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REVISTA

CHAMINADE
EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO
MARIANISTA
DE QUALIDADE

BOAS PRÁTICAS
Artigos
Poesia
Ed1. V.1 - 2021

Estudos de Caso
e muito mais!
COLÉGIO CHAMINADE BAURU
EDUCAÇÃO INTEGRAL: INTERLIGADA PARA UM MUNDO INTERCONECTADO

Somos um centro educacional católico da Companhia de Maria-


Marianistas, que busca educar crianças, adolescentes e jovens na
perspectiva do diálogo entre fé e cultura, por meio da pedagogia
marianista, oferecendo uma educação integral e de qualidade.

Somos resultado da experiência bem-sucedida de 200 anos da rede


marianista nos cinco continentes.
+ Princípios marianistas.
+ Proposta educacional contemporânea.
+ Educadores alinhados à nossa proposta educacional, bem e
continuamente preparados.
+ Ambiente com espírito de família, considerando o colégio como casa.
+ Valorização das pessoas e respeito às diferenças.

O que nos define


+ O ser humano em sua integralidade.
+ Fé, vida e interioridade.
+ Comunidade e Espírito de família.
+ Cooperação e solidariedade.
+ Alegria e esperança. Justiça e paz.
+ Respeito, diversidade e equidade.
+ Criatividade e inovação.
+ Responsabilidade com o ambiente.
+ Profissionalismo, gestão eficaz e eficiente.
+ O educando no centro do processo educativo

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Revista CHAMINADE EDUCAÇÃO, abre as EXPEDIENTE
portas para a partilha de conhecimento!
Diretoria Geral
Nós, do Colégio Chaminade, estamos sempre Édio João Mariani
inquietos em busca de novas possibilidades. Conselho Editorial
Possibilidades de ensino e de aprendizagem, Ed. Infantil:
possibilidades de aprimoramento, possibilidades Gilson Rodrigo Carraro
de interação, possibilidades para criar e inovar... e, Michele Anselmo Maticoli Tomazela

sobretudo, de implementar uma educação integral Fundamental I:


de qualidade. É isto que nos move e conduz na Bruna Laselva Hamer
nossa missão como educadores Marianistas. Pedro Ryo de Landim y Goya
Hoje, com muita satisfação, lançamos mais uma Fundamental II:
dessas possibilidades. Através da criação da Viviane Cássia Teixeira Reis
Revista Chaminade Educação, termos um espaço Angélica Scheffer da Motta Abrantes
de partilha de boas práticas, formação e de
Ensino Médio:
reflexão aberto aos educadores, educandos, Marcos Roberto de Paula
famílias e toda a sociedade. Matheus Seiji Bazaglia Kuroda
A concretização desta revista nos mostra
Administrativo:
também a riqueza e a competência de nossa Rogelio Núñez Partido
equipe de educadores sempre fazendo o melhor Paula da Costa e Silva Ramos Schubert
para cada um de nossos educandos e para a
Jornalista responsável
implementação de nosso projeto educativo. Todos
Juliana Heiffig Penteado (MTB: 63822/SP)
temos conhecimentos, experiências e vivências a
compartilhar. É um espaço que, mais do que Bibliotecária responsável
informarmos, queremos suscitar o crescimento Ana Clara Gatto (CRB - 8/10577)
profissional, desenvolver o pensamento crítico e
Revisão de texto
promover um diálogo e a partilha envolvendo
Ana Clara Gatto
profissionais e leitores. Flávia Gomes Gasparini
Unindo os princípios Marianistas e a sua tradição Isabelle Maturana de Lima
de mais de duzentos anos na arte de educar Juliana Heiffig Penteado
pessoas, acreditamos que o conhecimento,
Projeto gráfico
valores, cultura e a educação são as maiores Flávia Gomes Gasparini
riquezas da humanidade que podem contribuir de
maneira especial na construção de um mundo Diagramação
melhor para todos. Ana Clara Gatto
Flávia Gomes Gasparini
Juliana Heiffig Penteado
Um forte abraço e boa leitura!

Prof. Dr. Édio João Mariani


Diretor Geral
Colégio Chaminade Bauru
ÍNDICE
A poesia bate à porta _______________________________________________ p. 005
Bianca Regina dos Santos

Construir o futuro hoje: reflexões de um educador sonhador! _____________ p. 006


Édio João Mariani

Conhecendo a educação básica: relatos sobre a mudança de visão de uma mãe de


alunos da educação básica para a visão de uma mãe que passou a trabalhar em
um Colégio de educação básica ______________________________________ p. 021
Alessandra Rodrigues de Freitas Sanzovo

A identidade dos educadores do Colégio Chaminade ____________________ p. 026


Pedro Alexandre Pimenta; Estevão dos Santos Murback; Livia Soares Varjão; Sophia Lopes
Betting & João Paulo Fantin Carreira Bica

Community and civic engagement in catholic and Marianist education _____ p. 028
Irmão Ray Fitz

Envolvimento comunitário e cívico na educação católica e Marianista ______ p. 036


Fernanda Bergamini Oliveira

La oportunidad para una educación profética __________________________ p. 043


Gustavo Magdalena

A oportunidade para uma educação profética __________________________ p. 047


Gustavo Pollon Sá Freire

Biblioteca "Antoine de Saint-Exupéry" ________________________________ p. 051


Ana Clara Gatto

Games na educação e sua relação com os nativos e imigrantes digitais ____ p. 054
Clerison José de Spuza Bueno; Graziela Caldeira Bueno & Dariel de Carvalho

A robótica educacional como ferramenta no ensino de competências ______ p. 064


Renato Ramos

A Tecnologia aliada ao processo de ensino-aprendizagem _______________ p. 067


Giordano José Assirati

Teatro de objetos no Ensino Fundamental: da intimidade para a rede ______ p. 069


Rafael Resende Marques da Silva
Professor x educandos: aproximação por meio da prática musical durante a
pandemia ________________________________________________________ p. 072
Thiago Henrique Xavier Rodrigues

O que aprendemos com a pandemia: ensino híbrido ____________________ p. 081


Ediluci Santos Rocha; Mell Lopes Rezende Ferreira & Mirela Francelina Medeiros Telles

Ação - colaboração - inclusão _______________________________________ p. 099


Katia de Abreu Fonseca & Caroline Bastos Guedes

Trabalhando conceitos de geografia atrás de um jogo em uma proposta


inclusiva _________________________________________________________ p. 101
Kewlyn Carolinne Ferreira; Nathalia de Assis Silva e Pedro Ryo de Landim y Goya

A dimensão corporal e suas possibilidades no processo de ensino e


aprendizagem: um relato de vivência docente __________________________ p. 106
Maria Beatriz Campos de Lara Barbosa Marins Peixoto

A afetividade e a colaboração como fundamentos do processo educativo e criativo


docente __________________________________________________________ p. 113
Bruna Laselva Hamer

A transdisciplinaridade como estratégia na prática docente ______________ p. 123


Marcos Roberto de Paula

O mundo ao alcance das mãos: possibilidades e conexões entre ensino superior e


educação básica __________________________________________________ p. 129
Angélica Sheffer da Motta Abrantes

Gêneros do discurso: por uma concepção dialógica do ensino ___________ p. 138


Matheus Seiji Bazaglia Kuroda

Prestígio social é compreender o outro _______________________________ p. 150


Bianca Guedes Brosco; Enzo Hanawa Tanaka; Felipe Santos Barbagalo; Gabriel Felicio Tonello;
Laura Vendramini Paulovich Pittoli & Valentina Rafacho Escada

Marianistas pelo mundo! ____________________________________________ p. 152


A p o e s i a b a t e à p o r t a

Bianca Regina dos Santos

A poesia é a chave que abre porta


Não importa se ela é torta
Não importa qual sua cor
Talvez furta-cor?
A porta laranja
Cor de toranja
Traz alegria e vitalidade
É a mistura do vermelho e amarelo
Olha só, que beldade!
De cor encarnada,
Vermelho rubro
Observando eu descubro:
“Com o pincel consigo pintar minha mão!”*
Que energia, que diversão!
A roxa porta,
Beleza pura
Misturando o azul e vermelho
Nasce a pura púrpura
Pra finalizar
Cuja cor é escura, como a do carvão.
De cor semelhante ao piche
Ei, Henrique, capriche!
Sem banalizar,
Todas as cores vão explorar

*Vickenzo Paschoalotto Moura, 3 anos

Poema escrito por Bianca Regina dos Santos, professora da educação infantil do Colégio
Chaminade Bauru. Texto criado para a construção da mini história do mês de Março/2021.
Atividade proposta de pintura de portas de papelão no “Ateliê Brincar de quê?”, as crianças
experienciaram a mistura cores primárias para formar novas cores. Durante todo o mês de
Março/2021 o poema “A Porta”, de Vinicius de Moraes foi apreciado pela turma.

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CONSTRUIR O FUTURO HOJE:
Reflexões de um Educador sonhador!
Édio João Mariani¹

¹ Diretor-Geral - Colégio Chaminade, Bauru/SP.


edio.mariani@chaminade.com.br

A Esperança que tenho, em nós


educadores, me faz acreditar que
as sementes que espalhamos hoje,
hão de fazer florescer um futuro
melhor para todos!
1. INTRODUÇÃO o publicitário voltou a passar em frente ao cego
que pedia esmola. Seu chapéu agora estava
Existe um provérbio na cultura africana que cheio de notas e moedas. O cego reconheceu as
diz: “O amanhã pertence a quem se prepara pisadas do publicitário e perguntou-lhe se tinha
para ele!” Frente a isso, podemos nos sido ele quem reescrevera o cartaz, sobretudo
perguntar: que modelo de mundo queremos querendo saber o que ele havia escrito. O
para nós, para nossa família, nossos publicitário respondeu: "nada que não esteja de
educandos, nosso país e nosso planeta? Quais acordo com o seu anúncio, mas com outras
são nossas referências e princípios? O que palavras." E sorrindo continuou o seu caminho. O
devemos divulgar e trabalhar como educadores cego depois soube o que estava escrito, seu novo
e cidadãos? Como vamos fazer acontecer, cartaz dizia: "hoje é primavera em Paris e eu, não
tornar realidade para todos? posso vê-la."
Estas são perguntas importantes e Quantas vezes já nos deparamos com situações
necessárias para pensar o futuro que, nós, nas quais se poderia ter alterado algo, e com o
educadores sonhadores, sempre nos desanimo, com o "deixa pra lá" ou com o cansaço
atrevemos a responder e tentar implementar no não alteramos e guardamos para o outro dia.
dia a dia da nossa vida. Um começo é o que Guardamos para outro momento. Quantas vezes
nos aponta o educador italiano Loris Malaguzzi: nos deparamos com situações em que a
“a história pode ser mudada começando com o estratégia usada não é a mais correta para aquilo
destino das crianças!” Acredito muito nisso, a que se propõe e, não ousamos propor uma
dentro da responsabilidade de cada um de nós nova estratégia? Assim, por causa de atitudes
enquanto educadores em nossas casas e em anteriores, quantas oportunidades não perdemos
nossas escolas. ou quantas mudanças deixamos fugir?
Tenho certeza de que todos os educadores Transformar a realidade, querer um futuro melhor
que têm paixão por sua missão são para todos, começa hoje. Temos que ter clareza
sonhadores de um mundo melhor, atuando nas do que queremos e, dar hoje o primeiro passo. Se
comunidades educativas em que estão queremos mudar, fazer ou alterar algo, devemos
inseridos. Há alguns anos, o querido amigo fazer sem hesitar – às vezes o pensar muito deixa
Olinto me contou uma história de um autor fugir oportunidades. Devemos ter a iniciativa,
desconhecido, em que um cego estava depois a coragem e, por fim, o emprenho para
sentado em uma calçada em Paris (França) realizar.
com um chapéu a seus pés e um pedaço de Algumas vezes corremos o risco do imprevisto e
madeira escrito com giz branco: “Por favor, do improvisar, mas não podemos esquecer que a
ajude-me. Sou cego”. vida também é feita de imprevistos e nem sempre
Um publicitário da área da criação que sai como queremos e planejamos. Sempre é bom
passava em frente a ele parou e viu poucas mudar a estratégia quando nada acontece. É
moedas no chapéu. Sem pedir licença, pegou o preciso arriscar, alterar, experimentar novas
cartaz, o virou, pegou o giz e escreveu outro coisas, aprender algo novo. Acima de tudo, nunca
anúncio. Voltou a colocar o pedaço de madeira parar e nem estagnar. Mude, faça o seu melhor,
aos pés do cego e foi embora. Ao cair da tarde, viva em plenitude e atue coletivamente.

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Só assim podemos sonhar e criar um futuro
melhor para todos.
Sabemos que a Declaração Universal de
Há alguns anos estive em Lyon (França).
Direitos Humanos está estruturada em três
Caminhei pelas ruelas medievais do Vieux
níveis: primeiro o direito à vida, segundo os
Lyon, subi a montanha onde está o santuário
direitos sociais e, por fim, os direitos políticos
da Basílica de Notre-Dame de Fourvière de
(de participação). Estes são os pontos de
1170, conheci próximo dali um teatro romano,
partida para as reflexões desse texto sabendo
mas, o local que mais me chamou a atenção foi
que um futuro melhor e um mundo melhor para
a colina de Croix-Rousse, antigo bairro dos
todos parte da defesa desses direitos e desses
tecelões de seda que no século XIX se
princípios. Também passa por termos boas
organizaram por melhores condições de vida e
referências e escutarmos pessoas que
de trabalho. Este contexto fez parte da origem
realmente tenham credibilidade, que buscam
de movimentos humanistas em prol da vida e
um mundo melhor para todos em todas as suas
dos direitos humanos, que tiveram influência
dimensões, como o Papa Francisco.
para se concretizar a Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948.

Fonte: Arquivo pessoal


2. PELA VIDA como cidadãos. Jesus nos apresenta o ideal
evangélico em toda a sua radicalidade. É um
Para termos um bom futuro, temos um desafio modelo da ética do compromisso no cuidado da
diário de cuidar da vida no seu sentido pleno. vida, do viver em comunidade e num mundo
Este é o nosso ponto de partida e nossa base, mais justo para todos.
pois sem a vida nada mais acontece. A Sabemos que a melhor referência de futuro
pandemia veio confirmar esta necessidade: para a vida e da vivência de uma ética social, é
reconhecer seu valor e cuidar de cada ser, o que o Papa Francisco nos apresentou com a
especialmente, vendo a integralidade da encíclica “Laudato Si”. O futuro depende da
pessoa. É urgente o fortalecimento de valores implementação do conceito de "ecologia
como solidariedade, empatia, sustentabilidade, integral", que está na base desse documento e
bem comum, assim como, repensar o modelo que coloca em estreita relação o cuidado com o
de sociedade baseado no consumismo, no meio ambiente e a justiça social. Apresenta
individualismo e no lucro a qualquer custo. várias reflexões de caráter teológico-ético e
"Convido à esperança que nos fala de uma sociopolítico, as quais fornecem os
realidade que está enraizada no mais fundo do pressupostos para o início de uma verdadeira
ser humano, independentemente das transformação ecológica, cultural e social. O
circunstâncias concretas e dos Papa não deixa de desenvolver uma reflexão
condicionamentos históricos em que vive. Fala- fundamental sobre a relação entre o ser
nos de uma sede, de uma aspiração, de um humano e a natureza, onde o respeito pelo
anseio de plenitude, de vida bem-sucedida, de mundo natural e o compromisso transformador
querer agarrar o que é grande, o que enche o encontram o seu ponto de equilíbrio da nossa
coração e eleva o espírito para coisas grandes, “Casa Comum”, o nosso planeta com toda a
como a verdade, a bondade e a beleza, a vida que comporta que deve ser cuidada por
justiça e o amor. (…) A esperança é ousada, todos. Essa perspectiva, que conduz à
sabe olhar para além das comodidades superação tanto do reducionismo cultural, para
pessoais, das pequenas seguranças e o qual não há limites para a intervenção do ser
compensações que reduzem o horizonte, para humano na natureza, define precisamente o
se abrir aos grandes ideais que tornam a vida cuidado com a sustentabilidade, o sentido de a
mais bela e digna (Papa Francisco, Encíclica atividade humana e o projeto de sociedade ao
Fratelli Tutti, 2020)" qual é preciso dar vida. Tudo isso passa pelo
O Papa resume bem a importância da vida e modelo de pessoa que queremos educar e
a esperança que deposita nos seres humanos. implementar no contexto histórico e social que
Acreditar e cuidar da vida, acreditar e educar estamos vivendo.
os seres humanos para o compromisso firme Como educador marianista proponho e cito
de alcançar a sustentabilidade, a justiça, a paz como exemplo o nosso modelo de pessoa na
e a alegre celebração da vida. construção de um mundo melhor para todos, no
Sempre falamos que “as bem-aventuranças” cuidado com todo amor da vida. “Buscamos
no Sermão da Montanha, são o resumo que Pessoas: em harmonia, cuidando e
deve inspirar o nosso agir como pessoas e desenvolvendo seu próprio corpo; que cuidem

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e comprometam-se com o meio ambiente; que
cultivem sua vida interior; que vivem com
alegria; capazes de amar e de ser amadas; que
saibam concretizar suas opções e seu projeto
de vida; profissionalmente bem preparadas;
abertas e respeitosas a uma sociedade plural;
que saibam se situar diante da sociedade de
consumo, com espírito crítico e liberdade;
abertas a Deus; e solidárias e comprometidas assistência aos desamparados, na forma desta
com um mundo melhor para todos”(Proposta Constituição, e devem ser respeitados,
Pedagógica Colégio Chaminade – Bauru). protegidos e garantidos a todos pelo Estado.
O modelo de pessoa que queremos construir Seguindo essa linha de raciocínio, podemos
deve trazer como consequência uma nova entender o porquê desses direitos serem
sociedade em favor da vida. Sabemos que a chamados de ''Sociais'', o motivo é bem simples
consciência da importância de cuidar da vida é e reside no fato de eles não serem direitos de
um aprendizado que começa em cada família, classe individual, sua aplicabilidade é coletiva,
desde o momento em que se acolhe a notícia para toda a sociedade, sem distinção, com
de uma nova vida que está sendo gestada. normas aplicadas, para a sua eficácia, com
Além disso, deve ser trabalhada nas relações justiça e ética por parte das autoridades
familiares, em especial com os idosos, governamentais e, com a participação e
portadores de uma rica experiência humana e compromisso de todos os cidadãos.
espiritual. Nós educadores temos de assegurar É importante também repensar nos modelos
que as novas gerações, através do nosso econômicos e de sociedade que vivemos. O
testemunho e exemplo, que a vida deve ser Papa Francisco nos diz que existe uma estreita
cuidada e protegida, com toda a dignidade que ligação entre a deturpação do meio ambiente, o
ela merece. consumo imenso dos recursos naturais (muitos
dos quais não renováveis) e o crescimento das
3. DIREITOS PARA GARANTIR VIDA DIGNA desigualdades sociais exigem um compromisso
E O PAPEL DA EDUCAÇÃO com a promoção de um modelo de
desenvolvimento eco compatível e com
Tendo garantido a vida, precisamos ver de equidade, buscando a adoção de estilos de
que jeito ela vai acontecer. Não pode ser vida inspirados em critérios de sobriedade,
explorada e precária, agora vem a necessidade redução dos consumos e de reavaliação das
de garantir a dignidade em sua plenitude para relações inter-humanas e com a natureza,
todos e todas. cuidando da vida. O Papa propõe, que a
A Constituição Federal do Brasil expõe no art. economia deve ser uma expressão de “cuidado
6°, a garantia aos direitos sociais do ser que não sacrifica a dignidade humana aos
humano como a saúde, o trabalho, a moradia, ídolos das finanças, que não gera violência e
o lazer, a segurança, a previdência social, a desigualdade, que não usa o dinheiro para
proteção à maternidade e à infância, a dominar, mas para servir”.

10
Pensar o futuro e fazer o amanhã não pode
ser algo distanciado da nossa intencionalidade
diária, também não significa ficar só esperando
o amanhã, mas alguém que se prepara e faz o
futuro, junto com cada colega educador e com
cada educando e suas famílias.
Paulo Freire dizia que um educador cria e é
um fazedor, com seus educandos, não só copia
Enfim, um novo modelo de economia e o que lhe é passado. Claro que devemos
sociedade, fruto de uma cultura de comunhão, valorizar os conhecimentos que a humanidade
baseada na fraternidade e na equidade em que produziu, mas devemos partir da nossa
os direitos sociais devem ser garantidos a realidade e criar possibilidades e amanhãs
todos! Esses direitos devem ser considerados, melhores para os nossos educandos. Freire
previstos e implementados para garantir uma também nos ensina que devemos o futuro
vida digna a todas as pessoas e a natureza. como uma possibilidade real, mais humano,
Como educador, garantido e sendo claro isso, emancipado e transformador.
quero trazer alguns pontos de como deve ser a Vivemos tempos em que nossas avaliações
educação no futuro e qual o seu papel na educativas medem o produto e não o processo
construção de um mundo melhor. e o esforço realizado na trajetória vivida pelo
Sabemos que a Educação deve proporcionar educando, mediada pelo educador.
meios para que o mundo seja igualitário e justo Nesse mesmo sentido, a comunicação tende
com todos. Nesse sentido, as democracias a ser impessoal, só transmite e informa: “se
dependem de cidadãos que, entre outras esquece do seu rosto humano”, como nos diz
coisas, sejam: conscientes dos seus direitos e Moacir Gadotti. Precisamos fortalecer esse
responsabilidades; informados acerca dos rosto, das relações humanas, da realidade e
temas políticos e sociais; preocupados com o territorialidade que acontece, dos contextos
bem-estar dos outros, respeitando o coletivo; socioculturais, partir do diálogo da relação
coerentes nas suas opiniões e argumentos; empática entre as pessoas da comunidade
influentes através da sua ação efetiva com a educativa. Como sempre falamos, uma
transformação; ativos na vida da comunidade e educação que desenvolva todas as dimensões
sociedade; responsáveis na sua ação cívica e constitutivas da pessoa, seu projeto de vida,
no cuidado com a vida; respeito as diferenças que leva a uma realização pessoal e
culturais e individuais; e sendo pessoas comunitária. Como nos diz Gadotti, como
melhores e mais humanas. educadores e cidadãos conscientes: “não basta
Nós educadores, somos fazedores do futuro incluir, é preciso emancipar!”. Essa
por natureza, faz parte do nosso DNA, faz emancipação, para que aconteça, exige
parte da nossa missão como educadores poder liberdade, independência e sobretudo, justiça.
mediar e contribuir por uma educação integral Aí vem uma pergunta a mente: Como
de qualidade para cada um dos nossos devemos ser para educar? Acredito, como dizia
educandos. Gandhi, que devemos “educar pelo exemplo”,

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claro que o bom exemplo, baseado nos valores
humanos essenciais para vida uma vida em
sociedade em plenitude para todos. Devemos
partir do princípio de que devemos ser a
mudança que queremos ver no mundo. Aí,
seremos fazedores do futuro.
Para tanto devemos desenvolver projetos
educativos integrais que garantam, além de
conteúdo, habilidades e competências, valores
e garantir direitos, enfim, proporcionar vida
digna e em abundância a todos, inclusive a
nossa casa comum, nosso planeta. Garantir os
direitos expressos a Declaração Universal dos
Direitos Humanos é o ponto de partida de uma mudar o mundo.” Da mesma maneira, nos dá
educação humanizadora. Defender o direito à a missão e o desafio maior como educadores
vida, os direitos sociais e de participação do amanhã quando afirma: “Ninguém nasce
política são bases da nossa missão educativa. odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por
Buscamos a ética e a vida de todo ser humano, sua origem ou ainda por sua religião. Para
que cresça consciente, com autonomia, odiar, as pessoas precisam aprender, e se
liberdade, equidade e com compromisso podem aprender a odiar, podem ser ensinadas
coletivo por um mundo melhor para todos. a amar.”
Temos um compromisso diário de sermos O mundo e o educador de hoje precisam olhar
melhores educadores para fazer o melhor para com generosidade e aprender com o passado,
cada educando, conhecendo-o, escutando ter inovação, criatividade e espírito crítico, mas
seus desejos/sonhos, acolhendo sua pessoa ao mesmo tempo, enfrentar os riscos, desafios,
(com suas diferenças, dificuldades e dons) e, frustrações que nossa missão e trabalho nos
especialmente, amá-lo. Com certeza, se uma proporcionam, além é claro, as alegrias,
criança e adolescente se sente amada, ele descobertas e realizações que também
cresce, aprende, é feliz e ama os outros. recebemos.
Talvez um desafio essencial que temos que Um ponto de partida deve ser nosso
nos fazer, para sermos educadores do compromisso com o Pacto Educativo Global
amanhã, é escutarmos a criança que existe que o Papa Francisco lançou recentemente em
dentro de nós, e depois, escutar a que está a que busca implementar uma educação que
nossa frente. Propor e não impor, mediar e coloca a pessoa no centro; uma educação que
organizar o processo de aprendizagem, gere compromisso comunitário com diálogo e
partindo da vida dos educandos. paz, economia solidária e ecologia integral, pois
Nelson Mandela, nos deixou uma frase que se queremos e sonhamos com um mundo
mostra a importância da educação e dos seus melhor, temos que começar por nós mesmos, a
desafios hoje já que: “a educação é a arma base da educação que transforma e emancipa,
mais poderosa que você pode usar para somos nós educadores.

12
O desafio atual, apresentado pela nova BNCC, insustentabilidade do planeta.
é a implementação de uma nova educação, A educação deve responder as necessidades
para além dos conteúdos, desenvolvendo mais importantes e interiores da vida de todas
habilidades e competências necessárias para a as pessoas, onde vemos o outro como a nós
vida futura do educando. Nesse sentido, temos mesmos. Como nos dizia Paulo Freire: “é o
um desafio como educadores, para além de princípio dialógico como princípio da vida”. A
conteúdo, habilidades e competências, busca de uma pedagogia social, que busca a
acrescentar a educação para os valores e para síntese entre a pedagogia da essência e da
os direitos e deveres das pessoas. Uma existência. Como nos diz o Papa Francisco
educação com sentido, com intencionalidade, para o Pacto Global, é a “educação e a ideia da
que busca a integralidade do ser humano em aldeia global que cuida e educa”. Uma
um mundo mais justo para todos. educação humanista pensada para todas as
Um educador do amanhã deve ser ou pessoas do mundo, numa visão de outros
desenvolver características tais como: cuidado, mundos melhores possíveis. Como educadores
humildade, respeito as diversidades, ternura, do amanhã, temos esse direito e esse dever de
simplicidade, crítico, saber dialogar, lutar e construir, diante de uma realidade
propositivo, acolhedor, empático, escuta dolorosa e fatalista que temos hoje, que nega a
(pares, educandos, famílias e comunidade), utopia, a autonomia e o outro mundo possível.
mobilizador e transformador. É um educador Hoje em dia se fala muito em desenvolver
que além de ver e escutar, estimula a pergunta, habilidades socioemocionais, do aprendizado
dá a devolutiva aos educandos, interagindo de “soft e hard skills”, ou de outras expressões
com o meio ambiente em que estão inseridos. como “Human Skills e Digital Skills” para
Como nos diz Gadotti: “Não dá para saber o preparar os educandos para o futuro. Todos
que é ensinar, sem entender o que é esses conceitos e habilidades, já estão
aprender!” Partimos de um respeito a todos os incluídos no projeto educativo do Colégio
envolvidos e ao processo elaborado e Chaminade, que busca a educação integral de
assumido coletivamente. Enfim, como cada educando, acolhendo cada um deles.
educadores do amanhã, somos imprescindíveis Buscamos proporcionar acompanhamento,
para que haja um futuro melhor. disciplinas inovadoras, metodologias ativas,
Como nos diz Leonardo Boff: “devemos buscar experiências práticas e aprendizagens
um novo paradigma, a volta à Terra como significativas que garanta que cada educando
pátria comum”. Esse é um desafio urgente para se realize, fazendo diferença para um mundo
nós educadores, na busca de uma vida mais melhor.
sustentável e plena para todos, inclusive e Defendemos uma educação de qualidade a
principalmente, para o próprio meio ambiente. todos os cidadãos, que devem partir de ações
Paulo Freire também considerava a “terra concretas tais como: Gratidão, pois a gratidão
como oprimida” que precisa ser cuidada e é o primeiro passo para que a bondade e a
libertada para um equilíbrio dinâmico e compaixão fluam naturalmente;
sustentável para o “bem viver de todos”, Solidariedade, pois ela transforma o mundo, o
mudando o sistema que gera essa torna mais digno e nos engaja no compromisso

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social; Educar a mente e o coração, é cultivar a
bondade, fazendo-a crescer com empatia,
respeito e amor a si e ao próximo; O esforço e
a colaboração, deixando os educandos
viverem a cooperação, o coletivo e ensiná-los
que todo esforço tem sua recompensa pessoal
e coletivamente; Mente aberta, ensinar-lhes os
valores morais e cultivar seus conhecimentos é
colocar o mundo ao seu alcance, cultivando no
seu coração a bondade, a compaixão e a
empatia; Respeito as diferenças, trabalhar a
sensibilidade com a vida, valorizando as
diferenças, esse é o ponto de partida de um
mundo mais justo e fraterno para todos.
4. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA que conversávamos sobre três tipos básicos de
participação política: primeiro, a “participação
O Papa Francisco nos diz que a Política deve como escuta” , ou seja, há debate, mas isso
ter uma visão ampla para que a economia seja não se transforma em deliberação, no máximo
integrada em um projeto político, social, cultural se constitui como uma “escuta” e respeito para
e popular que tenda ao bem comum. Dizemos a pluralidade; segundo, a “participação como
também que a cidadania é a expressão deliberação”, que se traduz na forte expectativa
concreta do exercício da democracia. Exercer a dos movimentos sociais de atuarem dentro do
cidadania plena é ter direitos civis, políticos e Estado ou com ele, discutindo e decidindo
sociais. Já ser cidadão é ter direito à vida, à sobre políticas públicas; e a terceira, a
liberdade, à propriedade, à igualdade perante a “participação como emancipação” é a ênfase
lei: ter direitos civis. É também participar no na participação como educação para a
destino da sociedade, votar, ser votado, ter cidadania, ativa e expressa em ações visando
direitos políticos. Os direitos civis e políticos à transformação social.
não asseguram a democracia sem os direitos Como diz o filósofo e educador Mario Sérgio
sociais, aqueles que garantem a participação Cortella: “a política e cidadania significam a
do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à mesma coisa”, e isso se descobre na prática,
educação, ao trabalho justo, à saúde, a vida participando de forma ativa na gestão pública,
digna aos idosos. seja como cidadão ou ativista da causa que
Buscamos uma democracia participativa, em você defende. Temos oportunidades para isso
que não dependemos só dos nossos nas associações de bairro, em fóruns
representantes eleitos a nível municipal, municipais e em audiências públicas, por
estadual ou federal, mas que utilizemos exemplo, ou em comitês, comissões e
mecanismos e formas que proporcionam ao conselhos da cidade, representando ONG’s ou
povo um engajamento nas questões políticas, movimentos socioambientais. Tudo isso,
legitimando questões de relevância para a podemos chamar de “gestão pública
comunidade e sociedade e através de uma participativa”, ou seja, a administração do
participação direta. Isso pode se dar através de bairro, da cidade e até do país, feita com a
plebiscito, referendo, iniciativa popular, colaboração de nós cidadãos.
audiência pública, orçamento participativo, O engajamento e participação política vai
conselhos populares, consultas ou por qualquer além das obrigações eleitorais de dois em dois
outra forma que manifeste a opinião e as anos, devemos buscar: monitorar leis
necessidades da população. Além disso, é propostas por políticos eleitos; buscar o
importante que se monitorem as atividades da engajamento político participando das
administração pública e buscar que se tornem discussões sobre projetos de lei; promover
mais acessíveis e efetivos. Sabemos, que sem discussões críticas em seu dia a dia na escola,
a participação social de todos os cidadãos, família e comunidade. Informe-se, leia e assista
respeito à diversidade e diálogo fraterno, não a reportagens sobre o tema; abra sua mente
há democracia. para ouvir (e compreender) opiniões diferentes
Na época em que fiz Ciências Socias, lembro da sua; tome cuidado com as redes sociais e

15 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


“fake News”; tenha consciência crítica; foque Essa é a dinâmica da fraternidade, de sermos
em causas que mais despertam sua atenção e realmente humanos e dos valores evangélicos
busque ações individuais e coletivas na busca vividos na busca de uma nova realidade. É
do bem comum e dos mais necessitados. uma política participativa e democrática que
Como nos aponta o Papa Francisco, diante da ouve, acolhe e dá voz a todos, que respeita e
realidade atual, “a melhor maneira de dominar valoriza as diferenças de pessoas e culturais,
e avançar sem entraves é semear o desânimo que busca a união de todos os cidadãos,
e despertar uma desconfiança constante, movimentos populares e forças progressistas
mesmo disfarçada por detrás da defesa de que lutam por mais justiça social, pelo
alguns valores. Usa-se hoje, em muitos países, aprofundamento da democracia e pelo
o mecanismo político de exasperar, exacerbar fortalecimento das políticas sociais do Estado.
e polarizar. Com várias modalidades, nega-se a
outros o direito de existir e pensar e, para isso,
recorre-se à estratégia de ridicularizá-los,
insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não
se acolhe a sua parte da verdade, os seus
valores e, assim, a sociedade se empobrece e
acaba reduzida à prepotência do mais forte. A
política deixou de ser um debate saudável
sobre projetos a longo prazo para o
desenvolvimento de todos e o bem comum,
limitando-se a receitas efêmeras de marketing,
cujo recurso mais eficaz está na destruição do
outro. Neste mesquinho jogo de
desqualificações, o debate é manipulado para
ser mantido no estado de controvérsia e
contraposição” (Fratelli Tutti, 2020).
O Papa mesmo nos aponta o diálogo social
autêntico, como solução para construir uma
verdadeira participação política em que se
pressupõe a capacidade de respeitar o ponto
de vista do outro, aceitando como possível que
contenha convicções ou interesses legítimos
coletivos para todos.
O encontro e o diálogo tornam-se assim uma
“cultura do encontro”, onde todos os cidadãos
se encontram e se envolvem, buscando
construir juntos o que for significativo e
necessário na busca do bem comum.
5. SONHO E ESPERANÇA DO FUTURO um espaço privilegiado para essa busca e
implementação, pois é uma das instituições
Existe uma frase de Hermes Trimegisto que mais importantes criadas pela humanidade.
diz: “se você muda, tudo muda!” Está em Um sonho e desafio para o nosso futuro é
nossas mãos as expectativas e o tipo de busca construir e implementar uma economia
relação que estabelecemos com o mundo, com circular: um modelo econômico mais
as pessoas e com o meio ambiente. Isso acaba sustentável que visa valorizar o processo
definindo em grande parte como será nossa produtivo que contempla os 4R: redução,
vida, quem somos e quem seremos. Falamos reutilização, recuperação e reciclagem de
que em um nível inconsciente nossa mente materiais, desde a sua concepção até o
guia nossos atos para permitir que aquilo em descarte. Também são importantes a criação
que acreditamos possa se tornar realidade. Se de programas de renda básica e/ou como
sonhamos e queremos uma educação de existem em alguns outros países, o PEP
qualidade para todos e um mundo mais justo, (programa de empregos públicos) para épocas
comecemos a transformação e as mudanças de recessão e crises, hortas comunitárias e
por nós. Vamos juntos construir uma agricultura urbana, projetos de não desperdício
solidariedade ativa global, partindo da de alimentos, reavivar espaços de convivência
generosidade e compromisso local, em uma urbanos, favorecer as energias limpas, ações
postura de sempre querer aprender. Como nos sustentáveis em nossas casas, entre outras
diz Herbert Gerjuoy, “os analfabetos do século possibilidades de ações e de políticas públicas
XXI não serão aqueles que não saibam ler e ambientais.
escrever, mas, sim, aqueles que não saibam Precisamos de uma economia política que
aprender, desaprender e reaprender.” respeite a capacidade do nosso planeta.
Prezados educadores, temos muitos desafios Vivemos a necessidade do despertar para uma
pela frente, como fez Paulo Freire, devemos nova consciência: a de que precisamos ser
nos renovar e renovar constantemente as construtores do bem comum e de seres
pedagogias. A eterna busca por um ser planetários, buscando a transição das ordens
humano, realmente humano, mais feliz, mais sociais baseadas na exploração para as que se
sustentável, que produz o bem, que pensa apoiem na mutualidade generativa, na
coletivamente e comunitariamente, que cuida e (re)imaginação de quem somos e na vida
gera vida. A educação sempre foi (ou deveria sustentável.
ser) impregnada pela utopia e pela ideia de que A Agenda 2030 da Organização das Nações
o mundo pode e deve ser melhor para todos. Unidas, e seus 17 objetivos do
Os avanços científicos e tecnológicos Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de
acontecem, mas na área do cuidado humano Paris para o controle dos impactos das
ainda somos muito insuficientes. Um educador mudanças climáticas, são propostas e desafios
do amanhã começa hoje a pensar e agir uma que devemos assumir no nosso dia a dia. Suas
nova forma de sociedade possível, um outro estratégias se concentram no cuidado e
mundo possível. A busca incessante de uma melhoria de sete áreas: saúde e segurança;
cidadania global nesse sentido é a escola como resultados financeiros e econômicos;

17 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


eliminação de resíduos de plástico; combate às transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem
mudanças climáticas; ecoeficiência um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar
operacional; responsabilidade social e direitos toda possibilidade que tenha para não apenas
humanos e inovação sustentável. São desafios falar de minha utopia, mas participar de
possíveis que cada pessoa pode implementar práticas a ela coerentes. Ai daqueles que
nas casas e no ambiente de trabalho. pararem com sua capacidade de sonhar, de
O futuro que começa agora exige muita invejar sua coragem de anunciar e denunciar.
dedicação, criatividade na vivência da Ai daqueles que, em lugar de visitar de vez em
fraternidade e do amor, criando realidades no quando o amanhã pelo profundo engajamento
presente, para garantir um futuro melhor. Como com o hoje, com o aqui e o agora, se atrelarem
nos diz o Papa Francisco: “uma fraternidade a um passado de exploração e de rotina”
aberta, que permite reconhecer, valorizar e (Paulo Freire). Vivemos tempos que exigem de
amar todas as pessoas independentemente da nós compromisso e disposição para engajar-se
sua proximidade física, do ponto da terra onde num processo novo e alternativo de realização
cada uma nasceu ou habita” (Fratelli Tutti, da solidariedade ativa em nome da dignidade
2020). Um amor que acolhe, que cuida e que nos faz humanos.
valoriza as diferenças e garante a vida digna Serão tempos de ter claros a necessidade de
para todos. uma sociedade de diretos básicos garantidos.
“Se, na verdade, não estou no mundo para Esta é a base de uma sociedade melhor. Para
simplesmente a ele me adaptar, mas para que isso aconteça, temos que ter a capacidade
de resiliência, de se recuperar de situações de
crise e aprender com ela, tendo a mente aberta
e flexível, a consciência crítica e pensamentos
sua vida na cruz e Deus ressuscita ao terceiro
otimistas, com metas/ações claras, a certeza
dia.
de que tudo passa... e o sonho que é possível
Precisamos desenvolver uma dimensão
um mundo mais justo para todos.
espiritual da vida. Na sociedade e cultura
Com certeza os valores humanos e cristãos e
cultiva-se excessivamente os valores materiais
uma educação integral de qualidade serão
em vista do consumo humano. Devemos
indispensáveis e necessários. Ter uma vida de
buscar e desenvolver mais o que é
compartilhamento, de respeito a diversidade e
especificamente humano: a nossa dimensão
lideranças equilibradas com maturidade
espiritual, feita de valores essenciais como o
humana! E todos nós devemos ter esperança e
amor incondicional, a solidariedade, a
coragem para fazer o que precisa ser feito!
compaixão, a capacidade de perdão e
Como cristãos, a exemplo da Samaritana,
reconciliação, a abertura ao sagrado da
vemos a esperança como “água viva”, que nos
natureza, e o encontro pessoal e coletivo com
permite continuar o nosso caminho. No
Deus.
contexto de preocupação em que vivemos
Penso que a pandemia do Covid-19 e o
atualmente, onde tudo parece frágil e incerto,
isolamento social são oportunidades que a vida
falar de esperança poderia parecer uma
nos deu para rever nossa vida e nossas
provocação. Precisamos ter esperança, para
posturas sociais, para pensarmos sobre a
voltar a dirigir o nosso olhar para a paciência
nossa responsabilidade coletiva e sobre o tipo
de Deus, que continua a cuidar da sua Criação
de planeta que queremos construir e habitar
e nos pede viver em fraternidade. Precisamos
tendo a natureza incluída.
dizer e praticar palavras de incentivo, que
Nós brasileiros ficamos felizes quando o Papa
reconfortam, consolam, fortalecem, estimulam
Francisco, na encíclica ‘‘Fratelli Tutti’’, cita
e acolhem, possibilitando espaços de escuta
Vinicius de Moraes: “a vida é a arte do
no meio de tanta indiferença da sociedade. No
encontro, embora haja tanto desencontro na
recolhimento, na nossa interioridade e oração
vida”. Ele ainda acrescentou: “já várias vezes
silenciosa, a esperança é como uma inspiração
convidei a fazer crescer uma cultura do
e luz interior, que ilumina desafios e opções da
encontro que supere as dialéticas que colocam
nossa missão, por isso mesmo, é fundamental
um contra o outro”. Seguindo um outro caminho
recolher-se e encontrar-se, no segredo, o Pai
sugere o horizonte de consensos sendo que o
da ternura.
principal esteja na possibilidade de “uma nova
Viver com esperança significa sentir que, em
reconhecer o outro, a necessidade de
Jesus Cristo, somos testemunhas do tempo
recuperar a amabilidade como processo de
novo em que Deus renova todas as coisas (cf.
libertação.”
Ap 21, 1-6), “sempre dispostos a dar a razão
da nossa esperança a todo aquele que nos
peça” (1 Ped 3, 15): a razão é Cristo, que dá a

19 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Como educadores e cidadãos devemos buscar
uma educação emancipadora, com esperança, “Depois de tudo ficaram três coisas: a certeza
justiça e vida. Só assim podemos garantir a de estamos sempre a começa, a certeza de
existência de um futuro pleno para todos. que é preciso continuar e a certeza de que
Como escola Marianista, buscamos a podemos ser interrompidos antes de terminar.
implementação de uma educação integral de Por isso devemos: fazer da interrupção um
qualidade nas dimensões intelectual, corporal, caminho novo; da queda, um passo de dança;
espiritual, emocional e sociocultural. Sabemos do medo, uma escada; do sonho, uma ponte;
que para mudar o mundo devemos partir da da procura, um encontro.”
mudança das pessoas e de nós mesmos. Ser (Fernando Pessoa)
educador é ser o hoje e é ser o futuro em uma
construção contínua de autonomia e cidadania, E para você, o que devemos fazer hoje para
baseada nos valores da vida. ter um futuro melhor? Compartilhe com a gente!
Essa é a missão dos educadores do hoje e do
amanhã. Já dizia Paulo Freire: “a educação
não transforma o mundo. Educação muda as
pessoas. Pessoas transformam o mundo.” Indo
além, “gosto de ser gente, porque sei que
minha passagem pelo mundo não é
predeterminada e preestabelecida. Que meu
‘destino’ não é dado, mas algo que precisa ser
feito e de cuja responsabilidade não posso me
eximir. Gosto de ser gente porque a história
em que me faço com os outros e de cuja
feitura tomo parte é um tempo de
possibilidades, e não de determinismo!” (Livro
Pedagogia da Autonomia).
Vamos começar? Partimos do princípio de que
mais que ensinar e aprender para sermos
felizes, temos que pensar no coletivo. Vamos
construir novas realidades nas nossas casas,
no nosso trabalho, na comunidade em que
estamos inseridos e vamos realizar nosso
sonho maior de ter um mundo mais justo e
fraterno para todos! Isso sim é o futuro que
queremos e que devemos começar a construir
hoje!

20
Conhecendo a
educação básica:
relatos sobre a mudança de
visão de uma mãe de alunos
da educação básica para a
visão de uma mãe que passou
a trabalhar em um Colégio de
educação básica
Alessandra Rodrigues de Freitas Sanzovo¹

¹ Mãe de dois, Lucas e Vitor


Advogada – Formada pela ITE/Bauru
Pós-graduada em Gestão Empresarial – pela ITE/Bauru
Pós-graduanda em Gestão Escolar – pela USP/Esalq
Palestrante sobre as temáticas de Bullying
Secretária Escolar do Colégio Chaminade de Bauru
alessandra.sanzovo@chaminade.com.br

Fonte: Arquivo pessoal


Antes de ser mãe, sempre dizia que educação que elegemos como “escola ideal”, saberemos
seria uma prioridade para meus filhos e que eu lidar melhor no dia a dia e suprir o que
faria de tudo para que eles tivessem acesso ao pudermos.
que eu não havia tido, e que seria uma mãe Sempre que não concordava com algo na
muito participativa e presente na rotina da vida escola dos meus filhos, lá estava eu, sempre
escolar deles. com uma postura sugestiva e participativa,
Fato! Tudo isso continua sendo muito tentando mudar o cenário que não me
verdadeiro para mim e acontece em nossa agradava. Na mesma proporção, sempre que
rotina. Tento dar a eles acesso e percepção de via algo muito bacana e que havia surtido efeito
coisas que não tive, me envolvo na rotina muito positivo, também estava lá elogiando e
escolar e continuo acreditando que a educação propondo a manutenção das condutas.
deve ser prioridade em suas vidas. E foi assim que vivi e convivi nos 10 primeiros
Porém, quando não tinha filhos era muito anos escolares de meu primogênito e nos 7
comum pensar e julgar a educação escolar anos escolares do meu caçula: equilibrando o
como algo que devia ser perfeito, que atingisse que a escola oferecia, com o que eu supria em
todos os níveis de satisfação e que era total casa, com nossas participações e
dever da escola em “dar conta” desta envolvimentos em tudo o que era possível.
estratégia, sem necessidade dos pais se No entanto, essa visão de mãe mudou
envolverem no processo pedagógico. drasticamente quando comecei a trabalhar num
Depois da maternidade, percebi que a Colégio de Educação Básica e, dia a dia,
realidade é bem diferente do mundo ideal, passei a conhecer o “lado B” da educação e
perfeito e até “de conto de fadas” que eu tudo o que envolve este processo tão intenso.
imaginava. A realidade, por vezes, é cruel, pois Não bastasse conhecer os preparativos, a
meu “mundo encantado perfeito” caiu por terra organização e os inúmeros olhares atentos que
quando me deparei com a necessidade de uma é preciso ter a tudo, tanto nos processos
parceria constante com a escola no processo administrativos como nas coordenações
educativo de meus filhos. pedagógicas, também vi o quão puxado é a
É natural, quando procuramos uma escola rotina dos colaboradores deste universo tão
para nossos filhos, tentar encontrar um modelo instigante quanto denso.
que atenda não só as necessidades Em meio a tudo isso veio a pandemia do
econômicas, mas também o encontro de COVID-19 e deixou tudo, o que para mim já era
ideologias pedagógicas, morais e sociais que novo e surpreendente, ainda mais desafiador.
estejam mais próximos da nossa criação e Tudo o que estava pronto precisou ser
daquilo que acreditamos ser o melhor para reinventado. O que já havia sido pensado
nossos filhos. precisou ser repensado. Tudo que era,
Natural não encontrarmos tudo o que precisou passar a ser, ser novo de novo.
desejamos num só lugar, afinal, perfeição não Tivemos que aceitar, e nos adaptar, a uma
existe! Diante disso, é preciso eleger quais educação remota, algo que para nós na
qualidades e benefícios vamos priorizar e quais educação básica parecia tão impossível, até
as “deficiências” daquela escola, diante daquilo porque, num primeiro momento, essa foi nossa

22
única opção.
Envolvida neste processo, já não conseguia mais
ser a mãe que eu era. Sabia que, naquele
momento, a mãe parceira da escola que eu via
em mim, de nada sabia da vida e rotina de uma
escola.
A dedicação é tanta, o olhar de amor, o foco e
dedicação são sempre tão presentes, que é indicado que não aconteça como queremos,
impossível que eu continue tendo a mesma visão, explico: a educação que desejamos para
a mesma percepção e ainda faça as mesmas nossos filhos, sem conhecer o meio que estão
críticas, ainda que construtivas, que eu fazia. inseridos, as pessoas que socializam com eles
A verdade é que depois que a gente conhece o e as necessidades que cada aluno tem, nem
“lado B” da educação, depois que vemos do outro sempre é praticável. A educação perfeita e
lado, passamos a achar a educação ainda mais “redonda” que queremos forçar a acontecer só
importante, mas sabemos que é humanamente seria possível se todos os alunos fossem
impossível que tudo aconteça exatamente como iguais, como robôs e colocados na mesma
nós pais desejamos. Até porque, às vezes é caixa de passos, falas, percepções,
necessariamente desejável e pedagogicamente sentimentos e necessidades.

Fonte: Arquivo pessoal


Uma vez ouvi de uma professora do meu filho É claro que continuo atenta, participo, dou
que na escola as crianças são de um jeito e em sugestões de coisas que acredito que podem ser
casa são de outro jeito, e que nunca podemos melhores. Mas, desde então, sempre haverá o
subestimar que nossos filhos podem ou não ter outro olhar. Agora há um de compreensão,
tido alguma atitude. Num primeiro momento empatia, um olhar de “eu sei que talvez não dê
fiquei chateada com essa fala, pois parecia que para conciliar tudo e fazer isso, mas seria incrível
meu filho se transformava quando chegava na se pudesse”. Quando não acontece o “mundo
escola (hoje sei que é exatamente isso que ideal” que eu gostaria, eu sei que o ideal para
acontece). Ao ter o segundo filho, vi que meus filhos deve estar acontecendo de acordo
realmente isso é muito possível e acontece, com o contexto escolar que estão inseridos.
sim. Um filho sozinho é uma criança, o mesmo Neste contexto, meu envolvimento foi tanto que
filho com o irmão, é outra. Imagina essa decidi estudar o universo escolar e entender
mesma criança inserida no contexto escolar, ainda mais não só o cenário que eu estava
com várias outras crianças, com várias outras envolvida, mas principalmente, tudo o que
atitudes, com vários tipos de educação e cercava a vida e rotina dos meus filhos.
costumes? É lógico que seu comportamento Comecei a cursar uma pós-graduação em
muda. Mas isso não quer dizer que mude para Gestão Escolar e foi aí que, mais uma vez, minha
pior (não precisamos ver e aceitar isso só com visão mudou, minhas percepções se atualizaram
conotação negativa), só quer dizer que muda, e minha empatia aumentou ainda mais. Conhecer
quer dizer que lá é seu lugar de fala e o porquê dos porquês num ambiente escolar nos
construção do seu “eu individual”, sem os faz entender que nem todas as configurações são
direcionamentos de pai e mãe o tempo todo. possíveis, nem tudo o que os pais querem que
Com essa reflexão, impossível ser a mesma seja feito é viável e nem tudo o que idealizam
mãe e manter os posicionamentos e para os filhos será realmente bom para eles.
argumentos que eu tinha. Toda essa compreensão não fez de mim uma
“mãe banana” que aceita tudo e nada mais exige
da escola dos filhos, pelo contrário, agora é
possível compreender realmente o que importa
ser exigido e o que, por vezes, era só um
“capricho”.
As gerações mudaram, o cenário educativo
mudou, e diante disso a educação também
precisa mudar, também precisa evoluir e
acompanhar as gerações que mudam e evoluem
constantemente.
Aquele cenário escolar que minha geração
vivenciou nos anos 80 com carteiras
enfileiradas, professor à frente empoderado e
ditando regras e conceitos, não se encaixa na

24
geração atual, não se aplica para esta que Para me atualizar ao novo modelo de educação
necessita de atividades diversificadas, que para meus filhos de 13 e 10 anos, vejo que sou
necessita de novas formas de ensinar e que uma mãe em desconstrução. Constantemente é
não aceita o “porque sim” como resposta. preciso que eu abandone não só o modelo de
Essa mudança talvez seja a mais difícil para educação que tive em casa, mas principalmente
nós pais aceitarmos, porque achamos que a meu modelo de educação escolar, para que eu
educação ideal, por vezes, é a educação que entenda as reais necessidades de meus filhos
tivemos com necessidade apenas de alguns fazendo parte desta geração que têm sede de
pequenos ajustes de melhorias. viver na mesma proporção que têm sede de
Como entendermos que talvez nossos filhos conhecimento.
não precisem escrever tanto e mesmo assim Sobretudo, é preciso que eu me desconstrua e
aprender muito? Como aceitar que não aprenda tudo novamente.
precisam ficar o tempo todo em sala de aula e Quem dera se todos os pais pudessem viver um
mesmo assim ter muito conteúdo? Como pouquinho o ambiente escolar como vivo e ter a
acreditar que é possível brincar e mesmo possibilidade dessa “mudança de chave” que eu
assim estar aprendendo e ressignificando tive. Quem dera todos pudessem ter um olhar de
tantas teorias? amor às necessidades do colega de turma de seu
Sim, tudo isso é possível! filho assim que como têm com as necessidades,
Essa é a evolução da educação, e esse deve nem sempre tão necessárias, de seus filhos.
ser o caminho da evolução da nossa Quem dera todos pudessem se sensibilizar com
compreensão das novas formas de aprender e uma obra de arte criada pelo filho tanto quanto
conviver no ambiente escolar de nossos filhos. vibram com uma nota 10,0 de matemática.
Esse é o modelo que atende todas as Quem dera!
necessidades desta nova geração.
É imprescindível compreender que o mundo
atual vai exigir deles muito mais que “português
e matemática”, é preciso aceitar que também
precisarão entender de artes e saber desde
cedo a cuidar do seu corpo. É necessário
ensiná-los a socializar, respeitando o espaço
do outro e sabendo exigir o respeito ao seu
espaço. É indispensável que saibam línguas,
mas que também saibam a linguagem do amor,
do respeito humano e da espiritualidade.
Hoje a escola pode, e deve, ser e ter todo este
contexto. A geração de hoje não se contenta
com uma educação de uma “matriz curricular
quadrada” que não os deixa pensar e não os
instiga conceber novas possibilidades.

25

Fonte: Arquivo pessoal


A identidade dos
educadores do
Colégio Chaminade
Pedro Alexandre Pimenta*
Estevão dos Santos Murback*
Lívia Soares Varjão*
Sophia Lopes Betting**
João Paulo Fantin Carreira Bica*

* Educandos Fundamental I (8º A) - Colégio Chaminade, Bauru/SP


** Educanda Fundamental I (8º C) - Colégio Chaminade, Bauru/SP

Fonte: Juliana H. Penteado


O corpo docente do Ensino Fundamental II é
composto por educadores sempre dispostos a
incentivar e a ajudar os educandos. Todos são
excelentes ouvintes, conselheiros e explicam a
matéria de maneira esclarecedora e criativa,
O colégio Chaminade tem origem espanhola assim fica mais fácil construir conceitos e
e foi fundado por Guilherme José Chaminade, aplicá-los no cotidiano e na vida. O Chaminade
um ativista perseguido durante a Revolução abrange todos os tipos de formações e os
Francesa. A instituição interage diretamente educadores são semeadores de respeito, de
com outras escolas, distribuídas em mais 35 generosidade e de acolhimento as
países. No Brasil, há apenas um colégio, especificidades de cada adolescente.
localizado em Bauru, onde se consolida uma A cultura Marianista tem como característica
comunidade Marianista à moda brasileira, entre estar sempre “de braços abertos” a toda
padres, irmãos, famílias, educadores e comunidade, por isso, educandos e educandas
educandos. sentem-se como se estivessem em suas
A metodologia vivenciada durante as aulas é próprias casas, uma vez que estudar em um
ativa: o educando participa efetivamente da colégio-morada integra a todos em uma só
elaboração dos conceitos tão importantes às família, a qual acredita que os mais velhos
formações social, histórica, cultural e devam ajudar os mais novos como forma de
principalmente humana. O sistema de contribuir no desenvolvimento de
avaliação é paralelo as escolas convencionais, corresponsabilidade e de empatia em prol da
pois apresenta critérios e habilidades a serem valorização de civilidade, fraternidade, e acima
adquiridas diariamente durante os trimestres do de tudo, de amor.
ano letivo. Os educadores valorizam e Por fim, a comunidade Chaminade preza pelo
incentivam a autonomia, a formação de caráter desenvolvimento integral daqueles que se
e a socialização dos educandos, promovendo abrigam em “nossa morada”, pois todos que
assim o respeito mútuo ao que é singular e trabalham e que estudam na instituição são
diverso. reconhecidos simultaneamente como
educadores e aprendizes nas mais
diversificadas situações de ensino e de
aprendizagem, afinal, parafraseando Cora
Coralina, “feliz é aquele que transfere o que
sabe e aprende o que ensina”.

27 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Community and Civic
Engagement in Catholic
and Marianist Education
Bro. Ray Fitz, SM¹

¹ President Emeritus and Professor of Social Change in the University of Dayton


INTRODUCTION DEFINITIONS OF KEY TERMS

Fr. Chaminade’s wisdom includes the directive Human flourishing:


and invitation that “new times call for new Living in accord with what is intrinsically
methods.” This is perhaps demonstrated most worthwhile to humans - having purpose,
clearly and tangibly in the work of community meaningful relationships with people and the
and civic engagement, which by its nature Earth, good health and wellbeing, and the
searches for responses to the signs of the ability to equitably contribute to the community
times, evaluates and engages with the needs of – and having human life, dignity, and rights
the community in which one finds oneself, and protected.
pushes us to consider the effects of our actions
and decisions on our global community. Common good:
The common good “indicates the sum total of
THE CATHOLICAND MARIANISTAPPROACH social conditions which allow for human
TO COMMUNITY AND CIVICENGAGEMENT flourishing of all the persons and groups within
that social system.” The common good requires
Our Catholic social and intellectual traditions that our well-being be realized in a setting in
and the Marianist Charism and educational which others can also flourish - the “good” is
values offer guidance for our understanding of something we can only have together when
1. why community and civic engagement is each person’s full dignity as a whole person is
essential at our institutions, respected. This means that the human cannot
2. the uniqueness of our approach to find fulfillment of the good apart from others,
community and civic engagement, but has a deeper meaning than just
3. how communities can be enhanced by “living/being” with others at various levels of
those who are educated at our institutions, social life. Each person has the responsibility to
and seek the good (meaning and truth) and
4. the important elements of learning for contribute to the common good so human life
community and civic engagement at our can flourish. No realization of the common good
schools and Universities. can write off persons or groups as unworthy of
As we explore our identity, values, and our interest. The common good exists within
tradition below, we note that key qualities each social system, such as families, work
distinguish our Catholic and Marianist settings, neighborhoods, cities, nations, world,
approach: right relationships, place-based and etc., and all of these social systems should be
assets-based perspectives, human dignity, and organized in a way to realize the common good
solidarity. These are integrated into how and (based on the Compendium of the Social
why we educate, and our purpose for the world. Doctrine of the Catholic Church).

29 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


THE CATHOLIC SOCIAL TRADITION AND
CIVIC ENGAGEMENT

The Catholic social tradition can be viewed


as having two complementary dimensions:

1) As a practice, the Catholic social tradition


can be seen as the on-going social inquiry by
the Catholic community, in dialogue with others,
on important social questions, such as the
conditions of labor, international relations, or
war and peace. In conducting each phase of its
social inquiry the Catholic community engages
in a critical and reciprocal dialogue between the
best of the contemporary knowledge on the
social question and the resources of the
Catholic Christian faith. In this dialogue the
contemporary knowledge enriches our
understanding of the resources of the Catholic
Christian faith (scripture and tradition) and
raises important questions to be addressed. In
the same manner, the resources of Catholic
Christian faith both enriches our understanding
of contemporary knowledge and raises
important questions to be addressed in the use
of this knowledge.

2) Over time this practice of social inquiry yields


a set of themes or practical knowledge, i.e.
principles for reflection, criteria for judgment,
and directions for action that can guide social
inquiry on current and future social questions.
These themes are expanded, refined, and
critiqued as participants in the tradition apply
social inquiry to new situations and
understandings of previous situations.
The Catholic social tradition (CST) themes
can provide helpful guidelines, good questions,
and a rich resource for enhancing the process
of learning for, through, and with community
and civic engagement. CST influences our
schools and universities’ community and civic
engagement practices by:
insight on how our students and faculty can
1. Learning for community and civic collaborate with community to address local
engagement: social problems.
Catholic social tradition strives to form the
Christian community; foster recognition of the THE CATHOLIC INTELLECTUAL TRADITION
gospel call to love God, neighbor, Earth, and AND COMMUNITY AND CIVIC
self; and empower citizens to seek greater ENGAGEMENT
symmetry between the reign of God and
society. Thus, CST compels Catholic The Catholic intellectual tradition includes the
universities to develop students’ communal way of acting that invites us out of
knowledge, skills, and attitudes to be isolation and into an inclusive community,
justice-seeking and action-oriented citizens holding sacred the communal dimension of all
and community members. human pursuits and being of service to the
world. As our universities partner with the local
2. Learning through community and civic community to co-create knowledge and work
engagement: collectively for the common good on
CST calls us to deeper awareness, analysis, contemporary issues, we are upholding the
discernment, and action as a citizen of the values and ways of the Catholic intellectual
world. Civic engagement offers us the tradition. Community and civic engagement, as
opportunity to both learn and enact the part of how we participate in these
practice of social inquiry, being guided by the collaborations, supports the development of
principles of our Catholic social tradition. Catholic intellectual tradition by integrating
knowledge with experience, encouraging
3. Learning with community and civic practical wisdom through reflection and
engagement: discernment, and placing learning in the context
We strive to be schools and universities that of what students will do with their knowledge
advance the common good. Focusing on the and how it will meet the community’s most
themes of solidarity; rights and responsibilities; pressing needs and priorities.
and the call to family, community, and
participation, CST compels us to work for the
common good with all of our pursuits
(learning, teaching, research, etc.).
Furthermore, in these pursuits, CST provides

31 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Learning for, through, and with community to address challenges in our world.
and civic engagement will provide Additionally, the founders recognized the
importance and value of voices on the margin.
students the opportunity to develop their Those who were “on the ground” were sought
character, integrate knowledge, work out - those most affected by unjust rules and
collaboratively, and integrate faith and regulations, those whose livelihoods could be at
reason and stake in the face of structures and systems that
faculty the opportunity to bring knowledge didn’t prioritize human dignity. From this
to practice, bring purpose-finding into the commitment to those who are vulnerable and
classroom, demonstrate responsibility to who are afflicted by injustice, structural and
the community in what one researches and systemic violence, and whose voices go
writes about, include diverse perspectives, unheard, we find strength and affirmation in our
and bring voice to the voiceless. commitment to work today with those who are
victims of structural injustice and poverty. In
THE MARIANIST EDUCATIONAL our opportunities for community and civic
TRADITION, MANIFESTATIONS OF THE engagement, those who are marginalized in
MARIANIST CHARISM, AND COMMUNITY our societies are prioritized, and we search
AND CIVIC ENGAGEMENT for ways to empower communities of those on
the margins, as Chaminade did.
The formation of the Marianist family was Within our Marianist tradition we focus on
revolutionary in ways that offer us insight to creating and being a discipleship of equals.
how we might now, two centuries later, think Recognizing that every member of the
about our involvement in the world. Chaminade community has an individual voice,
worked with and accompanied the development independent skills and capabilities, and brings a
of the laity. This is not to say that the guidance unique set of insights to the table, we look to
and direction of vowed Marianists, both the create opportunities for shared learning and
Society of Mary and the Daughters of Mary, is formation among faculty, staff, community
not needed – indeed, they offer us now the partners, and students. This leads our
space and wisdom to hold the vision of the institutions to a key distinguishing feature of
Marianist family’s role in our world. But how we approach community and civic
Chaminade realized that success would only engagement and prepare students for their
occur through the commitment, involvement future lives as active citizens – through
and dedication of both vowed religious and communities built on trusting and inclusive
laity, creating space for all to come together relationships. For Marianist institutions,
with a shared mission. As we consider the community and civic engagement “acts” are not
world in which we live now, that mixed solo acts done in isolation - they are
composition of communities remains a expressions of community members acting and
necessary component of our educational learning together to achieve the common good.
institutions, the ways in which we form our Blessed Chaminade’s vision guides us to
students, and how we encourage our students become communities of transformation who

32
remain dedicated to social change and lead
with vibrancy in the midst of disruption and
challenges that social change can bring. Our
methods of acting as a community as we learn
for, through, or with engagement lead us to act
boldly.

MARIANIST CHARISM AND SCHOOL /


COMMUNITY ENGAGEMENT AND
PARTNERSHIPS

Manifestions of the Marianist Charism, provides


insight into how a Marianist School’s
community and civic engagement mission and
activities may be shaped differently from other
institutions based on our charism. Our charism
leads us to act collectively through a focus on

drawing inspiration from the power and


vulnerability of Mary as a model for the
Marianists;
creating a discipleship of equals that allows
for equitable sharing of knowledge,
resources, and decision-making
capabilities;
bringing Jesus to and being Jesus for
others;
being available and truly present to needs
wherever one find’s oneself by being
attentive to the signs of the times; and
being open to the action of the Holy Spirit to
guide as in our pursuits of the common
good.
ELEMENTS OF LEARNING FOR, THROUGH, one another and can respectively inquire
AND WITH COMMUNITY AND CIVIC into what is said and where persons can
ENGAGEMENT AT MARIANIST freely express the ideas and invite others to
INSTITUTIONS inquire into them.
2. Social Transformation: Reshaping
The above aspects of our Marianist tradition, institutions so that they are a better realization
educational values and charism provide us with of the common good².
a number of insights for defining important a. Focusing on the common good:
elements of learning for, through, and with Creating social conditions that allow
community and civic engagement at our persons to exercise their human
institutions¹. These elements still guide us capabilities, meet their basic needs, and
today: have health and wellbeing.
1. Community Building: In the Marianist b. Changing institutions: Current
tradition, when people and groups face an institutional arrangements benefit some and
unjust situation, people are engaged to solve disadvantage others; changing institutions
problems and build relationships, which allow so that they are a better realization of the
them to create and work towards realizing a common good.
shared vision of the future. c. Challenging the structures of power:
a. A Gift Orientation: Recognizing and Unjust institutional patterns are maintained
calling forth gifts and assets from members through the exercise of power; changing
of the community; the foundational act of institution means challenging and changes
community building is sharing gifts. in the structures of power.
b. Importance of relationships: d. Option for the Poor: In working for
Relationships help us link and support gifts; social change we are concerned about how
relationships help us call forth gifts and the social change promotes the least of
build trust needed to work toward common society -- the marginalized and the
goals. oppressed.
c. Inclusive excellence: Creating a space
where all people are welcomed and
included; working across differences in
ways that are respectful, open, and
celebrated.
d. Space for Constructive
Conversations: Creating conversation
places and spaces where persons listen to

¹ Another thoughtful way of capturing some of the insights of the Marianist tradition of civic engagement is Jim Vogt's “How
Do Marianists Do Social Justice?” Things Marianist: A publication of the North American Center for Marianist Studies.
2008
² Fr. William Ferree, S.M. made a link between Fr. Chaminade’s insights at the beginning of the Marianist
Movement and the work of advancing justice. Introduction to Fr. Ferree’s work on Social Justice is contained in the
monograph Introduction to Social Justice. His influence on Marianist thought is very thoughtfully summarized in A Ferree
Resource Collection, compiled and edited by Benjamin Dougherty, North American Center for Marianist Studies, 2008.

34
3. Spirituality of Mission: Developing a
personal and communal spirituality that is
integral to the work of community building and
social transformation and will sustain these
over time.
a. Faith in Action: We grow as disciples of
Jesus through community support, personal
and communal prayer, and liturgical
worship; Mary is the model of discipleship
and with the Holy Spirit forms us in it.
b. Conversion: Seeing the world in a new
way; sharing Mary’s mission of bringing
Christ and God’s reign into the world;
developing a special concern for the
marginalized and oppressed.
c. Solidarity: Working to transform
institutions to be a better realization of the
common good.

REFERENCES

CHARACTERISTICS OF MARIANIST
UNIVERSITIES: A Resource Paper. Dayton:
Association of Marianist
Universities, 2006. Available on:
https://udayton.edu/rector/_resources/files/cmu.
pdf. Consulted on: 17 may. 2021.

COLBY, A. et al. (ed). Educating citizens:


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of moral and civic responsability. San
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DOUGHERTY, B. (ed). A Ferree Resource


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Marianist Studies (NACMS). 2008.

FERREE, W. Introduction to Social Justice.


Arlington, VA: Center for Economicand Social
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VOGT, J. How Do Marianist Do Social Justice?.


Things Marianist. Dayton, 2008. Dayton:
North American Center for
Marianist Studies (NACMS), 2008.

35
Envolvimento Comunitário e
Cívico na Educação Católica
e Marianista*
Irmão Ray Fitz, SM¹

INTRODUÇÃO

A sabedoria do beato Chaminade inclui a


diretiva e o convite de que "novos tempos
exigem novos métodos". Isso talvez seja
demonstrado, de forma mais clara e tangível,
no trabalho de comunidade e engajamento
cívico que, por sua natureza, busca respostas
aos sinais dos tempos, avalia e se engaja com
as necessidades da comunidade em que se
encontra e nos empurra a considerar os efeitos
de nossas ações e decisões em nossa
comunidade global.

A ABORDAGEM CATÓLICA E MARIANISTA


À COMUNIDADE E AO ENGAJAMENTO
CÍVICO

Nossas tradições católicas sociais e


intelectuais, o carisma Marianista e os valores
educacionais oferecem orientação para a
nossa compreensão de:
1. porque a comunidade e o engajamento
cívico são essenciais em nossas
instituições,
2. a singularidade de nossa abordagem para
o engajamento comunitário e cívico,
3. como as comunidades podem ser
aprimoradas por aqueles que são
educados em nossas instituições, e
4. os elementos importantes de aprendizagem
para a comunidade e o engajamento cívico
em nossas escolas e universidades.
¹ Presidente Eméritoda Universidade de Dayton
* Tradução: Fernanda Bergamini Oliveira, professora de
Inglês do Colégio Chaminade
fernanda.oliveira@chaminade.com.br
À medida que exploramos nossa identidade, sistema social, como famílias, ambientes de
nossos valores e nossas tradições a seguir, trabalho, bairros, cidades, nações, mundo, etc.,
observamos que qualidades-chave distinguem e todos devem ser organizados de forma a
nossa abordagem católica e marianista: realizá-lo (com base no Compêndio da
relacionamentos corretos, perspectivas Doutrina Social da Igreja Católica).
baseadas no lugar e nos bens, dignidade e
solidariedade humana. Estão integrados em A TRADIÇÃO SOCIAL CATÓLICA E O
como e por que educamos e em nosso ENGAJAMENTO CÍVICO
propósito para o mundo.
A tradição social católica pode ser vista como
DEFINIÇÕES DOS TERMOS-CHAVE tendo duas dimensões complementares:

Prosperidade Humana: Vivendo de acordo 1. Como prática, a tradição social católica


com o que é intrinsecamente valioso para os pode ser vista como o inquérito social em
humanos - ter um propósito, relacionamentos curso pela comunidade, em diálogo com
significativos com as pessoas e o planeta outras, sobre questões sociais importantes
Terra, boa saúde e bem-estar e a capacidade como: as condições de trabalho, as
de contribuir para que a comunidade tenha relações internacionais ou a guerra e a paz.
dignidade e direitos humanos protegidos. Ao conduzir cada fase de sua investigação
social, a comunidade católica se engaja em
Bem comum: O bem comum “indica a soma um diálogo crítico e recíproco entre o
total das condições sociais que permitem o melhor do conhecimento contemporâneo
florescimento humano de todas as pessoas e sobre a questão social e os recursos da fé
grupos dentro deste sistema social”. Ele requer cristã. Nesse diálogo, o conhecimento
que nosso bem-estar seja realizado em um contemporâneo enriquece nossa
ambiente no qual outros também possam compreensão dos recursos da fé cristã
florescer - o "bem" é algo que só podemos ter católica (escritura e tradição) e levanta
juntos quando a dignidade plena de cada questões importantes a serem abordadas.
pessoa é inteiramente respeitada. Isso significa Da mesma forma que enriquecem nossa
que o ser humano não pode encontrar a compreensão e levantam questões
realização do bem separado dos outros, mas importantes a serem abordadas.
com um significado mais profundo do que
apenas “viver / ser” com os demais em vários 2. Com o tempo, essa prática de
níveis da vida social. Cada pessoa tem a investigação social produz um conjunto de
responsabilidade de buscar o bem (sentido e temas ou conhecimentos práticos, ou seja,
verdade) e contribuir para o bem comum para princípios para reflexão, critérios de
que a vida humana possa florescer. Nenhuma julgamento e direções de ações que podem
realização do bem comum pode descartar orientar a investigação social sobre as
pessoas ou grupos como indignos de nosso questões atuais e as futuras. Esses temas
interesse. O bem comum existe dentro de cada são expandidos, refinados e criticados à

37 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


medida que os participantes da tradição
aplicam essa investigação a novas situações e
entendimentos das anteriores. da solidariedade, direitos e responsabilidades,
Os temas da tradição social católica (TSC) o chamado à família, a comunidade e a
podem fornecer orientações úteis, bons participação, a TSC nos leva a trabalhar para
questionamentos e um rico recurso para o bem comum com todas as nossas
aprimorar o processo de aprendizagem, por atividades (aprendizagem, ensino, pesquisa
meio e com o engajamento comunitário e etc). Além disso, nessas atividades, a TSC
cívico. Influenciando a comunidade de nossas fornece uma visão sobre como nossos alunos e
escolas e universidades, as práticas desse professores podem colaborar com a
engajamento podem ser descritas como: comunidade para resolver os problemas sociais
locais.
1. Aprendizagem para comunidade e
engajamento cívico: A tradição social católica A TRADIÇÃO INTELECTUAL CATÓLICA E O
se esforça para formar uma comunidade cristã; ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO E CÍVICO
promover o reconhecimento do chamado
evangelho para amar a Deus, ao próximo, à A tradição intelectual católica inclui um modo
Terra e a si mesmo; e capacitar os cidadãos a comunitário de agir que nos convida a sair do
buscarem uma maior simetria entre o reino de isolamento e a entrar em uma comunidade
Deus e a sociedade. Assim, a TSC intercede inclusiva, mantendo sagrada a dimensão
as universidades católicas a desenvolver o coletiva de todas as atividades humanas e de
conhecimento, as habilidades e as atitudes serviço ao mundo. Como nossas universidades
dos alunos para que sejam membros da fazem parceria com a comunidade local para
comunidade em busca de justiça e co-criar conhecimento e trabalhar
orientados para a ação. coletivamente para o bem comum em questões
contemporâneas, defendemos os valores e
2. Aprendizagem através da comunidade e formas da tradição intelectual católica. O
engajamento cívico: A TSC nos chama a uma engajamento comunitário e cívico, como parte
consciência, análise, discernimento e ação da forma que participamos dessas
mais profundas como cidadãos do mundo. O colaborações, apoia o desenvolvimento da
engajamento cívico nos oferece a tradição intelectual católica, integrando o
oportunidade de aprender e realizar a conhecimento com a experiência, incentivando
prática da investigação social, sendo a sabedoria prática por meio da reflexão e do
guiados pelos princípios de nossa tradição discernimento e colocando a aprendizagem no
católica. contexto que os alunos farão com seu
conhecimento e como atenderá às
3. Aprendendo com a comunidade e necessidades e prioridades mais urgentes da
engajamento cívico: Nós nos esforçamos comunidade.
para sermos escolas e universidades que
promovem o bem comum. Enfocando os temas

38
Aprender para e com a comunidade e o
engajamento cívico proporcionará:

aos alunos a oportunidade de desenvolver


o seu caráter, integrar o conhecimento,
trabalhar de forma colaborativa e integrar fé
e razão;
aos professores a oportunidade de trazer
conhecimento para a prática, levar a
descoberta de objetivos para a sala de
aula, demonstrar responsabilidade para
com a comunidade naquilo que se
pesquisa e escreve, incluir diversas
perspectivas e dar voz aos que não têm.

A TRADIÇÃO EDUCATIVA MARIANISTA, AS


MANIFESTAÇÕES DO CARISMA
MARIANISTA E O ENGAJAMENTO
COMUNITÁRIO E CÍVICO

A formação da família marianista foi


revolucionária de uma forma que nos oferece
uma visão de como podemos agora, dois
séculos depois, pensar sobre nosso
envolvimento no mundo. Chaminade trabalhou
e acompanhou o desenvolvimento dos leigos.
Isso não quer dizer que a orientação e a
direção dos marianistas com os votos, tanto a
da Sociedade de Maria quanto a das Filhas de
Maria, não sejam necessárias - na verdade,
eles nos oferecem agora o espaço e a
sabedoria para sustentar a visão do papel da
família Marianista em nosso mundo. Mas
Chaminade percebeu que o sucesso só
aconteceria através do compromisso,
envolvimento e dedicação de religiosos e
leigos, criando espaço para que todos se unam
em uma missão compartilhada. Ao
considerarmos o mundo em que vivemos
agora, essa composição mista de comunidades

39
continua a ser um componente necessário das relacionamentos de confiança e inclusivos.
nossas instituições educacionais, a maneira Para as instituições marianistas, os “atos” de
como formamos nossos alunos e como os engajamento comunitário e cívico não são
incentivamos a enfrentar os desafios em nosso solitários ou feitos isoladamente - são
mundo. expressões dos membros agindo e aprendendo
Além disso, os fundadores reconheceram a juntos para alcançar o bem comum. A visão do
importância e o valor das vozes marginais. beato Chaminade nos guia para nos tornarmos
Aqueles que estavam “à margem” da comunidades de transformação, que
sociedade foram procurados - os mais afetados permanecem dedicadas à mudança social e
por regras e regulamentos injustos, aqueles lideram com vibração em meio à ruptura e aos
cujos meios de subsistência poderiam estar em desafios que a mudança social pode trazer. À
jogo em face a estruturas e sistemas que não medida que aprendemos para ou com
priorizavam a dignidade humana. Deste engajamento, nossos métodos de agir em
compromisso com aqueles que são vulneráveis comunidade nos levam a portar-se com
e afligidos pela injustiça, violência estrutural e ousadia.
sistêmica, e cujas vozes não se ouvem,
encontramos força e afirmação em nosso CARISMA MARIANISTA, COMPROMISSO
comprometimento de trabalhar hoje com ESCOLA / COMUNIDADE E PARCERIAS
aqueles que são vítimas da injustiça estrutural
e da pobreza. Em nossas oportunidades de Tais manifestações nos fornecem uma visão
envolvimento comunitário e cívico, aqueles que sobre como a comunidade e a missão de
são marginalizados, em nossa sociedade, são engajamento cívico da escola marianista
priorizados e buscamos maneiras de podem ser moldadas de maneiras diferentes de
empoderar as comunidades daqueles que são outras instituições baseadas em nosso
esquecidos, como fez Chaminade. carisma. Este nos leva a agir coletivamente por
Dentro de nossa tradição Marianista, nos meio do enfoque em:
concentramos em criar e ser um discipulado inspirar-se no poder e na vulnerabilidade
que prega e busca a igualdade. Reconhecendo de Maria como modelo para os Marianistas;
que cada membro tem uma voz individual, criar um discipulado de igualdade que
habilidades, capacidades independentes e traz permita o compartilhamento equitativo de
um conjunto único de percepções para a mesa, conhecimentos, recursos e capacidades da
procuramos criar oportunidades de tomada de decisão;
aprendizagem e formação compartilhadas trazer Jesus e ser Jesus para os outros;
entre professores, funcionários, parceiros da estar disponível e verdadeiramente
comunidade e alunos. Isso leva nossas presente às necessidades onde quer que
instituições a uma característica distintiva de se encontre, estando atento aos sinais dos
como abordamos a comunidade, o tempos;
engajamento cívico e preparamos os alunos estando abertos à ação do Espírito Santo
para suas vidas futuras como cidadãos ativos - para nos guiar em nossa busca do bem
por meio de vínculos construídos sobre comum.

40
ELEMENTOS DE APRENDIZAGEM PARA E 2. Transformação Social: remodelar as
COM O ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO E instituições para que sejam a melhor realização
CÍVICO NAS INSTITUIÇÕES MARIANISTAS do bem comum.
a. Foco no bem comum: criar condições
Os aspectos acima de nossa tradição sociais que permitam às pessoas exercer
Marianista, valores educacionais e carisma nos suas capacidades humanas, atender às
fornecem uma série de percepções para definir suas necessidades básicas, ter saúde e
elementos importantes de aprendizagem para bem-estar.
e com o engajamento comunitário e cívico em b. Mudança de instituições: os arranjos
nossas instituições. Esses elementos nos institucionais atuais beneficiam alguns e
guiam até hoje: prejudicam outros; mudar as instituições
1.Construção da comunidade: na tradição para que tenham uma melhor realização do
Marianista, quando as pessoas e grupos bem comum.
enfrentam uma situação injusta, as pessoas se c. Desafiando as estruturas de poder:
comprometem a resolver problemas e construir padrões institucionais injustos são
relacionamentos que lhes permitam criar e mantidos por meio do exercício do poder;
trabalhar para a concretização de uma visão mudar de instituição significa desafios e
compartilhada do futuro. mudanças nessas estruturas.
a. Uma orientação para presente: d. Optar pelos pobres: ao trabalhar pela
reconhecer e invocar presentes e bens de mudança social, estamos preocupados em
membros da comunidade; o ato como a mudança social promove o que
fundamental da construção da comunidade menos existe na sociedade - os
é compartilhar presentes. marginalizados e os oprimidos.
b. Importância dos relacionamentos: os
relacionamentos nos ajudam a vincular e
nos apoiar; a despertar e a construir a
confiança necessária para trabalhar em
prol de objetivos comuns.
c. Excelência inclusiva: criação de um
espaço onde todas as pessoas são bem-
vindas e incluídas; trabalhar as diferenças
de maneira respeitosa, aberta e celebrada.
d. Espaço para conversas construtivas:
criação de locais e espaços para conversa
onde as pessoas ouvem umas às outras e
podem, respectivamente, inquirir sobre o
que é dito, expressar livremente as ideias e
convidar outros a indagar sobre elas.

41 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


REFERÊNCIAS

3. Espiritualidade da Missão: Desenvolver CHARACTERISTICS OF MARIANIST


UNIVERSITIES: A Resource Paper. Dayton:
uma espiritualidade pessoal e comunitária que
Association of Marianist
seja parte integrante do trabalho de construção Universities, 2006. Disponível em:
da comunidade e transformação social que as https://udayton.edu/rector/_resources/files/cmu.
pdf. Acesso em: 17 maio. 2021.
sustentará ao longo do tempo.
a. Fé em ação: crescemos como discípulos COLBY, A. et al. (ed). Educating citizens:
preparing american’s undergraduates for lives
de Jesus por meio do apoio conjunto, of moral and civic responsability. San
oração pessoal e comunitária e adoração Francisco: Jossey-Bass. 2003.
litúrgica. Maria é o modelo de discipulado
DOUGHERTY, B. (ed). A Ferree Resource
e, com o Espírito Santo, forma isso em nós. Collection. Dayton: North American Center for
b. Conversão: ver o mundo de uma nova Marianist Studies (NACMS). 2008.
maneira; compartilhar a missão de Maria FERREE, W. Introduction to Social Justice.
de trazer Cristo e o reino de Deus ao Arlington, VA: Center for Economicand Social
mundo; desenvolver uma preocupação Justice.1997.
especial pelos marginalizados e oprimidos. VOGT, J. How Do Marianist Do Social Justice?.
c. Solidariedade: trabalhar para Things Marianist. Dayton, 2008. Dayton:
North American Center for
transformar as instituições em direção a Marianist Studies (NACMS), 2008.
uma melhor realização do bem comum.
La oportunidad para una
educación profética

Gustavo Magdalena (Argentina)¹

No sabemos si será mejor o peor, pero está Debemos preguntarnos: ¿Cuál es el sentido de
claro que nuestro mundo será distinto después de nuestras escuelas en este siglo y,
la experiencia de la pandemia del COVID-19. Con particularmente, después de esta experiencia
ese dato de la realidad (vista como lugar inédita, abrupta y disruptiva que significa la
teológico, donde actúa el Espíritu pandemia? Están naciendo nuevas y diversas
constantemente) en manos de los seres formas culturales que no se ajustan a los
humanos estará otorgarle a ese rostro diferente márgenes conocidos. Los educadores,
una novedad positiva y que haga de nuestro particularmente los cristianos, debemos
planeta un lugar para todos, como es el sueño de reconocer que, muchas veces, no sabemos cómo
Dios. insertarnos en estas nuevas coordenadas. El
Si antes de la pandemia la situación de nuestra padre Oesterheld lo ha expresado con mucha
Casa Común estaba en riesgo, después de 2020 claridad: “Quizás ya no sea tiempo de anuncios,
tenemos una nueva, y quizás última, oportunidad ya no hay que seguir repitiendo hasta el
para salvar al planeta y a la humanidad. Una de agotamiento lo que está dicho una y mil veces.
las herramientas más extendidas y de profundo Probablemente haya llegado el momento de
alcance para colaborar en ese nuevo y radiante preguntarnos: ¿a quién le importa?”
rostro que deseamos develar es la educación. Los colegios contamos historias, relatos,
Pero también ella enfrentará después de la narraciones. Estas narrativas alimentan en
pandemia su probablemente última oportunidad quienes lo anuncian la convicción de que el ideal
para ser culturalmente significativa, para anunciado es verdadero y fuerte. Transforman las
entusiasmar a sus estudiantes e incidir en la vivencias personales y colectivas en experiencias
construcción de sociedades más justa y fraternas con sentido, generan comunidad y, de ese modo,

¹Secretario Ejecutivo
CLAMARED (Red Latinoamericana de colegios Marianistas)

43 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


influyen en la prosecución del bien común. Pero El COVID-19 reveló el mundo real que existe
los capitales narrativos, si no se actualizan y por debajo de los oropeles del consumismo y la
renuevan, comienzan a envejecer y a reducirse. tecnocracia. Puso de manifiesto la fragilidad de la
Podemos encontrarnos de un día para el otro con vida; la artificialidad (interesada) de las barreras,
una grave carestía de historias para contar, como los muros y las divisiones; y la impotencia frente a
nos alerta Luigino Bruni. la incertidumbre. “Nos muestra cómo habíamos
Podemos preguntarnos, más allá de los planes dejado dormido y abandonado lo que alimenta,
y los currículums, ¿Qué estamos narrando sostiene y da fuerza a nuestra vida” (Bendición
cotidianamente en nuestras escuelas? ¿Con qué Urbi et Orbi, 27 marzo 2020). ¿Podremos
nos conmovemos y cómo conmovemos? anunciar, desde nuestras escuelas, lo que
¿Queremos que las escuelas sean estamos oteando en las fronteras existenciales de
organizaciones vitales (que tengan y ofrezcan nuestro tiempo?
vida) o simplemente supervivientes en un “mundo Hoy la profecía tiene su fruto más concreto en
hostil”? La crisis es siempre una carestía de la encíclica Laudato Si´, del Papa Francisco. Un
historias capaces de conmovernos, de aquellas documento impresionante, cuya potencia apenas
historias que nos hacen “mover juntos”. estamos dimensionando. Edgar Morin la ha
Podremos aprovechar esta (última) oportunidad si definido como “el primer acto de un llamado hacia
sabemos leer y actuar desde las necesidades del una nueva civilización”, una interpelación
mundo, buscando – como bien dice el Manifiesto universal más allá de las creencias, para una
de Católicos Latinoamericanos con civilización donde lo religioso suena cada vez
Responsabilidades Políticas- comprender “lo que más a “rancio y huidizo”. Una oportunidad para
constituye lo mejor posible para avanzar en el humanizar y, desde allí, para evangelizar.
bien común”. Como toda profecía, la conversión ecológica, la
Para convertirnos en organizaciones vitales en nueva civilización requiere de “valiente revolución
y tras la pandemia, nuestras escuelas deben cultural” (LS 114). La educación en América
dejar espacio, de manera institucional, a los Latina tiene que ser fuente revolucionaria para un
portadores de la dimensión profética. Es bueno nuevo modelo civilizatorio, pues ha llegado “el
asumir esta lectura y esta vocería recordando tiempo para elegir entre lo que cuenta
aquel pasaje de Isaías: verdaderamente y lo que pasa, para separar lo
que es necesario de lo que no es” (Bendición Urbi
et Orbi, 27 de marzo de 2020).
"Me gritan desde Seir: Centinela, ¿cuánto falta el La conversión ecológica parte de una premisa,
día? Centinela, ¿qué hay de la noche? Dice el “todo está conectado”, y desemboca en la ética
centinela: ¡La mañana se acerca, pero todavía es del cuidado. El cuidado de la Casa Común y la
de noche! Si quieren preguntar, vuelvan y sigan ecología integral es una oportunidad de oro para
preguntando" (Is 21, 11-12). comprometernos junto con nuestros niños,
adolescentes y jóvenes, liderando el proceso
educativo y de concientización política y
ciudadana. ¿Sabremos convertir nuestras
escuelas en atalayas que anuncien una mañana

44
• Construir una auténtica “Cultura del Encuentro”,
que genere la comprensión y aceptación del otro,
se sostenga en el diálogo como forma de relación
diferente para nuestros países? y de caminar juntos en el camino compartido,
La educación post-pandemia y orientada por la busque siempre los denominadores comunes
conversión hacia la ecología integral requiere de sobre los cuales asentar bases firmes para
nuevas miradas, de un órgano de percepción construir cultura y fraternidad.
distinto, un giro de nuestra cámara que lleve a un • Enseñar a conversar para generar, como dice
giro narrativo. Mirar desde el sufrimiento, para Humberto Maturana, un entramado de
que ningún dolor nos sea indiferente y conversaciones y fuente de inspiraciones que nos
busquemos actuar para aliviarlo o eliminarlo: humanicen y humanicen los vínculos sociales,
“Evocar una voz profética frente al dolor, el mal y pues solo con encuentro y diálogo seremos
la muerte causados por decisiones políticas que capaces de “dar solidez, contención y sentido” a
excluyen y marginan” a los vulnerables, a los la vida (Bendición…).
frágiles, a los pobres (Manifiesto…). • Suscitar cambios en las convicciones
En nuestras escuelas, si quieren ser personales, tan contaminadas por el
significativas e influyentes para nuestros pueblos, individualismo, el consumismo y la evasión
debemos formar -en palabras de Díaz Salazar- ilusoria.
“luchadores ecosociales”, apasionados por un • Propiciar una nueva forma de vivir, porque
mundo donde todos tengan un lugar, donde “tenemos que desacelerar un determinado ritmo
impere la fraternidad por sobre las divisiones, de consumo y de producción, y aprender a
donde se anuncie una nueva forma de vivir, “más comprender y a contemplar la naturaleza. Y
colaborativa, más solidaria, más local y más reconectarnos con nuestro entorno real. Es una
democrática” (cf. Manifiesto…). Para ello, oportunidad de conversión” (Entrevista del Papa
debemos vertebrar nuestros programas con Austen Ivereigh, 8 de abril de 2020).
educativos en torno a Laudato Si´y su dimensión • Mostrar la alegría que brota cuando sabemos
profética para: celebrar y respetar la vida recibida y compartida.
Nuestras propuestas educativas deben hacer
fiesta y festejar con los logros y esperanzas de
nuestros conciudadanos.
La conversión ecológica integral es el camino (Ap.2, 2-5). Volver a las fuentes, volver a nuestras
comunitario por donde proponer condiciones y Galileas para volver a ver al Señor, para volver a
modelos sociales sustentables. Hace pocos días convertirnos al Evangelio.
Muhammad Yunus alertó que “cuando la crisis Si lo hacemos, los educadores de colegios
pase, llegará la estampida de ideas viejas y católicos podremos ponernos a la cabeza de la
recetas anticuadas sobre paquetes de rescate, batalla cultural decisiva: un modelo de fraternidad,
que intentarán llevar el mundo de nuevo para ese para que la vida florezca y permanezca en el
lado. Abundarán los intentos de hacer descarrilar futuro; una cultura del encuentro, que transforme
cualquier iniciativa novedosa con el argumento de las relaciones que tenemos con nuestros
que son políticas no ensayadas. Hay que tener hermanos y hermanas, con los otros seres vivos,
todo listo antes de que se desate la estampida” con la creación en su variedad tan rica, con el
(Yunnus, No se trata de volver al viejo mundo, Creador que es el origen de toda vida y que nos
sino de rediseñarlo. EN: La Nación (Bs.As.), 9 de invita a construir su Reino.
mayo de 2020).
Desde su puesto, la educación, profética e
inspiradora, debe ser centinela que alerte,
detenga y combata los cantos “normalizadores”.
Por eso debemos ser revolucionarios… En el libro
del Apocalipsis encontramos un pasaje que
puede servirnos para la post-pandemia. Parece
dirigido a los cristianos, en particular a los
educadores cristianos de nuestro continente:
“Conozco tus obras, tus dificultades y tu
perseverancia. Sé que no puedes tolerar a los
malos y que pusiste a prueba a los que se llaman
a sí mismo apóstoles y los hallaste mentirosos.
Tampoco te falta la constancia y has sufrido por
mi nombre sin desanimarte…” Bien podría
aplicarse a muchas de nuestras escuelas,
comunidades, educadores, estudiantes, padres
de familia, que han sostenido y sostienen un
modelo educativo y civilizatorio de promoción
integral y de anuncio evangélico. Pero el texto
sigue y entonces podemos encontrar una
apelación urgente, si
queremos ser significativos en la tercera década
de este siglo XXI: “Pero tengo algo en contra
tuya, y es que has perdido tu amor del principio.
Date cuenta, pues, de dónde has caído,
recupérate y vuelve a lo que antes sabías hacer”

46
Não sabemos se será melhor ou pior, mas
A oportunidade para uma está claro que o nosso mundo será diferente
Educação profética* depois da experiência da pandemia da COVID-
19. Com esse dado da realidade (vista como
Gustavo Magdalena¹ lugar teológico, onde o Espírito atua
constantemente) estará nas mãos dos seres
¹ Secretario Ejecutivo CLAMARED (Red Latinoamericana humanos dar uma visão positiva a esse rosto e
de colegios Marianistas) na Argentina
fazer do nosso planeta um lugar para todos,
* Tradução de Gustavo Pollon Sá Freire, Irmão Marianista
- Colégio Chaminade, Bauru/SP como é o sonho de Deus.
gustavo.freire@chaminade.com.br Se antes da pandemia a situação da nossa
Casa Comum já estava em risco, depois de
2020 teremos uma nova, ou talvez última,
oportunidade para salvar o planeta e a
humanidade. Uma das ferramentas mais
estendidas e de profundo alcance para
colaborar nesse novo rosto que desejamos
revelar é a Educação. Mas ela também,
provavelmente, enfrentará depois da pandemia
sua última oportunidade para ser culturalmente
significativa, para entusiasmar aos estudantes
e colaborar na construção de uma sociedade
mais justa e fraterna.
Devemos nos perguntar: qual é o sentido de
nossas escolas neste século e,
particularmente, depois dessa experiencia
inédita, imprevisível e desastrosa que é a
pandemia? Estão nascendo diferentes e novas
formas culturais que não se ajustam às
estratégias que já são conhecidas. Os
educadores, particularmente os cristãos,
devem reconhecer que, muitas vezes, não
sabem como inserir-se nestas novas
coordenadas. O padre Oesterheld expressou
com muita claridade: “Talvez já não seja tempo
de anúncios, já que não tem que seguir
repetindo até o esgotamento o que já está dito
mil e uma vezes. Provavelmente chegou o
momento de perguntar-nos: “o que é
importante?”
Os colégios contam histórias, relatos, ‘Logo chega o dia, mas a noite também vem.
narrações. Essas narrativas alimentam Se vocês quiserem perguntar de novo, voltem
naqueles que a anunciam a convicção de que o e perguntem’.” (Is 21, 11-12)
ideal anunciado é verdadeiro e forte. A COVID-19 revelou o mundo real que existe
Transformam as vivências pessoais e coletivas debaixo das aparências do consumismo e da
em experiências com sentido, geram tecnocracia. Colocou em evidência a
comunidade e, desse modo, auxiliam na fragilidade da vida, a artificialidade das
construção do bem comum. Mas, se os capitais barreiras, dos muros e das divisões; e a
narrativos não se atualizarem e renovarem, impotência frente a incerteza. “Nos mostra
começam a envelhecer e a reduzir-se. como deixamos dormido e abandonado o que
Podemos nos deparar de um dia para o outro alimenta, sustém e dá força a nossa vida”
com uma grave carência de histórias para (Bendição Urb et Orbi, 27 de março de 2021).
contar, como nos alerta Luigino Bruni. Podemos anunciar, através das nossas
Podemos perguntar-nos, além dos planos e escolas, o que estamos observando nas
currículos, o que estamos narrando fronteiras existenciais do nosso tempo?
cotidianamente nas nossas escolas? Com o Hoje a profecia tem o seu fruto mais concreto
que nos comovemos e como comovemos? na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.
Queremos que as escolas sejam organizações Um documento impressionante, no qual vemos
vitais (que tenham e ofereçam vida) ou sua potência e dimensão. Edgar Morin definiu a
Simplesmente sobreviventes num “mundo encíclica como “o primeiro ato de um chamado
hostil”? A crise é sempre uma privação de à uma nova civilização”, uma interpelação
histórias, capazes de nos comover, daquelas universal que vai além das crenças, para uma
histórias que nos fazem “mover juntos”. civilização onde o religioso soa cada vez mais
Podemos aproveitar esta (última) oportunidade como “arcaico e artificial”. Uma oportunidade
se soubermos ler e atuar a partir das para humanizar e, a partir disso, evangelizar.
necessidades do mundo, buscando, como bem Como toda profecia, a conversão ecológica e
diz o Manifesto de Católicos Latino-americanos a nova civilização requerem uma “revolução
com Responsabilidades Políticas: “o que cultural valente” (LS 114). A educação na
constitui o melhor possível para avançar no América Latina tem que ser fonte
bem comum”. revolucionária para um novo modelo
Para converter-nos em organizações vitais na civilizatório, pois chegou “o tempo para
pandemia e posteriormente a ela, nossas escolher entre o que verdadeiramente conta
escolas devem dar espaço, de maneira daquilo que é passageiro, para separar o que é
institucional, aos portadores da dimensão necessário daquilo que não é” (Benção Urbi et
profética. É bom assumir essa leitura e Orbi, 27 de março de 2020).
manifestação recordando aquela passagem do A conversão ecológica parte de uma premissa,
profeta Isaias: “Gente de Seir me pergunta: “tudo está conectado”, que conflui na ética do
‘Guarda, quanto ainda falta para acabar a cuidado. O cuidado da Casa Comum e da
noite? Guarda, quanto falta para acabar a ecologia integral é uma oportunidade muito
noite?’. O guarda responde: valiosa para nos comprometer junto com as

48
nossas crianças, adolescentes e jovens, construir cultura e fraternidade.
liderando o processo educativo e de Ensinar a conversar para gerar, como diz
conscientização política e cidadã. Saberemos Humberto Maturana, um entramado de
converter nossas escolas em sentinelas que conversas que sejam fontes de inspirações
anunciem um futuro diferente para os nossos que nos humanizem e humanizem aos
países? vínculos sociais, pois somente através do
A educação pós-pandemia e orientada pela encontro e do diálogo seremos capazes de
conversão a uma ecologia integral requer “dar firmeza, apoio e sentido” a vida.
novos olhares, ou seja, uma organização com (Benção Urbi et Orb)
uma percepção diferente, uma mudança do Suscitar mudanças nas convicções
nosso “foco” que leve a uma mudança pessoais, tão contaminadas pelo
“narrativa”. Deve-se olhar a partir do individualismo, pelo consumismo e pela
sofrimento, para que nenhuma dor seja evasão ilusória.
indiferente e buscar atuar para aliviá-la ou Propiciar uma nova forma de viver, porque
eliminá-la: “evocar uma voz profética diante da “temos que desacelerar o ritmo de
dor, da morte e do mal causados pelas consumo e produção, e aprender a
decisões políticas que excluem e compreender e a contemplar a natureza. E
marginalizam” aos vulneráveis, frágeis e nos reconectar com o mundo a nossa volta.
pobres. É uma oportunidade de conversão”
Para que nossas escolas sejam significativas (Entrevista do Papa com Austen Ivereig, 8
e influenciem ao nosso povo, devemos formar - de abril de 2020).
nas palavras de Díaz Salazar - “lutadores Mostrar a alegria que brota quando
ecosociais”, apaixonados por um mundo onde sabemos celebrar e respeitar a vida
todos tenham um lugar, onde reine a recebida e compartilhada. Nossas
fraternidade em cima das divisões, onde se propostas educativas devem fazer festa e
anuncie uma nova forma de viver, “mais festejar com as conquistas e esperanças
colaborativa, mais solidária, mais local e mais dos nossos concidadãos.
democrática” (cf. Manifesto). Para isso,
devemos encaixar nossos programas A conversão ecológica integral é o caminho
educativos em ligação com a Laudato Si’ e sua comunitário por onde propor condições e
dimensão profética para: modelos sociais sustentáveis. Alguns dias
atrás, Muhammad Yunus alertou que “quando
Construir uma autêntica “Cultura do a crise passar, chegará uma explosão de ideias
Encontro”, que gere a compreensão e velhas e desatualizadas sobre os modelos de
aceitação do outro, que se sustente no resgate, que tentarão trazer o mundo de volta
diálogo como forma de relação e de para esse lado. Haverá muitas tentativas de
caminhar juntos por um caminho inviabilizar qualquer iniciativa nova com o
compartilhado, buscando sempre os fundamento de que se trata de políticas não
denominadores comuns sobre o qual testadas. Teremos que ter tudo pronto antes
devemos assentar bases firmes para que se desate o estouro ”(Yunnus, Não se trata

49 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


de voltar ao velho mundo, mas de reformulá-lo.
PT: La Nación (Bs.As.), 9 de maio de 2020). seguirmos o texto, podemos encontrar um
Desde seu lugar, a educação profética e apelo urgente, que pode impelar-nos se
inspiradora deve ser sentinela que alerta, realmente queremos ser significativos para a
detenha e combata os cantos “normalizadores”. terceira década do século XXI: “Mas tenho algo
Por isso devemos ser revolucionários... contra ti que esfriaste o teu primeiro amor.
No livro do Apocalipse encontramos uma Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e
passagem que poderá nos servir para a pós- retorna às tuas primeiras obras”. (Apocalipses
pandemia. Parece que está dirigido aos 2, 4-5). Devemos voltar as fontes, voltar à
educadores cristãos do nosso continente: nossas Galileias para ver o Senhor, parar voltar
“Conheço as tuas obras, as tuas dificuldades e a converter-nos ao Evangelho.
a tua perseverança. Eu sei que você não pode Se fizermos isso, nós, educadores de colégios
tolerar os bandidos e que você colocou aqueles católicos, poderemos colocar-nos a cabeça da
que se dizem apóstolos à prova e os batalha cultural decisiva: um modelo de
considerou mentirosos. Tampouco te falta fraternidade, para que a vida floresça e
perseverança e sofreste por meu nome sem permaneça no futuro; uma cultura do encontro,
desanimar...”(Apocalipses 2, 2-3) Poderíamos que transforme as relações que temos com os
aplicar este texto à nossas escolas, nossos irmãos e irmãs, com outros seres vivos,
comunidades, educadores, estudantes, pais de com a criação em sua diversidade tão rica, com
família, que sustentaram, e ainda sustentam, o Criador que é a origem de toda vida e que
um modelo educativo e civilizatório de nos convida a construir o seu Reino.
promoção integral e de anúncio evangélico. Se

50
Biblioteca
"Antoine de Saint-Exupéry"
Ana Clara Gatto¹ Fonte: Juliana H. Penteado

1. APRESENTAÇÃO
Considerada a primeira biblioteca do mundo, a
A biblioteca do Colégio Chaminade Bauru Biblioteca de Nínive, pertencente ao Rei
recebe o nome de “Antoine de Saint-Exupéry” Assurbanípla II (SANTOS, 2012), era
como homenagem ao antigo estudante constituída por obras em bloco de argila
Marianista. Famoso por sua obra “O Pequeno indexados em catálogos, sendo também
Príncipe”, Antoine iniciou sua jornada estudantil conhecida como a primeira biblioteca com um
no colégio Jesuíta em Notre-Dame em 1909 e sistema de classificação e indexação de
transferiu seus estudos para o colégio assunto, mas foi com a Biblioteca de
Marianista da Suíça em 1914. Alexandria, fundada por Alexandre Magno em
O acervo da biblioteca conta com diversos 331 a.C., que o conceito de biblioteca como
títulos dos mais variados assuntos: filosofia, espaço de armazenamento do conhecimento
religião, ciências naturais, linguagem, artes, registrado foi criado. No início seu objetivo era
história, geografia, biografias, literatura infanto- preservar o conhecimento de Aristóteles e
juvenil e literatura clássica, tanto do Brasil competir com Atenas (FLOWER, 2002;
quanto de outros países. Além do acervo em MANGUEL, 2006 apud TANUS, 2018), mas em
português, possui obras em língua inglesa e pouco tempo ampliou significativamente seu
espanhola e exemplar em francês do autor acervo, constituindo-se como “biblioteca
homenageado. universal”. Dentre as bibliotecas da
antiguidade, Roma fundou o conceito de
2. BREVE HISTÓRICO DAS BIBLIOTECAS “biblioteca particular” e “biblioteca pública”,
Desde os primórdios o homem registra sendo as particulares formadas por saques
informações, seja através da arte rupestre ou provenientes das guerras, e as públicas
por meio da escrita, estas são passadas de formadas por dois salões, uma com obras em
época a época formando um grande volume de latim e outra em grego que tinham a concepção
conhecimento registrado. de depósito e algumas faziam empréstimo em
domicílio (SANTOS, 2012).
¹ Bibliotecária - CRB - 8/10577
ana.gatto@chaminade.com.br

51 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Já na Idade Média conta-se três tipos de
bibliotecas: as Monaicas, desenvolvidas por para a aprendizagem ao longo da vida e
2 desenvolve a imaginação, preparando-os
abadias e mosteiros; as Particulares e para viver como cidadãos responsáveis.
Universitárias, com a criação do catálogo
unificado – em que podiam ser encontrados os No Colégio trabalha-se com a noção de
nomes dos autores e obras, além dos nomes “biblioteca viva”, tendo o espaço como lugar de
dos mosteiros em que se encontravam. De interação entre educandos e educadores – com
acordo com Santos (2012) foi somente no clube de leitura, roda de conversa e exposições
Renascimento que a biblioteca se converteu dos mais variados temas; de lazer – com jogos
num ambiente de disseminação da informação e espaço para descanso; e o mais importante,
– não mais como um depósito em que só um ambiente agradável para estudos e leitura.
figuras importantes podiam desfrutar, e surge o “Além de despertar o gosto pela leitura como
bibliotecário como agente central que sustenta forma habitual de lazer, um dos objetivos da
a biblioteca. biblioteca escolar é a formação do cidadão
A biblioteca escolar tem sua origem por volta consciente e capaz de um pensamento crítico e
de 1549 com os colégios jesuítas, criativo” (CALDIN, 2005, p. 163), desta forma a
particularmente no estado da Bahia, chefiados biblioteca atua junto com o corpo docente
por Manuel da Nóbrega (SILVA, 2011). como complemento do projeto pedagógico,
Inicialmente eram voltadas para catequizar os levantando referências para a execução de
colonos, somente na década de 30 foi atividades, propiciando um espaço para
vinculada à educação e fomento à leitura, apresentações, promovendo o trabalho de
conforme as reformas pautadas por Fernando pesquisa e produções documentais, a
de Azevedo e Anísio Teixeira (SALA; MILITÃO, educação para a autonomia do usuário, no qual
2015). o aluno tem consciência da sua necessidade e
sabe onde encontrar as informações
3. MAS AFINAL, QUAL É A IMPORTÂNCIA relevantes, tornando-a um espaço democrático,
DA BIBLIOTECA ESCOLAR? tanto na disposição de documentos como na
emancipação do saber buscar.
3

Previsto na Lei nº 12.244/10 que dispõe


A biblioteca da escola deve ser
sobre a universalização das bibliotecas nas compreendida sob um aspecto funcional,
desassociada de seu conceito arcaico de
instituições de ensino, tanto públicas quanto lugar ou reunião de coleções, ou ainda a
particulares, a biblioteca escolar vem ganhando modelos de comportamento. [...] Assim, a
biblioteca assume seu papel como núcleo
espaço como parte integral da educação e do de aprendizado. Sua relação com a escola
não se dá como parte de um todo
fomento à leitura. Segundo o Manifesto da fracionado, mas como um aparelho
UNESCO (1999, p. 1): formativo completo que em junção com
outros tem o objetivo de promover o
A biblioteca escolar (BE) propicia aprendizado em suas múltiplas facetas
informação e idéias fundamentais para (FERREIRA, 2018, p. 6).
seu funcionamento bem-sucedido na atual
sociedade, baseada na informação e no E você, já veio conhecer nosso espaço?
conhecimento. A BE habilita os estudantes

² Para conhecer mais sobre o conceito de biblioteca nos mosteiros e o trabalho dos copistas tem-se o romance “O nome
da Rosa” de Umberto Eco.
³ Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm

52
REFERÊNCIAS

CALDIN, C. F. Reflexões acerca do papel do bibliotecário de biblioteca escolar. Revista ACB:


Biblioteconomia em Santa Catarina, v. 10, n. 2, p. 163-168. 2005.

FERREIRA, L. M. A função da biblioteca na escola. Revista Informação na Sociedade


Contemporânea, Natal, v. 2, n. 1, jan./jun. 2018. Disponível em:
https://periodicos.ufrn.br/informacao/article/view/13302/9527. Acesso em: 15 abr. 2021.

SANTOS, J. M. O processo evolutivo das bibliotecas da Antiguidade ao Renascimento. Revista


Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 8, n.2, p. 175-189, jul./dez. 2012.

SILVA, J. L. C. Perspectivas históricas da biblioteconomia escolar no Brasil e análise da Lei


12.244/10. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 16, n. 2, p. 489-517.
2011.

TANUS, G. F. Da prática à produção do conhecimento: bibliotecas e biblioteconomia pré-científica.


Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Campinas, v. 16, n. 3, p. 254-273,
set./dez. 2018.

UNESCO. Manifesto IFLA/UNESCO para biblioteca escolar. 1999. Disponível em:


https://archive.ifla.org/VII/s11/pubs/portuguese-brazil.pdf. Acesso em: 14 abr. 2021.

Fonte: Juliana H. Penteado


games n a educação e sua
relação com os nativos e
imigrantes digitais

Clerison José de Souza Bueno¹


Graziela Caldeira Bueno²
Dariel de Carvalho³

RESUMO

O presente artigo discorre sobre a prática pedagógica. O estudo teve como


oportunidade de inclusão dos games no metodologia uma revisão bibliográfica em
contexto escolar e tem por finalidade propor diferentes fontes impressas e digitais, em
reflexões sobre as características presentes livros, dissertações e artigos científicos sobre
nos games que os tornam atrativos para alunos os assuntos abordados. Espera-se contribuir
Nativos Digitais, proporcionando a com a reflexão docente sobre o potencial uso
possibilidade de incluí-los no ambiente dos games como recursos pedagógicos
educativo como mais um recurso pedagógico interativos, estimulantes e envolventes para os
em prol da educação. Inicialmente são alunos Nativos Digitais, aproximando a prática
apresentadas características que definem e pedagógica das atividades habituais e
diferenciam Nativos e Imigrantes Digitais na prazerosas que esses alunos desenvolvem em
escola, na sequência a relação dos games e outros espaços sociais, assim como estimular o
suas características com os Nativos Digitais e uso das tecnologias digitais na educação.
como eles podem contribuir com a
aprendizagem desses alunos e para finalizar,
os desafios, necessidades e oportunidades que Palavras-chave: Games. Jogos digitais.
os professores Imigrantes Digitais podem Educação.Nativos Digitais. Imigrantes Digitais
encontrar ao incorporar os games em sua

¹ Docente de Inovação e Tecnologia no Colégio Chaminade e Mestre em Mídia e Tecnologia - UNESP/Bauru. -


clerison.bueno@chaminade.com.br
² Docente de Educação Infantil e Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Docência para a Educação Básica -
UNESP/Bauru. - grazielacal@gmail.com
³ Docente do Programa de Pós-graduação em Docência para a Educação Básica - UNESP/Bauru. Pós Doutorando em
Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem na UNESP/Bauru. - dariel.carvalho@unesp.br

54
1. INTRODUÇÃO aprendizagem diferenciada que proporciona
aos alunos (PRENSKY, 2012).
A discussão sobre a oportunidade de Para a concretização deste estudo, foi
inclusão de games como recursos pedagógicos
4
realizada uma pesquisa bibliográfica em
é de suma importância para a atualização do diferentes fontes impressas e digitais sobre o
modo como o ensino está sendo ofertado para tema em discussão e selecionados vários
a geração de alunos Nativos Digitais. O autores que discutem e pesquisam sobre os
objetivo desse artigo é propor reflexões sobre Nativos e Imigrantes Digitais e sobre
as características presentes nos games que os aprendizagem baseada no uso de games.
tornam atrativos para alunos Nativos Digitais,
proporcionando a possibilidade de incluí-los no 2. DESENVOLVIMENTO
ambiente educativo como mais um recurso
pedagógico em prol da educação. A maior parte dos alunos que estão hoje
Vivemos na sociedade do conhecimento, frequentando as escolas de Educação Básica
envoltos de tecnologias em todos os setores e de todo o país, têm acesso diário às
observamos a cada dia o avanço incessante tecnologias digitais em contextos variados e
das Tecnologias da Informação e Comunicação possuem habilidades para utilizá-las. Esses
que proporcionam infinitas possibilidades e alunos são denominados, Nativos Digitais, pois
benefícios para a vida em sociedade, nas mais nasceram e cresceram em contato direto com
diversas áreas, inclusive na educacional. tais tecnologias. (PALFREY; GASSER, 2011);
Desta forma, é extremamente relevante que (PRENSKY, 2001).
a escola reflita sobre as possíveis contribuições Os Nativos Digitais impressionam com suas
do uso das tecnologias digitais que tomam habilidades desde muito cedo, seja com uma
conta da vida de seus alunos em todos os foto super editada na internet por um jovem ou
espaços sociais em que estão inseridos, tendo por um vídeo engraçado com milhões de
condições de apoderar-se delas para usufruir visualizações no Youtube, criado e
de suas possibilidades em prol do processo compartilhado por uma criança. (PALFREY;
ensino-aprendizagem, garantindo que tenha GASSER, 2011).
sempre à disposição de discentes e docentes
recursos atuais e atrativos, que além de
diferenciais, apresentam alto potencial de uso
pedagógico.
Inserir recursos digitais, como os games, que
estão a todo tempo presentes no dia a dia de
alunos Nativos Digitais, é de suma importância,
podendo gerar resultados positivos para a
educação, uma vez que eles são recursos
muito interessantes pelo poder motivacional
que possuem e pela experiência de

⁴ Neste artigo os termos games, jogos e jogos digitais são utilizados como sinônimos.

55 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


e compondo o processo educativo.
Weinert (2013) ressalta a influência da
tecnologia e da ciência na sociedade,
apontando que ela também é muito perceptível
na educação e que suas contribuições podem
ser ainda maiores, se a escola se aproximar da
realidade do aluno, aquela que ele está
habituado fora do ambiente escolar.
Neste contexto, diante de uma escola que
precisa se renovar frequentemente para
atender uma geração de alunos sempre em
evolução e com necessidades educativas
diferenciadas, os jogos digitais merecem uma
atenção especial dos educadores (GOMES;
CARVALHO, 2008).
Os Nativos Digitais utilizam jogos digitais em
uma proporção muito grande, provocando
lucros em bilhões de dólares anualmente para
Esses alunos que estão hoje imersos no a indústria de games (PALFREY; GRASSER,
mundo digital são considerados como “falantes 2011). Segundo dados da Consultoria Newzoo,
nativos” da mesma linguagem presente na em seu relatório denominado Global Games
internet, em computadores e nos videogames. Market Report, o mercado global de jogos
Do mesmo modo que recebem essa atingiria em 2020 a marca de
nomenclatura existe um termo que denomina aproximadamente 160 bilhões de dólares, um
àqueles que não pertencem por completo ao aumento de mais de 9% comparado ao ano
mundo digital, mas que já incorporaram a anterior e que se espera para 2023 o marco de
tecnologia em sua rotina, os chamados 3 bilhões de jogadores no mundo, o que
Imigrantes Digitais (PRENSKY, 2001). evidencia a grande demanda e procura por
Na prática, os Nativos Digitais são aqueles esses games.
que estão habituados a acessar informações Ainda sobre esse aspecto, a Pesquisa Game
com agilidade, processam muitas coisas de Brasil em sua 8ª edição, publicada em março
uma vez e realizam inúmeras tarefas de 2021, demonstra em seus dados que “cada
simultaneamente e em rede, enquanto os vez mais as pessoas assumem a importância e
Imigrantes Digitais, optam por fazer uma coisa envolvimento dos jogos digitais em suas vidas,
por vez, aprender mais lentamente e e com isso ganham cada vez mais espaço no
individualmente (PRENSKY, 2001). cotidiano”. Na mesma publicação, a pesquisa
Na escola temos o encontro das duas apontou que atualmente 72% dos brasileiros
gerações, alunos Nativos e muitos professores participantes da pesquisa, afirmam ter o hábito
Imigrantes Digitais, cada qual com suas de jogar jogos digitais.
particularidades e especificidades, convivendo Com um número tão elevado de jogadores no mundo,

56
surge a necessidade de entender quais são as se não forem consideradas as diferenças de
características presentes nos games que os complexidade tecnológica e de gênero, existem
tornam tão convidativos, fazendo com que quatro elementos que são comuns a todos os
tantas pessoas dediquem seu tempo a eles. jogos: a meta, que propicia ao jogador um
Sobre esse aspecto, Prensky (2012, p.156) objetivo, as regras que que tratam da
aponta que existem elementos que criatividade e proporcionam o pensamento
combinados, prendem a atenção dos jogadores estratégico, os feedbacks em tempo real que
e os motivam a jogar. O autor menciona que os envolvem e dão motivação para continuar e a
jogos proporcionam prazer e satisfação, pois participação voluntária do jogador, que torna a
são uma forma de diversão para o jogador, são atividade mais prazerosa.
também uma forma de brincar, o que provoca Os games possuem ainda a capacidade de
um intenso envolvimento da pessoa que está estimular diversas habilidades, atitudes e
interagindo com ele e são, ainda, interativos, competências, preparando o jogador para lidar
permitindo a ação constante do jogador. com situações e problemas variados.
Os jogos possuem regras que dão estrutura, (MATTAR; NESTERIUK, 2016)
metas que motivam, além de apresentar Diante dessas características apresentadas,
feedbacks que promovem o aprendizado e as ressalta a oportunidade de explorar tais
vitórias que gratificam e alimentam o ego. Além elementos em contexto educacional e sobre
disso, eles são adaptáveis, o que proporciona isso Abreu (2012, p.34) afirma que “os games
um estado de fluxo (PRENSKY, 2012, p.156), têm muito a oferecer à educação, e nas mais
que segundo Csikszentmihalyi (1999), variadas formas”.
corresponde a uma absorção total, na qual o Considerando que as escolas atendem alunos
foco e energias são integralmente direcionadas Nativos Digitais e que eles interagem com
a uma atividade, o que leva uma pessoa a se games com muita frequência, movidos pelo
isolar, não percebendo o que está acontecendo conjunto de caraterísticas que eles possuem, e
a sua volta ou mesmo não vendo o tempo que essa atividade faz parte da rotina dos
passar. alunos em vários espaços sociais, surge uma
Os jogos também propõem conflitos, desafios, oportunidade de integrá-los ao ambiente
competições que geram adrenalina no jogador, escolar, utilizando-os como mais um recurso
envolvem a solução criativa de problemas e disponível em prol da aprendizagem.
promovem interação com outros grupos Os jogos digitais possuem potencial para
sociais. Eles também apresentam enredo e modificar abordagens utilizadas no processo
representações, que geram emoções em seus ensino-aprendizagem, oportunizando a
jogadores (PRENSKY, 2012, p.156). articulação de saberes de distintas áreas,
O autor apresenta todos os aspectos que assim como a construção ativa do
contribuem para gerar o interesse, prender a conhecimento dos alunos. (PAULA; VALENTE,
atenção e motivar os jogadores durante sua 2015). Seu uso no ensino é importante por
experiência de jogo. Ainda a respeito das proporcionar o uso de tecnologia digital na
características que definem os jogos, escola e por contribuir em mudanças
McGonigal (2012, p. 30-31) complementa que necessárias nas instituições escolares,

57 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Sobre esse aspecto, Prensky (2012, p.209)
explica que a aprendizagem baseada em jogos
digitais funciona por três razões: o
envolvimento que se tem ao se colocar a
aprendizagem em contexto de jogo, o processo
interativo de aprendizagem, de acordo com os
objetivos estabelecidos e por último, o modo
como os dois aspectos anteriores são unidos,
que podem ser de inúmeros modos, porém o
contextual é para ele, o melhor caminho.
Para o autor, quando colocado em contexto
educacional, os games precisam ter sua
finalidade bem definida, através dos objetivos
que se pretende alcançar. Sobre esse aspecto
Gros (2003) afirma que para terem fins
educacionais, os objetivos de aprendizagem
precisam ser bem definidos e eles precisam
ensinar os conteúdos curriculares, ou ainda
desenvolver habilidades e estratégias que irão
contribuir com a ampliação da capacidade
intelectual e cognitiva dos alunos. (apud SAVI;
promovendo o processo de inovação desses
ULBRICHIT, 2008).
espaços (XAVIER, 2016).
O uso de games educacionais a favor da
Os games envolvem aprendizagem, mesmo
aprendizagem é de suma importância, mas não
aqueles que não possuem viés educativo, pois
se pode pensar apenas no que o game em
possuem desafios variados e crescentes, têm
si proporciona, mas no modo que ocorre sua
dinamismo no mercado que lança novas
problematização e a construção de sínteses
propostas de jogos com grande velocidade,
que os alunos farão com seu uso, cabendo ao
garantindo que ao se jogar pela primeira vez, já
professor a postura de mediar e articular essas
se aprende a jogá-lo (ALBUQUERQUE;
problematizações para atingir seus objetivos
FIALHO, 2009). Sobre esse aspecto, o que
(GERALDO; CAVALHEIRO, 2018).
desperta o olhar de educadores e
Diante da oportunidade de utilizar os games
pesquisadores da área, é a forma como os
como recursos pedagógicos que podem
jogos são aprendidos, pois muitos deles
contribuir com o processo educativo, Paula e
apresentam desafios complexos, porém as
Valente (2015) acrescentam que não se pode
crianças sentem-se motivadas a superá-los e
pensar que apenas a inclusão dos jogos
desprendem energia suficiente para isso, sem
digitais pode garantir a aprendizagem
precisar de manuais que ensinam os
significativa do aluno, pois eles sozinhos não
procedimentos, elas simplesmente aprendem
são ferramentas mágicas. Sobre esse aspecto,
como fazer (GEE, 2007 apud ALBUQUERQUE;
Xavier (2016) acrescenta que o game sozinho
FIALHO, 2009).

58
não possibilita a aprendizagem do aluno, sendo professor se mantiver com linguagem da “era
necessária a interação e discussão com o pré-digital” tentando ensinar alunos que falam
professor sobre os conceitos, permitindo que o uma linguagem totalmente diferente, isso pode
aluno esteja preparado para cumprir os ser um problema.
desafios propostos pelo jogo através da Sobre os Imigrantes Digitais, Souza (2013)
mediação do professor. sugere que eles podem se adaptar a uma nova
Nesse contexto, o educador possui papel realidade, valorizando suas vivências no
importante como mediador da construção de ciberespaço. Ele evidencia ainda que podem
conhecimento a partir do uso de tecnologias ser divididos em Imigrantes Digitais Imersos,
digitais, precisando existir o entendimento dele que são aquelas pessoas que nasceram antes
sobre as potencialidades e dificuldades de da internet, mas que utilizam com frequência
seus educandos, em especial quando falamos as tecnologias digitais e redes sociais, e os
sobre o fracasso em um determinado ponto de Imigrante Digitais não imersos, que ao
um jogo, pois a sua atuação precisa ser contrário dos anteriores, as utilizam com pouca
construtiva, agindo como facilitador do frequência.
processo educativo. (ALMEIDA; VALENTE, Desta forma, como apontado pelos autores, é
2011 apud PAULA; VALENTE, 2015) possível ser um professor Imigrante Digital
Ao se pensar no papel do professor nesse Imerso, que utiliza as novas tecnologias, que
processo de inserção dos games como conhece sobre games e fala a mesma
recursos educacionais, estando apto para linguagem digital que os seus alunos nativos.
interagir, planejar e mediar o seu uso, se faz Sobre a integração dos games na
necessário retomar alguns aspectos sobre os educação, Paula e Valente (2015) explicam
Imigrantes Digitais, representados por muitos que ela depende dos educadores, que devem
docentes em exercício nas escolas. Prensky conhecer a essência geral da cultura dos
(2001) já evidenciava as diferenças videogames ou simplesmente não terem
encontradas entre alunos Nativos Digitais e nenhum preconceito e se disporem a aprender
docentes Imigrantes Digitais, ressaltando a mais sobre esse universo.
necessidade de aproximação entre eles. Para Prensky (2012), quando explicitado o
Por mais que as tecnologias digitais estejam papel do professor que utiliza a aprendizagem
presentes na rotina de todos, Nativos ou baseada em jogos digitais, não existe muita
Imigrantes, existem alguns “sotaques” que novidade, pois a maioria já desempenha há
Prensky (2001) relata que evidenciam o tempos, de um jeito ou de outro, o que se
esforço do Imigrante Digital com relação ao uso espera dele. O autor elenca cinco papéis que o
de tais tecnologias, como por exemplo, professor precisa desempenhar nessa tarefa,
gerando a impressão de um documento digital sendo motivador, estruturador de conteúdo,
para leitura, revisão ou ainda telefonando, facilitador do processo de consolidação,
questionando sobre o envio ou recebimento de tutor/guia e produtor. Para ele, todos esses
um e-mail. Para ele, mesmo encarando com papéis já fazem parte da rotina de ensinar do
humor essas situações, existe uma professor nas mais diversas atividades que
preocupação com esse “sotaque”, pois se o propõe, diferenciando apenas, que nesse novo

59 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


contexto, o olhar será para os jogos. repensar o modo como está recebendo e
Sobre a inclusão dos games na escola, formando os alunos Nativos Digitais, para
Albuquerque e Fialho (2009) enfatizam que aproveitar ao máximo o potencial que eles
para a sua utilização é necessário pesquisar, possuem e usar isso a favor de sua
incentivar os professores, fornecer aprendizagem. É importante aprender
equipamentos e apoio para o planejamento e constantemente como lidar com esses alunos,
execução das propostas. Além disso, para uso sobre suas experiências com pesquisas,
crítico das novas tecnologias na escola é de games e interações online, pois
suma importância investir na formação dos compreender o significado que tudo isso possui
professores para que eles tenham o para eles é um importante passo para uma
conhecimento necessário para incorporar educação centrada no aluno, que o coloca
novos recursos em seus planejamentos e como sujeito ativo no processo de aprender,
possam implementar práticas inovadoras e proporcionando a todos um significado mais
transformadoras em seu fazer pedagógico efetivo do que é de fato viver, se desenvolver e
(XAVIER, 2016) aprender na era digital (MEDEIROS; BRITO;
Apesar dos desafios para a adoção MERCADO, 2012).
simplificada dos games pelos professores, eles
trazem benefícios variados e unem práticas 3. CONCLUSÃO
educativas com recursos tecnológicos em
ambientes lúdicos, estimulando e enriquecendo Tomando por base todas as características
as atividades pedagógicas (SAVI; ULBRICHIT, apresentadas sobre os games e sobre o poder
2008). de motivação e envolvimento que eles
Paula e Valente (2015) destacam que os representam, principalmente para os alunos
games não são a solução de todos os Nativos Digitais, e entendendo-os como
problemas da educação, não são para todas as recursos que podem favorecer a aprendizagem
situações e não são imprescindíveis para de conteúdos escolares e ao mesmo tempo
promover o sucesso educacional, porém, como atender as necessidades básicas da linguagem
mostram Geraldo e Cavalheiro (2018), o uso de digital, predominante nesses alunos, conclui-se
games no processo educativo é um recurso de que os games apresentam grande potencial
ensino-aprendizagem convergente com as educativo, já que eles permitem a união do que
expectativas dos alunos Nativos Digitais. Além deve ser ensinado no currículo escolar com a
disso, uma proposta educativa que busque forma com que os alunos mais gostam de
promover a aprendizagem dos alunos, requer aprender, que é brincando.
um professor preparado, alunos envolvidos no De fato, para os docentes Imigrantes Digitais,
processo, espaço físico e tecnológico que incluir os games em sua rotina escolar é um
promovam a inovação e a problematização dos desafio, porém pode ser superado através de
saberes, a partir da realidade do aluno, para sua vivência digital e envolvimento no universo
que sua aprendizagem seja significativa dos games, seja se capacitando para isso ou
(XAVIER, 2016). interagindo com eles, abrindo novos horizontes
A escola precisa sempre se renovar e para incluir recursos digitais diferenciados e

60
inovadores, que atendem aos anseios de seus bibliográfica en diferentes fuentes impresas y
alunos Nativos Digitais. digitales, en libros, disertaciones y artículos
O processo de ensino e aprendizagem de científicos sobre los temas tratados. Se espera
qualidade não depende exclusivamente do uso contribuir a la reflexión docente sobre el
de games, podendo ocorrer sem eles, porém, potencial uso de los juegos como recursos
como afirmam Paula e Valente (2015) eles pedagógicos interactivos, estimulantes y
podem trazer inúmeros benefícios para esse atractivos para los estudiantes Nativos
processo, transformando a educação, Digitales, acercando la práctica pedagógica a
favorecendo a construção de conhecimento las actividades habituales y placenteras que
com alunos mais ativos e preparando-os para a estos estudiantes desarrollan en otros espacios
vida em sociedade, na qual as tecnologias sociales, así como estimular el uso de
digitais estão presentes massivamente. tecnologías digitales en la educación.

Palabras clave: Games. Juegos digitales.


Games en la educación y su relación con
Educación. Nativos Digitales.Inmigrantes
los Nativos Digitales e Inmigrantes Digitales
Digitales

Resumen: Este artículo discute la oportunidad


de incluir games en el contexto escolar y tiene
como objetivo proponer reflexiones sobre las
características presentes en los juegos que los
hacen atractivos para los estudiantes Nativos
Digitales, brindando la posibilidad de incluirlos
en el ámbito educativo como un recurso
pedagógico a favor de la educación.
Inicialmente, se presentan características que
definen y diferencian a los Nativos e
Inmigrantes Digitales en la escuela, siguiendo
la relación entre los juegos y sus
características con los Nativos Digitales y cómo
pueden contribuir al aprendizaje de estos
estudiantes y finalmente, los desafíos,
necesidades y oportunidades que pueden
encontrar los docentes Inmigrantes Digitales al
incorporar juegos en su práctica pedagógica. El
estudio tuvo como metodología una revisión

61 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


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A ROBÓTICA EDUCACIONAL COMO
FERRAMENTA NO ENSINO DE
COMPETÊNCIAS
Renato Ramos¹

¹ Professor de Tecnologia- Colégio Chaminade, Bauru/SP.


renato.ramos@chaminade.com.br

Vivemos em um mundo de constantes Um dos grandes diferenciais da Robótica


mudanças e avanços tecnológicos, onde cada Educacional é fazer com que atividades e
vez mais especialistas superinformados dão conteúdos possam ser colocados em prática,
lugar a profissionais com grande flexibilidade, dando maior significado aos alunos. Por meio
sociabilização e demais competências. deste processo, é fácil notar que estes não
Porém, como podemos desenvolver estas assumem o papel de simples usuários da
competências e habilidades na instituição tecnologia, e sim, inventores e criadores de
escolar? Inúmeros projetos podem ser listados soluções para determinados desafios. O
com o intuito de auxiliar no desenvolvimento “Aprender Fazendo” é a base do
destas, porém poucos possuem uma interação Construcionismo de Seymour Papert.
tão evidente com a tecnologia como a Robótica A busca do construcionismo é alcançar meios
Educacional. de aprendizagem fortes que valorizem a
Partimos do pressuposto que nossas crianças construção mental do sujeito, apoiada em suas
são nativas digitais, isto é, nasceram no mundo próprias construções no mundo. Dizer que
da tecnologia e possuem grande facilidade e estruturas intelectuais são construídas pelo
entendimento sobre ela. Não é raro aluno, ao invés de ensinadas por um professor
observarmos bebês fazendo uso de tablets não significa que elas sejam construídas do
hoje em dia, para estes casos, temo que o nada. Pelo contrário, como qualquer construtor,
tablet tenha substituído a chupeta, com o a criança se apropria, para seu próprio uso, de
intuito de acalmar a criança no momento do materiais que ela encontra e, mais
choro. Porém se observarmos pelo lado da significativamente, de modelos e metáforas
curiosidade e descoberta, o papel da sugeridos pela cultura que a rodeia (PAPERT,
tecnologia tem sua contribuição no 1986).
desenvolvimento da criança. Grande parte das nossas crianças ainda são

64
submetidas as “transmissões de Inúmeras são as competências e habilidades
conhecimento”, por meio de exposições trabalhadas na Robótica Educacional, dentre
didáticas repetitivas, causando uma grande elas destaco:
desconexão entre a escola e suas reais Saber identificar possibilidades, direitos,
necessidades. Sabemos que existem inúmeros limites e necessidades;
fatores que podem impedir uma educação de Saber criar e gerenciar projetos em equipe;
qualidade, porém temos que considerar que Saber cooperar, agir em sinergia e partilhar
não existe a possibilidade de abrirmos a liderança;
cabeça do aluno e enchermos de Saber gerenciar e superar conflitos.
conhecimento, para que ao final do bimestre
possamos medir a quantidade de conteúdos O papel do professor é fundamental para o
aprendidos. sucesso da robótica educacional, que assume
O desenvolvimento de competências por meio a função de mediador durante as aulas, isto é,
da Robótica Educacional deve considerar todas o responsável por conduzir os alunos no
as áreas do conhecimento, sendo que por meio processo ensino-aprendizagem.
de um ambiente motivador e diferenciado, A mediação, de acordo com Reuven
alunos, em equipe, possam discutir N formas Feurstein, é um diálogo entre uma pessoa com
de resolução de um problema. funções cognitivas deficientes ou
Lembro-me de presenciar um fato muito insuficientemente desenvolvidas, e outra
interessante em uma visita à instituição pessoa com muita experiência e intenção de
escolar, onde ficou claro o significado da aula modificar ou aperfeiçoar essas funções. Vale
para o aluno. A professora abordou em sala de ressaltar que motivação, confiança e respeito
aula a competência “prontidão para ouvir”, que são pontos importantes para um melhor
durante uma discussão dos pais em seu desenvolvimento deste processo.
automóvel, o filho os interrompeu e questionou Por fim, gostaria de destacar que ao
o pai sobre a competência aprendida na analisarmos os currículos dos EUA e Europa,
escola, causando certo espanto e notamos a presença da Tecnologia na
consequentemente um questionamento ao Educação em duas grandes áreas: Uma delas,
professor. tem a ver, exclusivamente com a área
Este é um exemplo muito simples de como computacional, ou seja, utilização de
podemos caminhar em consonância às ambientes virtuais de aprendizagem (como a
necessidades e demandas da escola, internet) e o uso de ferramentas para apoiar o
respeitando as diretrizes nacionais de trabalho escolar. Essas são vistas como
educação. Queremos que nossas crianças Ferramentas tecnológicas, utilizadas para
tornem-se cidadãos críticos e estejam aptos ao facilitar o ensino. A outra grande área é aquela
mercado de trabalho, porém com métodos que está ligada ao próprio Desenvolvimento
tradicionais de ensino estamos deixando de Tecnológico e envolve o processo de criação,
descobrir os tesouros dentro de cada aluno, ou levando o aluno a construção do conhecimento
até postergando uma oportunidade de educar e por meio de uma atitude ativa, utilizando
saber lidar com situações adversas. recursos físicos para projetar e construir

65 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


modelos no mundo real e possibilitando que o REFERÊNCIAS
professor integre seus conteúdos por meio do
fazer. FEUERSTEIN, Reuven; KLEIN, Pnina S.;
TANNENBAUM, Abraham J. Mediated learning
O trabalho com Educação Tecnológica
experience(MLE): theoretical, psychosocial and
capacita os professores, viabilizando um novo learning implications. London: Freund Publishing
agir no ensino e tornando o processo educativo House, 1991.
mais atraente. Esse trabalho não tem fim em si
mesmo, não se trata do professor ensinar PAPERT, Seymour. Logo, computadores e
educação. São Paulo: Brasiliense, 1980.
tecnologia.
Os resultados certamente aparecem ao
decorrer das atividades, não só em relação aos
conteúdos, mas também na área pessoal e
social, por meio das competências e
qualidades pessoais.

Feliz aquele que

transfere o que sabe e

aprende o que ensina

- Cora Coralina
A Tecnologia aliada ao processo
de ensino-aprendizagem
GIORDANO JOSÉ ASSIRATI¹

A era digital no âmbito educacional é uma


realidade.
Existem muitas possibilidades que se abrem
para toda a comunidade escolar, mas esse
processo deve ser baseado em critérios e
objetivos claros para que possamos
desenvolver nosso planejamento pedagógico e
tornar a tecnologia uma aliada desse processo.
No colégio Chaminade, dividimos o
departamento de Tecnologia em duas partes –
Tecnologia Educacional e Tecnologia da
Informação.
Para entender um pouco mais essa divisão e
como atuamos nessas duas frentes, citamos as
principais ações desenvolvidas no colégio.

¹ Coordenador de Tecnologia Educacional - Colégio Chaminade, Bauru/SP.


giordano.assirati@chaminade.com.br
Tecnologia Educacional – Desafios do Século XXI

A Tecnologia Educacional tem como objetivo


principal aliar recursos e ferramentas
tecnológicas ao processo de ensino-
aprendizagem.
Área de TI - O colégio Chaminade trouxe a Com base nas novas habilidades e
proposta de uma escola inovadora atentando competências para o século XXI, procuramos
primeiramente aos aspectos técnicos de uma elaborar propostas junto a equipe pedagógica e
boa infraestrutura de rede, hardware e sempre em parceria com os professores de tecnologia
buscando boas parcerias, garantindo assim a para que, em meio aos recursos disponíveis -
melhor qualidade nos serviços educacionais. Imagens, Vídeos, Infográficos, Apresentações,
Contamos com uma estrutura de rede de Impressão 3D, Podcasts, Jogos, Gamificação,
computadores em fibra ótica, desde um link softwares educacionais, Robótica, Laboratórios
dedicado, interligando todos os blocos e salas de Tecnologia e Comunicação – as habilidades
de aulas, garantindo a maior capacidade de cognitivas e socioemocionais possam ser
transmissão de internet aos equipamentos de desenvolvidas e aprimoradas.
sala de aula e de uso individual, tais como: Imagens Educação Infantil – trabalhando o
Tecnologia WIFI Aruba, Servidores, Desktops, pensamento computacional com tabuleiro e
notebooks, impressoras, Tablets, Tv´s, sistema scracth como recursos tecnológicos, sala
de refrigeração, controle de veículos, telefonia de sombras e luzes.
e CFTV. Ensino Fundamental I – Gamificação e
Equipamentos para sala de aula: Tv´s, WIFI, Carismas / impressora 3D
Notebooks (1 por aluno no EF2 e EM) e 5 Ensino Fundamental II – Aulas do Renato
laboratórios móveis com notebooks/tablets Ensino Médio – Impressora 3D nos projetos
para o EF1. de Technê
Para a segurança da informação, dispomos Laboratório de comunicação
de servidores de autenticação que atende Projeto CE7E – Fotos de projetos Maker
sistemas e pontos de rede WI-FI, bem como, Há pouco tempo, muito se falava sobre o uso
backup diário e antivírus instalado em todo o excessivo de tecnologia e como isso afetava e
parque de computadores, além de distanciava as pessoas, em 2020 o uso de
procedimentos em cumprimento à LGPD. novas tecnologias tornou-se essencial para as
Dentre as atribuições de coordenação e escolas e teve um papel fundamental para
gerenciamento dos processos acima, estamos aproximar os professores dos alunos.
atentos a prestar todo o suporte técnico para Partimos do ensino remoto e já estamos no
nossa comunidade de escolar, desde novos formato híbrido, não sabemos quais são as
cadastros, utilização de sistemas e recursos de próximas mudanças, mas sabemos que
comunicação para aulas on-line. podemos enfrentá-las.

Revista Chaminade | Ed. 01 V.01 68


Teatro de objetos no Ensino Fundamental:
da intimidade para a rede

Rafael Resende Marques da Silva¹

O ensino de teatro sofreu transformações Como ensinar teatro online? Como trazer a
radicais com a chegada da pandemia da experiência de um processo criativo na
COVID 19 em 2020 no Brasil, assim como formação de educandos do 6os ao 9os ano do
todas as nossas vidas. As metodologias e os ensino fundamental II no colégio Chaminade de
princípios do ensino de teatro e das artes da forma remota? Questões que continuam sem
cena foram ressignificados e transformados resposta, mas que ficam em suspenso diante
diante de uma realidade de restrições físicas e da realidade que se impõe soberana: as aulas
espaciais: isolamento, ausência do espaço não pararam, e sim continuaram mesmo
físico da sala de aula e aulas remotas. remotamente.
A arte do encontro presencial no teatro foi O colégio teve a opção/estrutura tecnológicas
reduzida a sua célula mínima da relação entre e humanas para continuar com o ensino de
ator e espectador abordada por Jerzy teatro mesmo com a paralisação das aulas
Grotowski (1992) e foi mediada pelo presenciais o que permitiu a pesquisa de novas
computador e a internet. E sem essa formas de ensino teatral: o que não ocorreu em
intermediação não poderíamos ter vivido esses outras instituições. Assim, as aulas eram
experimentos pedagógicos teatrais. Isso realizadas uma vez por semana de forma
mesmo, nossas aulas passaram a ser um remota por meio da plataforma Teams1 da
experimento nunca antes realizado e colocado Microsoft com duração de 50 min para até 25
a testes e ensaios todos os dias. pessoas. Os educandos puderam levar para
casa os notebooks fornecidos pela escola para
acessarem a plataforma online.
Uma alternativa foi o ensino de teatro de
objetos onde cada um poderia utilizá-los de
suas casas na criação de uma cena
apresentada no formato de vídeo gravado por

¹ O Teams é um software da Microsoft desenvolvido para


a colaboração de equipes. Os alunos são livres para
usar as ferramentas da Microsoft com as quais estão
mais familiarizados (Word, PowerPoint, OneNote e
Excel), além de acessar sites e outros aplicativos de
terceiros que possam ser compartilhados entre as
pessoas envolvidas.

¹Professor de Teatro/Artes - Colégio Chaminade


rafael.marques@chaminade.com.br
seus próprios celulares ou “ao vivo” por meio do teatro de máscaras passando pelo teatro de
da plataforma da Microsoft de forma síncrona. sombras. Isto é, manifestações artísticas
Tudo para evitar o contágio da doença e a presentes nas origens das civilizações
possiblidade de realização das aulas sem sair humanas. Todavia, o teatro de objetos surgiu
de casa. com data precisa na década de 1980 na
Inicialmente, a história da origem do teatro de França como destaca a citação.
objetos foi introduzida por meio de textos,
Eu estava lá quando a expressão foi criada,
vídeos, imagens e exemplos realizados pelo posso até precisar a data, foi no dia 2 de
professor da disciplina. A visualização de março de 1980 [...] falávamos de nossos novos
espetáculos, Le Pêcheur, Le Petit Théâtre de
alguns vídeos no Youtube de festivais, artistas Cuisine, Paris-Bonjour. Espetáculos de mesa
e grupos ligados ao teatro de objetos foram para os quais nós não encontrávamos uma
definição. Eram minúsculas bricolagens,
importantes para ilustrar a proposta de aula. contando histórias com objetos encontrados,
Consequentemente, um curto, porém para no máximo 50 pessoas [...]. Fazíamos
associações de ideias. Katy sugeriu: “teatro de
significativo, processo criativo foi desenvolvido objetos”, e nós ficamos desanimados porque
culminando com a apresentação online de “teatro” remete a grandes textos, o que nos
causava medo, e “objeto” é frio, falta-lhe a
cenas elaboradas pelos estudantes. vida. Mas entre a grandiosidade da palavra
Esta linguagem cênica foi conhecida pelo teatro e a pequenez do objeto, há um
precipício. E para preencher este abismo,
educador em 2010 no Festival Internacional de necessita-se da energia poética do espectador.
Teatro de Objetos (FITO) e experimentado por (CARRIGNON; MATTEOLI, 2009, p. 25)
ele durante seus estudos de mestrado na
A experiência vivida nos anos 80 por artistas
Universidade Lille 3 no norte da França durante
franceses trouxe um novo olhar para coisas até
uma oficina sobre o tema em 2011. Essas
2 então sem vida e mesmo esquecidas diante de
experiências marcaram a trajetória artística e
uma utilização cotidiana. Porém, o uso de
pedagógica do professor e ajudaram no
forma poética e teatral trazem vida para objetos
desenvolvimento das aulas no colégio
inanimados produzidos em larga escala que
Chaminade.
possuem funções muito práticas para as
O teatro de objetos é recente se pensarmos
pessoas. Objetos do dia a dia ganham vida
na arte teatral que vem da Grécia antiga no
com a manipulação dos atores/atrizes-
ocidente ou mesmo as marionetes e teatros de
estudantes construindo situações, relações,
sombras no antigo Egito. Ele faz parte de um
espaços de forma poética e muito divertida
ramo do teatro ligado ao Teatro de Formas
para quem faz e assiste. O desafio estava
Animadas que engloba as marionetes de
colocado para ambos os pólos do ensino–
diversas formas e maneiras de manipulação,
aprendizagem: o educador e seus educandos.
Isto é, criar de forma remota desenvolvendo
² O FITO, Festival Internacional de Teatro de Objetos,
ocorreu entre os dias 06 a 09 de Maio de 2010 em Belo
uma dramaturgia, manipulação, voz, história,
Horizonte/MG. Durante quatro dias o público conferiu cenário para as cenas.
espetáculos diversificados na linguagem do Teatro de
Objetos. No total, o festival promoveu 75 apresentações
com 13 companhias oriundas do Brasil, Alemanha,
Argentina, Espanha, França e Holanda.

Revista Chaminade | Ed. 01 V.01 70


Os objetos que num primeiro momento nos A aceitação das propostas feitas pelo
parecem simples coisas para serem usadas,
em cena se transformam, surgem carregados professor aos educandos e a diversão com os
de ambiguidades e de simbologias. [...] Um objetos foram pontos positivos para superar as
simples objeto do dia a dia, no palco [...]
assume uma carga de significados. próprias angústias do professor, que nunca
Transforma-se em enigma. E à medida que é havia ensinado teatro de forma remota, e para
animado, vai adquirindo características
humanas. (AMARAL, 2011, p. 213). alentar os estudantes da solidão de suas casas
e a ausência dos colegas. Os resultados
As histórias foram surgindo por meio das mostraram a força do teatro e principalmente
formas dos objetos escolhidos em casa pelos do teatro de objetos, pois permitiu desnudar a
estudantes que davam vida a eles justamente intimidade de suas casas por meio de objetos
tornando-os "humanos" ou animados. Os tornando-os vivos e cênicos mesmo num
estudantes puderam explorar histórias ambiente frágil de conexões instáveis da rede
clássicas, inventadas ou reais presentes em de internet.
suas famílias. Canetas coloridas tratavam de
bullying; pedras passavam por aventuras REFERÊNCIAS
nunca antes imaginadas. Um estojo da escola
virava uma casa onde saiam diversas pessoas AMARAL, A. M. Teatro de Formas Animadas:
Máscaras, Bonecos e Objetos. São Paulo:
com andares e maneiras de encarar a vida Editora da Universidade de São Paulo, 2011.
diferentes. Lutas entre uma borracha e um
CARRIGNON, C.; MATTEOLI, J-L. Le théâtre
apontador de lápis ganhavam a dimensão de
d'objet, à la recherche du théâtre d'objet.
um grande filme de ação para os autores e o Paris: Themaa, 2009.
público, Star Wars, por exemplo. Esses são
GROTOWSKI, J. Em busca de um teatro
alguns exemplos do que foram desenvolvidos pobre. Tradução Aldomar Conrado. 4. ed. Rio
como resultados das aulas. de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1992.
PROFESSOR X EDUCANDOS:
APROXIMAÇÃO POR MEIO DA
PRÁTICA MUSICAL DURANTE
A PANDEMIA
Thiago Henrique Xavier Rodrigues¹

O texto a seguir apresenta o relato de experiência de práticas


pedagógicas da área de arte, especificamente das aulas de
música desenvolvidas com educandos do Colégio Chaminade
Bauru, no período de distanciamento educacional, em
decorrência da pandemia da covid-19, durante o ano de 2020.

¹ Professor de Artes - Colégio Chaminade, Bauru/SP.


thiago.rodrigues@chaminade.com.br
1. APRESENTAÇÃO DO CONTEXTO Percebe-se que a organização curricular
proposta pelo Colégio segue o movimento de
O Colégio Chaminade Bauru, único no Brasil, ampliação da relação entre os conteúdos,
faz parte de uma rede educacional mundial. É educandos e educadores. Esta relação
um centro educacional católico da Companhia dinâmica entre forma, conteúdo e destinatário
de Maria-Marianistas, sustentada na pedagogia (MARTINS, 2013) estabelece o processo de
marianista, com o intuito de ofertar uma ensino e aprendizagem.
educação integral e de qualidade. (COLÉGIO Para tornar a experiência educativa positiva e
CHAMINADE, 2020) que as aprendizagens sejam significativas aos
Na perspectiva da formação do ser humano educandos, a contextualização é presente no
em sua integralidade, o Colégio tem como planejamento e efetivação das práticas
missão: pedagógicas no dia a dia.
Especificamente na área das linguagens, a
Educar crianças e jovens para que se
tornem plenamente realizados como arte é compreendida como componente
homens e mulheres que encontram o curricular de grande importância, pois esta
sentido de sua vida em uma visão cristã da
pessoa e do mundo. Fiéis ao seu carisma estimula o desenvolvimento de uma pessoa,
fundador, as escolas marianistas realizam ajudando-a a abrir seus pensamentos,
seu trabalho na perspectiva do diálogo fé-
cultura-vida e permanecem abertas a todos podendo fazer com que vejam as coisas de
como um serviço da Igreja à sociedade em formas diferentes, ampliando ainda mais seu
que vivem e se esforçam para estender a
tarefa educativa e evangelizadora a todos senso crítico e sua criatividade, e até mesmo
os membros de sua comunidade educativa na hora de expressar suas emoções. Ajudando
(COLÉGIO CHAMINADE, 2020, online)
não apenas aqueles que praticam, mas
De modo a concretizar a proposta também seus observadores, e, assim, o
educacional, o Colégio, por meio dos seus Colégio Chaminade estruturou o
Educadores, organiza as ações pedagógicas desenvolvimento de práticas pedagógicas por
para promover o desenvolvimento integral, nos área, sendo elas: Artes visuais, a Música e o
diferentes níveis de ensino: Teatro, com Educadores específicos para cada
Educação Infantil: despertar a área.
curiosidade, construir novas
aprendizagens, potencializar o
desenvolvimento. 2. O DESAFIO DE TRABALHAR MÚSICA EM
Ensino Fundamental I e II: desenvolver MEIO À PANDEMIA
ao máximo as potencialidades dos
educandos nos aspectos cognitivo,
social, corporal, emocional e espiritual. Com a suspensão das aulas presenciais no
Ensino Médio: aprofundar as
potencialidades dos educandos nos ano de 2020 devido à pandemia de Covid-19,
aspectos cognitivo, social, corporal, os sistemas de ensino se depararam com a
emocional e espiritual, possibilitando o
pleno desenvolvimento de seu Projeto necessidade repentina de encontrar meios
de Vida (COLÉGIO CHAMINADE, 2020, pedagógicos emergenciais para a continuidade
online)
do processo de ensino e aprendizagem dos
Educandos. No Colégio Chaminade não foi
diferente. Um grande desafio foi imposto aos

73 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Educadores, que apesar de ter provocado Na tentativa de engajamento dos educandos,
muita insegurança no início, certamente trouxe no primeiro momento, foi realizada uma
reflexões importantes acerca de instrumentos dinâmica de apresentação para aproximação e
tecnológicos sem perder de vista a melhor conhecimento dos participantes,
imprescindível relação Educador e Educando. seguida de uma breve explanação da atividade
Desta forma, a música, na área da arte, se que estava sendo iniciada no mês de abril de
apresentou como agente aproximador para dar 2020. Foi dada aos educandos a oportunidade
próprio corpo. Assim, com base na experiência de comentar sobre suas expectativas e
continuidade a escolarização em tempos tão ansiedades. Ninguém falou nada, aquele
desafiadores. silêncio e alguns risos. De repente, um
Diante do contexto apresentado, evidencio o educando de, aproximadamente 13 anos, disse
objetivo do relato retratado, que versou sobre a que gostava de ouvir funk. Nesse momento,
possiblidade de refletir sobre a importância em ouvi e pedi para que cantasse um trecho de
se dialogar, compartilhar, ensinar, aprender e uma música que mais gostava. Então,
respeitar a referência musical como ponto começou a cantar e fazer um
fundante, com crianças e adolescentes. acompanhamento de ritmo com o corpo. A sala
Adianto que o resultado de tal reflexão nos virtual toda desmoronou e os alunos
permitiu confirmar que a prática da educação começaram a rir. Disse a ele que a letra não
musical, e seus consequentes benefícios, era muito apropriada para aquele ambiente,
como a convivência, a interação e a autoestima mas que a música tinha um ritmo muito rico e
que perfazem importantes veículos de contagiante. Eu também disse para guardar
aprendizado musical e recurso de expansão de esse ritmo para outro momento, pois seria
linguagem humana como atividade de muito útil.
socialização. Em sequência, foram realizadas várias
atividades sonoras, a fim de despertar,
3. DESENVOLVIMENTO inicialmente, a sensibilidade auditiva e a
atenção, tão necessárias para a apropriação
Durante as aulas remotas na quarentena, dos conhecimentos de diversas áreas.
constatou-se que em nenhum momento havia Comecei com exercícios de alongamento,
consentimento dos educandos para que respiração, glissandos, vocalizações com notas
estivessem ali com a intenção de aprender ascendentes e, e um cânone bem simples:
música. Então, por onde começar? O que Tudo que eu canto vale a pena. Entretanto,
ensinar? Como diz Brandão (2005, p. 34): nesse momento, percebi que todos esses
Você me mostra você me ensina como é que exercícios foram em vão, os educandos não
você vive, como é que você sente, como é que prestaram atenção, ficaram rindo, fazendo
você pensa, como é que você faz isso e aquilo.
E eu mostro e ensino a você como é que eu piadas, debochando uns com os outros, e
sinto e penso, como é que eu vivo e faço também percebi que, naquela ocasião, não
aquilo e isso. Aí então seria possível
construirmos juntos uma maneira de ser e de seria importante fazer todos aqueles exercícios
viver, um jeito de sentir e de pensar, uma técnicos.
forma de fazer e criar que sejam mais nossos
de verdade. Que sejam mais criativos.

Revista Chaminade | Ed. 01 V.01 74


Conhecer a técnica é tão importante quanto Por que não perguntar a elas o que sabem
sobre o seu próprio modo de vida? Porque não
conhecer o público, pois assim é possível dialogar com e entre elas sobre o que vivem e
estabelecer a relação teoria e prática e o que desejam, antes de investiga-las ou de
realizar ‘experimentos’ sobre elas? Porque se
implementar ações contextualizadas. reúnem para fazer música juntos? O que
Durante algumas aulas, passei a notar certo esperam aprender? O que tocam? O que
querem tocar? O que tocam? O que ensinam?
desinteresse dos alunos. Com isso, os O que aprendem? Como ensinam e
educandos começaram a faltar nas aulas de aprendem?
música. Então, veio-me à cabeça aquele
educando de apenas 13 anos, cantando e, ao Então, para envolvê-los no processo fiz as
mesmo tempo, executando um ritmo com o seu seguintes perguntas: O que mais gostam de
próprio corpo. Assim, com base na experiência fazer em seu dia a dia? Qual a razão de
da primeira aula, refleti sobre a atuação estarem aqui? Vieram várias respostas. A
vivenciada por todos na aula e resolvi adotar o maioria dos educandos relatou que passavam
ritmo corporal no repertório das aulas. Aos o dia brincando, em frente ao computador e
poucos, consegui trazer a maioria dos jogando vídeo game.
educandos para perto de mim, que devagar, Cabe ressaltar as atividades-guia proposta a
foram interagindo e despertando certo partir da periodização do desenvolvimento
interesse pelas músicas junto ao ritmo corporal. humano, com o apoio da Teoria Histórico-
Veio a ideia de começar uma canção para Cultural.
chamar a atenção dos educandos. Elenquei A comunicação emocional direta com o adulto
é a atividade dominante no primeiro ano de
como recurso pedagógico a música intitulada vida. No período primeira infância, é alçada ao
“Deixa isso pra lá”, de Jair Rodrigues, que foi posto de atividade dominante a atividade
objetal manipulatória. Os períodos seguintes
interpretada através do canto e da percussão são marcados pelo jogo de papéis e atividade
corporal. de estudo. Por fim, na adolescência, a
comunicação íntima pessoal e a atividade
Imediatamente, alguns alunos se envolveram, profissional de estudo são as atividades que
juntando-se ao educador na interpretação guiam o desenvolvimento psíquico
(PASQUALINI; TISUKAHO, 2016, p 108).
ritmada, outros ainda permaneciam tímidos e
quietos, enquanto alguns continuavam a
demonstrar falta de interesse. Percebi que
ainda não era o suficiente para engajá-los na
aula de música e nem era o que eles queriam e
o que precisavam naquele momento. Resolvi
me abrir e conversar com as crianças,
problematizando a situação, colocando-os
como protagonista para a reflexão da situação.
Sobre a convivência com crianças, Brandão
(2003 apud OLIVEIRA, 2014, p. 21) diz:

75 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


É preciso compreender o desenvolvimento esforço, fui introduzindo canções
humano de modo a proporcionar avanços folclóricas, com o intuito de ir ampliando o
qualitativos dos educandos em formação, repertório e o universo cultural das crianças.
assim, segundo Mello (2004, p. 146), cada Para Ongaro e Silva (2006), é preciso
idade se distingue por uma sensibilidade compreender a cultura das diferentes
seletiva frente a diferentes tipos de ensino ou realidades, de modo a vivenciar sentimentos e
de influência dos adultos. A existência desses emoções diferenciados, ampliando o
períodos sensitivos se explica pelo fato de que entendimento do mundo no qual as crianças
o ensino influencia principalmente aquelas vivem e convivem, e também as
qualidades que estão em processo de transformações que ocorrem durante o seu
formação. desenvolvimento.
Articulado a questões do desenvolvimento A música desempenha importante papel na
com os relatos dos educandos, comecei a vida recreativa de toda criança ao desenvolver
compreender a realidade em que estava sua criatividade e promover autodisciplina,
inserido, no que se refere ao desenvolvimento além de despertar a consciência rítmica e
humano e, o contexto ao qual estamos estética. Contudo, procurou-se abordar
submetidos, a saber, o distanciamento social canções que atendessem as necessidades e a
em razão da pandemia. O que tem trazido realidade dos educandos ainda em formação,
situações desafiadoras para crianças e jovens pensando e levando em consideração que o
com a impossibilidade de viver, conviver e público alvo trabalhado é composto por
efetivar relações sociais com pessoas da crianças e adolescentes do Colégio
mesma idade, tão importante neste período de Chaminade, a saber, instituição privada.
vida. Assim como os adultos as crianças estão Para Amato (2007), o diálogo entre diversas
“[...] em estado de alerta, preocupados, manifestações musicais, como parte do
confusos, estressados e com sensação de falta trabalho pedagógico, pode promover a troca de
de controle frente às incertezas do momento.” experiências e a ampliação do universo cultural
(BRASIL, 2020). dos alunos. Com o tempo, durante as aulas
Preocupado em organizar a prática remotas, os educandos começaram a se abrir e
pedagógica que possibilitasse o dialogar sobre o dia a dia com seus colegas, no
desenvolvimento dos educandos e com o colégio e em suas casas.
repertório, optei por canções que trouxessem
elementos que se relacionassem com a
realidade dos educandos e que pudessem
auxiliar na compreensão da realidade na qual
se encontravam inseridos, no caso, o ritmo
que, para eles, era muito comum, como as
batidas presentes no funk.
Em relação ao repertório, foi adotado um
provisório com ritmo corporal, que foi realizado
no primeiro semestre. Aos poucos, com muito

Revista Chaminade | Ed. 01 V.01 76


Com a convivência virtual e o diálogo, houve
um processo de aprendizagem. Começamos a
aprender uns com os outros, construindo juntos
uma relação afetiva, e os educandos
mostraram-se motivados. Aos poucos, a prática 4. RESULTADOS
musical foi fortalecendo-se no ensino coletivo.
Com essa convivência, percebi que os Atualmente, percebo que aprendo muito mais
educandos não queriam só cantar, mas com os educandos do que estes comigo. E
também sentiam a necessidade de se nessa relação de exigências de ensino entre
expressar e ter momentos de diálogo, de falar docente e discente, Freire (2009) sublinha que
um pouco do seu cotidiano, de suas vontades e é indispensável a um educador saber que
de seus sonhos. Então, reorganizei a prática ensinar não é transferir conhecimento, mas
pedagógica de modo que contemplasse alguns sim, criar possibilidades para sua construção,
minutos das aulas de música para termos pois, quem ensina, aprende ao ensinar e, quem
momentos de conversas e poder escutar esses aprende, ensina ao aprender.
educandos, partilhar sobre suas necessidades Depois de certa convivência, mesmo que
e suas dificuldades nos relacionamentos dentro virtualmente, com conscientização e muito
e fora de suas casas. diálogo, o grupo foi se fortalecendo, criando
Nota-se, que a partir da convivência e do certa afinidade, construindo juntos uma relação
diálogo, houve um envolvimento entre eles. em grupo.
Neste momento, começa a convivência e o As crianças gostam e participam das aulas
envolvimento pela prática da educação de música com bastante frequência. Uma ajuda
musical. Para Maturana (1998, p. 29): a outra, o que uma aprendia acabava
ensinando para a outra criança que estava com
O educar se constitui no processo em que a dificuldade. Temos um compromisso em
criança ou o adulto convive com o outro e, ao
conviver com o outro, se transforma conjunto estabelecido por meio do diálogo.
espontaneamente, de maneira que seu modo Houve um desenvolvimento, amadurecimento e
de viver se faz progressivamente mais
congruente com o do outro no espaço de consciência da maior parte das crianças, um
convivência. O educar ocorre, portanto, todo o ensino voltado para o indivíduo e o coletivo,
tempo e de maneira recíproca.
como afirma Fonseca (2011), a aprendizagem
Ainda segundo Maturana (1998), a educação é um processo altamente individual que se dá a
é um processo de transformação na partir das relações sociais. Houve uma
convivência, em que o aprendiz se transforma educação musical humanizadora, pautada no
junto com os professores e os demais diálogo, na autonomia, na alteridade, na
companheiros com os quais convive em seu amorosidade, conscientizadora e libertadora
espaço educacional. Tal processo de (SILVA, 2013). Sobre essa educação musical
transformação envolve tanto o aprendizado humanizadora Severino (2015, p. 4-5) disserta
específico dos envolvidos quanto toda que:
construção coletiva enquanto pessoa.

77 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


5. CONCLUSÃO

Eu, como educador, sinto-me um integrante


do grupo, importante e valorizado. Freire
Através do respeito, do dialogo e de ações (2009) acredita que ensinar exige apreensão
colaborativas, o educador musical apresenta
a seus alunos os conteúdos musicais de da realidade na qual o professor deve expor
maneira lúdica, fazendo relação com o dia a sua postura respeitando o direito do aluno em
dia; e os alunos, em contrapartida, podem se
apropriar desses conhecimentos musicais rejeitá-la. O que não se pode negar é que a
para construir sua própria individualidade, realidade não é dada, ela é construída histórica
por meio da relação dele com a música, com
o professor e com os outros alunos. e socialmente pelos próprios homens, então, a
apreensão da realidade deve se basear nisto.
Para Kater (2004): Apreender a realidade não é a única coisa que
deve ser feita. Os educandos devem
Música e educação são como sabemos,
produtos da construção humana, de cuja compreender que somos seres humanos
conjugação pode resultar uma ferramenta
capazes de intervir na realidade e não apenas
original de formação, capaz de promover
tanto processos de conhecimento quanto de de se adaptar a ela, e a educação formal, tem
autoconhecimento. Nesse sentido, entre as
papel fundamental na humanização dos
funções da educação musical, teríamos a de
favorecer modalidades de compreensão e educandos. Portanto, ninguém pode estar no
consciência de dimensões superiores de si e
mundo de forma neutra.
do mundo, de aspectos muitas vezes pouco
acessíveis no cotidiano, estimulando uma Para Silva (2016), a mudança de atitude do
visão mais autêntica e criativa da realidade.
educador musical, portanto, é o ponto de
partida para que a prática musical se torne
Ainda sobre a educação musical sob uma
verdadeiramente humanizadora. Para que o
perspectiva humanizadora, Silva (2016) relata
educando possa desenvolver suas
que é preciso entender que nem todas as
potencialidades e adquirir autonomia como
práticas educativo-musicais promovem o
sujeito crítico e atuante no mundo, nós,
diálogo, a autonomia, a amorosidade, nem
educadores musicais, devemos promover a
libertam e conscientizam os sujeitos. A autora
aquisição de competências e habilidades
ainda continua “[acreditamos que] o ensino de
musicais intrínsecas a ele, através de uma
música deve ser pautado no diálogo amoroso
relação dialógica pautada na troca de saberes
entre o educador e o educando, para que,
e aprendizados e no respeito entre educador e
juntos, possam perceber e compreender o
educando. Caso contrário, ensinaremos música
ambiente social onde eles estão inseridos”
sem uma preocupação humanizadora, com
(FREIRE, 2011 apud SILVA, 2016, p. 36). O
ausência de sensibilidade e realidade.
diálogo, que quebra a verticalização do ensino,
onde o educador é o único sujeito do processo
educativo, permite que educador e educandos
aprendam e ensinem, em um processo
dialógico do vir a ser.

Revista Chaminade | Ed. 01 V.01 78


REFERÊNCIAS

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como prática sociocultural e educativo musical.
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sete cores: educando para a paz. São Paulo:
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Oswaldo Cruz. Saúde Mental e Atenção
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dialógica, sem a perda do rigor, do intuitivo, da Recomendações Gerais. Brasília: FIOCRUZ,
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Psicossocial-na-Pandemia-Covid-19-
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através do diálogo franco e aberto, analisam
COLÉGIO CHAMINADE. Referencial
criticamente os problemas de seu mundo. educativo, Bauru: [s.n.], 2020. Disponível em:
Surge com ele uma nova relação professor https://chaminade.com.br/. Acesso em: 13
maio. 2021.
aluno, em que o professor não está acima do
aluno, mas lado a lado com ele, e o saber de FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia:
saberes necessários à prática educativa. 39.
ambos interage durante todo o processo
ed. São Paulo: Paz e Terra, 2009.
educativo. Nesse contexto, o professor é um
companheiro, um orientador que também FONSECA, Katia de Abreu. Flexibilização e
adequação curricular: análise de práticas
busca e aprende ao ensinar. pedagógicas no ensino fundamental. 2011. 124 f.
Dissertação (Mestrado em Psicologia do
Desenvolvimento e Aprendizagem) -
Universidade Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”, UNESP, Bauru, 2011.
KATER, Carlos. O que podemos esperar da Educação Musical em projetos de ação social. Revista
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MARTINS, Lígia Márcia. O desenvolvimento do psiquismo e a educação escolar: contribuições à


luz da psicologia histórico cultural e da pedagogia histórico-crítica. Campinas: Autores Associados,
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Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, São Carlos, 2016.

Revista Chaminade | Ed. 01 V.01 80


O QUE APRENDEMOS COM A PANDEMIA: ENSINO HÍBRIDO
Ediluci Santos Rocha*
RESUMO Mell Lopes Rezende Ferreira*
Mirela Francelina Medeiros Telles*
O presente artigo tem por objetivo apresentar
uma proposta de ensino híbrido baseado na
experiência de ensino remoto realizada durante
os meses de maio, junho, julho e agosto de
2020, motivada pelo isolamento social como
meio de controle da pandemia do COVID-19.
1. INTRODUÇÃO
Desta forma, o isolamento possibilitou a
elaboração de uma metodologia de ensino que
não apenas respondesse à necessidade O presente artigo tem por objetivo apresentar
imediata de ser realizada a distância, mas
também e, principalmente, que fosse coerente uma proposta de ensino híbrido baseado na
com a filosofia educacional da escola. experiência de ensino remoto realizada durante
Possibilitou ainda o desenho metodológico
pautado em atividades a serem realizadas de os meses de maio, junho, julho e agosto de
maneira síncrona e assíncrona. A proposta foi 2020, motivada pelo isolamento social como
baseada focando potencialidades da era digital, meio de controle da pandemia do COVID-19.
explorando a linguagem audiovisual,
letramentos multimodais, ferramentas de O isolamento social propiciou que
comunicação e a gamificação. No ensino elaborássemos uma metodologia de ensino
híbrido, a ideia é personalizar e acompanhar de
maneira mais eficaz o desenvolvimento de que não apenas respondesse à necessidade
cada educando, flexibilizando tempos e imediata de ser realizada a distância, mas
espaços de aprendizagem. Não se pensou em também que fosse coerente com a filosofia
colocar uma câmera dentro da sala de aula,
mas colocar a sala de aula dentro do espaço educacional da escola.
virtual, ressignificando o Ensino a Distância, Tal demanda possibilitou o desenho
principalmente para as séries iniciais do Ensino
Fundamental, onde parte-se da premissa que metodológico pautado em atividades a serem
as crianças não têm autonomia para trabalhar realizadas de forma síncrona e assíncrona.
com ensino remoto. Será apresentado aqui o
Baseamos a proposta focando nas
relato do percurso, os princípios e propostas
que foram se construindo no decorrer da potencialidades da era digital, explorando a
caminhada e que agora podem ser linguagem audiovisual, os letramentos
incorporadas dentro do processo de retorno
gradual das aulas presenciais, sendo também multimodais, as ferramentas de comunicação e
um protótipo para um novo conceito de ensino a gamificação. A ideia do ensino híbrido é
e aprendizagem.
personalizar e acompanhar de maneira mais
eficaz o desenvolvimento de cada educando,
Palavras-chave: Projeto; Ensino Híbrido; flexibilizando tempos e espaços de
Audiovisual; Metodologia; Ensino e
Aprendizagem; Ensino a Distância. aprendizagem.

* Educadoras Fundamental I - Colégio Chaminade, Bauru/SP


ediluci.rocha@chaminade.com.br
mell.ferreira@chaminade.com.br
mirela.telles@chaminade.com.br

81 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Com o ensino remoto acontecendo de forma meios pela perspectiva das condições das
deveras abrupta, por conta isolamento social novas formas de saber em detrimento das
causado pela pandemia do COVID-19, as modificações na cultura e na sociedade. O
adaptações foram acontecendo aos poucos. ensino em situação de isolamento é uma
Nesse processo, a ideia é não colocar uma condição extrema e provisória, no entanto, ela
câmera dentro da sala de aula, mas colocar a demonstrou a urgência em flexibilizar tempos e
sala de aula dentro do espaço virtual, espaços de aprendizagem, usando todo o
ressignificando o Ensino a Distância, potencial digital disponível.
principalmente, para as séries iniciais do Com o tempo, observamos que os estudantes
Ensino Fundamental, onde acredita-se que as começaram a compreender a nova dinâmica de
crianças não têm autonomia para trabalhar ensino. Educandos que apresentavam
com ensino remoto. A relação entre as dificuldades de interação, engajamento e
tecnologias de informação e conhecimento com participação nas aulas presenciais, começaram
a escola é marcada por diferentes posições. a se desenvolver nesta nova abordagem de
Para Martín-Barbero (2003), a relação dos ensino.
meios de comunicação com a escola não é de Apresentaremos aqui o relato do percurso, os
oposição ou substituição, colocando-se contra princípios e propostas que fomos construindo
a instituição escolar. no decorrer da caminhada e que, agora, podem
A discussão situada no âmbito da influência ser incorporadas dentro do processo
das mídias na sociedade moderna, de retorno gradual das aulas presenciais,
desestrutura a hegemonia da escola, sendo também um protótipo para um novo
obrigando-a a repensar sua relação com os conceito de ensino e aprendizagem.

Figuras 1 e 2. Crianças apresentando o diário em atividade de estudo online que estão escrevendo, motivados pelo
conteúdo “Gêneros autobiográficos”

Fonte: Arquivo pessoal

82
Figuras 3 e 4. Educandos apresentando a pizza que fizeram para introdução do estudo de fração

Fonte: Arquivo pessoal

2. DESENVOLVIMENTO necessidade de incorporá-los e como integrá-


los ao espaço escolar é evidente. A pandemia
2.1 Mais que gravar aulas tornou urgente que os professores
dominassem a linguagem audiovisual, os
O principal objetivo não era fazer a câmera meios de produção e vinculação de conteúdos
entrar na sala de aula, filmando uma aula e isso pode auxiliar na produção teórica destes
expositiva, mas, sim, fazer com que a sala de profissionais, uma vez que a necessidade de
aula ganhasse uma dimensão virtual, trazendo se repensar os processos educativos em vista
novas possibilidades por meio do processo de aos avanços tecnológicos dos meios de
“digitalização do ensino”. No campo de comunicação se fez presente e urgente nas
intersecção entre educação e comunicação, discussões dos educadores.
Pretto (1996) identificou que a maioria das A ideia inicial para gravação de videoaulas foi
pesquisas nesta área são elaboradas dentro do o foco em qualidade audiovisual. Isso porque
campo da comunicação. Os resultados dessas os educandos consomem muito conteúdo
pesquisas indicam que a problemática da desta natureza, seja em plataformas, como o
inserção da cultura digital nos espaços Youtube, ou, em aplicativos, como o TikTok. Ao
escolares ainda é tomada, por grande parte optar por esse formato de videoaula, buscamos
dos estudos, por aqueles profissionais que não superar o caráter instrumental do uso das
estão diretamente envolvidos com os Tecnologias de Informação e Conhecimento
processos de ensino e aprendizagem em (TIC) no ensino. Com o uso instrumental dos
espaço escolar. meios de comunicação, a relação da escola
O baixo índice de pesquisas sobre essa com a comunicação é de fora para dentro - ela
temática gerada na área educacional coloca a apenas se adapta ao que está pronto e tenta
discussão do problema do ponto de vista de “escolarizar o uso das mídias” (HUERGO;
pesquisadores que já dominam a linguagem BELÉN-FERNÁNDEZ, 2000). Procurando usos
própria dos meios de comunicação e, assim, a didáticos aos aparatos tecnológicos que os

83 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


encaixem na estrutura tradicional da escola, inserção de flashes de outros vídeos como
essa forma de relação implica em um uso recurso audiovisual e plano fechado de
mecânico que subutiliza as potencialidades dos câmera.
meios de comunicação e limita a ação criativa Nesse sentido, buscando promover uma
dos educadores como simples executores. experiência de aprendizagem significativa por
Em contrapartida, com a apropriação da meio de vídeos, reformulamos os processos
linguagem audiovisual, própria da televisão, a educativos, de forma a abarcar todas as
relação se faz de dentro para fora, ou seja, os possibilidades de aprendizagem que sociedade
educadores se apropriam das tecnologias de contemporânea disponibiliza, não bastando
informação e comunicação e as utilizam para que nos equipássemos com os recursos
produzir e socializar conteúdos. Esta é uma tecnológicos. A mudança necessária da escola
nova possibilidade de se fazer educação, uma precisa ir além do que Gómez (2002) chama de
educação autônoma, a altura de seu tempo, “racionalidade eficientista”. De acordo com o
que não apenas tenta se adaptar às mudanças, autor, na racionalidade eficientista a “educação
mas domina os processos e os incorpora a sua moderna” se dá mediante a incorporação dos
realidade. meios e tecnologias de informação no sistema
A linguagem audiovisual é predominante na escolar e a melhoria do ensino decorre da
nossa cultura vinculada pela televisão e outras modernização dos meios para transmissão de
plataformas. Em uma sociedade de mass conteúdos.
media é com essas também que nos
apropriamos da realidade, como diz Castells
(2000) sobre a realidade mediatizada, e
formamos nossa identidade enquanto
brasileiros (BACCEGA, 2003). Assim,
consideramos toda a experiência das crianças
com conteúdos audiovisuais para produzir
nossos materiais.
Levando-se em conta que vídeos chamam a
atenção, principalmente nos primeiros cinco
segundos, o objetivo era reter a atenção do
estudante com uma abordagem bem-
humorada. Para isso, utilizamos alguns
recursos de edição como memes, efeitos
sonoros, recortes de falas, acelerar trechos do
vídeo, entre outros. Houve também o cuidado
para que as aulas não tomassem um tempo
longo, pois é difícil manter o foco em um vídeo
com duração de mais de 10 minutos. Para
tanto, usamos diferentes estilos de gravação,
como utilização de Chroma Key,

84
Não se pode afirmar que a melhoria da
qualidade da educação se dá apenas pela
incrementação dos recursos didáticos, como o
giz e a lousa, ou seja, não adianta mudar os
meios, se os fins ainda são os mesmos. A
tecnologia não tem razão de ser na escola se Os que consideram necessário o uso da
televisão para aumentar a eficiência escolar
os professores dão a mesma aula com a lembram que a escola está defasada com
televisão que dariam com o livro ou a lousa. A relação aos avanços tecnológicos e que
precisa se modernizar. Ocorre que se
modernização tecnológica não corresponde, modernizar significa usar a televisão como
necessariamente, à modernização educativa apoio ao mesmo processo de ensino-
aprendizagem que se vem desenvolvendo.
que, segundo Baccega (2003, p. 74-75): Há, portanto, um desvio. O que se deve
tornar contemporâneo, respeitando as novas
sensibilidades dos alunos, é o próprio
processo de ensino-aprendizagem e não o
uso de qualquer tecnologia que sirva, por
exemplo, apenas para mostrar uma bactéria
ampliada, para que possa ser seja vista
melhor. Ou usar equipamentos para
teleconferência ou ainda utilizar-se da
programação de algum canal educativo.
Tudo isso- e muito mais- pode ser feito,
desde que atendendo a um planejamento do
processo ensino-aprendizagem que
contemple as características dos alunos.
Caso contrário, a televisão e a tecnologia
em geral só reforçam o que já está
desgastado. O fundamental, mesmo, é
desentranhar os mecanismos de construção
da representação televisiva presentes nos
alunos, buscando inserir essa realidade no
processo educacional.

85 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Desta forma, nossos vídeos foram evoluindo
à medida que íamos nos apropriando de como
as crianças construíam representações a partir
Figura 5. Aula de Linguagem - 1º semana
dos conteúdos audiovisuais que estávamos
inserindo no processo de ensino. Chegamos à
construção de narrativas para contextualizar os
objetos de conhecimentos mobilizados.
Os primeiros vídeos foram feitos com a ideia
de explicar conceitos. Com o passar do tempo,
foram incorporadas explicações de atividades,
bem como correção coletiva, ditados e revisão
textual, tudo sempre com o objetivo de trazer
Fonte: Arquivo pessoal humor e um ambiente descontraído e de forma
equilibrada, conduzindo o estudante a trajetória
que deve percorrer em toda a orientação de
Figura 6. Aula de Ciências Naturais - 7ª semana estudos.
Ainda assim, a necessidade por engajamento
dos educandos no ambiente virtual (plataforma
de aprendizagem) foi sendo encarado como
algo necessário, assim como mais uma
situação de aprendizagem. Por isso, em
colaboração com os próprios estudantes, foi
criado o movimento #elabora.
O movimento tem a intenção de que os
alunos façam comentários bem elaborados e
Fonte: Arquivo pessoal
escritos sobre a videoaula assistida, com o
objetivo de trazer engajamento e interação às
Figura 7. Aula de Linguagem - 12º semana
aulas, desenvolver habilidades de elaboração
da escrita, trabalhar concordância verbal e
capacidade de síntese. O comentário que mais
atendesse aos critérios citados, era lido na
videoaula seguinte.

Fonte: Arquivo pessoal

86
Figura 8. Comentário da estudante do 5º ano C

Fonte: Arquivo pessoal

Com esta ação, espera-se que os estudantes Com este objetivo, pensamos em trabalhar
consigam se envolver ainda mais com o ensino com trajetórias de aprendizagem. Para isso,
remoto e protagonizar seu processo de escolhemos o formato dos arquivos em
aprendizagem, desenvolvendo autonomia. PowerPoint. A ideia é propiciar uma
A escola apresentou um quadro favorável à experiência de estudo digital, com orientações
conversão dos atributos técnicos da tecnologia de estudo que se tornam roteiros de
digital em benefícios para comunidade escolar aprendizagem.
por dois motivos: a apropriação da produção Para formular essas trajetórias, partimos do
audiovisual pela escola foi uma necessidade e pressuposto de uma situação de ensino na sala
mais uma oportunidade de torná-la um espaço de aula, com os momentos de
de produção de conhecimentos, com a contextualização, problematização,
participação ativa de alunos e professores. sistematização e criação de repertório. Com o
Tanto a afirmação quanto o desenvolvimento PowerPoint pudemos inserir imagens e links
da identidade profissional do professor passa para vídeos, sites e outros conteúdos digitais.
pela socialização dos saberes específicos da Assim, nosso foco estava em oportunizar o
prática docente entre seus pares e com a uso do computador para interagir com a
sociedade. tecnologia digital, por isso, sempre colocamos
propostas de estudo que usassem recursos
2.2 Roteiro de aprendizagem: pensar digital digitais. Com essa metodologia, viabilizamos
que os educandos interajam com os conteúdos
Como inserir as atividades de escrita, de estudo, utilizando todo o potencial dos
pensando que as crianças estavam sozinhas recursos digitais, como vídeos, infográficos
em casa e precisavam interagir com as interativos, mapas interativos, sites, museus
propostas de estudo, não apenas fazer interativos, revistas on-line, entre outros.
exercícios? Além disso, precisávamos A experiência é diferente de usar a televisão
considerar que deveríamos dar repertório às na sala de aula para entrar nesses objetos
crianças para realizarem as atividades com a digitais e mostrar para as crianças. Nessa
maior autonomia possível. A ideia não era situação, elas interagem com esses objetos e
enviar atividades que fizessem com que os fazem seus próprios caminhos de
familiares atuassem como professores. aprendizagem.

87 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Figura 9. Slide inicial: a rotina de estudos roteirizado

Figura 10. Material autoral: vídeo gravado e editado pela


Prof.ª Mell Resende

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 11. Slide introdutório: Componente curricular e


conteúdos que serão estudados

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 12. Slide introdutório da trajetória de estudos: uso de


sequências didáticas e tratamento visual para engajar os
alunos. Material autoral: sequência didática produzida pela
Prof.ª Mirela Telles

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 13. Slide de repertoriação: possibilidade de ler as


imagens coloridas em tamanho adequado. Texto de
orientação

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

88
2.3 Ferramentas digitais, metodologias
ativas: experiência da sala de aula invertida.

As orientações de estudo em formas de


roteiros viabilizam estudos autônomos.
Usando a estratégia de sala aula invertida,
podemos propor que os estudantes explorem
objetos digitais no próprio suporte, fazendo uso
Figura 13 e 14. Objeto digital: linha do tempo interativa
de um roteiro de estudos e depois tragam as
usando ferramentas digitais para pesquisa, Google Maps
conclusões ou hipóteses levantadas para
discussão em sala de aula.
Temos realizado este movimento com as
habilidades sobre energia, articulando as
disciplinas de História, Geografia e Ciências.
Propomos uma exploração da linha do tempo
interativa no site da Usina Binacional de Itaipu.
As crianças fizeram o estudo independente e
depois socializamos em discussão on-line.
Com essa mesma metodologia pudemos
gerar questões de pesquisa para que
usassem o Google Maps e Google Earth.
Fizemos esse movimento a partir da linha do
tempo da construção da Usina de Itaipu,
problematizando a estrutura, setores,
tecnologia e trabalhos envolvidos para o
transporte de uma peça na década de 80 e
uma atualmente. Trabalhamos também com Fonte: Arquivo pessoal
leitura de paisagem, usando as fotos
disponíveis na linha do tempo e outros sites.
Figura 15. Ferramentas digitais: Google Earth

Fonte: Arquivo pessoal

89 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


A exploração autônoma usando o computador Em outro momento, após a realização de um
como suporte também favorece variadas experimento científico, propusemos a escrita
práticas de leitura e escrita em diferentes áreas de um comentário no site da Revista Ciência
do conhecimento. Em Ciências, dentro de um Hoje das Crianças, comentando o resultado do
processo de alfabetização científica, gravamos processo de pesquisa científica, registrando se,
uma videoaula explicando os passos de um após o experimento, confirmaram ou refutaram
experimento científico para mobilizar a as hipóteses iniciais.
observação de alguns fenômenos relacionados
a energia nas próprias casas. Assim, fazia
sentido utilizar uma aula em casa para, logo
em seguida, já iniciar a exploração.

Figura 16. Comentários das crianças no site da revista Ciência Hoje das Crianças

Fonte: Arquivo pessoal

2.3 Ensino híbrido: articulando o presencial elementos digitais que possibilitem esse
com o virtual trânsito entre atividades presenciais e remotas,
tornando, assim, a aprendizagem equitativa a
Com o retorno gradual das aulas presenciais, todos os educandos, porém através de meios
acreditamos que, mais do que nunca, o ensino diferentes. Entendemos aqui a educação
híbrido se fará necessário, sendo incorporado híbrida abarcando todas as possibilidades de
como uma importantíssima estratégia tanto articulação entre diferentes ambientes de
para adequação do momento atual vivenciado aprendizagem, presenciais e digitais, com uma
pela sociedade, quanto como ferramenta para exploração orgânica que se beneficie das
a prática de um ensino mais personalizado. vantagens pedagógicas de cada um deles em
A ideia é oportunizar a mesma aprendizagem, benefício da aprendizagem das crianças, como
na perspectiva de conceitos e habilidades tanto também a vertente que entende essa
no ambiente de sala de aula, como no modalidade como uma forma de potencializar
ambiente virtual, trazendo, para isso, os processos educativos pela incorporação das

90
Tecnologias Digitais de Informação e mais autônoma possível o caminho para fazer
Comunicação (TIDC). Segundo Mill e as atividades propostas.
Chaquime (2020, p. 6): Dessa forma, será possível realizar momentos
de estudos que estarão dentro da trajetória de
Mais recentemente, começam a ser
explorados aspectos inovadores no ensino- aprendizagem – um caminho que articulará
aprendizagem, tais como: apropriação de momentos de estudos coletivos, em grupos e
metodologias ativas (que, em geral, nem são
tão novas assim), convergência das mídias e individuais. Esses podem ser alternados de
das tecnologias, incorporação do mundo acordo com a necessidade que o professor
virtual no seio educacional, proposição de
currículos mais flexíveis – com tempos e sentir em relação a turma, fazendo com que
espaços integrados, combinados, com haja interação com os alunos que farão as
possibilidade de encontros presenciais e
virtuais, em grupos e de acordo com a atividades remotas e aqueles que estão
necessidade do estudante, de modo mais presentes na escola, garantindo um movimento
coerente com a sua vida cotidiana, por meio
de práticas, atividades, jogos, problemas, de aprendizagem dentro da proposta
projetos relevantes etc. Isto vem sendo estabelecia.
experimentado a partir da incorporação das
TDIC no contexto educacional, com especial Uma maneira prática que já vem sendo
atenção ao processo de colaboração trabalhada são as oficinas de Linguagem e
(aprender juntos), personalização (incentivar e
gerenciar os percursos individuais) e autoria Matemática.
(aprendizagem ativa e participativa).

Com este olhar para o ensino híbrido, é


Figura 17. Início de uma das sequências didáticas da
possível trabalhar com trajetórias de
oficina de Linguagem com verbos de comando.
aprendizagem. Trajetórias essas produzidas de
forma autoral pelos professores, reconhecendo
as características gerais da sala e a
necessidade de cada criança numa abordagem
de problematização e contextualização de
conceito, bem como, de forma interdisciplinar
para que o educando compreenda a relação
existente entre as diversas áreas e consiga
desenvolver habilidades.
Um ponto que é necessário destacar é que o
educando terá que transitar entre dois Figura 18. Sequência didática oficina de Linguagem com
verbos de comando utilizando personagem de anime
ambientes de aprendizagem: o físico (sala de
aula presencial) e o virtual (AVA – Teams).
Para isso, terá a devida orientação do
professor, que terá o papel de guiá-lo
presencial e virtualmente pela trajetória
delineada, já que o aluno vem com a
experiência do ensino remoto. O intuito é que o
educando consiga realizar de forma eficaz e

Fonte: Arquivo pessoal

91
Figura 19. Sequência didática oficina de
Linguagem repertoriando verbos de comando
utilizando personagem de anime na Figura 20.Sequência didática oficina de Linguagem
problematização e contextualização indicando a tarefa a ser realizada

Fonte: Arquivo pessoal

Com elas trabalhadas da maneira como são, é Nesse sentido, as crianças podem trabalhar
possível, por exemplo, aprofundar conceitos e com uma proposta de atividade virtual que está
garantir o processo de recuperação para os articulada a propostas de atividades
educandos que necessitem. Dentro do roteiro presenciais.
de estudos é possível retomar conceitos, O ambiente virtual de aprendizagem também
problematizar e dar repertório aos alunos para pode ser utilizado para socializar diferentes
que realizem a atividade proposta sem, materiais, como, por exemplo, compartilhar
portanto, que se tenha discrepâncias entre as sínteses e mapas conceituais. A socialização
turmas que se revezarão nas aulas desses registros na sala virtual é favorecer que
presenciais. os estudantes desenvolvam habilidades
A virtualização da aprendizagem também relacionadas aos procedimentos de estudos
poderá ser realizada com a proposta de autônomos, trocando experiências e
exploração de diferentes objetos digitais de aprendendo diferentes procedimentos.
aprendizagem (ODA), em momentos distintos
das aulas no espaço físico. Com o roteiro de Figura 21. Socialização dos mapas conceituais
estudos, as crianças podem realizar dois ilustrados do sistema elétrico Brasileiro, produzidos
movimentos diferentes, dependendo do objeto durante a aula de Ciências.

da aula da área de conhecimento:


1- Realizar a exploração de um ODA para
posterior discussão em sala de aula,
sistematizando conceitos;
2- Realizar a exploração de um ODA após a
discussão em sala de aula física, para
generalizar conceitos ou trabalhar em
perspectiva interdisciplinar.
Fonte: Arquivo pessoal

92
O uso dos fóruns no AVA possibilita
aprendizados de naturezas diferentes,
principalmente no que se refere às práticas de
leitura, escrita e registro com o objetivo de
estudo. A participação em fóruns de discussão
mobiliza capacidades diferentes das
discussões presenciais e demandam a
mobilização de outras habilidades. Os fóruns
são articulados com as atividades presenciais,
viabilizando estudos em outros espaços, além
da escola.
Os fóruns também se tornam portfólios digitais
de aprendizagem, uma vez que além de
possibilitar a socialização de diferentes
registros, esses ficam arquivados e servem
para identificar, tanto para o professor, família
e o próprio estudante, os avanços e pontos que
necessitam de maior atenção, favorecendo
assim, a autoavaliação.
Os fóruns potencializam as possibilidades de
aprendizagem e de ensino em cada disciplina,
um exemplo são fóruns para rodas de leitura.
Podem ser propostas leituras para casa e as
apreciações realizadas em fórum, neles
podemos também propor análises coletivas,
como por exemplo, de escritas de palavras,
pensando nas formas corretas de uso e nas
regras geradoras de escrita.

Figura 22. Fórum de matemática: socialização de


diferentes estratégias de cálculo e portfólio digital

Fonte: Arquivo pessoal

93 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Como esses materiais ficam nos fóruns e
servem como fontes de pesquisa, podendo ser
consultados em diferentes momentos, inclusive
pelas famílias, que podem acompanhar e
vislumbrar a amplitude do trabalho realizado.
A possibilidade de arquivamento das produções
dos alunos é uma das principais vantagens das
atividades digitais, extremamente importantes
para algumas habilidades específicas, como a
de produzir e revisar os próprios textos.
Realizamos as atividades de produção de textos
dentro de uma sequência, usando objetos de
aprendizagem e ferramentas digitais que
viabilizaram: conhecer o contexto de produção
dos gêneros estudados, analisar diferentes
situações comunicativas envolvendo esses
gêneros, acesso a diferentes obras que não
estariam disponíveis materialmente e produções
em diferentes linguagens.
Para o professor, o uso dessas ferramentas
para devolutivas e para orientar correções é
muito propício, pois agiliza os processos de
revisão e permite a consulta autônoma dos
estudantes.

Figura 23. Canal de Linguagem:


apreciação e análise linguística de
música e discussão de ortografia.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 24. Leitura


multimodal: vlogs.

Fonte: Arquivo pessoal

94
Principalmente em produção de texto é comum
que as crianças estejam em diferentes níveis de
proficiência e algumas necessitem revisar os
textos mais vezes que outras. Fazer isso em um
ambiente virtual possibilita que todos tenham
suas demandas atendidas, tanto aqueles que
precisam permanecer mais tempo revisando
seus textos, quanto os que podem passar para
outras propostas de produção, permitindo o
acompanhamento do professor em todas as
etapas e ajustadas as necessidades,
intervenções pontuais mais difíceis de serem
organizadas em sala de aula física. Assim, a
flexibilidade de tempo e espaço promovem mais
aprendizagens e mais personalizadas.
As ferramentas digitais possibilitam o trabalho
colaborativo, com a possibilidade de produzir
conteúdos em Word, PowerPoint e outros
aplicativos de forma compartilhada. Um exemplo
Figura 25. Primeira Produção de texto usando Forms:
deste trabalho está sendo realizado pela
registro da orientação para revisão
professora Ediluci Rocha que cria,
conjuntamente com alguns estudantes, os
materiais da acolhida do dia, fazendo parceria
com as crianças que têm menor iniciativa e são
mais tímidos.
Nos chats as crianças também podem postar
Fonte: Arquivo pessoal
materiais complementares as aulas,
demonstrando proatividade e estendendo a
atividade de estudo e o prazer pelo aprendizado
Figura 26. Segunda produção-Revisão postada como para além dos muros da escola. O chat também
tarefa usando o Teams é usado de forma colaborativa. Muitos
estudantes, por iniciativa própria, organizam
grupos para pedir orientações das professoras e
estudarem juntos.
O trabalho colaborativo, mediado pelos
espaços virtuais, permite a participação das
famílias nas atividades realizadas na escola, é o
Fonte: Arquivo pessoal espaço ampliado de educação, articulando todos
os agentes.

95 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Figuras 29 e 30. Educandos usando
diferentes linguagens para produzir os
Figura 27. Acolhida realizada com parceria entre anúncios
irmão de uma educanda e um educando da turma,
com as famílias assistindo

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 28. Vídeo produzido por um grupo de alunos


como atividade de Linguagem - Anúncio Publicitário e
Propaganda

Fonte: Arquivo pessoal


3. PARA NÃO CONCLUIR

O trabalho estendido em tempo e espaço que


a tecnologia digital possibilita, impacta o
trabalho docente de diferentes maneiras. Assim interdisciplinar. À medida que trabalhamos
como é favorável para autonomia, mais juntas, agregamos mais perspectivas de
personalização e colaboração dos estudantes, um mesmo objeto de ensino.
também é para os professores. Assim como criamos um espaço de
Um trabalho na perspectiva das tecnologias aprendizagem virtual, elaboramos um espaço
digitais de comunicação (TIC) favorece que o de formação, com pastas para armazenar os
professor produza trajetórias de ensino trabalhos produzidos conjuntamente, uma vez
autorais. Mais que apenas seguir um livro que produzimos um roteiro para as três turmas.
didático, ao incorporar diferentes ODAs e Começamos a compartilhar diferentes fontes
ferramentas digitais ao ensino, o professor de pesquisa para criá-los, e assim vamos
realiza um trabalho autoral, onde seleciona constituindo um acervo de estudo e pesquisa.
determinados ODAs de acordo com seus Aprendemos também que um trabalho assim
objetivos de aprendizagem e elabora não é exclusividade apenas dos professores
estratégias para a exploração, adequando aos que "gostam" de tecnologia, pelo contrário, é
objetivos e necessidades dos educandos. justamente a possibilidade de aprender juntos
Um trabalho assim demanda mais tempo e que torna esse trabalho colaborativo. Cada
muito estudo, o que necessariamente leva o professor, dentro das suas possibilidades, vai
professor a estabelecer parcerias para dar agregando conhecimentos a partir das
conta de tal tarefa. Ao estabelecer as experiências compartilhadas com os colegas e
parcerias, começamos a criar uma cultura de aprendemos a valorizar a potencialidade de
trabalho colaborativo, em que tomamos cada um, pois um projeto desse só se torna
decisões compartilhadas sobre o que ensinar e viável se for coletivo.
passamos a usar as próprias ferramentas que Dessa forma, um ensino híbrido demanda a
dispomos para os alunos para nossos próprios participação de todos e implica em formas
processos de criação. específicas de pensar a educação. Um mundo
O trabalho em espaço digital também digital é um mundo em que todos têm a
possibilita o desenvolvimento de uma prática oportunidade de produzir e vincular conteúdos,
criativa, quando ampliamos nossos meios de mas o que sustenta essa opção é expandir
formação, começamos a expandir as tempos e espaços da escola a partir dos
possibilidades de formação e à medida que as fundamentos educacionais já estabelecidos. O
crianças se mostram mais entusiasmadas, isso que não se pode perder de vista é que tipo de
também contagia o professor. seres humanos queremos formar e como o
Tal trabalho também tem ampliado nossa digital pode contribuir com isso.
própria visão do conhecimento, conseguindo,
efetivamente, encontrar ODAs que nos
permitem desenvolver um trabalho

97 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


O mesmo pensamento se aplica ao trabalho REFERÊNCIAS
docente, questionando que tipo de trabalho
BACCEGA, M. A. Televisão e escola: uma
queremos desenvolver, o que demanda muita mediação possível?. São Paulo: Editora Senac
colaboração e respaldo. Nenhum educador São Paulo, 2003.
sozinho consegue pensar e reelaborar sua CASTELLS, M. Sociedade em Rede. São
prática dessa forma fora de uma rede de Paulo: Paz e Terra, 2000.
colaboração. Pensar digital é o pensar em rede
GÓMEZ, O. G. Comunicação, Educação e
e essa rede necessita de sustentações. Novas Tecnologias: Tríades do séc XXI.
É fato que o trabalho do docente fica mais Comunicação & Educação, São Paulo, v. 23,
n. 57-70, jan./abr. 2002. Disponível em:
encorpado, e o nosso grande desafio tem sido https://www.revistas.usp.br/comueduc/article/vi
repensar nosso tempo de trabalho ew/37017/39739. Acesso em: 5 fev. 2021
considerando todas as possibilidades de
HUERGO, J. A.; BELÉN FERNÁNDEZ, M.
atuação: prática em sala de aula, prática no Cultura escolar, cultura mediática/
espaço virtual, produção de conteúdos e Intersecciones. Santa Fé de Bogotá:
Universidade Pedagógica Nacional, 2000.
roteiros de aprendizagem, acompanhamento
do processo, trabalho colaborativo com os MARTÍN- BARBERO, Jesús. De los médios a
las mediacionaes. Bogotá: Convenio Andrés
pares, domínio de condições técnicas Bello, 2003.
necessárias, entre outros.
No entanto, não saber como fazer, não PRETTO, N. L. Uma escola sem/com futuro.
Campinas: Papirus, 1996.
significa que não possamos começar!
MILL, D; CHAQUIME, L. P. Curso de
especialização em Educação e Tecnologia:
Educação Híbrida como estratégia
educacional. São Carlos: UFSCAR, 2020.
A Ç Ã O – C O L A B O R A Ç Ã O – I N C L U S Ã O

Katia de Abreu Fonseca¹


Caroline Bastos Guedes²

A escolarização de todo aluno Transformar vidas. Muitas vidas


Precisa de dedicação Das Educadoras, família, amigos
Quando este aluno é “de inclusão“, Ressignificar a história de
Aí entra em cena a colaboração escolarização até ali vivida

Olhar para as potencialidades Não nos atentamos ao laudo


Vai muito além das dificuldades Só ao que era mostrado
Promover o desenvolvimento Mostrava potencialidades
Com oferta de bons momentos Foi ali que focamos as atividades

A aprendizagem se dá nas relações Mas veio a pandemia


Por meio das mediações Distanciamento educacional
Educador x aluno - Aluno x Educador Mas com alegria
Cada um ao seu modo Conseguimos tornar a escola funcional
Com potencial transformador
Funcional de tal forma
E foi assim, ao chegar, Que a autonomia desenvolvida
Que 2020 se apresentou para uso da tecnologia
Fomos juntas buscar Foi fundamental
Maneiras diferentes de transformar

¹ Educadora Fundamental I - Colégio Chaminade, Bauru/SP. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento e


Aprendizagem e doutora em Educação pelo Programa de Pós-graduação em Educação, da Faculdade de
Filosofia e Ciências (FFC), UNESP/Marília.
katia.fonseca@chaminade.com.br
² Mediadora do Colégio Chaminade, Bauru/SP.
caroline.guedes@chaminade.com.br

99 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Que orgulho quando “ele” dizia:
Eu posso fazer sozinho?
A felicidade transluzia

Mas para isso muito apoio


Parceria, quase um mesmo corpo
Sim, ela era/é extensão de mim
Sem ela nunca ficaríamos assim

Conversas, discussões
Planejamento, impressões
Atividades, procedimentos
Tudo com muito cuidado e sentimento

No meio da noite surge uma ideia,


Vamos pensar juntas?
Podemos acrescentar
Ou então tirar

As aulas online um pra um


Proporcionando aprendizagem a cada um
Pois a gente ensina, mas, mais aprende
Com tanto conteúdo que ele traz pra gente

Vamos pensar, executar.


Eu envio documento e
recebo de volta
É isso que queremos,
É assim que ele se solta

E assim, podemos
dizer que Ação
com colaboração
Leva à inclusão.

Poema dedicado à parceria realizada com uma mediadora muito especial no ano de 2020 em meio
a pandemia da Covid-19.
TRABALHANDO CONCEITOS DE
GEOGRAFIA ATRAVÉS DE UM JOGO
EM UMA proposta inclusiva
Kewlyn Carolinne Ferreira¹
Nathalia De Assis Silva²
Pedro Ryo De Landim Y Goya³

RESUMO A IMPORTÂNCIA DO MATERIAL DIDÁTICO

O presente texto descreve a confecção de um O material didático personalizado pode


material didático, um jogo, planejado e contribuir para a aprendizagem de conteúdo
confeccionado de modo artesanal para específicos por alunos com necessidades
educandos com necessidades educacionais educacionais especiais e para o
especiais. Dentro da proposta inclusiva o jogo desenvolvimento da sociabilidade destes
tem como objetivo a interação de todos, pois alunos com seus pares (ARAGÃO; SILVA;
o contexto de práticas bancárias, ou seja, SILVA, 2008), pensando nisso a proposta do
tradicionais, não contribuem para o jogo nasceu de uma sequência didática voltada
aprendizado de todos os educandos. Desse para as turmas do 3º ano, no qual o conteúdo
modo, tem a intencionalidade pedagógica de abordado estava vinculado aos conceitos de
compartilhar um recurso didático com viés geografia, história, matemática e língua
inclusivo promovendo uma prática educativa portuguesa do 3° ano, seguindo a Base
mais lúdica, podendo promover mais Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL,
significação ao processo de inclusão, no 2018).
sentido mais complexo que esse conceito (EF03GE01) Identificar e comparar aspectos
carrega. culturais dos grupos sociais de seus lugares de
vivência, seja na cidade, seja no campo.
(EF03GE05) Identificar alimentos, minerais e
outros produtos cultivados e extraídos da
natureza, comparando as atividades de
trabalho em diferentes lugares
(EF03LP03) Ler e escrever corretamente
palavras com os dígrafos lh, nh, ch.
¹ Mediadora - Colégio Chaminade, Bauru/SP
kewlyn.ferreira@chaminade.com.br (EF03LP02) Ler e escrever corretamente
² Educadora Fundamental I - Colégio Chaminade, palavras com sílabas CV, V, CVC, CCV, VC,
Bauru/SP VV, CVV, identificando que existem vogais em
nathalia.silva@chaminade.com.br
³ Educador Fundamental I - Colégio Chaminade, todas as sílabas.
Bauru/SP
pedro.goya@chaminade.com.br
PROCESSO DE CRIAÇÃO DO JOGO

O jogo consiste em um material didático


personalizado, ou seja, é uma proposta que foi
planejada e confeccionada de modo artesanal
para educandos com necessidades
A tais conteúdos abrangem os conceitos de educacionais especiais. Trata-se de uma
campo e cidade e suas respectivas atividades flexibilização interdisciplinar do conteúdo
econômicas como processos industriais, visando o acompanhar a compreensão dos
através de conceitos básicos da matemática educandos sobre os conceitos trabalhados em
(sequência numérica crescente e decrescente), sala de aula e trazer uma ludicidade ao
da leitura em língua portuguesa e do uso da processo de aprendizagem.
gramática com o estudo das palavras com Por meio do jogo e de forma lúdica, os
encontro consonantais (agricultura, urbana, educandos conseguiram compreender
pegue, carta) e dígrafo (molho). aspectos dos lugares da cidade e do campo,
O processo de confecção do jogo exigiu um comparando também as atividades de cada
planejamento e adequação dos conteúdos, espaço, como funcionam as atividades
permitindo não apenas que os professores econômicas, o conceito da agricultura, ou seja,
criassem o material, mas também que o tomate é colhido, percorre o caminho de
contribuíssem com sua formação como terra (área rural, geralmente), percorre o
docentes "desta forma ao se pensar em caminho de rua asfaltada (área urbana,
formação continuada dos professores, geralmente) e chegando até a indústria, que
sobretudo de maneira colaborativa, a que se transforma os produtos agrícolas (tomate) em
considerar que o lúdico deve permear o alimento industrializado como o Ketchup,
processo de ensino aprendizagem” molho de tomate, suco, entre outros.
(CAPELLINI; LANGONA; FONSECA, 2010, p. Utilizando também, durante o jogo, um som
1). de caminhão contextualizando, para a
Portanto, a utilização de recursos didáticos estimulação de diferentes áreas sensoriais
atrelados à prática educativa mais lúdica, (audição som efeito sonoro, visão, com o
podem promover mais significação ao processo material colorido e chamativo e o tato com a
de inclusão, no sentido mais complexo que manipulação de um dado de tecido e o
esse conceito carrega. caminhão feito de massinha), com base na
proposta de educação multissensorial
(FERREIRA et al., 2009 apud MARTI, 1999).
Sendo o material desenvolvido com o objetivo
de sensibilizar uma das educandas com
necessidades educacionais especiais, mas,
sendo utilizado também por toda a turma
jogando todos juntos.

102
COMO É O JOGO?

Consiste em uma trilha na qual o educando


percorrerá um caminho que tem seu ponto de
partida no campo, com evidência para a
agricultura e estabelecendo a relação com a
cidade e suas atividades econômicas.
As regras do jogo, serão orientadas e
Figura 1. Detalhes do jogo sendo confeccionado:
mediadas pelo professor, no qual realizará a tabuleiro
leitura do "modo de jogar", sendo especificado
que será um jogador por vez. O jogador irá
rolar o dado e o número que sair será a
quantidade de casas que andará. Caso caia
em uma casa escrito "pegue uma carta", o
educando deverá pegar a carta e ver se há um
ônus (exemplo: o pneu do caminhão furou,
volte 3 casas até o mecânico para buscar
ajuda), então o educando terá que voltar casas
ou se será um bônus (a rua -de terra ou
asfaltada- está sem buracos, avance 2 casas),
então o educando avançará.
Vale ressaltar que o professor deverá mediar
no início da proposta do jogo, contextualizando
Fonte: Arquivo pessoal
o educando de que o início da trilha será
pautado no campo, onde predomina a atividade
a agrícola: a colheita dos tomates e segue Figura 2. Detalhes do tabuleiro pronto

rumo à indústria, como uma atividade que


desenvolve produtos a partir de uma matéria-
prima.
Para a confecção do tabuleiro do jogo foi
utilizado uma folha A3; caneta hidrocor; lápis
de cor; giz de cera e régua (Figuras 1 e 2).

Fonte: Arquivo pessoal

103 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Após a confecção do tabuleiro, foi preciso
confeccionar as cartas que ficariam no monte Figura 4. Detalhes das cartas e do pião para
deslocamento do jogador
“pegue uma carta”, as cartas do final do jogo,
que ficariam na parte demarcada como
“Indústria de Tomate” no tabuleiro e os piões,
que no caso, seriam caminhões com tomates
dentro, utilizando então massinha de modelar
escolar; papel cartão; giz; lápis de cor; caneta
hidrocor e cola (Figuras 3 e 4).

Figura 3. Detalhes do pião para deslocamento do


jogador no tabuleiro. Após sua confecção, foi utilizado
cola para sua impermeabilização

Fonte: Arquivo pessoal

Fonte: Arquivo pessoal

Caso caia em uma casa escrito "pegue uma


MODO DE JOGAR carta", o educando deverá pegar a carta e ver
se há um ônus (exemplo: o pneu do caminhão
O jogo consiste em uma trilha no qual o furou, volte 3 casas até o mecânico para
educando percorrerá um caminho que tem seu buscar ajuda), então o educando terá que
ponto de partida no campo, com evidência para voltar casas ou se será um bônus (a rua- de
a agricultura e estabelecendo a relação com a terra ou asfaltada- está sem buracos, avance 2
cidade, e suas atividades econômicas. casas), então o educando avançará.
As regras do jogo, serão orientadas e Vale ressaltar que o professor, deverá mediar
mediadas pelo professor, no qual realizará a no início da proposta do jogo, contextualizando
leitura do "modo de jogar", sendo especificado, o educando de que o início da trilha será
será um jogador por vez. O jogador irá rolar o pautado no campo, onde predomina a atividade
dado e o número que sair, será a quantidade a agrícola: a colheita dos tomates e segue
de casas que andará. rumo à indústria, como uma atividade que
desenvolve produtos a partir de uma matéria-
prima.

104
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A produção de materiais didáticos


personalizados no processo educativo, permite
muitos ganhos, uma vez que possibilita o olhar
mais apurado para promover condições de
ensino e aprendizagem. A proposta foi
planejada a partir da intencionalidade de
aprendizagem de uma educanda com
necessidades educacionais especiais com a
intencionalidade de alcançar toda a turma.

Tal jogo foi elaborado a partir de uma


sequência didática envolvendo diversas
disciplinas (língua portuguesa, matemática,
história e geografia), logo o produto final, um
REFERÊNCIAS
jogo da trilha, integra aos conteúdos de campo
e cidade, desenvolve o a linguagem por meio
ARAGÃO, A. S.; SILVA, V. C.; SILVA, G. M.;
da leitura, apropriação vocabular e regras Análise da produção em Educação Especial e
gramaticais, e também noções matemáticas Inclusiva nos Programas de Pós-Graduação
por meio de cálculos da adição e subtração. em Ensino de Ciências e Matemática. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE
Além dos conteúdos articulados, o jogo em si QUÍMICA, 14., 2008, Curitiba. Anais [...].
permite o desenvolvimento da imaginação, Curitiba: UFPR, 2008.
amplia as capacidades sensoriais, a atenção e BRASIL. Ministério da Educação. Base
foco, considerando que a proposta é vinculada Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
à ludicidade, portanto a criança aprende
CAPELLINI, V. L. M.; LANGONA, N. F.;
brincando. FONSECA, K. de A. Brincadeiras tradicionais
nos anos iniciais do ensino fundamental:
práticas pedagógicas inclusivas. In: FÓRUM
Dessa forma, consideramos que a proposta NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 7., 2010, Recife.
pode ser reproduzida, compartilhada e [S.l.: s.n.], 2010. p. 1-5.
desenvolvida em outras turmas, pois permite a MARTI, M. A. S. Didáctica multisensorial de
interação de todos os educandos, de modo que las ciências. Barcelona: Ediciones Paidós
alcance realmente o conceito de inclusão. Ibérica, 1999.

105 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


A DIMENSÃO CORPORAL E SUAS
POSSIBILIDADES NO PROCESSO DE
ENSINO E APRENDIZAGEM:
UM RELATO DE VIVÊNCIA DOCENTE
Maria Beatriz Campos de Lara Barbosa Marins Peixoto¹

¹ Educadora do Colégio Chaminade e Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Psicologia do


Desenvolvimento e Aprendizagem, Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista –
UNESP/Bauru-SP. Email: beatriz.lara@unesp.br
maria.peixoto@chaminade.com.br
A nossa primeira semana escolar inaugural do praxistas, formou-se o significado de inclusão
Colégio Chaminade, indubitavelmente, foi e, a atual abrangência de escola inclusiva, de
extremamente intensa. Era 27 de janeiro de amplitudes social e singularidades, de
2020 e, após uma rica formação pedagógica, o providências e arranjos necessários que
ânimo e a alegria nos preparativos chegavam garantam sua concretude, precisamente
em seu ápice. Todos muito ansiosos, de modo expressado por Capellini (2017, p.138):
contagiante, recebemos as famílias dos
A escola é vista como um lugar comum a
educandos no belo e aconchegante teatro. Os todos, contudo, para essa afirmação se
educadores, a equipe pedagógica e de direção concretizar, é imperioso garantir, além do
acesso, a aprendizagem de cada aluno.
vibravam em um som orquestral, de harmonia Portanto, o que se deseja, na realidade, é a
e esperança, juntamente com a competência construção de uma sociedade inclusiva
compromissada com todos os cidadãos e,
reunida para executar a Educação, atuar nas nesse grupo, estão todas as pessoas com e
funções essenciais do processo de ensino e sem deficiências, transtornos globais do
desenvolvimento e/ou com altas
aprendizagem em um contexto sonhado, habilidades/superdotação.
estudado, planejado e construído, que batizava
sua presença Marianista em uma cidade do Assim entendendo, o Colégio Chaminade
interior paulista. Bauru estava em expectativa e abriu suas portas composto por educadores
nós, educadores, elaborando estratégias de ávidos pela inclusão e educação. Assegurar a
concretização. educação inclusiva prescinde princípios de
Eu havia recém ingressado no curso de equidade, de qualidade, de fomento à
doutorado em Psicologia do Desenvolvimento e promoção de oportunidades de aprendizagem
Aprendizagem da UNESP/Bauru, com um para todas e todos. Aproveitar os espaços,
projeto de pesquisa feito juntamente com meu considerar aspectos de complexidade do ser
orientador sobre o tema “Psicomotricidade e humano e de suas individualidades, habilitar
suas relações ao processo de alfabetização”. continuamente seus educadores em
Pronto para ser submetido a solicitação de colaboração uns com os outros com
bolsa FAPESP, ação interrompida, pois como proximidade e trocas com as famílias.
concluímos, ser educadora de um Colégio O princípio de uma educação integral, ou
dessa envergadura, não havia bolsa que fosse seja, a missão de formação do educando em
mais importante. Meu projeto seguiria sem ela, consideração a integralidade do ser humano é
mas fortalecido pela experiência que eu viesse o coração e o Sistema Nervoso Central, tem
a ter. suas especificidades nutridas por centros
A pesquisa na área das ciências humanas e, específicos, mas que percorrem o todo, ativam
principalmente na educação, prescinde de a uma completude e são conjuntamente
teoria e prática, a práxis que faz a sinergia da responsáveis por várias funções do corpo
ciência à comunidade. É na ciência que se humano, assim como atuar nas dimensões
desenvolve preceitos que orientam leis, sociais, cognitivas, emocionais, espirituais e
indicam caminhos, possiblidades, congruências corporais no processo de ensino e
que permitem percursos evolucionários e aprendizagem dos educandos. São centros
transformadores. Foi nela que, com dedicados potenciais que interferem em diversos aspectos

107 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


desse processo. Percorrem artérias que se aprendizagem. Os atos de fala são diversos,
ramificam nas veias onde fluem muitos tanto do educador quanto do educando, se
nutrientes necessários ao desenvolvimento. assim for possível ser estabelecido. Os gestos,
Imbuída pela identidade, afinidade com a as expressões, a troca da linguagem corporal é
escola de compreender o papel do professor parte essencial do processo da avaliação inicial
no triângulo dialético, sujeitos (professor e contínua, das mediações de ensino, das
educador, educando) e conteúdo (objeto de medidas de aprendizagem, pois são
ensino), a didática deve ser tema de domínio, materializadas em comportamentos de
pois nela estão elementos que se movem no linguagem, seja verbal, corporal ou escrito.
processo educativo e com grau de importância Quanto a dimensão pessoal, com o apoio das
conforme a perspectiva abordada. A ciências da Psicologia, diz respeito ao vínculo
concepção do nosso Colégio implica relevante professor-educando. Vista pelos valores do
destaque nas relações interpessoais, do Oriente, a relação entre mestre e discípulo se
aspecto sócio-econômica-cultural, ou seja, de instaura para que o discípulo alcance uma
identificar o contexto sócio-histórico dos melhor compreensão de si próprio e um
educandos (CANDAU, 2001). Uma educação consequente aperfeiçoamento moral e ético.
transformadora pressupõe o conhecer a cada No ocidente, a relação entre o professor e o
educando, e assim sendo, a comunicação educador consiste na descrição apurada do
precisa ser estabelecida. Observar, perceber, mundo exterior, do conhecer um mundo
saber o que se fala, a quem se fala e como se objetivo, que se situa fora do sujeito que quer
fala. Para isso, são necessárias ações de conhecer, situando a inauguração, de
construção, de aproximação, de arranjos apresentação e como mecanismo de correção
ambientais, de práticas cotidianas traduzidas dos erros da percepção e de aperfeiçoamento
em comportamentos e atitudes inerentes aos da razão. Nesse sentido, a finalidade do
objetivos estabelecidos, envolvendo as bases processo de conhecimento se dirige ao saber
teóricos-científica escolar, os componentes externo. Deve-se seguir na interlocução de
curriculares e habilidades relativas a todas as diálogos abertos, de perguntas multidirecionais,
cinco dimensões de modo articulado estimulando reflexões e satisfação. Os vínculos
(LIBÂNEO, 1994), e assim ter as condições dessa relação podem efetivar-se de outra
propícias ao desenvolvimento desse processo. maneira, ressaltando ainda que esse irá
Dentre os aspectos pedagógicos da didática retratar no coletivo do grupo. O respeito, a
de destaque, nesse relato são pertinentes a confiança, o afeto são fatores de necessária
relação pedagógica (CORDEIRO, 2011) incidência.
referentes a: linguística, dimensão pessoal e Em relação a dimensão cognitiva, estabelecido
dimensão cognitiva, que devem ser observados o apropriado vínculo, sem a dependência do
de modo articulado na prática educacional. A que seria negativo, é dimensão vital para poder
relação pedagógica se constrói essencialmente compreender as maneiras que a escola
pela linguagem pois, por meio de sua encontra (ou não) na ressonância entre
estruturação e das práticas discursivas, torna- crianças e jovens, bem como, o papel que ela
se muito importante influência na representa, ou pode representar, na solução de

108
diversos problemas percebidos na sociedade
contemporânea, onde seja significativo o
Habilidades/superdotação), com mestrado e
aprender do conhecimento culturalmente
doutorado em curso em Psicologia do
produzido. É o ambiente do saber epistêmico.
Desenvolvimento e Aprendizagem da
Destaca-se que, reconhecendo essas
UNESP/Bauru, que me impulsionaram a uma
dimensões, a aprendizagem acontece
necessária atuação docente atendendo aos
individualmente e no coletivo. Cada sujeito
direitos individuais e coletivos consoantes a
relaciona-se de forma diferente para as
uma educação plural, de qualidade
práticas pedagógicas. Observar, identificar e
independentemente das condições de cada
tratar as situações advindas dessas relações
educando. Meu grande aliado nesse momento,
exigem saberes que relacionem todos esses
iniciar em 2020 com a turma do 4º ano C, como
aspectos, a multidimensionalidade, ou seja,
educadora, professora-tutora, foi o saber da
técnica, humana e político social da formação
corporeidade, área que entende o sujeito
docente irão se manifestar em uma atuação
integral, que atua no movimento e educação,
plural, abrangente e diversa no atendimento
apresentando uma cultura corporal que
das peculiaridades dos educandos.
acrescente uma melhor qualidade de vida, de
Foi com essa pluralidade formativa que sou
explorar suas habilidades e de respeitar seus
formada no curso de bacharel em Direito,
limites, exercitando atividades que possam
especialista em Direito Constitucional, tive
superar barreiras enquanto individualidade,
experiência como professora de ballet, sou
com expectativas e construções individuais e
Pedagoga formada pela Faculdade de Ciências
coletivas a fim de exercer seu papel no mundo.
da Unesp (extensionista dos Projetos Ioga e
Educação e Identificação de alunos com altas

109 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


A CORPOREIDADE E SUAS educação integral em suas cinco dimensões.
POSSIBILIDADES NO PROCESSO DE Importante esclarecer, no momento, que a
ENSINO E APRENDIZAGEM yoga proporciona benefícios no funcionamento
de todo o organismo, das funções psíquicas,
Logo na primeira semana de aula, com cognitivas e afetivas. Melhora a memória,
a função de interagir com uma turma de reduz a tensão emocional, a depressão, a
educandos vindos de grupos diferentes e ansiedade, a irritabilidade e o stress. Promove
ingressando em uma nova escola, as relaxamento e maior sentimento de
atividades de corporeidade foram-me grade autodomínio. Em consequência da prática dos
aliadas, principalmente porque estava afônica exercícios de yoga, há a possibilidade de
ao me apresentar a turma. Essa condição melhorar ainda a coordenação motora e os
trouxe uma cooperação simultânea por parte processos de atenção e concentração
dos educandos. A professora se apresentou (ANDRADE; PEDRÃO, 2005).
praticamente pela Língua de Sinais – Libras, Ao iniciarmos o ensino remoto, tínhamos um
demonstrando que estava com a voz muito liame. A partir de maio de 2020, tínhamos os
diminuída. roteiros de estudo disponibilizados no Sistema
Fizemos as apresentações utilizando rodas, Educamos (SharePoint), os encontros
com bola e música, narrando gostos, além do síncronos dos estudos orientados, as
nome e da idade. No dia seguinte, já tivemos videoaulas e, na sequência cronológica, a
nossa primeira aula de corporeidade. Música, inserção das aulas online. O trabalho ficou
respiração consciente, explorando os sistemas diferente, muitas horas na frente do
corporais, alongamento, posições de yoga computador, as tentativas, os erros, os acertos,
(ásanas) e relaxamento. Continuamos com as a dedicação, a preocupação em tornar essa
práticas de uma a duas vezes por semana. Os situação o menos desgastante possível, a
dois primeiros dias marcaram uma prática intenção de conseguir, de alcançar e
realmente tumultuada. Compreensível dentre estabelecer um processo de ensino e
tensões, conflitos e aprendizado. Tudo era aprendizagem possíveis, que ainda pudessem
novo, os colegas, a professora, os espaços, a trazer medidas de aprendizagem.
ida até a sala de música, mas nascia ali um O vínculo, o estabelecimento de confiança, de
elo, uma prática que seria conforto emocional proximidade foram essenciais. Nos tornamos
nos próximos meses. companheiros de dias de isolamento. Como
Nas primeiras vezes, uns adoraram, outros dizia as crianças: “somos um marco histórico
reclamaram (foram poucos), mas antes da em acontecimento”. Faríamos parte da história
pandemia pudemos estabelecer um hábito. A que se conta às futuras gerações e
postura, as respirações, a atenção e o auto precisávamos alinhar oportunidades,
perceber-se continuavam no decorrer das harmonizar os anseios, encontrar equilíbrio e
demais atividades, das aulas dos outros garantir a saúde emocional.
componentes curriculares (BRASIL, 1996), Sim, foi possível. Nossas atividades de
demonstrando a indissociabilidade estudos começaram. Fazíamos aquecimentos
(NÓBREGA, 2005), seguindo a proposta da corporais, com exercícios de respiração, de

110
movimento das articulações, a “câmeras Indubitavelmente, nos asseguramos, ajudamo-
abertas” e as crianças acompanhando, eu os nos e trouxemos para o ambiente virtual um
vendo fazer, emocionava. Éramos vínculo saudável que corroborou nos avanços
companheiros. As músicas faziam parte, pedagógicos no processo de aprendizagem de
muitas vezes ao final, marcavam o todos da turma, considerando a influência
encerramento, o relaxamento, o alerta com a mútua e que o comportamento de cada um
postura. Exercícios para os olhos, o alerta em afeta o todo.
ser necessário avistar o horizonte de tempo em Ao retornar para o presencial, mesmo que
tempo, a importância do sentar-se confortável. por poucas horas em outubro de 2020,
O acomodar as pernas no chão, ou em um tínhamos o retorno de todos, pudemos então
apoio, o respirar e ajustar a postura. O abrir e conferir o quanto ações simples foram valiosas.
fechar as mãos, alongar o pescoço, de olhar de A posição da árvore, que realizávamos nas
um lado para o outro, alongar os braços, ficar atividades, se consolidou no nome de turma,
em pé e fazer equilíbrios, uma perna, depois a escolhido com consulta democrática: 4º ano C
outra. O abraçar a si e alongar, o massagear – Turma Ipê. As cartas relatórios de final de
com as mãos e dedos, a cabeça e o rosto. As ano escritas a cada família, de cada um dos 23
crianças faziam, praticavam e mostravam educandos, inclui a descrição de
satisfação. características dos aspectos integrais
Algumas outras atividades foram feitas: ouvir e salientados pelas práticas corporais, pois
assistir a 5ª Sinfonia de Beethoven sendo facilitou a manifestação da presença de cada
tocada pela Orquestra Filarmônica de Berlin, um deles e no grupo. A carta que a turma fez
descrever o que sentiram e compartilhar, coletivamente ao 4º ano C 2021, expressa em
aguçar os sentidos, aproveitar e recordar as palavras deles: “[...] uma coisa que nós
funções de cada um dos sentidos e seus amamos! Ela coloca música todos os dias de
respectivos órgãos sensoriais. Ressaltar que manhã, às sextas-feiras nós fazemos alguns
com os sentidos conhecemos o mundo e movimentos de yoga [...]” (Carta de boas-
quanto é importante cuidar do corpo para ter vindas do 4º ano C ao futuro 4º ano 2021,
saúde. 2020).
A sensibilização quanto aos cuidados com o
corpo. Conteúdos curriculares foram propícios
ao trabalharmos as ervas da Amazônia e o
conhecimentos da população indígena em
relação aos medicamentos; o Guaraná, fruto de
planta genuinamente brasileira e seus
benefícios. Sistemas do corpo humano,
esquelético, muscular, nervoso central e os
cuidados e atividades que devemos ter com
eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS

ANDRADE, R. L. P.; PEDRÃO, L. J. Algumas


O corpo é tudo que somos, manifesta o que considerações sobre a utilização de
somos. O corpo é tudo que vemos e não modalidades terapêuticas não tradicionais pelo
enfermeiro na assistência de enfermagem
vemos, pois é interno e externo. O corpo é psiquiátrica. Rev. Latino-Am. Enfermagem,
movimento, o corpo trabalha o tempo todo. Ribeirão Preto, v. 13, n. 5, p.737-742, set./out.
Mesmo quando estamos parados, os nossos 2005. ISSN 0104- 1169 versão impressa.
órgãos estão em movimento. Nosso sangue CANDAU, V. M. Rumo a uma nova didática.
circula em nossas veias. Nosso coração pulsa. 12. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
Somos seres humanos e necessitamos nos CAPELLINI, V. L. M. F. O paradoxo da
desenvolver integralmente. convivência no contexto escolar: há
possibilidade de a educação não ser inclusiva?
O nosso corpo, conexão dos sistemas nele
In: RONDINI, C. A. Modernidade e sintomas
presentes, permite conhecermos o mundo, contemporâneos na educação. São Paulo:
sentirmos o mundo, pensarmos o mundo e Núcleo de Educação a Distância; Cultura
Acadêmica, UNESP, 2017.
aprendermos. Temos os cinco sentidos para
isso: o paladar, o olfato, a audição, a visão e o CORDEIRO, J. A relação pedagógica. In:
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA.
tato. Nos movemos, criamos, agimos, Prograd. Caderno de Formação: formação
transformamos o mundo. de professores didática geral. São Paulo:
Os aspectos do corpo, movimento e educação Cultura Acadêmica, 2011, p. 66-79, v. 9.
são simplesmente indissociáveis, aos BRASIL. Lei nº 9394, 20 de dezembro de
educadores e educandos. Devem ser 1996. Estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional. Disponível em:
reconhecidos, mediados e observados de http://www.planlato.gov.br. Acesso em: 15 fev.
modo simples, contudo, aplicado. Desde os 2017.
cuidados diários de hidratação e alimentação,
LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e Pedagogos,
até a postura de estudo, diante dos livros, dos para quê? 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
exercícios físicos frequentes e necessários às
habilidades cognitivas, ao repouso, de ouvir
sons agradáveis ao silêncio, de contemplar a
natureza e pausar ante ao cansaço, da
comunicação não-violenta, do carinho e da
compreensão, do diálogo, da firmeza, da
confiança e inter-relação. Mobiliza-se recurso e
fundamento teórico transversal da educação,
capaz de transformar e potencializar o ser em
formação.

112
A afetividade e a colaboração como
fundamentos do processo
educativo e criativo docente
Bruna Laselva Hamer¹ 1

Acompanhar o nascimento de um projeto


educativo é uma oportunidade única, em
especial quando este projeto tem como objetivo
o desenvolvimento integral de seus educandos,
reconhecidos como sujeitos em seu processo
de crescimento. O Colégio Chaminade é uma
escola pertencente à Rede de Escolas
Marianistas, nascido em 2020, em Bauru,
interior de São Paulo. Um projeto
contemporâneo, voltado às necessidades do
século 21 que recebe como herança a tradição
educacional Marianista de 200 anos. Com uma
estrutura física moderna e bem equipada, cuja
arquitetura evidencia uma proposta pedagógica
diferenciada.
Todavia, sabemos que o maior valor de um Todos os profissionais que atuam na escola
projeto educativo é o humano. São as pessoas são reconhecidos como educadores, assim
que fazem vivo e possível um ideal, que como todos os espaços e momentos são
transformam nobres intenções pedagógicas em educativos. Essa premissa envolve um
uma comunidade de aprendizagem. Nesse contínuo movimento de cuidado e
sentido, o processo de formação e o acompanhamento. Tão importante quanto a
acompanhamento docente são fundamentais proposta metodológica, recursos didáticos,
para a efetivação de uma escola que abrace as programas de desenvolvimento, faz-se
cinco dimensões do ser humano como necessário o cultivo de uma cultura institucional
compromisso e objetivo. que reflita estes princípios e valores.

¹ Diretor pedagógico - Fundamental I - Colégio Chaminade Bauru/SP.


bruna.hamer@chaminade.com.br

113 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


O educador e a comunidade educativa A proposta pedagógica do colégio apresenta
esse objetivo por uma bela metáfora: “Nossa
identidade e missão podem ser representadas
1

Olhar para o educador a partir da pessoa que por meio de uma metáfora. A Shabono, a
é, com sua história, anseios, desejos e medos, casa-aldeia Yanomami, Um lugar específico e
é uma atitude que humaniza o processo uma comunidade que nos falam da
educativo. O professor, que não é apenas o circularidade da vida. Nossa identidade
reprodutor de um programa acadêmico técnico, concretizada num projeto educacional.”
mas a figura humana que se apresenta como (COLÉGIO CHAMINADE, 2019, p.4).
referência para as crianças. A inspiração na cultura Yanomami não é
apenas poética, é uma escolha que assume a
importância das pessoas e das relações na
Nossos olhos devem estar voltados para o
formação de uma comunidade. A afetividade
HOMEM que está dentro do professor.
constitui-se em um princípio e ao mesmo
Há um homem esquecido dentro dele.
tempo em um clima relacional.
Há um ser comprimido dentro de sua pele.
Há uma pessoa. No primeiro encontro com todos os
Há sim, educadores docentes, que chegavam no
Há uma pessoa dentro do papel do professor. colégio repletos de expectativas e disposição,
Qualquer modificação de qualquer estrutura nos reunimos em uma grande roda, para ouvir
educacional não começará a acontecer o nome de cada um, uma palavra que o
enquanto este professor não deixar sair de representasse e dançamos, marcando o ritmo
dentro de si mesmo esta pessoa que está com nossos pés e entoando um cântico
guardada e aguardada. (SAWAYA, 1981, p.54)
indígena. Depois de caminharmos juntos pelo
colégio finalizamos o encontro em torno de um
grande tacho de terra. Cada um recebeu um
Esse reconhecimento de cada individualidade
vasinho, e coletou um punhado de terra com a
traz um tom afetivo para o acolhimento da
mensagem “É com muita alegria que nos
cultura individual na construção de uma cultura
reunimos para plantar esse sonho! Seja bem-
institucional que seja capaz de receber o
vindo à nossa casa, nossa família!”. Cada
melhor de cada um em prol de um objetivo
educador iniciou o ano de 2020 trazendo seu
comum.
vasinho com sua planta, com sua oferta para
nosso jardim.

¹ Os índios Yanomamis, ocupam a região norte do Amazonas, e constroem suas casas-aldeias em formato circular,
chamando-as de "shabonos" (palavra que designa fenda, abertura ou clareira na selva). Seu dimensionamento é feito
conforme o número de ocupantes que abriga. Um grupo de parentes, em que normalmente reside apenas um grupo
familiar em cada casa.
A cobertura das unidades de moradia é articulada de modo a formar uma única superfície que abriga a todas. É um cone
truncado em sua parte superior onde permanece aberto para a penetração da luz solar na praça central, bem como para
exaustão da fumaça. A parte central da área constitui a praça da povoação, o espaço da vida social e religiosa. E,
próximo ao seu limite, ergue-se uma estrutura ininterrupta feita de troncos de árvores e folhas de palmeiras com um
imenso telhado de uma só água, que é o espaço doméstico.
114
Figuras 1 e 2. Formação de professores - Dez 2019 O ponto de observação:
a reelaboração da cultura pessoal
A afetividade e acolhimento possibilitam o
desenvolvimento de uma forte relação de
pertencimento, elementos fundamentais da
vida comunitária. Juntamente com o âmbito
coletivo, existe um processo individual que
precisa ser olhado e zelado. Cada educador
tem sua cultura pessoal e suas necessidades.
Para acompanhar o desenvolvimento
individual, o ponto de observação é um
instrumento de reflexão e crescimento. Trata-
se de um espaço de escrita para ampliar a
percepção de si mesmo e da própria prática, a
partir de um ponto específico.

É neste sentido que, nesta concepção de


educação, acompanhar e instrumentalizar o
processo de formação de educadores envolve
trabalhar o resgate do processo de
alfabetização dos mesmos: resgate de seu
pensamento, como sujeitos-escritores,
produtores de linguagem escrita. Reaprender a
ler e a escrever, comunicando pensamento,
Fonte: Juliana Heiffig Penteado construindo conhecimento. (FREIRE, 2003,
p.44)
Reconhecemos que um projeto coletivo é
formado pela riqueza de cada uma de suas O ponto de observação é um recurso reflexivo
partes, cada um têm frutos e sonhos a oferecer que possibilita ao educador pensar sua
e a coletânea dessa grande diversidade atuação docente percebendo nuances
compõe um jardim rico e potente. invisíveis de sua prática, pontos de desafio e
Em nossa escola, temos a prática de iniciar conquistas. O intuito não é uma escrita objetiva
todas as atividades com um momento de e superficial, mas direcionar o olhar a partir de
acolhida, uma prática de sensibilização e uma pergunta reflexiva em um exercício crítico,
integração que sustenta o cuidado com cada explorar angústias, reconhecer conquistas e
um e com todos. Dessa maneira, diariamente projetar novas práticas. Diante do cenário da
são cultivados laços e reconhecido o valor de pandemia do Covid-19, este processo foi
cada pessoa para o projeto. realizado por meio de um documento digital,
Esse é um processo contínuo, que envolve o que possibilitou um espaço de comunicação e
reconhecimento da cultura pessoal e o colaboração entre coordenação e educadores,
fortalecimento de uma cultura institucional, o em que a partir de perguntas provocativas e
pulso dessa dinâmica dá vida a uma metafóricas, um diálogo é tecido. Outros
comunidade educativa. recursos além da escrita aprofundam o
movimento de reflexão, como imagens,
músicas e vídeos.
115 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01
Para ilustrar a riqueza desse processo, apresento alguns trechos do ponto de observação de
alguns educadores escritos ao longo de 2020. Importante destacar o desafio vivido na
transição para o ambiente virtual pela impossibilidade de atividades presenciais em função da
pandemia.
A seguir trechos dos pontos de observação do educador 1 (sic), professor generalista:

Sinto-me fortalecido ao cultivar vínculos com


as crianças, construindo uma educação além
dos conteúdos, uma educação que seja trilha e
não trilho e que também cuide do emocional,
do bem-estar de cada uma. Parte das crianças
têm se mostrado cansada, entediada. A falta
da interação física com os colegas é o que
mais lhes afeta. Sinto compaixão por elas.
Nós, adultos, também estamos sentindo muito
a falta da interação social. Orientei às famílias
que é muito importante que o educando saiba
responder ao final da atividade proposta nas
Ah... o olhar... o olhar! Quero falar sobre o
aulas, acolhidas e tutorias a seguinte pergunta:
DESVER. Queria poder desver muita coisa. A
o que aprendi e agora sou capaz de fazer
vida, nestes últimos cinco meses tem sido
sozinho?
sombria. Sombras e mais sombras têm se
[...] Nosso próximo passo é incentivar a
revelado em minha vida, em muitos aspectos,
aprendizagem colaborativa, na qual os
e no profissional não poderia ser diferente.
educandos se organizem em equipes e
[...] Seguimos o planejado, mas será que o
possam produzir conhecimentos juntos. Estou
planejado atende às necessidades de
pensando em como fazer isso nas tutorias.
aprendizagem de todas as crianças?
Fazer rodízio de atividades. Onde cada um
O que fazer, então, diante dessas reflexões?
possa escolher a ordem das atividades.
Como será o 3º e último trimestre? [...] Meu
Outro ponto importante é os próprios alunos
ponto de observação atual é: o que eu,
selecionarem a tarefa mais significativa de
enquanto ser humano e educador marianista
cada disciplina para me enviarem. Isto já
estou possibilitando aos meus alunos, neste
compreende um processo de autoavaliação, já
momento em que a dor e o sofrimento de
que terão que refletir sobre os critérios de
tantas pessoas foi banalizado? Que
esforço, facilidade, dificuldade e superação.
consciência temos enquanto cristãos diante do
(14/07/2020, Educador 1)
sofrimento e de realmente nos importarmos
com a vida do outro? (17/08/2020, Educador 1)
Figura 3. Maior aprendizado de 2020

Figura 4. Desafio para 2021

Fonte: Imagem enviada pelo Educador 1


Fonte: Imagem enviada pelo Educador 1

116
Mais alguns trechos dos pontos de
observação da educadora 2 (sic), professora
especialista:

Descobri novas possibilidades dentro da SER LIVRE PRA CRIAR HOJE, É O QUE ME
tecnologia, na edição de vídeos, na criação MOTIVA. SER LIVRE PARA RECEBER O
das tarefas, tentei me colocar no lugar das QUE ELES TÊM A ME DIZER, É HOJE O SOL
crianças, e do ouvinte em geral quando DA MINHA PROFISSÃO. Finalmente
desenvolvo os roteiros dos vídeos, gravo e licenciatura do meu diploma tem sentido..
edito. É um processo longo, às vezes leva Tenho a LICENÇA para despertar o interesse
horas infinitas de trabalho, mas compensador. de crianças na língua que eu amo!
(01/07/2020, Educadora 2) (04/08/2020, Educadora 2)
Me sinto privilegiada de trilhar esse caminho, Essa equipe do fund I tem um coração imenso,
com muitos altos e baixos, porque é isso que e habilidades incríveis. Fico impressionada
nos faz nos sentir vivos, nem sempre o pior é quantas coisas legais sai desse baú. Acredito
realmente o pior (porque nos impulsiona a que a criação, e execução desse projeto
tentar melhorar) e nem sempre o melhor mostrará um pouco que nada somos sozinhos,
resultado é realmente algo bom (nos põe na e que a participação é algo muito maior que o
zona de conforto). trabalho pronto em si. (12/09/2020, Educador
Tento me desafiar a cada semana, estamos 2)
percorrendo o nosso caminho de Santiago, de
estômago vazio, as vezes sedentos por uma
novidade, esperando chegar no lugar
planejado e nos ajoelhar por ter cumprido a
missão. (03/08/2020, Educadora 2)

Figura 6. Desafio para 2021

Figura 5. Aprendizado de 2020.

Fonte: Imagem enviada pelo Educador 2 Fonte: Imagem enviada pelo Educador 2

117 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Abaixo trechos dos pontos de observação
da educadora 3 (sic), mediadora: Figura 8. Para 2021, disponho de cuidado e carinho.
Comigo mesma, com o outro e com esse mundo que me
acolhe todos os dias. Me desafio a ser livre, a explorar e
Somos geradores e aprendizes de permitir conhecer e ser conhecida. Que a leveza da vida
conhecimento, com esse caminhar foi possível possa continuar a guiar minha caminhada, que os nós
possam ser desfeitos e novos laços criados.
abrir mais janelas criativas no que diz respeito (Avaliação de 2020, 01/12/2020, Educadora 3)
ao nosso novo parâmetro de cotidiano escolar,
tornando também o planejamento um lugar
mais rico e sensível a partir dos educandos e
das famílias que lidamos todos os dias. As
dificuldades ainda se fazem presentes, sinto
falta do contato com as pessoas das quais
compartilhava a sala, os corredores, o
refeitório. (01/07/2020, Educadora 3)
Diariamente meu olhar tem sido iluminado com
o trabalho dessa equipe, de tamanha
sensibilidade, coragem e determinação naquilo
que tem sido feito. A acolhida com a vela foi
muito significativa e despertou muitos
sentimentos positivos em relação ao que
viemos vivenciando nas últimas semanas.
Estar, verdadeiramente, em nossos encontros
e discussões tem sido muito importante, são
momentos de aprendizagem e
compartilhamento que nos trazem alegria e
esclarecimento. (10/08/2020, Educadora 3)
A escrita dos educadores revela a intensidade
Figura 7. O ano de 2020 foi tempo de ressignificar. vivida ao longo do primeiro ano letivo do
Crescemos, evoluímos e transformamos. A nós mesmos,
as nossas relações e o nosso entorno. Tempo de colégio, com o desafio de tornar viva a
repensar as ideias e ensejos, tempo de criar. Sem que
eu percebesse vivenciei intensamente a chamada espiral proposta pedagógica somado a necessidade
da vida. Num fluxo contínuo, num tal de vai e vem que te
leva ao alto para depois recolher, acolher. Tantos os de recriação do projeto para o ambiente virtual.
caminhos foram possíveis e ao fim deles, agradeço por
cada passo Tais reflexões revelam a nuance subjetiva de
cada educador, que marcam sua prática
docente assim como a força do coletivo no
processo de desenvolvimento individual. A
escuta das dores e alegrias nesse processo
permite não apenas o acompanhamento dos
educadores, mas que eles próprios percebam-
se em processo de aprendizagem e
transformação. Em uma proposta educativa
que busca o desenvolvimento integral de seus
educandos, é imprescindível que o professor
seja reconhecido enquanto sujeito, como um
pensador que está em constante reflexão e
Fonte: Imagem enviada pelo Educador 3
crítica de sua prática educativa. Essa reflexão
acontece em um espaço individual, mas não
apenas. O trabalho com os pares é
fundamental.

118
Inteligência Coletiva e o processo criativo
O termo colaboração tem sido utilizado com
muita frequência para referir-se as novas
formas de relação contemporânea. Enquanto
sociedade estamos convocados a avançar para
uma organização que supere ações
individualistas em prol das necessidades
comunitárias. Na educação, a colaboração é
reconhecida como uma qualidade a ser
desenvolvida no ser humano no âmbito da
dimensão social, assim como uma maneira de
estabelecer as relações educativas, ou seja,
aprender em um ambiente colaborativo.
Trabalhar de maneira colaborativa é uma
necessidade e ao mesmo tempo um desafio.
Pierre Lévy desenvolveu o complexo conceito
de inteligência coletiva para referir-se à
dinâmica estabelecida por uma comunidade
em que cada parte oferece seus recursos que
se encadeiam de maneira complementar
gerando ganhos para o todo. As abelhas,
formigas e a própria organização planetária são
exemplos de como atua a inteligência coletiva.
Nas organizações humanas é possível
desenvolver a capacidade de cooperação ativa
de seus membros, como amadurecimento de
nosso processo de desenvolvimento enquanto
sociedade.

119 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Em particular, queremos evitar que a
inteligência coletiva se paralise em uma meta,
não se coisifique neste ou naquele ato interno,
em um único aspecto de sua dinâmica, pois o
essencial é o movimento autônomo, o próprio
processo criativo. O propósito da comunidade
inteligente é seu próprio crescimento, sua
densificação, sua extensão, seu retorno a si
Com efeito, a contínua transformação das mesma e sua abertura ao mundo. Numa
técnicas, dos mercados e do ambiente perspectiva política, as grandes fases da
econômico leva as organizações a abandonar dinâmica da inteligência coletiva são a escuta,
seus rígidos e hierárquicos modos de a expressão, a decisão, a avaliação, a
organização, para desenvolver a iniciativa e a organização, a conexão e a visão, cada uma
capacidade de cooperação ativa de seus delas voltada para as demais. (LÉVY, 2004, p.
membros. Nada disso, então, é possível a 46, tradução nossa)
menos que a subjetividade dos indivíduos seja
incluída e efetivamente mobilizada. Tanto no
nível das empresas ou administrações, como
no nível das regiões ou mesmo das nações, a Para o crescimento da comunidade inteligente
tensão pela inteligência coletiva pressupõe
uma nova atenção ao ser humano enquanto
é essencial atentar-se as fases sinalizadas por
tal. Quando todos os recursos afetivos e Lévy: escuta, expressão, decisão, avaliação,
intelectuais das pessoas são usados nos
casos em que as capacidades de ouvir e
organização, conexão e visão. Garantir
atender ao outro devem ser estimuladas, se a espaços de diálogo, avaliação e criação entre
interconexão planetária e o feedback social
criam jogos em que você ganha se o parceiro
os núcleos e toda a equipe foi um processo
ganha, então a competência está situada no permanente ao longo de 2020.
terreno ético. (LÉVY, 2004, p. 27, tradução
nossa)
O trabalho colaborativo entre os educadores
foi intenso e necessário. A organização
pedagógica por diversas vezes foi
Assim, o trabalho colaborativo pode promover reconstruída, diante das mudanças do cenário
mais do que a soma das ações individuais, da pandemia Covid-19, inicialmente presencial,
mas criar condições de uma dinâmica criativa e depois totalmente remoto, com alguns
potente. Os recursos, afetivos e intelectuais, momentos presenciais de recuperação e
oferecidos por cada um transformam-se ao acompanhamento emocional nos últimos
encontrar com as outras partes gerando um meses de aula. Esse movimento, apesar de
processo abrangente e múltiplo. cansativo e exigente, proporcionou o exercício
de reconstrução em busca de uma organização
que pudesse atender aos objetivos educativos.
Ao final do ano, as equipes de 1° e 2° ano e 3°
a 5° ano, respectivamente, desenvolveram
uma proposta metodológica reunindo os
principais aprendizados desse período e
aprimorando-a para 2021, com a expectativa
de retomada de aulas presenciais.
120
Cada série reorganizou o currículo anual
elencando um eixo articulador dos conteúdos
para cada trimestre. Esses eixos articuladores
envolveram as áreas de inglês, espanhol,
educação humana e cristã, educação física e
arte, buscando integrar os conteúdos de cada
componente curricular dentro da temática
explorada no trimestre.
O 1° e 2° ano organizaram a proposta de
ateliês de aprendizagem: Tais propostas representam a catarse do
processo criativo coletivo, sua beleza está na
autoria colaborativa que reúne as riquezas
Por meio de ateliês de aprendizagem, os
conteúdos são desenvolvidos de forma oferecidas por cada educador. Ela coexiste
integrada, o processo de escrita autoral é
com momentos de crise e desconforto, pois
evidenciado a todo o momento. Nesse
contexto o mundo real da criança transcende e exige a desconstrução e reorganização da
perpassa todo o processo de alfabetização
cultura individual: “Cada ser humano tem o seu
viva numa proposta de educação integral em
que o brincar e o "ser criança" fundamentam o projeto pessoal social. E, nos educadores, é o
desenvolvimento dos educandos. (COLÉGIO
da reelaboração da cultura pessoal e
CHAMINADE, 2021a).
profissional” (PACHECO, 2014, p. 98). A força
do coletivo alimenta e dá forças a esse
Já o núcleo de 3° a 5° ano organizou a movimento para os novos desafios que
proposta de trabalho com trilhas de certamente se apresentarão possibilitando a
aprendizagem em uma perspectiva de constituição saudável desse organismo
gamificação: coletivo: “Um organismo que atua, que reflete,
que cria seus próprios dinamismos de
Os educandos são os atores dessa grande
renovação – esta saúde orgânica – ocorre
aventura do conhecimento. A cada ano irão
avançar em novos horizontes. O 3º ano são os quando na divisão de trabalho há participação
expedicionários! Estão conhecendo os
de todos os seus componentes nas reflexões e
diversos lugares, olhando a tudo atentamente,
as paisagens e suas características. O 4º ano possíveis decisões dos rumos que vão se
está encantado com tanto. São exploradores
antevendo diante do processo que está sendo
de terras e tanta riqueza. Irão participar da
construção de um novo mundo. O 5º ano: vivido em conjunto.” (SAWAYA, 1981, p. 54).
Missionários! Irão transformar com o bem e
pelo bem o mundo que precisa de harmonia e
equilíbrio
[...] A partir da gamificação é possível pensar a
aprendizagem de acordo com a necessidade
dos educandos inseridos no contexto escolar
atual. Além disso, a gamificação permite
relacionar os conteúdos escolares com a
movimentação do game, possibilitando a
aprendizagem de forma interativa e lúdica,
com sujeitos ativos, críticos e autônomos.
(COLÉGIO CHAMINADE, 2021b).

121 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


REFERÊNCIAS

COLÉGIO CHAMINADE. Proposta


Uma comunidade de aprendizagem Pedagógica. Bauru: Colégio Chaminade, 2019.

__________________. Planejamento 1°
trimestre 2021 - 1° e 2° ano. Bauru: Colégio
Chaminade, 2021a.
Esse é um relato de um processo vivo de
formação e transformação docente em que a __________________. Planejamento 1°
afetividade e colaboração são elementos trimestre 2021 - 3° a 5° ano. Bauru: Colégio
Chaminade, 2021b.
fundamentais. O educador nesse movimento é
o sujeito que pensa e cria sua prática educativa FREIRE, Madalena (org). Observação,
Registro, Reflexão: Instrumentos
de forma integrada com seus pares, Metodológicos 1. 3. ed. São Paulo: Espaço
construindo uma comunidade de Pedagógico, 2003. (Série Seminários).
aprendizagem: “um grupo de pessoas que
LÉVY, Pierre. Inteligencia colectiva: por uma
persegue propósitos comuns, com o antropologia del ciberespacio. Tradução Felino
compromisso coletivo de sopesar regularmente Martinez Álvarez. Washington, DC: Biblioteca
Virtual em Saúde, BIREME, 2004. Disponível
o valor dos mesmos, modificando-os quando em:
tenha sentido, e desenvolvendo continuamente https://ciudadanosconstituyentes.files.wordpres
s.com/2016/05/lc3a9vy-pierre-inteligencia-
modos mais efetivos e eficientes de o colectiva-por-una-antropologc3ada-del-
conseguir.” (PACHECO, 2014, p. 102). ciberespacio-2004.pdf. Acesso em: 15 jun.
Seguimos nesse permanente fluxo de 2021.
desconstrução, criação e transformação! PACHECO, José. Aprender em comunidade.
São Paulo: Edições SM, 2014.

SAWAYA, Maria Amélia Pereira. O professor:


uma pessoa guardada e aguardada. Petrópolis:
Vozes, 1981.

122
1. INTRODUÇÃO

O conceito de transdisciplinaridade, embora


não seja novo, tem sido revisitado nos últimos
anos como forma de buscar uma
ressignificação das práticas pedagógicas.
Nesse sentido, ele se apresenta como algo que
vai além das tentativas de uma
desfragmentação dos conhecimentos, atuando
de forma a eliminar as fronteiras existentes
entre as diferentes disciplinas. Numa primeira
aproximação conceitual, podemos defini-la
como um

estágio superior da
interdisciplinaridade [...] que não se
A transdisciplinaridade limitaria a reconhecer as interações
e/ou reciprocidade entre as
como estratégia na pesquisas especializadas, mas o
qual seria capaz de alocar esses
prática docente links dentro de um sistema integral,
no qual não mais existem fronteiras
entre as disciplinas (PIAGET, 1972,
p. 138, tradução nossa)
Marcos Roberto de Paula¹

Quando se pensa de forma transdisciplinar,


o que se coloca em questão é a capacidade de
encontrar soluções para problemas complexos
que estejam além das respostas
compartimentalizadas que podem ser
apresentadas pelas diferentes áreas do
conhecimento. Trata-se, na verdade, de romper
justamente com essas fronteiras, buscando a
articulação entre os diferentes saberes. Ela vai,
portanto, além de uma visão de mundo linear e
unidimensional, para preocupar-se com uma
realidade multidimensional.

¹ Diretor pedagógico - Ensino Médio, Colégio


Chaminade Bauru/SP.
marcos.paula@chaminade.com.br
2. SEPARAR OU HIERARQUIZAR? série de procedimentos que permitiriam chegar
ao conhecimento verdadeiro. Entre eles, o
A compartimentalização dos saberes é algo autor afirma que seria necessário “dividir cada
que acompanha a humanidade ao longo de sua uma das dificuldades que examinasse em
história. Platão, ainda no século IV a.C., já tantas parcelas quantas fosse possível e
esboça uma possível divisão: o trivium, que necessário para melhor resolvê-las.”
corresponderia às artes da palavra (gramática, (DESCARTES, 1996, p. 23). A divisão em
retórica e dialética) e o quadrivium, que seria a disciplinas, portanto, seria a forma mais
arte dos números: aritmética, geometria, adequada de se analisar questões complexas,
astronomia e música. Essa “primeira divisão”, na medida em que sua fragmentação seria a
que ainda não pressupõe uma hierarquia de melhor ferramenta para que se chegue ao
importância dos diferentes saberes, é conhecimento verdadeiro.
repensada durante a Idade Média, com o Nessa mesma linha, a divisão disciplinar
acréscimo da Teologia, Direito e Medicina à moderna prevê a separação das diferentes
lista de saberes. O que muda, com isso, é a disciplinas, de forma hierarquizada, mas
introdução da ideia de maior importância de um transferindo da Teologia para a Matemática o
saber em relação ao outro. Naturalmente, dada status de mais importante.
a importância da religião naquele período, a
Teologia passa a ser vista como o mais
importante dos saberes.
O desenvolvimento do pensamento moderno,
cartesiano, traz outras perspectivas. Em seu
“Discurso do Método”, Descartes propõe uma
No século XIX, para colocar ordem
nas desordens trazidas pelas
revoluções sociais e intelectuais,
que, entre outras coisas, tiram a
teologia e depois a filosofia de seu cultural e ideológica capaz de garantir a
trono, uma outra divisão do nó
górdio é proposta por Augusto perpetuação do modelo industrial fundamentado
Comte e é, em seguida,
amplamente adotada pelo mundo no controle do espaço e tempo do trabalhador.
ocidental: a divisão positivista e Mas como mudar isso?
disciplinar da hierarquização das
ciências, na qual a rainha passa a
ser a matemática (PINEAU, 2000,
p. 31) 3. MULTIDISCIPLINAR, INTERDISCIPLINAR,
TRANSDISCIPLINAR
Todo esse processo de divisão e
hierarquização permanece ao longo do século Diferentes abordagens atendem a diferentes
seguinte, garantindo a separação do necessidades. Assim, quando se fala em multi,
conhecimento em áreas ou disciplinas, com inter ou transdisciplinaridade, diferentes
uma maior valorização das áreas “exatas” em perspectivas pedagógicas estão em análise.
detrimento das humanidades. No âmbito Um modelo multidisciplinar pressupõe uma
escolar, essa separação leva à formação de baixa interação entre as áreas. Nessa ótica, um
grades curriculares construídas a partir de um determinado conteúdo pode ser abordado por
conjunto de diferentes disciplinas que não diferentes disciplinas, sem que, no entanto,
dialogam entre si. Isso faz com que os haja uma integração entre elas. Cada uma
conteúdos sejam vistos como elementos delas trabalha, sob sua própria perspectiva, um
independentes uns dos outros e com que o mesmo assunto, sem que haja troca ou
fazer pedagógico torne-se descontextualizado, diálogo. O trabalho continua fragmentado,
com aulas estanques e que não são capazes individualizado, garantindo a autonomia
de se relacionar à realidade do aluno. conceitual e metodológica das diferentes áreas.
Quando se parte para uma ação colaborativa,
O Ensino convive com a
contradição que historicamente em que diferentes disciplinas irão cooperar
existe em seu interior. De um lado,
coloca-a a serviço da formação de entre si, compartilhando conhecimentos e
elites dirigentes e, de outro lado, metodologias, podemos falar sobre a ideia de
produz conhecimentos críticos para
a interpretação das relações sociais interdisciplinaridade. Nesse movimento,
contraditórias que conduzem a seu
enfrentamento e transformação. diferentes áreas do conhecimento interagem
Neste espaço, a organização
curricular fragmentada e entre si, enriquecendo o debate e
desarticulada, disciplinar, reflete a proporcionando diferentes visões acerca de
cisão histórica das atividades
humanas imposta pelo modelo uma mesma temática, de forma coordenada e
industrial à maioria das populações
(FRIGOTTO, 1995, p. 26) bem estruturada. Neste modelo de trabalho,
pressupõe-se uma integração curricular, mas
com a manutenção dos interesses próprios de
Atendendo à lógica capitalista, em especial em
cada disciplina.
sua face industrial, esse modelo de separação
reforçou ainda mais a alienação da classe
trabalhadora, fortalecendo uma formação

125 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


A interdisciplinaridade pode ser
tomada como uma possibilidade de
quebrar a rigidez dos
compartimentos em que se
encontram isoladas as disciplinas
dos currículos escolares. No
entanto, ela não deve ser vista
como uma superação das
disciplinas, mas, uma etapa
superior das disciplinas, disciplinas
essas que se constituem como um
recorte mais amplo do
conhecimento em uma determinada
área. Este recorte tem o objetivo de
possibilitar o aprofundamento de
seu estudo, é uma necessidade
metodológica legítima e necessária,
porém insuficiente para garantir a
formação integral dos indivíduos
(PIRES, 1998, p. 177)

A transdisciplinaridade, por sua vez, vai além.


Num modelo transdisciplinar, há uma transgressão
das fronteiras entre as disciplinas ,de forma que elas
deixam de se apresentar como estruturas pré-
definidas e passam a se estruturar de forma
complexa. Cunhado na França, na década de
1970, por Jean Piaget, o conceito ainda hoje suscita
dúvidas, na medida em que desconstrói a lógica
fragmentária à qual estamos habituados. Nicolescu
(2006) afirma que a transdisciplinaridade não
apenas reconhece as interações e reciprocidade
entre diferentes pesquisas, mas permite perceber as
conexões internas desses conhecimentos, sem
estabelecer limites entre diferentes disciplinas.
Nesse sentido, o modelo transdisciplinar seria um
espaço do conhecimento “para além” das
disciplinas. Ao apresentar os três postulados sobre
os quais se constrói a ideia de transdisciplinaridade,
o autor subverte a lógica à qual estamos
acostumados, fragmentária e individualizante, para
propor uma nova forma de se compreender a
realidade:
4. E O QUE ISSO MUDA NA EDUCAÇÃO?

A adoção de uma estrutura transdisciplinar


possibilita uma democracia cognitiva, na
medida em que dá igual importância a todos os
saberes, sem promover uma hierarquização
entre as diferentes áreas do conhecimento. Ao
(1) Há na Natureza e em nosso
conhecimento da Natureza eliminar as fronteiras entre as disciplinas,
diferentes níveis de realidade e,
correspondendo a eles, diferentes possibilita que diferentes explicações, em
níveis de percepção (axioma diferentes momentos históricos sejam
ontológico). (2) A passagem de um
nível de realidade para outro é validadas com o mesmo grau de importância. A
garantido pela lógica do terceiro
termo incluído (axioma lógico). (3) A banalização das áreas de Humanidades, por
estrutura da totalidade dos níveis de exemplo, deixa de ter sentido, na medida em
Realidade e percepção é uma
estrutura complexa: cada nível é o que se percebe que suas explicações são tão
que é porque todos os níveis
existem ao mesmo tempo (axioma válidas quanto qualquer outra. Para o
da complexidade) (NICOLESCU,
2006, np, tradução nossa, grifo educando, isso é de extrema importância, uma
nosso) vez que há diferentes afinidades entre eles e
essas afinidades podem – e devem – ser
Ao introduzir a lógica do terceiro termo contempladas pelo processo educativo.
incluído, abre-se a possibilidade de se Ao mesmo tempo, a transdisciplinaridade
vislumbrarem diferentes verdades, relativas e mobiliza diferentes habilidades, envolvendo as
passíveis de mudança ao longo do tempo. dimensões cognitivas, mas também aquelas de
Afasta-se, portanto, do binarismo imposto pelo caráter sócio-emocional, o que faz com que
princípio da não contradição², proposto pela haja, efetivamente um processo de construção
lógica clássica. Daí decorre que a realidade é do conhecimento. Como diz Paulo Freire
muito mais ampla e complexa, e deve ser (2003, p. 47), “ensinar não é transferir
percebida a partir de referenciais diversos. De conhecimento, mas criar as possibilidades para
acordo com Santos (2008, p. 76), "o sua própria produção ou a sua construção”.
conhecimento nunca é definitivo, mas um Nesse sentido, ao criar condições ou
produto da humanidade, estando sempre diferentes possibilidades de encontrar
ligado a circunstâncias históricas, que são respostas - ou, por que não? - novas
dinâmicas como o são os indivíduos que o perguntas, um modelo de educação
vivenciam e o projetam”. O pensamento deixa transdisciplinar reforça a autonomia e o
de ser cristalizado em torno de uma ideia de protagonismo do aluno, tornando o processo
continuidade, para dar lugar a fronteiras fluidas. de aprendizagem muito mais rico e prazeroso.

² Princípio segundo o qual algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo e na mesma relação. “É impossível o mesmo
existir e também não existir simultaneamente no mesmo conforme o mesmo (modo)”. (Aristóteles, Metafísica, IV).

127 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


REFERÊNCIAS

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uma jornada Interdisciplinar rumo ao
desenvolvimento das múltiplas inteligências.
São Paulo: Érica, 2001.
O mundo ao alcance das mãos: O presente trabalho tem como objetivo
possibilidades e conexões apresentar os resultados do projeto intitulado “O
entre ensino superior e mundo ao alcance das mãos” que visa
desenvolver aprendizagens significativas de
educação básica
geografia, principalmente, durante o período de
distanciamento social e estreitar laços entre a
Angélica Scheffer da Motta Abrantes¹ educação básica e o ensino superior.
Neste sentido, foi elaborada e aplicada a
proposta de ensino-aprendizagem com
educandos do 6º ano do ensino fundamental do
1. INTRODUÇÃO Colégio Chaminade, acerca das representações
cartográficas e uso e ocupação do solo. Para
A quarentena e o distanciamento social viabilização do objetivo proposto, foram
trouxeram uma nova realidade para a desenvolvidas as habilidades sobre interpretação
educação básica, assim, o ensino remoto de e representação cartográfica e, como finalização
geografia formou-se como um grande desafio. deste processo, os educandos elaboraram mapas
Tornar as aulas a distância significativas e táteis e realizaram uma entrevista com a Dra.
despertar o interesse dos educandos na Carla Sena, professora do curso de Geografia da
aprendizagem são caminhos que ainda estão Unesp/Campus de Ourinhos e presidenta da
em processo de redefinição. Comissão de Cartografia e Crianças da
De acordo com a entrevista concedida pela Associação Cartográfica Internacional.
Profa. Dra. Denise Lino de Araújo, o ensino No que se refere as habilidades sobre o uso e
remoto diz respeito “a todos os recursos ocupação do solo, os educandos desenvolveram
tecnológicos que podem ser utilizados como as habilidades e competências sobre a estrutura
auxiliares da educação presencial.” geológica, os solos e o modelado terrestre. No
A apreensão decorrente da pandemia, decorrer das aulas remotas elaboraram materiais
associada às medidas de informativos sobre a formação do solo e o seu uso
distanciamento social tiveram um grande
impacto em toda a sociedade, sendo consciente, como a ocupação adequada do
que milhares de crianças e jovens
tiveram suas atividades escolares relevo. Para a finalização das atividades,
interrompidas ou substituídas por entrevistaram a Profa. Dra. Maria Cristina Perusi,
sistema de ensino remoto (ARAÚJO;
PEREIRA, 2020, p. 309). docente da UNESP/Campus de Ourinhos e
responsável pelo Laboratório de Geologia,
Pedologia e Geomorfologia da mesma instituição.
A entrevista foi realizada pelos educandos dos
sextos anos que representavam suas respectivas
turmas.

¹ Professora de geografia do Colégio Chaminade, Bauru/SP. Mestra e doutoranda em Geografia pela UNESP/ Campus
de Presidente Prudente.
angelica.abrantes@chaminade.com.br

129 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


2. A REPRESENTAÇÃO DO ESPAÇO Os recursos táteis além de materiais inclusivos,
GEOGRÁFICO ATRAVÉS DA se configuram também em instrumentos mais
CARTOGRAFIA TÁTIL atrativos para as aulas, já que os educandos
podem fabricá-los e utilizá-los durante o processo
A geografia tem como objeto de estudo o educativo.
espaço geográfico que é produzido através da Assim, os estudantes dos sextos anos foram
relação dialética sociedade-natureza, que por desafiados a representar tal espaço através de
sua vez é constantemente alterada pelo mapas inclusivos: os mapas táteis. Na sequência
trabalho. Neste sentido, de acordo com Carlos didática sobre representações cartográficas,
(2017), o espaço é reflexo da sociedade que o foram desenvolvidas habilidades durante as aulas
produz. remotas, acerca os diferentes tipos e formas de
Vasconcellos (1993) discorre em sua tese de representação do espaço e como avaliação do
doutorado que os mapas são elementos processo o desenvolvimento de mapas táteis de
necessários para a percepção e construção no acordo com a metodologia proposta por
espaço geográfico. Portanto, criar materiais Vasconcellos (1993) e Sena (2008).
inclusivos possibilita que, principalmente, A partir de um mapa mudo, os educandos
usuários que não possuem a visão possam puderam escolher representar o Brasil, uma das
captar as informações. regiões administrativas do IBGE ou apenas uma
No caso de alunos com deficiência visual, das unidades federativas. Na sequência, com
materiais que possuíam em suas casas,
a importância dos mapas é ainda maior.
Diagramas, ilustrações, modelos e selecionaram diferentes texturas, para diferenciar
mapas, apesar de abstrações da
realidade, conseguem concretizar o os fenômenos a ser representados no mapa
espaço, sintetizando a informação a ser (FIGURAS 1 a 4).
percebida pelo tato. Os mapas podem
ser usados para localização, orientação

Fonte: Arquivo pessoal


e locomoção, juntamente com a bússola,
na escala da edificação. Estes recursos,
para pessoas portadoras de deficiência
visual, podem ser usados para auxiliar
nos seus deslocamentos da vida
cotidiana, na escola ou no bairro
(VASCONCELLOS, 1993, p. 50).

Segundo Carmo e Sena (2015), as


representações táteis podem ser utilizadas
como recursos didáticos na sala de aula ou
para auxiliar na orientação e mobilidade. As
autoras mencionam também que a sua
utilização possibilita

a superação de barreiras informacionais,


contribuindo para a integração da Figura 1. Educando
pessoa com deficiência na escola, no elaborando o mapa tátil
trabalho e na vida diária, além de se em sua casa com auxílio
transformar em um recurso didático
passível de ser utilizado em todas as dos responsáveis.
salas de aula e com todos os estudantes
(CARMO; SENA, 2015, p. 109).

130
Figura 2. Mapa tátil do estado
de São Paulo elaborado por
educando do 6º ano C,
utilizando camurça e barbante.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 3. Mapa tátil do Brasil


elaborada por educanda do 6º
ano B, utilizando miçangas,
papel crepom, glitter e cola
colorida. Destaque para os
elementos do mapa em Braile.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 4. Mapa mundi tátil


elaborado por educanda do 6º
ano A, utilizando algodão, casca
de lápis, milho, macarrão, arroz
e lentilha, em base de papelão.

Fonte: Arquivo pessoal

131 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


3. APROPRIAÇÃO DO RELEVO: Diante deste arcabouço teórico, os educandos
ELABORAÇÃO DE PROPOSTA DE USO dos 6º anos, durante as aulas de geografia, foram
CONSCIENTE DO SOLO instigados a elaborarem materiais informativos
sobre a formação do solo, já que é um recurso
O pressuposto teórico que norteou a natural finito e a sua formação depende de vários
sequência didática sobre a formação e fatores: material de origem (rocha), organismos,
apropriação do relevo para que os educandos clima, tempo e relevo. Além disso, pensar em um
desenvolvessem as habilidades e solo sadio é o mesmo que seres humanos sadios,
competências desta temática foi a Fisiologia da de acordo com a professora Ana Primavesi.
Paisagem. Tal teoria tem como objetivo, Destarte, os alunos foram desafiados a
segundo Valter Casseti (2005), compreender a desenvolver uma maquete que demonstrasse a
ação dos processos morfodinâmicos atuais, importância do uso consciente do solo, ou seja,
inserindo-se na análise a sociedade como do seu preparo conservacionista e, portanto, da
sujeito modificador. ocupação adequada do relevo. No referido
Assim, a fisiologia da paisagem, material, eles deveriam demonstrar uma
ocupação inadequada do relevo, isto é, a
diz respeito ao momento atual e até sub-
atual do quadro evolutivo do relevo, apropriação do relevo desconsiderando suas
considerando os processos
morfodinâmicos, como o significado das características ambientais e o consequente
ocorrências pluviométricas nas áreas impacto socioambiental, como os deslizamentos
intertropicais, ou processos específicos
nos diferentes domínios morfoclimáticos de terra, erosões e assoreamento (FIGURA 5) e
do globo, bem como as transformações
produzidas na paisagem pela também apontar como seria a forma adequada de
intervenção antrópica (CASSETI, 2005,
p.25). intervenção no ambiente, considerando, desta
vez, as características sociais e ambientais da
Neste contexto, a apropriação do relevo teve localidade.
início com a supressão da vegetação original,
Fonte: Arquivo pessoal
expondo o solo aos agentes externos, como
por exemplo, a erosão hídrica. Conforme o
autor supracitado,
a presença humana normalmente tem
respondido pela aceleração dos
processos morfogenéticos [...]
abreviando a atividade evolutiva do
modelado. Mesmo a ação indireta do
homem, ao eliminar a interface
representada pela cobertura vegetal,
altera de forma substancial as relações
entre as forças de ação (processos
morfogenéticos ou morfodinâmicos) e de
reação da formação superficial, gerando Figura 5. Maquete elaborada por educanda do 6º
desequilíbrios morfológicos ou impactos
geoambientais como os movimentos de ano B indicando a ocupação inadequada do relevo.
massa, boçorocamento, assoreamento,
dentre outros, chegando a resultados
catastróficos, a exemplo dos
deslizamentos em áreas
topograficamente movimentadas
(CASSETI, 2005, p. 05).

132
4. EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO
SUPERIOR: UMA APROXIMAÇÃO
POSSÍVEL E NECESSÁRIA

O projeto “O mundo ao alcance das mãos”


desenvolvido nas aulas de geografia, tem por
objetivo promover um espaço de diálogo entre
pesquisadores, educandos e toda comunidade, Diante de tal cenário, como forma de concluir as
estimulando o desenvolvimento da pesquisa sequências didáticas acerca das representações
científica. Neste sentido, compreende a cartográficas e a ocupação adequada do relevo,
necessidade de aproximar realidades um educando representando cada uma das
paradoxalmente distantes: a educação básica e turmas do 6º ano, puderam realizar uma
o ensino superior. entrevista com as professoras e pesquisadoras de
De acordo com Soares (2014, p. 444), “a cada das respectivas áreas de atuação na
articulação entre diferentes níveis e geografia.
modalidade de ensino considera que um dos As perguntas foram elaboradas pelos integrantes
principais eixos da profissão docente foi, e das turmas (QUADROS 1 e 2) e a entrevista
continua sendo, o trabalho com os saberes ocorreu pela plataforma Streamyard e depois
escolares manifestos em disciplinas, normas, disponibilizada para toda comunidade escolar
valores e conhecimentos com vistas a sua pelo canal do Youtube do colégio (FIGURAS 6 A
aquisição pelas novas gerações”. Portanto, não 9). Durante a entrevista os educandos foram
somente para a formação continuada do convidados a realizar uma exposição com o
docente, como também para o resultado de seus trabalhos para a comunidade
desenvolvimento de projetos que podem ser acadêmica do Campus de Ourinhos da UNESP,
úteis para ambos os seguimentos da assim que finalizar o período de distanciamento
educação, urge necessária tal conexão. social. Além da possibilidade de desenvolvimento
Conforme o autor mencionado: de outros projetos científicos com a referida
As inovações por meio de práticas instituição.
pedagógicas reflexivas podem contribuir
para essa formação de qualidade desde
que o espaço da escola seja de fato
reconhecido como importante lugar para
construção de conhecimentos e para a
troca de experiências, efetivando o
princípio da interatividade dialética entre
teoria e prática, pois não há prática que
não expresse alguma teoria e não há
teoria que não expresse alguma prática
(SOARES, 2014, p. 256).

133 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Questões elaboradas previamente pelos educandos dos sextos anos
(ano letivo de 2020) sobre cartografia tátil

1. O que você acha da sua profissão e qual a sua importância?

2. O que você mais gosta da cartografia tátil?

3. Como as crianças identificam as diferentes partes do mapa tátil?

4. Como é trabalhar com pessoas com deficiência visual?

5. Qual sua área favorita da geografia? Qual lugar você gostaria de estudar?

6. Como foi fazer pela primeira vez um mapa tátil?

7. Desde quando a senhora trabalha nessa área? Quando despertou o interesse em cartografia?

8. Quais aspectos você leva em conta na escolha dos materiais para fazer um mapa tátil? Você
escolhe os materiais pela textura ou aparência?

9. Ao elaborar um mapa tátil, você tem preferência por algum material?

Quadro 1. Perguntas elaboradas pelos educandos dos 6º anos


A, B e C para a Profa. Dra. Carla Sena, sobre cartografia tátil.

Figura 6. Entrevista com a profa. Dra. Carla


Sena sobre Cartografia Tátil, mediada pela profa.
Ma. Angélica Scheffer e educandos dos 6º anos.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 7. Profa. Carla explicando um dos


processos de elaboração de mapas táteis.

Fonte: Arquivo pessoal

134
Questões elaboradas previamente pelos educandos dos sextos anos
(ano letivo de 2020) sobre geologia, pedologia e geomorfologia

1. Qual tipo de rocha você acha mais bonita? E qual pedra?

2. Você acha que no futuro com mais tecnologia, o ser humano consiga chegar no manto?

3. Você ainda tem algum mineral que gostaria de ter? Se, sim, qual?

4. Você já viu um vulcão em erupção e no outro dia pegou uma rocha de lá?

5. Qual a maior voçoroca que você conhece?

6. Teria mais alguma transformação do entorno da formação da rocha metamórfica?

7. Você pode, por favor, nos contar uma curiosidade sobre o solo?

8. Como os solos ficam com texturas e cores diferentes?

9. Qual a melhor maneira de se recuperar um solo atingido pela erosão?

Quadro 2. Perguntas elaboradas pelos educandos dos 6º anos


A, B e C para a Profa. Dra. Maria Cristina Perusi, sobre
geologia, pedologia e geomorfologia.

Figura 8. Entrevista com a Profa. Dra. Maria


Cristina Perusi, mediada pela Profa. Ma. Angélica
Scheffer e educandos dos 6º anos.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 9. Educando do 6º ano mostrando


seu trabalho sobre a formação do solo para
a profa. Dra. Maria Cristina Perusi.

Fonte: Arquivo pessoal

135 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O resultado do projeto foi muito relevante,


constatou-se o envolvimento dos discentes na
prática e as aulas, mesmo que remotas,
tornaram-se mais significativas. Além de
despertar neles a pesquisa científica e
preocupação em elaborar materiais inclusivos e
informativos.
Outro ponto a ser destacado foi a possibilidade
de os educandos conhecerem as diferentes
áreas de atuação de um geógrafo, diferentes
metodologias de pesquisa, como também a
importância da ciência geográfica na
compreensão de fenômenos socioambientais
em diferentes recortes temporais e espaciais.
Conclui-se que a aproximação e a interação
entre os diferentes seguimentos da educação
são enriquecedoras para ambos. Já que para
os educandos é possível que eles
compreendam a pesquisa científica e a real
aplicação dos conteúdos trabalhados no
cotidiano acadêmico. E para os docentes e
discentes do curso de licenciatura em geografia
plausível a efetivação do princípio da
interatividade dialética entre teoria e prática,
tão distante, muitas vezes, na formação
docente.
REFERÊNCIAS GOMES, Marquiana de Freitas Vilas Boas; et al.
Ensino remoto emergencial no contexto da
ARAUJO, Patrícia Silva Rosas de; PEREIRA, pandemia da COVID-19: Trabalho e formação do
Paulo Ricardo Ferreira. Os desafios do ensino professor de geografia no Paraná. Revista
remoto na educação básica. Entrevistada: Denise Pegada, v. 21, n. 3., p. 307-331, set./dez. 2020.
Lino de Araújo. Revista Leia Escola, Campina
Grande, v. 20, n. 1, p. 231-239. 2020. Disponível SENA, Carla Cristina Reinaldo Gimenes de.
em: Cartografia tátil no ensino de geografia: uma
http://revistas.ufcg.edu.br/ch/index.php/Leia/article proposta metodológica de desenvolvimento e
/view/1834/pdf. Acesso em: 15 maio. 2021. associação de recursos didáticos adaptados a
pessoas com deficiência visual. 2008. Tese
CARLOS, Ana Fani Alessandri. Espaço-tempo (Doutorado em Geografia Física) – Universidade
da vida cotidiana na metrópole. São Paulo: de São Paulo, USP, São Paulo, 2008.
Labur Edições, 2017. Disponível em:
http://gesp.fflch.usp.br/sites/gesp.fflch.usp.br/files/ SOARES, Ademilson de Souza. A formação do
Espa%C3%A7o- professor da Educação Básica entre políticas
Tempo%20da%20Vida%20Cotidiana%20na%20 públicas e pesquisas educacionais: uma
Metr%C3%B3pole_.pdf. Acesso: 26 maio. 2021. experiência no Vale do Jequitinhonha em Minas
Gerais. Ensaio: Avaliação e Políticas Públicas em
CARMO, Waldirene Ribeiro do; SENA, Carla Educação, Rio de Janeiro, v.22, n. 83, p. 443-464,
Cristina Rinaldo Gimenes de. Cartografia Tátil: o abr./jun. 2014.
papel das tecnologias na Educação Inclusiva.
Boletim Paulista de Geografia, v. 99, p. 102- VASCONCELLOS, Regina. A Cartografia Tátil e
123. 2018. o Deficiente Visual: uma avaliação das etapas
de produção e uso do mapa. 1993. Tese
CASSETI, Valter. Geomorfologia. [S.I.: s.n.], (Doutorado em Geografia) – Universidade de São
2005. Paulo, FFLCH-USP, São Paulo, 1993.

137 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Gêneros do discurso:
por uma concepção dialógica do ensino
Matheus Seiji Bazaglia Kuroda¹

RESUMO 1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem o objetivo de revisitar alguns


conceitos do Círculo de Bakhtin, que vêm Desde a publicação dos Parâmetros
sendo cada vez mais apropriados na Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997) e,
academia, sobretudo nas pesquisas de
Linguística Aplicada, e nos documentos oficiais atualmente, com a Base Nacional Comum
da educação, para discutir, de forma didática, o Curricular (BRASIL, 2018), vem sendo
paradigma do ensino de língua baseado em discutida a necessidade de se trabalhar o
gêneros do discurso. Embora Bakhtin e o
Círculo não tivessem preocupações componente curricular Língua Portuguesa, na
pedagógicas, voltando-se restritamente a uma Educação Básica, em uma concepção
filosofia da linguagem, as discussões sobre os
gêneros do discurso e sobre a natureza enunciativo-discursiva, baseada em gêneros
constitutiva dos enunciados permitiu um olhar discursivos/textuais, colocando o texto como
mais atento aos discursos que permeiam a unidade de ensino. Sem deixar de reconhecer
sociedade, ressignificando a forma de
conceber a língua, como atividade humana algumas falhas na elaboração desses
centrada em práticas sociais. Baseados, documentos oficiais, eles trouxeram
então, nas premissas de que todo ato humano
– assim como os enunciados – é responsivo, contribuições significativas para ressignificar o
pertencente a um elo na cadeia comunicativa, processo de ensino de língua, que, durante
as teorias bakhtinianas, aplicadas à educação,
muito tempo, estava preso às amarras de uma
colocam em pauta a responsividade da ação
docente e a responsabilidade dos atos de tradição que concebeu a língua apenas como
linguagem, pensando na aula como um um sistema abstrato de regras prescritivas e o
acontecimento discursivo e nas produções dos
alunos como enunciados que refletem e texto como um produto acabado, sendo apenas
refratam práticas sociais. Assim, considerando uma espécie de manifestação do pensamento.
uma realidade brasileira educacional em que
parece haver uma prática docente voltada a
uma ação tarefeira de reprodução de técnicas
2

e materiais prontos, indo de encontro com as


ideias de Bakhtin, é importante revisitar os
conceitos de “gênero”, “dialogismo” e
“alteridade”, entre outros, para desfazer
algumas crenças vulgarizadas no próprio meio
escolar, que muitas vezes colocam os gêneros
como produtos estanques, sem articulação
com o mundo real, em uma perspectiva
autônoma de letramento.

Palavras-chave: Gêneros do discurso.


Bakhtin. Aula como acontecimento.

¹ Educador do Colégio Chaminade, mestre e doutorando


no Programa de Pós-graduação em Letras, da
Faculdade de Ciências e Letras (FCL), da UNESP/Assis.
matheus.kuroda@chaminade.com.br
Antes da publicação desses documentos,
muitos autores, como Geraldi (2003², 2006 3 ),
Kleiman (1995) e Ilari (1989), já haviam
apontado, há décadas, um distanciamento dos professores para trabalhar os gêneros
evidente entre a academia e a Educação discursivos, por meio de uma ação escolar
Básica, o que refletia na reprodução dos mais sensível aos usos da escrita na
modelos tradicionais e cristalizados de ensino, sociedade.
sem uma legitimação teórica. Assim, na medida Logo, de forma prática, por meio dos gêneros
em que foram sendo ampliados os estudos da discursivos e em projetos de letramentos,
Linguística Aplicada, trazendo impactos no
“ensinar a língua com base nos usos sociais da
universo escolar, novas concepções de língua e
linguagem passou a ser um ideário” (CERUTTI-
linguagem passaram a frequentar o contexto
RIZZATTI, 2012, p. 251), trazendo o desafio de
docente, o que gerou a necessidade de
atualizações teórico-metodológicas e a desenvolver novos procedimentos
ressignificação dos modos de ser. metodológicos, centralizando os enunciados/
Por isso, por uma influência necessária da discursos, como atividades humanas
academia, houve um deslocamento de foco do complexas, que se realizam em diferentes
ensino de língua materna: o que antes prezava esferas/campos de atividades.
pelo ensino sistematizado de regras Acontece que, diante de tantas
prescritivas gramaticais, passou a privilegiar as transformações, segundo Cerutti-Rizatti
estratégias de aprendizagem de leitura e (2012), o ideário volta-se contra a sua própria
escrita, centralizando o texto como unidade de
lógica. Ainda persiste, na Educação Básica, um
ensino.
trabalho meramente prescritivo, até mesmo
Além disso, as teorias sobre gêneros do
pela abordagem de gênero. Isto é, percebe-se,
discurso (BAKHTIN, 2010) e letramento
ideológico⁴ (STREET, 2014) tornaram-se mesmo com tanta publicação voltada aos
relevantes para a ressignificação das práticas docentes, que o gênero é concebido como
didáticas de leitura e escrita, buscando dois “artefato”, por meio de práticas, em sala de
objetivos principais: uma ação escolar aula que acabam “empacotando a vida da
comprometida com as práticas sociais e a linguagem” em práticas de esquadrinhamento,
hibridização dos conhecimentos dominantes e em contraface com as ideias de Bakhtin. Nesse
populares. Trata-se de um novo paradigma que contexto, são perceptíveis atividades de
impactou na concepção de língua, que deixa referência categorial, que tentam colocar os
de significar uma mera “erudição” (como foi
gêneros discursivos em “caixinhas”
feito há décadas), exigindo maior mobilização
taxionômicas, observando o que um gênero
precisa (ou não precisa) ter para ser
enquadrado como tal.

² Em “Portos de Passagem”, Geraldi discute sobre a identidade do professor diante à história do ensino no Brasil e
estabelece alguns paradigmas importantes para o ensino de língua materna: a importância das escolhas docente (textos,
matérias etc.), a centralidade em atividades reflexivas e dialógicas, por exemplo.
3 Geraldi, em “O texto na sala de aula”, promove reflexões aos docentes acerca dos fundamentos do ensino da língua, da

literatura, da leitura e da produção de textos na escola. Tal publicação trouxe impactos sobre a importância de colocar o
texto como unidade de trabalho nas aulas de Língua Portuguesa.
4 Concepção de Street (2014) referente ao letramento escolar embasado nas práticas sociais, em contraste com um

letramento autônomo: sem contexto e fechado ao mundo real.

139 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Por isso, este artigo será dividido em três
partes: i) breve explicitação sobre os conceitos
dos gêneros do discurso e de sua realização a
partir da interação verbal; ii) explicitação das
implicações pedagógicas baseadas nas
Na produção textual, é comum observar, concepções dialógicas: a aula como
também, por exemplo, a persistência de práticas acontecimento; iii) breve discussão sobre a
em que o docente trabalha com enunciados, mas produção textual feita na Educação Básica.
sem articulá-los como uma atividade humana 2. GÊNEROS DO DISCURSO
específica, concretizada em uma esfera/campo de
atuação, repetindo os velhos processos que Segundo Bakhtin (2010, p. 261), “todos os
artificializam os usos da língua. Nessa perspectiva, campos de atividade humana estão ligados ao
segundo Cerutti-Rizatti (2012), o gênero passa ser uso de linguagem” e é por meio do enunciado,
objeto de ensino em si e por si mesmo, não como materialização da língua, que são
contribuindo para um ensino da língua de forma refletidos e refratados as condições e os
dialógica. modos de organização de cada campo de
Manuais, materiais prontos, livros didáticos e atividade desempenhada pelo homem.
apostilas passaram a arrolar uma série de gêneros, Logo, compreender esses enunciados é uma
escolhidos meramente por faixa etária, com o forma de igualmente compreender as esferas e
propósito de catalogar a linguagem e as atividades os campos, como instâncias organizadoras da
humanas como estanques. Assim, profissionais da produção, circulação e recepção de
educação, por vários motivos que não os enunciados. Pode-se dizer, então, que cada
culpabilizam totalmente, muitas vezes, passaram a campo, com as suas especificidades e
adotar esses materiais, em ações-tarefeiras de discursos, constrói os seus “enunciados
mera reprodução, priorizando uma construção relativamente estáveis” (BAKHTIN, 2010, p.
apriorística uniformizante, que não faz sentido aos 262), que refletem e refratam as práticas
sujeitos envolvidos, em busca de uma sociais. A esses enunciados relativamente
pseudomodernidade, sem apropriação teórica. estáveis, é atribuído o nome de gênero do
Diante dessa realidade, este artigo, então, discurso, cuja estabilidade vincula-se a três
para cumprir com o objetivo de revisitar os 5
elementos essenciais e indissociáveis: tema,
conceitos bakhtinianos que interessam ao estilo e estrutura composicional.
ensino de Língua Portuguesa por meio dos Considerando a diversidade de atividades
gêneros discursivos, discutirá alguns conceitos, humanas que existem e que vem sendo cada
de forma didática, para resgatar aspectos vez mais ampliadas, há uma diversidade de
teóricos essenciais que envolvem um ensino gêneros e vão surgindo cada vez mais outros
dialógico que valorize as aulas, como um para dar conta da pluralidade da existência
espaço de interação, e as produções como humana. Além disso, quanto mais elaborada é
alunos, como enunciados. uma esfera/campo, mais diversos e igualmente
complexos são os gêneros e as práticas sociais,
5
Já dizia Bakhtin (2010, p. 280) que “o gênero escolhido nos sugere os tipos e os seus vínculos composicionais”.

140
fazendo com que haja uma heterogeneidade
explícita na constituição dos gêneros
discursivos. Afinal, conforme Bakhtin (2010, p. de um gênero para outro não só modifica o tom
262), “a complexidade da atividade humana, do estilo nas condições do gênero que não lhe
situada em campos específicos, faz com que é próprio como destrói ou renova tal gênero”
os elementos relativamente estáveis sejam (Ibid, p. 268).
abstratos e vazios”. Logo, compreender esses Postulando, então, os gêneros discursivos
enunciados, em toda a sua complexidade e como elementos abstratos e os enunciados
sem minimizar a heterogeneidade, é uma como unidade da comunicação discursiva em
tarefa crucial para decifrar os discursos da que há a concretização dos gêneros, é
sociedade e para compreender a vida, uma vez importante trazer à tona alguns outros conceitos
que o homem é constituído como sujeito de relevantes acerca da natureza enunciativa: a
língua, que existe, circula e se manifesta, na responsividade, dialogismo e alteridade.
sociedade, por meio dos enunciados/gêneros.
Já dizia Bakhtin (2010, p. 271) que “o
Bakhtin (2010) considera a existência de dois
ouvinte, ao perceber e compreender o
tipos de gêneros: os primários e os
significado (linguístico) do discurso, ocupa
secundários. Enquanto aqueles formam-se em
simultaneamente em relação a ele uma ativa
condições discursivas imediatas e possuem
posição responsiva: concorda ou discorda (total
vínculo com a realidade concreta (campo da
ou parcialmente), completa-o, aplica-o,
vida), estes surgem nas condições de um
prepara-se para usá-lo, etc.”. Então, todo ato
convívio cultural mais complexo/desenvolvido
comunicativo é responsivo, uma vez que a
(artístico, científico, político etc.) e incorporam
compreensão é de natureza responsiva e que
e reelaboram os gêneros primários.
“toda compreensão é prenhe de resposta” (Ibid,
Uma das grandes diferenças entre os gêneros
p. 271) e, por isso, dialógica.
primários e secundários, de acordo com Bakhtin
Isto quer dizer que todo enunciado se
(2010), é sobre o estilo – um dos elementos-
apresenta como uma resposta a outros
chave dos gêneros. Sendo todo enunciado
enunciados, em atividades humanas
único, individual e não reiterável⁶, o estilo
específicas, não sendo isolados no tempo e no
marca e reflete a individualidade do
espaço. Considerar enunciados/gêneros, na
falante/produtor, dentro de um contexto
concepção dialógica, é compreender que existe
específico. Assim, por forças coercivas, os
um elo na cadeia comunicativa: os
gêneros primários possuem uma presença
enunciados não existem sozinhos, pois é
maior do estilo individual do falante, uma vez
marcado pela dialogicidade, o que o configura
que estão atrelados às esferas cotidianas,
como “um elo na corrente complexamente
enquanto os secundários refletem um estilo
organizada de outros enunciados” (BAKHTIN,
geral/genérico, determinado pelas
2010, p. 272).
especificidades do campo da atividade ao qual
está vinculado. Por isso, “a passagem do estilo

6
Justamente pelos enunciados serem materializados em uma situação única e em uma instância de enunciação
irrepetível, que marca um falante (eu), em um tempo (aqui) e espaço (agora) definidos, como uma atividade humana que
acontece em uma esfera específica.

141 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Nesse sentido, o enunciado “é pleno de
tonalidades ideológicas” (BAKHTIN, 2010, p.
298), sendo que ele é, em sua natureza
constitutiva, carregado de outras vozes (já
ditos). Assim, vale dizer que o falante não é o O discurso é como o “cenário” de um certo
acontecimento. A compreensão viva do
Adão bíblico, que rompe o silêncio pela sentido global da palavra deve reproduzir
primeira vez, pois ele responde e exige uma esse acontecimento que é a relação
recíproca dos locutores, ela deve “encená-
resposta, baseado no outro – no ouvinte, nos la”, se se pode dizer; aquele que decifra o
sentido assume o papel de ouvinte; e,
outros enunciados já materializados na cadeia para sustentá-lo, deve igualmente
compreender a posição dos outros
comunicativa etc. Isto é, tudo existe no participantes (BAKHTIN, 1926, p.199).
dialogismo e na alteridade, em um constante
ato de resposta – tudo ecoa, sempre há
endereçamentos, sempre há um elo, uma vez A palavra, então, na perspectiva bakhtiniana
que “a vida é dialógica por natureza. Viver (2010), assume três perspectivas: da Língua
significa participar de um diálogo” (BAKHTIN, neutra, que não pertence a ninguém; a palavra
1987, p. 263). alheia, cheia de ecos de outros enunciados; a
Assim sendo, considerando a importância da posse (minha), que marca a expressividade e o
alteridade e do dialogismo, o papel do outro estilo individual. Vale ressaltar que, embora
passa a ser um elemento importante a se aqui separadas, elas estão em um
considerar. Durante muito tempo, os estudos processo dialógico : a produção de qualquer
sobre a comunicação humana, segundo enunciado as mobiliza (do falante, do
Bakhtin (2010), estiveram presos às ideias de ouvinte/outro, da língua neutra e das vozes-
expressão do pensamento do falante e da outras), sendo o diálogo o ponto de interação
expressividade do mesmo, como se este fosse entre essas palavras.
um sujeito centralizado; não se considerava, no
entanto, o relevante papel do ouvinte, como um
sujeito primordial na constituição do enunciado Na realidade, toda palavra comporta duas
faces. Ela é determinada tanto pelo fato
– e do próprio sujeito. que precede de alguém, como pelo fato de
que se dirige para alguém. Ela constitui
Ora, se há dialogismo, o discurso do locutor, justamente o produto da interação do
nesse contexto, é repleto de vozes sociais que locutor e do ouvinte. Toda palavra serve
de expressão a um em relação ao outro.
o tornam um sujeito histórico e ideológico – isto Através da palavra defino-me em relação
ao outro, isto é, em relação à coletividade.
quer dizer que nós nos constituímos de outros. A palavra é uma espécie de ponte lançada
A alteridade é, portanto, necessária à entre mim e os outros. Se ela se apoia
sobre mim numa extremidade, na outra
constituição do sujeito – produto inacabado e apoia- se sobre o meu interlocutor. A
palavra é o território comum do locutor e
incompleto –, uma vez que o ser humano do interlocutor (BAKHTIN; VOLOSHÍNOV,
1981, p. 113).
sempre está se ressignificando, por meio das
suas interações verbais. Todo enunciado é,
então, polifônico: existe uma multiplicidade de
vozes e de outros nos discursos/enunciados.

142
Dessa forma, considerando o dialogismo e a
alteridade como elementos essencialmente
constituintes das ações humanas, são
postuladas as propriedades do enunciado: (i)
Limite/ Dixi – alternância dos sujeitos do
diferentes campos/esferas. Assim, as unidades
discurso, que marca os elos; (ii) Finalização – a
linguísticas, antes arquitetadas apenas por
conclusibilidade do enunciado, vista como a “a
uma abordagem normativista, agora passam a
inteireza do enunciado, que assegura a
ser entendidas pela normalização, sendo
possibilidade de resposta” (BAKHTIN, 2010, p.
mutáveis, plásticas e relativamente estáveis,
281), indicada por três fatores: exauribilidade
construindo os estilos de diversos enunciados
do sentido e do objeto (acabamento ), pela
e articuladas com as esferas de atividade
intenção discursiva (o projeto de dizer) e pelas
humana.
formas típicas composicionais (marca 7 o “fim”
Assim, como tudo é responsivo e responsável,
de um enunciado); (iii)
pertencente a uma cadeia comunicativa, é
Individualização/Expressividade – estilo
preciso reconfigurar a própria representação
individual/subjetividade. Logo, todo enunciado
psicológica sobre a ideia de aula – que era
é pelo marcado pela alternância de sujeitos
marcado pelo tradicionalismo – como um
(que se constituem na alteridade), na
gênero discursivo que se materializa em forma
finalização e expressividade.
de enunciado, situado em um tempo e espaço,
envolvendo diversos sujeitos.
3. AULA COMO ACONTECIMENTO
A aula também é um elo e, por isso, surge por
meio de uma resposta e de uma necessidade.
Nesta seção, embasados nas teorias
Por exemplo, antes do momento de uma aula
bakhtinianas apresentadas anteriormente,
são mobilizados conhecimentos e enunciados
serão consideradas algumas implicações
de diversas esferas – teórico, didático,
pedagógicas que os estudos do Círculo de
prescritivos (dos documentos oficiais) etc. –
Bakhtin trouxeram no contexto educacional,
que serão engendrados, por meio da interação
problematizando com o ensino atual de língua
verbal com diversos sujeitos de subjetividades
materna, mesmo o grupo não tendo
e existências distintas, para criar um evento
preocupações voltados ao ensino, mas sim a
único e novo. Esta, por sua vez, justamente na
uma filosofia da linguagem.
interação, responde e exige resposta dos e aos
A concepção dialógica da linguagem proposta
sujeitos envolvidos.
por Bakhtin ressignificou o conceito de língua –
focando na enunciação – e trouxe um
paradigma de como conceber os gêneros
discursivos, como elementos indissociáveis às
atividades humanas desenvolvidas em

7
Medviédev (2012) e Bakhtin (2010), dentro do Círculo, discutem a questão do acabamento como algo relativo, uma vez
que ele não é marcado pelo falante, mas também pelas respostas dos outros/ouvintes.

143 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


Considerando, então, a aula como um elo e Diante do exposto e considerando a
linguagem enquanto processo interativo,
uma atividade comunicativa, que envolve torna-se necessário, dentro de todo
sujeitos sociais (falante/ouvinte)⁸, os processo educacional, uma mudança de
concepção, uma revisão no que tange às
conhecimentos devem se mobilizados por meio questões formais. Para isso, seria
ecessário deixar de lado as estruturas
das interações verbais. As palavras de Bakhtin prontas e fixadas, as dicotomias
existentes, entre certo/errado,
(2010) – a neutra, a do outro, a minha e as das regras/exceção, local/universal, e que os
vozes/outras já materializadas no elo – devem processos constitutivos dos sujeitos e da
linguagem sejam valorizados e
interagir construindo um momento dialógico, vivenciados nos momentos de interações
discursivas [...].
fazendo com que a aula seja um momento
único: não repetível e não reiterável,
justamente por envolver sujeitos diferentes, Nessa perspectiva, defendida por Geraldi
com suas vozes e particularidades. (2015), aula como acontecimento pressupõe
Isso quer dizer, também, que é necessária a uma dinamicidade no processo ensino-
mudança, inclusive, dos contratos de interação aprendizagem: perguntas, interações, jogos de
em sala de aula, antes marcadas por forças imagens, estabelecimentos de contratos
centrípetas⁹ . comunicativos mais dinâmicos e polifônicos e
interlocução em uma busca coletiva de
[...] o contexto da aula pode ser perguntas-repostas são questões essenciais
constantemente redefinido na interação,
porque, primeiro, o contexto não é algo para que a aula seja um acontecimento.
que já está dado, e, segundo, porque a
interação é uma atividade de produção de Geraldi (2015), utilizando fundamentos do
sentidos e através dela professor e Círculo de Bakhtin, afirma que não deve haver
alunos, particularmente o professor, pela
desigual distribuição de poder na passividade, uma vez que o sujeito é um ser
instituição, criam realidades e modificam o
mundo (KLEIMAN; SEPULVEDA, 2014, p. inconcluso que, no dialogismo e na vida, por
18).
meio da interação e da alteridade, assume
Não há certo e nem errado, mas há vozes ações.
que se coordenam, se completam, se anulam e
Professar tal teoria do sujeito é aceitar que
que, no embate, criam sínteses, conceitos e somos inconclusos, de uma incompletude
fundante e não causal. Que no processo
resoluções a problemas, baseadas no diálogo, de compreendermos a nós próprios
instigando atitudes responsivas, em sala de apelamos para um conjunto aberto de
categorias, diferentemente articulados no
aula, que constroem o conhecimento. Por isso, processo de viver. Somos insolúveis (o
que está longe de volúveis) no sentido de
a aula é um acontecimento. É o que afirma que não há um ponto rígido, duro,
fornecedor de todas as explicações
Freitas et al. (2016, p. 49): (GERALDI, 2015, p. 32).

8
Há de se considerar as diversas interações possíveis: professor-aluno, aluno-aluno e aluno-professor.
9
A existência de enunciação escolar monológica, que tem um caráter unificador e centralizador (homogêneo) das
ideologias verbais.

144
4. OS ENUNCIADOS DOS ALUNOS:
PRODUTO OU PROCESSO?

Se todo enunciado é um elo na cadeia


comunicativa, pode-se afirmar, também, que
A aula, então, como acontecimento, passa a toda produção, por que humana, é dialógica,
ser um evento discursivo singular que sendo parte importante de um processo
envolvem sujeitos, em um processo de trocas e responsivo. Dessa forma, vale questionar: os
interações que reconstitui a linguagem, os enunciados – comumente chamados de
modos de ser dos docentes e das suas ações “textos” – produzidos na Educação Básica
cotidianas. pelos alunos realmente respondem a uma
Vale ressaltar, ainda, se um dos conceitos- necessidade e se articulam como elo na cadeia
chave do paradigma enunciativo-discursivo é a complexa de enunciados? Será que, na
alteridade, é importante pensar na elaboração Educação Básica, há uma minimização da
autoral do próprio enunciado aula – único e não heterogeneidade constitutiva dos gêneros?
reiterável: quais enunciados, quais os pontos Não é de hoje que vem a orientação da
de partida, quais objetos do conhecimento necessidade de “contextualizar” o ensino,
serão mobilizados e como tornar essas vozes principalmente no eixo Produção de Texto, na
em um acontecimento inédito. Uma vez que a componente Língua Portuguesa. Porém, trata-
perspectiva dialógica de ensino pressupõe a se, ainda, de uma visão muito simplista exigir
importância do outro (do aluno, no caso), apenas uma problematização de uma situação
dentro de suas atividades humanas, tudo, em de produção de textos. Se os documentos
sala de aula, precisa ser responsivo e surgir oficiais colocam, de forma categórica, uma
por uma necessidade. concepção enunciativo-discursiva, é preciso
Pouco se percebe, no entanto, essas questões considerar uma perspectiva de ensino que dê
na Educação Básica. Ainda há a persistência conta de se trabalhar com a produção de textos
do monologismo e do uso de materiais prontos que respeite a natureza constitutiva dos
(livros didáticos, apostilas, etc.), que concebem enunciados.
os gêneros como artefatos estanques e os De início, a demanda da proposta de
enunciados como produtos sem vínculo com a enunciados por uma questão de alteridade,
realidade, desconsiderando a sua natureza deve dialogar com as necessidades, anseios e
constitutiva, deixando de lado a alteridade e as vivências do alunado, para que ele tenha um
realidades que existem em uma sala de aula – protagonismo e consiga mobilizar
heterogênea e multifacetada. Práticas conhecimentos e enunciados que dizem
tradicionais ainda persistem, junto com um respeito a sua realidade. As produções, então,
discurso de modernidade que não é legítima. precisam ser desenvolvidas como atividades
humanas reais, dentro de uma esfera/campo
específico, sem descaracterizar a linguagem.
Além disso, ora, se o enunciado é um elo, ele
nunca é finalizado. Se toda compreensão é

145 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


individual, o enunciado nunca está acabado,
sendo único e não reiterável, uma vez que ele espaço de interação: de vozes e de
se preenche na resposta, na alteridade. identidades.
Produzir enunciado é um processo Se um aluno escreve um texto sem mobilizar
dialógico. as condições de produção, sem considerar as
Apesar disso, ainda persiste a ideia, por parte vozes já materializadas no elo comunicativo e
do alunado, por exemplo, de conceber os se ele apresenta uma escrita que não o
enunciados produzidos em sala de aula como representa, o texto se comporta como um mero
um produto pronto, e não como um produto: não dialógico, não expressivo. Assim,
processo/dialógico. As propostas a escrita perde o sentido.
disponibilizadas pelos professores, muitas Materiais didáticos prontos, métodos
vezes artificiais, também artificializam o uniformizantes, a ideia de gêneros como
processo de escrita, fazendo com que o aluno produtos fechados e a persistência do ensino
não saiba – mesmo que de forma inconsciente da língua por meio de regras prescritivas
– a quem responder e não veja motivos (utilizando, muitas vezes, uma “metodologia da
consistentes de se entregar um enunciado que frase”) talvez tenham contribuído para o
terá a mera função de ser avaliado. Além disso, desenvolvimento desse cenário negativo.
muitas vezes, a própria escrita – por ser Afinal, em todo lugar, quando há uso de
distante da realidade – não faz sentido a eles linguagem, acontece o dialogismo; exceto na
mesmos. A produção, nesse contexto, escola, única agência de letramento
configura-se como monológica. responsável pelo estudo sistemático da língua,
É importante instigar o dialogismo da e também a única que a desconfigura.
linguagem nas práticas de produção textual. Acontece que, por uma tradição de ensino na
Assim, mais fundamental ainda, diante desta Educação Básica, há a cristalização de certos
realidade, é imperativo avaliar quais palavras imaginários por parte dos alunos e do próprio
realmente são engendradas nos enunciados docente, que concebem a aula de português
dos alunos e, mais do que isso, se realmente como aula de gramática ou como algo
são produzidos verdadeiros enunciados, de totalmente distante das práticas sociais de uso
forma complexa, respeitando a natureza de linguagem. Afinal, trabalhar com produção
constitutiva e as propriedades do mesmo. de textos é um grande desafio: a comunicação
Segundo Bakhtin (2010), como já dito ainda está em segundo plano; ainda se
anteriormente, produzir enunciado pressupõe desconsidera o “outro” participante, colocando
uma alternância de sujeitos, a o aluno como mero passivo; ainda se percebe,
conclusibilidade e a expressividade. Isto é, nas aulas, uma dicotomia entre falante e
em uma concepção enunciativo-discursiva, ouvinte, embora já muito tenha se falado sobre
como da BNCC (BRASIL, 2018), produzir dialogismo entre ambos.
textos pressupõe a alternância de distintas É importante ressaltar que conhecer a
palavras e de vozes, por meio de um projeto de gramática não garante a participação em
dizer que marca a expressividade do aluno. O diferentes esferas.
texto, então, como enunciado, deve ser um

146
Isto quer dizer que, enquanto houver uma
realidade de uma resistência ao trabalho com
os gêneros discursivos (ou uma negligência
acerca dessa abordagem), teremos alunos
pouco participativos e pouco a Educação
Básica contribuirá para a sua formação,
repetindo sempre os mesmos erros.
Enquanto a língua não for realmente
entendida como prática social, que se molda às
esferas de atividade humana, e a produção
textual concebida como um acontecimento
Muitas pessoas que dominam discursivo de interações de várias vozes e
magnificamente uma língua sentem
amiúde total impotência em alguns identidades – um processo na cadeia
campos da comunicação precisamente
porque não dominam na prática as comunicativa, que marca um “eu”, “aqui” e
formas de gênero de dadas esferas
Frequentemente, a pessoa que domina “agora” – não haverá um trabalho real na
magnificamente o discurso em perspectiva de gêneros.
diferentes esferas da comunicação
cultural sabe ler o relatório, desenvolver
uma discussão científica, fala
magnificamente sobre questões sociais, 5. Considerações finais
cala ou intervém de forma muito
desajeitada em uma conversa mundana
Aqui não se trata de pobreza vocabular Este artigo trouxe à tona alguns dos conceitos
nem de estilo tomado de maneira
abstrata tudo se resume a uma primordiais da filosofia da linguagem
inabilidade para dominar o repertório
dos gêneros da conversa mundana, a bakhtiniana de interesse ao campo
uma falta de acervo suficiente de pedagógico, reforçando uma teoria da
noções sobre todo um enunciado que
ajudem a moldar de forma rápida e enunciação essencialmente dialógica e
descontraída o seu discurso nas formas
estilístico composicionais definidas, a marcada pela alteridade.
uma inabilidade de tomar a palavra a Embora ainda persista, na realidade, um
tempo, de começar corretamente e
terminar corretamente (nesses gêneros, monologismo na Educação Básica, (refletido
a composição é muito simples). [...]
Quanto melhor dominados os gêneros nas aulas monológicas e na própria produção
tanto mais livremente os empregamos
(BAKHTIN, 2010, p. 284-285). textual dos alunos, como observados neste
artigo), muito vem sendo discutido sobre a
concepção de ensino de língua por meio dos
gêneros discursivos, o que tem sido um ganho.
Cursos de formação continuada e os
documentos oficiais da Educação vem
trazendo, cada vez mais, a necessidade de se
pensar em práticas sociais do uso da leitura e
da escrita. Porém, é necessário, ainda, mesmo
com todo esse discurso necessário em busca
da concepção enunciativo-discursiva nas aulas
de português, apresentar novas maneiras de

147 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


ser docente: condutas, gestos e procedimentos alunos são protagonistas e, por isso,
teórico-metodológicos. interagem, produzem, realizam diferentes
Revisitar os conceitos de Bakhtin é importante atividades etc.
para mostrar as bases e os locais de fala que Considerar uma concepção enunciativa-
sustentam tal paradigma de ensino, uma vez discursiva da língua, baseada no ensino da
que palavras e escolhas, na educação, têm língua por meio dos gêneros discurso, implica
rastros ideológicos: conceitos não são só que toda aula é um acontecimento discursivo
palavras bonitas a serem ditas. Considerar a único e não retirável, uma vez que ela sempre
perspectiva de gêneros do discurso exige, é orquestrada na alteridade e no dialogismo, na
então, uma mudança de paradigma, alicerçada comunhão de diferentes vozes que se chocam,
nas ideias de alteridade, dialogismo, respondem-se e/ou completam-se, de forma
responsividade etc. dialógica e dialética.
Conhecer esses conceitos permite que o Pensar nas teorias bakhtinianas e refratá-las,
trabalho docente seja realmente pautado nos nas ações docentes, significa, então, respeitar
gêneros discursivos como tipos de enunciados a natureza constitutiva da linguagem e cumprir,
relativamente estáveis em diferentes esferas de forma responsiva, com o locus do professor
da atividade humana, como afirmava Bakhtin e a nossa liberdade de cátedra. Além disso,
(2010), e não qualquer outra “coisa”, em busca pelas interações – em sala de aula, inclusive –
de uma pseudomodernidade: não legítima, não nós nos constituímos como pessoas melhores
fundamentada e sem princípios teóricos. e mais responsáveis, sendo, a cada dia,
Trabalhar com gêneros, pois, exige uma leitura produtos de nossas interações humanas:
de mundo e uma centrifugação dos processos essencialmente dialógicas.
de ensino.
Ações docentes sempre precisam estar
embasadas, para legitimar as escolhas e os
métodos, uma vez que os resultados das
interações promovidas em aula impactam na
formação e na vida de um outro sujeito, o
aluno. Enquanto isso não acontece, estaremos
cometendo os mesmos erros e reproduzindo as
mesmas técnicas e modelos de ensino (nada
atuais), que não dão conta de formar o aluno
para a modernidade.
Como proposta a esta realidade, os projetos
de letramento (KLEIMAN, 2000), por meio do
trabalho com os gêneros do discurso, podem
ser uma estratégia pedagógica que,
apropriando dos conceitos do círculo, podem
valorizar as constituições dos alunos como
sujeitos de linguagem. Nessa abordagem, os

148
REFERÊNCIAS

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portuguesa e inquietações teórico- estudos literários: introdução crítica a uma
metodológicas: os gêneros discursivos na aula poética sociológica. Tradução Ekaterina
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gênero discursivo. Alfa, São José do Rio Preto, Paulo: Contexto, 2012.
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FREITAS, S. A; BARBOSA, S. N. R. O; TENO, abordagens críticas do letramento no
N. A. C. A Concepção de aula como desenvolvimento, na etnografia e na educação.
acontecimento e as práticas de Tradução Marcos Bagno. São Paulo: Parábola,
multiletramento: um discurso pedagógico 2014.
polêmico. Confluencia: Revista do Instituto de
Língua Portuguesa, v. 1, p. 44-63. 2016.
Prestígio social
é compreender
o outro 1

Bianca Guedes Brosco*


Enzo Hanawa Tanaka**
Felipe Santos Barbagalo**
Gabriel Felicio Tonello**
Laura Vendramini Paulovich Pittoli**
Valentina Rafacho Escada*

* Educandos Fundamental I (9º B) - Colégio Chaminade, Bauru/SP


** Educanda Fundamental I (9º A) - Colégio Chaminade, Bauru/SP
¹ Projeto "Voz Ativa" desenvolvido pelo professores de Humanas
Em uma sociedade em que há baixo
investimento em educação e pouco interesse
em combater as diversas desigualdades,
pessoas sofrem, normalmente, quando são
inseridas em contextos comunicativos em que
A prática do preconceito linguístico é baseada há a predominância da norma culta, pois como
na cultura de julgar inferior alguém que não não possuem conhecimento das regras
possui o domínio da norma culta na forma gramaticais, são, constantemente,
como se expressa, por conter, em suas falas, desrespeitadas e desvalorizadas pela forma
linguagem informal e diversos desvios daquilo como se expressam.
que é considerado como belo e como correto a Isso gera a exclusão social: uma violência
um grupo que prioriza a linguagem construída velada e opressora que segrega pessoas e
em regras gramaticais como a norma de reafirma o posicionamento de uma nação
prestígio social. preconceituosa. Ademais, é preciso ter em
A discriminação ocorre, normalmente, como mente que, as línguas são mutáveis, ou seja,
consequência da falta de conscientização da passam por adaptações e por transformações,
população sobre o que considerar correto ao longo do tempo, portanto é necessário
quando o assunto é comunicação, pois as compreender que, não há erros na
pessoas não refletem sobre a liberdade que há comunicação, há apenas desvios daquilo que é
na forma como cada um se expressa e não considerado como uma linguagem de prestígio
compreendem que, os recursos comunicativos social: a norma culta.
são construídos a partir da interação dos Como forma de solucionar a problemática
indivíduos em contextos sociais, históricos e apresentada, é necessário que as escolas
culturais que firmam suas identidades e, incorporem discussões embasadas em
consequentemente, contribuem no modo como propostas das ciências da linguagem e da
se expressam. educação, para que estudantes reiterem seus
discursos em favor de uma educação
linguística voltada para a inclusão social e pelo
reconhecimento e valorização da diversidade
cultural brasileira. Em um país de
desigualdades, a uns é dada a oportunidade de
estudar regras gramaticais, enquanto a outros,
apenas é dada a oportunidade de falar.

151 Revista Chaminade | Ed. 01 V.01


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