mental do indivíduo, resultantes
de uma prática reforçada”.
92
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
Nesse tipo de ensino, de acordo com Mizukami (1986), cabe ao aluno o controle
do processo de aprendizagem, um controle científico da educação, enquanto o
professor é o responsável pelo planejamento e o desenvolvimento do sistema
ensino-aprendizagem, de maneira a maximizar o desempenho do educando, que
é visto como um recipiente de informações e reflexões. A autora destaca que no
processo ensino-aprendizagem o importante é que o ensino permita que o aluno
incorpore o controle das contingências de reforço, dando lugar a comportamentos
autogerados.
93
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Nesse sentido, Skinner (1972 apud MIZUKAMI, 1986) aponta que é possível
programar o ensino de qualquer disciplina tanto quanto o de qualquer
comportamento, de acordo com os princípios da teoria do reforço, desde que seja
possível a definição prévia do repertório final desejado.
»» Especificação de objetivos.
»» Envolvimento do aluno.
»» Controle de contingência.
94
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
96
CAPÍTULO 3
Abordagem humanista
Figura 18.18.Características
Figura do ensino
Características do ensino humanista.
humanista.
- Construção e
Relações Desenvolvimento da
personalidade do
organização pessoal
da realidade.
interpessoais aluno - Atuação como
pessoa integrada.
Fonte: elaborada pela autora, com base em Mizukami (1986) e Roger (1972).
97
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Nessa mesma direção, de acordo com a autora essa corrente pedagógica tem
seu referencial teórico oriundo do trabalho de Rogers (1972). Elaborado para
tratamento terapêutico e não voltado à educação, o enfoque rogeriano dá
ênfase às relações interpessoais, com vistas ao crescimento do indivíduo em
seus processos internos de construção e organização pessoal da realidade, de
maneira que esse indivíduo atue como um ente integrado à sociedade (ROGERS,
1972 apud SANTOS, 2005).
Esse tipo de ensino, centrado na pessoa, usa técnicas de dirigir a pessoa à sua
própria experiência para que ela possa se estruturar e agir: o método não diretivo,
que é um conjunto de técnicas que implementa a atitude básica de confiança e
respeito pelo aluno, de acordo com Mizukami (1986). A não diretividade é um
método não estruturante do processo de aprendizagem, não havendo intervenção
direta do professor nos campos cognitivo e afetivo do aluno, introduzindo valores,
objetivos etc, “constituindo-se apenas um método informante do processo, não
dirige propriamente esse processo, mas apenas se limita a facilitar a comunicação
do estudante consigo mesmo, para ele mesmo estruturar seu comportamento
experimental” (PUENTE, 1978, p.73, apud MIZUKAMI, 1986).
98
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
99
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
COMPREENSÃO
AUTENTICIDADE
EMPÁTICA
COMPREENSÃO DA APREÇO
CONDUTA DO OUTRO Aceitação e confiança em relação
A partir do referencial desse outro ao outro
100
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
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CAPÍTULO 4
Abordagem cognitivista
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AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
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UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Ainda segundo a autora, embora a teoria piagetiana não se preocupe com uma teoria
de instrução, há a preocupação com a aprendizagem que, por sua vez, acontece no
exercício operacional da inteligência. Ela apenas acontece quando o aluno elabora
seu próprio conhecimento. No sentido estrito, a aprendizagem diz respeito às
aquisições relacionadas com informações e acontece no decorrer do desenvolvimento
do indivíduo, ao passo que a inteligência é o instrumento de aprendizagem mais
necessário.
A autora destaca que nessa abordagem o ensino das relações deve substituir o
ensino dos fatos, desenvolvendo a inteligência, uma vez que ela é um mecanismo
de fazer relações e combinações.
104
AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM │ UNIDADE III
Ainda segundo a autora, o professor deve conviver com os alunos, observar seus
comportamentos, conversar com eles, perguntando e sendo interrogado por eles de
maneira a auxiliar a aprendizagem e desenvolvimento deles, participando das suas
experiências.
Como você já deve ter percebido, cabe ao professor a orientação necessária para
que os objetos sejam explorados pelos alunos, sem jamais oferecer a eles a solução
pronta. Porém, a autora destaca que é indispensável que o professor conheça o
conteúdo e a estrutura da sua disciplina, para que possa propor situações realmente
desafiadoras aos alunos (MIZUKAMI, 1986).
105
UNIDADE III │ AS ABORDAGENS DO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM