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Copyright © 2021 MAYJO

1ª Edição — 2021

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes,
datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: MAYJO
Revisão: Patrícia da Silva
Diagramação digital: MAYJO

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.


Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o consentimento escrito da
autora.
Criado no Brasil.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n°. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do
Código Penal.
Sumário
Sumário
Redes sociais
Nota autora
Sinopse
Prólogo
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Epílogo 1
Epílogo 2
Próximo lançamento
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Nota autora
A noiva substituta do CEO é um livro mais curto. Faz parte de uma
série de livros com uma pegada mais leve, histórias rápidas que, ainda assim,
espero que encante a todas que irão ler. Que Rafael e Aurora sejam bem
recebidos, e outros personagens que virão por aí, mas que já deram as caras
nesta história.
Quero muito agradecer as leitoras que não me esqueceram e que
persistem acompanhando, que nesta volta à escrita, ainda estão comigo,
mesmo eu tendo me afastado por tanto tempo do mundo literário.
Agradeço a minha amiga Patrícia da Silva pela amizade e pelo
trabalho com este livro. Amo tu demais. A todas as meninas que estão
ajundando na divulgação desse lançamento.

Grata a todas,
Sinopse
Atenção: pode conter gatilhos.

Aurora Pontes é a irmã da noiva, a pessoa responsável para dizer ao noivo, no altar, que a noiva
o abandonou. Mas o noivo tem novos planos e Aurora acaba no altar ao lado dele.
Rafael Lamartine é o CEO da Lamartine Investment. Ele tem planos para a família Pontes, que
não serão frustrados porque uma das herdeiras o abandonou no altar. Afinal, qualquer uma das irmãs
Pontes serve pra casar, pois ele não tem intenções de fazer esse casamento durar muito tempo.
Ou assim ele pensa.
Quando exige que Aurora substitua a noiva, ele acha que está no controle, mas logo começa a
desejar que o casamento dure mais do que tinha planejado.
Mesmo sendo um casamento de conveniência, Aurora desconfia que Rafael esconde segredos,
que podem acabar com a chance do casamento um dia dar certo e evoluir para algo mais que negócios.
Ele parece ser o salvador que vai ajudar os negócios da família, mas ela está enganada...
Prólogo

8 anos de idade

—Você realmente acreditou que um dia eu deixaria minha mulher para

ficar com uma empregada? Achou mesmo, Linda? — O homem que falava
com a minha mãe era o mesmo para quem ela trabalhava. Eu a acompanhava
várias vezes, quando não tinha escola para ir e a vizinha, que cuidava de

mim para mamãe trabalhar, não estava em casa. Um dia fiquei olhando a
menininha com olhos de cor estranha, eles pareciam os olhos do gato que

vivia rondando por ali. Eram amarelos, ou quase isso. Ela era um bebê ainda,
parecia um anjo, mas aquele homem, o senhor Pontes, como ele dissera para
chamá-lo, falou que eu não deveria ficar perto dela, eu poderia sujar sua
neta. Depois eu o ouvi dizer para minha mãe ter cuidado comigo e não me
levar mais na casa dele. Mas mamãe, às vezes, não tinha com quem me
deixar e voltei lá depois. Nas outras vezes que estive em sua casa enorme,
que tinha uma piscina gigante, eu morria de vontade de entrar naquela água
azul, mas eu nunca entrei, mamãe dizia que eu não podia. E nunca mais

cheguei perto da menininha também.


O senhor Pontes era um homem mais velho. A nossa vizinha dissera a
mamãe uma vez que ele era velho demais para ela, mas eu não entendia o
que significava.
—Você prometeu, Abner. — A voz da minha mãe era baixa, submissa.

— Você disse que um dia ficaríamos juntos.


— Sou um Pontes — disse ele, como se fosse algum tipo de
explicação. Eles estavam na sala de nossa casa que ficava em um bairro
diferente daquele onde o senhor Pontes morava. — Você está demitida,

Linda.
— O quê? Como vou viver agora, Abner? Eu tenho um filho pequeno!
—Ele já tem dez anos, coloque-o para trabalhar, têm muitos sinais
para ele vender pipoca. Faça dele um homem.
Eu odiava o senhor Pontes, ele só fazia a minha mãe chorar quando ia
em nossa casa, o que não foram muitas vezes. Um dia ouvi minha mãe dizer
à nossa vizinha, a dona Jacira, que o senhor Abner era seu amante, não sabia

o que isso significava, mas mamãe dizia que um dia se casaria com ele. Só
que ela chorava quando pensava que ninguém estava vendo. Eu estava
escondido, eles não me viram, mamãe achava que eu ainda estava na casa da

dona Jacira, brincando com os filhos dela, mas eu tinha voltado para pegar
as bolas de gude quando ouvi os dois conversando na sala.
Eles continuaram discutindo. O senhor Pontes parecia com raiva e
mamãe estava chorando.
— Você está fora da minha vida. Eu não tolerarei sua ousadia. Você
achou que falando com Suzane, iria conseguir que eu a deixasse? — Ele
esbravejava colérico. — Uma empregada fodida! Você é lixo! E um Pontes
nunca se casaria com lixo imundo de favela. Você serviu apenas para molhar
meu pau e mediocremente. Puta infeliz!

— Abner... ele é seu filho também! — disse minha mãe. Franzi a testa.
Ela estava dizendo que aquele homem era meu pai?
—Fique longe da minha casa! — gritou ele, com raiva e me encolhi de
medo que ele pudesse fazer mal a minha mãe.
A porta bateu logo em seguida e tudo ficou silencioso, além dos
soluços da mamãe. Eu saí do meu esconderijo e fui até onde minha mãe
estava encolhida, no gasto sofá de nossa sala.
—Filho — disse ela, tentando esconder as lágrimas de mim. — Pensei
que estivesse na Jacira.

Eu fiquei lá, em pé, sem dizer nada. Eu não sabia como consolá-la,
então apenas coloquei minha mão em seu ombro e ela me puxou para seus
braços.
— Não chore, mamãe — falei, minha voz saindo estranha. Eu queria
chorar junto com ela. — Eu vou trabalhar para me tornar um homem, eu
juro. E vou cuidar de você.
— Ah, meu bebê! — Ela chorou ainda mais. Nós ficamos abraçados
por um tempo, até suas lágrimas secarem, e minha brincadeira de bolas de
gude, que ainda estavam nas minhas mãos, esquecida.
— Mamãe?
— Sim, meu amor?
— O senhor Pontes é meu pai?
— O quê? Não. Ele não é. Você deve ter escutado errado, meu
querido.
— Não. Você disse que eu era filho dele— disse, teimando.
— Eu disse apenas para ele não tirar meu emprego, amor. Já falamos

de seu pai, lembra?

Três dias depois. mamãe ainda não tinha voltado a trabalhar. Ela disse
que estava sem trabalho e que as coisas iriam ficar apertadas nos próximos
dias, eu só acenei enquanto ela servia nosso jantar.
—Falei com sua tia Letícia — disse ela, sentando-se à mesa e
começando a comer também. Minha tia Let morava longe, ela vinha nos
visitar às vezes e me trazia brinquedos. Eu amava a tia Let. Ela era legal e
sempre me tratava bem, ela dizia que eu era seu filho do coração, porque ela
não tinha filhos. — Você gostaria de ir morar em outro país, querido?
— Eu não. Gosto daqui, mamãe — disse simplesmente, comendo a
sopa de legumes nojentos que ela me obrigava a comer, mas até que eu
gostava deles.
— Talvez nós precisaremos ir, meu amor. — Ela estava triste, sempre
escutava seu choro no meio da noite. — Sua tia Let quer que nós vamos
morar com ela. O que acha? Pode ser divertido.
—E meus amigos? — Eu a olhei, apavorado. Não podíamos ir embora
dali, com quem eu iria brincar? Nesse novo lugar não deveria ser tão
divertido assim.
— Você fará amiguinhos novos lá, querido. A mamãe está sem
trabalho, não posso mais voltar para a casa dos Pontes, e tenho de pensar no

que é melhor para nós.


Era culpa do senhor Pontes que minha mãe estava naquela situação e
querendo nos levar para longe. Eu odiava ele e sua casa estúpida. Naquela
noite, eu não dormi. Eu ouvia minha mãe chorando no quarto e o
pensamento de ir morar em um lugar desconhecido me apavorava. Mas eu
não podia fazer nada.
Fomos morar com a tia Let e o tio Paul, como eu chamava o marido
dela, no final das contas. A enorme casa deles ficava em Orlando, nos
Estados Unidos. Foi a pior coisa que mamãe podia ter feito, eu não entendia
nada que era falado lá, só conversava com mãe, tia Let e tio Paul. Mamãe
dizia que eu aprenderia a falar inglês, mas eu odiava aquele lugar horrível.
Eu queria voltar a morar na nossa casa.
— Não podemos, Rafael, deixe de ser um pirralho — disse mamãe,
sempre irritada quando eu fazia birra sobre aquilo. — Quer voltar lá para
passar fome? Eu não consegui emprego, pelo menos aqui temos sua tia para
ajudar.
Mas ela não procurava trabalho. Ela começou a beber as bebidas de tio
Paul, porque ouvi minha tia reclamando com ela um dia, dizendo que ela
estava se matando por causa de homem. Mamãe sempre ficava fedendo a

bebida fedorenta. Quando ela terminava de falar ao telefone, pegava uma


garrafa e bebia tudo. Tia Let dizia que ela ia se matar por causa de homem
de outra mulher.
O dia que minha vida mudou para sempre amanheceu normalmente,
como tantos outros. Mamãe segurava o telefone enquanto eu a olhava
ansioso, uma sensação esquisita que não sabis explicar, fazia doer minha
barriga.
— Abner? Sou eu — disse ela, o telefone em seu ouvido. — Eu sinto
saudades.
Ela escutava e seus olhos se enchiam de lágrimas, e eu ficava furioso
por ela permitir que o senhor Pontes a fizesse chorar, depois embriagava-se e
ficava cheirando mal. — Se você não fizer algo, eu farei. E isso ficará na sua
consciência, Abner!
Ela gritava e eu me encolhia. Se eu fosse do tamanho de tio Paul, daria
um soco no senhor Pontes bem no seu nariz, como no filme que tinha

assistido outro dia, mas eu não era nem grande e nem o tinha visto mais
desde aquele dia que ele estivera em nossa casa.

Mamãe desligou e ficou chorando. Tia Let chegou da rua e a


encontrou chorando e elas começaram a discutir. Eu odiava que as pessoas

gritassem, eu odiava viver ali, odiava o senhor Pontes e odiava que a mamãe
chorasse e brigasse com tia Let.

— Você é uma estúpida, Linda. Deveria acordar e cuidar de seu filho e


deixar de ficar atrás de homem casado que só te humilha. Estou ficando

cansada de falar isso para você. Eu pensei que aqui você iria tomar juízo e
deixaria esse velho asqueroso no passado — disse tia Let para mamãe e foi

para seu quarto. Minha mãe fungou por alguns minutos, depois se levantou e
foi para o banheiro, trancando-se lá. Eu fiquei no meu lugar, calado, por

horas, até que tia Let saiu de seu quarto e veio ficar ao meu lado.
— Eu odeio que você escutou tudo isso, homenzinho. — Ela mexeu
no meu cabelo e tentei fugir do esfregão na minha cabeça. — Você está com

fome?

Eu estava. Mamãe estava no banheiro trancada há muito tempo e


minha barriga doía porque eu só tinha me alimentado logo que acordei e já

era tarde.
— Onde está Linda? — perguntou, olhando ao redor da sala.

— No banheiro. — Apontei para lá e torci meus lábios chateado.


— Humm, ok. Vou te alimentar e depois vou conversar com ela. —

Sorriu. — Acho que fui muito dura com ela, sabe? — disse, enquanto íamos
para a cozinha. — Sua mãe está muito triste e precisa se cuidar, ir no

psicólogo, colocar as ideias no lugar e esquecer o Brasil.


Eu não me incomodei em responder sua tagarelice.

E eu não queria que mamãe esquecesse o Brasil, era onde ficava nossa
casa e eu queria voltar para lá.

— Quero voltar para casa — disse a ela, com raiva.


— Talvez um dia, querido. — Ela preparou um sanduíche enorme para

mim e um copo de suco, que eu devorei como se fosse minha última


refeição. — Coma. Eu irei falar com Linda.

Ela me deixou na cozinha e pouco depois a escutei chamando mamãe


na porta do banheiro, mas eu me desliguei de sua voz e me concentrei em
comer meu almoço. Ali eu podia comer sanduíche no almoço, lá na nossa

casa não era considerado almoço, comíamos feijão, arroz e legumes, mas tia
Let dizia que sanduíche era almoço, sim. Melhor coisa. Estava tomando um

gole do meu suco quando ouvi um baque alto e, logo em seguida, um grito

de tia Letícia me fez pular e derramar o suco. Eu soltei o copo e corri para
ver o que a fez gritar tão alto e fez meu couro cabeludo arrepiar. A porta do

banheiro estava aberta e, percebi, também quebrada. Minha respiração ficou


entrecortada quando caminhei para lá. Algo me dizia que devia dar meia

volta e voltar para a cozinha, mas a voz de tia Let me fez sentir esquisito.
— Por que você fez isso, irmã? — Ela estava chorando e dei um passo

de cada vez, com medo de entrar lá. — Por que, Linda, por quê?
Cheguei até a porta e tudo ficou fora de foco, apenas vi a mamãe no

chão caída e tia Letícia sentada, segurando-a nos braços e vermelho, tudo
estava vermelho, o chão, mamãe e tia Let. Ofeguei e paralisei, porém depois

eu corri para mamãe. Tia Let percebeu que eu estava de joelhos ao lado dela.
— Deus, Rafael, você não devia ter vindo aqui, querido. — Ela

chorava copiosamente e eu senti que ficava sem forças, e tudo ficou escuro.

Eu acordei desorientado com um desconhecido, olhando-me de cima.


— Mamãe! — chamei, tentado correr para ela, mas o homem me fez

deitar de novo. — Não, eu quero minha mãe!


O homem estava falando e falando e eu não entendia nada. Ele falava
em inglês, como o tio Paul, mas eu ainda não falava como o tio Paul e não

queria saber o que ele estava falando, só queria levantar de novo e ver a

mamãe.
— ME SOLTA! MAMÃE, MAMÃE! — Eu gritava e gritava para ele

me soltar, para ir até mamãe, mas ele não fez isso. Minha garganta estava
doendo e percebi que estava chorando e gritando, mas ninguém vinha me

ajudar, nem mamãe e nem tia Let. — M-mamãe, m-mamãe — chamei-a,


gemendo. A última coisa que senti, foi algo me espetando e depois nada.

Quando eu acordei novamente, escutei tia Letícia falando em voz


baixa e chorosa:

— Ela se matou por causa daquele homem, Paul. Como ela pôde fazer
isso com o Rafael? Como pôde ser tão egoísta com ele? — Ela parou de

falar porque sua voz intercalava com o choro.


— Fale baixo, querida, o menino pode escutar. — A voz de Paul era

um cochicho, mas eu ainda escutava.


— Eu não sei como dizer a ele que sua mãe se foi. Você disse que ele

entrou em colapso.
— Todos nós estamos em choque, Letícia.

— Abner Pontes vai pagar caro por fazer minha irmã tirar a própria
vida.
— Não deve alimentar esse tipo de sentimento, Let — disse tio Paul.

Eu também comecei a soluçar quando entendi que minha mamãe

estava morta.
Ela morreu por causa do senhor Pontes? Como podia aquilo?

— Mamãe? — chamei, mesmo sabendo que ela não viria. Quem


correu para mim foi minha tia. Ela tinha o rosto inchando e vermelho,

quando apareceu em cima de mim.


— Querido...

— Cadê a mamãe?
Ela desabou em lágrimas de novo.

E, a partir daquele dia, eu tinha apenas uma coisa em mente. Um dia


encontraria o senhor Pontes e o faria pagar.

De uma forma ou de outra.


01
Rio de Janeiro, 2019

— Você não pode fazer isto, Bianca. — Minha voz saiu apavorada. —

Será o escândalo do século, deixará o papai furioso e Rafael terminará a


parceria com nossa família.

Eu sabia que Rafael não era homem de ser enganado, e minha irmã
vinha fazendo aquilo desde que noivaram. Eu só poderia imaginar o que ele

faria quando descobrisse que Bianca tinha fugido com outro homem.
— Eu não posso continuar, eu não amo o Rafael, eu me apaixonei por
outra pessoa e vou seguir o meu coração — disse minha irmã imprudente,
arrancando o véu e jogando em cima de uma poltrona de seda. Estávamos no

Spa requintado e luxuoso onde ela passou o dia da noiva, a meia hora da
igreja. Ela teve um dia de rainha e agora estava jogando fora por um
capricho. Ou amor.
Amor.
É o que ela dizia.
Mas eu não tinha certeza se esse amor iria durar, amor nunca durava

mesmo.
No meu caso, nem aconteceu o amor e ele já tinha acabado.
— Você não pensou em dizer isto antes, por que agora? Rafael está no
altar esperando você. Como pôde deixar isso acontecer?
— Eu não sou como você, toda certinha e santa, que não comete

nenhuma transgressão — rebateu, sem se importar se me magoava. Eu sabia


que tentava ser a melhor filha. No momento em que Rafael Lamartine
escolheu Bianca quando poderia ter escolhido a mim, já que sentimos uma
conexão desde o primeiro dia em que nos vimos, eu tentei ser a melhor irmã

da noiva. E estava sendo até aquele momento.


Sabíamos que o casamento entre os Pontes e Lamartine se tratava de
puro negócio. Uma união mais comercial que qualquer outra coisa, mas
Bianca estava sendo completamente leviana quando resolveu abandonar o
noivo no altar. Eu sabia que ela estava se encontrando com Lucca Santo, o
diretor financeiro da empresa de nossa família. Os dois não perdiam as
oportunidades de se encontrarem. Minha irmã era linda. Os homens viravam

a cabeça quando ela passava e faziam loucuras desde que seus peitos
cresceram, e parece que tanto Rafael e Lucca não foram diferentes. Eu achei
que Rafael seria diferente, mas, no fim, foi ela quem ele escolheu. Eu tinha

consciência que era de conveniência, mas, ainda assim, foi duro vê-lo
demonstrar interesse por ela, quando a conversa de um casamento surgiu.
Ideia de Rafael, uma ideia antiquada e fora de uso, por sinal, mas papai nem
pensara duas vezes.
Eu não era a feia da família, mas não me pavoneava igual Bianca. Eu
não vestia vestidos que mostravam mais que cobriam. Nem tingia meu
cabelo de loiro platinado e passava prancha para deixá-los lisos, eu os
mantinha cor de mel mais escuro e com ondas suaves. Nossos olhos também
eram diferentes. Os olhos da minha irmã eram castanhos escuros que

contrastavam com seus cabelos platinados, já os meus eram mais claros, um


tom de mel claríssimo com pintas esverdeadas, dependendo da luz.
— Lucca está dando um tiro no próprio pé, se envolvendo com você.
Ele pode ser o CFO da Pontes, mas papai ainda é o CEO. Bianca, você quer
ver o homem, que você diz amar, sendo demitido quando descobrirem que
você e ele arruinaram a união da Pontes e da Lamartine Investment? Porque
isso pode acontecer. Além do dinheiro que Rafael está investindo na Pontes
poder ser retirado pela vergonha que você vai fazê-lo passar. A fusão pode
nunca acontecer, e a Pontes precisa dessa injeção de capital.

Eu não precisava ser um gênio para saber que era isso que aconteceria,
caso Rafael fosse deixado no altar hoje. Ele era orgulhoso demais para levar
isso levianamente.
— Lucca não se importa se o papai o demitir, ele tem capacidade de
montar sua própria empresa, ele não é um joão-ninguém, Aurora —
argumentou ela, fervorosa, na defesa de Lucca. — Você não entende o que é
amar alguém, você nunca amou ninguém como eu amo o Lucca. Temos uma
química maravilhosa e não vou desistir dele porque o papai e Rafael querem
que nossas famílias estejam vinculadas, não estamos no século XIX.
— Deveria ter dito não ao Rafael. — Lembrei que ela ficou radiante
quando Rafael anunciou que ela era a escolhida para ser a esposa dele. O
acordo entre ele e o papai era de que ele se casaria com uma Pontes, não
importando qual. Eu fiquei extremamente irritada com nosso pai por colocar
nós duas como mercadoria para Rafael Lamartine escolher. Era insultante,
pois eu acreditava que casado com uma de nós, ele teria poder na Pontes. Eu
via mais vantagem nessa negociação para ele do que para os Pontes, mas não

era eu quem mandava. Era papai que, ultimamente, estava cada dia mais
senil, ao que parecia, quando tomava decisões como aquela.
Eu não fiquei radiante como Bianca e nem me arrumei como se fosse
a um evento de gala no dia em que ele veio nos dizer qual das duas queria
como esposa troféu. Quando ele anunciou o nome de Bianca, eu senti um
vazio no peito que nunca imaginei que fosse sentir. Tomei aquilo como um
insulto, mas eu sabia que não era. Porque o que sentia por Rafael era uma
mistura de aversão e fascínio, talvez o fascínio fosse mais forte do que eu
pensei.
— Eu tinha que fazer algo para Lucca tomar coragem sobre nós —
disse ela, por fim. Ela me deu um olhar doce e amoleceu a voz. — Você
pode avisar que não irei?
— Você deveria ir e dizer você mesma — rebati chateada por ter de
limpar a sujeira dela.
— Vou me poupar do drama, irmãzinha. — Ela se virou, dando-me as
costas. — Você pode desabotoar o vestido para mim?
Aquela era Bianca.
Ela não dava a mínima se sua decisão iria afetar todos nós. Eu a
amava, mas haviam horas que tinha vontade de dar umas palmadas em seu
traseiro, como se fosse uma criança de cinco anos, mas eu sempre lembrava
que ela não era má, só fazia aquilo que ela desejava e corria atrás do que

queria, sempre.
Respirei fundo e caminhei até ela, desabotoando mecanicamente a
fileira de botões minúsculos. Ajudei minha irmã a se livrar do pesado
vestido de noiva e ela agarrou minhas mãos entre as suas, seus olhos cheios
de culpa enquanto me olhava.
— Eu só quero ser feliz, Aurora! — disse e seus olhos se encheram de
lágrimas, deixando minha garganta queimando, com um nó dolorido. — Eu
pensei que poderia deixar o papai feliz apenas uma vez, sabe? Você que é a
filha certinha, ajuizada, a que ele mais estima. Acredito que ele pediu a
Rafael para me escolher em vez de você. Papai não queria perder sua
preciosa filha.
— Você só fala besteira, Bianca! Papai ama nós duas igualmente —
disse triste por ela pensar assim de si mesma. — E não sou melhor que você
em nada.
— Por favor, eu preciso ver o Lucca. Ele está tão enraivecido comigo,
achando que estou me casando agora. Eu preciso ligar para ele e vê-lo. Eu o
amo, Aurora, mais que tudo. E não importa se papai me deserdar e demitir
Lucca, podemos nos virar sem o nome Pontes.
— Rafael não vai aceitar isto, você sabe, não é? Ele é controlador e
orgulhoso demais para deixar você ir.

— Ele não vai me ver, então ele não pode me obrigar a casar com ele.
Nem o papai. Ninguém pode — disse resoluta e confiante.
— A Pontes precisa da injeção de recursos da Lamartine Investment e
Rafael precisa de uma esposa, ou é o que papai diz — falei, tentando
argumentar, mas sabia que só estava falando a ouvidos surdos.
— Ele nunca me disse por que ele queria tanto casar. — Meu celular
tocou dentro da pequena bolsa em cima da mesinha de centro,
interrompendo Bia. Eu corri para atender, o número do papai estava
piscando na tela.
— É o papai — falei para ela antes de atender. — Oi, pai.
— Por que esse atraso, Aurora? Cadê sua irmã? — Ele nos
encontraria na frente da igreja e estávamos muito atrasadas.
— Daqui a pouco chego aí. — Não deixei escapar que Bianca não iria,
queria dar a notícia pessoalmente. Papai poderia ter um ataque.
— Rafael já está impaciente e os convidados também.

— Estamos indo.
Eu desliguei e Bianca estava de olhos arregalados.

— Por que não disse que eu não vou?


— Eu não posso dar essa notícia assim, por telefone, vou comunicar

pessoalmente.
— Amo você, irmãzinha. — Ela me abraçou com força. — Um dia

você vai entender esse momento, que não devemos deixar a felicidade ir
embora se podemos agarrá-la com as duas mãos.

— Não me venha com frases feitas, vadia!


— Ah, deixe de ser estraga prazeres, Aurora. Este é meu momento

filósofa!
— Tente de novo... — Sorri, apesar da encrenca que estávamos.
O Chrysler que iria levar minha irmã à igreja estava nos esperando,
mas entrei sozinha e o motorista me olhou sem saber o que fazer.

— Podemos ir — disse.
No caminho eu pensei em mil maneiras de como dizer a Rafael que

Bianca não iria aparecer e, a cada metro percorrido, sentia o estômago ruim.
Quando o carro parou em frente à igreja, papai estava esperando do lado de

fora. A pitoresca igreja onde Bianca escolheu casar estava lotada de


convidados, e eu seria a pessoa que daria a notícia que envergonharia o

noivo na frente de todos.


— Onde está Bianca? — perguntou papai, incrédulo.

— Ela não vem, pai — respondi, com pesar.


— Como diabos ela não vai vir? — Ele praticamente gritou de fúria.

— Será que tem um local onde podemos conversar? Você, eu e o


Rafael?

— Jesus! Não acredito que sua irmã fez isso! — Papai estava
vermelho de raiva. — Como diabos vou dizer ao Rafael que minha filha fez

a minha palavra não ter nenhum valor. Como vou remediar isso?

— Eu tentei...
— O que está acontecendo? — A voz grave e masculina me fez pular,

assustada. Virei-me e ele estava lá, vestido de terno grafite e uma flor branca
na lapela. Ele parecia um modelo de tão perfeito. Com mais de um metro e

noventa e corpo definido em músculos, cabelo sem um fio fora do lugar,

olhos verde-escuros e misteriosos e uma boca feita para o pecado. Ele era
bonito demais para minha sanidade. — Alguém vai me responder?

Como ele saiu da igreja que nem tínhamos percebido?


— Rafael... — começou papai. — Temos um problema.

— Onde está Bianca? — Ele estava me olhando, os olhos duros e sem


uma gama de simpatia neles.

— Aurora estava dizendo que...


— Por que não responde, Aurora? — Ele corta meu pai sem nenhuma

educação. Ele devia saber qual era o problema. Notei quando ele percebeu o
que estava acontecendo, eu não precisava falar, mas ele queria isso dito em

alto e bom som.


— Bianca desistiu do casamento — falei, sustentando seu olhar — Ela

não virá, eu sinto muito.


02

A mandíbula de Rafael apertou com fúria e a frieza peculiar, que era


inerente a ele, parecia crescer em ondas por seu corpo que ficava mais rígido
e tenso.

— Ela desistiu? — Não era exatamente uma pergunta, mas ele riu,
porém nunca tinha visto um sorriso tão cruel e sem diversão em seu rosto já

comumente frio. — E onde ela está agora? — A pergunta soou calma, como

se ele estivesse contendo a ira.


— Eu não sei, quando eu vim para cá, ela pegou o carro e foi embora.
— É o que eu achava que ela tinha feito depois que eu saí do Spa. Esperava
que ela já estivesse com Lucca.
— E você não sabe? — Ele rosnou para mim, os olhos cheios de

ceticismo.
— Não.
— Acho que você está mentindo, Aurora. — Ele se aproximou de
mim, parando a um pé de distância, podia sentir o cheiro limpo dele,
masculino, com um toque refrescante que ele sempre usava. — Eu quero

saber onde ela está para trazê-la aqui e nos casarmos, não serei feito de
idiota na frente dos convidados.
Eu já imaginava que ele não aceitaria bem aquela situação. Orgulho
era o segundo nome dele. Ser abandonado no altar era uma desfeita sem
tamanho para Lamartine.

— Rafael, vou ligar para ela e tentarei colocar um pouco de juízo


naquela cabeça oca — disse papai, já se afastando com o celular no ouvido.
Bianca não iria atender, ela não se curvaria as demandas do papai, talvez eu
fizesse, se fosse eu no lugar dela, estava sempre querendo agradar como uma

grande mártir.
Olhei para o homem gelado à minha frente, seus olhos verdes escuros
fitando-me com tanta intensidade que temia que ele fosse segurar meu
pescoço e apertar entre as mãos.
Criei coragem, levantei meu rosto em desafio e disse:
— Ela não quer casar com você, Lamartine, ela achou alguém melhor.
— Pelo visto, foi a coisa errada a dizer, porque vi a maldade refletindo em

seus olhos.
Talvez eu ainda estivesse despeitada por ele ter escolhido minha irmã

em vez de mim? Talvez. Eu não era hipócrita para negar que fiquei com um
gosto amargo, pois eu o vi primeiro e achei que tinha algo quando nossos
olhos se encontraram a primeira vez, ou devia ter visto demais.
— Ruim para você — disse ele, com um sorriso frio e maldoso no
rosto.
— O que quer dizer? Não tenho nada a ver com seu casamento e de
minha irmã. Ou a falta dele.
Olhei para o lado e papai ainda estava tentando falar com Bianca.
Desejei que ele viesse lidar com seu ex futuro genro, mas ele ainda andava

de um lado para outro, deixando-me com Rafael.


— Eu não me importo qual irmã Pontes vai entrar nesta igreja hoje —
disse ele. — E já que a noiva achou alguém melhor que eu, você vai assumir
o lugar dela no altar, então.
Senti o choque perpassar por mim e meus olhos se arregalaram.
— O que disse?
— Se sua irmã irresponsável não veio cumprir nosso acordo, você vai
entrar lá e casar comigo no lugar dela, Aurora.
— Você ficou louco? Não me casaria com você nem morta e, ainda

mais assim, sendo a substituta de alguém.


— Você vai ou seu pai sofrerá as consequências. — Ele abaixou ainda
mais o tom de voz. — Seu pai depende da Lamartine Investment para
investir na Pontes, ou toda empresa vai falir, melhor pensar com carinho,
Aurora.
— Eu não tenho que me sacrificar por isso, você quis casar com ela,
Rafael, aceite sua derrota — vociferei com mágoa, encobrindo minha voz.
— Meu pai pode sobreviver sem você, ou a empresa.
— Você tem certeza disso? Eu não teria, fosse você.
— Faça o que quiser. — Era apenas bravata de minha parte. Eu sabia
que a Pontes anda mal.
Ele deu um passo para perto e seu corpo praticamente colou ao meu,
os olhos escuros fixos nos meus.
— Se você não entrar nesta igreja e me dizer sim, vou garantir que
Bianca pague pela humilhação, Aurora. Vou caçar ela e seu namoradinho e

os dois vão pagar. Farei questão de acabar com o romance de novela. Você
escolhe. Casa comigo, ou sua irmã vai se arrepender de ter me feito de bobo.
Ricardo também pagará. Depende de você!
Estava tão atordoada que fiquei apenas olhando-o, incrédula. Ele
estava falando sério? Ele escolheu minha irmã mais nova para ser sua esposa
quando todos acharam que se casaria comigo, por ser a mais velha das irmãs
e ainda ser presidente da Pontes. E agora ele estava dizendo que devo
assumir seu lugar no momento em que ela deu um chute em sua bunda no
altar!
Estava prestes a mandá-lo para o inferno com sua exigência quando
papai voltou frustrado.
— Sinto por essa situação constrangedora, Rafael, mas não consigo
contato com minha filha.
— Diga ao seu pai onde sua irmã está, Aurora — Rafael rosnou sem
nem olhar na direção do meu pai.
— O que está havendo, Aurora? — exigiu papai.
— Eu não sei, pai, afinal, sou apenas a porta-voz de Bianca — disse
docemente, sem afastar meus olhos de Rafael também. — Eu não tenho
ideia...
— Sua filha cabeça-de-vento fugiu com outro homem, Ricardo. —
Rafael me cortou e escutei o arfar do meu pai. — Você sabe que eu não

tolerarei ser feito de bobo dessa maneira, porque você que não soube
controlá-la.
Ele é um idiota! Não soube controlar? Quem ele acha que somos?
Algumas débeis mentais que não vivem sem a orientação do nosso pai?
Apesar de achar que Bianca fez mal em fugir, eu tinha vontade de rir
na cara dele por ser abandonado no altar. Bem feito! Se eu fosse Bianca teria
deixado para abandoná-lo na hora do sim, seria incrivelmente divertido vê-lo
perdendo o controle.
Imbecil!
— Aurora, diga que isso não é verdade — disse papai, tirando-me do
sonho incrível onde Rafael estava chorando de desgosto.
Eu tive vontade de rir da imagem improvável. Rafael não era do tipo
que chorava, provavelmente aquilo seria uma desonra de sua masculinidade!
— Você tinha um acordo comigo, Ricardo, mas ele termina agora.
Ainda hoje retirarei o acordo por quebra de contrato e exigirei uma multa.
Você sabe que não brinco nos negócios.
Duplamente idiota.
— Bianca vai casar com você...
— Bianca não serve mais, Ricardo, mesmo que ela apareça agora eu

não aceitaria mais me casar com ela. — Rafael desvia, por fim, os olhos de
mim para meu pai. — Mas se ainda quiser que nosso acordo funcione, diga a
Aurora que entre e se case comigo.
— O quê? — Meu sonho divertido agora estava se transformando em
pesadelo.
— Isso mesmo! Estarei lá dentro, esperando a noiva. — Ele soltou a
ordem como uma bala de canhão e, pelo jeito, não teria discussão sobre
aquilo. Jesus! Quem ele pensava que era? Mas ele não olhou para mim
enquanto caminhou para a igreja, deixando-me lá, com meu pai estupefato.
— Não me peça isso — falei, baixinho. Eu sempre fui a responsável
entre eu e Bianca. A que sempre apaziguava os atritos quando éramos
crianças, depois quando adolescentes, e na vida adulta ainda era a mais
sensata, mas agora não me sentia inclinada a limpar a sujeita da minha irmã.
Contudo quando olhei para meu pai, senti a minha determinação começar a
cair.

— Rafael é um homem respeitado e ser abandonado no altar por


Bianca vai manchar a imagem dele.

— Eu não tenho que ser a responsável pela imagem de Rafael, papai.


Ele escolheu Bianca, se ele não a conquistou, é problema dele.

— É muito mais que isso, Aurora. Eu dei minha palavra a Rafael que
ele casaria com uma de vocês, além do fato que essa foi uma das condições

dele manter o investimento que estamos fazendo nesta nova fase.


— E ele fez sua escolha — rebati e percebi que sempre voltava ao

ponto da rejeição. No fundo sabia que era mesquinho, que estava um pouco
feliz que ele não iria se casar com minha irmã.

Faziam seis meses que meu pai nos apresentou Rafael. Eles
começaram a fazer negócios juntos e desde que o vi me senti atraída por ele,

que me olhava como se sentisse a mesma atração, mas ele nunca tentou algo,
ao contrário, ele estava sempre com uma Barbie ao lado. O assunto do
casamento surgiu há três meses e, como filha mais velha, todos acharam que

ele me escolheria. Eu também pensei isso e, quando ele escolheu Bianca, eu

me senti horrível por não ficar feliz por minha irmã. E agora ele me queria?
— Você decide o que fazer, Aurora, não vou obrigá-la a nada. — Eu

sabia que ele não faria, papai podia não ser perfeito, mas sabia que ele nos
amava. A morte da mamãe fez com que nos uníssemos mais e ele não

colocaria a empresa na frente da minha felicidade.


Eu poderia dar meia volta e entrar no carro que ainda estava parado e

ir embora, deixando papai para lidar com Rafael e os convidados, mas algo
me prendia ali. A ameaça de Rafael sobre acabar com a felicidade de Bianca

e ainda prejudicar o papai era forte demais para ignorar.


Eu conhecia Rafael e sabia que ele era terrível e implacável quando

estava em missão de acabar com um inimigo. Já o vi em ação e tinha medo


por papai e Bianca, que era uma sonhadora. Eu devia ter tentado impedir que

ela se envolvesse demais com Lucca. Só assistia enquanto ela caía mais no
relacionamento proibido. Eles já estavam envolvidos em segredo quando

Rafael a escolheu como noiva e fiquei quieta, achando que eles iam se
separar quando se cansassem um do outro, mas só intensificou mais a cada

dia. Lucca não queria assumir o relacionamento deles por causa de seu cargo
na Pontes, o que eu achava completamente fora de contexto, mas, segundo
Bianca, ele estava loucamente apaixonado por ela e minha irmã tinha de

escolher com quem ficar.


Ela estava feliz, era isso que importava.

Fechei meus olhos e quando os abri, eu sabia o que tinha de fazer. A

mamãe não estava ali e cabia a mim manter toda essa família equilibrada e
feliz.

E tomei a decisão que iria mudar minha vida completamente.


— Me leve ao altar, papai — disse, com força e decisão na minha voz.

— Se ele quer uma noiva, ele vai ter uma, mas ele vai se arrepender disso.
Não era assim que imaginei o dia do meu casamento. Não em um

vestido de dama de honra, mas eu não me importava, esse casamento não


seria real. Tudo seria apenas para controle de danos com Rafael.

Respirei fundo quando engatei meu braço com o de meu pai. A porta
se abriu para revelar o interior da pequena igreja toda decorada e os

convidados que tinham os rostos impacientes com a demora de quase duas


horas da noiva que, no fim, não era a noiva oficial, mas a dama de

honra/noiva substituta. Essa será a fofoca do ano.


Rafael provavelmente avisou ao organista sobre a troca de noiva, pois

a música que foi escolhida para entrada começou a tocar e os convidados


pareciam não entender nada. Eles cochichavam entre si, mas eu mantinha

minha cabeça levantada e meu sorriso encantador para todos. Rafael


esperava no altar com seus olhos intensos em mim, deixando-me com nós de
ansiedade na barriga.

O casamento não é real.

Repeti a frase para mim mesma até chegar ao fim do corredor, que não
era tão longo assim. Estava claro para todos que Rafael fora abandonado no

altar, mas ninguém cochichava sobre isso, o zumbido que ouvi quando
caminhei até parar na frente dele foi:

— A dama de honra tomou o noivo da irmã?


Eu queria gritar bem alto que não tomei nada, mas eu plantei um

sorriso no rosto e aceitei a troca entre meu pai e Rafael Lamartine.


— Eu sabia que você aceitaria, Aurora — disse Rafael satisfeito

quando tomou meu braço no dele. — Você é uma mulher inteligente. Gosto
disso.

— Cuidado com o que você deseja — falei, sorrindo docemente para


ele. O padre pigarreou desconsertado, chamando a atenção para ele e o

zumbido dos convidados acalmou.


— Tem dias que o amor prega peças e hoje é um dia desses —

começou ele, tentando justificar a troca no altar. — A troca de noiva não vai
impedir que haja um casamento hoje, o amor tem suas próprias escolhas... —

Ele voltou a pigarrear e seguiu uma explicação sem nexo.


Amor? Acho que o padre anda bem iludido, a última coisa motivando

essa troca de noiva era o amor. Eu odiava Rafael Lamartine por acabar com

um dia que eu planejava ser maravilhoso no meu futuro. Como toda mulher
que pensava em casar um dia, eu sonhava planejar meu casamento, não

substituir alguém no altar sem ter seu próprio vestido de noiva. Eu estava me
casando com vestido de madrinha!

Maldito Lamartine.
Facínora! Queria que queimasse no fogo do inferno por não me dar

outra alternativa a não ser aceitar sua imposição.


A maldita cerimônia seguiu e não consegui lembrar uma palavra do

que estava sendo dito. A única coisa que escutei foi o sim de Rafael e depois
a pergunta sendo feita para mim.

Eu tinha um nó na minha garganta e a resposta que veio era um não,


mas quando levantei os olhos para Rafael, aqueles olhos escuros me deram

um aviso claro.
Não sei que tipo de jogo ele estava jogando comigo, contudo não

podia pagar para ver ele acabar com a felicidade de Bianca nem arruinar a
Pontes. Não sei por que ele fazia tanta questão do casamento. Ele nunca

disse a Bianca a razão de fazer o acordo com meu pai para que aquele
casamento fosse acertado. E ali estava eu, me casando com um homem que

não sabia nada sobre sua vida privada, além do que ele mostrava para nós,
mesmo o conhecendo há seis meses. Eu não sabia o motivo dele querer uma
Pontes como esposa e, pelo visto, qualquer uma servia para seu propósito. O

propósito que me deixava preocupada, mas não meu pai que recebia da

Lamartine Investment uma injeção de capital depois que a Pontes sofreu


com problemas em alguns negócios recentes.

Mas eu vou descobrir o porquê de ele estar tão interessado em nós,


havia um ditado sobre manter os inimigos pertos. Eu disse isso tudo a mim

mesma, mas eu não tinha nenhuma base para pensar se Rafael agia de má fé
ou não, talvez fosse apenas raiva por estar passando por aquele vexame na

frente dos amigos e colegas de trabalho.


— Melhor responder, Aurora. — A voz dele era autoritária e não

deixava dúvida de quem estava no comando ali.


— Eu aceito. — Minha voz saiu determinada. Se existia alguém de

quem eu não tinha medo, era de Rafael. Ele tinha a vantagem agora porque
eu não queria ser a pessoa responsável pela infelicidade de minha irmã mais

nova. O que me fez dizer sim foi saber que não era real, afinal, nenhum
documento ali tinha meu nome. Se Rafael quisesse trocar o nome na

papelada, ele teria de se esforçar mais.


Enquanto o padre nos declarava marido e mulher e dizia que os noivos

podiam se beijar, eu institivamente recuei. Não estava preparada para beijar

Rafael pela primeira vez na frente das pessoas. Meu coração falhou uma
batida e ele pareceu entender, porque se inclinou e colocou um beijo casto na

minha testa, ainda assim meu coração disparou feito um louco quando senti

seus lábios em contado com minha pele. Um arrepio me percorreu inteira


junto com um tremor que me deixou com raiva pela minha fraqueza e

atração inadequada que sempre tive por ele. Eu devia ter me enganado
quando vi interesse em seus olhos no dia que papai nos apresentou. A

atração não foi mútua. Eu que fui boba em pensar que ele poderia estar
interessado.

— Senhora Lamartine, mal vejo a hora de irmos para a lua de mel —


disse em um tom debochado no meu ouvido quando se inclinou para mim.

Para alguém de fora parecia que ele estava dizendo coisas agradáveis em
meu ouvido. O bastardo só queria me atormentar.

— A única lua que vai ver, senhor Lamartine, será quando eu chutar
seu traseiro até a lua real.

Ele riu e era um sorriso genuíno. Eu nunca o vi sorrindo assim antes.


Seu rosto bonito ficava ainda mais lindo quando ele sorria dessa maneira.
Dei-me um tapa mental por meus pensamentos idiotas. Eu devia estar o

odiando mais, não admirada com sua beleza.


— Vou adorar domar você, minha linda megera!
— Em seus pensamentos!
— Para registro, Aurora, eu prospero no desafio — disse ele baixinho,
com intimidade no tom que nunca usou comigo antes.

— Que bom para você, mas diga-me, senhor Lamartine, até uma hora
atrás eu não estava em seu radar, por que esse súbito interesse? — Devolvi.
Quem olhasse para nós, diria que estávamos trocando juras de amor.
— Não estava? — perguntou ele, com intensidade.

— Sim, não estava?


Ele me encarou ainda ostentando aquele sorriso enigmático, como se
ele tivesse um segredo só dele.
— Vamos, linda megera, temos convidados para entreter. — O sorriso

sumiu do seu rosto e a máscara de homem frio, que ele sempre mostrava, foi
colocada no lugar quando nos viramos para encarar os convidados.
Olhei ao redor à procura de Lanie, uma das minhas amigas mais
íntimas, mas não a vi em lugar nenhum. Ela estava de férias com o

namorado no nordeste do país e não sabia se daria tempo de chegar ao


casamento, caso conseguisse convencer Daniel a voltar antes do previsto.
Isso só me deixava mais chateada. Ficar sozinha, sem Bianca nem Lanie,
naquela recepção, seria o calvário para atravessar sem um ombro amigo.
03

Saímos da igreja e os convidados estavam todos espalhados ao redor

para nos cumprimentar. Eles não pareciam saber o que dizer sobre a
inusitada troca de noivas.

— Esse foi o casamento mais estranho que já participei — disse


Christian, o melhor amigo de Rafael e padrinho do casamento, rindo quando

veio nos cumprimentar. Acho que ele era a única pessoa que estava achando
aquela palhaçada engraçada.
— Lamartine, você se superou agora, você tem de me dizer o que

diabos está acontecendo.


— Agora não, Chris, temos convidados querendo nos cumprimentar
— disse Rafael. O fotógrafo contratado veio em nossa direção, querendo
tirar fotos nossas, mas eu me recusei e registrar mais daquele casamento
falso.
— Eu agradeço, mas não teremos mais fotos, é o suficiente — avisei o
fotógrafo.
— Devemos ter tudo registrado, Aurora. Afinal, esse será seu único

casamento — Rafael debochou quando o fotografo se afastou.


— Até onde sei, esse casamento não valeu nada, não tinha meu nome
em lugar nenhum — lembrei-o, com ar satisfeito. E ri.
— Não se preocupe, Aurora, tenho minha equipe cuidando de tudo
agora mesmo. Amanhã seremos marido e mulher no sentido mais real da

palavra. — Ele me guiou, com a mão em minha cintura, para frente em


direção do carro que nos esperava.
Acenei e sorri candidamente para alguns convidados que ainda
estavam por ali, antes de seguir para a recepção. Quando nos sentamos no

banco detrás do carro, virei-me para Rafael e perguntei:


— O que você quis dizer quando disse que seremos marido e mulher
no sentido real da palavra?
— Isso mesmo que você escutou. Esse casamento será real, Aurora.
Não pense diferente.
— Explique-se, Rafael. Porque até onde sei, este é um casamento de
conveniência, não vou...

— Você vai fazer o que eu quiser, Aurora, afinal, prometeu me amar e


honrar até que a morte nos separe. — Olhou-me divertido. Ele não estava me
levando a sério.

— Se o que você disse significa que serei uma boa e obediente


esposinha, engana-se redondamente. Você vai querer o divórcio logo, não
dará tempo nem da tinta secar.
— É um desafio, pequena Aurora? Já temos dois desafios.
— É um fato. E, para esclarecer ainda mais, não vou dormir com você.
— Também não planejo isso, Aurora.
— Ainda bem que estamos de acordo nisto! — disse, mas um gosto
amargo me fez olhar pela janela do carro.
— Dormir será a última coisa que vamos fazer, posso garantir.

Virei-me de volta para ele e vi seus olhos escuros brilhando com certa
malicia. — Esse casamento será real, Aurora, em tudo.
— Então, terá de me forçar a dormir com você — disse, com os dentes
trincados de pura raiva de seu cinismo arrogante. — É a única forma de
fazer sexo com você. Nunca vou querer suas mãos em mim, Rafael
Lamartine, coloque na sua agenda de homem presunçoso.
— Sua veemência só me diz o contrário, que não vê a hora de ter
minhas mãos em você. E não se preocupe, não tenho seu sangue azul, mas
também não sou um bárbaro que toma mulheres a força. Gosto das minhas

mulheres dispostas e morrendo de vontade do meu pau dentro delas.


Eu sentia que estava ficando vermelha de indignação com suas
palavras grosseiras. Minha voz saiu falha quando falei:
— E diz que não é bárbaro! Que nojo!
Ele riu e percebi que tinha falado de propósito, para me deixar
desconfortável. Homem asqueroso!
— Nunca tive reclamações sobre minha barbárie com as mulheres que
passaram em minha cama, ao contrário, esposinha, elas sempre gostaram da
minha selvageria.
— Bom para elas, ou não — disse, com raiva. Eu não queria a visão
na minha mente dele em uma cama com aquelas mulheres que ao longo dos
meses o vi andar a tiracolo por aí, antes dele firmar o noivado com a minha
irmã. Eu sabia que ele ainda tinha aquelas mulheres em sua cama, apenas
não saía mais em público depois do noivado. Bianca não estava dormindo
com ele. Para ser sincera, eles nunca nem se beijaram. Era o que ela dizia.

Rafael não tinha interesse sexual nela e ela muito menos nele, apesar de ficar
toda feliz quando ele a escolheu. Minha irmã tinha seus próprios interesses
naquele casamento. Apesar de que éramos uma família tradicional, sangue
azul, Rafael tinha dinheiro além da razão e hoje em dia dinheiro significava
poder. Ela queria o status de esposa de Rafael. Talvez ela achasse que
poderia estar casada com ele e dormindo com Lucca. E no fim ela me deixou
nesta bagunça.
04

Estava tão puto naquele momento que poderia explodir uma cidade
inteira, caso minha raiva detonasse como uma bomba nuclear.

Aurora.
Ela me olhava com desgosto no banco à minha frente da limusine que

nos levava a recepção do casamento. Percebi o quanto ela queria mostrar que
me odiava. Ela mal me olhava e quando fazia, era como fogo saindo em

dardos venenosos em minha direção.


Talvez não me odiasse tanto assim, como ela queria passar a ideia,
mas se não me odiava agora, certamente me odiaria muito em breve. Meus
planos estavam começando a desmoronar. Irmã errada para casar, porra! Eu

devia ter desistido do casamento, mas meu orgulho não deixou. Abner
Pontes tinha de pagar por seus pecados, ou eu morreria tentando. Essa neta
era a complicação do caralho.
Fervia de raiva, olhando-a.
Aurora! Saboreei seu nome em meus pensamentos.
Quando eu escolhi Bianca Pontes para ser minha esposa em vez de

escolher a filha mais velha de Ricardo, foi por que eu não queria
complicações na minha porra de vida. E agora fazia exatamente aquilo que
evitei de todas as formas. Essa mulher significava problemas. Eu não
procurava emoções, não sabia lidar com essa besteira e Aurora era uma
bomba de emoções, apesar de ela achar e se portar como se fosse fria e

comportada. Ela não era.


Ela nas mãos de um homem que soubesse fazê-la se contorcer, seria
como dinamite explodindo ao redor. Ela era linda, refinada e toda certinha.
Cada vez que a via, imaginava-a deitada, ofegante, debaixo de mim. Suas

bochechas vermelhas e olhos brilhando de luxúria enquanto empurrava com


força dentro e fora dela. Seus cabelos emaranhando entre meus dedos, os
lábios canudos e inchados dos meus beijos.
Inferno! Fiquei duro só de pensar nela assim e ri intimamente,
imaginando-a vendo meu pau duro agora. Ela teria algumas palavras a dizer
sobre isso. E, apostava, não seria nada refinado.
Desde que eu voltei meus olhos à família Pontes, tinha a assistido

mais de perto do que ela imaginava. Recusei-me a ser dominado por


sentimentos cada vez mais possessivos e luxuriantes por ela. E casar com
ela? Estava fora de cogitação, não traria problemas a mais para minha vida e

meus planos e de me casar com Aurora eram exatamente tudo que eu havia
evitado até hoje. Eu tinha uma missão e não poderia ter emoções envolvidas.
Só que o tiro saiu pela culatra e ali estávamos nós, casados, ou melhor
no caminho disso. Eu falei sério a pouco quando voltei para igreja e a deixei
lá fora, com a opção de casar no lugar de Bianca. Eu enviei uma mensagem
para minha equipe jurídica para mudar os nomes nos documentos. Eu sabia
que Aurora iria tomar o lugar de Bianca. Ela era ligada demais a família e a
empresa para saber que minhas ameaças não eram vazias.
Esse tempo que estive por perto, observando-a, me deu essa garantia.

Aurora era o tipo de mulher que pensava primeiro nos outros, principalmente
em seu pai e irmã, e ainda o avô. Ela tinha esse sentimento de cuidado
depois que a mãe delas morreu. E eu contava com aquilo, quando a intimei
para tomar o lugar da irmã no altar. Eu precisava casar com uma delas,
mostrar ao Pontes mais velho que eles não eram intocáveis.
Aurora seria a mulher ideal para mim quando eu resolvesse um dia me
casar de verdade, estava na hora daquilo acontecer, mas eu precisava acertar
algumas coisas antes. Se Aurora não me odiasse no final de tudo, quem sabe
não poderíamos tornar o casamento real?

Eu estava com trinta anos, tinha dinheiro aos montes, mas eu não tinha
o sangue azul dos Pontes. A estigma de moleque da favela me acompanhava
desde que nasci, era tão miserável que muitas vezes nem tinha o que comer,
mesmo que agora eu tinha mais dinheiro que muitos dos velhos ricos com
quem fazia negócios. Casar com uma Pontes havia sido minha meta desde
que eu ganhei meu primeiro milhão. Eu sempre lembrava do dia que o velho
Pontes humilhara minha mãe, dizendo que ela não era digna de se casar com
um Pontes e que eu era seboso demais para brincar com sua netinha. Eu
odiava aquele velho maldito e ia mostrar a ele quem estava por baixo agora.
Lembrei de quando eu estava brincando com Aurora ainda
pequenininha e o velho apareceu e me viu, usando roupas que já tinham
visto dias melhores. Ele me segurou pelo braço e me repreendeu por cogitar
chegar perto de sua neta, arrastou-me até minha mãe que estava limpando a
casa e esbravejou com ela.
“Linda, esse garoto é seu filho? Desde quando você foi autorizada a
trazer seu filho maltrapilho para minha casa e deixa-lo junto de minha neta?

É a primeira e última vez que você deixa ele contaminar a minha neta,
ouviu? Ou dê adeus a esse emprego”
Minha mãe tinha gaguejado que não tinha com quem me deixar
naquele dia, mas o velho Pontes não queria favelado perto de sua neta
preciosa.
“Minha neta não tem de conviver com esse tipo por perto.”
Não era só isso. O velho tratava os empregados como se ainda
estivesse no Brasil Colônia e minha mãe fosse uma escrava de senzala. Mais
tarde descobri que eles eram amantes, Pontes era o pior tipo de gente. Eu
jurei que um dia ele me pagaria de uma forma ou de outra.
O avô de Aurora, Abner Pontes, era ainda tão esnobe e preconceituoso
quanto antes e não se lembrava de mim, talvez por que eu não usava o
sobrenome de minha mãe e, sim, do homem que contribuiu para me colocar
no mundo dos negócios e me criou desde que tinha oito anos, com minha tia
Letícia.
Eu nunca conheci meu pai, o idiota deve ter engravidado minha mãe e
a deixado com um filho para se humilhar nas casas dos ricos.
Agora Pontes teria de engolir sua neta casada com um tipo como eu.
Eu me perguntava até hoje que tipo ele se referia quando falou com
minha mãe naquele dia?

O tipo marginal?
Nascer na favela não me fazia um delinquente, ao contrário, eu era um
garoto inteligente acima da média. Eu podia facilmente ser um pequeno
delinquente enquanto ficava sem a supervisão da minha mãe, estar na rua
com outras crianças e aprendendo coisas erradas, mas eu não era assim, eu
ficava em casa estudando ou na casa de dona Jacira, a vizinha e amiga da
minha mãe.
Depois veio a tragédia da minha vida e desde aquele dia eu fiz tudo o
podia para que um dia eu pudesse fazer o velho engolir suas palavras.
Enquanto minha tia se preocupava se eu ia passar a vida traumatizado,
estudara, aprendera inglês com afinco e deixara de ser o garoto que só falava
português. Depois fui para a Universidade e me especializei em Finanças
enquanto trabalhava desde adolescente para Paul. Consegui meu primeiro
trabalho de verdade com ele depois que me formei, economizando cada
centavo que eu podia para ter minha própria empresa. A empresa de Paul me
pagava bem e, depois de um ano, comecei a investir. Dois anos depois iniciei
minha própria empresa, era focado, determinado e nunca desviei daquilo que
me propus. Depois herdei a empresa de Paul quando ele faleceu. Vendi-a
logo, pois não era o ramo de negócio que eu queria.
Só pensava em duas coisas. Ter sucesso e me tornar mais rico que os

Pontes. E um dia me casaria com umas das irmãs Pontes, tirando todo
dinheiro daquela família esnobe, ou de Abner que era meu alvo. A
oportunidade surgiu meses atrás quando comecei a fazer negócio com as
empresas Pontes que ao longo dos anos passou para mais uma geração.
Agora Ricardo Pontes, pai das netas do velho esnobe Pontes, era quem
comandava. A empresa apresentava problemas financeiros, culpa do próprio
Ricardo que estava gastando mais do que lucrando e, com minha ajudinha,
as coisas estavam indo por um caminho sem volta. Eu tinha feito de tudo
para que as empresas começassem a ter problemas e que minha intervenção
não fosse vista com estranheza. Aproximar-me de Ricardo foi fácil, e ali
estava eu. Eu trabalhava, dormia, comia, mas nada me tirava do foco. Por
isso Bianca foi escolhida, ela não tinha o poder de me distrair do que eu
queria.
Já sua irmã mais velha, era outra história.
Eu não podia mostrar ao velho Pontes que uma de suas netas estava
casada com um maltrapilho, tinha de agir com frieza quando emoções

estavam envolvidas. Aurora me tirava do eixo, dos meus propósitos, essa


atração por ela era inconveniente e me desviava de tudo que havia planejado.

O velho Pontes ainda era um membro do conselho da Pontes e não via


a hora de vê-lo me pedindo para ter piedade da Pontes quando ela estivesse à

beira de falir e eu retirasse meu investimento. Lucca, tinha sido contratado


como diretor financeiro e estava fazendo um ótimo trabalho, mas ele não

tinha poder para parar minha intervenção, não quando eu tinha informações
privilegiadas. Eu tinha conquistado a confiança de Ricardo e era noivo de

umas de suas filhas. Ele falava de negócio comigo desde que eu mostrei
interesse de fazer parte e investir na empresa.

Mal via a hora de olhar a cara do velho Pontes quando eu retirasse


meu apoio financeiro e abandonasse sua neta, dizendo que ela não servia

para mim.
Mas quando olhava a mulher a minha frente, não me via fazendo nada
disso, a única coisa que via era a imagem dela gemendo debaixo de mim,

gritando meu nome enquanto a fodia até o esquecimento.

Porra!
O carro parou e o motorista abriu a porta para nós. Olhei para Aurora

e ela estava linda, mesmo não estando com um vestido de noiva, ela tirava
meu fôlego completamente.

Bonita pra caralho.


— Você deveria ter cancelado a festa — disse ela, aborrecida enquanto

saía do carro.
— Por que deveria? Tudo estava pronto. Por que não aproveitar?

— Espero que você queime no fogo do inferno por me fazer passar


por esse vexame.

— O único que está passando por um vexame aqui sou eu, Aurora, e a
culpada é sua irmã. Então culpe só a ela por isso — rebati e segurei seu

braço guiando-a para dentro. A festa estava sendo realizada em um clube


exclusivo para a elite carioca onde os Pontes eram sócios.

— Amanhã será bem pior quando souberem que o casamento não teve
validade, que tudo não passou de uma farsa para manter as aparências.

— Aurora, esse casamento não terá um fim sem que antes eu decrete
assim, caso contrário retirarei todo investimento da Pontes se você não
cumprir com suas obrigações. Além de que, posso fazer sua irmã pagar pelo

papelão que ela fez hoje.


— Não pode me ameaçar com isso eternamente. Você já investiu, não

tem retorno.

— Eu posso retirar a qualquer hora que eu quiser, e seu pai não tem
mais tanto controle na empresa, se eu quiser ela passa a ser minha em

cinquenta por cento. — Eu não estava blefando. Eu comprei muitas ações ao


longo dos anos e com as novas ações que exigi pelo investimento, poderia

ter o controle se assim quisesse. E eu queria, mas eu queria mais casar com
uma Pontes, era apenas uma questão de honra.

— Você deve ter enganado meu pai para ele concordar com esse
absurdo!

— Não, esposinha, não forcei seu pai a nada, o desespero às vezes é o


responsável.

— Eu não farei esse casamento real, Rafael! Não colocarei meu nome
em nenhum papel junto ao seu.

— Amanhã, antes de viajarmos em lua de mel, meus advogados irão


trazer os papéis com a mudança dos nomes das noivas. Se você quiser pagar

para ver... — Dei de ombros, como se não fosse grande coisa. E não era! Ou
não era para ser.
Quando planejei casar com uma das irmãs Pontes eu não imaginei
passar muito tempo casado. Por isso escolhi Bianca, mas ela tinha estragado

tudo e não me deixava outra alternativa, a não ser casar com Aurora.

Inferno! Eu não desejava acabar com esse casamento facilmente, não


agora que Aurora estava no jogo. Não me perguntei o porquê, a diferença e

nem a razão por trás desse desejo repentino de prolongar o casamento, eu


não sabia dizer, mas Aurora me instigava a algo que fez meu peito aquecer.

Essa porra virou uma bagunça.


05

A festa era um borrão confuso, amigos e parentes vieram nos felicitar,

mas na maioria das vezes era para bisbilhotar por que eu estava casando com
Rafael em vez de Bianca e por qual razão ela não estava na cerimônia. Eu
apenas sorria sem maiores explicações e tentava mudar de assunto. Os

parentes eram todos parte de minha família, Rafael apenas tinha alguns
amigos e parceiros de negócios. Pelo visto ele não achou importante

convidar seus familiares, ou ele não tinha ninguém?


Não perguntei, disse a mim mesma que não queria saber nada dele,
mas ainda assim certa curiosidade me corroía.
Depois de dançar com ele e meu pai, sentei-me à mesa principal em
que Bianca deveria estar sentada e peguei uma taça de champanhe, uma atrás
da outra, na tentativa do álcool amortecer o desgosto que sentia.
Meu casamento não devia ter sido assim e, pelo que Rafael tinha em
mente, não teria um casamento real nessa vida.
— Você tomou o noivo de Bianca? — perguntou minha prima Liana,

sentando-se ao meu lado.


— Não tomei noivo de ninguém, Liana.
— E como explica essa confusão? Eu sempre soube que você era uma
santa do pau oco, Aurora. — Ela soltou seu veneno como sempre. Liana era
filha do meu tio Rogério, irmão mais novo do papai, ele era o tipo de irmão

que estava sempre insatisfeito porque meu avô passara a direção da empresa
para meu pai. Ele estava sempre criticando e querendo tomar o lugar de CEO
da Pontes, mas como tradicionalmente era o filho primogênito que assumia,
meu tio ficou com o cargo de COO na empresa e fazia parte do conselho,

mas ele queria mais.


— Acho que isso não é da sua conta — retruquei sem paciência para
sua conversa. Ela era igual meu tio, insatisfeita com a vida. Ela vivia uma
vida de dondoca e gastava seu tempo esbanjando o dinheiro do pai. Ao
contrário de mim, que saí da faculdade e ingressei na Pontes e hoje tinha um
cargo lá, onde todos me respeitavam. Liana nunca fez nada para ganhar um
centavo do que tanto esbanjava com coisas supérfluas. Ela apenas fazia

questão de sempre me criticar, dizendo que eu era uma santa do pau oco,
como se tentar ser uma pessoa melhor fosse um crime. — Por que você não
circula e procura um potencial marido rico, Liana? Um que banque seus

caprichos?
— Ainda não me sinto tão desesperada como você, priminha, que
tomou o marido da irmã — disse ela, levantando-se. Ela acenou os dedos
falsamente. — Até mais, querida.
Peguei a taça de champanhe e bebi de um gole só o líquido dourado e
caro. Eu bebi muito durante toda a recepção e não comi nada, os efeitos do
álcool estavam dando os primeiros sinais. Eu precisava ir embora ou ia
acabar bêbada.
— Vá com calma, esposinha, já vi você entornar umas seis dessas. —

Meu marido indesejado voltou para o meu lado e cochichava em meu


ouvido. — Não quero uma esposa bêbada na noite de núpcias.
Tive vontade de fazer um gesto indecente para ele, mas me contive a
tempo. Ele tinha sido frio e inalcançável durante toda ceronônia. E ao
mesmo tempo aquele ar presunçoso que ele já tinha, apenas cresceu, se é que
era possível. Ele olhou ao redor com certo desdém. Como se todos os
convidados fossem insignificantes. Reles mortais ao redor de um deus.
— Está na hora de sairmos. — A nota de aço em sua voz não deixou
nenhuma lacuna para argumentos. Apesar do ódio se construindo com cada

ordem que ele me dava, eu sentia meu sangue esquentar também com algo
inquietante e que formigava por cada centímetro do meu corpo. Eu sentia
seu cheiro masculino quando respirava fundo, tentando me conter quando os
dedos dele tocavam a pele do meu pescoço. Eu devia ter bebido mais
algumas taças, assim não estaria tão consciente dele ao meu redor. Ou a
bebida estava fazendo sua presença mais inquietante.
Odiava Rafael Lamartine naquele momento. Fixei em minha mente
para não esquecer.
— Vou me despedir do meu pai e avô — disse, levantando-me e
pegando a pequena bolsa de mão que me devolveram depois que cheguei ali.
Minha cabeça rodou e percebi que bebi mais do que tinha imaginado.
Melhor assim, não precisava pensar muito essa noite.
Respirando fundo, eu me despedi dos convidados e, pouco depois,
estávamos no elevador que nos conduzia à cobertura que foi reservada para
os noivos passarem a noite de núpcias. Eu queria chorar de desgosto. Mesmo
que o casamento não fosse real, eu estava tendo uma experiência que não

desejaria para nenhuma noiva, mesmo aquelas falsas como eu.


Eu não sabia o que Rafael planejava dali para frente, não tinha
nenhuma ideia do que faríamos a seguir.
As portas do elevador se abriram direto para a suíte presidencial e
levei um susto quando dois homens se levantaram de onde estavam sentados
nos esperando, pelo visto. Um dos homens eu nunca tinha visto, mas o outro
era Christian Davis, o melhor amigo de Rafael. Mais como um lacaio dele,
ele trabalhava com Rafael.
— Aurora, esse é meu advogado, Domênico Garcia — apresentou
Rafael. — E Christian, você já conhece. Eu não queria esperar até amanhã e
cobrei alguns favores. Enquanto estávamos na recepção, Domênico
conseguiu mudar os nomes nos papéis do casamento. Agora só precisamos
da sua assinatura.
— O quê?
— Para que você não mude de ideia até amanhã, podemos fazer isso
agora. Chris servirá como testemunha — disse ele, como se não tivesse
passado uma rasteira, literalmente, em mim.
— Eu não quero esse casamento!
— Já conversamos sobre isso e não quero me repetir, Aurora — disse
ele friamente. — Se você disser mais uma vez que não quer esse casamento,

eu vou acatar seu pedido e você não vai gostar do que farei a seguir.
Estava na ponta da língua dizer para ele ir se foder, mas eu parei.
Estava enraizado em mim esse sentimento de cuidado que tinha com Bianca
e papai. E não podia arriscar ter esse louco fazendo algo para machucar
qualquer um dos dois. A culpa me comeria viva se eu dissesse não e ele
fizesse algo ruim com eles. Pior, não queria ver o legado de gerações da
minha família acabando assim, quando eu podia mudar aquela situação.
Eu odiava ser eu!
Eu não tinha tempo para pensar, se fosse amanhã eu teria tempo, mas
naquele momento minha cabeça parecia uma nuvem de algodão.
— Domênico não tem a noite toda, Aurora — proferiu Rafael, tirando-
me do torpor.
— Tudo bem, mas quero que acrescente uma cláusula.
— Você pode nos dizer qual? Mas lembre-se de quem dá as ordens
aqui. — Ele tinha um sorriso sem emoção nos lábios que me irritava tanto!
— O casamento não poderá ser consumado e que tudo que for meu,
antes do casamento, continuará sendo. Também não quero nada seu quando
nos separarmos.
— São três cláusulas, esposinha. Foi bom saber o que você pensa, mas
não terá nenhuma dessas besteiras — declarou ele, como se eu tivesse falado

um monte de bobagens. — Se eu quiser que minha esposa durma na minha


cama, ela irá dormir. E não precisa esclarecer sobre sua herança, eu já fiz um
contrato pré-nupcial em que deixo claro que além de sua atual herança, se
caso houver uma separação, você não ficará sem nada.
— Não quero nada seu! — Deixei de fora o fato sobre dormir com ele.
Não queria discutir minha vida sexual na frente de estranhos. Mas ele teria
de me forçar para dividir uma cama com ele.
Ele se achava irresistível. Mostraria que nem toda mulher cairia aos
seus pés como pêssegos maduros.
Mesmo com a atração que sentia por ele, eu podia resistir, não era
dominada por meus hormônios, tinha mais controle que isso.
— Pode doar aos pobres, então, quando receber — disse ele, fazendo
pouco caso. — Domênico, se estiver tudo certo, vamos acabar logo com
isso. Tenho uma longa noite pela frente.
Os dois homens que assistiam calados se moveram. Chris sorriu e

voltou a se sentar e o advogado apontou as folhas de papel que estavam


dispostas sobre a mesa.

— Só precisa de sua assinatura, senhorita Pontes — disse o advogado.


Ele parecia mais um modelo da GQ que advogado, pensei. — Caso queira

que seu próprio advogado veja, posso enviar uma cópia para ele amanhã.
— Para quê? No fim, ainda vou estar casada.

Rafael pegou a caneta e assinou seu nome. Ele tinha no rosto a


expressão de satisfação que me preocupava cada vez mais. Sentia que estava

perdendo algo. Ele se virou para mim, estendendo a caneta. Peguei e


rabisquei meu nome nos papéis rapidamente. Eu não tinha escolha. Quer

dizer, eu tinha, só não podia arriscar.


— Pronto. Satisfeito? — Joguei a caneta e coloquei minhas mãos no

quadril, olhei-o em desafio. — Se os senhores me derem licença.


Eu saí da sala em direção ao quarto da suíte, deixando os três homens
lá. A cama enorme dominava o ambiente e parecia caber umas dez pessoas

nela. Eu marchei, pisando duro no chão até o banheiro. Olhei para a mulher

no espelho e não a reconheci. Essa mulher não era eu. Eu era calma, a que
evitava conflitos, essa mulher tinha os olhos fervendo de raiva.

Olhei ao redor com raiva da minha imagem e percebi que não tinha
nenhuma bagagem. Aquele idiota teria que providenciar uma mala para

mim. Voltei ao quarto, tirei os saltos que me incomodavam e depois segui


para a sala para dizer umas poucas e boas a Rafael quando escutei a voz de

Christian.
— Ainda pode mudar de ideia, Rafael. Aquela mulher claramente

odeia a ideia de estar casada com você. Por experiência, meu amigo, é
melhor manter distância dela. — Ele ria. — Elas apaixonadas já dão

trabalho, imagina uma que está planejando colocar cianeto em seu conhaque.
— Eu não preciso do amor dela, Christian, isso são negócios. — A

voz baixa e sem emoção de Rafael retrucou e eu me inclinei mais para frente
na tentativa de escutar melhor. — Daqui para frente será da forma que

imaginei durante anos. O velho Pontes vai ter de passar pela humilhação de
pedir misericórdia a um favelado.

Do que ele estava falando?


— Você que sabe — Christian disse. — Eu tenho que ir, terei uma

noite melhor que você, Lamartine. — Ele riu de sua própria piada. — Eu
desejaria sorte a você, mas receio que nem precise, quem deve precisar é sua

noivinha. Quando ela saberá que casou com um lobo faminto?

Rafael sorriu e disse em tom gélido:


— Vai depender dela. Hoje, amanhã, depois, quem sabe? Vou adorar

domar a megera enquanto isso. — A crueldade escorria de seu tom e me fez


encolher. — Fazê-la se apaixonar por mim também será perfeito. Será ainda

mais doce quando jogar os Pontes de seus pedestais de burgueses de sangue


azul.

Meu sangue gelou nas veias. Ele tinha motivos obscuros para o
casamento. Eu sabia! Sabia que ele não estava dizendo tudo. Mas o quê? O

que era tudo aquilo.


— Eu poderia ser o amigo sensato e te dar o conselho de seguir em

frente, esquecer o passado, mas quem sou eu? Talvez não tenha seu passado,
mas somos movidos pelos mesmos mecanismos.

— Vejo você depois, Chris.


Eu voltei para o quarto o mais silenciosamente possível e fechei a

porta atrás de mim. Sentei-me na cama e tentei me manter fria e controlada,


não podia deixar ele saber que escutei a conversa. Serenidade, Aurora!
A porta se abriu e Rafael parou no vão. O terno e a gravata tinham
sumido, ele estava com a camisa com dois botões abertos e desabotoando os

punhos. Por que ele tinha de ser tão bonito e sexy? Por que eu não podia

odiá-lo como eu o desejava? Embora eu tivesse acabado de escutar que ele


tinha motivos sórdidos para ter se infiltrado em minha família, eu não

deixava de notar o quanto ele me afetava de uma maneira vergonhosa.


Levantei meus olhos para seu rosto e ele estava me olhando com

curiosidade misturada com algo que não sabia o que era. Desejo?
Provavelmente não. Pela conversa devia ser algo que envolvia ele me

humilhando de alguma forma.


— Não podemos ficar aqui. — Foi a primeira coisa que veio a minha

cabeça para falar. — Você não pensou que eu precisava de uma mala com
meus pertences?

— Peça ao hotel, Aurora. — Ele se desencostou do batente e


caminhou para dentro do quarto. — Não vamos a lugar nenhum hoje, estou

cansado.
Ele começou a se despir como se fizesse isso a vida toda na minha

frente.
— O que pensa que está fazendo? — perguntei chocada quando ele

atirou a camisa em uma poltrona. Jesus! Ele tinha uma droga de abdome
completamente sarado.
— O que acha, esposinha? — perguntou debochado e começou a

desabotoar as calças.

— Não me chame disso, não sou sua esposa nem nunca serei —
retruquei, chateada comigo mesma por ficar babando em cima dele como

uma doente.
— Isso está ficando cansativo. — Ele caminhou para o banheiro,

falando sobre os ombros: — Peça tudo que precisar e o pessoal do hotel


providenciará.

Eu vou fazer melhor que isso.


Escutei, pouco tempo depois, o som da água caindo, levantei-me e saí

para fora do quarto. Agarrei a pequena bolsinha, que tinha deixado em cima
da mesa em que assinei os papéis, com as chaves do meu apartamento e corri

para fora da suíte.


Eu sei que foi uma jogada errônea, mas queria ver Rafael perdendo o

controle. Entrei no elevador e apertei o botão para descer. Levou poucos


minutos para a porta abrir no térreo. Caminhei para fora à procura de um

táxi. Iria dormir no meu próprio apartamento.


Gostaria de ver a cara de Rafael quando ele percebesse que eu não

estava mais na suíte no momento em que saísse do chuveiro. Sorri e olhei


para fora da janela do táxi. Ele viria atrás de mim?

Provavelmente.
Pedi ao motorista que esperasse que eu ia buscar o dinheiro, já que não
tinha o suficiente na minha bolsinha. Quando saí de casa não imaginei que

fosse precisar de dinheiro para o táxi. Olhei ao redor quando desci com o

dinheiro. Rafael já poderia estar chegando por ali, ou ele podia pensar que
não vim para cá.

Quando voltei para o apartamento, o telefone estava tocando e notei


que meu celular não tocou naquele tempo todo, mas deixei para verificar

depois e peguei o telefone sem fio.


— Alô? — perguntei hesitante, podia ser Rafael.

— Você não fez isso! — A voz de Bianca reverberou do aparelho


telefônico. — Aurora, por acaso você é estupida? Por que fez isso?

Ela era a única culpada por aquela bagunça, por fazer Rafael de bobo,
e ainda estava chateada comigo?

— Alguém tinha de consertar as coisas, Bianca, e acabou sendo eu —


disse um pouco aborrecida. — E por que está me ligando no telefone do

apartamento e não no celular? Como sabia que eu estava aqui?


— Por que Rafael ligou para mim — disse ela. — Ele achou que

você estaria comigo e seu celular está desligado. Por que você está em sua
casa se você se casou com ele? Pensei que você odiava o Rafael.

— Eu não tinha nenhuma roupa no hotel e só queria me livrar desse

vestido, além de que, não achei certo ficar em uma suíte nupcial com ele —
disse, contando parte da verdade. Eu não podia ter aquela conversa com

Bianca naquele momento. O dia já tinha sido demais para aguantar.

— Você precisa me contar o que houve, por que você me substituiu?


— Bianca soltou uma avalanche de palavras. — Liana enviou uma

mensagem dizendo que todos ficaram chocados quando você entrou e o


padre anunciou a troca da noiva.

— Bianca, você se importa de nós conversarmos depois? Eu preciso


de um banho e dormir um pouco. Estou exausta e tenho certeza que o dia

será longo amanhã — disse. Eu amava minha irmã, mas às vezes ela era
meio insensível. Agora eu só precisava esquecer o dia de hoje. — Falo com

você amanhã, ok?


— Oh! Desculpe, irmãzinha, eu queria saber de tudo, mas se você está

bem, é o que importa.


Eu não estava bem, ainda mais depois de escutar sobre o plano de

Rafael de casar com umas de nós duas. Eu agi por impulso no hotel, devia
ter ficado e tentado descobrir por que ele se aproximou de nossa família.
— Claro. Te amo.

— Também te amo, querida, durma bem.


Desliguei, mas ainda fiquei parada por um tempo olhando a sala vazia.
Eu precisava pensar nos próximos passos com Rafael. Não podia deixar ele

pensar que ganhou. Decerto tinha saído por impulso do hotel, porque
possivelmente meu subconsciente sabia que se eu ficasse lá, o confrontaria e
tentaria desmascarar seu plano. E não podia sem saber o que ele planejava

fazer.
Levantei-me, indo direto para o banheiro, precisava lavar esse dia de
mim.
Eu tinha me mudado para esse apartamento quando comecei meu
trabalho na Pontes, eu não queria sair do meu lugar. Ainda mais com um
casamento já fadado ao fracasso, ao meu ver.
06

Estava terminado meu banho quando escutei a campainha do meu

apartamento. Agarrei um roupão atoalhado e o vesti antes de seguir até a


porta. Eu não precisava ser um gênio para descobrir quem era. Olhei pelo
olho mágico, apenas por precaução, e vi o rosto furioso de Rafael.
Ele podia dar uma trégua por uma noite. Pensei jocosa.
Abri a porta e ele estava lá, sem o terno sob medida habitual, mas,
ainda assim, sua figura larga e musculosa preenchia a camisa branca e calça
social preta com perfeição.

— Você tem de fazer as coisas mais difíceis? — Ele deu um passo


para dentro e recuei para deixá-lo entrar, mas ele não parou, vindo direto em
minha direção. Eu só fiz recuar até ele me prender na parede e fechar a porta
atrás de si. Engoli em seco quando ele invadiu completamente meu espaço
pessoal. — O que vou fazer com você?
— Primeiro seria bom se afastar — disse, com bravata, empurrando o

queixo para frente em desafio, mas o movimento só fez com que nos
aproximássemos mais. Nós nos encaramos e ficamos presos por um instante
num impasse. Eu sempre achei que era imune ao charme dos homens, dos
sentimentos efêmeros que são capazes de nos fazer sentir fracas. Mas
quando eu olhava dentro dos olhos daquele homem, em particular, eu apenas
sabia que era igual a todas as mulheres.
Eu nunca me apaixonei como Bianca, quando era adolescente, eu
nunca caí de amor como ela fez, abandonando o noivo em nome daquele
amor. Acreditei firmemente que tudo foi se acumulando para esse momento

em que tinha de lutar contra a ânsia de tocar Rafael Lamartine. Minhas mãos
pinicavam de vontade de trilhar a beleza impressionante do rosto dele, tão
perto do meu, memorizar cada linha e ângulo, traçar com as pontas dos meus
dedos a boca sexy e pecaminosa a poucos centímetros da minha. O baque no
meu peito era tão alto que parecia que meu coração ia pular para fora. A
reação a ele era elétrica e causava arrepios em cada poro.
E não podia me dar esse prazer, Rafael era o inimigo! Não podia
esquecer esse fato. Além da raiva que sentia por ele.
— Afaste-se, Rafael! — falei e fiquei com vergonha da minha voz

rouca e sem fôlego.


Definitivamente não era imune a ele. Porque mesmo com todos os
pensamentos de raiva, lembrando que ele era o inimigo, ainda queria sentir
sua boca na minha, queria saber como era o gosto dele.
Merda!
— Por que eu faria isso, esposa? — disse ele, com intimidade. Ele
abaixou um dos braços que estavam em cada lado da minha cabeça e traçou
com a ponta do indicador uma linha na minha pele onde a gola do roupão
estúpido se abriu. Ele olhou o movimento como se fosse um experimento
extraordinário, algo fascinante. — Até onde sei, eu tenho todo direito de
tocar minha esposa.
— Não sou sua esposa!
— Tenho um documento que comprova isso, querida. — Ele
mergulhou a ponta do dedo dentro do roupão perto do meu pescoço e desceu
lentamente até o dedo parar no inchaço do meu seio esquerdo. Inspirei,

puxando o ar para meus pulmões em busca de oxigênio para acalmar o


turbilhão de necessidade que queimava através de mim. Meu peito levantou
e isso só fez com que seu dedo escorregasse para mais perto do meu mamilo
que estava atrevidamente duro. Ele sabia o quanto me afetava, vi quando ele
levantou os olhos famintos para os meus. Senti o calor escaldante e
traiçoeiro aflorar por minha barriga e descer até a junção entre minhas coxas,
fazendo-me engolir um gemido.
Jesus! O homem mal me tocou, nunca nem me beijou e estou
gemendo?
Recomponha-se, Aurora! Essa não é você. Ou era e Rafael só estava
trazendo isso à tona.
Rafael se inclinou tão perto que o calor de sua respiração tocou meu
rosto. E só precisava uma pequenina inclinação para frente e nossas bocas se
chocariam, mas quando achei que ele ia me devorar viva, afastou-se com um
sorriso conhecedor, cínico, no rosto e caminhou para dentro da sala como se
nada tivesse acontecido. — Faça suas malas, Aurora, vamos ficar na minha
casa.
Estava tão chocada que apenas fiquei lá, parada, igual uma idiota. A
realidade voltou como um soco bem na minha cara e quebrou a névoa de
acasalamento que tinha entrado há pouco. Por fim, me movi e apertei mais o
cinto do meu roupão, com mais raiva ainda dele.

— Eu não entendi. — Cruzei os braços no peito e o encarei. — Eu não


vou morar com você.
— Aurora, eu não tenho mais paciência para isso — disse ele
friamente, voltando-se para me enfrentar. O calor que vi antes em seus olhos
foram embora e só havia um toque invernal neles. — Não estou pedindo, eu
estou dizendo que vamos morar sob o mesmo teto. Você aceitou o lugar de
Bianca, você tinha outras escolhas, não foi obrigada, então, seu jogo de
resistência ao casamento está me deixando cansado.
— Eu aceitei porque você ameaçou destruir a vida dela! Além da
empresa do meu pai, que vem de gerações, e não me diga que tinha escolhas,
eu não tinha.
— Sempre temos escolhas, Aurora, a vida é feita delas.
— Será mesmo? Eu gostaria de escutar por que escolheu ter um
casamento de conveniência quando poderia ter a mulher que quisesse —
desafiei-o, querendo saber qual era o plano dele para nossa família, pois,
tinha certeza que não era nada de bom. — Por que não me diz a real razão,
Rafael?
— Você fala de amor? Que eu poderia ter escolhido uma boa mulher e
me casado com ela?

— Por que não?


— Eu sempre tive minha esposa escolhida.
— O que quer dizer com isso?
— Nada que queira saber, Aurora. Por que não vai fazer suas malas?
Temos uma lua de mel para ir.
— Não posso viajar, Rafael, tenho reuniões amanhã na Pontes, tenho
responsabilidades na empresa, não posso fazer uma viagem sem
planejamento. — Tentei ser racional. Primeiro, porque eu falava a verdade.
Segundo, eu não queria ir para a lua de mel no mesmo lugar que minha irmã
havia planejado.
— Podemos adiar a lua de mel, mas ainda vamos morar sob o mesmo
teto, quero que esse casamento seja real — disse ele.
— Quão real? Bianca disse que vocês concordaram com um
casamento conveniente literalmente — falei, tomada de ansiedade. Por que
diabos ele estava mudando as regras comigo? — Por que está mudando as
regras?

— Por que eu quero.


— Assim? Do nada, sem me perguntar se concordo? Se eu quero isso

com você? Eu não me sinto casada e nem pretendo consumar esse


casamento, Rafael — assegurei sem hesitar. Eu não seria a segunda opção,

mesmo que eu sempre senti essa atração infeliz por ele, não podia deixa-lo
pensar que eu era a garota reserva e de fácil manipulação.

Embora tenha concordado com seus termos.


— Já que falou nisso. — Ele enfiou a mão no bolso e tirou uma caixa

de joia e caminhou até parar perto de mim, abrindo-a para me mostrar um


anel de diamante de corte princesa, meio exagerado para meu gosto, mas

muito bonito, eu tive de admitir. — Uma noiva Lamartine tem de ter um anel
à altura.

— Meio exagerado, não acha?


— Aurora, eu quero que todos saibam que você me pertence —
retrucou ele, com voz rouca que envolveu cada um dos meus neurônios,

fazendo-me desejar que tudo fosse real. Mas chamei a realidade de volta e

recordei que tudo era uma farsa.


Rafael e esse casamento eram uma farsa. Repeti mais uma vez na

minha cabeça.
Eu era apenas a noiva substituta.

— Qual a razão de querer casar com uma de nós? A verdade, Rafael,


sei que há um motivo por trás de seus atos — indaguei, com verdadeira

curiosidade.
— Aceite o anel, Aurora. — Ele segurou minha mão nas dele,

empurrando a joia, que coube perfeitamente, no meu dedo. — Eu já disse


qual a razão, mas vou repetir, eu precisava de uma esposa. Ainda há a crença

para os homens de negócios, conservadores, que se tivermos uma boa


mulher ao nosso lado, fará de nós homens confiáveis. A velha guarda.

— Por que não acredito em você?


— Não devia preocupar sua cabecinha com isso. — Ele segurou meu

pescoço por trás e me puxou para aperto dele, o movimento me surpreendeu


quando bati em seu peito duro. Minhas mãos automaticamente foram para

frente e minhas palmas ficaram espalmadas em seu peito. Oh, Deus! Ele vai
me beijar? Meu pulso acelerou numa mistura de emoções contraditórias. Um
lado meu desejava que ele fizesse mais que me beijar, e o outro queria

empurrá-lo com força para longe de mim. Nossos olhos se fixaram um no


outro e eu senti a eletricidade atravessar o ar entre nós. Meu coração

palpitava freneticamente enquanto dois lados duelavam entre si.

Razão e emoção.
Ele tirou a decisão das minhas mãos quando se abaixou e seus lábios

bateram nos meus e senti como se uma bola de demolição me atingisse,


tirando o ar do meu pulmão. Sua boca me reivindicando, sua língua exigindo

minha rendição, e eu cedi por um momento ao prazer quente e grosso que


corria por minhas veias, que parecia expandir em cada célula do meu corpo.

Gemi quando ele sugou minha língua em sua boca, e foi intensificado
quando senti o cume grosso de sua ereção cavando em minha barriga

— Não. — Empurrei seu peito com força, saindo de seu agarre, seus
olhos famintos estavam ardentes e pura luxúria brilhavam neles. — Eu não

vou ser a substituta de outra mulher na sua cama, Rafael, no altar até
aguentei, mas sou melhor que isso. — Ou era o que estava dizendo a mim

mesma. Sentia-me fraca com apenas um beijo e nem tínhamos passado vinte
e quatro horas juntos ainda. Estava perdendo o controle da minha vida toda

certinha e correta, que eu seguia fielmente.


— Do que você está falando? Que porra de substituta? — exigiu.
— Não faz nem vinte e quatro horas que você estava noivo de outra
mulher e, ainda por cima, minha irmã. — Joguei as palavras com raiva. —

Você a queria e agora acha que devo tomar o lugar dela na sua cama

também? Melhor pensar de novo, marido!


Ele riu e vi a diversão genuína em seus olhos. Que bom que ele achava

engraçado, para mim nada mais tinha graça desde que tive de assumir o
lugar de Bianca ao lado dele naquele altar.

— Aurora...
— Não — interrompi-o, levantando o queixo. — Eu vou morar com

você, se isso faz bem para seu ego idiota, mas não vai durar para sempre, na
primeira oportunidade irei sair de sua vida. — Continuei tentando impedir

que uma lágrima teimosa caísse na frente dele. — Quem sabe, talvez Bianca
se canse de Lucca e dê uma nova chance para você?

— Lucca?
Oh, não! Ele ainda não sabia quem era o homem que Bianca estava.

Merda! Nunca fui de falar muito e estava revelando os segredos de Bianca


sem querer. Culpa desse homem exasperador.

— Vou fazer as malas — disse, já seguindo para o meu quarto, mas a


voz dele me parou.

— Então ele é o homem por quem fui deixado no altar? Interessante.


— Espero que você os deixem em paz. — Virei-me para ele e seus

olhos estavam fixos em mim.

— Depende de você, Aurora. — Sua voz é baixa, com um toque de


ameaça.

— Já fiz muito por você...


— Não fez nada por mim, fez por seu pai, pela empresa, não queria

que minha empresa retirasse os investimentos, não quer falir, senhorita


Pontes, por isso se sujeitou ao meu pedido ontem. — Ele listou todos os

pontos com uma frieza que fez meu pelos levantarem. — E se quiser que
tudo continue assim, vai fazer mais por mim.

— Você continua dizendo isso — retruquei, com audácia.


— Vai depender de você que sua irmãzinha traiçoeira continue seu

romance. Vai ser uma boa e dócil esposa para mim. — Ele sorriu, com
malicia.

— Você vai cansar de esperar esse dia chegar, Rafael. Eu nunca serei
uma dócil esposinha de merda para você — afirmei categórica.

— Eu pensei que tinha casado com uma dama da alta sociedade que
não falava palavrões, terei de devolver a mercadoria danificada? —O idiota

estava se divertindo as minhas custas.


— Faça isso, desfaça esse mico de circo que foi esse casamento. —

Dei a ele um sorriso inocente.


— Agora temos uma lua de mel para ir. — Ele ignorou minha
resposta, olhando seu relógio caro como se eu não tivesse falado nada.

— Nunca estive tão empolgada — ironizei.

— Eu também, amor. — Ele piscou aqueles olhos sedutores para mim


e eu quis pegar alguma coisa para jogar em sua cara cínica.

Fui para o quarto pisando duro, como uma adolescente rebelde, nunca
tinha me sentido tão infantil na vida. Rafael poderia me deixar louca antes

que esse casamente falso terminasse.


07

Eu nunca fui à casa de rafael antes, eu sabia que ele morava em uma
mansão imponente, pois, Bianca havia comentado. A casa era realmente
enorme, eu me perguntava por que um homem solteiro precisava ter uma

casa daquele tamanho. A casa era de dois andares, com colunas brancas e a
entrada suntuosa.

— Deve ser para abrigar o ego gigantesco — resmunguei para mim


mesma.
— O que disse?

— Nada, apenas constatando um fato sobre egos gigantes e seus donos


megalomaníacos — disse quando ele parou o carro em uma das garagens.
Era madrugada, mas a casa estava toda iluminada. — Sua conta de luz deve
vir uma fortuna.
— Não se preocupe, eu posso pagar pela manutenção da minha casa,
nossa casa, agora, querida — disse ele, em um tom de deboche, saindo do
carro. Eu não esperei que ele abrisse a porta para mim, apenas saí.

— Desperdício! — resmunguei, mais uma vez, quando fiquei em pé


ao lado do carro. Ele pegou a minha mala no porta-malas do carro e depois
veio em minha direção, colocando a mão na base de minhas costas, guiando-
me para a porta branca elegante.
— Eu entraria com você no estilo noivo na sua casa nova, mas tenho a

impressão que você prefere a forca — debochou ele, mais uma vez. Que
bom que eu divertia meu marido de araque.
— Impressão corretíssima.
Ele riu e o tom rouco e profundo mexeu com algo dentro de mim, eu

queria socar sua boca sexy e beijá-lo ao mesmo tempo.


A casa elegante e luxuosa de piso de mármore claro ganhou minha
aprovação. A decoração minimalista dos móveis, obras de artes nas paredes
e um lustre lindíssimo me deixou encantada. Achei que encontraria tudo
exagerado na decoração, já que a casa parecia grande demais por fora. Mas
ali dentro, apesar de parecer que não morava ninguém, era tudo muito
simples, porém de bom gosto e requinte.

— Eu te levaria para um tour pela casa, mas precisamos descansar,


Aurora — disse e apontou para suntuosa escada, também de mármore. —
Teremos tempo para isso depois.

Ele tinha razão. Eu me sentia exausta e àquela hora era para estarmos
dormindo, se eu não tivesse fugido do hotel como uma menininha
amedrontada. E, ainda por cima, ele teve de fazer valer sua vontade e vir
atrás de mim. O dia foi longo demais e cada minuto dele estava pesando em
meus ombros.
— Mostre-me meu quarto — disse, com resignação, mas temerosa que
ele sugerisse que dividíssemos o mesmo quarto. Eu não faria isso.
Ele não discutiu, apenas começou a subir as escadas comigo o
seguindo.

— Como você mantém essa casa? Tem funcionários?


— Sim, tenho um chefe de cozinha, uma governanta e outros
funcionários que Joane contrata, ela quem cuida dessa parte — disse ele,
virando à direita no topo da escada e começando a subir outro lance de
escadas. — Esse é o primeiro andar, onde ficam os quartos de hóspedes —
informou, subindo para o segundo andar da casa. — Esse segundo andar foi
feito para a ala familiar. No lado esquerdo ficam os quartos para os meus
futuros filhos e do lado direito é a suíte principal.
Não queria imaginar Rafael como pai, isso faria minha cabeça

explodir. Ele seguiu para o lado que dissera ser a suíte principal.
— Eu prefiro ficar no primeiro andar, Rafael. — Não saí do lugar
— Aurora, esse casamento será real — disse contundente. — Não
acredite por um minuto sequer que ele será falso, vamos dormir no mesmo
quarto.
— Eu não vou dormir com você — disse enfurecida.
Ele simplesmente se dirigiu para o quarto sem retrucar minha posição.
Eu o segui porque não me restava outra saída. Ele abriu uma porta dupla e a
visão da suíte era espetacular. Enorme e espaçosa, marcada no centro por
uma cama super king. Esse homem definitivamente tinha um ego maior que
o mundo. Quem precisava de tanto espaço para dormir? Talvez ele fizesse
orgias semanalmente, pois o lugar abrigaria dezenas de pessoas.
Ele colocou a mala no chão e virou-se para mim.
— Bem-vinda, Aurora! — Ele sorriu satisfeito. — O banheiro é ali. —
Apontou. — Não se dê ao trabalho de desfazer a mala, vamos viajar em lua
de mel amanhã.

— Já disse que não posso!


— Claro que pode!
— Não vou ao lugar que ia levar minha irmã. Você é doente?
— Apesar de você achar que sou um insensível, eu não a levarei para
onde Bianca e eu íamos. Na verdade, não planejei a lua de mel com ela —
disse e começou a desabotoar a camisa enquanto eu continuava na porta da
suíte. Meu coração batia descompassadamente. — Por essa razão que não
estamos em um avião agora, Aurora. Eu adiei para amanhã às treze horas.
Pegaremos um voo.
— Para onde nós vamos? — questionei.
— Surpresa. — Ele olhou para onde eu ainda estava parada. — Agora
entre logo nesse quarto. Porque, se não fizer isso em um minuto, eu irei fazer
algo a respeito e você não vai gostar — disse, retirando a camisa. O dorso nu
musculoso atraindo meu olhar como imã.
Dei um passo para dentro, fechando a porta atrás de mim. Eu estava na
cova do leão e algo mexeu dentro de mim. Repúdio de mim mesma, desejo
insano por ele. Imagens de nossos corpos nus brilhavam na minha mente.
— Cuide de dormir um pouco, Aurora. Eu não vou pular como um
maníaco sexual em você, nem ataca-la em seu sono — falou, irritado —
Quando eu foder você, estará implorando por meu pau.
Suas palavras vulgares só pioraram as imagens em minha mente.

Caminhei até minha mala e a abri em busca de algo confortável para


dormir, não trouxe muita coisa, eu não planejava ficar muito tempo.
Peguei meu pijama de seda marfim e minha nécessaire de higiene
íntima e fui em direção a porta onde ele disse que era o banheiro. Esta noite
não acabaria nunca?
Depois de trocar de roupa eu protelei o máximo que podia no banheiro
que seguia a mesma linha de decoração, muito branco e dourado. Uma
banheira enorme e uma pia dupla de mármore Carrara abrangiam uma das
paredes. Encarei meu reflexo no espelho, respirando fundo algumas vezes,
meus olhos estavam grandes no meu rosto sem maquiagem, pareciam
topázios em meu rosto, as cores ambaradas claras estavam assombradas, mas
não de medo de que Rafael quisesse sexo. Estava ansiosa porque eu não
sabia o que faria se ele tentasse, eu não sabia se teria forças para resistir,
mesmo sabendo que algo estava errado com o casamento, além do fato de
ser uma farsa completa. Exalei todo ar antes de abrir a porta e voltar para o
quarto. Rafael estava deitado na cama com um dos braços dobrado atrás da
cabeça enquanto olhava na direção do banheiro. Ele estava vestido apenas
com uma boxer preta que só fazia enfatizar o volume que meus olhos
teimavam em admirar.
— Pensei que precisaria chamar o resgate — disse enquanto me

acompanhava com o olhar quando caminhei para o outro lado da cama e


deitei. Puxei o lençol até o queixo e apaguei a luminária do criado mudo ao
meu lado.
— Boa noite!
Ele riu e a cama mexeu quando ele se movimentou. Eu segurei a
respiração, mas ele não me tocou, apenas se levantou e seguiu para o
banheiro. Soltei a respiração e tentei relaxar, virando as costas para o lado
dele na cama, ficando mais na beirada possível, não queria a tentação de
tocar Rafael no meio da noite, Eu odiava que isso pudesse ocorrer durante o
sono, tinha o mal hábito de ser a pessoa mais inquieta à noite, sempre
amanhecia como se um tornado tivesse passado entre meus lençóis. Rezei
para que nessa noite eu ficasse no meu lugar, longe dele. Não demorou
muito para Rafael voltar. Senti a cama mexer quando ele deitou e depois o
escuro envolveu o quarto quando apagou as luzes. Eu fiquei de costas para
ele, não ousando virar de frente.
— Durma bem, Aurora. — A voz dele era baixa, rouca e sexy.

Fechei os olhos apertados e rezei para que o sono viesse logo.

A claridade me acordou e me estiquei debaixo das cobertas quentes,

eu queria ficar dormindo mais um pouco, ainda me sentia sonolenta. Abri


parcialmente um olho e me sentei rapidamente, esse não era meu quarto. A

luminosidade que vinha da janela me fez cair de volta no travesseiro e olhar


para o teto.

As lembranças do dia anterior vieram em enxurradas.


Bianca desistindo do casamento.

O casamento.
A falsa noiva, eu. Os motivos de Rafael em continuar com o
casamento e sua insistência para que eu dormisse ali com ele.

Os planos sórdidos para aquele casamento. Que eu precisaria

descobrir.
Por mais irônico que parecesse, eu dormi bastante apesar das

circunstâncias. Tentei olhar em volta, mas odiava a claridade pela manhã, eu


sempre dormia com as cortinas bem fechadas.

Quem diabos abriu as cortinas tão cedo? Um cheiro de café permeou o


quarto e levantei a cabeça, enfim, e vi Rafael sentado em uma poltrona perto

da janela. A luz nas suas costas fazia sombras em seu rosto. Ele estava me
observando aquele tempo todo?

Pelo jeito sim.


Estranho.

— Bom dia, bela adormecida! — disse, com uma nota de diversão na


voz. Ele tinha uma caneca preta nas mãos. O aroma de café no ar me fez

salivar de vontade de tomar uma xícara.


— Não disseram a você que é falta de educação abrir as cortinas no

rosto das pessoas? — perguntei mal-humorada, sentando-me na cama e me


recostando na cabeceira. Puxei o lençol até o queixo. — É madrugada.

— Já são quase onze horas, Aurora. Nós temos um voo e você precisa
se arrumar. — Ele levou a caneca aos lábios, olhando-me por cima da borda.
— Eu estava prestes a te acordar de uma maneira que iria te viciar.

— Passo. — Dei-lhe um olhar feio e ele riu. — Acho muito legal


divertir tanto você, Rafael. Eu não sabia que você gostava tanto de rir as

minhas custas

— Você tem esse efeito sobre mim, Aurora. Você diz coisas divertidas
— ele me deu um sorriso sexy —, mas é melhor se mexer.

A vontade de mostrar o dedo médio, como um moleque de rua, foi


grande, mas controlei o ímpeto e apenas lancei em sua direção um olhar

mortal. Levantei-me e caminhei para o banheiro.


Maldição! Eu não cancelei minhas reuniões que haviam para hoje.

Cinco minutos depois saí do banheiro e ainda o encontrei sentado e


pensativo na poltrona. Eu fui até a minha bolsa e peguei meu celular.

Jesus! Rafael consumiu todo meu juízo!.


— Você devia ter me acordado cedo, não avisei minha secretária sobre

essa viagem em cima da hora! — reclamei enquanto procurava o nome de


Celeste nos meus contatos.

— Eu cuidei disso, Aurora. Eu pedi que minha equipe cuidasse de


tudo, suas reuniões foram canceladas até última ordem.

Olhei-o estupefata, baixando meu celular do ouvido.


— Eu não acredito que está tomando decisões por mim sem meu

consentimento! — Mal consegui falar, com a raiva queimando tudo em


miim. — Você nunca mais assuma que pode se intrometer dessa forma em
meus negócios.

— Aurora — disse ele fria e tom cruel que fez meus pelos se

arrepiarem, eu não tinha medo dele, mas em alguns momentos eu tinha


sérias dúvidas se ele era um homem de boa índole. O que sabíamos de seu

passado? Nada. — Seu negócio é meu negócio, lembre-se disso.


Eu queria mandá-lo para o inferno, mas me contive, eu precisava me

controlar de falar o que pensava dele. Ele escondia algo e declarar guerra
agora seria uma jogada errônea. Eu precisava lembrar que ele tinha algo

contra os Pontes, e eu precisava saber o que era.


— Não importa.
08

— Você não vai dizer onde estamos indo? — perguntei pela milésima
vez a Rafael, mas a única resposta que recebia era a mesma, um resmungo

que em breve saberia.


Estávamos em um jato particular prestes a decolar e eu não sabia o

destino, odiava deixar decisões nas mãos de um homem que não confiava.
Olhei ao redor da aeronave, tudo era elegante em tons branco e creme, os

bancos em couro, os detalhes de madeira nobre, o lugar parecia uma sala de


estar e não um avião. Sentei à frente de Rafael, uma mesa ficava entre as
poltronas largas e confortáveis. Mais ao fundo havia uma mesa oval e depois
mais cômodos. Não sabia que Rafael possuía jato particular, mas o eu que

sabia sobre o homem que me casei? Parecia que nada. Só vimos aquilo que
ele quis mostrar, naquele tempo que entrou nas nossas vidas.
— Temos um quarto, se você quiser descansar depois da decolagem e
do nosso almoço — disse em um tom desapegado. Ele se manteve frio e
distante desde que saímos de sua casa. Nem o sorriso debochado, que ele

tinha dado algumas vezes no dia anterior, havia surgido hoje. Eu não sabia o
que ele estava pensando, tudo sobre Rafael era um enigma
Uma jovem elegantemente vestida veio nos oferecer uma bebida, os
olhos dela estavam em Rafael. Torci a boca com desgosto. Será que ele
transava com a funcionária?

— O que você prefere, Aurora? — Rafael perguntou.


Eu não tinha me alimentado ainda hoje, ele disse que almoçaríamos no
avião, e agora estava realmente com fome, mas não queria álcool no
estômago vazio, então preferi apenas um suco.

— Um suco — disse e ele levantou uma sobrancelha inquiridora para


mim.
— Pensei que os Pontes tomassem champanhe no café da manhã —
zombou ele, virando o olhar para a moça, assentindo. — Vou acompanhar
minha esposa.
Ela saiu nos deixando a sós e Rafael se encostou em sua poltrona
parecendo relaxado. Ele me olhava fixamente, como se estivesse me

analisando, seu dedo indicador roçando seu lábio inferior para frente e para
trás lentamente. Os olhos verdes escuros com as nuances amareladas, como
uma floresta em um dia ensolarado, com raios de sol se infiltrando no verde,

me mantinham prisioneira. A tensão no ar reverberou por toda cabine,


atingindo-me. A lembrança de seus lábios nos meus, como um ataque físico,
a memória do beijo ávido me fez estremecer e sentir os mamilos rígidos em
contato com a seda da blusa. Engoli em seco com o calor inesperado que
correu por todo meu corpo, o rubor em meu rosto anunciando minha
excitação. Com determinação, tentei frear a gama de luxúria e recusei-me a
ter minha raiva desviada da razão do casamento. Eu sempre estava
esquecendo aquilo em detrimento de desejo e atração fatal que ele sempre
despertava em mim.

A moça voltou e nos serviu o suco, mas os olhos de Rafael nunca se


afastaram de mim. Quando ficamos a sós novamente, eu desviei os olhos
dele e tomei um pouco da bebida refrescante, tentando subitamente esfriar
meu corpo da onda de calor e efeitos indesejados que o olhar devorador de
Rafael causava em mim. Limpei a garganta:
— Por que você odeia minha família? — Droga, eu não ia perguntar
isto, mas estava entalado na minha garganta desde que essa ideia surgiu na
minha mente. Ou melhor, depois que escutei sua conversa.
— De onde tirou isso, Aurora? — Ele não se abalou com minha

pergunta, só me olhou ainda mais intensamente. — Não odeio ninguém.


— Escutei uma parte da sua conversa com Christian. — Agora não
tinha mais motivos de esconder que sabia algo. Eu era uma péssima detetive.
— Você disse que vai derrubar o... como disse? — Fingi pensar. — Nos
derrubar do nosso pedestal burguês.
Ele sorriu como se achasse tudo muito engraçado, mas o riso não
chegou aos seus olhos. Que continuavam duros, frios e sem emoção.
— Você não deveria escutar atrás das portas, querida. — Ele se
inclinou e pegou seu copo, tomando um pouco do suco. A voz do piloto veio
pelo-alto falante nos avisando para nos preparar para a decolagem.
Depois que estávamos no ar, eu continuei.
— O que você quer com nossa empresa? Sua empresa é mais valiosa
que a nossa hoje em dia...
— Eu preciso de uma esposa bem-nascida e você serve — disse
banalmente, como se eu fosse algo qualquer, sem muita importância. Eu

achei estranho, mas quem era eu? Eu também era uma pessoa pragmática,
fazendo o que tinha ser ser feito. — O sangue azul de sua família é o que me
interessa, Aurora.
Quem falava assim hoje em dia?
Eu achava que era mais que aquilo, mas por que ele precisava de nós
especificamente?
— Há outras famílias com muito mais sangue azul que a nossa.
— Elas não têm você. — Ele me olhou com olhos ardentes e intensos.
O mentiroso, cara de pau, bajulador, isso, sim, que ele era.
— Sério? Até ontem era de minha irmã que você estava noivo. — Dei
a ele meu olhar mais mortal.
— Sua irmã era a escolha mais fácil, já você.... — Ele deixou no ar,
dando a entender que eu era uma escolha ruim?
Infeliz depravado.
— Sou o quê? Não sou uma marionete conivente? Uma tonta? — Não
que Bianca fosse uma tonta, ela só queria aproveitar a vida, diferente de mim
que era mais contida. Eu era meio que o oposto de minha irmã. Eu vivia para
trabalhar e trabalhar, ela queria curtir a vida plenamente. Apaixonar-se,
curtir sem a preocupação de uma carreira na nossa empresa. Ela tinha
sonhos, sim, mas sem as neuras exigentes que eu me permitia. Eu queria
assumir a Pontes um dia quando nosso pai se aposentasse. Ela não tinha esse

intuito, ou assim ela deixava transparecer.


— Não sou seu inimigo, Aurora — disse, relaxando na poltrona. —
Eu realmente gostaria que tivéssemos um casamento pacífico.
— Ameaçar uma mulher para casar com você, vai contra essa ideia,
Rafael — falei com evidente amargura na voz. Eu odiava ser a substituta no
jogo que ele estava jogando.
— Eu precisava de uma noiva e você estava bem ali, quem mais
poderia assumir o papel de noiva naquele momento?
— Você é nojento! — Queria dizer coisas piores para ele, mas
controlei minha língua.
— Por quê? Por pegar o que quero sempre?
— Por não pensar em nada além de seus planos escusos — retruquei
de mau humor. — Nas pessoas que machuca em seu caminho.
— Um homem decidido, Aurora, não pede permissão.
— No meu dicionário isso se chama brutalidade, arrogância —
enumerei em meus dedos, com ênfase.
— Tanto faz.
— Vou deixar algo bem claro. Eu não serei a esposa que você
imaginou.

— E como acha que a imaginei, Aurora? Diga-me.


— Provavelmente alguém dócil e obediente, achando que você é um
deus, um presente caído do céu.
— Eu morreria entediado com uma mulher assim — disse, sem se
abalar. — Sua irmã fez um favor para mim quando resolveu cair fora. Vejo
agora que irei me divertir muito mais com você, vou adorar cada minuto
domando você.
Ele certamente estava brincando comigo. Ele tinha um canto da boca
levantado em diversão enquanto me observava, claramente esperando que eu
fizesse uma cena. Eu não reagi, reagir era o mesmo que abanar um pano
vermelho na sua frente em desafio, para ele fazer exatamente aquilo. Tentar
me domar? Bom, ele ia ficar querendo.
Homens das cavernas não tinham vez comigo, talvez no quarto eu
preferisse que os homens tivessem uma pegada pesada, mas no dia a dia? Eu
gostava de igualdade.

Dei de ombros como se suas palavras não me afetassem em nada. Eu


poderia jogar o jogo dele e tentar cair fora daquela armadilha de casamento o

quanto antes, mas não antes de descobrir quais eram os motivos dele em
querer tanto aquela união.

— Faça o que você quiser, Rafael.


Fiquei confortável e peguei um livro para ler na minha bolsa. E

ignorei meu marido pelas próximas horas de voo.

Eu queria odiar Rafael naquele momento, mas o sorriso nos meus

lábios trouxe sentimentos opostos. O Sul da França seria minha próxima


viagem quando eu resolvesse tirar férias. Eu vinha planejando por mais de
seis meses, pena que a experiência agora tinha uma sombra. Eu não havia

falado para ninguém, só tinha feito algumas pesquisas ao longo dos últimos

meses sobre hospedagem. Estava deixando para o começo do próximo ano.


Como Rafael sabia daquilo, estava além de mim. Mas fiz uma anotação

mental para descobrir depois como ele tinha acesso a coisas particulares
sobre mim.

Ele me espionava? Era a única explicação, pois eu nunca comentei


com ninguém, apenas tinha feito algumas pesquisas online.

— Como você sabia que eu desejava conhecer o Sul da Franca? —


Virei-me para ele, curiosa, chegando ao pé da escada do avião. Droga! Eu

estava descobrindo que quando eu pensava em algo que investigaria, eu me


via verbalizando segundos depois.

Deus! Ele me desestruturava completamente, deixava-me zonza e


cometendo tolices.

— Talvez a escolha seja um desejo meu — respondeu, mas não


acreditei. Ele fez muito segredo sobre o destino para ser apenas um lugar

aleatório.
— Você anda me espionando? — Eu não havia dito para ninguém que

queria passar as férias na Côte d’Azur, que era onde estávamos agora depois
de horas intermináveis de voo. Estava exausta, eu não tinha descansado nada
no voo e Rafael também tinha trabalhado em seu laptop quando o ignorei e

comecei a ler. Além da pouca interação na hora que serviram a comida, mal
nos falamos.

— E se estiver? — Ele me perguntou, por fim.

— Eu não entendo você. — Eu não imaginava que ele prestasse


atenção em mim, depois daqueles primeiros encontros que tivemos e do

interesse que ele pareceu demonstrar. Contudo o casamento com Bianca foi
firmado e tentei eliminar qualquer vestígio de nossa atração, que para mim

tinha sido intensa desde o início.


— Não tente, Aurora, é um trabalho árduo.

— Eu planejava minhas próximas férias aqui e não comentei com


ninguém. Isso é meio assustador, até para você — disse, com uma falsa

carranca. Eu não estava conseguindo ficar com raiva dele. Eu sabia que ele
tinha feito aquilo por mim, apenas sabia, e isso fazia algo em meu coração.

Um simples gesto que ia de encontro ao homem que ele queria passar para
mim desde nosso casamento forçado. Ele deixava no ar uma ameaça a minha

família e logo em seguida era atencioso comigo.


Ele riu.

— Eu apenas presto atenção nas pessoas, Aurora. — Aquilo era mais


do que prestar atenção ao redor.

— Bizarro.
— Não tem nada de bizarro, apenas vi vários folhetos de viagem em
sua mesa na empresa e, de outra vez, você estava pesquisando em seu celular

— revelou e eu não sabia se acreditava. — Sou apenas observador.

—De qualquer forma, obrigada.


Eu poderia ser gentil com ele por um momento. Ele alugou um iate

para ficarmos hospedados em vez de um hotel. Um maldito barco enorme


com uma tripulação que consistia em um capitão, um chefe e um tipo de

mordomo que estaria a nossa disposição vinte e quatro horas. Rafael me


levou à cabine principal dizendo para ficar com aquela que ele ficaria em

uma das outras duas cabines que haviam ali.


—Não tenha ideias de vir para cá no meio da noite — falei, jogando

minha bolsa na cama king size que dominava o ambiente. — Eu estou fora
dos limites, Rafael.

—Sabe, esposa, você está sempre falando isso, estou começando a


achar que está preocupada consigo mesma, vindo para minha cama — disse

cinicamente, com diversão em seus olhos. — Não faço segredo que a


aceitaria a qualquer hora, ontem à noite você estava perfeita nela.

—Não estou preocupada comigo, apenas deixando as coisas claras


aqui — enfatizei. Eu também estava dizendo isso a mim mesma. Rafael me

atraía, eu fantasiei com ele desde que o conheci, então também era um
lembrete para mim. Eu não sabia como iria resistir a ele durante nosso
casamento. — Por que a separação hoje, se ontem você fez tanta questão de

dormirmos no mesmo quarto?

—Vou lhe dar uma trégua, mas não fique muito confortável. E
também não gosto de dormir com um bloco de gelo.

Eu estava agradecida por ele pensar assim, mesmo eu dizendo que


estava fora dos limites, certamente não acharia ruim se ele fizesse amor

comigo. Só não estávamos fazendo isso porque eu era orgulhosa.


—Eu vou tomar um banho, se você me der licença? — falei,

ignorando seu comentário de propósito.


—Vamos jantar no convés, assim que estiver pronta venha se juntar a

mim. — Ele me jogou um daqueles sorrisos irresistíveis e saiu, deixando-me


meio abobalhada no meio da cabine de luxo.

Ele tinha mudado de ideia sobre dormirmos juntos? No fundo eu


morria de curiosidade, merda! Eu nem sabia o que queria dele, um mar de

indecisão me tomou desde ontem quando ele exigiu que nos casássemos.
Batendo mentalmente em mim mesma, fechei a porta por precaução e

tirei minhas roupas, indo para o banheiro. Depois de me vestir com um


vestido branco, curto, de alças finas e maquiagem apenas para destacar meus

olhos de gata, como Bianca dizia, espirrei um pouco de perfume e fui atrás
do meu marido. Esse termo era estranho para mim ainda. Eu não sabia se me

acostumaria.
Encontrei Rafael, não no convés superior do iate, como ele sugeriu,
mas no salão principal que ficava um nível abaixo. Ele era lindo, seus

músculos arredondados dentro da camisa. Estava escorado na mureta de

proteção com a postura relaxada, observando-me caminhar em sua direção.


Seus olhos eram provocantes, encontrei seu olhar e nos encaramos sem

piscar. Ele não se incomodou em tentar esconder a fome nas íris verde-
escuras que pareciam negras naquele momento. Não tive dúvidas do que ele

queria, só não entendia por que ele não me escolheu em primeiro lugar.
Devia estar parecendo recalcada de ciúme da minha irmã. Mas era esquisito

saber que, se não fosse por Bianca fugindo daquele casamento, ele estaria ali
com ela. E aquilo me incomodava sobremaneira.
09

—Você está linda — disse ele galantemente quando parei há pouco


passos dele. Ele caminhou até a garrafa de champanhe que estava

descansando em um balde na mesa e serviu uma taça, entregando-me em


seguida. — Estive pensando... — Sua voz era baixa, grossa e sexy, feita para
seduzir jovenzinhas desavisadas, e mulheres também, pois me prendia em

cada sílaba que saía de sua boca pecaminosamente sexy.

— Ah, você pensa? — provoquei em tom debochado.


— Mais do que você possa imaginar, deliciosa esposinha. — Ele
correu os olhos por todo comprimento do meu corpo. — Imagino muito
também.

— Asqueroso. — Era apenas minha bravata falando e não deixando


que ele percebesse minha paixão secreta inconveniente. Imagens dele se
tocando, pensando em mim, faziam meu rosto vermelho escarlate.
— As irmãs Pontes não estão inspirando confiança, então, estou
acrescentando ao nosso contrato que esse casamento seja consumado o
quanto antes, sem espera — disse com tanta casualidade que me chocou.

— O quê?
— Quero consumar esse casamento, amor, antes que você possa
inventar algo que o anule. — Ele estava brincando, certo? Porém mesmo
achando um absurdo sua ousadia em mudar as regras, eu não deixava de
imaginar vividamente Rafael Lamartine em uma noite movendo minhas

roupas lentamente do meu corpo sedento, enquanto deixava um rastro de


beijos sensuais por cada parte descoberta. Ele segurando meus cabelos com
força e beijando-me indomavelmente, tomando meus lábios nos dele com
aquela fome que eu via em suas íris escuras, deslizando seus dedos entre

minhas pernas e tocando nos lugares que latejavam incessantemente agora


mesmo. Apertei minhas unhas na palma da mão para apagar aqueles
pensamentos libidinosos e traiçoeiros de minha mente.
Não.
—Você não pode mudar a regra no meio do jogo a cada hora, Rafael.
— Eu me vi gaguejando não sabia se de indignação por ele querer mudar de
ideia, duas vezes, em tão pouco tempo, ou pela excitação correndo por mim.

Ele estava me deixando louca.


— Tanto posso como farei, o que me garante que assim que voltarmos

de viagem você não alegará isso para que haja uma anulação? — Tomou o
gole de sua bebida. — A sua irmã me deixou no altar, Aurora. O que posso
ter de garantia, caso você tenha seus próprias planos escusos como sua irmã?
— Eu...
Ele tinha um ponto, mas consumando ou não o casamento, eu poderia
fazer o que quisesse se estivesse preparada para nossa empresa falir em
breve com a falta de seus investimentos. — Minha palavra terá de bastar.
— Eu devo confiar? — Os lábios de Rafael se encolheram em um
sorriso sarcástico. — Não sei, Aurora. — Ele mesmo respondeu a própria

pergunta. — Quando disse mais cedo que iria dar uma trégua, algo me veio à
mente e não gostei da ideia de você fazer igual sua irmã. Por que esperar se
podemos tirar isso do caminho?
O mordomo nos interrompeu, dizendo que nosso jantar seria servido
no convés superior. Rafael me guiou para lá, sua mão na base da minha
coluna causava sérios danos a minha mente. Calor irradiava de onde suas
mãos estavam tocando minha pele. A mesa estava posta lindamente e Rafael,
galante, puxou uma cadeira para mim.
—Obrigada. — Eu dei um sorriso educado e o mordomo serviu vinho

nas taças. Depois de nos servir o primeiro prato, nos deixou a sós. Peguei o
copo de vinho e bebi um gole do líquido encorpado, olhei pra Rafael por
cima da borda e o encontrei também me olhando com interesse.
—O quê?
—Podemos sair, se quiser. — Ele apontou as luzes da costa ao longe
— Diversão é que não falta por aqui — disse, pegando uma porção em seu
prato e levando à boca.
—Eu pretendo me divertir, mas hoje eu prefiro ficar aqui, a vista é
maravilhosa — falei. — Quanto tempo ficaremos?
—Três dias apenas. Tenho um encontro de negócios importante para
uma nova fusão que não pude adiar— disse ele. — Depois voltaremos, se
você quiser, ou poderemos ir a qualquer lugar que você queira.
—Você está sendo muito gentil, Rafael, mas não precisa. — Dei a ele
um sorriso doce. — Não sei você, mas não levo muito a sério nem a longo
prazo esse casamento.

—Eu levarei esse casamento até onde quiser, Aurora, e tenho certeza,
a cada minuto que passa, de que devo realmente consumá-lo.
— Eu disse a você que queria essa cláusula acrescentada. —Tentei
levantar e deixá-lo lá, com sua perversão.
—Sente-se, Aurora. — O comando me fez obedecer automaticamente,
depois me lembrei de que ele não era dono da minha vontade nem do meu
livre arbítrio.
—Não sou um cachorro cuja ordem devo seguir a cada vez que abrir a
boca, senhor Lamartine. E certamente terá que me forçar a consumar o
casamento.
—Ah, Aurora você é refrescante. — Ele se recostou na cadeira e me
analisou abertamente, cada parte minha estremecia com sua avaliação
sensual. Jesus! Ele devia ter percebido que eu falava uma coisa e pensava
outra, pois era evidente sua diversão sobre minha recusa veemente de não
temos um relacionamento sexual. — Eu nunca precisei fazer isso, forçar
uma mulher. Qual a graça de pegar o que não foi dado de livre vontade?
— Diga-me você, que diz que quando quer algo, apenas pega —
desafiei-o.
— Eu faço, mas sexo não é uma delas. Há coisas que para ser
apreciadas tem de ser dadas, Aurora, e quero que você se dê para mim.
Ri alto, minha risada ecoando no ar, sendo levada pelo vento do

litoral.
— Rafael, eu não sei de onde você tirou a ideia que eu queira dar algo
para você — debochei, mas por dentro estava trêmula. — Eu não estava
desesperada para casar igual você, sinto dizer que satisfazê-lo, está fora da
minha lista de prioridades.
— Hmmm, eu vejo.
— Que ótimo. — Eu continuei a comer e tentei ficar calada, e ele
também, mas seus olhos não me deixaram nem por uns minutos. Era
enervante.
—O que você quer de mim, Rafael?
—Nada que você não possa me dar. — Ele sorriu — E se eu não
estiver engando, você não é contra a ideia.
Ele estava certo, eu não era contra a ideia. Na verdade, eu queria fazer
isso tinha tempo, mas como sempre eu colocava as prioridades de outras
pessoas na frente dos meus desejos. Quando ele escolheu Bianca para casar,
eu o coloquei na categoria de cunhado e não pensei nele mais nesse sentido,
ou assim eu pensava, agora que podia, era como se ele ainda fosse noivo da
minha irmã. Algo me impedia de ceder a ele. Parecia errado, de alguma
forma.

— Quando eu te foder, Aurora, será a única coisa que desejará.


— Presunçoso, não? — Sua declaração vulgar me irritou e excitou na
mesma medida.
— Presunção ou não, eu sempre consigo o que eu quero, esposinha.
—Odeio esse apelido idiota — resmunguei.
Ele não se dignou a responder, era enervante pra caralho!
Procurei um assunto para mudar o foco da nossa conversa e disse:
—Por que não foi criado no Brasil, Rafael? — perguntei, querendo
conhecer mais o homem com quem me casei. Se eu não estivesse olhando
para ele, teria perdido a emoção que passou por suas feições, elas ficaram
escurecidas e seus olhos perderam o brilho. Um olhar hostil enfeitou seu
rosto. A conversa que escutei dele com Christian veio à mente, eu estava
sempre esquecendo que ele tinha um motivo escuso para aquele enlace.
Rafael odiava os Pontes, eu não tinha dúvidas, mas por quê?
— Mudando de assunto, amor? — debochou e eu queria acertar sua

cara cínica.
— Não, apenas querendo conhecê-lo. Não acha normal conhecermos

um ao outro?
— Eu conheço você, Aurora Lamartine.

— Meu sobrenome é Pontes — corrigi. — E não, você não me


conhece, Rafael. Talvez você conheça a presidente da Pontes, mas a pessoa,

poucos conhecem.
— Talvez eu queira chamá-la assim, eu gosto do som do seu nome

junto ao meu sobrenome. — Ele me deu aquele seu olhar divertido que
estava começando a reconhecer como parte dele. — E sobre conhecê-la, eu

posso saber mais do que você imagina.


Pouco provável, mas não vou deixá-lo se safar assim das minhas

curiosidades.
—Você não respondeu à pergunta — lembrei, tentando retomar o
assunto, pois ele estava fazendo de tudo para me provocar.

—Bem, se me lembro, um homem destruiu a vida da minha mãe e tive

de ir morar nos Estados Unidos com minha tia que era casada com um
americano — contou, olhando-me atentamente, suas palavras eram cheias de

desprezo cortante. —Paul e minha tia Letícia me criaram desde meus oito
anos de idade.

— Onde sua mãe estava? — perguntei, curiosa.


— Morta. — Sua voz saiu em um tom de raiva, deixando-me com um

sentimento ruim. — Ela tirou a própria vida porque não sabia como viver
depois de ser enganada e ludibriada por um homem mais velho e casado.

Deus do céu.
— Sinto muito — falei, sem saber o que dizer para ele.

— Já faz muito tempo — disse, com falsa displicência, bebendo o


vinho e fazendo uma careta para a taça com desgosto. — Preciso de outra

bebida.
— E seu pai? — Não deixei o assunto terminar.

— Nunca o conheci, minha mãe nem falava dele. — Ele sorriu sem
humor. — A única vez que lembro de tê-la questionado, ela disse que ele era

um inútil que doou seu esperma e foi embora. E minha tia Letícia disse que a
única coisa que sabia dele é que teria sido morto por causa de drogas, ou

algo assim.
—E o homem que você diz que foi a causa da sua mãe...você sabe.

—Eu mataria o desgraçado se eu pudesse e se vivêssemos em outro

tipo de sociedade que tolerasse fazer justiça com as próprias mãos. — Eu


acreditei seriamente nele, seus olhos raivosos não deixaram dúvidas de seu

ódio pelo tal homem. — Para falar a verdade, Aurora, ele será surpreendido
em breve.

—Você sabe quem ele é? — Eu não sabia o porquê da minha


curiosidade, mas tinha vontade de conhecer mais Rafael, saber que tipo de

homem ele era.


— Claro que sei quem é o bastardo, uma hora eu o farei pagar.

— Não pode estar falando sério, Rafael, não mataria alguém, mataria?
— Eu não sujaria minhas mãos com o sangue asqueroso dele, mas têm

outras formas de fazer alguém pagar, Aurora.


— Então você quer se vingar?

— Eu quero muitas coisas, e uma delas, agora, seria levá-la para


minha cabine e despir você inteira. — Percebi que ele estava tentando me

distrair de nossa conversa, mas insisti.


— Como se tornou um homem bem-sucedido? Não me pareceu que

você nasceu com dinheiro.


— Eu não, minha mãe era uma empregada doméstica, ela trabalhou
por anos para uma família abastada daqui. — Ele trincou os dentes, seu olhar

de nojo. — Um dia ela foi demitida e fomos para a casa de minha tia Letícia,

eu odiava ter de morar em um lugar que desconhecia a língua. Eu fui criado


em um colégio de elite, aprendendo inglês e logo comecei a falar, mas era

uma das coisas que detestava no começo.


—Deve ter sido duro. — Estiquei a mão sobre a mesa para tocar a sua.

Ele ficou olhando para nossas mãos por um momento e depois pegou sua
taça, desfazendo nosso contato. Ele se afastou deliberadamente?

— Quando perdi mamãe, minha tia e seu marido me adotaram


legalmente, cresci como filho deles e herdei os negócios de Paul, quando ele

faleceu de câncer há dez anos, mas já trabalhava com ele desde minha
adolescência. Eu nunca quis ser um fardo para eles, eu queria trabalhar, me

tornar um homem. Comecei entregando correspondências em sua empresa e


estudando até conquistar as posições altas, entretanto iniciei meu próprio

negócio de investimento e quando ele morreu, deixando-me a empresa, eu a


vendi. Claro, não era só minha, tia Letícia era a viúva, mas herdei o controle.

Como eu já tinha minha empresa para comandar, resolvemos vendê-la.


— O que não entendo é você ter voltado para o Brasil.

—Eu só achei o mercado brasileiro promissor, Aurora. Nada escuso.


Meu principal negócio ainda está na América. Mas o Brasil? Eu tenho algo
inacabado ali, enquanto resolvo, vou fazendo negócios.

Eu não sabia por que estava me abrindo para a neta de Abner Pontes,
de todas as pessoas do mundo, sobre minha vida particular. Eu não era

conhecido por esse fato, falar do passado. Falar de coisas dolorosas era como
abrir a caixa de pandora dos sentimentos ruins que eu tinha relacionado a

família Pontes, em específico ao Pontes mais velho. Se eu fosse sincero


comigo mesmo, assumiria a vontade que me tomou quando vi Pontes pela

primeira vez. O meu acerto de contas com ele era insatisfatório, pois quando
coloquei meus planos em movimento, ele já não estava mais na empresa, não

era mais o mandachuva. Eu ainda poderia fazê-lo suar, levando o nome


Pontes à lama e sua neta preciosa sentir o gosto do desprezo que ele fez

mamãe passar. Eu poderia agora sujar sua netinha querida, e ele nada poderia
fazer. Eu não era mais um moleque magricelo que ele tinha tratado como se

fosse um monte de lixo. Se eu não conseguisse minha vingança total, já

estaria satisfeito em poder pegar algo dele que ele achava que eu não era
digno.
Filho da puta egoísta.
— Pretende voltar a morar no Brasil para sempre? — Aurora estava

curiosa e isso era perigoso. Ela poderia descobrir sobre minhas razões para

entrar na família Pontes antes da hora.


— É meu país, onde mais viveria? — Era totalmente verdade, eu

sempre quis voltar, mas antes eu tinha que estar preparado para colocar
Abner em seu lugar, mesmo que fosse anos depois e ele estivesse quase

senil. Velho idiota.


— Tem razão, onde mais viveria? Talvez onde você tenha passado a

maior parte de sua vida? — Minha esposa estava sendo sarcástica? O que ela
sabia sobre mim? Nada, ela não me conhecia, ninguém me conhecia, nem

minha tia que me criou desde os oito anos de idade.


— Não, amor, vou continuar a morar onde nasci e onde vivi a parte

mais feliz da minha vida. Os Estados Unidos me proporcionaram uma


melhor vida financeira, mas quando minha mãe e eu deixamos o Brasil algo

foi arrancado de mim, só me adaptei a vida lá, mas sempre tive intenção de
voltar. — Fiquei com raiva que ela achasse motivos nada lisonjeiros para

que eu tivesse vontade de morar no Brasil.


Tomei um gole do vinho e desejei algo mais forte.

—Entendo — disse, mas seu rosto demonstrava outra coisa. Ela

poderia estar certa sobre não confiar totalmente em mim, de qualquer


maneira.

— E você, Aurora?

— O que tem eu?


— O que a Aurora esconde do mundo?

— Eu não escondo nada. — Ela ficou vermelha. — E sua tia? Onde


ela está?

— Ela ainda vive na mesma casa em Orlando. — Olhei-a divertido,


ela não queria falar de si mesma, como se ainda tivesse algum segredo para

esconder de mim. Eu sabia até o tamanho da sua maldita calcinha! Eu só


precisava conhecer a cabeça de Aurora. Apenas isso. Eu tinha minhas razões

para escolher a Pontes mais nova, não era porque Bianca me atraía, longe
disso, ela seria perfeita para o que eu tinha em mente, mas ela estragou tudo

quando fugiu e deixou a mulher à minha frente como substituta. Aurora me


tirava o chão, e pensar em ferir seus sentimentos me causava repulsa. Me

deixava inquieto, furioso, confuso, uma mistura de sentimentos e sem saber


como prosseguir com meus planos, que deveria admitir, estavam cheios de
falhas.

— Por que você não assumiu a posição de CEO da Pontes? Seu pai
anda fazendo mais mal que bem para a empresa.
10

Analisei sua pergunta e achei bem estranho ele questionar a

administração do papai e ainda investir na empresa, porém tudo que Rafael


fazia me deixava confusa, ele tinha essa capacidade irritante.

— Acha que é fácil fazer papai enxergar um palmo à frente de seu


nariz? — disse, por fim, deixando de lado meus pensamentos.

— Tem razão, ele vai afundar a Pontes se não mudar. — Ele fez uma

careta de desgosto.
— Rafael?
— Sim
—Se acha que a Pontes corre sérios riscos de desmoronar, por que está
investindo seu dinheiro lá?

— Boa pergunta. — Ele se levantou e foi até uma parte do iate onde
tinha um serviço de bar com inúmeras bebidas, ele se serviu de algo que
presumi ser uísque e caminhou de volta à mesa. — Sou um investidor de
risco e quando comecei meus investimentos no Brasil, a Pontes me pareceu
promissora, se os novos projetos fossem bem executados.

— Acha que meu pai pode continuar como CEO da Pontes sem que a
empresa volte a ter problemas?
— Eu pretendo ter a certeza que sim. — Ele fica pensativo um
momento, parecendo incomodado, a máscara galante um pouco fora de
lugar. Será que aquela conversa o aborrecia? Ele me encarou, seu olhar

sombrio, tornando-se duro, fazendo um arrepio correr por minha coluna.


Engoli um gole do meu vinho, com a atmosfera de repente nebulosa, o
humor de Rafael mudou desde que começamos a conversar, o homem
charmoso deixado de lado.

—Que tal sairmos um pouco? — disse, por fim, terminando sua


bebida.
— Prefiro ficar aqui esta noite, como já disse. — Eu queria dormir,
pois o voo tinha sido longo demais e estava sentindo os efeitos, amanhã
poderíamos aproveitar cada momento ali.
— Então teremos de fazer algo para nos divertir, esposa. — Ele
caminhou até uma parede e apertou alguns botões e uma música leve

começou a tocar suavemente, enchendo o convés e perdendo-se com o vento


ao redor. Ele voltou para a mesa, parando ao meu lado, estendendo-me a

mão, olhos intensos nos meus.


— Dance comigo. — Olhei a palma máscula e grande, depois para
seus olhos que estavam sombrios, escuros. Coloquei minha mão na dele e a
sua engoliu a minha, ele me puxou para ficar em pé e caí em seu peito duro.
Rafael envolveu minha cintura, me atraindo para mais perto. A música tinha
uma batida suave e ele me conduziu com leveza pelo espaço. Seu cheio
deliciosamente sexy e masculino me envolvendo toda, quase não resisti a
vontade de encostar a cabeça em seu ombro e inalar seu pescoço, correr
minha língua na pele exposta acima da camisa. Ele era tão gostoso, percebi a

umidade entre minhas coxas e, qual fosse a razão, eu nunca havia ficado
atraída por um homem de forma tão intensa como me sentia por Rafael. Ele
era como um imã, me puxando para ele, e eu era incapaz de resistir a sua
força, a atração me sugando. Mesmo sabendo que aquele casamento era uma
mentira, eu me vi desejando que fosse real apenas por um momento. Ele não
se sentia da mesma maneira que eu e, ainda sabendo desse fato, nada
diminuía o calor que me tomava, que me consumia inteira. Sua mão subia e
descia por minhas costas e suspirei involuntariamente, sentindo cada toque
de seus dedos como choque na minha pele. Era inebriante e sensual a forma

como ele me tocava.


— Você está com frio, amor? — Sussurrou na minha orelha e só
piorou os calafrios de excitação crescente.
— Eu não sou seu amor, Rafael. — Eu tentei colocar uma nota de
reprimenda, contudo minha voz saiu rouca, cheia de desejo, e senti minhas
bochechas quentes por mostrar tanto.
— O que você é então, minha doce esposinha? — Sua voz era
profunda e rouca. Seus lábios encostaram no meu pescoço e minha
respiração engatou apressada.
— Rafael... — Suspirei, com fome dele e esquecendo a razão do
porquê de estarmos ali.
— Não diga meu nome assim, Aurora. — Ele me girou e me atraiu de
volta, fazendo meu corpo bater no seu e eu gemer, sem querer.
— Por que não? — sussurrei, arqueando meu pescoço para ele ter
mais acesso a minha pele, seus braços me apertaram mais e senti cada gomo

duro dele contra minha maciez delicada.


— Porque vou aceitar isso como um convite para beijá-la, te despir e
foder esse tesão para fora de nosso sistema, amor. — Ele mordeu o lóbulo da
minha orelha, sugando em sua boca, e senti minhas pernas perderem as
forças. Ele baixou as mãos e agarrou minha bunda, puxando-me para cima,
fazendo com que minhas pernas se abrissem e enlaçassem sua cintura, minha
boceta em contato com a protuberância de sua ereção fez com que nós dois
ofegássemos. Ele caminhou para um sofá e se sentou comigo escarranchada
em seu colo, meus joelhos de cada lado de suas coxas. Ele segurou meu
cabelo na nuca e atraiu minha boca até a sua. O beijo não era suave, era uma
demonstração de poder, um ataque aos sentidos. Seu gosto delicioso, uma
mistura de uísque e Rafael misturados, era um coquetel, fazendo-me
prisioneira dele, pois era viciante e eu queria mais. Sua língua enroscada
com a minha e fomos pegos pela avalanche de desejo cru, animal, que nos
faziam gemer em uníssono. Comecei a balançar os quadris, esfregando-me
em seu pau duro, que parecia uma barra de aço, e senti o orgasmo se
construindo apenas de moer nele a seco, como adolescentes superexcitados.
Ele tirou a boca da minha e me deixou a uma polegada de distância.
— Se você não quiser que eu arranque suas roupas, eu sugiro que pare
de esfregar essa boceta gananciosa em mim — disse ele, também afetado
pelo beijo. Minha vontade era de deixar as coisas rolarem naturalmente, mas

eu não podia continuar. Ontem ele estava comprometido com minha irmã.
Quando tentei me afastar dele, Rafael me segurou no local, apertando nossas
pélvis juntas. — Estava falando sério sobre consumar esse casamento,
Aurora. Porém eu não quero que seja por que eu estou exigindo, mas por que
você também quer isso.
Eu poderia ter tantos orgasmos hoje se dissesse sim, mas eu me
levantei de seu colo e coloquei um pouco de distância entre nós.
— Eu... não posso — disse apenas e saí em direção a minha cabine.
Rafael era como uma droga no meu sistema. Eu tentei lembrar que ele era o
inimigo e esqueci depois que tinha chegado ali. Sempre esquecia aquilo
quando ele era charmoso. O que eu estava pensando? A conversa que escutei
na noite do nosso casamento parecia que tinha se apagado. Jesus! Aurora!
Ele não era um príncipe encantado. Ele planejava destruir minha família e
eu precisava descobrir o que ele tinha contra os Pontes para ter falado
daquele jeito tão frio.
Entrei na cabine, tentando me recompor do furacão Rafael.
A noite ia ser longa, pois meu corpo não sabia distinguir o inimigo. Eu
o desejava mais do que queria saber de seus intentos?
Quando me deitei, eu ainda não sabia a resposta, pois estava
apaixonada por aquele homem desde que o conheci e negar não adiantaria

nada. Só precisava aprender a esconder dele.

Acordei com o toque insistente do meu celular tocando na mesa de


cabeceira, zonza do vinho da noite passada e do sono, pois não dormi direito,
eu tateei até pegar o aparelho e atendi sem nem olhar quem estava me
chamando àquela hora. Eram cinco da manhã, caramba!
— Alô
— Aurora? — A voz de Bianca me despertou de vez.
— Oi. O que houve? Já brigou com seu namorado? — Brinquei.
—É o vovô. — A voz dela soava trêmula.
— O que aconteceu?
— Ele está no hospital. Eu estava viajando com o Lucca e ainda não
cheguei lá, mas ele teve um ataque cardíaco.
— Merda, estou na França, Bianca — lamentei, já me levantando da

cama e indo atrás de Rafael. Ele não iria gostar de saber que teríamos de
voltar para casa. E se o vovô morresse e eu estivesse longe? Nada disso, eu

iria para casa agora. — Vou começar os preparativos para voltar.


— Você está bem? — perguntou ela. — Ontem não consegui falar

com você.
— Estou bem, nos falamos em breve e, qualquer coisa, me avise como

o vovô está. — Desliguei e bati na porta da cabine de Rafael e não tive


respostas. Bati de novo e, ainda sem resposta, torci a maçaneta e empurrei a

porta aberta. A cabine estava arrumada e parecia que ninguém havia


dormido ali. Rafael saiu depois eu fui dormir? Oh! Deixei a cabine e segui

para procurá-lo.
— Bonjour, madame — cumprimentou-me, em francês, o mordomo.

— Bom dia, você viu o senhor Lamartine?


— No convés senhora — informou-me.
— Obrigada, Olivier — agradeci, indo atrás de Rafael, mas Olivier

continuou me seguindo.

— Posso servir algo, senhora? — perguntou.


— Sim. Um café ou chá, o que for mais quente e despertar meu sono.

— Sorri agradecida e ele saiu. Encontrei Rafael sentado no sofá vestido


igual um turista. Shorts branco, camisa de linho branca e óculos no rosto. Ele

estava sentado lendo o jornal e a mesa à frente dele com o resto de seu café
da manhã.

— Bom dia, Aurora — cumprimentou-me, descansando o jornal ao


seu lado e tirando os óculos escuros. — Voce dormiu bem?

— Não.— Não neguei. — Precisamos voltar para casa agora — falei


agitada.

— E por quê?
— Bianca ligou, vovô teve um infarto e precisamos voltar.

Ele se levantou.
— O que ela disse? É grave?

— Não sei, ela vai me manter informada a caminho de casa, porque se


você não quiser voltar agora eu irei sozinha em um voo comercial —

informei, taxativa.
— Vou avisar o piloto, mas com certeza não voaremos até à tarde, ele

não tinha planos de voo para hoje.


—Eu só preciso chegar lá, Rafael.

— Ele não pode morrer agora, porra! — esbravejou, surpreendendo-

me. Eu não sabia que ele gostava do meu avô tanto assim. Ontem parecia o
contrário, quando conversamos. Minha cabeça estava dando voltas com tanta

contradição.
— Concordo com você, apesar de não saber por que você se importa

tanto assim.
— Quero dizer que ele não pode morrer quando sua neta favorita está

longe — disse, com os dentes trincados, como se estivesse tentando se


controlar de alguma maneira, mas seus olhos eram duros, ferozes, com raiva.

Rafael parecia possesso.


Eu o vi pegar o telefone para ligar para o piloto e me senti aliviada. O

vovô era nosso alicerce, apesar da mente machista, ele nos amava. E eu e
Bianca fomos criadas sendo as princesinhas do vovô Abner, se ele morresse

e eu estivesse longe, nunca me perdoaria.


Cinco horas depois estávamos voando de volta ao Brasil, minha

preocupação a mil, Bianca já estava lá com papai. O vovô estava no CTI e a


preocupação dos médicos era grande de ele ter um outro ataque cardíaco.

Vovô tinha setenta e oito anos, estava bem conservado, ativo no conselho da
empresa, mas também não era nenhum garoto. Olhei para Rafael, sentado na
poltrona do jato à minha frente. Ele esteve calado, taciturno, desde que dei a

notícia que tínhamos de voltar. Deveria estar chateado com a interrupção da

viagem. Ele se sentou lá e começou a digitar em seu notebook, ignorando-


me completamente

A moça da tripulação trouxe um carrinho com comida e Rafael, enfim,


tirou os olhos de seu notebook e me olhou.

— Você deveria comer algo, não tomou se café da manhã. — Ele


apontou para mim.

— Estranho ter percebido isso, senhor Lamartine, nem olhou em


minha direção nas últimas cinco horas — alfinetei, sem saber explicar para

mim mesma por que, diabos, queria a atenção daquele homem. Ele não
respondeu, apenas me olhou fixamente, analisando-me como se eu fosse

uma carne no açougue. E agora eu estava me contorcendo feito uma


adolescente nervosa com o garoto mais bonito do colégio, dando-lhe

atenção.
— Coma, Aurora. — Ele fez sinal para a moça continuar seu trabalho

de nos servir.
— Tanto faz — disse, petulante. Se não me enganei, vi ele revirando

os olhos, devo ter me enganado.


— O voo é longo — disse, pegando a garrafa de água que a moça

deixou para ele. — Fazer birra nem combina com você.

— De onde tirou isso? — Quase me ofendi, se desse importância ao


que ele dizia.

— Esse jato é seu? — perguntei, mudando de assunto


— Não. Da empresa.

— E não dá no mesmo?
— Claro que não.

— Falando em empresa, eu ainda não sei por que sugeriu ao papai o


casamento, não acha isso meio arcaico? Século vinte e um. Sabe disso, né?

— E por que aceitou? — Ele devolveu, encarando-me. — Não tinha


nenhuma arma apontada para os Pontes.

Deixei o assunto de lado, pois estava preocupada com a saúde do vovô


para conversar. Aquele ia ser um longo voo.
11

Depois de deixar Aurora no hospital, eu fui para casa, não fiquei lá. Eu

podia ser várias coisas, mas não era hipócrita. E fingir que me importava
com o velho? Era pedir demais.

Dizer que estava puto era um grande eufemismo do século, do caralho.


Eu não queria que o maldito velho morresse antes de sentir a satisfação de

fazê-lo ter um ataque cardíaco eu mesmo. Eu podia escrever a história da

minha vida, de como planejei me vigar de Pontes e tudo saiu do controle.


Primeiro a troca da noiva, a quem eu sabia que nunca poderia fazer nenhum
mal, agora o velho estava morrendo? Tudo que fiz para chegar a eles, seria
em vão?
Fui direto para meu quarto. O quarto que ia dividir com minha esposa,

eu iria consumar a porra do casamento essa noite. A raiva me consumiu,


deixando-me confuso, doido para socar alguma coisa, casei para nada? Pelo
menos teria certeza de ter a noiva na minha cama, porra! Aurora se sentia
atraída por mim, eu sabia disso, eu não escondi que a queria, então, antes
que tudo fosse para o inferno, iria tê-la como eu queria e nada me impediria.

No iate, eu poderia tê-la seduzido, mas ainda tinha um pingo de decência, ou


fosse lá o que me parou.
Tomei um banho e enquanto estava debaixo do jato quente, pensei em
ir ao hospital e apoiar minha esposa. Errei em sair e deixá-la lá?
Saí do banho e meu celular estava tocando na cama onde o joguei.

Maldito Chris, para me chatear, não tinha dúvidas.


— O que você quer, Chris?
— Que charme você tem, Lamartine. — Ele riu do outro lado, sem se
importar com meu mau humor.

— Sim, melhor que o seu, devo dizer — retruquei.


— Soube que o velho quer partir dessa para melhor?
— Por que acha que meu humor está uma bosta? O velho tem o dom
de estragar minha vida. Até minhas férias ele estragou. Tivemos de voltar.
— Porra, irmão! — lamentou ele. — E como ficam as coisas se isso
vier acontecer?
— Mudarei os planos, é o que farei. Eu não sou irracional para querer

estragar a vida de Ricardo, ele sozinho já faz isso, nem das filhas dele. Meu
negócio é único e exclusivamente com Abner Pontes, é com ele que quero
acertar os ponteiros, porra! — berrei as palavras furiosamente. Christian era

a única pessoa que conhecia minhas intenções com os Pontes.


— Quer se encontrar para tomar uma bebida? — ofereceu ele.
— Está fugindo de alguém, Chris? — Conhecendo-o bem, podia ser
um rabo de saia. Depois de seu divórcio, há um ano, ele virou um cachorro
de rua, o filho da puta.
— Como adivinhou? Haven disse que vem aqui hoje.
Haven era sua ex-mulher e ele andava fugindo dela como o diabo
fugia da cruz. Eu acreditava seriamente que os dois iriam voltar um dia. Isso
se ele parasse de colecionar mulheres.

— Passo — disse, por fim. — Estou em casa, parei para tomar um


banho, mas vou ao hospital dar assistência a minha mulher.
Chris riu divertido com minhas palavras.
— Quem te viu quem te vê, irmão. Boa sorte com isso.
Despedimo-nos e depois me vesti e fui encontrar minha esposa.

— Pensei que ia demorar mais para chegar. — Bianca correu até mim
quando a encontrei no hospital, ela tinha ficado ali até agora, ao que parecia.
— Oi — disse, abraçando-a. — Você já viu o vovô? Como ele está?
— Ele está na CTI e só papai foi autorizado a vê-lo de longe, ele ainda
corre risco e está sendo mantido sob vigilância dos médicos. — Ela me
puxou para sentar no sofá reservado à família no hospital particular onde ele
estava internado.
— Você sabe o que aconteceu para ele ter um ataque assim, do nada?
Nem sabíamos que ele estava doente.
— Bem, o doutor Mauricio disse que há alguns meses ele foi avisado
sobre o coração, mas vovô é teimoso, você sabe, seu uísque não pode faltar.
— Ele acha que ainda é novo — falei, chateada. Depois que a vovó
faleceu, ele tinha várias namoradas mais novas que ele. Era um dos motivos
das brigas entre ele e nosso pai. Falando nele...
— E o papai? — perguntei, olhando ao redor.
— Ele foi para casa tomar um banho, trocar de roupa. Se ele soubesse

que você chegaria agora, talvez tivesse esperado, acho que ele só volta
amanhã.
— Tudo bem, eu corri direto do aeroporto até aqui e nem pensei em
mandar uma mensagem. — Minha irmã olhou ao redor e depois para mim.
— Onde está Rafael? Ele não veio com você? — perguntou, com
espanto.
— Ele me deixou aqui em frente e disse que ia para casa, pois odeia
hospital ou alguma coisa do tipo, não sei — falei, chateada. Estava com
raiva de mim mesma por desejar que ele tivesse ficado. Eu e ele não
tínhamos uma relação, por mais que estivéssemos casados, e aquilo só me
fez perceber que aquele casamento era uma furada pronta para acabar. — Eu
também não vejo seu príncipe encantado por aqui.
— Lucca não veio porque nossa relação não é de conhecimento do
papai e não queria dar a notícia com o vovô quase morrendo. — Ela suspirou
e me deu um sorriso de desculpas. — Eu sinto muito por ter colocado você
nessa situação Aurora, era para eu ter dito antes que não me casaria, mas era
tanta coisa acontecendo e eu até tentei gostar da ideia de casar com Rafael,
afinal, ele é um homem lindo, rico e gostoso pra caramba, mas eu estava
apaixonada por Lucca, que não se decidia, e continuei levando o casamento
com Rafael até... você sabe no que deu.

Era a primeira vez que nos víamos depois que ela tinha deixado Rafael
no altar.
— Tudo bem, além do fato que ele parece ter um motivo oculto para
casar, ele não fez nada demais.
— Que motivo seria esse?
— Eu terei de ficar perto dele até descobrir do que se trata.
— Tenha cuidado, irmãzinha, não dê uma de detetive, hein — disse,
colocando seu braço por cima do meu ombro e me abraçando. — Pode não
ser nada demais. Pode ser o nosso charme Pontes.
— Você devia ir para casa, eu fico aqui o resto da noite. Não deve
demorar muito para amanhecer. — Verifiquei as horas e já eram quase meia
noite. Estava extremamente fadigada com o longo voo. — Amanhã você
vem.
— Acho que deveríamos ir as duas. Os médicos disseram que não há
nada o que fazer aqui, que podíamos ir para casa e qualquer coisa eles nos
chamariam, mas deixar o vovô aqui é tão estranho. — Seus olhos se enchem
de lágrimas. — Eu sinto como se estivesse o abandonando.
— Eu sei, mas ele não gostaria de nos ver aqui chorando por ele. Ele
quer todos nós rindo de suas peripécias — disse, apertando sua mão na

minha e sorrindo, mesmo saindo meio apertado, mas choro era algo que
vovô sempre dizia não querer. Estava a ponto de buscar um café, pois
precisava me manter acordada, quando percebi o anel em sua mão. Ela
estava noiva? Antes que eu perguntasse, houve um movimento na entrada,
olhei para lá e vi Lucca caminhando em nossa direção. Ele era o oposto de
Bianca, que estava loira platinada, todo moreno, lembrando o ator Theo
James. — Acho que você tem companhia.
Bianca correu pare ele e os dois ficaram arrulhando aos beijos. Fiquei
olhando a interação deles. Via-se claramente que estavam apaixonados, e eu
estava feliz por Bianca enfim se aquietar. Ela não disse nada sobre o
noivado, por quê? Tinha esquecido com toda situação do vovô?
— Aurora. — Lucca apertou minha mão. — Bom ver que você está
bem, depois de toda confusão de dias atrás.
— Está se referindo a noiva que você roubou e tive de tomar seu
lugar? — perguntei e vi o homem ficar vermelho. — Está tudo bem, Lucca,

sem ressentimento.
Ele assentiu e abraçou Bianca, trazendo-a mais para perto. Era bom

vê-los juntos. Aquecia meu coração saber que pelo menos uma de nós estava
encontrando o amor.

— Sinto muito pelo seu avô — disse ele. — Espero que não tenha sido
a coisa toda do casamento e...

— Acho que não, não sei, vai saber. — Eu apontei o sofá. — Sentem-
se ou vocês vão embora?

— Melhor você ir, Aurora. Lucca e eu ficaremos aqui.


— Bianca? E tio Rogério não apareceu por aqui? Nem Liana?

— Os dois vieram e não ficaram. Tio Rogério disse que alguém tinha
de ficar no comando da empresa.
— Tenho medo, pode acreditar, a Pontes ficaria melhor sem ele lá —
falei preocupada que ele fizesse algo louco.

— Certamente — Lucca concordou.

— Digam-me. — Eu comecei casualmente. — Quando vocês vão me


dizer que estão noivos?

— Oh, meu Deus, Aurora! — Bianca falou alto, mas lembrou onde
estávamos e depois tampou a boca, como uma criança, e riu baixinho. — Eu

ia contar quando cheguei, esqueci completamente.


— E eu achando que nada iria fazer você esquecer nosso momento —

disse Lucca e levou uma cotovelada dela.


— Não brinque com isso, meu avô está morrendo, seu insensível —

repreendeu ela, mas claramente via a adoração em seus olhos por ele.
Senti uma pontada no peito que nunca imaginei na vida. Que era

desejar algo assim, um amor que me deixasse com esse brilho nos olhos e
ser correspondida por ele, mas talvez eu deveria me contentar com um falso

casamento.
Ficamos os três conversando por algum tempo quando passos

chamaram minha atenção e virei-me para ver meu marido. Ele tinha tomado
banho, pensei eu, porque trocou de roupa e estava mais lindo que nunca.

Minha vontade de levantar e correr para seus braços era irracional, controlei-
me para não fazer exatamente isso. Meu devaneio acabou quando percebi
que ele ia encontrar Lucca e Bianca ali. Que merda. Mas ele ignorou o casal

e focou em mim. Ele se abaixou e beijou o topo da minha cabeça.


— O que você está fazendo aqui? Disse que não suportava hospital?

— perguntei, surpresa, mas uma alegria que não entendia se apossava de

mim.
— Estou aqui por você, amor — disse, baixinho. Seus olhos tinham

um carinho novo neles, mas logo ficaram duros quando fitaram minha irmã e
Lucca.

Rafael não perguntou nada sobre vovô e estava prestes a sentar ao meu
lado, mas Lucca levantou e estendeu a mão para ele.

— Lamartine, como você está? — Lucca estufou o peito e escondi um


sorriso diante da situação. Não era engraçado, mas eu podia dizer que Lucca

parecia meio esquisito.


— Lucca, o ladrão de noivas — Rafael disse, com um olhar de

desgosto para o casal,


— Sinto muito, Rafael — Bianca disse. — Mas eu não podia ir até o

fim.
— Não importa, mas devia dizer isso a sua irmã que teve de arcar com

as consequências de seus atos irresponsáveis — respondeu ele, com


indiferença, e se sentou ao meu lado. E como se a conversa não fosse nada,

ele virou-se para mim. — Você precisa de alguma coisa, amor?


Qualquer um que não soubesse de toda história entre nós e o escutasse
me chamar assim, poderia jurar que eu era realmente seu amor. Sabia fingir

bem.

Sério que ele ia ficar me chamando assim na frente das pessoas?


Pensei que ele tinha falado apenas no iate para fazer chacota. Escutei o bufo

de Bianca e olhei para ela que estava com olhos arregalados e sobrancelhas
arqueadas como se quisesse perguntar: O que diabos está acontecendo?

Amor? De onde veio isso?


— Estou bem, mas estava querendo um café, estou quase dormindo

em pé — respondi para Rafael.


— Vou providenciar, mas deveria ir para casa, não dormiu durante o

voo. — Ele estendeu a mão e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da
minha orelha e fez um carinho com o polegar por todo o lóbulo, causando

uma série de arrepios na minha pele.


Se recomponha, Aurora.

— Já volto.
Ele levantou-se e saiu à procura do café, Lucca levantou também e,

depois de dizer algo para Bianca, seguiu Rafael nos deixando a sós.
— O que foi isso? — Bianca não perdeu tempo. — Você esqueceu de

me dizer algo, irmã?


— O que foi o quê? — Fiz-me de desentendida.
— Não se faça de santa, Aurora Pontes. Amor? Desde quando? —

bufou ela, incrédula.

— Ele está apenas querendo se mostrar, não leve em consideração as


coisas que Rafael diz ou faz, Bianca. — Ela não pareceu acreditar muito em

mim. — O quê? Acha que estamos no amor eterno?


— Quem sabe? Ele me pareceu todo meloso para cima de você. — Ela

me deu um piscada. — Essa lua de mel rendeu mais do que você me disse?
— Não deveríamos estar mais preocupadas com o vô do que com

minha vida de casada? — sugeri. — Mas para deixar você mais calma, nada
aconteceu.

— Humm. — Ela continuou com aquele olhar esquisito e nem sei por
que estava sendo evasiva sobre Rafael e eu.

Os homens voltaram e eles tinham uma carranca em seus rostos.


Pensei que eles não seriam amigos de uma hora para outra, afinal, Lucca

afrontou Rafael abertamente, roubando Bianca no altar. O que me deixou


incomodada por Rafael se importar tanto. Ele gostava da minha irmã?

Quando ele voltou e sentou-se ao meu lado, entregando-me um café, eu


comecei a prestar atenção nele. Se ele olharia Bianca com olhar apaixonado.

Apesar do clima tenso entre nós quatro, uma conversa começou a acontecer
entre os três e me mantive de fora, tomando o líquido quente que me trazia

uma injeção de ânimo. Bianca sempre foi expansiva e faladeira, mais do que
eu, e ela dominou a conversa. Rafael pareceu prestar atenção nela, mas nada
em seu rosto demonstrava que ele sentia algo por ela. Seu rosto não

mostrava nada, essa era a verdade. A única hora que percebi algo, foi quando

Bianca falou do vovô, Rafael se fechou completamente. Contudo somente


alguém que estivesse prestando atenção nele, veria isso. Eu fiz uma anotação

mental para cavar sobre, lembrando-me do que ele falou na noite do


casamento. Eu só podia pensar que ele tinha um problema com meu avô. Só

não tinha ideia do que era.


— Você deveria levá-la para casa, Rafael — Bianca disse e notei que

todos estavam me olhando.


— O quê? — perguntei, olhando de um para outro.

— Você está estranha, estive falando com você por um minuto e você
estava de olhos vidrados — Bianca disse. — Estava dizendo a Rafael para

levá-la pra casa.


— Estou bem. Vou ficar aqui até ter notícias do vovô de novo.

— O médico só vem pela manhã, Aurora, eles só virão antes se algo


mudar — Bianca informou.

— Devia ouvir sua irmã, Aurora. — Rafael apoiou Bianca e uma onda
de possessividade me dominou de repente, eles, há poucos minutos, estavam

de lados opostos e agora estavam se apoiando? Eu estava com ciúmes,

corroendo-me por dentro, e queria me estapear pela bobagem daquilo tudo.


Odiava que ele tinha escolhido ela primeiro. Não, aquilo me faria a segunda

escolha, mas percebi que ele nunca me escolheu, para começar.

Aurora você é uma mulher adulta e vacinada e não tem por que se
sentir assim. Você é uma executiva, dona de si mesma, esqueça Rafael

Lamartine.
Por que meu coração estúpido não ouvia a voz da razão?

— Vou sair um pouco para tomar um ar, sozinha. — Levantei-me. —


Já volto.

Ninguém me seguiu e fui até o banheiro e me olhei no espelho, não


era à toa que estavam me olhando com estranheza, estava apenas o pó. Olhos

vermelhos e cansados, roupas amassadas e minha maquiagem já tinha visto


dias melhores. Peguei um lenço úmido da bolsa e retirei a maquiagem,

prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e reapliquei apenas um gloss nos


lábios, porque estava meio cadavérica e pálida. Lavei as mãos e deixei o

banheiro para encontrar Rafael me esperando na porta.


— Qual parte de “eu quero ficar sozinha” você não entendeu?
Ele me ignorou e me puxou para ele.

— Vou levá-la para casa e vai descansar, prometo que não dormirei e
ficarei ao lado do telefone, caso haja uma emergência. — disse e eu não
sabia em qual Rafael eu acreditava, se nesse atencioso ou no outro, que eu

ainda queria descobrir sobre seus motivos obscuros.


— Desde quando você se importa, Rafael? Você obviamente não gosta
do meu avô, só não sei o porquê, mas vou descobrir e...

— Está vendo coisas, Aurora. Agora venha, não estava sugerindo que
fosse para casa, estou levando você. — Ele não deixou margem para protesto
e me levou até onde minha irmã estava. — Aurora concordou em ir para
casa, amanhã ela virá cedo.

— Não concordei com nada. — Eu tentei protestar, mas Bianca já


estava assentindo.
— Vamos ficar bem, Aurora. — Ela me abraçou por um tempo e
depois voltou para seu noivo.

Mesmo a contragosto, nos despedimos e Rafael me levou para o carro.


— Você não precisava ter vindo, Rafael — comentei quando me sentei
no banco de couro do carro luxuoso. Virei-me para ele, que se sentou no
banco do motorista, eu tinha jurado que ia ficar apenas de olho nele, mas me

vi perguntando: — Posso te fazer uma pergunta?


— Já fez, amor. — Ele me olhou divertido — O que é Aurora?
Pergunte o que quiser.
— Por que não gosta do meu avô?

A diversão escapou de seu rosto e seus olhos ficaram duros e sem


emoção.
— De onde tirou isso? Eu nem gosto nem desgosto, Aurora —
respondeu e senti que estava mentido. — Não tenho afeição nem por ele nem
por seu pai, se você quer saber.

— É diferente quando você fala do papai, não tem essa raiva latente
que demonstra quando fala de Abner.
— Vamos para casa, essa conversa sem pé e sem cabeça pode esperar.
— Ele se virou e ligou o carro, nos levando para casa. Eu só pressupus que

aquilo não tinha acabado, que ele escondia algo, eu apenas sabia, estava lá,
estalando para mim, mas eu não sabia o que era.
12

Quando ele parou o carro na casa dele, eu desci, sentindo-me estranha


por morar ali agora. Eram tantas mudanças repentinas, eu tinha uma casa,

caramba! Eu estava deixando tudo para ficar com aquele homem que mal
conhecia? Entrei e uma mulher elegantemente vestida estava ao pé da

escada, nos esperando, ao que tudo indicava.


— Aurora, esta é Joane, minha governanta. — Rafael parou ao meu

lado, apresentando-me a mulher. — Joane, conheça a senhora Lamartine.


— Prazer em conhecê-la — disse educadamente. Ela me pareceu
simpática.
— Bem-vinda, senhora. — Ela sorriu e me perguntei o que ela fazia

acordada àquela hora. Rafael devia ser um tirano, pelo visto.


— O que faz aqui, Joane? É madrugada — perguntou ele, destruindo a
imagem que fiz dele sendo um explorador da mão de obra.
— Tudo bem, senhor, tinha algumas coisas para fazer e não vi o tempo
passar — respondeu ela, com óbvio respeito por seu chefe. — Mas estou
indo, vão precisar de alguma coisa?

— Podemos resolver sozinhos, boa noite — disse ele, com um aceno


cordial.
— Boa noite, senhores. — Ela foi embora e eu comecei a subir as
escadas.
— Você quer alguma coisa para comer? — Agora que ele tina

perguntado, notei que estava realmente com fome. Mas era tão tarde, e eu só
queria cama, naquele momento.
— Não, só quero dormir um pouco — disse, entrando no quarto
principal no último andar, eu nem questionaria onde iria dormir,

sinceramente não me importava.


— Suas coisas estão no closet, Joane organizou tudo — Rafael
informou.
— Minhas coisas?
— Pedi que trouxessem de seu apartamento — comentou, como se
fosse normal alguém pegar suas coisas sem autorização. Maldita invasão de
privacidade.

— Quando pediu que eles invadissem meu apartamento?


— Isso importa?
— Claro que importa, está sendo ditador e invadindo minha

privacidade.
— Você é minha esposa — disse, como se aquilo fosse a explicação
para tudo.
— Falsa esposa, até onde sei esse casamento não tem valia.
Ele se aproximou de mim tão rápido que era sobre-humano. Ele
segurou meu rosto entre as duas mãos poderosas e nosso olhar se prendeu.
— Você quer que eu mostre o quanto esse casamento é pra valer,
Aurora? — Sua boca estava tão perto da minha que nossas respirações se
misturavam. Eu tinha meu corpo despertado e total atenção nele. — Por que

estou louco para mostrar o quanto quero você agora mesmo.


Um gemido me deixou e queria pegá-lo de volta, mas era tarde demais
e Rafael me olhava com fome nas íris verdes-escuros e intensas. Ele me
beijou como se estivesse tentando me devorar viva. Ele beijava como se ele
quisesse tirar cada parte de mim, cada lambida, puxão nos meus lábios, cada
mordida que ele dava era apenas para ele. Eu gemi quando ele sugou meu
lábio inferior em sua boca, para depois mergulhar sua língua e sugar a minha
com fome, um toque de desespero no beijo quente e faminto. Enfiei os dedos
em seus cabelos e o beijei de volta. Ele arrastou seus lábios para meu

pescoço, beijando e mordicando minha pele sensível, seus dedos foram para
o zíper nas costas do meu vestido e desceu expondo minha pele para seu
toque. Eu ansiava sentir sua pele contra a minha e comecei a desfazer os
botões de sua camisa o mais rápido que eu podia, eu não queria me privar
mais de nada, se fui forçada a casar, por que não podia tirar algo de bom
daquilo? Ele empurrou meu vestido pelos meus ombros que caiu, deixando-
me apenas com minha lingerie.
— Você é incrivelmente perfeita, Aurora. — Ele desceu as mãos que
agarraram as bochechas da minha bunda, amassando, e senti a umidade
revestir minha calcinha. Minha pele estava quente em todos os lugares que
ele me tocava. Tentei tirar sua camisa, mas ele me impediu e rapidamente
tirou meu sutiã. Sua atenção foi para meus peitos, meus mamilos rosados
turgidos querendo sua boca neles e Rafael tomou seu maldito tempo
brincando com os botões duros entre os dedos. — Santo inferno, esposinha,
quero chupar esses peitos deliciosos na minha boca até você gozar apenas
brincando com eles. — Ele torceu o bico entre o polegar e o indicador com

força suficiente para uma dor misturada com prazer irradiar por cada célula
do meu corpo.
Por que ele estava falando? E não agia, caramba! Eu estava pronta
para seu pau.
— Você vai fazer isso quando, Rafael? — Eu disse com voz
entrecortada. Ele assoviou entre dentes com minhas palavras e uma palmada
acertou meu traseiro com força.
— Quieta. — Sua mão segurou na minha bunda, e eu suspirei quando
seus dedos deslizaram por baixo da minha calcinha, escovando meu clitóris e
provocando a minha entrada que estava pingando por ele. — Você me quer,
amor — sussurrou constatando o óbvio, ele gemeu rouco, um rugido rude e
animal quando seus dedos ficaram encharcados com minha excitação. —
Porque você está molhada pra caralho. — Um canto de boca levantou-se
perversamente enquanto observava e eu gemi quando ele moveu seus dedos
sobre o broto duro, os dedos abrindo meus lábios vaginais, esfregando minha
umidade, e meus olhos se fecharam quando fui tomada pelo prazer brutal. Eu
não aguentei a lentidão de seus toques, eu ansiava por mais e me movi em
busca do que queria.
— Quero você! — roguei em uma voz ansiosa. — Me foda, Rafael. —
Merda, eu queria dizer aquilo para ele desde que o vi pela primeira vez.
Perdendo a paciência, o resto de nossas roupas são descartadas e Rafael me

empurrou para a cama, vindo para mim, cobrindo meu corpo todo com o
dele, grande e largo, músculos definidos, todo lindo, másculo, me deixando
louca. Arfei quando me beijou duramente sem gentileza, apenas tomando
para si mais e mais de mim. Ele desceu e abocanhou um seio em sua boca,
sugando forte, gostoso, e arqueei para ele num pedido silencioso de mais,
sua mão agarrou o outro e torceu os bicos pontudos com maldade perversa.
Eu estava arquejando, perdida no vórtice de lascívia com um apetite voraz
que parecia me consumir demasiadamente. Ele sugava agora o outro seio
com força, deixando dolorido, e agarrei seus cabelos, empurrando sua
cabeça, gemendo, depravada.
— Você é linda, perfeita — disse ele, baixo, rouco, sua boca descendo
por minha pele, deixando uma trilha quente por minha barriga, as mãos
apertando meus peitos. Ele desceu e senti seus beijos no meu monte, Rafael
rosnou quando abriu minhas pernas e teve acesso a minha boceta dolorida,
encharcada, pulsante e molhada, para ele. Ele lambeu de baixo para cima,
abrindo meus lábios enfiando a língua dentro de mim para depois sugar meu
clitóris em sua boca. Meus gritos ecoaram no silêncio do quarto e não
demorou para eu convulsionar perdida em um orgasmo cataclísmico. Eu
tremia incontrolável, perdendo as forças e me entregando ao momento
erótico, perfeito. A boca de Rafael não deu trégua e os tremores pareciam

infindáveis, ondas e mais ondas de clímax vindo e vindo, tentei afastá-lo,


porque era demais, mas ele me segurou firme e não parou seu ataque
animalesco, rude, mas que me tinha gritando, arquejando e tremendo
debaixo dele. Quando achei que ele tinha terminado, ele entrou em mim
duramente até o punho, metendo tudo em mim sem aviso prévio. Saiu e
voltou a estocar fundo. Seu pau grosso, longo, castigava as paredes da minha
boceta e estremecia com cada batida de seu volume grosso dentro de mim.
Ele puxou minhas pernas para um lado e me segurou no lugar e estocou sem
piedade, ele gemia, me montando duro. A posição me fez senti-lo mais e
quando gozei novamente, ele me acompanhou, batendo uma, duas, três vezes
e sua porra quente me encharcou com seu gozo violento.
13

O sol entrava iluminando meu rosto e acordei resmungando sobre


quem teria deixado as cortinas abertas. Que droga, ainda estava com sono.

Que mania de abrirem as cortinas de madrugada era aquela?


— Bom dia. — A voz profunda de Rafael me fez quase pular e foi
quando senti dores por lugares que havia tempos não sentia, bem, não desse

jeito, porque Rafael era intenso demais. Jesus. Virei-me e dei com ele em pé

ao lado da cama, vestido de terno e todo lindo, executivo gostoso! Ele se


inclinou na cama, uma mão de cada lado da minha cabeça, enjaulando-me e
desceu até estar a centímetros do meu rosto. Os olhos verdes com aquela
mistura amarelada estavam mais intensos e com uma intimidade que não

havia ali antes. Ele capturou meus lábios nos deles suavemente e eu abri a
boca, esquecendo que nem tinha escovado os dentes. Deus do céu! Mas ele
não parecia se importar, ao contrário, ele aprofundou o beijo e comeu minha
boca com a dele. Gemi me contorcendo nos lençóis macios e ele se ergueu
para minha completa insatisfação, mas ainda com as mãos me cercando. —
Você é deliciosa pela manhã.

— Bom dia — falei encabulada, com um sorriso bobo nos lábios.


— Achei que gostaria de acordar cedo e saber de seu avô. — Ele se
endireitou, ficando em pé e ajeitando sua gravata. — Falei com sua irmã, ela
foi para casa e seu pai já está no hospital.
— E você perguntou sobre vovô?

— Ele continua na mesma. — Ele pegou o celular na mesa de


cabeceira e colocou no bolso. — Vou para a empresa, se quiser que a deixe
no hospital, terá de se apressar.
— Eu vou sozinha, Rafael, não preciso de você como motorista —

disse, já me levantando e constatando minha nudez. Droga. Eu não era uma


puritana, mas Rafael me deixava tímida. Enrolei o lençol no corpo e o
encarei, ele me olhava com uma carranca. — O quê?
— Nada, Aurora. Mas irei deixá-la de qualquer maneira.
— Ok, vou me arrumar, não demoro. — Corri para o banheiro e tomei
o banho mais rápido da história. Quando voltei para o quarto, ele não estava
mais lá. Arrumei-me rapidamente sem nenhuma elaboração e desci para

encontrar meu marido. Eu o encontrei na sala com uma mulher. Eles estavam
curvados sobre uns papéis e falavam baixo. Eu nunca senti ciúmes na minha
vida de ninguém e agora via uma névoa vermelha, minha vontade era de ir

até lá e arrancar a mulher de perto do meu marido. A temperatura só


aumentou quando a vi colocar a mão no braço dele com uma intimidade que
gritava a olhos vistos.
— Bom dia. — Minha voz saiu fria e ácida. Duas cabeças levantaram
e me encararam.
— Você foi rápida — disse Rafael.
— Não o suficiente. — Dei a ele um sorriso frio e fixei meu olhar na
mulher, ela era bonita. Loira e bonita. Pelo que soube sobre os namoros de
Rafael, antes dele anunciar o casamento com Bianca, seus casos eram com

mulheres como aquela. Alta, loira, parecendo uma modelo. Por isso quando
ele escolheu casar com Bianca, pensei que era um gosto por loiras. Talvez
estivesse certa. Mas o monstro verde estava agora circulando nas minhas
veias a ponto de saltar e mandar a senhorita platinada para os quintos dos
infernos. Talvez Rafael achasse que poderia ter outras mulheres. Só que ele
teria uma surpresinha. Eu não toleraria uma amante, se ele quisesse que o
casamento secasse a tinta. — Tenho tempo para tomar meu desjejum?
— Claro — ele disse. — Aurora, essa é minha assistente Michelle.
Michelle, minha esposa Aurora. Vocês duas ainda não tinham se encontrado.

Michelle quase não sai do escritório da Lamartine Investment.


Quem perguntou?
— Olá — disse sem sorrir e ela abriu um sorriso que não chegou aos
seus olhos. Sim. Ela definitivamente já teve algo com seu chefe ou tinha
muita vontade. “Eu conheço os sintomas, querida.”
— Senhora. — Ela enfatizou o senhora e eu queria rir, ela deveria ser
mais velha do que eu.
— Apresse-se, Aurora.
— Se você está com tanta pressa, querido, pode ir. Pegarei um táxi. —
Sem esperar sua resposta caminhei para a cozinha. Encontrei a mesa posta
na copa.
— Bom dia, senhora Lamartine. — Joane surgiu, vindo de algum
lugar. — Posso servir a senhora de alguma coisa?
— Primeiro, me chame de Aurora. — Sentei à mesa. — Vou apenas
comer algo rápido, Joane, tenho de ir ao hospital.
— Claro, senhora, quero dizer, Aurora. — Ela me deu um sorriso e

começou a me servir, mesmo eu protestando que podia fazer aquilo sozinha.


Eu morava só havia anos, não tinha empregados, como quando morava com
papai ou meu avô durante a maior parte da minha vida, mas graças a mamãe,
que sempre nos ensinou a ser pé no chão com tudo, não crescemos esnobes.
Já meu pai e avô não tinham a mesma consideração com os empregados da
casa. Vovô principalmente, ele dizia que se desse o braço a um funcionário,
ele logo iria querer a perna e depois você perdia o controle. Teve uma época
que ele não durava com as empregadas por tratá-las com crueldade muitas
vezes, depois que cresci e pude dizer umas verdades a ele, até que ele
melhorou com elas, mas a arrogância que ele as tratava, deixava-me doente.
— Você terminou, amor? —A voz de Rafael me tirou dos
pensamentos e percebi que estava demorando mais do que planejei.
— Você precisa parar com esses nomes carinhosos, Rafael. Qualquer
dia vou pensar que é real — disse, levantando-me e acenando para a
governanta. — Obrigada, Joane.
— Disponha, senhora.
Um carro grande nos esperava com o motorista. A assistente se sentou
ao lado de Rafael e eles continuaram o assunto de negócios enquanto me
sentei no banco em frente a eles. A mulher não perdia a oportunidade para
tocá-lo. Rafael não percebia? Ou ele gostava daquilo? Eram amantes?
Em um dado momento ele levantou a cabeça e me olhou, seu olhar se

prendendo ao meu por um instante e ele franziu a testa me analisando,


depois voltou a falar com Michelle.
Estava bufando de raiva quando o carro parou em frente ao hospital e
ele desceu junto comigo.
— Não precisa entrar, sei o caminho — falei, caminhando para longe
dele, mas sua mão me parou.
— O que você tem? — Ele perguntou. Eu queria dar um tapa nele.
— Você pode me soltar? — Arqueei uma sobrancelha para ele. —
Você pode ir agora.
— Cheia de ordens — debochou. — Soltarei quando me disser o que
você tem?
— Rafael, eu não tenho nada, apenas percebi que cometi um erro
ontem à noite e que não se repetirá — menti, mas era melhor do que ele
saber que estava me corroendo de ciúmes.
Ele me olhou e assentiu.
— Se você está dizendo, mas continuará a dormir na minha cama —
advertiu ele.
— Depende, porque eu tenho uma condição que talvez você não vá
gostar de ouvir, mas falaremos depois, no meio da calçada não é lugar de
DR, senhor Lamartine. — Tirei meu braço de seu aperto e acenei, indo

embora. — À noite, se você estiver em casa, poderemos conversar e vou


deixa-lo saber o que tenho.
Encontrei papai na mesma sala que encontrei Bianca no dia anterior.
Ele estava abatido. Ele e vovô tinham uma ligação muito próxima, eu
poderia dizer que ele era o filho favorito, entre meu pai e meu tio Rogério. E,
falando nele, estava ali também em uma conversa acalorada com papai. Nem
no hospital esses dois conseguiam ficar dois minutos sem discutir.
— Aí está você, filha. — Papai me viu parada e veio me
cumprimentar. — Que bom que está aqui.
— Oi. — Beijei sua bochecha, eu ainda estava chateada com ele sobre
o casamento, mas agora não era hora para criar um clima entre a gente —
Tio?
— Sobrinha querida, cadê seu marido? Ele precisa começar a mover
as peças e colocar essa injeção capital na empresa o quanto antes.
Jesus, ele estava respirando? A enxurrada de palavras saiu sem fôlego.

— Tio, acho que aqui não é o lugar para se preocupar com isso,
estamos com vovô correndo risco de morte — falei, deixando claro meu

aborrecimento. — Você pode ir tratar com Lucca sobre essa questão


financeira, ele é o CFO.

— Acho que está enganada, como presidente você que deve me


responder sobre esse assunto, afinal, casou com o Lamartine. Se fosse com a

minha Liana, tenho certeza de que ela já teria uma resposta mais positiva. —
Ele estava certo, nós trabalhávamos mais juntos que qualquer outro cargo na

empresa, mas o que diabos Liana fazia na conversa?


Não respondi e me virei para meu pai.

— Você teve notícias do vovô?


— Falei com os médicos, estão pensando em transferi-lo para uma

enfermaria, ele está melhor hoje.


— Oh, graça a Deus!
— Mas não sai tão cedo daqui — complementou ele.

— Mas já é uma ótima notícia. Você falou com ele?

— Não, talvez no fim do dia.


— Estou indo para a empresa, alguém tem de trabalhar aqui — Tio

Rogério disse quando não demos atenção às suas lamúrias, indo embora sem
se despedir. Ele era tão insensível. Nem parecia que o pai dele estava lá

dentro internado.
— Rogério é um caso perdido — papai disse, resignado. — Sempre

procurando um jeito de se sentir como se fosse o único com juízo na família.


— Mesmo não gostando da forma como ele age, vovô tem um pouco

de culpa sobre isso — disse. — Sempre preferiu você a ele.


— Não é culpa nossa, mas ele age como se fosse.

— Podemos ir tomar um café? Preciso te perguntar uma coisa —


disse, pois tinha algumas questões para conversar com ele sobre Rafael

Levei papai para o café dentro do hospital e pouco depois estávamos


sentados, cada um, com um café à sua frente.

— Algum problema? — Ele parecia genuinamente preocupado.


— Nada além de ter me casado forçada — alfinetei, pois isso também

era culpa dele, não ia passar a mão em sua cabeça, que andava desmiolada
ultimamente.
— Sua irmã não deveria ter fugido com Lucca — retrucou ele. E,

quando viu meu olhar de espanto, disse: — Vocês meninas acham que fazem
coisas às escondidas, mas ainda sou o pai de vocês e vejo através de vocês,

como quando eram crianças travessas.

— Bem, mas não é de Bianca e Lucca que quero falar — disse. —


Quero falar sobre Rafael.

— O que tem ele?


— Você o conhece bem? Sabe alguma coisa sobre ele e o vovô?

— Sobre ele e seu avô? Por que teria alguma coisa?


— Rafael passou a impressão de que não gosta do vovô e nem muito

de você — comecei a falar e por alguma razão eu senti como se estivesse


sendo desleal com meu marido, o que era estranho, já que não devia nada a

ele. Ele provavelmente agora deveria estar rindo de mim com sua assistente
admiradora.

— Elabore, Aurora, não sei de nada.


— Sempre que Abner é citado, ele fica estranho. E não demonstrou

nenhum interesse com a saúde do vovô, não somos exatamente uma família
coesa, já que mal nos casamos, mas seria educado perguntar, não acha?

— Rafael é um homem prático e ocupado, Aurora — disse papai e


senti que ele estava tentando procurar uma desculpa para a atitude estranha
de Rafael. — Ele não é apegado a nada, vejo que você está procurando
motivos para acabar com seu casamento.

O quê?

— Não é nada disso, papai. Claro que não estou feliz com esse
casamento falso, mas não estou procurando desculpas para sair dele. Eu não

ficarei casada se sentir que não devo, independentemente de investimentos


ou não. — O aborrecimento me consumiu e sorri, mas não estava de bom

humor, estava puta com aquela conversa. — Você diz amar suas filhas, mas
percebeu que colocou eu e Bianca como gados para sermos abatidas?

— Você e sua irmã não são donzelas em perigo, Aurora. São mulheres
de negócios, você é presidente de uma empresa multinacional e...

— Eu sei disso, mas você agiu como CEO, papai. Concordou com
coisas sem nem nos consultar, só decidiu e comunicou que uma de nós duas

seríamos esposa de Rafael e que cabia a ele decidir qual, como se você fosse
dono de nossas vidas. — Estava tão furiosa. — Rafael poderia estar

tramando assumir a Pontes e você nem notaria, não é?


— Aurora...

— Eu achei que você podia saber de algo do passado dele, mas nem
pesquisou, não é?

— Por que deveria? Ele é um homem de negócios e quer investir na


Pontes e vou questionar isso por quê?
— Papai, como diabos você é o CEO?

— Você sempre quis o cargo, não é, princesa? Deixe eu morrer

primeiro que você assume, mas antes irei continuar lá.


Como diabos essa conversa tinha tomado aquele rumo? Olhei para

meu pai e vi claramente a fraqueza nele. Eu o amava de verdade, mas ele me


decepcionou demais. Aquela conversa com ele era para falar sobre o que

escutei de Rafael no dia do nosso casamento, mas por alguma razão me vi


recuando de contar a ele. Devia descobrir sozinha.

— Vou para a empresa, você vai ficar aqui?


— Vou, alguém tem de estar aqui se Abner acordar e chamar pela

família. — Ele podia ser muitas coisas, mas amava Abner. Queria que ele
amasse a mim e a Bianca assim. Ele nos amava, mas não tanto, se estava

pronto para nos estregar a quem pagasse mais, como no século passado.
Levantei-me e ele imitou o gesto e voltamos para a sala de espera,

despedi-me dele e saí mais frustrada que antes.


Ele não era geralmente ríspido comigo e Bianca, mas havia um tempo

que ele estava meio estranho, talvez a possibilidade de perder a Pontes o


estava afetando mais do que ele admitia.
14

Peguei um táxi para a empresa e passei o resto da manhã trabalhando,

minha assistente estava louca porque estive longe por três dias. Era quase a
hora do almoço quando a porta da minha sala se abriu e meu marido entrou.

— É educado bater à porta quando está fechada antes de entrar, senhor


Lamartine — falei friamente para ele.

— Não quando é seu marido. — Ele caminhou até parar ao lado da

minha cadeira, fazendo com que erguesse a cabeça para olhá-lo. Erro meu,
porque ele aproveitou minha posição e se inclinou plantando a boca na
minha. O beijo não foi delicado, era como se ele estivesse vindo em uma
missão, sua língua invadiu minha boca saqueando tudo, lambendo
sensualmente a minha, sem ação eu só pude beijá-lo de volta. Ofeguei de

boca aberta, buscando ar, enquanto ele mordia o meu queixo, com a mão em
meu pescoço, prendendo-me no lugar. — Humm — resmungou e se ergueu,
quebrando nosso contato, seus olhos estavam mais escuros e cheios de
luxúria mal contida e desejei que ele continuasse, mas ele não o fez. Em vez
disso ele jogou um balde de água fria na minha excitação. — Ah, aí está ela,

a mulher que fodi na noite passada, a megera chata de hoje de manhã deve
ter sido sua irmã gêmea má.
Suas palavras me fizeram lembrar meu aborrecimento de mais cedo.
Empurrei-o para longe e me levantei para não ter de ficar em posição
inferior e olhando-o de baixo para cima. Quando desocupei minha cadeira,

ele sentou-se e me puxou pela cintura, fazendo com que me sentasse em seu
colo.
— Jesus, Rafael! Você não tem limites? Estamos na empresa.
— E daí?

— O que você quer, vindo me aborrecer aqui?


— Você disse que tinha algo para me dizer, amor. — Seus braços eram
como tentáculos ao redor da minha cintura e eu estava sentada bem em cima
de seu pau, que estava muito duro debaixo de mim. E, sem querer, me vi
roçando na maldita coisa, arrancado um gemido de Rafael que tinha o rosto
enfiado no meu pescoço, seus lábios deixando um rastro de fogo em minha
pele.

— Onde está sua assistente? — A pergunta saiu ofegante quando


queria que minha voz soasse fria e distante.
— O que tem minha assistente, amor?

— Pare de me chamar assim!


— Não. Você é minha, Aurora, e chamarei você do que quiser. —
Senti sua língua lambendo minha orelha, sua mão afastando meu cabelo para
um lado e inclinei a cabeça, dando acesso para sua exploração. — O que tem
minha assistente?
— Vocês são íntimos? — perguntei e ele parou o que estava fazendo.
Lamentei a perda.
— Defina íntimo, amor. Porque se for o que estou pensando, está
equivocada. — Ele realmente estava se fazendo de desentendido?

— Estou perguntando porque se vocês não são amantes, ela quer


muito ser, além de você permitir, sua funcionária toda melosa em cima de
você. Ela não parou de tocá-lo em todo o momento que estiveram juntos pela
manhã — falei e ele começou a sorrir. Quando comecei a sair de seu colo,
ele me segurou ainda mais firme.
— Está com ciúmes, Aurora? — Ele estava rindo de mim?
— Para ter ciúme é preciso gostar ou amar alguém, Rafael —
vociferei, empurrando-o para longe, mas foi tudo em vão, ele mantinha um
aperto de aço à minha volta. — Mas não vou tolerar outras mulheres, não

importa o quanto esse casamento seja de conveniência, não haverá mulheres


para me humilhar a cada vez que encontrar uma delas.
Ele segurou meu pescoço pela nuca e me fez olhá-lo, seus olhos
intensos conectaram com os meus.
— Por que haveria eu de ter outras mulheres, Aurora, quando tenho
você? — Ele parecia falar sério, mas eu não podia acreditar em tudo que ele
dizia. Ele me olhou atentamente e não recuei, sustentei seu olhar. — Não há
outras mulheres. Quando tiver, aviso você.
— Você está falando sério, isso quer dizer que não tem agora, mas
poderá ter? — Ele era inacreditável.
— Dependerá de você — disse displicentemente, como se não fosse
grande coisa.
— Tudo bem. — Sorri docemente para ele.
— Tudo bem o quê, amor? — Ele sorriu também e era um maldito
sorriso genuíno que raramente ele dava.
— Isso aí que você disse, que dependerá de mim — falei, ainda

sorrindo. — Não sei o que é depender de mim, mas fique ciente de uma
coisa, eu sou a favor de direitos iguais. Você tem suas mulheres e eu meus
homens, que tal?
Seu sorrio desapareceu completamente.
— Não achei engraçado
— O quê? Não é engraçado? Depende de você, amor, para me manter
na linha. — Ele agarrou meu cabelo, puxando com força. A excitação
percorreu-me e o que deveria me irritar, estava me deixando quente e
incomodada.
— Deixe outro homem tocar você, e verá o que acontece — rosnou,
seus olhos verde-escuros duros. — Eu acabo com o infeliz.
Encostei-me nele e rebolei minha bunda em seu pau que estava, se
possível, ainda mais duro.
— Então estamos entendidos, não é?
— Você está preparada para seus funcionários ouvirem você gritando
enquanto de fodo em sua mesa?
— Você não é nenhum louco, Rafael... — comecei a repreendê-lo, mas
ele engoliu minhas palavras quando tomou minha boca novamente, de
alguma forma acabei escarranchada em seu colo com a saia enrolada na
cintura e as mãos de Rafael agarrando minha bunda, completamente exposta.
Suas palmas caíram em um tapa firme e arquejei moendo mais em seu pau

grosso, minha calcinha encharcada deixaria uma bela mancha em sua calça
depois, meu pensamento se desfez quando ele deslizou os dedos por baixo
da minha calcinha e entrou em meu canal apertado, liso, molhado. Eu gemi
em sua boca e o beijei com vontade, mas ele puxou minha cabeça para trás,
mordendo meu pescoço.
— Gosta dos meus dedos dentro dessa boceta gananciosa, não é,
amor? — disse ele, com a voz profunda, safada e sexy.
— Por favor — sussurrei, tomando seus dedos como se fossem seu
pau. — Não pare.
— Sem chance — disse e estocou mais duro, mordendo meus lábios
entre os dentes. — Vou provocar essa boceta até você gozar e, porra, se todo
o prédio te escutar gritar. Impulso após impulso ele me fodeu com seus
dedos e senti a umidade escorrendo a cada estocada dele dentro da minha
boceta. Ele saiu, pegou a umidade e arrastou até meu traseiro, um dedo
sondando o buraco apertado, tentei relaxar e ele deslizou a ponta dentro e
fora e delirei loucamente, arqueando para ter mais dele dentro de mim. E ele
me deu, seu dedo indo até o fim. Eu estava tremendo feito vara verde ao
vento quando ele começou a estocar firme em meu traseiro. Ele meteu mais
um dedo e perdi a resto de minha compostura, gemendo alto, não me
importando com quem ia ouvir.

— Oh, Deus! Rafael!


— Você já teve um pau nessa bunda, minha esposinha? — sussurrou
em meu ouvido, seu aperto forte na minha nuca, segurando-me como se eu
fosse fugir. Eu não ia, eu queria mais dele, ele todo dentro de mim, me
comendo com força. Eu balancei a cabeça em resposta a sua pergunta.
Minhas mãos foram para seu cinto e desabotoei rapidamente, com ele
ainda fodendo minha bunda com seus dedos, mas não consegui tirar seu pau
para fora porque um prazer perverso me varreu, pecaminoso, luxuriante,
puro prazer carnal. E gozei sem controle nenhum, apenas com os dedos de
Rafael, levando-me. Mordi seu ombro para abafar o grito que saiu da minha
garganta e convulsionei enlouquecida, perdida em ondas após ondas de
prazer intenso e turbulento que me deixaram completamente tomada, aberta
e perdida para ele, para seu comando. Ele beijou-me longa e
apaixonadamente, chupando minha língua, comendo-me viva. O sangue
rugiu em meus ouvidos e meu coração bateu forte o suficiente para quase
explodir em meu peito.

Quando voltei a mim, estava deitada em seu peito e ele ainda


completamente vestido. Ele estava me olhando com um sorriso convencido

no rosto.
— Você é tão sensível, tão gostosa, esposa. Vou amar comer esse

traseiro apertado e virgem — disse e sua língua arrastou-se por minha boca.
Eu poderia morrer naquele instante, mas meu celular começou a tocar

na minha mesa e vi o nome de papai na tela. Jesus! Desci do colo de Rafael e


arrumei minha saia e o riso dele me fez olhá-lo com reprimenda, mas ele não

se importou, ele me agarrou pelo quadril e me atraiu para perto.


— Tenho de atender, podem ser notícias do vovô — disse e isso

bastou para ele me soltar.


— Você tem um banheiro? — perguntou ele. Apontei a porta para ele.

Peguei meu celular que tinha parado de tocar e toquei no nome do papai para
retornar à ligação enquanto vi Rafael sumir no banheiro.
— Ei, pai — disse quando ele atendeu.

— Está na empresa, Aurora?

— Sim, o que houve?


— Seu avô está acordado e querendo ver suas netas — disse e seu tom

de felicidade me contagiou.
Tudo ia ficar bem, eu sentia isso em cada fibra do meu ser.

— Oh, Deus! Papai, estou indo vê-lo. — Depois de me despedir dele,


corri para ficar apresentável, já que Rafael me deixou toda incomodada. Ele

saiu do banheiro, parecendo que nada tinha acontecido há pouco minutos.


— Tudo bem? — Ele se aproximou.

— Tenho de ir ao hospital, vovô parece que está se recuperando —


falei e ele assentiu sério, taciturno, diferente do homem que estava há pouco

tempo comigo, moendo seu pau a seco. — Você vem?


— Claro — assentiu ele. — Levo você. Falando nisso, seu carro foi

entregue em casa.
— Obrigada.

Depois de usar o banheiro para me tornar apresentável outra vez,


estava pegando minhas coisas quando uma batida soou da porta e Bianca

apareceu no limiar.
— Aurora, papai ligou para você...? Oi, Rafael, não sabia que você

estava aqui.
— Sim, estou indo para o hospital. Você vem? E o que você faz aqui?

— Ia almoçar com o Lucca — disse ela. — Posso ir com você?

— Rafael, vai me levar.


— Tudo bem se eu ir junto?

— Claro. — Ele estava monossilábico agora?


Ele nem conseguia esconder que não gostava de Abner, tinha certeza,

precisava descobrir o que diabos tanto o incomodava.


15

Abner estava acordado.

Esse era meu único pensamento enquanto levava Aurora e sua irmã
para o hospital, a raiva que estava em fogo brando desde que soube de seu

ataque cardíaco amenizou um pouco. Se ele se recuperasse, teria uma chance


de fazer ele sentir um gostinho do próprio veneno. A família toda estava ali,

reunida, para ver o velho e me mantinha por perto.

Eu tinha um gosto amargo na boca. Ódio como ácido roendo-me por


dentro. Eu queria eu mesmo acabar com o maldito velho.
Eu não queria estar aqui, mas por alguma razão Aurora me fez querer
ficar. A minha esposa estava se infiltrando demais no meu sistema. Eu
desejei contar a ela sobre seu avô, abrir o jogo, que era ele o homem que

destruiu a vida da minha mãe, quando falei naquela noite no iate.


Sinceramente não sabia o que estava me tomando para desejar algo além de
vingança. Fechei meus olhos e me recriminei pela minha fraqueza. Não
devia ter seguido com aquela história de casamento quando Bianca não
apareceu na igreja. Ou devia ter me casado com a filha de Rogério, mas

assim como seu filho mais novo, Abner não era tão ligado à sua neta, então
não seria tão importante para o velho o que eu faria com ela. Já as filhas de
Ricardo eram outra história. O velho era um idiota por preterir uns aos
outros.
Cada membro da família foi ver Abner, um de cada vez, por alguns

poucos minutos. Eu adoraria entrar lá e dizer ao velho para se foder, mas eu


ainda precisava de tempo, minha esposa ainda não estava apaixonada por
mim.
Fitei-a quando ela saiu do quarto do avô e algo quente e incômodo me

tomou quando pensei no que teria de fazer em breve, seduzi-la estava se


saindo mais difícil do que pensei, razão pela qual eu deveria ter casado com
a porra da Bianca. Aurora era desconfiada por natureza e eu
inconscientemente estava deixando-a perceber minha raiva de seu avô?
Tudo indicava que sim, pois, desde a nossa viagem à França, me via
falando sobre o que houvera comigo e minha mãe, deixando claro minha
raiva pelo velho. Já deixei transparecer inúmeras vezes que não gostava dele

e ela não percebeu que o avô era o homem que fez mamãe desistir de viver.
Ela parecia não querer ver aquilo.
Aurora veio e se sentou ao meu lado. Ela ainda conservava o rubor da

nossa brincadeira na sua sala mais cedo. Meu pau pulsou com a lembrança.
A menina tinha um poder sobre mim que ela não fazia ideia. Em seus vinte e
quatro anos, ela tinha esse ar de menina que me deixava completamente
ouriçado, louco para corromper aquele ar angelical dela. E saber que ela não
me queria com outras mulheres, fazia a merda do meu pau rugir de
satisfação. Minha pequena esposa era ciumenta. O canto da minha boca
subiu enquanto olhei-a com vontade de esmagar sua boca com a minha,
arrastá-la para o quarto mais próximo e continuar o que fazíamos mais cedo.
Ela era tão receptiva. Mas ela tinha razão sobre Michelle, ela era uma ótima

assistente e às vezes pensava em demiti-la. Nós transamos uma vez, logo que
ela foi trabalhar para mim, cinco anos atrás, mas deixei claro que nunca
passaria disso, mas ela era mulher e sempre deu a entender que estava
esperando que eu mudasse de ideia. Hoje de manhã ela foi a porra territorial,
tocando-me na frente de Aurora. Assim que a deixei no hospital, avisei
Michele que se ela me tocasse de novo, seria demitida. Ela gostava de seu
supersalário para tentar algo do tipo de novo.
— Você não precisa ficar, Rafael — Aurora falou, seu rubor se
intensificando quando ela correu os olhos por mim e sorri conhecedor. Será

que ela estava imaginando a forma que vou foder sua bunda deliciosa mais
tarde? Porque, diabos, se não vou! — Você deve ser um homem ocupado.
Meu celular tocou em meu bolso, impedindo-me de responder, tirei e
vi o nome de Chris. Antes de atender disse para minha esposa:
— Você é minha esposa agora, Aurora, e eu cuido do que é meu. —
Eu poderia beijá-la aqui e agora e mostrar a todos a quem ela pertencia em
vez disso disse: — Dê-me um minuto, sim? — Levantei e atendi o celular,
deixando-a mais ruborizada, se é que era possível, com minhas palavras, mas
talvez o rubor fosse de raiva por externar minha possessividade. — Chris?
— Soube que o velho não partiu dessa para melhor ainda — ele falou
tão alto que temi que Aurora pudesse ter escutado. Olhei para ela e seus
olhos estavam em mim, curiosos. Ela não parecia ter escutado alguma coisa
e fui para longe.
— Acho que, no fim, vou ter a chance afinal de contas. Estou no
hospital agora, eu poderia entrar lá no quarto dele e fazê-lo ter outro ataque
cardíaco. — Eu não estava brincando, eu faria isso sem pensar duas vezes, o

ódio que passei a vida inteira sentindo de Abner, eu faria qualquer coisa para
vê-lo igual minha mãe naquele maldito banheiro coberta de sangue.
— Você deveria deixar isso quieto, Rafael, correr atrás de vingança
nunca acaba bem — disse, como sempre, desde que contei a ele por que
estava me envolvendo com os Pontes. Christian além de meu melhor amigo
era o CFO da Lamartine Investment. Ele era americano e ex-jogador de
futebol americano, tinha jogado por dois anos pela NFL, mas depois de uma
lesão abandonou a carreira e terminou a faculdade e, como já éramos amigos
desde que tínhamos doze anos, ele veio para a Lamartine. Eu tinha grande
consideração pelas suas opiniões, entretanto, sobre aquele assunto, eu não
dava ouvidos ao que ele tinha a dizer, o que era muito por sinal. O homem
vivia para me chatear com seus conselhos.
— Christian, não posso deixar para lá, o maldito matou minha mãe,
ele é preconceituoso e um maldito esnobe, ele tem de pagar por ter iludido a
mamãe.
— Eu sei, cara, mas quem vai pagar pelos erros dele não será só ele,
toda a família, que não tem nada a ver, vai sofrer as consequências. —Ele
ponderou. — E sua esposa? Ela é inocente, Rafael, talvez ela queira estar
com outra pessoa, esse casamento foi um erro.
Fechei os olhos, pensando na minha linda mulher, uma onda
possessiva me abalou quando a imaginei com outra pessoa. Porra, não! Isso

não vai acontecer, caralho. Ela era minha mulher e ia continuar sendo.
— Você anda preocupado demais com minha mulher, Christian —
rosnei, com raiva de seu maldito zelo. — Dela eu me encarrego, não meta a
merda do seu nariz.
— Você que sabe, não falarei mais nada. — Ele já tinha dito isso
antes. — Teremos nossa cerveja hoje? — Ele mudou de assunto, falando de
nosso encontro semanal para tomar uma bebida quando não tínhamos
nenhum compromisso.
— Claro. — Eu tinha esquecido daquilo, mas ainda assim, confirmei.
Suspirei aborrecido e continuei: — Chris, sei que você se preocupa comigo,
mas sobre Abner, deixe quieto.
— Já esqueci esse assunto. — Ele riu e o escutei falando com alguém
ao fundo, depois ele voltou a falar comigo. — Tem uma gostosa querendo
minha atenção na mesa ao lado, cara. Por mais que ame você, irmão, as
mulheres sempre vêm primeiro.
— Você é a porra de um cachorro no cio. — Balancei minha cabeça
—Sua ex-mulher pode acabar com sua raça qualquer hora dessas.
— Não me fale dessa megera louca, acredita que ela quer meu
cachorro? — comentou, furioso.

— Seu cachorro, seu pau, você... posso continuar? — Acabei rindo,


pois, a vida dele era uma novela com Haven.
— Foda-se! Ela quer dividir a custódia do MEU cachorro, filha da
puta. — Para fazer Christian mudar o foco de qualquer assunto era apenas
falar de sua ex-mulher. Ainda estava tão ligado nela que só bastava dizer o
nome dela e ele começava a falar sobre a mais nova peripécia que tinha
feito. Só eles não percebiam que ainda poderiam estar apaixonados. Cada
um fazia algo para chamar a atenção do outro. Ele circulava com outras
mulheres e a tinha na cola dele no outro dia. Ela fazia sua vida miserável
sempre exigindo algo ou aparecendo em sua casa de surpresa. Eles eram
obcecados um pelo outro, não havia explicação para tamanha novela.
— Te vejo mais tarde — disse, despedindo-me dele.

— O senhor Pontes precisa de tranquilidade e nada de surpresas

desagradáveis, a cirurgia foi bem, mas ele ainda não está fora de perigo, por
isso temos de mantê-lo aqui. Ele pode ter outro infarto, isso não está fora do

quadro geral. Se ele continuar com os mesmos hábitos que vinha tendo, será
fatal para ele um próximo infarto. — O médico disse e olhou para meu avô.

Ele parecia frágil e abatido, tinha dificuldade para falar, mas estava
acordado. Eu tinha torcido para que ele estivesse melhor, para eu perguntar

sobre Rafael, mas me contive, se fosse algo grave e ele se agitasse, seria
pior, poderia ter um possível novo infarto. Todos tinham ido embora, depois

da visita, e fiquei mais um pouco. Rafael permaneceu ali. Era estranho tê-lo
por perto, mas ao mesmo tempo era reconfortante.

O médico tinha saído e fui para perto da cama do vovô.


— Você devia escutar o médico, senhor Pontes — ralhei, tocando sua
mão com sinais de senescência. — Você não pode nos deixar agora, está

proibido.

— A-aurora — balbuciou meu nome e peguei sua mão.


— Não se esforce, quando estiver bem pode falar pelos cotovelos —

gracejei e acariciei as costas de sua mão. Uma enfermeira entrou e começou


a monitorá-lo e pouco depois ele dormiu. Saí de seu quarto, vi Rafael ao

telefone e me aproximei.
— Eu falo com você manhã. — Ele escutou a outra pessoa. — Sim,

estarei na empresa amanhã cedo, Michelle, e a reunião não pode ser adiada,
confirme isso. Mande para mim e trabalharei a noite nele.

Argh! A tal Michelle.


Ele desligou e voltou seus olhos para mim. Ele estava claramente

estressado e rugas de preocupação entre seus olhos mostrava isso.


— Está pronta para ir para casa? Passou a tarde aqui, nem almoçou,

Aurora. — Ele me recriminou, aproximando-se mais de mim. — Venha,


chega de ficar em hospital por hoje. Seu avô ficará bem.

Sem protestar eu segui seu comando, estava realmente com fome,


esqueci completamente de comer. Estávamos saindo do estacionamento no

hospital quando recebi um texto de Lanie.


Lanie:“Estou de volta, como está Abner? Não pude voltar antes,

querida”
Aurora:“Está melhorando. E já era hora de você voltar, fez falta”

Outra mensagem dela aparece.

Lanie:“Não é todo dia que recebemos uma proposta de pequenas


férias pagas”

Sorri com seu jeito.


Lanie:“Quando nos veremos para que você me conte tudo sobre esse

casamento aleatório?”
Outra mensagem chegou em seguida, sem que eu tenha respondido.

Lanie:“Se seu avô estiver melhor, vamos comemorar com uns drinks
no La Point”

La Point era o bar que sempre íamos para uma bebida e conversas de
meninas, era calmo e dava para conversar tranquilamente.

Aurora:“Estou indo comer algo em casa, primeiro, depois posso


aproveitar os drinks”

Lanie:“ Bianca também, quero socar aquela cara de princesa por


coloca-la nessa posição.”

Aurora: “Vou pensar”


Lanie:“ Você pensa demais, Aurora”

Lanie:“Te vejo às sete.”


Confirmei que iria encontrá-la e coloquei meu telefone na bolsa,
depois de mandar uma mensagem para Bianca, dizendo que estava intimada

hoje à noite para se juntar a nós.

— Terei de matar quem está colocando esse sorriso em seus lábios?


— Por que mataria minha melhor amiga?

— Pensei que sua irmã fosse sua melhor amiga.


— Ela só é a irmã, o posto de melhor amiga é de outra. — Eu não

sabia os planos dele para hoje, por isso acabei dizendo: — Vamos nos
encontrar lá pelas sete e tomarmos umas bebidas e comemorar a recuperação

de Abner. Então se você tiver plano para nós...


— Vá se divertir, Aurora — disse ele. — Mas primeiro se alimente,

vai ficar doente se continuar se esquecendo de comer.


— Qualquer um pensaria que é um marido dedicado e apaixonado

pela esposa, Rafael. — Ri sem graça pelo tom preocupado dele. Ele não
respondeu, o que ele fazia muito, sempre que eu fazia uma observação ou

perguntava algo que ele não gostava, ou criticava alguma coisa. Eu deixei
para lá, mas percebi que enquanto dirigia, uma vez ou outra, olhava-me pelo

canto do olho.
Meu marido poderia gostar um pouco de mim?
16

Cheguei ao bar e Lanie já estava em uma mesa de canto, me

esperando. Ela estava bronzeada e toda iluminada por ter passado esses
últimos dias no Nordeste, tomando sol nas praias. Ela se levantou quando me

viu e me abraçou como se não me visse há muito tempo.


— Meu Deus, Aurora, eu saio por cinco minutos e você se casa? —

Ela bateu em meu braço. — Deveria te bater, garota!

— Já bateu! Cadê minha bebida? — Sorri feliz que ela estava de volta.
— Bianca ainda não apareceu?
Ela nem tinha me respondido, estava em uma eterna lua de mel com
Lucca.
— A safada deve estar com medo de me ver, vou lhe dar uns sopapos

por te colocar nessa situação. — Ela falou de brincadeira, mas nossa


amizade era desse nível, de tomar as dores uma da outra.
— Eu me casei porque quis, Lanie. Apesar das exigências de Rafael,
tentando manipular a situação do casamento, ele não colocou uma arma na
minha cabeça. Eu poderia ter recusado. — Só com Lanie eu poderia me abrir

e falar a verdade, eu não fui obrigada, eu caminhei para aquele altar porque
achei que devia. Eu, antes de tudo, sabia que a Pontes poderia vir a falir se
não tivesse uma boa interferência de uma injeção de capital.
Estava fazendo o pedido de um cosmopolitan quando meu celular
vibrou na minha bolsa. Peguei o aparelho e vi a resposta de Bianca.

Bianca: “Desculpe não responder antes, mas Lucca já tinha planos


para a noite. Mande um beijo para Lanie”
— Bianca? —Lanie perguntou, apontando para o celular
— Ela não vem, planos com Lucca — disse e joguei o aparelho de

volta na bolsa. — Então seremos só nós duas. Conte-me como foi suas
férias.
— Minhas férias só não foram perfeitas, porque Lucca achou que não
deveríamos voltar quando soube o que aconteceu. Eu quis voltar antes do
planejado, e tivemos um desentendimento, mas não quero falar de mim,
quero saber sobre você e o gostosão do Rafael.
— Saber o quê? — Fiquei vermelha, me entregando e Lanie

gargalhou. Ela sabia da minha paixão por ele desde que o conheci.
— Diga-me, casou com ele porque estava apaixonada, não é? —

deduziu. Eu não tinha admitido aquilo nem para mim mesma e agora ela
queria que eu colocasse minhas entranhas para ela ali?
— Claro que não! Casei-me pela Pontes, porque também achei que
podia ganhar um tempo e o casamento era falso — disse — E, eu sei que ele
retiraria sua proposta da mesa, caso não fizéssemos o que ele queria — soou
falso até para mim quando as palavras saíram da minha boca.
— Você diz isso para si mesma todos os dias quando levanta da cama,
querida Aurora? — ela falou num tom humorado de deboche. — Sou eu,
Lanie, sua melhor amiga aqui, não seu pai ou sua irmã. Eu sei que é

apaixonada por Rafael e que viu nesse casamento uma forma de conquistá-
lo.
— Não foi bem assim, — continuei falando. Ele fez seu advogado
conseguir uma troca de nome nos documentos em tempo recorde. Aquele
advogado dele tem algum poder demoníaco. Estou falando.
O garçom trouxe minha bebida e tomei um gole para molhar minha
garganta repentinamente seca.
— Entendo.
— Eu fiz o que tinha de ser feito.

— Eu sei que nenhum homem forçaria você a se casar com ou sem


empresa — disse Lanie, com um olhar conhecedor para mim. — Então me
conte tudo.
— Eu realmente não fiz isso consciente, Lanie, de verdade — falei e
certamente eu não tinha tomado consciência de que havia aceitado
facilmente por estar apaixonada por Rafael, e que minha raiva por ele era
para camuflar tudo aquilo. Seria possível?
— Ok, pode ser, conhecendo você como conheço, nem acreditei
quando mandou a notícia que Bianca tinha deixado Rafael no altar e que
você simplesmente casou no lugar dela. Loucura.
— Sim, louco mesmo, mas ele tem algum motivo escuso para esse
casamento, Lanie, e eu quero descobrir o que é — expus. — Ele não gosta
muito dos Pontes, meu pai, e vovô, então. Por que ele quis fazer parte dessa
família? Não faz sentido.
— O que seria esse motivo? Não consigo pensar em nada. — Ela se
inclinou para frente. — Já pensou em perguntar ao próprio Rafael

— Sim, e ele nega. Acha que ele diria se tivesse algo contra nós?
— Agora me fale sobre o homem na cama. — Ela bateu palma toda
feliz, como uma criança no parque de diversão. — Vocês fizeram, né?
— Lanie — disse, meu tom de reprimenda, olhando para os lados.
Felizmente as pessoas ao redor não aparentavam estarem escutando nossa
conversa. Inclinei-me para frente e falei baixo. — Ele é incrível.
Simplesmente maravilhoso.
— Meu Deus! Aurora está recebendo algo! Já era hora. — Ela riu
divertida e seus olhos brilharam para mim. — E o tamanho?
— Sério, Lanie? Uma mulher dessa idade parecendo uma adolescente?
— Querida, uma mulher não tem idade para querer saber sobre essas
coisas, principalmente eu que gosto muito da coisa em questão. — Ela fez
sinal para o garçom trazer outra bebida para nós. — Então o tamanho está
proporcional ao tamanho e largura do homem? Veja bem, largura também é
importante.
O tempo passou sem que nós duas percebêssemos, pois Lanie me fez
rir com seus comentários sobre pau e toda safadeza que ela conseguia
pensar. Estava me divertindo horrores com sua conversa quando ela olhou
para atrás de mim.
— Aquele ali não é seu marido pauzudo, junto com o gato suculento
Christian? — ela perguntou e me virei para ver Rafael e Christian vindo em

nossa direção.
— Se recomponha que você tem um namorado. — Eu a lembrei,
enquanto ela tinha olhos de loba faminta olhando para Christian, no entanto,
eu sabia que ela fazia isso apenas para se divertir. Ela não era namoradeira,
nem nada, estava com Daniel por anos.
— Tenho um namorado que gosto além da conta, mas não sou cega
nem doida — disse ela e abriu um sorriso quando os homens chegaram
próximos a nossa mesa. — Senhores sejam bem-vindos.
Eu tinha dito a Rafael qual bar viria e ele achou legal aparecer para
atrapalhar minha noite com minha amiga?
Eles sentaram-se à mesa a convite de Lanie e Rafael puxou sua cadeira
até estar colada a minha. Ele passou o braço por trás do encosto e se inclinou
para mim, seus lábios roçando minha orelha.
— Oi, amor — disse num sussurro íntimo que fez arrepios correrem
por meu corpo. Quando olhei para Lanie, ela tinha um sorriso mal contido e
só lembrei do nosso papo sobre o pau de Rafael. Deus!
— Você está me seguindo? — Minha voz saiu meio arfante.
— Aurora, é bom ver você — disse Chris, do outro lado da mesa, ao
lado de Lanie. — Eu sinto muito pelo seu avô.
— Obrigada. — Acenei para ele em agradecimento. — Não sabia que

vocês iam sair — comentei para ele e Rafael que continuava com o braço no
meu ombro.
— Uma vez na semana, sempre tiramos um dia para uma bebida —
Chris comentou e olhei para meu marido que estava fazendo sinal para o
garçom.
A conversa continuou e senti os dedos de Rafael acariciando meu
ombro, como se me tocar fosse algo inconsciente e ele nem percebesse que
estava me tocando.
Duas horas antes

Estava entrando no nosso lugar de sempre quando vi Chris chegando


também. Ele veio e me deu um abraço de um só braço e bateu nas minhas

costas, um pouco forte demais, devo dizer.


— Bom te ver também, Christian — disse quase devolvendo o soco.

— Isso é pela sua cabeça dura. — Sentamo-nos em uma mesa nos


fundos do bar. O local era mais reservado e daria para conversar sem tanto

barulho ao redor, logo o garçom, que já conhecia nosso pedido costumeiro,


colocou nossos copos à nossa frente.

— Bem, senhores, aqui está o de costume — disse ele atencioso e


acenei.

— Obrigada, Tadeu — agradeci a gentileza. — Pode continuar


trazendo, mas sem exagero, sim?

— Senhores... — Ele sorriu e nos deixou novamente a sós.


Virei para Christian.
— Será que escutei errado você dizer que esse assunto estava
finalizado?

— Não posso deixar, meu brother, vai se meter em confusão quando

sua esposa descobrir seu plano macabro.


— Não tem nada de macabro, Christian, a ideia sempre foi fazer

Abner pagar por seus atos e até agora eu não fiz nada disso. Ele
simplesmente achou legal acabar com eles — argumentei ainda furioso que

Abner tinha tido um ataque sem que eu pudesse tê-lo no chão de joelhos. O
quanto ele imploraria para que eu continuasse com sua neta em vez da

humilhação que ela sofreria na alta sociedade que ele tanto prezava. Ter a
neta humilhada ou implorar que continuasse casada com o “favelado”? O

orgulho dele com certeza não iria querer que eu a deixasse. Bom, de
qualquer maneira, isso foi o que fantasiei, de verdade? Aurora tinha

aparecido e mudado tudo. E isso, porra, só ficava pior, e eu nem sabia o que
faria se ela revolvesse que não queria continuar com aquele casamento, que

se sustentava apenas porque ela não queria que a Pontes viesse a falência.
—Então, se você diz. — Chris sempre argumentativo.

— E Aurora não vai descobrir nada, não, se eu puder evitar.


— Eu vejo que está apaixonado — zombou ele.

— Não seja ridículo. — Saí pela tangente, pois não sabia o que sentia
por Aurora além do desejo louco de fodê-la até cair morto. Apenas a ideia de
não a ter mais em minha vida fazia meu peito queimar como se alguém

estivesse com um ferro quente me marcando. O que era ridículo, eu não me


sentia assim pelas mulheres, elas iam e vinham com mais frequência que

não, mas eu tinha uma possessividade com ela que nunca tive por mulher

nenhuma.
— Você tem falado com sua tia? — Chris perguntou. Ele conhecia

minha tia, já que crescemos e estudamos na mesma escola, ele ia sempre na


casa de Letícia quando éramos mais jovens. Eu não falava muito com ela

ultimamente, meu envolvimento com os Pontes a deixou extremamente


chateada, e toda vez que nos falamos ao telefone, ela sempre ia ao ponto, ela

queria que mantivesse distância da família que destruiu a nossa. A morte da


mamãe não só afetou a mim, mas a minha tia de uma maneira irreparável.

Encontrar sua irmã morta em sua casa, foi algo que mudou Letícia, não foi
pior porque ela me tivera lá para terminar de criar ou ela teria sérios

problemas psicológicos. Ela dizia que eu era sua terapia, tinha a mantido
firme. Por isso o Pontes mais velho nunca saiu dos meus planos de um me

vingar dele.
— Não, ela anda chateada, você sabe — disse, por fim, tomando um

gole do meu uísque


— Ela tem medo de perder você também, Rafael, ela perdeu a irmã e o

marido. E vê-lo seguindo por um caminho de vingança, ela tem receio que
isso te leve por um caminho sem volta. — Ele me encarou — Sabe o ditado,
não é? Antes de sair atrás de vingança, cave duas covas?

Talvez ele tivesse razão. Desde que comecei a perseguir os Pontes,

nada deu muito certo e quando achei que os colocaria onde eu os queria,
Aurora apareceu, fazendo-me questionar tudo e, agora, Abner querendo

morrer antes de eu tê-lo implorando aos meus pés por misericórdia.


— Podemos mudar de assunto? — Sorri e perguntei: — E Haven?

— Haven, quem?
Abri um sorriso completo, ele estava tão fodido.

— Haven, aquela que o mantém pelas bolas, bem amarrado.


— Não conheço nenhuma Haven, Rafael. — Eu gargalhei com sua

cara de pouco amigos. — De quem foi a ideia de ela vir morar no Brasil? Ela
tem parte com satanás, ou ela tem uma câmera na minha casa, porque sabe

exatamente a hora que não deve aparecer. — Escondi meu sorriso. Bingo!
Ele mais uma vez se deixou levar por sua ex. — Haven será minha morte,

estou te falando. E você acredita que ela quer o Rushy?


Ele já havia falado que Haven queria o cachorro, mas como sempre,

ele tinha que falar mais sobre o assunto. Meu amigo estava indignado.
— Sabe o que acho? — perguntei, ainda com um sorriso nos lábios.

— Diga-me, pois estou prestes a cometer um assassinato. Mulher


louca — rosnou ele, furioso, como se Haven estivesse ali para receber o
tratamento.

— Deveriam voltar a ficarem juntos.

— O quê? Está maluco? Ela me enlouquece, cara! — Mas o olhar dele


dizia que tinha mais ali que eles não falavam. Eu sabia que tinha acontecido

algo para eles se divorciarem e não era porque Haven o deixava louco.
— Por isso mesmo, quando uma mulher te enlouque é porque ela é

especial, pode acreditar.


— E desde quando você virou o guru dos relacionamentos? —

debochou e, quando não respondi, parou de falar, observando-me


atentamente. — Aurora está fazendo milagres por você em tão pouco tempo?

— Sabe que ela era... — o que ela era para mim? As coisas têm ficado
cada dia mais confusa, minha atração por Aurora não era de hoje, desde que

a conheci que a queria para mim, eu agora a tinha e queria mantê-la, porra!
— O que sente por ela? — Ele esticou as pernas por baixo da mesa em

uma posição confortável. Ele estava me analisando?


— Não sei, apenas não parece certo ter me casado com ela.

— Sei que a queria desde que veio para o Brasil e a viu, por que isso
então? É sua chance com a mulher que desejou, meu amigo.

— É o que estou falando. Casar com ela nestas circunstâncias... ela é


uma mulher incrível e não merece que eu a magoe, se eu for até o fim com

meus planos. — Dei de ombros. — Falando nela, ela está em um encontro


com uma amiga. Deveríamos passar lá. — Eu estava nesse nível de carência,
porra.

— Então vamos lá, preciso conhecer mais a mulher que está laçando

meu amigo. Cara, você levou uma surra de boceta, é hilário de ver. — Ele
riu e, pouco mais de quinze minutos depois, estávamos no bar onde Aurora

disse que estaria.

Quando nos sentamos à mesa com elas mais tarde, eu só pensava em


tirá-la dali, levá-la para casa e tomar aquele corpo gostoso. Aurora ficou

mais calada desde que me sentei ao seu lado e eu não conseguia tirar a mão
dela. Enquanto conversávamos, deixei meus dedos irem e virem sobre sua

pele sedosa do ombro até a nuca, meu polegar fazendo redemoinhos em sua
pele, os arrepios que causei a cada vez que arrastei meus dedos, me fez ficar

duro pra caralho. Ela era incrivelmente receptiva e eu amava isso, porra!
Quando, por fim, demos a noite por encerrada e paguei sua conta,

Chris se aproximou de mim.

— Agora é a minha vez de opinar sobre sua vida amorosa. Aurora está
apaixonada por você, cara, não estrague isso — disse muito sério, o que era

raro quando ele não estava em uma sala de reunião. Olhei para onde ela
estava com sua amiga e a encontrei me olhando e sua amiga rindo. Elas

estavam falando de mim? Ela estaria mesmo apaixonada? Ela ficou chateada

por eu ter exigido que ela substituísse sua irmã, seria por isso? Ela estava se
sentindo preterida por eu ter escolhido casar com Bianca. Tolinha, a única

razão por ela ser deixada de lado era que eu não queria magoá-la, só em
pensar nisso me deixava furioso.
17

Assim que entramos em casa, eu tinha Aurora prensada na porta

enquanto atacava seus lábios com o meu, o beijo foi duro e falava de uma
loucura que tomava cada célula dos nossos corpos. Agarrei sua bunda e a

levantei para que ela enrolasse suas pernas no meu quadril enquanto lambia
e devorava sua boca gostosa. Maldição, estava louco por essa mulher, ela

parecia um maldito vício sem controle, depois da primeira dose, estava

completamente dominado e viciado na boceta deliciosa dela. Minha mulher.


E mal começamos nesse jogo.
Aurora deslizou para o chão e se ajoelhou diante de mim.
— Eu quero prová-lo, quero-o em minha boca, Rafael — disparou em
um som rouco que fez meu pau inchar mais e mais, gemi ensandecido. Suas

mãos trabalharam com maestria e, pouco depois, meu pau saltou duro e
orgulhoso para fora da minha boxer. Agarrei a base grossa do meu pau e
esfreguei a ponta nos lábios inchados dos meus beijos.
— Então tome, amor, chupe-me gostoso. — Sorri sombriamente,

minha mente tomada pela luxúria. Ela colocou beijos na ponta como se fosse
algo delicado e tentei levar a coisa ao próximo nível, mas ela me parou,
saboreando o momento, sua língua saiu e ela lambeu lenta e
provocativamente, seus olhos escureceram de prazer quando ela me engoliu
todo em sua garganta, arrancando-me um gemido.

— Merda!
Nossos olhos estavam trancados um no outro enquanto ela levava meu
tamanho até a base, com lágrimas enchendo seus olhos. Impaciente eu saí e
voltei, fodendo sua boquinha impertinente com gosto, ela choramingou

enquanto fodia até sentir que iria explodir. Ela levou tudo de mim sem
reclamar, ela gostou da minha rudeza, pois umas de suas mãos estava entre
suas pernas, brincando consigo mesma, minha esposa safadinha. Apesar da
vontade de gozar e encher sua boca com minha porra, eu me controlei e a
puxei para cima, eu queria gozar na sua boceta apertada que me pertencia.
Arranquei o restante de nossas roupas e a empurrei para o sofá. Precisava
estar dentro dela, mas antes...

Deitei-a no sofá e abri suas pernas, ficando de joelhos entre elas. Sua
boceta rosada era como um chamariz, abri os lábios.
— Amo sua boceta — disse antes de me inclinar e passar minha

língua em sua carne, prazer me fez fechar os olhos enquanto lambia e


chupava seu clitóris, o botãozinho duro, latejando em minha boca.
— Rafael... — Ela ofegou e agarrou meu cabelo com força, a picada
de dor só me fez continuar com meu ataque a sua gulosa boceta. — Eu
preciso gozar...
Eu dei a ela o que queria, penetrando dois dedos em seu canal
gotejante e apertei, encontrando aquele pontinho certo que tinha Aurora
inclinando o quadril para cima. Ela gritou quando o prazer fez seu corpo
convulsionar e eu não dei trégua, bebi cada gosta de seu prazer. Ela ainda

estava voltando das nuvens quando a virei, deixando-a de joelhos e, sem


qualquer cerimônia, entrei nela até o talo. Bati sem dó, fodendo como um
homem desesperado, uma palmada de minha mão em sua bunda a fez arfar e
arquear para mais. Não houve delicadeza quando agarrei um punhado de
cabelos e enrolei no punho enquanto martelava dentro e fora dela. A
quentura na minha espinha prenunciava meu clímax. Aurora estrangulou
meu pau quando ela gozou novamente e não segurei mais, eu fui com ela.
— Porra, sim! — gemi rouco, o prazer enlouquecido irradiando por
minhas bolas, e cada parte minha parecia que ia explodir em um prazer

infinito.
Caí por cima de Aurora sem forças. Rolei para o tapete e ela caiu em
cima de mim, invertendo nossas posições, e ficamos lá, apenas nossas
respirações no silêncio da casa. Droga, nem lembrei que Joane ficaria até
tarde por ali.
— Venha, amor. — Eu peguei Aurora no colo e subi as escadas para
nosso quarto e fui direto para o banheiro. — Você está bem? — perguntei,
sentando-a no balcão e, depois, indo encher a banheira.
Ela estava calada e me olhando enquanto estava organizando o banho.
— O quê? — Dei a ela um meio sorriso, ao mesmo tempo que corria
meu olhar por seu corpo divino. Caramba, ela era linda pra caralho!
— Só admirando a vista — disse ela, com malícia em seus olhos, e
meu sorriso cresceu. — É um homem incrivelmente bonito.
Voltei para ficar entre suas pernas e me inclinando levei um mamilo na
boca, sugando forte o broto. Porra, ela me intoxicava de uma maneira que

queria aquilo para sempre, pois Aurora tinha a capacidade incrível de me


deixar sem defesas e eu gostava, por incrível que parecia.
Eu nunca pensei em casar e ter uma família, esse conceito era um
tanto abstrato, pois nunca imaginei que existisse uma mulher capaz de mudar
minha mente das mentiras que eram as famílias. Eu nunca cogitei casar-me
com a neta de Abner e querer levar aquilo para sempre. Aurora era como
uma porra de luz, cegando-me e eu não me importava, caralho. Só que era
complicado se ela descobrisse que nunca tive intenção de ser um marido de
verdade no início. Eu estava mesmo cogitando desistir de todo ódio por ela,
para ficarmos juntos?
Eu odiava Abner com tanta força. Queria vê-lo sangrando igual minha
mãe. Ao mesmo tempo, feri-lo, era o mesmo que dizer adeus a Aurora.
— Rafael, a banheira está cheia. — Ela ofegou em um gemido. Rodei
a língua na protuberância tesa de seu mamilo, fazendo-nos gemer quando
suguei forte. — Oh, Deus! Rafael!
— Hora do banho, amor. — Dei a ela um sorrio malicioso. — Você
me deve algo.
— O quê?
— Hoje mais cedo eu disse que ia comer essa bunda, não disse?
— Oh! — Um vermelho escarlate pintou suas bochechas.
— Bem, eu pretendo tê-la hoje.

Pegando-a em meus braços, coloquei-a na banheira, juntando-me a ela


na água quente. Aurora se virou montando-me de frente e, porra, se isso não
era o céu?
— Você pode ter tudo de mim — disse ela, com a boca colada a
minha, nossas respirações se misturando. Desci as mãos e agarrei sua bunda
e moí nossas pélvis juntas. Sua boceta aberta por todo comprimento do meu
pau em um vai e vem lento e gostoso, ela gemia com a estimulação do seu
clitóris.
— Não brinque com a “comida”, Rafael, me devore inteira —
reclamou e joguei a cabeça para trás, gargalhando. O sorriso sumiu do meu
rosto quando ela pegou meu pau, sentando-se nele até estar todo encaixado
dentro dela. — Porra, sim. — Sibilei quando deslizei para fora e voltei
batendo em sua boceta necessitada. — Você é mais safadinha do que eu
imaginei quando a via toda certinha, Aurora.
Ela apenas me fodeu, buscando seu prazer, tirando de mim o que ela
queria. E dei a ela cada maldita coisa. Meu pau deslizou como um pistão em
sua boceta escorregadia e nós dois explodimos juntos sem qualquer aviso. O
tesão parecia nos consumir, dominados, entregues e nada como antes.
Pertencíamo-nos, pelo menos naquele momento era apenas nós.

Loucos para foder os miolos um do outro.


E quem se importava? Ali era apenas Rafael e Aurora, sem família,
sem vingança, mentiras e sem nada que pudesse interferir na nossa bolha.
Os dias seguiram e cada vez mais Rafael e eu nos conectávamos,
tínhamos uma dinâmica que nunca pensei que teria com ele. O sexo? Bem,
vamos apenas dizer que se estávamos em casa, estávamos na cama. Deus,
era como se não precisássemos fazer outra coisa, apenas sexo e mais sexo.
Eu esquecia a cada dia a razão de ter me casado com ele. Rafael parecia
apaixonado, ele era atento com cada coisa sobre mim.
Eu não queria sair como casal nos encontros sociais ainda, entre os
amigos do meu avô e meu pai, não com Abner doente, festejar parecia de

mau-gosto, mas saímos para jantar juntos algumas vezes e com nossos
amigos, depois daquele encontro no bar que Rafael veio com Chris nos

encontrar. Ele era muito próximo de Christian assim como eu e Lanie


éramos próximas e nos dávamos bem. Bianca e Lucca se juntaram no

próximo encontro e não existia mais tensão entre ele e Rafael. Meu marido
parecia ter esquecido que Lucca roubara sua noiva. E eu estava tão

envolvida com Rafael, que esqueci que nada era real, que suspeitei dele no
início. Ele era maravilhoso comigo que nem lembrava mais da conversa que

escutei no dia que nos casamos.


— Estou começando em um novo escritório de advocacia na próxima

semana — Lanie disse do outro lado da mesa, trazendo-me de volta dos


meus devaneios. Ela, Bianca e eu estávamos em um almoço, longe de nossos

homens. Era sábado e tiramos o dia de meninas para compras. — Vou


trabalhar com Domênico Garcia. A Garcia e Associados é meu sonho de
consumo. — Ela suspirou toda excitada, olhos brilhantes, como se estivesse

falando em atingir o nirvana de tanta empolgação. — Ainda não o encontrei,

mas vou trabalhar direto com ele. Isso foi o que a entrevistadora me
garantiu, que ele vai precisar de um advogado auxiliar, então a escolhidaaaaa

— ela cantarolou, batendo palmas e apontando para si mesma.


— Se contenha, mulher! — Bianca brincou e rimos de seu entusiasmo.

— Parabéns, querida, tenho certeza que ele não vai se arrepender de


ter você lá. — Coloquei a mão em cima da dela sobre a mesa. — Você é

incrível, sabe disso, não é? Mas esse Domênico não é o advogado do Rafael?
Bianca, que estava mexendo no celular, acenou com ele no nosso

rosto.
— Agora eu entendo por que ela está tão feliz, olha esse homem,

Aurora. — Peguei o celular das mãos da minha irmã e vi na tela um homem


de terno e, Jesus! O homem tinha o conceito de bonito no chinelo. O que era

isso, gente? Sim, era o mesmo homem que conheci na noite do meu
casamento.

— Ele é advogado do Rafael. E gato é pouco, o homem é um conceito


mais elevado.

— Gente! Hello! Tenho namorado e o amo, se vocês querem saber —


Lanie disse toda ressabiada. — Daniel e eu vamos nos casar um dia, e não
vejo o Dr. Garcia assim. — Ela tomou o celular da minha mão. — Deixa eu

ver aqui se ele é isso tudo mesmo. — Ela analisou a foto, ficando vermelha.
— Normal, nada demais — falou, torcendo a boca e devolvendo o celular.

— Aurora? — Bianca me chamou, com um sorriso. — Sabe aquele

ditado?
— Que ditado?

— De quem desdenha quer comprar, estou sentindo um cheiro de


desdém da nossa amiga aqui.

Nós duas rimos e Lanie mostrou o dedo médio para nós discretamente.
— Brincadeira, sabemos que você está com Daniel e são fofos juntos

— disse para ela.


— Sim, fofo — falou e bebeu sua água, olhando para longe. Seu olhar

perdeu um pouco o brilho de antes e ela sorriu quando voltou a nos olhar. —
Vamos brindar ao novo tempo de Lanie Albuquerque.

— Tim-tim!
18

Duas semanas depois eu estava tentando trabalhar, voltando ao ritmo

na empresa depois de alguns dias deixando as coisas de lado, pois a crise


com a doença de Abner, que ainda estava internado, causou alguns reboliços

nas ações da empresa desde que ele teve o infarto. E, agora, ele tinha
desenvolvido uma infecção e os médicos estavam preocupados, por isso ele

estava recebendo poucas visitas no hospital. O nome de papai apareceu na

tela do meu celular, tirando-me dos meus pensamentos.


— Pai, estou tentando trabalhar, o que houve? — perguntei, sabendo
que ele estava na empresa também. Ele e Rafael estiveram em reunião a
manhã inteira e estava louca para saber o que tanto eles conversaram, já que
não era uma reunião para toda diretoria.

— Aurora, precisamos ir ao hospital — disse ele, sua voz continha


uma nota que me dizia que não teria notícias boas.
— O vovô, ele...?
— O médico disse que ele teve um novo infarto...
Eu saí da minha sala como um raio, ainda com o telefone no ouvido.

— Onde você está? —Eu senti que dessa vez as coisas teriam um
rumo diferente de alguns dias atrás.
— Estou indo para o carro.
— Rafael está com você?
— Não, ele saiu tem mais de duas horas. — Oh, eu pensei que os dois

ainda estavam em reunião. — Encontro você lá embaixo. Sua irmã já está lá


no hospital.
Encontrei ele em frente do prédio da Pontes, esperando-me. Eu lutei
contra a ansiedade, sentei no banco e liguei para Bianca, mas seu celular

estava ocupado.
— Droga! — O que havia acontecido? Vovô estava bem esses dias, a
infecção aparentemente estava regredindo, o que teria acontecido?
O trânsito estava infernal e pareceu demorar horas até chegarmos ao
hospital. Nosso mundo caiu quando vimos Bianca chorando agarrada com
Lucca. E eu soube que o vovô não tinha resistido. Eu parei sem coragem de
ir até eles, lembrei-me do dia que a mamãe morreu e tinha esse mesmo clima

sombrio e fúnebre. Papai passou por mim e Bianca o abraçou. Eu não


consegui entrar, dei meia volta e saí. Minha garganta fechada, entupida,
como se algo estivesse esmagando meu peito. Eu saí para o estacionamento

do hospital e fui para o carro onde papai estacionou, o motorista dele estava
encostado no veículo e quando ele me viu se endireitou.
— Vai aonde, senhorita Aurora? — perguntou, solícito.
— Só vou me sentar por um momento, Dimas. Pode dar uma volta e
tomar um café, se quiser — falei entrando no veículo, fechando a porta,
deixando a emoção me tomar. O vovô era como uma rocha inabalável para
nossa família, sem ele para nos manter unidos, não sabia como seria dali
para frente.
Não tinha ideia de quanto tempo estava sentada lá, em um estupor,

quando a porta do carro se abriu e Rafael sentou ao meu lado e sem dizer
nada, puxou-me para seu colo, embalando-me feito um bebê. Eu não chorei,
parecia que minhas lágrimas fariam com que tudo se tornasse real e não
queria acreditar que perdemos mais uma pessoa de nossa família. Primeiro a
mamãe, depois a vovó e agora o vovô. Nossa família estava se desfazendo
aos poucos. Tranquei tudo dentro de mim, não deixando nada sair.
— Tudo bem, querida, tudo bem — Rafael sussurrou com carinho,
apertando-me contra seu peito forte. Eu o abracei e nem tinha percebido o
quanto eu precisava daquele conforto. Eu odiava me sentir frágil assim, mas

três pessoas importantes na minha vida saíram tão de repente que agora
estava me sentindo sobrecarregada com aquele peso esmagador no meu
peito. Estava com dezessete e Bianca com quinze quando mamãe morreu,
depois aos dezenove foi a vovó, agora era o meu avô.
— Você quer ir para casa? — Rafael perguntou depois de algum
tempo, segurando-me. Seu cheiro limpo e masculino me intoxicou e desejei
estar em outro lugar com ele em vez de num carro em um lugar público.
Sentei corretamente e olhei para seu rosto fechado e sisudo. Ele
parecia com raiva e queria perguntar por que ele parecia chateado.
— Eu preciso ir lá dentro, papai e Bianca, eles precisam de mim e...
— Eles vão ficar bem, Aurora, deixe-me levá-la para casa, vou
providenciar que alguém possa tomar todas as providências para que vocês
não se preocupem com nada. Confie em mim.
E por incrível que parecia, eu confiava nele, mesmo se estivesse com
todos os pés atrás, que eu tinha com ele, eu apenas precisava confiar em
alguém naquele momento.
19
Três dias depois...

Todos ainda estavam na casa do vovô depois do funeral e tive de sair e


vir para casa, melhor, a casa de Rafael, ainda não tinha me acostumado. Eu

tinha saído sem ninguém perceber e peguei emprestado o motorista do papai.


Ele parou o carro em frente à casa de Rafael e desci. Entrei e depois de

trocar as roupas, voltei para baixo atrás de algo para tomar. Talvez se eu

bebesse um copo do conhaque de Rafael, saísse do estupor que estava desde


que soube que Abner partiu.
Desci os dois lances de escadas e fui rumo à cozinha.
Eu parei quando vi a assistente de Rafael parada à minha frente, ela
tinha os olhos vermelhos e tive a impressão que ela estivera chorando, os

meus estavam da mesma forma, pois o funeral do vovô me deixou mexida. E


eu odiava funerais. Não questionei muito sobre ela estar chateada, também
estava, e não gostava muito dela. Seu interesse em Rafael já era mais que
evidente.
— Você é uma tola, iludida — disse ela, causando-me espanto, pelo

fato dela falar assim e por estar ali, quando claramente não estávamos em
casa. Rafael tinha ficado na casa de Abner.
— Como? — perguntei, chocada com as palavras da mulher, eu só a
tinha visto duas vezes, apesar dela não ser amigável e estar sutilmente me
mostrando que tinha uma intimidade com Rafael que não deveria ter, já que

ela era sua assistente. Ela nunca tinha sido hostil comigo, na verdade eu fui
mais, desde que notei seu interesse no meu marido.
— Você sabe por que ele se casou com você, doce Aurora? — Ela riu
sem nenhum humor. — Você sabe quem foi a última pessoa que seu avô viu

antes de bater as botas?


— Se você se referir ao meu avô dessa forma de novo, eu juro que vou
colocar algum respeito nessa sua cara — vociferei, pronta para perder a
compostura e acertar aquela mulher. Teria que passar por ela, mas ao que
parecia ela não tinha terminado.
— Se você olhasse além de sua arroganciazinha de dondoca, veria por
que Rafael se casou com uma mulher como você. — Ela realmente achava

que eu era uma dondoca? Ela por acaso me conhecia? Antes que eu
retrucasse, ela continuou. — Abner Pontes era o homem que Rafael queria
se vingar. Ele casou com você por vingança, orquestrou a falência da Pontes

e o último golpe dele foi fazer seu avô enfartar. — Ela disparou, vomitando
as palavras, sem ter ideia do que suas palavras fizeram comigo. Estava
paralisada de choque e consternação. — Você sabe que estou dizendo a
verdade, não é?
Eu não consegui falar, estava sem ar, meus pulmões não estavam
enviando oxigênio suficiente para que eu respirasse e tudo pareceu se
encaixar, aquilo que esteve ali o tempo todo, bem na minha cara, e eu não
quis ver. A raiva de Rafael por Abner era evidente, ele me contando no iate,
na França, sobre o homem que ele dissera querer que tivesse o mesmo

destino de sua mãe, que ele faria o homem colocar um fim em sua própria
existência quando terminasse com sua vingança. E eu não liguei os fatos,
quando tinha tudo bem ali, às claras.
— Aurora? — A voz de Rafael veio de algum lugar e eu não
conseguia enxergar nada, era como se minha visão estivesse nublada — O
que está acontecendo aqui?
— Estava dizendo umas verdades para sua esposa, Rafael. Ela precisa
saber a verdade, não é mesmo?
— O que disse a ela? Michelle?

— A verdade que você está escondendo dela, que você matou o avô
dela com as ameaças que fez no dia que ele teve seu segundo infarto. — Ela
riu como uma louca e eu queria que ele negasse tudo aquilo, não podia ser
real, ele não faria algo tão asqueroso, não é? Ameaçar um homem idoso,
doente, que poderia vir a morrer. Virei-me para olhar meu marido,
procurando a verdade em seu rosto, mas o que encontrei em suas feições me
dizia que a sua assistente não estava mentindo em tudo.
— Aurora — ele falou meu nome em um sussurro agoniado e senti
minhas pernas desfalecerem. Rafael me firmou no lugar e queria empurrar
suas mãos para longe, mas estava sem forças e se ele me soltasse, cairia no
chão, pois a tontura me fez cambalear sem rumo.
— Diga-me que você não fez, que não foi até aquele hospital, Rafael
— supliquei, pois, custava a acreditar que ele tinha feito algo assim. Um
crime, se fosse verdade, pois ele sabia da condição de Abner e ir até lá, de
propósito, consistiria em um crime, tinha certeza daquilo, se não, era no
mínimo imoral

— Ele não vai lhe dizer e você deveria me agradecer por esse favor
que lhe fiz— falou a megera, interferindo na conversa. O que ela ainda fazia
ali?
— O que diabos está fazendo, Michelle? O que está fazendo aqui na
minha casa, em primeiro lugar? — esbravejou ele.
— Você errou em me tratar como lixo, Rafael. Eu não nasci para ser
feita de idiota por homem, achou que podia me demitir e não acontecer
nada? Achei que sua esposa deveria conhecer você. Bem, agora ela sabe. —
Ele a demitiu e isso era uma vingança? Tinha alguma chance de ela apenas
estar inventando aquilo para prejudicar Rafael? Deus, eu realmente estava
procurando uma desculpa para ele? Ele nem negou as acusações. E mesmo
que tivesse negado, as coisas estavam bem ali, na minha cara, e eu achei por
bem ignorar a raiva dele de Abner, tudo.
Percebi Rafael ficar lívido de raiva, ele a pegou pelo braço e a puxou
porta afora. Eu estava tremendo, chocada, e inacreditavelmente incrédula.
Dor, mágoa, decepção nem poderia expressar tudo que eu estava sentindo
naquele momento. Não queria considerar a verdade, que ele provocou a
morte de meu avô, virei-me e voltei em direção a escada, não iria ficar
naquela casa nem um minuto a mais, sentia-me mal e meu estômago
embrulhava saber que estive dormindo com o homem responsável pela
morte de Abner. Corri escada acima, entrei no quarto principal e comecei a

pegar minhas roupas e jogar dentro da primeira mala que vi pela frente. Eu
ia embora dali o quanto antes.
Peguei as minhas coisas do banheiro e quando voltei para o quarto,
Rafael entrou. Ele olhou para mala e para mim.
— O que está fazendo, Aurora?
— Se tenho de explicar o óbvio — ironizei e fechei a mala, depois
mandaria alguém levar minhas coisas dali. — Se acha que vou continuar
morando com o homem que matou meu avô, está completamente iludido e
mais louco do que pensa.
— Não pode fazer isso — disse ele, aproximando-se de mim. — Eu
não matei ninguém.
— Depende do seu ponto de vista. — Dei um passo para longe dele,
só de pensar nele me tocando, me dava ânsia. — Esteve no hospital naquele
dia?
— Estive, mas não fui até o quarto de Abner — disse ele, com tanta
certeza que por um momento achei que podia estar falando a verdade. Mas e
todo o resto? Eu não acreditava nele.
— Por que eu deveria creditar em você? Tudo isso — fiz sinal ao
nosso redor — é uma mentira, Rafael. Este casamento é uma piada de mau
gosto. O que realmente queria? E...

Eu parei quando algo me atingiu. Lembrei de que ele falou que a mãe
era amante de um homem e ele a humilhou, enganou e seduziu. Ele estava
falando de Abner? Ele era filho de Abner?
Fiquei horrorizada e paralisada. Se fosse o caso, Rafael não teria
casado comigo, teria? Seria ele tão sem moral? Jesus, quem era esse
homem?
Eu também não queria acreditar que meu avô fora essa pessoa que ele
odiava.
— O homem que você disse que se vingaria era Abner? Que estava
planejando fazê-lo pagar por destruir a sua mãe? — perguntei, apenas para
ter certeza. — Você casou comigo para o quê, afinal? O que isso faria para
Abner? Meu avô não se importava com quem eu me envolvia. O que você
quer, Rafael?
Jorrei as perguntas para fora e uma lágrima, enfim, começou a deslizar
por meu rosto. Parecia que hoje tinha sido o dia que deixei para todas as
lágrimas caírem.

— Diga-me, você não é filho de meu avô, não é?? — Botei pra fora
para tranquilizar minha mente, pois estava descobrindo que não sabia quem

era Rafael Lamartine


— Claro que não! — disse.— As coisas não saíram como planejei,

Aurora. Primeiro, eu não queria me casar com você. — Mesmo com raiva e
decepcionada, eu sentia como se ele tivesse dado um tapa em meu rosto. Por

que diabos me apaixonei por aquele homem?


— Isso era evidente. — Sorri ironicamente. — Você deixou claro que

nunca me quis, só servi quando não tinha opção.


— Temos de conversar. — Seu rosto estava soturno e fechado com um

vinco entre seus olhos e, por um momento, ele pareceu em agonia, mas eu
não ia acreditar em nada que ele falasse.

Eu precisava processar tudo aquilo, ficar sozinha.


— Eu não fico mais um minuto aqui. — Caminhei para minha mala,
agarrando a alça e a bolsa de mão. — Essa farsa acabou, afinal, nunca foi de

verdade mesmo. — Eu mal conseguia enxergar.

— Seu avô destruiu a vida da minha mãe, Aurora, eu cresci esperando


o dia que o faria pagar — rosnou quando passei por ele. — Não deixe ele

destruir o que temos também.


— E o que temos, Rafael? Um casamento de mentira, um homem que

viu meu avô mal e foi dar o golpe de misericórdia?


Como fui esquecer que ele não era esse homem incrível que tem sido

nos últimos tempos? Como fui esquecer que não nos casamos por amor
eterno? Burra, Aurora, isso que você é!

— Eu não entrei lá, Aurora. Eu fui ao hospital, sim, mas eu não entrei
— falou com veemência e balancei a cabeça, não acreditando nele. —

Naquele dia eu estive com Ricardo em uma reunião quase a manhã toda e já
tinha decidido que ia continuar com o investimento.

— Nunca ia investir na Pontes, não é? — A cada minuto ficava pior.


— Eu planejei uma vingança que parecia certa até eu perceber que o

que tínhamos era maior. E Abner adoeceu fazendo meu plano fracassar, mas
a maior responsável por tomar minha decisão foi por que eu queria dar uma

chance ao que estávamos construindo, Aurora. — Ele continuou falando,


mas eu estava tão cega de raiva naquele momento que não escutaria nada

que ele falasse.


Eu nunca me senti tão pequena quanto naquele instante, por não ter

visto aquilo vindo. Rafael brincando com nossas vidas, rindo de nós como o

gato brincando com o rato antes de arrancar sua cabeça fora. Eu sentia como
se tivesse me partindo ao meio, eu me apaixonei pelo inimigo, dormi com

ele todos os dias, achando que estava tudo bem enquanto ele planejava nos
destruir. Mentiras e mais mentiras. Como ele podia brincar assim com nossas

vidas e ainda estar ali parecendo devastado?


— Você está feliz, Rafael, por ter sua vingança? —Eu chorei sem

conseguir mais segurar dentro de mim.


— Não teve vingança, Aurora, estou tentando te falar isso! — Ele

também estava furioso, talvez por que não estava dando ouvidos ao que ele
queria que eu acreditasse.

— Não importa mais, senhor Lamartine, estou indo embora. — Ele


não me impediu quando passei por ele, sua mandíbula estava trincada e senti

a onda de tensão saindo dele, mas não fiquei mais lá. Estava deixando aquele
casamento de mentira para trás.

Joguei a mala no meu carro e entrei, tentando encontrar forças para


ligar o carro, pois estava tremendo, minha garganta estava se fechando.

Respirei fundo, peguei meu celular e liguei para Lanie.


— Aurora, onde você está? Todo mundo estava procurando por você
— disse ela, assim que atendi.

— Onde você está agora?

— Aurora? O que houve? Você está bem?


— Não, eu não estou bem. Você pode me encontrar no meu

apartamento?
— Primeiro me diga onde você está?

— Saindo da casa de Rafael.


— Estou indo para seu apartamento. Tome cuidado, ok? Não vai

dirigir assim, pegue um táxi, Aurora.


— Está tudo bem. Te vejo lá. — Eu desliguei o celular e dei partida no

veículo quando vi Rafael vindo em minha direção. Engatei a marcha e saí


antes que ele chegasse mais perto e tentasse encher minha cabeça com mais

mentiras.
Uma hora depois, estava no meu apartamento com Lanie e minha irmã

enquanto colocava para fora tudo que a mulher ordinária me disse. Uma
lágrima de raiva desceu por minha bochecha e quis rasgar Rafael inteiro.

Mentiu e continuava mentindo.


— Ele queria se vigar de nós por cauda da mãe dele? Que louco —

Bianca disse depois que expus algumas das coisas que Rafael tinha me dito
na França.
— Ele queria que Abner tivesse o mesmo destino — falei, fungando e

com raiva de mim mesma por permitir que ele me atingisse daquela forma.

Eu não era mulher de chorar facilmente, mas percebi que, desde que me
casei, andava fazendo algumas vezes. Não gostava de chorar, pois não ficava

nada sexy de rosto inchado e nariz vermelho.


— O que vai fazer? Vai contar ao papai? — Bianca me entregou uma

xícara. — Fiz um chá, sei que odeia, mas tome alguns golinhos, está se
tremendo toda, Aurora.

— Claro que vou contar ao papai, ele provavelmente não mexerá um


dedo contra Rafael, ele o idolatra, ao que parece.

— Ele pode muito bem dizer que foi um mal-entendido para o Rafael
não tirar o investimento da Pontes — Bianca complementou, o tom de

desgosto igualando com o meu. — Ela veio e se sentou ao meu lado. — Mas
não fique pensando que o erro foi seu, Aurora. Eu me sinto mal porque era

para ser eu agora aqui, lamentando tudo isso.


— Eu só preciso de um tempo longe, eu sei que Rafael vai tentar vir

atrás de mim e não quero conversar agora, a raiva que estou sentindo dele
pode me fazer dizer ou fazer coisas que não quero.

— Por que não tira umas férias? Vai para suas tão sonhadas férias,
esquece o Rafael e pega algum gostoso no processo — Lanie opinou, ela
estava sentada à nossa frente. — Eu agora adoraria um pouco de álcool para
aliviar a fadiga.

Joguei a almofada nela, sorrindo, só ela para me fazer rir em um

momento que a tristeza e mágoa apertavam em volta do meu coração.


Estar apaixonada por seu marido que nunca tinha estado por você, esse

era meu carma.


Que ótimo.

— Tem a casa em Angra e ninguém sabe dela, devia ficar lá. —


Bianca me lembrou e gostei da ideia, eu precisava de um lugar isolado para

pensar e analisar meu casamento.


Eu ia fazer exatamente aquilo.

— Lá tem algum caseiro ou algo assim?


— Não sei, vou ligar para o papai...

— Claro que não, ele diria a Rafael e meu marido me seguiria até lá.
— Ou assim eu pensava que ele faria, ou talvez ele nem dê a mínima para o

que eu fazia ou aonde iria.


No fim, quem cuidava da casa na praia era um casal, conseguimos o

telefone, para avisar da minha chegada, com a empregada do vovô Abner.


Íamos lá nas férias quando éramos adolescentes, com vovô e papai, mas

fazia muito tempo.


— Aurora, em breve haverá a leitura do testamento. — Bianca me

lembrou, eu havia esquecido.

— Breve quando?
— Duas semanas, foi o que ouvi de papai, mas não tenho certeza.

— Tempo suficiente — disse. — Ou podem ler sem mim, tanto faz.


— Só eu acho que isso não resolve nada? Correr só adiará o inevitável

— disse Lanie, em sua total sabedoria, bebericando sua taça de vinho,


enquanto eu e Bianca fazíamos planos para minha fuga. — Quando voltar,

tudo virá de uma só vez. Meu voto vai para: Aurora fica e acerta o nariz de
Rafael com um soco e depois o beija e fazem as pazes, fim.

Bianca e eu ficamos lá, paradas, olhando-a com espanto.


— O quê? — perguntou ela toda inocente quando não falamos nada.

Depois suspirou dramática. — Eu vi esses dois juntos, eles estão


apaixonados, está na cara. Por que se martirizar com tudo isso. Pode ser que

ele esteja falando a verdade e que os planos infalíveis não foram como ele
queria.
— Voto vencido. — Eu disse e me levantei para fazer minha mala.

Rafael estava fora da minha vida. Ponto final


20
Um mês depois

Olhei o pequeno bastão o e meu sangue fugiu do meu rosto. Como,


diabos, deixei isso acontecer? O casamento com Rafael estava acabado, não

éramos mais um casal e, talvez, nunca fomos. O casamento mais rápido da


história e agora estávamos trazendo um bebê para a mistura?

Fazia um mês que tinha saído da casa dele, e não o vi desde então. Eu

peguei as férias que nunca tinha tirado desde que comecei na Pontes, o que
era desde antes de terminar a faculdade, e fiquei um pouco sozinha na casa
de praia da família, eu não ia lá havia muito tempo. Tinha voltado havia
mais de uma semana para a leitura do testamento de Abner. Só foi uma
formalidade, pois em vida ele expressou claramente quem herdaria o quê, e

eu não ligava para nada daquilo. Agora, ao que parecia, eu também tinha um
herdeiro para pensar.
Estive enjoada na última semana e meu período estava atrasado tinha
algum tempo, como acontecia às vezes, eu nem tinha me importado. E agora
estava ali, olhando a prova da minha falta de responsabilidade. Eu não sabia

como isso tinha acontecido, eu jurava que não tinha falhado a pílula. Ou será
que esqueci? Não me lembrava. Sei que não era um método infalível, mas
qual a probabilidade de acontecer logo comigo?
Eu estava azarada.
Quando o pensamento veio, eu logo o recriminei, meu filho não era

azar, eu só não gostava de quem era o pai.


Eu ainda estava com raiva e ele nunca saberia que teríamos um bebê.
Ainda custava a acreditar que ele não tinha ido no hospital, no dia da
morte do vovô, e não falado nada a Abner. Ele matou meu avô e eu não

queria ter nada com ele, eu queria odiá-lo, só que não conseguia desligar os
sentimentos. Os dias passados longe de tudo me fizeram pensar melhor, eu
sei que ele viveu preso ao que aconteceu com sua mãe, mas ele não tinha o
direito de armar um plano para se vingar. Eu já não sabia o que pensar.
Entendia seu ódio por Abner, claro que entendia, mas ele não tinha o
direito de fazer algo para que vovô tivesse outro infarto tão próximo do
primeiro, sabendo do risco que ele corria.

— Aurora. — Escutei a voz de Lanie vindo do meu quarto. — Tem


um tempão que está aí, mulher.
Respirei fundo, agarrei o pequeno bastão e abri a porta do banheiro

para encontrar Lanie e Bianca como duas morcegas me esperando.


— E aí? — As duas perguntaram em uníssono.
Estiquei a palma da minha mão com o teste e elas suspiraram
chocadas, assim como eu estivera há poucos minutos.
— O que vai fazer? — perguntou minha irmã.
— Sobre o quê?
— Sobre o bebê, é claro.
— Tê-lo? Que mais eu poderia fazer, Bianca? — Caminhei até a
minha cama e me sentei, pois, minhas pernas ainda estavam trêmulas, sem

forças, da surpresa.
— Ah, não sei, pela situação, você poderia abortar.
— Abortaria um filho seu com o Lucca?
— Mas é claro que não, é diferente — disse ela, sentindo-se ofendida,
como se a sugestão dela para mim não fosse uma ofensa.
— O que é diferente? — Eu estava chateada, porque o que ela sugeriu
era um absurdo, era um inocente ali, que não pediu para nascer. Não
importava o futuro, eu teria meu bebê. E eu não precisava de Rafael na
minha vida para que isso acontecesse.

Olhei minha melhor amiga que ainda não tinha dito nada depois que
dei a notícia, vindo e sentando-se ao meu lado, pegando minhas mãos nas
dela.
— Estamos aqui por você, querida. — Depois me envolveu em um
abraço. — O que você decidir, eu apoio completamente. Mas deve seguir seu
coração e só em olhar para você, sei que vai ter esse bambino. E me fazer a
tia mais linda desse mundo.
— Obrigada, Lanie, você certamente será a tia mais gostosa — disse,
olhando Bianca desdenhosamente.
— Ei! — O grito indignado de Bianca nos fez rir. — A tia mais
gostosa e legítima será eu, oras.
— Você será a tia má, cai, fora — Lanie disse e acabamos rindo, o
estresse saindo aos poucos. — E para comemorar a nova mamãe, vamos
jantar fora e, claro, nos vestir como se fôssemos a uma premiação do Oscar.
Sim, o exagero da pessoa que não tinha limites.
— Sem chance, topo sair para comemorar, mas sem vontade para me

arrumar — falei, pois, estava morta de preguiça, na verdade, andava com


muito sono.
— Meu Deus, primeiros sintomas de mãe, deixar de se arrumar. — Ele
caiu de costas na cama, dramática! — Tanto faz, o importante é levar Júnia
para comer fora.
— Quem é Júnia? — Bianca perguntou inocente para Lanie.
— Nossa sobrinha, ora.
— Você nem sabe se será uma garota — Bianca retrucou.
— Claro que sei, tem de ser uma menina, assim ela fará parte do clube
da Luluzinha. Se for um menino, teremos um problema para enturmar o
garoto no clube.
— Vocês duas tem maturidades de crianças de dois anos — disse,
caindo, também, de costas ao lado de Lanie na cama.
— Falando em maturidade, você vai contar a Rafael sobre o bebê? —
Bianca juntou se a nós na cama, fazendo a pergunta que estava martelando
na minha cabeça desde que vi as duas listras no bastão.
— Eu não sei, tenho tempo para pensar — disse. — Qual é a pressa?
Temos alguns meses pela frente.
— Ele esteve o mês todo querendo saber onde você estava — disse
ela, olhando-me com cautela. Quando contei a todos quem era Rafael, minha
família, por incrível que parecesse, não ficou com raiva dele. Papai não

pareceu se importar que Rafael estivesse planejando acabar com a Pontes,


em suma Rafael investiu na Pontes no final das contas.
— Deveriam conversar, afinal, agora vocês irão ter um filho — Lanie
falou, como advogada, com certeza. — Isso é importante para que não haja
nenhum mal-entendido no futuro.
— Não posso agora — retruquei. — Eu ainda estou furiosa com ele.
— Está sendo irracional, Aurora. Ele só tem ajudado e quando vovô
morreu, já tinha liberado o investimento. Eu acredito que ele desistiu do
plano antes dele falecer. E sobre ele ter falado com Abner, não temos
certeza. Podemos descobrir se ele falou a verdade, o hospital tem câmeras
por todo lugar, com certeza tem um registro dele indo ao quarto de Abner.
Ela tinha razão, mas não me importava agora.
21

Nós três nos sentamos no restaurante e pedimos tudo que estávamos


com vontade, se era para comemorar então comeríamos tudo que estivesse

no cardápio, palavras da Lanie, não minhas, já que estava me sentindo


enjoada com o cheio da comida. Minha vontade era comer um monte de
guloseimas, mas me enchi com pratos gourmet do restaurante chique que

Lanie escolheu. Estava no meio de uma garfada do meu camarão quando

parei no meio do ato. Rafael estava entrando no restaurante com uma


mulher. Meu coração paralisou, vendo-o a guiar para uma mesa. Ela era um
espetáculo, aquele tipo loiro morango, modelo de alta costura. O cabelo da
mulher era um assombro e lindo e...

— O que foi, Aurora? — Lanie perguntou preocupada e seguiu meu


olhar — Oh, não.
— O quê? — Bianca imitou seu gesto também e agora nós três
estávamos olhando à mesa de Rafael com um interesse mórbido — Que
cachorro!

— Ela é linda, desculpa, mas tenho de dizer que até eu pegava —


Lanie disse depois de me dar um sorriso de desculpas. — Ela é gostosa.
— Cale a boca, Lanie. De quem você é a melhor amiga? Do casinho
do meu marido? — perguntei, com raiva. Tirei os olhos da mesa deles e
tentei me concentrar na minha comida que antes estava uma delícia e agora

tinha gosto amargo.


— Céus! Ele nos viu, Aurora. — O sussurro de horror de Bianca me
fez levantar a cabeça e meus olhos se prenderam com os dele, intensos. Ele
franziu a testa quando nos observou, talvez querendo entender nossas caras,

a minha devia estar mostrando todo ciúme que estava sentindo naquele
momento. Ele já seguiu em frente e eu estava ali, comemorando a descoberta
de nosso filho.
Que patética me tornei depois que me apaixonei por aquele homem.
Empinei meu queixo e retornei minha atenção para minha comida.
— Parem de olhar para eles — disse para as meninas. — Ignorem,
pois farei exatamente o mesmo.

— Não tem como, porque ele está se levantando — Lanie disse, mas
eu não olhei, eu tinha mais controle que aquilo.
— É melhor ele não vir aqui — disse, aborrecida, ele não tinha de

passar na minha cara que eu já era parte do passando, mas o que eu estava
pensando? Eu nunca fui importante.
— Boa noite, senhoras. — Ouvi a voz de Rafael, mas continuei de
cabeça baixa, comendo meu camarão. Não daria a ele a satisfação de ver de
perto o quanto eu estava chateada por o encontrar ali, com outra mulher. —
Aurora? — disse meu nome, com um tom que fazia minha barriga vibrar de
excitação, mas endureci no lugar sem tomar conhecimento de sua presença.
Filho da puta, traiçoeiro! Isso que ele era.
— Ei, Rafael — Bianca falou. — Por que não trouxe seu encontro

para nos apresentar?


Ele ignorou Bianca e continuou falando comigo.
— Você pode me olhar? — pediu e desejei jogar a taça de água em sua
cara traiçoeira. — Posso ter uma palavra com você, por um minuto?
— Rafael, acho que não é um bom momento — Lanie disse, tomando
minhas dores, mas eu não precisava que ela ou Bianca falassem por mim.
Olhei para Rafael com toda raiva que ainda possuía dentro de mim.
— Por que você não volta para seu par, senhor Lamartine? É falta de
educação deixar seu encontro esperando enquanto fala com outra pessoa.

— Haven não é um encontro — disse ele, olhando-me, com uma


intensidade que me tirava o fôlego.
— Eu não me importo, então volte para sua mesa. — Dei de ombros,
como se não me importasse uma merda com ele e seu encontro lindo de
morrer.
— Precisamos conversar como pessoas civilizadas, Aurora.
— Rafael, depois vocês dois conversam, estão chamando a atenção
das pessoas. — Bianca se intrometeu na conversa e foi ignorada por nós
dois.
— A única conversa que quero ter com você é sobre o divórcio,
Rafael. — Divorciar-me dele seria a primeira coisa que faria nos próximos
dias.
— Ok, não haverá divórcio tão cedo se não me der cinco minutos de
seu precioso tempo, esposinha — falou, com raiva, deixando o lado mártir
que nem combinava com ele.

Fazia um mês que a tinha visto.


E ela estava brilhando de tão bonita, porra.
Assim que me sentei na mesa eu as avistei. E pela forma que elas me
olhavam, com certeza pensavam que Haven era um encontro, ou seja lá o
que pensaram, seus olhares poderiam me matar com a força da malignidade.
— Algum problema, Rafael? — Haven perguntou. Marquei aquele
encontro para tentar colocar um pouco de juízo nela e em meu melhor
amigo, os dois estavam em um maldito ataque um contra o outro, entretanto
essa merda estava começando a me irritar, pois ambos estavam fora de
controle. E agora me irritava ainda mais por piorar minha situação com
Aurora, que estava ali, vendo coisas que não existiam, pois apenas em olhar
para ela, percebia como estava tensa e eu sabia que ela me daria uma merda
se eu fosse até lá. Ruim para ela, pois faria exatamente aquilo. Ela não me
escutou e tomou todas as providências para que eu não a encontrasse. Eu até
poderia descobrir, se quisesse, mas me impor sobre ela não estava em
questão, e ela precisava de tempo para assimilar e me escutar quando

estivesse pronta. De qualquer maneira, foi o que disse a mim mesmo. Dei o
tempo para ele recapitular e não achar que eu era o vilão da história.
— Você me dá licença por um minuto? — disse, já me levantando da
cadeira.
— Não esqueça que foi você que me convidou para esse encontro e
fique sabendo que seu amigo está pirando, achando que você está a fim de
me pegar — Haven disse, olhando o cardápio muito à vontade. A mulher era
exasperante, como Christian lidava com ela, estava além de mim.
— Tenho amor ao meu ... — fiz um gesto discreto em direção a minha
virilha. — Para pensar ou olhar para você de outra forma que não seja como
mulher do meu melhor amigo.
— Ótimo, também acho você uma graça — ironizou ela. — Se não se
importa, vou pedir meu jantar, você pode ir falar com sua mulher.
Caminhei para até a mesa de Aurora.
A conversa que estava tendo com o topo de sua cabeça me exasperou.
Ela ainda estava chateada, porra!
Quando ela disse que só conversaríamos sobre divórcio, eu vi
vermelho. Não haveria divórcio. Caramba!
— Ok, não haverá divórcio tão cedo se não me der cinco minutos de

seu precioso tempo, esposinha — disse, com mais raiva em minha voz do
que pretendia, ela ainda estava chateada por causa de Abner. Eu não tinha
dito nada ao velho maldito que do túmulo ainda estragava minha vida. Sem
esperar se ela responderia ou não, eu a deixei, realmente estávamos
chamando atenção, mas se Aurora achava que tinha ganhado essa rodada, ela
iria descobrir muito em breve que eu não desistia fácil.
— Sabe, Rafael — disse Haven, olhando-me pensativa. — Eu e
Christian nos magoamos muito e continuamos nos magoando, porque assim
ainda estamos um na vida do outro, mesmo de forma distorcida, não deixe
isso acontecer com vocês, se a ama não faça como nós.
— Vocês deveriam sentar e resolver suas merdas. Você é uma mulher
incrível, só louca quando se trata de Christian — disse benevolente, pois os
dois eram terríveis um para o outro.
Meia hora depois, vi Aurora, sua irmã e a amiga se levantarem para
irem embora, minha vontade de seguir atrás dela era violenta, mas me
contive e tentei terminar meu jantar. Conversei com Haven e, pouco antes

de sairmos do restaurante, Christian apareceu. Aproveitei que os dois


estavam envolvidos em mais uma discussão e que provavelmente iriam

terminar a noite um na casa do outro, e os deixei, indo para meu carro. Sem
que eu percebesse, estava parado em frente ao apartamento de Aurora.

Não demorei muito para subir até seu andar, ela não proibiu minha
entrada na portaria, bom sinal, eu esperava. Quando toquei a campainha,

pouco depois, a porta se abriu para mostrar uma Aurora pálida e suada. E
com apenas uma camiseta grande e folgada que ia até seus joelhos.

— Você está bem? — perguntei e meu instinto era de segurá-la em


meus braços. — O que você tem? — Dei um passo à frente, mas ela recuou.

— Nada, apenas algo que comi no restaurante que não me caiu bem —
disse e correu de volta para dentro do apartamento. Eu a escutei vomitando
no banheiro. Entrei e segui o som, encontrando-a agachada no vaso do
banheiro.
22

O que Rafael estava fazendo aqui quando eu estava no meu pior

momento? Saí do banheiro depois de tomar um banho e o encontrei em pé,


olhando a vista pela janela, as mãos nos bolsos da calça.

Ele tinha invadido meu banheiro, mas o expulsei, nunca que ficaria
vomitando minhas entranhas na frente dele. O enjoo tinha me atacado desde

que o vi no restaurante e só se intensificou quando cheguei em casa. Enrolei

o roupão ao meu redor e ele se virou para me encarar.


— Devia ir para o hospital, Aurora — disse ele, preocupado. — Pode
estar com uma intoxicação alimentar.
Uma intoxicação que vai durar nove meses, mais uns oito, ainda não
sabia qual o tempo de gestação, teria uma consulta com minha ginecologista

pela manhã. Agendei de última hora para ela me indicar algum obstetra.
Passei a mão na barriga acarinhando a vida dentro de mim, Rafael
acompanhou o movimento de testa enrugada.
— Posso ligar para sua irmã e ela vai com você, se não quiser que eu a

leve. — Ele se aproximou e automaticamente dei um passo para trás. — Tão


teimosa.
— Estou bem, já passou — disse, levantando o queixo. — O que você
está fazendo aqui? Seu encontro ficou aborrecido por tê-la deixado, indo até
nossa mesa?

— Haven é a mulher de Christian, Aurora — esclareceu.


— Oh, não sabia que vocês dois tinham a prática de dividir as
mulheres. — Dei-lhe um sorriso beatífico e ele me olhou com impaciência.
— Não? Oh, desculpe, me pareceu.

— Aurora...
— Então por que veio, Rafael?
— Você sumiu por um mês, estava preocupado.
— Bem aqui estou eu, sã e salva. Não sou sua responsabilidade, como
disse lá no restaurante, eu quero me divorciar.
— Eu disse que primeiro precisamos conversar.
— Para quê? Você conseguiu o que queria, meu avô está morto, pois

era isso que desejava, Rafael. Tem uma parte da Pontes.


— Se eu tivesse levado meu plano até o fim, não estaríamos aqui

tendo essa conversa, Aurora. — Ele suspirou passando as mãos pelos


cabelos em óbvio estado de frustração. — Por que você não se senta?
Ele apontou a cama e resignada acabei sentando, pois só assim me
livraria dele logo.
— Tem certeza de que está bem? — Ele se sentou ao meu lado e
pegou minha mão nas suas e quando tentei puxar para longe, ele não
permitiu. — Quando contei sobre a morte da minha mãe, na França, eu não
estava querendo que sentisse pena ou algo do tipo, eu nem sei por que tive
essa vontade de contar, senti que deveria confiar em você. — Ele entrelaçou

nossos dedos. — Você é especial para mim, Aurora.


— Tão especial que escolheu Bianca para casar. — Queria me
esbofetear por continuar batendo nessa tecla, mas não sabia explicar como
aquilo me magoava, mesmo sabendo de tudo agora, ainda me matava que ele
preferiu minha irmã. Como mulher, odiava ser preterida, mesmo que fosse
para minha irmã, fiquei com aquela sensação que eu era a segunda melhor
opção, podia ser bobagem, mas era uma sensação esquisita dentro de mim
quando pensava naquilo.
— Eu a quis desde a primeira vez que a vi, e não tinha nada a ver com

casar com umas das netas de Pontes. Nem foi a primeira vez, na verdade. Eu
nem me lembro que idade tinha quando a vi, você era um bebê, deveria ter
no máximo um ano, não sei. Eu era muito pequeno para me lembrar datas
exatas. Minha mãe me levou para casa dos Pontes porque a vizinha não
pudera ficar comigo e, como ela não tinha com quem me deixar, eu fiquei
perambulando pela casa até estar na frente da menininha que estava em um
carrinho. Comecei a brincar com a bebê e de repente Abner estava lá,
avisando-me para não ficar perto de sua neta preciosa, que eu era um sujinho
com piolhos e outras merdas, que sujaria sua neta. Ele me arrastou e disse a
mamãe que não queria aquele sujo favelado em na sua casa. Ele nos
humilhou naquele dia. O pior dia foi quando Abner assinou a sentença de
morte da minha mãe. Ela achou que ele se separaria da esposa, estava em
uma crise no casamento, ou algo assim, e ele foi na nossa casa. A conversa
que eles tiveram foi humilhante, ele a demitiu e ainda esnobou dizendo que
ele, um Pontes, não se casaria com uma mulher como ela. Depois que cresci,
eu não achei que ela era certinha, afinal, ele era casado e ela sabia. Se iludiu

com um homem mais velho, experiente e rico, pois era nova demais quando
foi trabalhar para eles. — Ele parou, como se estivesse tomando fôlego, e
apertei seus dedos entrelaçados aos meus. Senti lágrimas arderem atrás das
minhas pálpebras.
Abner tinha uma mente de senhor de engenho, ele tinha nossa família
como um patriarcado, um legado de orgulho, e se misturar com pessoas que
ele não considerava dignas era umas das coisas que ele abominava.
— Sinto muito — disse e realmente lamentava por ele e sua mãe. Eu
amava meu avô, mas sabia claramente que ele faria algo daquele tipo, aquela
não era a questão. Foram as mentiras sobre não ter nada com a assistente,
quando era óbvio que tinha, além do pior, ir ao hospital e provocar um
ataque cardíaco em Abner.
— O que disse a Abner para ele ter um colapso e levá-lo ao segundo
ataque cardíaco? — perguntei, pois, se estávamos colocando tudo na mesa,
eu não queria mais ter nenhuma dúvida.
— Eu disse que não entrei lá, fui com Michelle até o hospital quando
saí da Pontes. Ela estava comigo porque estava me acompanhando na
reunião com Ricardo. Fui com esse intuito, não nego, mas não fui até o fim,
voltei para o carro e para a empresa e, mal cheguei lá, Lucca me ligou. Eu
não tinha por que negar algo assim. Aurora, o hospital tem câmeras de
segurança. Se algum familiar solicitar, provavelmente lhes darão essa

filmagem, ou caso esteja querendo envolver a polícia, seria ainda mais fácil
— sugeriu ele. Bianca já tinha falado sobre as câmeras, eles tinham
conversado?
Deixei a questão de lado e me concentrei no que ele disse sobre a
polícia.
Quando a assistente dele falou sobre Rafael ter falado com Abner,
meu primeiro pensamento foi ir à polícia e fazer Rafael pagar. Mas o mês
longe e saber que teremos um bebê, só o pensamento de fazer algo contra
ele, me deixou com o estomago embrulhado.
— Você não parece bem, Aurora. — Ele se levantou decidido e tentou
me levantar com ele. — Venha, iremos ao médico agora.
— Já disse que não tenho nada demais, Rafael. — Puxei minha mão
da dele. — Foi apenas um enjoo qualquer.
— Ninguém tem um enjoo qualquer após ir a um restaurante, além
disso, você está verde. — Ele segurou meu rosto entre as mãos e algo se
mexeu dentro de mim, mal contive um gemido quando ele alisou meu cabelo
fora do meu rosto. Droga, Aurora! Estava me deixando levar fácil demais,
ele era o inimigo. Mas um inimigo que eu desejava além da razão, eu só
precisava aceitar.
— Melhor você ir embora. — Minha voz não tinha tanta convicção, eu

queria mesmo que ele fizesse isso?


— Ainda não terminamos nossa conversa — disse, deixando-me, e
suspirei aliviada que não estava mais sentindo seu cheiro, seu calor e suas
mãos em mim, mas ele foi apenas puxar o lençol da cama. — Deite-se, vou
fazer um chá para você, algo que deveria ter feito assim que entrei e a
encontrei pálida e suada, mas você é tão teimosa.
— Ora, quem fala! E não quero chá. — Eu odiava chá, percebi que ele
nem me conhecia. Fomos casados, moramos juntos, fizemos um filho e ele
não me conhecia assim como eu não o conhecia. — Eu não gosto de chá.
— Tire esse roupão. — Ele foi até o pequeno closet e mexeu em
minhas roupas, trazendo uma camisola de seda azul-escuro, estendendo para
mim. — Você quer que eu tire isso para você? — Apontou para meu roupão.
— Vire-se — disse, pegando a camisola de sua mão estendida. —
Quando ele nem se mexeu, eu cruzei os braços. — Não vou tirar minhas
roupas na sua frente.
— Jesus, Aurora! — Ele se virou, exasperado. — Somos casados,

porra!
— Separados e em vias do divórcio — lembrei-o e vesti a camisola

rapidamente, eu não estava com vergonha de tirar a roupa na frente dele, mas
ficar nua, com ele me olhando com aqueles olhos pecaminosos, era uma

tentação que me recusava a passar. Já era difícil tê-lo ali, tão perto, e não
poder dar vazão ao desejo de ser dele de novo.

Droga de hormônios, só podia ser culpa dessas substâncias


intrometidas que me deixavam toda quente pelo meu inimigo mentiroso.

Além disso, não havia muito tempo, eu estava vomitando e suando, nojento.
— Pronto! — Ele se virou e correu o dedo pelo meu ombro, ajeitando

a alça da camisola, seus olhos estavam ilegíveis.


— Venha deitar-se.— Sua voz saiu profunda e carregada, causando

estragos dentro de mim. Apesar de não confiar nele, ele tinha um efeito
sobre mim que não ia embora, estava enraizado como erva daninha dentro de
mim. Deitei-me sem protestar e puxei o edredom para cima, tentando

inutilmente criar uma barreira entre Rafael e eu. Ele, em vez de sair, sentou-

se ao lado da cama e ficamos com os olhares presos um no outro. O


momento era intenso, carregado, uma nuvem grossa de incertezas e cheia de

perguntas não respondidas. Algo passou entre nós, como se entendêssemos


que poderíamos ter algo real, com o tempo. Tive de morder meus lábios para

me impedir de dizer que íamos ter um filho e que tudo estava muito confuso.
— Sinto muito por crescer com tanta raiva dentro de si, Rafael... —

comecei a falar, mas ele colocou o dedo nos meus lábios, silenciando-me.
— Descanse, Aurora, nada disso importa mais, estou tentando fazer as

pazes com tudo que aconteceu — disse. Inclinou-se e beijou minha testa
calidamente. Depois ele se levantou, ajeitou meu lençol e apagou a luz do

quarto, deixando apenas a luz de cabeceira acesa. — E, Aurora? — Ele


parou na porta do quarto. — Quando escolhi casar com Bianca, ela era a

opção mais fácil, se eu quisesse seguir minha vingança, no dia que conheci
você, soube que se a escolhesse, nunca poderia seguir meus planos. E foi o

que aconteceu. Não foi por que eu estava querendo sua irmã, foi por que eu
queria você demais.

Ele saiu sem esperar minha resposta. Fiquei lá, olhando para o teto e
senti as lágrimas quentes descendo e se perdendo dentro dos meus cabelos.
23

Acordei com uma voz masculina, falando ao longe, assustada pulei da

cama, mas tive de voltar a sentar quando senti tudo rodando. Respirei fundo
algumas vezes e esperei um minuto antes de levantar e caminhar para fora

do quarto. Quem diabos estava em meu apartamento?


Entrei na cozinha e vi Rafael falando ao telefone e fazendo o café da

manhã. Ele não foi embora?

— As ações voltaram a subir. — Ele escutou quem quer que estava do


outro lado. — Eu sei, prepare algo para a reunião mais tarde. — Outra pausa.
— Vou chegar um pouco atrasado, tenho de passar em casa primeiro e trocar
de roupa. — Ele parou novamente. — No apartamento de Aurora, ela não
estava bem, então...

Ele desligou o fogo, onde parecia estar mexendo ovos e continuou


falando agora em um tom aborrecido
— Eu sei disso, Chris, não preciso de seu sermão a uma hora dessas.
— Rafael se virou e me viu parada na porta. Seu olhar aquecendo e seus
olhos descendo por mim, varrendo meu corpo com fome. Droga, esqueci que

estava com uma camisola que não deixava muito para imaginação e meu
quase ex-marido devia estar apreciando o show. — Tenho de desligar, agora.
Te vejo mais tarde. — Ele desligou e caminhou para perto de mim. — Bom
dia, Aurora.
— Bom dia, o que ainda faz aqui? — Tentei me concentrar na

conversa, entretanto ficava difícil com ele tão perto.


— Você dormiu bem? — Por que ele tinha de ser tão lindo? Minha
resistência não durava muito quando estava perto dele. Afastei-me e fui até
minha cafeteira nada sofisticada. — Obrigada pelo café. — Olhei em sua

direção enquanto pegava uma xícara. — Então, o que faz aqui ainda?
— Achei que você não devia ficar sozinha à noite quando obviamente
estava passando mal. — Ele se aproximou novamente e fugi para o outro
lado com meu café. Ele inclinou a cabeça, observando-me, com uma
sugestão de sorriso nos cantos dos lábios.
— Impressão minha ou você está fugindo de mim, Aurora? —
perguntou e o fitei falsamente espantada.

— O quê?
— Cada vez que chego perto, você corre para longe. — Ele se

aproximou novamente e tentei continuar parada com muito custo. —


Qualquer um pensaria que está com medo de mim.
— Medo, por quê?
— Não sei, amor, diga-me? — Um braço envolveu minha cintura e ele
me atraiu para si devagarinho.
— Rafael, acho que esqueceu que não estamos mais juntos, que não
pode sair me agarrando por aí — reclamei, mas permaneci colada nele, cada
gomo duro de músculos e uma dureza em sua virilha, que nada tinha a ver
com músculos, estavam colados em mim. Seu pau muito excitado estava

cavando em meu abdome. — Solte-me.


— Fiz seu café da manhã — disse ele e inclinou-se sobre mim,
cheirando meu pescoço. Limpei minha garganta e disse:
— Não estou com fome, obrigada, vou beber só um café, mas você
pode comer.
Ele fungou mais uma vez em meus cabelos soltos. Jesus! Alguém
estava me provando essa manhã. Endireitando-se, ele me olhou nos olhos, e
aquelas íris esverdeadas me tinham presa como correntes de puro aço.
— Estive com saudade de você, amor. — Ele deslizou as costas dos

dedos pelo meu rosto em um carinho que fez meus olhos fecharem, queria
me bater por gostar de seu toque. Lembrei das palavras dele antes de sair do
meu quarto ontem à noite e meu coração trovejou com esperança de que ele
sentia algo por mim, além de desejo físico, pois, era óbvio, quando o tinha
duro igual uma barra de aço encostado em mim.
— Eu devia me vestir, tenho médico daqui a pouco e já estou
atrasada, caso queira chegar na hora no consultório. — Eu comecei a
tagarelar e Rafael envolveu sua mão na minha nuca, puxando-me para ele,
sua boca caiu na minha abafando meu pequeno protesto. Ele reivindicou
minha boca com a dele como se fosse completamente dono de mim, como se
eu pertencesse apenas a ele e explorou minha boca, como se dela dependesse
para viver. Eu me entreguei ao beijo com saudade daquela boca que me
deixava de joelhos fracos. O beijo era gostoso, íntimo, macio, preguiçoso,
nossas línguas entrelaçando com paixão e ainda assim, como se não
tivéssemos pressa de ir a lugar algum. Labaredas quentes lamberam meu
corpo e gemi quando senti suas mãos agarrarem minha bunda e me atrair

mais para ele, a caneca em minha mão ameaçou escapar dos meus dedos e
me lembrou que não estávamos mais juntos, que a farsa tinha acabado e nós
iríamos viver vidas separadas. Afastei-me com firmeza dele e ele me liberou.
Ficamos parados sem coragem de nos afastar totalmente, ou melhor, eu
acreditava que fosse aquilo que ele sentia também, pois relutava em dar um
passo para trás. — Você já marcou um médico para hoje?
— Não, já tinha feito isso ontem, apenas rotina com minha
ginecologista — expliquei e dei-lhe um sorriso sem graça, de lábios
fechados. Levei a caneca aos lábios, tomei um gole do líquido quente e
disfarcei minha ansiedade.
— Posso te deixar lá...
— Rafael, agradeço sua preocupação, de verdade, mas eu não estou
doente e nem quero tirar você de seu caminho, dormir aqui foi desnecessário
e... e, bem, não precisava. Foi gentil de sua parte, mas não posso fazer isso
agora. — Fechei meus olhos quando perdi o fio de raciocínio coerente, pois
ele ficou me olhando como se eu fosse algo suculento e ele quisesse comer
tudo.
— Não pode o quê agora, amor? — perguntou ele mansamente, todo
capcioso, mas tratei de sair de perto da tentação.
— Voou tomar um banho — falei e comecei a fugir para meu quarto.

— Obrigada por ter ficado à noite.


Ele não respondeu e tampouco fiquei lá. Meia hora depois estava
pronta para sair, peguei minha bolsa e meu celular que tinha um monte de
mensagens de Lanie e Bianca.
Lanie: Ligue para mim.
Bianca: Você está bem?
Lanie: *emoji de grávida*
Tinha mais um monte de besteiras delas e sorri enquanto ligava para
Lanie quando saía do quarto. O apartamento estava silencioso e rezei uma
oração para Rafael já ter ido embora.
— Hei, mamy! — Lanie gritou do outro lado feliz, igual pinto no lixo,
logo cedo, credo.
— Lanie sua energia me cansa.
— Quero saber da minha nenê, como ela passou a noite?
— Você nem sabe se será menina, eu como toda mãe não me importo
— disse a bendita frase clichê, arrancado uma risada de Lanie.
— Agora em vez de falar de negócios sua vida será tudo sobre trocas
de fraldas cheias de cocô.
— Meu bebê não fará essas coisas — disse, brincando, e olhei em
volta atrás da chave do meu carro, onde a tinha colocado? Entrei na sala de

estar e parei de olhos arregalados. Rafael estava sentado no meu sofá. Como
diabos ele ainda estava ali? — Lanie, tenho de desligar, tenho a consulta,
lembra? Estou quase atrasada.
— Ok, mamy, te vejo mais tarde. Beijos.
— Te vejo mais tarde. — Desliguei e encarei Rafael que me olhava
estarrecido. Ele devia ter escutado parte da conversa e concluiu o óbvio.
24

Meu bebê não fará essas coisas


A sensação era surreal. Aurora estava dizendo que estava grávida.

— Ah, você ainda está aqui — ela falou depois de desligar o celular,
seus olhos estavam entregando mais que seus lábios. Óbvio que ela não ia

me contar nada.

— Acho que foi bom ficar, afinal, não é?


— Na verdade estou atrasada, Rafael. Podemos conversar depois?
— Não vou sair daqui até você me contar o que tem me escondido, ao
que parece — disse sem ligar para que ela se atrasasse ou não, eu não sairia
dali sem respostas.

— Não estou escondendo nada. — Ela mentia tão fácil.


— Diga-me, quando você ia me contar que está carregando meu filho?
— Eu ainda nem sei realmente, Rafael. A consulta de hoje é para
descobrir se estou grávida. — Ela estava mentindo claramente.
— Ótimo, eu vou com você à essa consulta — falei, encarando minha

esposa. Se eu não estava dando o divórcio antes, agora que não daria mesmo.
Um filho? Nós tínhamos gerado uma vida? Porra, isso era... caralho!
Sentindo-me como se tivesse um balão inchando dentro do meu peito, eu fui
até Aurora e simplesmente não me controlei, a segurei tão apertado que ela,
meio sorrindo meio reclamando do meu aperto, grunhiu:

— Oh! Deus, Rafael, você vai me matar. — Ela riu, o som cristalino e
delicado, fazendo-me mais prisioneiro dela.
— Eu sei que está mentindo sobre não ter certeza, apenas diga-me que
é verdade! — exigi meio louco. Ela estava carregando meu bebê.

— Ok, eu acho que estou, sim, pelo menos o teste de farmácia deu
positivo, mas estou realmente indo hoje para me consultar com minha
médica e confirmar — disse. E eu não consegui manter minhas mãos longe
dela, eu a beijei novamente. Diferente do outro de agora há pouco, esse beijo
estava carregado e desesperado, tinha ganas de arrancar suas roupas e fodê-
la ali e agora, porra! Afastei-me de supetão para longe e estava ofegante,
como se estivesse em uma corrida de cinco quilômetros.

— Quero muito foder você agora, Aurora! — rosnei, com uma onda
de possessividade me tomando por inteiro. Eu queria pegá-la em meu colo e
levá-la para um local escondido do mundo, tê-la apenas para mim.

— Agora eu tenho uma consulta — ela disse quebrando o feitiço.


— Eu irei com você — falei, já pegando meu telefone e informando a
minha nova assistente que não iria hoje, para ela reagendar meus
compromissos.
— Rafael, não tem necessidade — resmungou ela, chateada.
— Não pode me negar isso, sou o pai desse bebê, Aurora — vociferei,
perdendo a calma. Porra, por que ela tinha de me colocar na casinha do
cachorro por tanto tempo, eu me abri com ela, caramba. Quando ela vai
entender meu lado? Me deixar entrar novamente, fazer nosso casamento

real?
— Tem certeza? — Aurora me provocou e seu olhar malicioso me
encarou. — Passei um mês longe de você.
Conduzi-nos para fora do apartamento e me recusei a responder ao seu
comentário. Eu não sabia o que diabos diria a ela, mas nada de bom sairia da
minha boca, caso eu a abrisse. Jesus! Ela não tinha ideia da besta furiosa que
ela despertou com suas palavras. Um fogo parecia queimar pela minha
coluna, raiva incandescente espiralando por mim. Trinquei a mandíbula de
pura raiva contida e mantive meu olhar longe dela.

No elevador ela me observou desconfiada do meu silêncio. Não a


olhei, ou jurei que voltaríamos ao apartamento e daria umas palmadas em
seu traseiro atrevido e depois a foderia sem piedade.
Levei-a ao meu carro e abri a porta, convidando-a a entrar, ainda
dando o tratamento silencioso, ela enrugou os lábios e me olhou com os
olhos estreitos.
— Por que estou com a sensação esquisita que se eu entrar nesse
carro, nunca mais ninguém me verá? — perguntou, baixinho, no entanto
sentou no banco do passageiro. Apesar da raiva, uma sugestão de um sorriso
enfeitou o canto dos meus lábios. Boa intuição, amor! Bati a porta e dei a
volta, sentando-me ao seu lado.
— Coloque o endereço no GPS. — Apontei o aparelho para ela
colocar o endereço do médico.
Ela o fez e percebi que não estávamos muito longe.

— Sim, você está em torno de sete semanas — disse a médica de


Aurora, mostrando a tela para nós. Eu não vi nada, zero coisa na tela
cinzenta do ultrassom transvaginal, que a médica estava fazendo em Aurora.
Ela jurara que eu ficaria de fora, e agora tinha um bico enorme porque me
recusei a sair, mesmo ela batendo o pé, dizendo que era íntimo demais ver o
ultrassom e essas merdas. Mas ela aceitou minha imposição quando aleguei
que ela havia me magoado profundamente quando disse que o bebê poderia
não ser meu.
— Vocês veem isso aqui? — A médica apontou a tela, mostrando o
que parecia ser um pontinho preto. — Aqui está seu bebê, na próxima
ultrassom provavelmente terão uma visão maior, agora é só uma coisinha
minúscula. — Mesmo não enxergando quase nada, eu senti como explosões
de algo quente me aquecendo e me deixando suando frio. E agora o som do
batimento cardíaco, um som de batida molhada, me deixou completamente
tomado, atordoado. Felicidade seria eufemismo para descrever a sensação
que me dominou, estava completamente cheio dessa sensação protetora com
esse ser que nunca tinha visto, mas que estava ali, batendo o som de sua
existência. Escutei o fungado de Aurora e tirei os olhos da tela para olhá-la.

Ela soluçava com os olhos na tela e meu coração se contraiu de amor, como
nunca na minha vida eu pensei ser possível. Se eu tivesse uma única dúvida
que eu poderia amar alguém, esta dúvida certamente acabaria ali, pois a onda
de amor que me tomou, deixou-me sem ação, louco, desarmado e, ao mesmo
tempo, forte pra caralho. Meus propósitos de vida tinham me levado ali, para
eles, para esse momento em que meu filho e ela seriam os únicos no mundo
que me colocariam de joelhos, e eles estavam bem diante de mim. Eu não
deixaria nada me levar para longe, iria lutar com ela e mostrar que podíamos
cometer erros, mas fazer deles uma ponte para a felicidade, só dependia de
nós.
Estendi a mão e tentei secar suas lágrimas, mas elas vieram
abundantes, ela se virou para mim e não havia raiva nem rancor em seus
olhos. Aurora estava sorrindo e chorando ao mesmo tempo quando agarrei
seus dedos nos meus, ela me segurou tão forte, que era como se nunca fosse
me deixar ir. — Prontinho, a primeira self para os papais — a médica disse,
tirando-me do entorpecimento que estava.
A doutora finalizou os procedimentos e, pouco depois, Aurora sentou-
se de frente à médica.
— Vou indicar o doutor Andrei Casanova, ele é excelente obstetra,
Aurora — disse a médica para Aurora. — Ele vai acompanhar toda gestação,

se você quiser, ou pode escolher outro profissional.


Ela continuou falando e falando, mas eu apenas olhei para minha
esposa. Ela estava linda mesmo com o nariz vermelho de seu choro. A
turbulência emocional que ela tinha causado dentro de mim, consumia-me
mais e mais a cada vez que chegava mais perto dela.
25

Segurei a foto do ultrassom entre os dedos e suspirei com um sorriso

brincando em meus lábios.


— Isso é incrível, estou como se estivesse flutuando — disse, virando-
me para olhar Rafael sentado no banco do motorista. Ainda nos

encontrávamos no estacionamento da clínica, porque simplesmente ainda


estávamos em êxtase, eu pelo menos estava, ele estava meio catatônico. —

Você está bem?


— Case comigo?

— O quê? Rafael, já somos casados e não quero me casar novamente


tão cedo — disse rindo, achando que era brincadeira dele, mas quando
encarei os olhos verdes, as pintinhas amareladas estavam longe de serem
vistas e percebi que ele estava falando sério. Olhos escuros e profundos
diziam muito sobre meu marido. — Está brincando, não é? Nem resolvemos
nossas diferenças ainda...
Tomando-me de surpresa, ele me calou com sua boca batendo na

minha com ímpeto, mas sua boca era tudo menos dura na minha, era um
beijo macio, delicado e terno. Ele fez amor com minha boca e correspondi,
devolvendo o carinho, colocando todo amor que sentia por ele naquele beijo.
Pareceu durar horas, quando ele se afastou de mim.
— Eu amo você. — Ele soltou com uma naturalidade que me chocou.

Oh, eu não estava esperando aquilo. — Eu amo cada parte de você e, agora,
esse bebê. — Ele espalmou a mão ao redor da minha barriga lisa, como se
estivesse acariciando a pequena vida ali dentro. — Ele só me fez ver que não
posso renunciar ao que pode vir a ser a maior felicidade para um homem

como eu, Aurora.


— Rafael...
— Shii, não diga nada agora, deixe-me mostrar o quanto quero isso
com você, amor. — Eu beijei o dedo que ele tinha colocado em meus lábios
e ele disse: — Deixe-me amar você.
— Eu... — Eu queria dizer alguma coisa relevante, entretanto estava
muda com a avalanche de emoções que me tomaram desde o consultório

quando escutei o coração da vida dentro de mim. — Você realmente me


ama, Rafael? Não posso ter esperança se você estiver mentindo, me

enganando de novo.
— Eu pedi que me deixasse te mostrar, não é? — Ele descansou os
lábios no centro da minha mão e um frisson quente e excitante subiu por
meu braço. — Eu não quero que acredite em nada, apenas deixe-me
reconquistar você.
Eu poderia me entregar?
Haveria esperança para nós?
Só o tempo poderia nos dizer.

Mais tarde, naquele dia, Lanie, Daniel, Bianca, Lucca, Christian,


Rafael e eu estávamos todos jantando e comemorando a chegada do mais
novo membro da família. Eu estava tão feliz que tinha medo de tamanha
sensação. Era como se tivesse tomando todas as drogas estimulantes do
mundo, meu sorriso era contagiante.

— Aos novos papais! — Christian levantou a taça em um brinde e


levantei meu copo de suco, não me importando que não estivesse bebendo a
cara champanhe que Rafael pediu para o brinde. — O tio Chris será
homenageado com seu nome, caso seja um menino. Só avisando.
Todos tinham algo a dizer sobre o assunto e a mesa chovia com
conversas que ninguém entendia nada do que estava sendo dito.
— Você quer fugir daqui? — Rafael sussurrou em meu ouvido e a
sugestão maliciosa fez com que uma série de arrepios me percorresse por
inteira. Eu queria tanto acreditar nas mudanças, que poderíamos dar certo.
— Podemos ficar mais um pouco. — Ele estava sendo um cavalheiro
desde cedo, depois que ele disse que me amava, estava andando nas nuvens.
Mas não seria cedo demais?
— Aurora? — A voz de Lanie me tirou dos pensamentos. — Vamos
ao banheiro.
Ela e Bianca já estavam levantando e eu as segui. Depois de usar a
cabine, ficamos em frente ao espelho, retocando o batom.
— Vocês voltaram? — Bianca perguntou para mim.
— Boa pergunta — eu ri sem graça. — Ele disse que me ama.

— Por que ainda escuto um “mas” ai? — Lanie perguntou curiosa.


— Não tem, quer dizer ainda não consigo jogar tudo para o alto e
fingir que nada aconteceu. E...
— O quê?
— Tem a questão da assistente dele, odeio admitir, mas não consigo
esquecer que perguntei sobre ela e ele mentiu dizendo que não tinham nada.
— Vai ver não tinham mesmo, a lambisgoia só queria perturbar você.
— A porta do banheiro abriu e a loira que estava jantando com Rafael ontem
entrou. Ela parou nos olhando e todas nós olhando para ela. Eu tinha
esquecido de falar para Lanie e Bianca que Rafael disse que aquela era a
mulher de Christian, mas como se Chris estava solteiro?
— Deveriam segurar seus queixos, podem deslocar a mandíbula —
falou ela, irônica e com um sotaque carregado no português. Ela não era
brasileira e de perto ela ainda era mais bonita. Olhos azuis que se você
olhasse muito tempo, hipnotizava pela cor estranha de azul quase cinza. O
cabelo em ondas, o tal loiro morango, brilhantes, longos e com aquele
volume perfeito. — Para as interessadas, eu sou Haven Davis, é um prazer,
senhoras.
Ela passou e entrou na cabine.
— Ela era o encontro de Rafael? — Lanie disse, baixinho. — Aqui

tem onde esconder um corpo?


— Meu corpo é bem comprido para esconder, pensem em algo
enquanto ainda estou aqui fazendo meu xixi e escutando vocês — zombou
Haven, de dentro da cabine. Eu ri alto. Eu gostei dela. Claro, agora que sabia
que ela podia ser mesmo a mulher de Christian, eles tinham os mesmos
sobrenomes.
— Rafael disse que ela é mulher de Christian — disse, cochichando,
mas a mulher tinha um ouvido biônico.
— Não sou nada daquele idiota — resmungou ela, abrindo a porta da
cabine e indo até a pia. — Ele só gosta de pensar que ainda é meu dono.
— Explique isso aí, dona. — Lanie cruzou os braços em sua pose de
durona, empostando a voz. Doida varrida! — Comece a falar ou... corpos
aparecerão no rio.
— Lanie!
— O quê? Ora, não posso interpretar o bandido? Fazíamos isso
quando éramos mais jovens.
— Não somos mais tão jovens assim, somos adultas, se contenha —
ralhei, mas estava sorrindo de suas palhaçadas. — Sou Aurora. — Estendi a
mão para Haven que agora passava seu batom vermelho escarlate,

combinando com o vestido também vermelho colado ao seu corpo matador.


Jesus, ela poderia deixar outras mulheres com depressão, ela era a
personificação da Jessica Rabbit. — Esta dona Corleone é a Lanie e esta é
minha irmã Bianca — apresentei.
— Eu sei quem são vocês — falou, terminou de retocar o batom e o
jogou na pequena bolsa. Como já estávamos há um tempão no banheiro,
saímos todas juntas.
— Respondendo a sua pergunta, Lanie, eu e Chris somos divorciados.
— Hmm, sei... — Lanie encrenqueira estreitou os olhos. —
Divorciados que se agridem verbalmente é porque aí tem coisa.
— Por que você não se junta a nós? — ofereci, ignorando minha
melhor amiga.
— Christian teria uma síncope se eu aceitasse — disse ela, segurando
meu braço, nos parando no corredor. — Rafael é um homem complicado,
mas eu posso afirmar que ele ama você, ontem ele quase desmaiou quando a
viu aqui. — Ela riu da própria piada, bem eu achei que era piada. — E ele

estava dando conselhos sobre Chris e eu, então ele foi picado pelo amor,
posso dizer.

— Obrigada por dizer isso.


— Eu gosto de você — falou e caminhou para longe, não aceitando

meu convite para se juntar a nós. Quando voltamos para a mesa e nos
sentamos, vi Christian franzindo a testa distraído, segui seu olhar e ele os

tinha na “Jessica Rabbit” que estava à mesa com um homem.


— Christian, encontrei sua ex-mulher no banheiro — disse

casualmente.
— Quem se importa? — Ele jogou o guardanapo na mesa e se

levantou. — Vou ao banheiro.


— Ei! Está falando com minha mulher, seu babaca — Rafael

reclamou, mas Christian já estava longe. — Ele não pode ouvir nada sobre
essa mulher, que cabeça-dura. — Ele se virou para mim. — Chega por hoje,
você precisa descansar.

— Estou bem. — Mas estava realmente querendo ir para casa. Rafael

perguntou a todos se iriam esticar a noite e como todos concordaram em ir


embora, ele pediu a conta sem esperar Christian, que ainda não tinha voltado

do banheiro. Por curiosidade, olhei para onde Haven estava e só seu


acompanhante estava lá, com uma cara que dizia muito sobre sua noite.

Saímos todos juntos, menos o amigo de Rafael que sumiu, mas ele disse que
Chris já devia estar a caminho de casa, com sua ex-mulher, provavelmente.

— Como é essa dinâmica dos dois? — perguntei, curiosa.


— Nem eles sabem e nunca poderei explicar a bagunça que é Haven e

Chris quando o assunto é a relação deles.


— Excêntricos — comentei, rindo.

— Pode-se dizer, mas para mim são teimosos e adoram machucar um


ao outro.

— Fisicamente? — perguntei, preocupada.


— Não. Eles se machucam porque ainda estão apaixonados e não se

dão uma chance.


— Às vezes o amor não é suficiente, Rafael.

Cada casal esperava por seu carro e quando o manobrista trouxe o de


Rafael, entramos e ele se virou para mim.
— Você deveria dormir em casa. — Ele tirou uma mecha do meu

rosto. — Eu ficaria mais tranquilo.


— Rafael...

— Por favor. — Ele chegou a um milímetro da minha boca — Venha

comigo.
— Estamos indo rápido demais, você prometeu que ia fazer as coisas

certas.
Ele voltou ao seu lugar e deu a partida no carro. Ele não me perguntou

mais aonde queria ir e dirigiu para meu apartamento. Quando ele nos guiou
para meu andar, eu fiquei olhando para ele que mantinha os olhos longe de

mim. Taciturno, calado.


— Desculpe — eu disse a ele, pois a rejeição deixara um tom de

decepção em seu rosto. — O dia de hoje foi intenso, Rafael, e eu... — Merda
de hormônios, porque eu simplesmente desabei chorando e nem sabia o que

diabos tinha dado em mim.


— Ei. — Ele me abraçou e me segurou apertado contra seu peito,

envolvi os braços em sua cintura e o abracei com força. — Não quero forçar
nada, amor — ele falou nos meus cabelos. — Eu preciso processar que ainda

não estamos na mesma página com relação a nós dois e, sim, o dia foi
intenso e você está cansada. Sou um insensível que precisa te dar tempo.
Entramos no meu apartamento e algo que estava preso entre nós
escapou dos meus lábios.

— Quando eu te perguntei sobre sua assistente, por que disse que era

coisa da minha imaginação? Quando obviamente tinha algo entre vocês? —


perguntei.

— Por que não existiu nem existia um relacionamento, Aurora. Só


aconteceu uma vez, há mais de cinco anos, logo que a contratei e foi um

lapso de minha parte que nunca mais repeti — disse ele, olhando-me nos
olhos. — Dizer a você que tinha motivos para ter ciúmes de Michelle era

bobagem, só causaria mais aborrecimentos, e a repreendi depois que deixei


você no hospital naquele dia. Ela sabia que eu a demitiria se ela causasse

problemas.
— Pelo visto não serviu para muita coisa. — Sorri com desdém. —

Ela causou problemas. Por que a demitiu, afinal?


— Depois do casamento, ela mudou e naquela manhã ela parecia estar

em uma missão para causar uma situação íntima entre nós. E já a tinha
avisado que a demitiria por qualquer ato que não fosse profissional, e no dia

do funeral ela estava além do respeitável.


— Eu não percebi nada. — Eu realmente só tinha lugar para a dor de

perder meu avô.


— Não importa, eu tinha dito que seria demitida e foi. Se você tinha

visto alguma coisa, ou não, eu sabia que era importante, e a demiti porque

ela estava cruzando a linha e isso bastou para mim.


— Onde ela está agora?

— Não sei.
Quando deitei na cama mais tarde, Rafael ainda estava lá. Ele beijou

meus lábios e não demorei muito a pegar no sono. Eu não o vi indo embora e
quando acordei, na manhã seguinte, tinha um corpo muito masculino

enrolado em mim.
— Mas o quê? — Comecei, mas fui calada quando Rafael me puxou

para ele.
— Bom dia, amor. — A voz rouca de sono e profunda fez minha

barriga tremer de ansiedade. — Você dormiu bem? — Ele enfiou o rosto no


meu pescoço, cheirando-me ali, eu fechei meus olhos embriagada com a

onda luxuriante que era Rafael Lamartine.


— Rafael? — chamei sem muita convicção.

— Sim? — Ele arrastou a língua por minha pele, mordeu minha orelha
e gemi involuntariamente, esfregando as pernas uma na outra atrás de fricção

para a dor marcante no meio das coxas, os dedos longos dele deslizaram por
minha barriga e logo amassaram meus seios por cima do tecido fino da

minha roupa de dormir. Virei-me para ele e aceitei seu beijo. Era como jogar
fogo no palheiro. Em segundos estávamos tirando a roupa um do outro e
dominados pela ânsia que consumia cada polegada de nossos corpos.

Quando ele deslizou seu pau dentro de mim, eu o abracei, recebendo tudo

dele. Quando explodi em um clímax poderoso, eu gritei seu nome como uma
oração.

Fiquei deitada em seu peito com sua mão subindo e descendo por
minhas costas, desde minha nuca até minha bunda que ele apertava a cada

volta.
Tarado!

— Pedi a Domênico para conseguir as imagens daquele dia que estive


no hospital — ele informou. — Tenho alguma ideia de quem poderia ter dito

alguma coisa para Abner, depois que conversamos ontem à noite sobre
Michelle, ela estava com raiva e pode ter tentado com isso causar uma

ruptura entre nós.


— Acha que ela fez mesmo isso?

— Não tinha cogitado a possibilidade, lembro que ela falou que iria ao
banheiro quando estávamos voltando para o carro e a esperei lá — ele disse

pensativo. — Ela poderia ter ido lá e dito o que quis.


— Ela é louca. — Levantei e olhei para seu rosto.

— Esse seu advogado é bom mesmo?

— O melhor e isso não é nada para ele resolver.


— Falando em advogado, Lanie está trabalhando para ele.

— Sim, eu soube.

— Ele é legal? Parece que os dois não andam se dando bem.


— Domênico é um ótimo advogado, mas ele é um pouco turrão, às

vezes.
— Hmm, sei. Homens se acham os incríveis donos da porra toda.

— O que isso quer dizer, mocinha? — Ele me virou e fez cócegas em


minhas costelas. Gargalhei enquanto era atacada por ele.
26

Rafael conseguiu as filmagens do hospital, ou melhor, Domênico

Garcia tinha conseguido e, sim, Michelle tinha entrado no quarto de Abner e


saído cinco minutos depois. Mas não tínhamos como fazer uma acusação

contra ela. Como provaríamos que ela disse algo a ele? Poderíamos
processá-la, e no que isso ia dar? Nada, pois ela nunca iria admitir que disse

algo a ele.

— Ei, papai. — Coloquei a cabeça para dentro de sua sala.


— Aurora, entre — disse ele, afastando-se da mesa e vindo me
abraçar, eu estava voltando para a empresa hoje, depois de um mês afastada
e ainda não havia contado para ele que estava grávida de seu primeiro neto.
— Como foram as férias?

— Renovadoras. — Sentei-me em frente à mesa e sorri. — Eu queria


dar a notícia a você antes que o mundo todo saiba.
— Que você e Rafael se acertaram? — Ele riu.
— Bem, ainda estamos no processo, mas não é isso, na verdade a
novidade é que você vai ser vovô.

— O quê?
— Isso aí, vovô. — Ele voltou a se levantar e veio me abraçar
— Parabéns, querida, sabia que fez esse velho mais feliz hoje? — ele
falou e tentei deixar para trás nossas brigas dos últimos tempos. — Eu errei
aceitando as imposições de Rafael quanto ele estipulou que precisava casar

com uma das minhas meninas, ele alegou que estava na hora de casar e que
seria uma honra casar com uma Pontes. — Ele segurou minha mão entre as
suas, com um carinho que não era costumeiro dele. — Eu nunca pensei que
ele teria motivos nada honestos em mente, e me arrependi desde então por

impor isso a você e a Bianca.


— Tudo bem, estamos superando isso, pai. — Eu tentei apaziguar,
como sempre fiz depois que mamãe morreu, eu tinha a mania de achar que
agradar a todos da família faria com que vivêssemos em paz e que nada de
ruim aconteceria com ninguém, mas eu descobri que nada poderia fazer
contra o curso da vida.
— Estou dizendo tudo isso, porque quero que desculpe esse velho

homem — pediu ele.


— Só não faça mais isso.
— Nem tenho mais filha para fazer tal coisa, pelo visto você e Rafael

estão se acertando. — Ele voltou a dizer.


— Temos um filho para pensar agora e estamos nos dando uma
chance.
— Ele, apesar de tudo, é um homem decente. Abner nunca foi flor que
se cheira, Aurora. Eu lembro da mãe de Rafael, eu não liguei os fatos porque
ele mudou de sobrenome, adotou o do marido da tia.
— Você lembra da história do vô com a mãe dele?
— Era de conhecimento de todos na época que ele mantinha um
relacionamento com uma das empregadas, ela era nova, tinha uns dezenove

anos quando chegou para trabalhar em casa. Quando ela engravidou,


achamos que era dele, mas foi uma tentativa dela de se libertar ou fazer
ciúmes a ele, para que Abner assumisse a relação deles, não sei bem a
história. Nunca era falado abertamente, na época. Só que isso seguiu por
anos e mamãe fazia vista grossa, pois sabia que Abner nunca a deixaria por
outra mulher, mesmo que tivesse casos aleatórios ao longo dos anos.
— Por que seus filhos não diziam nada?
— Você conhecia seu avô, Aurora? Ele era o Abner, fazia o que queria
e ai de quem se intrometesse.

— Depois de anos a moça sumiu e concluímos que ela se cansou e


pediu demissão, não pensamos mais nela.
— Não se importaram, essa é a verdade, não é? — Balancei minha
cabeça em desgosto. — Uma empregada sem importância, quem se
importaria se ela saiu de lá e acabou com a própria vida? Por que um homem
mais velho a seduziu e não cumpriu com suas promessas?
— Eu não sei se houve promessas, Aurora, eu não estava ligando para
os casos do papai — disse ele e voltou a se sentar em sua cadeira. — Ele fez
isso a vida toda.
— Talvez eu simpatize com Rafael agora que sei que eram todos
esnobes e trataram tudo com descaso. E isso acontecia dentro da própria casa
dos Pontes, tanto orgulho que essa família passou ao mundo e, no fim,
somos todos uns bandos de preconceituosos e esnobes, como disse Rafael.
— Eu estava brava com todos, com Abner, com papai e comigo por ficar
com raiva de Rafael quando ele tinha motivos para nos odiar. Eu também
teria.

— Talvez, mas isso foi há muito tempo — concluiu ele.


— Mas que ainda está muito vivo e por causa disso que estamos aqui
tendo essa conversa. — Suspirei e me levantei para sair — Vamos tentar
viver o presente em vez do passado e para isso vamos começar dando uma
festa na casa de Rafael, na próxima semana. Está convidado.
— Não perderia por nada.
— Hmmm... você é a mamãe mais gostosa que existe. — Eu sentia a
língua dele trilhando por minha barriga, o osso pélvico, chegando acima do
meu monte de vênus e voltando e nunca indo mais para baixo, apenas para
me provocar, nunca me dando o que eu queria que era sua boca me comendo
com gosto.
— Rafael... — gemi, me contorcendo toda, levantando meu quadril da
cama em direção a ele.
— Sim, amor? — Ele deslizou os dedos por minha boceta me abrindo
para seu deleite, sua boca aberta caiu sobre mim e eu era toda dele, aberta,

entregue, meu corpo estalando de excitação, querendo-o. Agarrei seu cabelo


e empurrei seu rosto mais e mais na minha boceta necessitada, de sua língua
pecaminosa e mestre em me dar prazer, dando-me toda para ele fazer o que
quisesse. Cada parte minha era dele, eu não tinha dúvidas. Rafael meteu o
dedo profundamente dentro do meu canal encharcado, ao mesmo tempo que
sugou meu clitóris na sua boca e não demorou muito e gozei, balbuciando
coisas incoerentes e sem sentido. Ele não deu trégua, se banqueteou de mim
como ele queria, até eu convulsionar debaixo dele uma e outra vez,
orgasmos múltiplos, me fazendo uma massa sem ossos quando ele
finalmente tirou sua boca de mim. Ele arrastou-se para cima, beijando meu
corpo todo caminho de volta e nos beijamos lento e gostosamente.
— Você é gostosa pra caralho, amor.
— Te amo. — Eu soltei e ele paralisou acima de mim. — Eu estou
louca e irremediavelmente apaixonada por você desde que te vi pela
primeira vez.
— Amor à primeira vista, hein — gracejou ele, olhando-me, apenas
isso, me olhando sério, como se eu fosse uma descoberta científica. — Você
é a mulher que quero para sempre, Aurora.
— Eu te amo — sussurrei, segurando seu rosto entre minhas mãos.
— Porra, mulher! — Ele voltou a me beijar e agora ele era como um
tornado devastando tudo quando ele arrasou com meus sentidos. Beijamo-
nos como se não houvesse amanhã, só o momento mágico e perfeito.
Epílogo 1

Rafael queria que nos casássemos de novo e organizou uma cerimônia


rapidamente. Trocaríamos votos na nossa festa onde anunciaríamos a todos

nossos amigos e pessoas próximas que iríamos ter um bebê, mas a festa
realmente era um novo começo para todos, um ciclo se fechando. O vestido

de noiva era simples e elegante, nada do vestido de dama de honra que me


casei a primeira vez.

— Você está linda. — Lanie tinha lágrimas nos olhos e ela nem era de
chorar. — Rafael errou feio quando exigiu que se casasse naquele dia e tirou
o brilho do seu casamento, mas talvez ele tivesse razão porque agora esse
brilho em você me deixa com vontade de ter uns cinco bebês, se eu ganhar
essa luz radiante.
— Ah, você toda melosa — gracejei, mas segurei as lágrimas que

ameaçavam cair. Bom Deus, onde esse meu lado meloso estava escondido
em meus vinte e quatro anos?
— Ela está diferente, eu aposto que tem a ver com seu novo trabalho
— Bianca opinou, ajeitando meu pequeno véu.

— Estou começando a achar que você tem uma fixação por meu
chefe, Bianca, devo alertar o Lucca da concorrência? — Lanie retrucou e
Bianca mostrou a língua para ela.
— Toc toc. — Uma voz feminina veio da porta e nos viramos para ver
Haven entrando. — Senhoras fofoqueiras, tem um casamento para acontecer

e a noiva está atrasada.


Eu a convidei e não aceitei um não como resposta quando ela tentou
se esquivar do convite, alegando que ela e Christian iriam acabar com meu
casamento. Eu não me importaria se eles transassem em cima do bolo.

Loucos!
— Ei, você veio — disse para ela.
— Não te garanto nada sobre terminar o dia e você acabar nos
expulsando de sua festa. — Ela sorriu, parando ao meu lado. — Esse vestido
é um arraso.
— Obrigada.
Pouco depois estávamos trocando nossos novos votos e Rafael

colocou uma nova aliança em meu dedo. Ele queria tudo novo para esse
recomeço, não queria que eu tivesse dúvidas, que era a mim que ele tinha
escolhido desde sempre. Ele me beijou quando terminou de colocar o anel
no meu dedo anelar, adiantando-se na hora do beijar a noiva.
— Eu os declaro marido e mulher — disse o celebrante. — Pode
beijar a noiva, apesar de você já ter feito isso.
— E eu lá preciso de autorização para beijar minha mulher? —
esbravejou ele, todo presunçoso. Sorri, puxando sua boca para a minha.
— Menos, marido, apenas me beije. — E ele fez como sempre fazia,

com perfeição, nossas línguas em uma dança íntima e que nos fez gemer
embriagados do nosso amor. Senti a mão de Rafael na minha barriga e ele
acariciou nosso bebê e eu sabia que seríamos uma família cheia de amor.
Epílogo 2

Meses depois...

Olhei minha Aurora dormindo junto ao nosso filho, um menino, ela

tinha passado por horas de dor durante o parto e eu fiquei louco sem saber o
que diabos fazer para ela não sofrer, mas descobri que era inevitável.

A porta do quarto do hospital abriu devagar e olhei para ver Chris


entrando na ponta dos pés para não acordar os dois bens mais preciosos de

minha vida.
— Você quer um café? As pessoas lá fora acham que quem pariu foi
você. — Ele prendeu o sorriso. — Tem de deixá-los, para comer e beber
alguma coisa.
Porra ele tinha razão, eu fiquei tão desesperado com tudo que esqueci
que tinha quase vinte e quatro horas que me alimentei, que tomei banho e

essas merdas, eu simplesmente não conseguia deixá-los e ir para casa. Essa


sensação horrível que eu tinha que se eu tirasse meus olhos deles, quando eu
voltasse, eles teriam ido, como mamãe se foi, me deixando sozinho. Minha
tia era apenas minha tia e eu me sentira abandonado quando mamãe morreu.

Quando cresci, eu percebi que nunca estive só, mas agora, quando me
permiti me apaixonar e amar, esse maldito sentimento tinha voltado forte. Se
deixasse eles aqui, eles não iam sumir, mas digam isso para a minha mente e
ao meu coração que, nesse caso específico, estavam em comum acordo.
— Cara, você precisa ir lá fora— Christian pediu, cochichando.

— O que tem lá fora para mim? Tudo que quero está bem aqui.
— Só vá lá, ficarei aqui tomando conta de seus bens. — Eu lhe dei um
olhar raivoso que fez com que ele levantasse as mãos. — Tudo bem, sem
ficar aqui.

— Estou bem, volte lá e diga a todos que vou ficar aqui até Aurora ter
alta.
— Isso só vai acontecer daqui três dias, pelo que fiquei sabendo.
Relutante levantei e fiz o que ele estava insistindo tanto. Saí e me
deparei com um monte de gente. Por que meu advogado estava ali, estava
além de mim. Ele achava que eu precisaria de seus serviços no nascimento
do meu filho? Mas não era nele que meu foco estava.

— Tia Letícia? — O que ela estava fazendo ali, e por que eu não sabia
daquilo?
Andamos tão afastados, desde que comecei essa loucura de me vingar.

Ela apesar de guardar rancor do Pontes mais velho, ela dizia que eu iria me
perder se fosse caminhar na estrada da vingança. Talvez ele estivesse certa,
mas não me perdir, graças a mulher que eu me casei.
— Oh, meu menino! — Ela começou a vir em meu encontro, mas fui
até ela primeiro, que me agarrou como se eu ainda fosse aquele menino de
oito anos que ela assumiu como filho, murmurando sobre saudade. —Enfim,
criou juízo.
— Sempre os tive, Letícia. — Beijei seu rosto que não tinha uma ruga,
ela era vaidosa e seu passatempo favorito era cuidar das rugas ou melhor

cuidar para que elas não aparecessem logo. Mas ela ainda estava jovem com
cinquenta e tantas anos. — Você parece bem.
— Obrigada, querido, quando poderei conhecer meu sobrinho neto e
sua linda esposa?
— Eles estão dormindo agora. — E, como se fosse uma deixa, escutei
um choro forte vindo do quarto. — Acho que acordaram. Meu filho tem o
pulmão forte.
— Eu vejo. — Ela sorriu e eu voltei para o quarto, depois haveria
tempo para se conhecerem, teríamos o resto de nossas vidas.

Encontrei Aurora alimentando nosso filho. Ela me recebeu com um


sorriso cansado, mas radiante.
— Ei, pensei que tinha me abandonado — disse ela. Sentei-me ao lado
deles, passando os braços por trás de suas costas, trazendo-a para o casulo do
meu corpo.
— Amor, nada, a não ser a morte, me tira de vocês — sussurrei em
seus cabelos. Ela olhou para cima e não perdi tempo, aproveitei e a beijei. —
Você foi perfeita — disse contra seus lábios entreabertos.
— Te amo, tanto — murmurou ela. E todo amor estava ali nos olhos
cor de mel. — E ao nosso bebê.
Eu tinha absoluta certeza sobre isso, pois sentia-me da mesma
maneira.

Fim
Próximo Lançamento
Janeiro de 2022

Entre Nós

Sinopse:

Lanie Albuquerque tinha uma vida boa, a única coisa que ela achava que devia melhorar era
sua relação um tanto difícil com seus pais. Tinha um ótimo namorado, apesar de ter dúvidas dele ser

o homem que ela um dia casaria, amigos que podia contar e agora estava começando em um novo
emprego, que era tudo que desejava para que sua carreira de advogada dar uma guinada: Na Garcia &
Associados.

Mas, sua relação com os pais fica a cada dia mais difícil.
Seu namoro de anos, termina.
E para piorar estava se apaixonando por seu novo chefe.

Tudo estava um desastre.


Domênico Garcia despertou nela uma paixão que nunca sentiu antes, mas ele não poderia

pertencer a ela.
Só que é tarde demais para seu coração...E só piora tudo quando ela descobre por que ela e

Domênico nunca deveria ter começado algo entre eles.

TRECHINHO:

Lanie Alburqueque

Quando você não queria se atrasar parecia que o mundo ou o


universo conspiravam para o mal e tudo iria acontecer para isso acontecer
de maneira magistral. Eu não poderia perder esse trabalho, eu queria muito
ter a experiência e fazer dessa mudança algo para minha carreira como
advogada, era uma oportunidade para minha carreira dar uma grande
guinada, e me atrasar no segundo dia era meio desastroso.
Hoje, não estava sendo meu dia. Bem, tinha começado desde ontem a
noite. Com meus pais e os pais de Daniel. Eles queriam saber quando
marcaríamos a data do casamento, eu não estava planejando me casar agora,
pelo amor de Deus. Eu sei que parecia que tudo levaria a esse fato entre
Daniel e eu, mas ainda não era a hora, estava com quase vinte e cinco anos,
mas não era o momento de dar o passo final com ele. Eu não sabia se amava
o Daniel o suficiente para me casar com ele.
Eu só sei que não é amor o suficiente, pois se assim fosse eu não
hesitaria ou teria dúvidas daquele sentimento. Entrei com o carro no
subsolo do prédio da Garcia & Associados e tentei localizar uma vaga o
mais perto possível do elevador, mas minha sorte não era das melhores
naquele dia, estava quase dando a volta de novo quando vi a vaga linda e
maravilhosa, bem ali. Evitaria andar no salto todo estacionamento. Dei um
sorriso de felicidade só por aquilo. Coloquei o carro na vaga e quando
estava prestes a sair do carro, um outro para atrás do meu e buzinou forte.
Mas forte suficiente para acordar os mortos.
Que diabos!
— Perdeu querido, procure outra vaga — eu proferi com um sorriso
vitorioso, mas o motorista continuou buzinando. Resolvi sair e dizer umas
poucos e boas a ele. Quando saí do carro pronta para defender minha vaga,
eu quase tive um ataque cardíaco quando o motorista desceu a janela do
carro e o próprio Domênico Garcia apareceu na janela do carro.
E ele tinha a cara de poucos amigos.
— Como se chama senhorita? — A voz dele era dura.
— Bom dia, senhor Garcia! — eu disse quase timidamente. Atitude
Lanie não deixe sua admiração pelo homem levar a melhor, ele é apenas um
homem. E um homem, vi em seguida, não era lá muito simpático.
— É surda, senhorita? Perguntei como se chama — rosnou ele.
— Lanie, me chamo Lanie — disse entre dentes, eu geralmente não
tinha um gênio ruim, só quando era provocada como naquele momento, e
ele conseguiu fazer meu sangue ferver nas veias. E nem era no bom sentido.
Idiota!
— Senhorita Lanie, você sabe ler? — Melhor que você, estúpido!
Pensei.
— Claro que sei lê — praticamente rosnei com dentes trincados, o
meu temperamento começando a levar a melhor sobre mim — Por quê?
— Parece que não, leu o que está escrito na parede em frente a vaga
que acabou de ocupar?
Virei-me e realmente vi agora o nome “reversado, proibido estacionar.”
Opss!
— Vejo que a senhorita sabe ler, então sugiro que retire o carro da
minha vaga.
Que idiota. E eu tinha-o em alta conta, sem saber que era um cavalo
bruto.
— Acho que seria mais demorando se eu tirasse o meu carro, por que
o senhor não procura outra vaga? — Eu queria me bater quando as palavras
escaparam da minha boca, sem que eu tivesse controle sobre elas. Eu ia
perder meu emprego sem nem começar realmente a trabalhar com ele e eu
queria esse trabalho demais para ser uma espertinha ali. Dando uma falsa
entonação submissa disse: — Vou retirar, senhor Garcia.
— É dr. Garcia — disse ele, e arrancou com o carro para que eu

saísse com o meu.

Jesus, que homem bruto!

...
Outros títulos da autora
Não Roube Meu Coraçao:

Trechinho:

...
— Você é muito engraçada, Jadie Andrade. Esse é mesmo seu nome?
— debochou, como se tudo que falei desde que cheguei aqui fosse um monte
de mentiras. Em parte eram, mas o carinho e o amor que comecei a sentir

por Amber, principalmente, nada tinham a ver com minhas razões de estar
ali. E os sentimentos que Jordan me despertava? Isso não era mentira, se
fosse, eu estaria longe daqui agora com o seu maldito diamante na minha
bolsa de mão. Eu arrombaria aquele cofre dentro de minutos, fosse o maior
sistema de segurança que houvesse. Por isso Noel me escolheu para

descobrir onde ele guardava a pedra. Se eu descobrisse a localização eu


conseguiria roubá-la, e Noel sabia disso. Só que falei a verdade, essa minha
vida bandida tinha acabado.

— Sim.

— Que tipo de criminosa é você, que usa seu nome real para se
infiltrar na casa de alguém para roubar um dos diamantes mais valiosos do
mundo? — questionou ele com escárnio.

— A pior — assumi meu disfarce fajuto. Noel tinha vindo com aquele

papo de que se eu fosse com um nome falso Jordan descobriria. Ele apagou
todo o meu passado relacionado ao meu pai, eu não estava mais registrada
como filha dele, e isso fez com que eu parecesse legítima em qualquer
investigação que Jordan encomendasse sobre mim. Ele nunca encontraria
algo de ruim no meu passado.
— Eu devia ter seguido meus instintos, mas como um maldito homem

governado pelo meu pau, eu deixei essa sua carinha inocente me ludibriar —
ele cuspiu com nojo. — Só não entendo por que está me contando isso
agora. Acha que vou agradecer a você?

— Não acho nada disso, Jordan. Eu sei que não acreditará em mim,

não tem motivos para tal, mas eu me apaixonei por você e eu amo a sua
filha. Amber é a criança mais linda que já vi e me matou um pouquinho a
cada dia estar aqui mentindo para vocês sobre o motivo inicial de ter vindo.
Mas o amor que sinto não é mentira.

Ele me olhou com tanto desprezo que me encolhi.

— Está envolvida nos assaltos às joalherias? — A suspeita gritava em


suas feições.

— Não, mas estão sendo orquestradas para distrair o roubo do


diamante, para que quando acontecesse eu não fosse suspeita. Mas acho que
Noel tem algo mais em mente, ele não me disse qual era o jogo deles, só que
os assaltos eram uma distração para o roubo do King. — Coloquei todas as
cartas na mesa de uma vez. Não entendia por que diabos Noel com essas
pessoas com o qual eles trabalhava estavam deixando a segurança de Jordan
maluca, mas ele faria algo em breve. Vi Jordan pegar o celular e levar à
orelha. Ele estava ligando para polícia e eu seria presa? Eu sabia que ele
faria isso.

— Está ligando para a polícia? — perguntei. Ele parou o que estava


fazendo e me olhou.

— Quem mais?

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