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CHAMINADE
EDUCAÇÃO
EDUCAÇÃO
MARIANISTA
DE QUALIDADE
BOAS PRÁTICAS
Artigos
Poesia
Ed1. V.1 - 2021
Estudos de Caso
e muito mais!
COLÉGIO CHAMINADE BAURU
EDUCAÇÃO INTEGRAL: INTERLIGADA PARA UM MUNDO INTERCONECTADO
Community and civic engagement in catholic and Marianist education _____ p. 028
Irmão Ray Fitz
Games na educação e sua relação com os nativos e imigrantes digitais ____ p. 054
Clerison José de Spuza Bueno; Graziela Caldeira Bueno & Dariel de Carvalho
Poema escrito por Bianca Regina dos Santos, professora da educação infantil do Colégio
Chaminade Bauru. Texto criado para a construção da mini história do mês de Março/2021.
Atividade proposta de pintura de portas de papelão no “Ateliê Brincar de quê?”, as crianças
experienciaram a mistura cores primárias para formar novas cores. Durante todo o mês de
Março/2021 o poema “A Porta”, de Vinicius de Moraes foi apreciado pela turma.
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Pensar o futuro e fazer o amanhã não pode
ser algo distanciado da nossa intencionalidade
diária, também não significa ficar só esperando
o amanhã, mas alguém que se prepara e faz o
futuro, junto com cada colega educador e com
cada educando e suas famílias.
Paulo Freire dizia que um educador cria e é
um fazedor, com seus educandos, não só copia
Enfim, um novo modelo de economia e o que lhe é passado. Claro que devemos
sociedade, fruto de uma cultura de comunhão, valorizar os conhecimentos que a humanidade
baseada na fraternidade e na equidade em que produziu, mas devemos partir da nossa
os direitos sociais devem ser garantidos a realidade e criar possibilidades e amanhãs
todos! Esses direitos devem ser considerados, melhores para os nossos educandos. Freire
previstos e implementados para garantir uma também nos ensina que devemos o futuro
vida digna a todas as pessoas e a natureza. como uma possibilidade real, mais humano,
Como educador, garantido e sendo claro isso, emancipado e transformador.
quero trazer alguns pontos de como deve ser a Vivemos tempos em que nossas avaliações
educação no futuro e qual o seu papel na educativas medem o produto e não o processo
construção de um mundo melhor. e o esforço realizado na trajetória vivida pelo
Sabemos que a Educação deve proporcionar educando, mediada pelo educador.
meios para que o mundo seja igualitário e justo Nesse mesmo sentido, a comunicação tende
com todos. Nesse sentido, as democracias a ser impessoal, só transmite e informa: “se
dependem de cidadãos que, entre outras esquece do seu rosto humano”, como nos diz
coisas, sejam: conscientes dos seus direitos e Moacir Gadotti. Precisamos fortalecer esse
responsabilidades; informados acerca dos rosto, das relações humanas, da realidade e
temas políticos e sociais; preocupados com o territorialidade que acontece, dos contextos
bem-estar dos outros, respeitando o coletivo; socioculturais, partir do diálogo da relação
coerentes nas suas opiniões e argumentos; empática entre as pessoas da comunidade
influentes através da sua ação efetiva com a educativa. Como sempre falamos, uma
transformação; ativos na vida da comunidade e educação que desenvolva todas as dimensões
sociedade; responsáveis na sua ação cívica e constitutivas da pessoa, seu projeto de vida,
no cuidado com a vida; respeito as diferenças que leva a uma realização pessoal e
culturais e individuais; e sendo pessoas comunitária. Como nos diz Gadotti, como
melhores e mais humanas. educadores e cidadãos conscientes: “não basta
Nós educadores, somos fazedores do futuro incluir, é preciso emancipar!”. Essa
por natureza, faz parte do nosso DNA, faz emancipação, para que aconteça, exige
parte da nossa missão como educadores poder liberdade, independência e sobretudo, justiça.
mediar e contribuir por uma educação integral Aí vem uma pergunta a mente: Como
de qualidade para cada um dos nossos devemos ser para educar? Acredito, como dizia
educandos. Gandhi, que devemos “educar pelo exemplo”,
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O desafio atual, apresentado pela nova BNCC, insustentabilidade do planeta.
é a implementação de uma nova educação, A educação deve responder as necessidades
para além dos conteúdos, desenvolvendo mais importantes e interiores da vida de todas
habilidades e competências necessárias para a as pessoas, onde vemos o outro como a nós
vida futura do educando. Nesse sentido, temos mesmos. Como nos dizia Paulo Freire: “é o
um desafio como educadores, para além de princípio dialógico como princípio da vida”. A
conteúdo, habilidades e competências, busca de uma pedagogia social, que busca a
acrescentar a educação para os valores e para síntese entre a pedagogia da essência e da
os direitos e deveres das pessoas. Uma existência. Como nos diz o Papa Francisco
educação com sentido, com intencionalidade, para o Pacto Global, é a “educação e a ideia da
que busca a integralidade do ser humano em aldeia global que cuida e educa”. Uma
um mundo mais justo para todos. educação humanista pensada para todas as
Um educador do amanhã deve ser ou pessoas do mundo, numa visão de outros
desenvolver características tais como: cuidado, mundos melhores possíveis. Como educadores
humildade, respeito as diversidades, ternura, do amanhã, temos esse direito e esse dever de
simplicidade, crítico, saber dialogar, lutar e construir, diante de uma realidade
propositivo, acolhedor, empático, escuta dolorosa e fatalista que temos hoje, que nega a
(pares, educandos, famílias e comunidade), utopia, a autonomia e o outro mundo possível.
mobilizador e transformador. É um educador Hoje em dia se fala muito em desenvolver
que além de ver e escutar, estimula a pergunta, habilidades socioemocionais, do aprendizado
dá a devolutiva aos educandos, interagindo de “soft e hard skills”, ou de outras expressões
com o meio ambiente em que estão inseridos. como “Human Skills e Digital Skills” para
Como nos diz Gadotti: “Não dá para saber o preparar os educandos para o futuro. Todos
que é ensinar, sem entender o que é esses conceitos e habilidades, já estão
aprender!” Partimos de um respeito a todos os incluídos no projeto educativo do Colégio
envolvidos e ao processo elaborado e Chaminade, que busca a educação integral de
assumido coletivamente. Enfim, como cada educando, acolhendo cada um deles.
educadores do amanhã, somos imprescindíveis Buscamos proporcionar acompanhamento,
para que haja um futuro melhor. disciplinas inovadoras, metodologias ativas,
Como nos diz Leonardo Boff: “devemos buscar experiências práticas e aprendizagens
um novo paradigma, a volta à Terra como significativas que garanta que cada educando
pátria comum”. Esse é um desafio urgente para se realize, fazendo diferença para um mundo
nós educadores, na busca de uma vida mais melhor.
sustentável e plena para todos, inclusive e Defendemos uma educação de qualidade a
principalmente, para o próprio meio ambiente. todos os cidadãos, que devem partir de ações
Paulo Freire também considerava a “terra concretas tais como: Gratidão, pois a gratidão
como oprimida” que precisa ser cuidada e é o primeiro passo para que a bondade e a
libertada para um equilíbrio dinâmico e compaixão fluam naturalmente;
sustentável para o “bem viver de todos”, Solidariedade, pois ela transforma o mundo, o
mudando o sistema que gera essa torna mais digno e nos engaja no compromisso
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Conhecendo a
educação básica:
relatos sobre a mudança de
visão de uma mãe de alunos
da educação básica para a
visão de uma mãe que passou
a trabalhar em um Colégio de
educação básica
Alessandra Rodrigues de Freitas Sanzovo¹
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única opção.
Envolvida neste processo, já não conseguia mais
ser a mãe que eu era. Sabia que, naquele
momento, a mãe parceira da escola que eu via
em mim, de nada sabia da vida e rotina de uma
escola.
A dedicação é tanta, o olhar de amor, o foco e
dedicação são sempre tão presentes, que é indicado que não aconteça como queremos,
impossível que eu continue tendo a mesma visão, explico: a educação que desejamos para
a mesma percepção e ainda faça as mesmas nossos filhos, sem conhecer o meio que estão
críticas, ainda que construtivas, que eu fazia. inseridos, as pessoas que socializam com eles
A verdade é que depois que a gente conhece o e as necessidades que cada aluno tem, nem
“lado B” da educação, depois que vemos do outro sempre é praticável. A educação perfeita e
lado, passamos a achar a educação ainda mais “redonda” que queremos forçar a acontecer só
importante, mas sabemos que é humanamente seria possível se todos os alunos fossem
impossível que tudo aconteça exatamente como iguais, como robôs e colocados na mesma
nós pais desejamos. Até porque, às vezes é caixa de passos, falas, percepções,
necessariamente desejável e pedagogicamente sentimentos e necessidades.
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geração atual, não se aplica para esta que Para me atualizar ao novo modelo de educação
necessita de atividades diversificadas, que para meus filhos de 13 e 10 anos, vejo que sou
necessita de novas formas de ensinar e que uma mãe em desconstrução. Constantemente é
não aceita o “porque sim” como resposta. preciso que eu abandone não só o modelo de
Essa mudança talvez seja a mais difícil para educação que tive em casa, mas principalmente
nós pais aceitarmos, porque achamos que a meu modelo de educação escolar, para que eu
educação ideal, por vezes, é a educação que entenda as reais necessidades de meus filhos
tivemos com necessidade apenas de alguns fazendo parte desta geração que têm sede de
pequenos ajustes de melhorias. viver na mesma proporção que têm sede de
Como entendermos que talvez nossos filhos conhecimento.
não precisem escrever tanto e mesmo assim Sobretudo, é preciso que eu me desconstrua e
aprender muito? Como aceitar que não aprenda tudo novamente.
precisam ficar o tempo todo em sala de aula e Quem dera se todos os pais pudessem viver um
mesmo assim ter muito conteúdo? Como pouquinho o ambiente escolar como vivo e ter a
acreditar que é possível brincar e mesmo possibilidade dessa “mudança de chave” que eu
assim estar aprendendo e ressignificando tive. Quem dera todos pudessem ter um olhar de
tantas teorias? amor às necessidades do colega de turma de seu
Sim, tudo isso é possível! filho assim que como têm com as necessidades,
Essa é a evolução da educação, e esse deve nem sempre tão necessárias, de seus filhos.
ser o caminho da evolução da nossa Quem dera todos pudessem se sensibilizar com
compreensão das novas formas de aprender e uma obra de arte criada pelo filho tanto quanto
conviver no ambiente escolar de nossos filhos. vibram com uma nota 10,0 de matemática.
Esse é o modelo que atende todas as Quem dera!
necessidades desta nova geração.
É imprescindível compreender que o mundo
atual vai exigir deles muito mais que “português
e matemática”, é preciso aceitar que também
precisarão entender de artes e saber desde
cedo a cuidar do seu corpo. É necessário
ensiná-los a socializar, respeitando o espaço
do outro e sabendo exigir o respeito ao seu
espaço. É indispensável que saibam línguas,
mas que também saibam a linguagem do amor,
do respeito humano e da espiritualidade.
Hoje a escola pode, e deve, ser e ter todo este
contexto. A geração de hoje não se contenta
com uma educação de uma “matriz curricular
quadrada” que não os deixa pensar e não os
instiga conceber novas possibilidades.
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remain dedicated to social change and lead
with vibrancy in the midst of disruption and
challenges that social change can bring. Our
methods of acting as a community as we learn
for, through, or with engagement lead us to act
boldly.
¹ Another thoughtful way of capturing some of the insights of the Marianist tradition of civic engagement is Jim Vogt's “How
Do Marianists Do Social Justice?” Things Marianist: A publication of the North American Center for Marianist Studies.
2008
² Fr. William Ferree, S.M. made a link between Fr. Chaminade’s insights at the beginning of the Marianist
Movement and the work of advancing justice. Introduction to Fr. Ferree’s work on Social Justice is contained in the
monograph Introduction to Social Justice. His influence on Marianist thought is very thoughtfully summarized in A Ferree
Resource Collection, compiled and edited by Benjamin Dougherty, North American Center for Marianist Studies, 2008.
34
3. Spirituality of Mission: Developing a
personal and communal spirituality that is
integral to the work of community building and
social transformation and will sustain these
over time.
a. Faith in Action: We grow as disciples of
Jesus through community support, personal
and communal prayer, and liturgical
worship; Mary is the model of discipleship
and with the Holy Spirit forms us in it.
b. Conversion: Seeing the world in a new
way; sharing Mary’s mission of bringing
Christ and God’s reign into the world;
developing a special concern for the
marginalized and oppressed.
c. Solidarity: Working to transform
institutions to be a better realization of the
common good.
REFERENCES
CHARACTERISTICS OF MARIANIST
UNIVERSITIES: A Resource Paper. Dayton:
Association of Marianist
Universities, 2006. Available on:
https://udayton.edu/rector/_resources/files/cmu.
pdf. Consulted on: 17 may. 2021.
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Envolvimento Comunitário e
Cívico na Educação Católica
e Marianista*
Irmão Ray Fitz, SM¹
INTRODUÇÃO
38
Aprender para e com a comunidade e o
engajamento cívico proporcionará:
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continua a ser um componente necessário das relacionamentos de confiança e inclusivos.
nossas instituições educacionais, a maneira Para as instituições marianistas, os “atos” de
como formamos nossos alunos e como os engajamento comunitário e cívico não são
incentivamos a enfrentar os desafios em nosso solitários ou feitos isoladamente - são
mundo. expressões dos membros agindo e aprendendo
Além disso, os fundadores reconheceram a juntos para alcançar o bem comum. A visão do
importância e o valor das vozes marginais. beato Chaminade nos guia para nos tornarmos
Aqueles que estavam “à margem” da comunidades de transformação, que
sociedade foram procurados - os mais afetados permanecem dedicadas à mudança social e
por regras e regulamentos injustos, aqueles lideram com vibração em meio à ruptura e aos
cujos meios de subsistência poderiam estar em desafios que a mudança social pode trazer. À
jogo em face a estruturas e sistemas que não medida que aprendemos para ou com
priorizavam a dignidade humana. Deste engajamento, nossos métodos de agir em
compromisso com aqueles que são vulneráveis comunidade nos levam a portar-se com
e afligidos pela injustiça, violência estrutural e ousadia.
sistêmica, e cujas vozes não se ouvem,
encontramos força e afirmação em nosso CARISMA MARIANISTA, COMPROMISSO
comprometimento de trabalhar hoje com ESCOLA / COMUNIDADE E PARCERIAS
aqueles que são vítimas da injustiça estrutural
e da pobreza. Em nossas oportunidades de Tais manifestações nos fornecem uma visão
envolvimento comunitário e cívico, aqueles que sobre como a comunidade e a missão de
são marginalizados, em nossa sociedade, são engajamento cívico da escola marianista
priorizados e buscamos maneiras de podem ser moldadas de maneiras diferentes de
empoderar as comunidades daqueles que são outras instituições baseadas em nosso
esquecidos, como fez Chaminade. carisma. Este nos leva a agir coletivamente por
Dentro de nossa tradição Marianista, nos meio do enfoque em:
concentramos em criar e ser um discipulado inspirar-se no poder e na vulnerabilidade
que prega e busca a igualdade. Reconhecendo de Maria como modelo para os Marianistas;
que cada membro tem uma voz individual, criar um discipulado de igualdade que
habilidades, capacidades independentes e traz permita o compartilhamento equitativo de
um conjunto único de percepções para a mesa, conhecimentos, recursos e capacidades da
procuramos criar oportunidades de tomada de decisão;
aprendizagem e formação compartilhadas trazer Jesus e ser Jesus para os outros;
entre professores, funcionários, parceiros da estar disponível e verdadeiramente
comunidade e alunos. Isso leva nossas presente às necessidades onde quer que
instituições a uma característica distintiva de se encontre, estando atento aos sinais dos
como abordamos a comunidade, o tempos;
engajamento cívico e preparamos os alunos estando abertos à ação do Espírito Santo
para suas vidas futuras como cidadãos ativos - para nos guiar em nossa busca do bem
por meio de vínculos construídos sobre comum.
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ELEMENTOS DE APRENDIZAGEM PARA E 2. Transformação Social: remodelar as
COM O ENGAJAMENTO COMUNITÁRIO E instituições para que sejam a melhor realização
CÍVICO NAS INSTITUIÇÕES MARIANISTAS do bem comum.
a. Foco no bem comum: criar condições
Os aspectos acima de nossa tradição sociais que permitam às pessoas exercer
Marianista, valores educacionais e carisma nos suas capacidades humanas, atender às
fornecem uma série de percepções para definir suas necessidades básicas, ter saúde e
elementos importantes de aprendizagem para bem-estar.
e com o engajamento comunitário e cívico em b. Mudança de instituições: os arranjos
nossas instituições. Esses elementos nos institucionais atuais beneficiam alguns e
guiam até hoje: prejudicam outros; mudar as instituições
1.Construção da comunidade: na tradição para que tenham uma melhor realização do
Marianista, quando as pessoas e grupos bem comum.
enfrentam uma situação injusta, as pessoas se c. Desafiando as estruturas de poder:
comprometem a resolver problemas e construir padrões institucionais injustos são
relacionamentos que lhes permitam criar e mantidos por meio do exercício do poder;
trabalhar para a concretização de uma visão mudar de instituição significa desafios e
compartilhada do futuro. mudanças nessas estruturas.
a. Uma orientação para presente: d. Optar pelos pobres: ao trabalhar pela
reconhecer e invocar presentes e bens de mudança social, estamos preocupados em
membros da comunidade; o ato como a mudança social promove o que
fundamental da construção da comunidade menos existe na sociedade - os
é compartilhar presentes. marginalizados e os oprimidos.
b. Importância dos relacionamentos: os
relacionamentos nos ajudam a vincular e
nos apoiar; a despertar e a construir a
confiança necessária para trabalhar em
prol de objetivos comuns.
c. Excelência inclusiva: criação de um
espaço onde todas as pessoas são bem-
vindas e incluídas; trabalhar as diferenças
de maneira respeitosa, aberta e celebrada.
d. Espaço para conversas construtivas:
criação de locais e espaços para conversa
onde as pessoas ouvem umas às outras e
podem, respectivamente, inquirir sobre o
que é dito, expressar livremente as ideias e
convidar outros a indagar sobre elas.
No sabemos si será mejor o peor, pero está Debemos preguntarnos: ¿Cuál es el sentido de
claro que nuestro mundo será distinto después de nuestras escuelas en este siglo y,
la experiencia de la pandemia del COVID-19. Con particularmente, después de esta experiencia
ese dato de la realidad (vista como lugar inédita, abrupta y disruptiva que significa la
teológico, donde actúa el Espíritu pandemia? Están naciendo nuevas y diversas
constantemente) en manos de los seres formas culturales que no se ajustan a los
humanos estará otorgarle a ese rostro diferente márgenes conocidos. Los educadores,
una novedad positiva y que haga de nuestro particularmente los cristianos, debemos
planeta un lugar para todos, como es el sueño de reconocer que, muchas veces, no sabemos cómo
Dios. insertarnos en estas nuevas coordenadas. El
Si antes de la pandemia la situación de nuestra padre Oesterheld lo ha expresado con mucha
Casa Común estaba en riesgo, después de 2020 claridad: “Quizás ya no sea tiempo de anuncios,
tenemos una nueva, y quizás última, oportunidad ya no hay que seguir repitiendo hasta el
para salvar al planeta y a la humanidad. Una de agotamiento lo que está dicho una y mil veces.
las herramientas más extendidas y de profundo Probablemente haya llegado el momento de
alcance para colaborar en ese nuevo y radiante preguntarnos: ¿a quién le importa?”
rostro que deseamos develar es la educación. Los colegios contamos historias, relatos,
Pero también ella enfrentará después de la narraciones. Estas narrativas alimentan en
pandemia su probablemente última oportunidad quienes lo anuncian la convicción de que el ideal
para ser culturalmente significativa, para anunciado es verdadero y fuerte. Transforman las
entusiasmar a sus estudiantes e incidir en la vivencias personales y colectivas en experiencias
construcción de sociedades más justa y fraternas con sentido, generan comunidad y, de ese modo,
¹Secretario Ejecutivo
CLAMARED (Red Latinoamericana de colegios Marianistas)
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• Construir una auténtica “Cultura del Encuentro”,
que genere la comprensión y aceptación del otro,
se sostenga en el diálogo como forma de relación
diferente para nuestros países? y de caminar juntos en el camino compartido,
La educación post-pandemia y orientada por la busque siempre los denominadores comunes
conversión hacia la ecología integral requiere de sobre los cuales asentar bases firmes para
nuevas miradas, de un órgano de percepción construir cultura y fraternidad.
distinto, un giro de nuestra cámara que lleve a un • Enseñar a conversar para generar, como dice
giro narrativo. Mirar desde el sufrimiento, para Humberto Maturana, un entramado de
que ningún dolor nos sea indiferente y conversaciones y fuente de inspiraciones que nos
busquemos actuar para aliviarlo o eliminarlo: humanicen y humanicen los vínculos sociales,
“Evocar una voz profética frente al dolor, el mal y pues solo con encuentro y diálogo seremos
la muerte causados por decisiones políticas que capaces de “dar solidez, contención y sentido” a
excluyen y marginan” a los vulnerables, a los la vida (Bendición…).
frágiles, a los pobres (Manifiesto…). • Suscitar cambios en las convicciones
En nuestras escuelas, si quieren ser personales, tan contaminadas por el
significativas e influyentes para nuestros pueblos, individualismo, el consumismo y la evasión
debemos formar -en palabras de Díaz Salazar- ilusoria.
“luchadores ecosociales”, apasionados por un • Propiciar una nueva forma de vivir, porque
mundo donde todos tengan un lugar, donde “tenemos que desacelerar un determinado ritmo
impere la fraternidad por sobre las divisiones, de consumo y de producción, y aprender a
donde se anuncie una nueva forma de vivir, “más comprender y a contemplar la naturaleza. Y
colaborativa, más solidaria, más local y más reconectarnos con nuestro entorno real. Es una
democrática” (cf. Manifiesto…). Para ello, oportunidad de conversión” (Entrevista del Papa
debemos vertebrar nuestros programas con Austen Ivereigh, 8 de abril de 2020).
educativos en torno a Laudato Si´y su dimensión • Mostrar la alegría que brota cuando sabemos
profética para: celebrar y respetar la vida recibida y compartida.
Nuestras propuestas educativas deben hacer
fiesta y festejar con los logros y esperanzas de
nuestros conciudadanos.
La conversión ecológica integral es el camino (Ap.2, 2-5). Volver a las fuentes, volver a nuestras
comunitario por donde proponer condiciones y Galileas para volver a ver al Señor, para volver a
modelos sociales sustentables. Hace pocos días convertirnos al Evangelio.
Muhammad Yunus alertó que “cuando la crisis Si lo hacemos, los educadores de colegios
pase, llegará la estampida de ideas viejas y católicos podremos ponernos a la cabeza de la
recetas anticuadas sobre paquetes de rescate, batalla cultural decisiva: un modelo de fraternidad,
que intentarán llevar el mundo de nuevo para ese para que la vida florezca y permanezca en el
lado. Abundarán los intentos de hacer descarrilar futuro; una cultura del encuentro, que transforme
cualquier iniciativa novedosa con el argumento de las relaciones que tenemos con nuestros
que son políticas no ensayadas. Hay que tener hermanos y hermanas, con los otros seres vivos,
todo listo antes de que se desate la estampida” con la creación en su variedad tan rica, con el
(Yunnus, No se trata de volver al viejo mundo, Creador que es el origen de toda vida y que nos
sino de rediseñarlo. EN: La Nación (Bs.As.), 9 de invita a construir su Reino.
mayo de 2020).
Desde su puesto, la educación, profética e
inspiradora, debe ser centinela que alerte,
detenga y combata los cantos “normalizadores”.
Por eso debemos ser revolucionarios… En el libro
del Apocalipsis encontramos un pasaje que
puede servirnos para la post-pandemia. Parece
dirigido a los cristianos, en particular a los
educadores cristianos de nuestro continente:
“Conozco tus obras, tus dificultades y tu
perseverancia. Sé que no puedes tolerar a los
malos y que pusiste a prueba a los que se llaman
a sí mismo apóstoles y los hallaste mentirosos.
Tampoco te falta la constancia y has sufrido por
mi nombre sin desanimarte…” Bien podría
aplicarse a muchas de nuestras escuelas,
comunidades, educadores, estudiantes, padres
de familia, que han sostenido y sostienen un
modelo educativo y civilizatorio de promoción
integral y de anuncio evangélico. Pero el texto
sigue y entonces podemos encontrar una
apelación urgente, si
queremos ser significativos en la tercera década
de este siglo XXI: “Pero tengo algo en contra
tuya, y es que has perdido tu amor del principio.
Date cuenta, pues, de dónde has caído,
recupérate y vuelve a lo que antes sabías hacer”
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Não sabemos se será melhor ou pior, mas
A oportunidade para uma está claro que o nosso mundo será diferente
Educação profética* depois da experiência da pandemia da COVID-
19. Com esse dado da realidade (vista como
Gustavo Magdalena¹ lugar teológico, onde o Espírito atua
constantemente) estará nas mãos dos seres
¹ Secretario Ejecutivo CLAMARED (Red Latinoamericana humanos dar uma visão positiva a esse rosto e
de colegios Marianistas) na Argentina
fazer do nosso planeta um lugar para todos,
* Tradução de Gustavo Pollon Sá Freire, Irmão Marianista
- Colégio Chaminade, Bauru/SP como é o sonho de Deus.
gustavo.freire@chaminade.com.br Se antes da pandemia a situação da nossa
Casa Comum já estava em risco, depois de
2020 teremos uma nova, ou talvez última,
oportunidade para salvar o planeta e a
humanidade. Uma das ferramentas mais
estendidas e de profundo alcance para
colaborar nesse novo rosto que desejamos
revelar é a Educação. Mas ela também,
provavelmente, enfrentará depois da pandemia
sua última oportunidade para ser culturalmente
significativa, para entusiasmar aos estudantes
e colaborar na construção de uma sociedade
mais justa e fraterna.
Devemos nos perguntar: qual é o sentido de
nossas escolas neste século e,
particularmente, depois dessa experiencia
inédita, imprevisível e desastrosa que é a
pandemia? Estão nascendo diferentes e novas
formas culturais que não se ajustam às
estratégias que já são conhecidas. Os
educadores, particularmente os cristãos,
devem reconhecer que, muitas vezes, não
sabem como inserir-se nestas novas
coordenadas. O padre Oesterheld expressou
com muita claridade: “Talvez já não seja tempo
de anúncios, já que não tem que seguir
repetindo até o esgotamento o que já está dito
mil e uma vezes. Provavelmente chegou o
momento de perguntar-nos: “o que é
importante?”
Os colégios contam histórias, relatos, ‘Logo chega o dia, mas a noite também vem.
narrações. Essas narrativas alimentam Se vocês quiserem perguntar de novo, voltem
naqueles que a anunciam a convicção de que o e perguntem’.” (Is 21, 11-12)
ideal anunciado é verdadeiro e forte. A COVID-19 revelou o mundo real que existe
Transformam as vivências pessoais e coletivas debaixo das aparências do consumismo e da
em experiências com sentido, geram tecnocracia. Colocou em evidência a
comunidade e, desse modo, auxiliam na fragilidade da vida, a artificialidade das
construção do bem comum. Mas, se os capitais barreiras, dos muros e das divisões; e a
narrativos não se atualizarem e renovarem, impotência frente a incerteza. “Nos mostra
começam a envelhecer e a reduzir-se. como deixamos dormido e abandonado o que
Podemos nos deparar de um dia para o outro alimenta, sustém e dá força a nossa vida”
com uma grave carência de histórias para (Bendição Urb et Orbi, 27 de março de 2021).
contar, como nos alerta Luigino Bruni. Podemos anunciar, através das nossas
Podemos perguntar-nos, além dos planos e escolas, o que estamos observando nas
currículos, o que estamos narrando fronteiras existenciais do nosso tempo?
cotidianamente nas nossas escolas? Com o Hoje a profecia tem o seu fruto mais concreto
que nos comovemos e como comovemos? na encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco.
Queremos que as escolas sejam organizações Um documento impressionante, no qual vemos
vitais (que tenham e ofereçam vida) ou sua potência e dimensão. Edgar Morin definiu a
Simplesmente sobreviventes num “mundo encíclica como “o primeiro ato de um chamado
hostil”? A crise é sempre uma privação de à uma nova civilização”, uma interpelação
histórias, capazes de nos comover, daquelas universal que vai além das crenças, para uma
histórias que nos fazem “mover juntos”. civilização onde o religioso soa cada vez mais
Podemos aproveitar esta (última) oportunidade como “arcaico e artificial”. Uma oportunidade
se soubermos ler e atuar a partir das para humanizar e, a partir disso, evangelizar.
necessidades do mundo, buscando, como bem Como toda profecia, a conversão ecológica e
diz o Manifesto de Católicos Latino-americanos a nova civilização requerem uma “revolução
com Responsabilidades Políticas: “o que cultural valente” (LS 114). A educação na
constitui o melhor possível para avançar no América Latina tem que ser fonte
bem comum”. revolucionária para um novo modelo
Para converter-nos em organizações vitais na civilizatório, pois chegou “o tempo para
pandemia e posteriormente a ela, nossas escolher entre o que verdadeiramente conta
escolas devem dar espaço, de maneira daquilo que é passageiro, para separar o que é
institucional, aos portadores da dimensão necessário daquilo que não é” (Benção Urbi et
profética. É bom assumir essa leitura e Orbi, 27 de março de 2020).
manifestação recordando aquela passagem do A conversão ecológica parte de uma premissa,
profeta Isaias: “Gente de Seir me pergunta: “tudo está conectado”, que conflui na ética do
‘Guarda, quanto ainda falta para acabar a cuidado. O cuidado da Casa Comum e da
noite? Guarda, quanto falta para acabar a ecologia integral é uma oportunidade muito
noite?’. O guarda responde: valiosa para nos comprometer junto com as
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nossas crianças, adolescentes e jovens, construir cultura e fraternidade.
liderando o processo educativo e de Ensinar a conversar para gerar, como diz
conscientização política e cidadã. Saberemos Humberto Maturana, um entramado de
converter nossas escolas em sentinelas que conversas que sejam fontes de inspirações
anunciem um futuro diferente para os nossos que nos humanizem e humanizem aos
países? vínculos sociais, pois somente através do
A educação pós-pandemia e orientada pela encontro e do diálogo seremos capazes de
conversão a uma ecologia integral requer “dar firmeza, apoio e sentido” a vida.
novos olhares, ou seja, uma organização com (Benção Urbi et Orb)
uma percepção diferente, uma mudança do Suscitar mudanças nas convicções
nosso “foco” que leve a uma mudança pessoais, tão contaminadas pelo
“narrativa”. Deve-se olhar a partir do individualismo, pelo consumismo e pela
sofrimento, para que nenhuma dor seja evasão ilusória.
indiferente e buscar atuar para aliviá-la ou Propiciar uma nova forma de viver, porque
eliminá-la: “evocar uma voz profética diante da “temos que desacelerar o ritmo de
dor, da morte e do mal causados pelas consumo e produção, e aprender a
decisões políticas que excluem e compreender e a contemplar a natureza. E
marginalizam” aos vulneráveis, frágeis e nos reconectar com o mundo a nossa volta.
pobres. É uma oportunidade de conversão”
Para que nossas escolas sejam significativas (Entrevista do Papa com Austen Ivereig, 8
e influenciem ao nosso povo, devemos formar - de abril de 2020).
nas palavras de Díaz Salazar - “lutadores Mostrar a alegria que brota quando
ecosociais”, apaixonados por um mundo onde sabemos celebrar e respeitar a vida
todos tenham um lugar, onde reine a recebida e compartilhada. Nossas
fraternidade em cima das divisões, onde se propostas educativas devem fazer festa e
anuncie uma nova forma de viver, “mais festejar com as conquistas e esperanças
colaborativa, mais solidária, mais local e mais dos nossos concidadãos.
democrática” (cf. Manifesto). Para isso,
devemos encaixar nossos programas A conversão ecológica integral é o caminho
educativos em ligação com a Laudato Si’ e sua comunitário por onde propor condições e
dimensão profética para: modelos sociais sustentáveis. Alguns dias
atrás, Muhammad Yunus alertou que “quando
Construir uma autêntica “Cultura do a crise passar, chegará uma explosão de ideias
Encontro”, que gere a compreensão e velhas e desatualizadas sobre os modelos de
aceitação do outro, que se sustente no resgate, que tentarão trazer o mundo de volta
diálogo como forma de relação e de para esse lado. Haverá muitas tentativas de
caminhar juntos por um caminho inviabilizar qualquer iniciativa nova com o
compartilhado, buscando sempre os fundamento de que se trata de políticas não
denominadores comuns sobre o qual testadas. Teremos que ter tudo pronto antes
devemos assentar bases firmes para que se desate o estouro ”(Yunnus, Não se trata
50
Biblioteca
"Antoine de Saint-Exupéry"
Ana Clara Gatto¹ Fonte: Juliana H. Penteado
1. APRESENTAÇÃO
Considerada a primeira biblioteca do mundo, a
A biblioteca do Colégio Chaminade Bauru Biblioteca de Nínive, pertencente ao Rei
recebe o nome de “Antoine de Saint-Exupéry” Assurbanípla II (SANTOS, 2012), era
como homenagem ao antigo estudante constituída por obras em bloco de argila
Marianista. Famoso por sua obra “O Pequeno indexados em catálogos, sendo também
Príncipe”, Antoine iniciou sua jornada estudantil conhecida como a primeira biblioteca com um
no colégio Jesuíta em Notre-Dame em 1909 e sistema de classificação e indexação de
transferiu seus estudos para o colégio assunto, mas foi com a Biblioteca de
Marianista da Suíça em 1914. Alexandria, fundada por Alexandre Magno em
O acervo da biblioteca conta com diversos 331 a.C., que o conceito de biblioteca como
títulos dos mais variados assuntos: filosofia, espaço de armazenamento do conhecimento
religião, ciências naturais, linguagem, artes, registrado foi criado. No início seu objetivo era
história, geografia, biografias, literatura infanto- preservar o conhecimento de Aristóteles e
juvenil e literatura clássica, tanto do Brasil competir com Atenas (FLOWER, 2002;
quanto de outros países. Além do acervo em MANGUEL, 2006 apud TANUS, 2018), mas em
português, possui obras em língua inglesa e pouco tempo ampliou significativamente seu
espanhola e exemplar em francês do autor acervo, constituindo-se como “biblioteca
homenageado. universal”. Dentre as bibliotecas da
antiguidade, Roma fundou o conceito de
2. BREVE HISTÓRICO DAS BIBLIOTECAS “biblioteca particular” e “biblioteca pública”,
Desde os primórdios o homem registra sendo as particulares formadas por saques
informações, seja através da arte rupestre ou provenientes das guerras, e as públicas
por meio da escrita, estas são passadas de formadas por dois salões, uma com obras em
época a época formando um grande volume de latim e outra em grego que tinham a concepção
conhecimento registrado. de depósito e algumas faziam empréstimo em
domicílio (SANTOS, 2012).
¹ Bibliotecária - CRB - 8/10577
ana.gatto@chaminade.com.br
² Para conhecer mais sobre o conceito de biblioteca nos mosteiros e o trabalho dos copistas tem-se o romance “O nome
da Rosa” de Umberto Eco.
³ Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12244.htm
52
REFERÊNCIAS
RESUMO
54
1. INTRODUÇÃO aprendizagem diferenciada que proporciona
aos alunos (PRENSKY, 2012).
A discussão sobre a oportunidade de Para a concretização deste estudo, foi
inclusão de games como recursos pedagógicos
4
realizada uma pesquisa bibliográfica em
é de suma importância para a atualização do diferentes fontes impressas e digitais sobre o
modo como o ensino está sendo ofertado para tema em discussão e selecionados vários
a geração de alunos Nativos Digitais. O autores que discutem e pesquisam sobre os
objetivo desse artigo é propor reflexões sobre Nativos e Imigrantes Digitais e sobre
as características presentes nos games que os aprendizagem baseada no uso de games.
tornam atrativos para alunos Nativos Digitais,
proporcionando a possibilidade de incluí-los no 2. DESENVOLVIMENTO
ambiente educativo como mais um recurso
pedagógico em prol da educação. A maior parte dos alunos que estão hoje
Vivemos na sociedade do conhecimento, frequentando as escolas de Educação Básica
envoltos de tecnologias em todos os setores e de todo o país, têm acesso diário às
observamos a cada dia o avanço incessante tecnologias digitais em contextos variados e
das Tecnologias da Informação e Comunicação possuem habilidades para utilizá-las. Esses
que proporcionam infinitas possibilidades e alunos são denominados, Nativos Digitais, pois
benefícios para a vida em sociedade, nas mais nasceram e cresceram em contato direto com
diversas áreas, inclusive na educacional. tais tecnologias. (PALFREY; GASSER, 2011);
Desta forma, é extremamente relevante que (PRENSKY, 2001).
a escola reflita sobre as possíveis contribuições Os Nativos Digitais impressionam com suas
do uso das tecnologias digitais que tomam habilidades desde muito cedo, seja com uma
conta da vida de seus alunos em todos os foto super editada na internet por um jovem ou
espaços sociais em que estão inseridos, tendo por um vídeo engraçado com milhões de
condições de apoderar-se delas para usufruir visualizações no Youtube, criado e
de suas possibilidades em prol do processo compartilhado por uma criança. (PALFREY;
ensino-aprendizagem, garantindo que tenha GASSER, 2011).
sempre à disposição de discentes e docentes
recursos atuais e atrativos, que além de
diferenciais, apresentam alto potencial de uso
pedagógico.
Inserir recursos digitais, como os games, que
estão a todo tempo presentes no dia a dia de
alunos Nativos Digitais, é de suma importância,
podendo gerar resultados positivos para a
educação, uma vez que eles são recursos
muito interessantes pelo poder motivacional
que possuem e pela experiência de
⁴ Neste artigo os termos games, jogos e jogos digitais são utilizados como sinônimos.
56
surge a necessidade de entender quais são as se não forem consideradas as diferenças de
características presentes nos games que os complexidade tecnológica e de gênero, existem
tornam tão convidativos, fazendo com que quatro elementos que são comuns a todos os
tantas pessoas dediquem seu tempo a eles. jogos: a meta, que propicia ao jogador um
Sobre esse aspecto, Prensky (2012, p.156) objetivo, as regras que que tratam da
aponta que existem elementos que criatividade e proporcionam o pensamento
combinados, prendem a atenção dos jogadores estratégico, os feedbacks em tempo real que
e os motivam a jogar. O autor menciona que os envolvem e dão motivação para continuar e a
jogos proporcionam prazer e satisfação, pois participação voluntária do jogador, que torna a
são uma forma de diversão para o jogador, são atividade mais prazerosa.
também uma forma de brincar, o que provoca Os games possuem ainda a capacidade de
um intenso envolvimento da pessoa que está estimular diversas habilidades, atitudes e
interagindo com ele e são, ainda, interativos, competências, preparando o jogador para lidar
permitindo a ação constante do jogador. com situações e problemas variados.
Os jogos possuem regras que dão estrutura, (MATTAR; NESTERIUK, 2016)
metas que motivam, além de apresentar Diante dessas características apresentadas,
feedbacks que promovem o aprendizado e as ressalta a oportunidade de explorar tais
vitórias que gratificam e alimentam o ego. Além elementos em contexto educacional e sobre
disso, eles são adaptáveis, o que proporciona isso Abreu (2012, p.34) afirma que “os games
um estado de fluxo (PRENSKY, 2012, p.156), têm muito a oferecer à educação, e nas mais
que segundo Csikszentmihalyi (1999), variadas formas”.
corresponde a uma absorção total, na qual o Considerando que as escolas atendem alunos
foco e energias são integralmente direcionadas Nativos Digitais e que eles interagem com
a uma atividade, o que leva uma pessoa a se games com muita frequência, movidos pelo
isolar, não percebendo o que está acontecendo conjunto de caraterísticas que eles possuem, e
a sua volta ou mesmo não vendo o tempo que essa atividade faz parte da rotina dos
passar. alunos em vários espaços sociais, surge uma
Os jogos também propõem conflitos, desafios, oportunidade de integrá-los ao ambiente
competições que geram adrenalina no jogador, escolar, utilizando-os como mais um recurso
envolvem a solução criativa de problemas e disponível em prol da aprendizagem.
promovem interação com outros grupos Os jogos digitais possuem potencial para
sociais. Eles também apresentam enredo e modificar abordagens utilizadas no processo
representações, que geram emoções em seus ensino-aprendizagem, oportunizando a
jogadores (PRENSKY, 2012, p.156). articulação de saberes de distintas áreas,
O autor apresenta todos os aspectos que assim como a construção ativa do
contribuem para gerar o interesse, prender a conhecimento dos alunos. (PAULA; VALENTE,
atenção e motivar os jogadores durante sua 2015). Seu uso no ensino é importante por
experiência de jogo. Ainda a respeito das proporcionar o uso de tecnologia digital na
características que definem os jogos, escola e por contribuir em mudanças
McGonigal (2012, p. 30-31) complementa que necessárias nas instituições escolares,
58
não possibilita a aprendizagem do aluno, sendo professor se mantiver com linguagem da “era
necessária a interação e discussão com o pré-digital” tentando ensinar alunos que falam
professor sobre os conceitos, permitindo que o uma linguagem totalmente diferente, isso pode
aluno esteja preparado para cumprir os ser um problema.
desafios propostos pelo jogo através da Sobre os Imigrantes Digitais, Souza (2013)
mediação do professor. sugere que eles podem se adaptar a uma nova
Nesse contexto, o educador possui papel realidade, valorizando suas vivências no
importante como mediador da construção de ciberespaço. Ele evidencia ainda que podem
conhecimento a partir do uso de tecnologias ser divididos em Imigrantes Digitais Imersos,
digitais, precisando existir o entendimento dele que são aquelas pessoas que nasceram antes
sobre as potencialidades e dificuldades de da internet, mas que utilizam com frequência
seus educandos, em especial quando falamos as tecnologias digitais e redes sociais, e os
sobre o fracasso em um determinado ponto de Imigrante Digitais não imersos, que ao
um jogo, pois a sua atuação precisa ser contrário dos anteriores, as utilizam com pouca
construtiva, agindo como facilitador do frequência.
processo educativo. (ALMEIDA; VALENTE, Desta forma, como apontado pelos autores, é
2011 apud PAULA; VALENTE, 2015) possível ser um professor Imigrante Digital
Ao se pensar no papel do professor nesse Imerso, que utiliza as novas tecnologias, que
processo de inserção dos games como conhece sobre games e fala a mesma
recursos educacionais, estando apto para linguagem digital que os seus alunos nativos.
interagir, planejar e mediar o seu uso, se faz Sobre a integração dos games na
necessário retomar alguns aspectos sobre os educação, Paula e Valente (2015) explicam
Imigrantes Digitais, representados por muitos que ela depende dos educadores, que devem
docentes em exercício nas escolas. Prensky conhecer a essência geral da cultura dos
(2001) já evidenciava as diferenças videogames ou simplesmente não terem
encontradas entre alunos Nativos Digitais e nenhum preconceito e se disporem a aprender
docentes Imigrantes Digitais, ressaltando a mais sobre esse universo.
necessidade de aproximação entre eles. Para Prensky (2012), quando explicitado o
Por mais que as tecnologias digitais estejam papel do professor que utiliza a aprendizagem
presentes na rotina de todos, Nativos ou baseada em jogos digitais, não existe muita
Imigrantes, existem alguns “sotaques” que novidade, pois a maioria já desempenha há
Prensky (2001) relata que evidenciam o tempos, de um jeito ou de outro, o que se
esforço do Imigrante Digital com relação ao uso espera dele. O autor elenca cinco papéis que o
de tais tecnologias, como por exemplo, professor precisa desempenhar nessa tarefa,
gerando a impressão de um documento digital sendo motivador, estruturador de conteúdo,
para leitura, revisão ou ainda telefonando, facilitador do processo de consolidação,
questionando sobre o envio ou recebimento de tutor/guia e produtor. Para ele, todos esses
um e-mail. Para ele, mesmo encarando com papéis já fazem parte da rotina de ensinar do
humor essas situações, existe uma professor nas mais diversas atividades que
preocupação com esse “sotaque”, pois se o propõe, diferenciando apenas, que nesse novo
60
inovadores, que atendem aos anseios de seus bibliográfica en diferentes fuentes impresas y
alunos Nativos Digitais. digitales, en libros, disertaciones y artículos
O processo de ensino e aprendizagem de científicos sobre los temas tratados. Se espera
qualidade não depende exclusivamente do uso contribuir a la reflexión docente sobre el
de games, podendo ocorrer sem eles, porém, potencial uso de los juegos como recursos
como afirmam Paula e Valente (2015) eles pedagógicos interactivos, estimulantes y
podem trazer inúmeros benefícios para esse atractivos para los estudiantes Nativos
processo, transformando a educação, Digitales, acercando la práctica pedagógica a
favorecendo a construção de conhecimento las actividades habituales y placenteras que
com alunos mais ativos e preparando-os para a estos estudiantes desarrollan en otros espacios
vida em sociedade, na qual as tecnologias sociales, así como estimular el uso de
digitais estão presentes massivamente. tecnologías digitales en la educación.
62
NEWZOO. Newzoo Global Games Market Report 2020: Light Version, San Francisco, 25 jun. 2020.
Disponível em: https://newzoo.com/insights/trend-reports/newzoo-global-games-market-report-2020-
light-version/. Acesso em: 23 abr. 2021.
PALFREY, J.; GASSER, U. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração de nativos
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PESQUISA GAME BRASIL. PGB21: Report Gratuito, São Paulo, 8. ed. 26 mar. 2021. Disponível em:
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PRENSKY, M. Digital Natives, Digital Immigrants. MCB University Press, v. 9, n. 5, out. 2001.
Disponível em: https://colegiongeracao.com.br/novageracao/2_intencoes/nativos.pdf. Acesso em: 19
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SAVI, R.; ULBRICHT, V. R. Jogos Digitais Educacionais: benefícios e desafios. Revista Novas
Tecnologias na Educação, v. 6, n. 2, dez. 2008. Disponível em:
https://www.seer.ufrgs.br/renote/article/viewFile/14405/8310O. Acesso em: 19 abr. 2021.
SOUZA, M. O Real Conceito de Nativos e Imigrantes Digitais nas Redes Sociais Digitais:
conceitos, vivências e comportamento. Dissertação (Mestrado em Cognição e Linguagem) -
Universidade Estadual do Norte Fluminense, Rio de Janeiro, 2013. Disponível em:
http://www.pgcl.uenf.br/arquivos/dissertacaomarcosdesouza_030920191534.pdf. Acesso em: 21 abr.
2021.
64
submetidas as “transmissões de Inúmeras são as competências e habilidades
conhecimento”, por meio de exposições trabalhadas na Robótica Educacional, dentre
didáticas repetitivas, causando uma grande elas destaco:
desconexão entre a escola e suas reais Saber identificar possibilidades, direitos,
necessidades. Sabemos que existem inúmeros limites e necessidades;
fatores que podem impedir uma educação de Saber criar e gerenciar projetos em equipe;
qualidade, porém temos que considerar que Saber cooperar, agir em sinergia e partilhar
não existe a possibilidade de abrirmos a liderança;
cabeça do aluno e enchermos de Saber gerenciar e superar conflitos.
conhecimento, para que ao final do bimestre
possamos medir a quantidade de conteúdos O papel do professor é fundamental para o
aprendidos. sucesso da robótica educacional, que assume
O desenvolvimento de competências por meio a função de mediador durante as aulas, isto é,
da Robótica Educacional deve considerar todas o responsável por conduzir os alunos no
as áreas do conhecimento, sendo que por meio processo ensino-aprendizagem.
de um ambiente motivador e diferenciado, A mediação, de acordo com Reuven
alunos, em equipe, possam discutir N formas Feurstein, é um diálogo entre uma pessoa com
de resolução de um problema. funções cognitivas deficientes ou
Lembro-me de presenciar um fato muito insuficientemente desenvolvidas, e outra
interessante em uma visita à instituição pessoa com muita experiência e intenção de
escolar, onde ficou claro o significado da aula modificar ou aperfeiçoar essas funções. Vale
para o aluno. A professora abordou em sala de ressaltar que motivação, confiança e respeito
aula a competência “prontidão para ouvir”, que são pontos importantes para um melhor
durante uma discussão dos pais em seu desenvolvimento deste processo.
automóvel, o filho os interrompeu e questionou Por fim, gostaria de destacar que ao
o pai sobre a competência aprendida na analisarmos os currículos dos EUA e Europa,
escola, causando certo espanto e notamos a presença da Tecnologia na
consequentemente um questionamento ao Educação em duas grandes áreas: Uma delas,
professor. tem a ver, exclusivamente com a área
Este é um exemplo muito simples de como computacional, ou seja, utilização de
podemos caminhar em consonância às ambientes virtuais de aprendizagem (como a
necessidades e demandas da escola, internet) e o uso de ferramentas para apoiar o
respeitando as diretrizes nacionais de trabalho escolar. Essas são vistas como
educação. Queremos que nossas crianças Ferramentas tecnológicas, utilizadas para
tornem-se cidadãos críticos e estejam aptos ao facilitar o ensino. A outra grande área é aquela
mercado de trabalho, porém com métodos que está ligada ao próprio Desenvolvimento
tradicionais de ensino estamos deixando de Tecnológico e envolve o processo de criação,
descobrir os tesouros dentro de cada aluno, ou levando o aluno a construção do conhecimento
até postergando uma oportunidade de educar e por meio de uma atitude ativa, utilizando
saber lidar com situações adversas. recursos físicos para projetar e construir
- Cora Coralina
A Tecnologia aliada ao processo
de ensino-aprendizagem
GIORDANO JOSÉ ASSIRATI¹
O ensino de teatro sofreu transformações Como ensinar teatro online? Como trazer a
radicais com a chegada da pandemia da experiência de um processo criativo na
COVID 19 em 2020 no Brasil, assim como formação de educandos do 6os ao 9os ano do
todas as nossas vidas. As metodologias e os ensino fundamental II no colégio Chaminade de
princípios do ensino de teatro e das artes da forma remota? Questões que continuam sem
cena foram ressignificados e transformados resposta, mas que ficam em suspenso diante
diante de uma realidade de restrições físicas e da realidade que se impõe soberana: as aulas
espaciais: isolamento, ausência do espaço não pararam, e sim continuaram mesmo
físico da sala de aula e aulas remotas. remotamente.
A arte do encontro presencial no teatro foi O colégio teve a opção/estrutura tecnológicas
reduzida a sua célula mínima da relação entre e humanas para continuar com o ensino de
ator e espectador abordada por Jerzy teatro mesmo com a paralisação das aulas
Grotowski (1992) e foi mediada pelo presenciais o que permitiu a pesquisa de novas
computador e a internet. E sem essa formas de ensino teatral: o que não ocorreu em
intermediação não poderíamos ter vivido esses outras instituições. Assim, as aulas eram
experimentos pedagógicos teatrais. Isso realizadas uma vez por semana de forma
mesmo, nossas aulas passaram a ser um remota por meio da plataforma Teams1 da
experimento nunca antes realizado e colocado Microsoft com duração de 50 min para até 25
a testes e ensaios todos os dias. pessoas. Os educandos puderam levar para
casa os notebooks fornecidos pela escola para
acessarem a plataforma online.
Uma alternativa foi o ensino de teatro de
objetos onde cada um poderia utilizá-los de
suas casas na criação de uma cena
apresentada no formato de vídeo gravado por
MELLO, Suely Amaral. A Escola de Vygotsky. In: CARRARA, Kester. (org.) Introdução à psicologia
da educação: seis abordagens. São Paulo: Avercamp, 2004. p. 135-155.
OLIVEIRA, Pedro Augusto Dutra de. Ensino coletivo de música: aprendendo por meio da
convivência. In: JOLY, Ilza Zenker Leme; SEVERINO, Natália Búrigo. (org.). Processos educativos
e práticas sociais em música: um olhar para educação humanizadora. Curitiba: CRV, 2016. p. 65-
78.
OLIVEIRA, Pedro Augusto Dutra de. Por uma educação musical humanizadora: o ensino coletivo
de música a várias mãos. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de
São Carlos, UFSCAR, São Carlos, 2014.
ONGARO, Carina de Faveri; SILVA, Cristiane de Souza; RICCI, Sandra Mara. A importância da
música na aprendizagem. 40f. Monografia (Especialização em Psicopedagogia) - Centro Técnico-
Educacional Superior do Oeste Paranaense, CTESOP/CAEDRHS, Assis, 2006.
SEVERINO, Natália Búrigo. Educação musical humanizadora e formação docente: uma pesquisa
com licenciandos em música. In: CONGRESSO NACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
EDUCAÇÃO MUSICAL, 22., 2015, Natal. Anais [...]. Natal: ABEM, 2015.
SEVERINO, Natália Búrigo; JOLY, Ilza Zenker Leme. Processos Educativos e Práticas Sociais em
Música: um olhar para educação humanizadora: Pesquisas em Educação Musical. Curitiba: Editora
CRV, 2016.
SILVA, Mariana Galon da. Criação musical coletiva com crianças: possíveis contribuições para
processos de educação humanizadora, 2015. 146 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal de São Carlos, UFSCar, São Carlos, 2016.
Figuras 1 e 2. Crianças apresentando o diário em atividade de estudo online que estão escrevendo, motivados pelo
conteúdo “Gêneros autobiográficos”
82
Figuras 3 e 4. Educandos apresentando a pizza que fizeram para introdução do estudo de fração
84
Não se pode afirmar que a melhoria da
qualidade da educação se dá apenas pela
incrementação dos recursos didáticos, como o
giz e a lousa, ou seja, não adianta mudar os
meios, se os fins ainda são os mesmos. A
tecnologia não tem razão de ser na escola se Os que consideram necessário o uso da
televisão para aumentar a eficiência escolar
os professores dão a mesma aula com a lembram que a escola está defasada com
televisão que dariam com o livro ou a lousa. A relação aos avanços tecnológicos e que
precisa se modernizar. Ocorre que se
modernização tecnológica não corresponde, modernizar significa usar a televisão como
necessariamente, à modernização educativa apoio ao mesmo processo de ensino-
aprendizagem que se vem desenvolvendo.
que, segundo Baccega (2003, p. 74-75): Há, portanto, um desvio. O que se deve
tornar contemporâneo, respeitando as novas
sensibilidades dos alunos, é o próprio
processo de ensino-aprendizagem e não o
uso de qualquer tecnologia que sirva, por
exemplo, apenas para mostrar uma bactéria
ampliada, para que possa ser seja vista
melhor. Ou usar equipamentos para
teleconferência ou ainda utilizar-se da
programação de algum canal educativo.
Tudo isso- e muito mais- pode ser feito,
desde que atendendo a um planejamento do
processo ensino-aprendizagem que
contemple as características dos alunos.
Caso contrário, a televisão e a tecnologia
em geral só reforçam o que já está
desgastado. O fundamental, mesmo, é
desentranhar os mecanismos de construção
da representação televisiva presentes nos
alunos, buscando inserir essa realidade no
processo educacional.
86
Figura 8. Comentário da estudante do 5º ano C
Com esta ação, espera-se que os estudantes Com este objetivo, pensamos em trabalhar
consigam se envolver ainda mais com o ensino com trajetórias de aprendizagem. Para isso,
remoto e protagonizar seu processo de escolhemos o formato dos arquivos em
aprendizagem, desenvolvendo autonomia. PowerPoint. A ideia é propiciar uma
A escola apresentou um quadro favorável à experiência de estudo digital, com orientações
conversão dos atributos técnicos da tecnologia de estudo que se tornam roteiros de
digital em benefícios para comunidade escolar aprendizagem.
por dois motivos: a apropriação da produção Para formular essas trajetórias, partimos do
audiovisual pela escola foi uma necessidade e pressuposto de uma situação de ensino na sala
mais uma oportunidade de torná-la um espaço de aula, com os momentos de
de produção de conhecimentos, com a contextualização, problematização,
participação ativa de alunos e professores. sistematização e criação de repertório. Com o
Tanto a afirmação quanto o desenvolvimento PowerPoint pudemos inserir imagens e links
da identidade profissional do professor passa para vídeos, sites e outros conteúdos digitais.
pela socialização dos saberes específicos da Assim, nosso foco estava em oportunizar o
prática docente entre seus pares e com a uso do computador para interagir com a
sociedade. tecnologia digital, por isso, sempre colocamos
propostas de estudo que usassem recursos
2.2 Roteiro de aprendizagem: pensar digital digitais. Com essa metodologia, viabilizamos
que os educandos interajam com os conteúdos
Como inserir as atividades de escrita, de estudo, utilizando todo o potencial dos
pensando que as crianças estavam sozinhas recursos digitais, como vídeos, infográficos
em casa e precisavam interagir com as interativos, mapas interativos, sites, museus
propostas de estudo, não apenas fazer interativos, revistas on-line, entre outros.
exercícios? Além disso, precisávamos A experiência é diferente de usar a televisão
considerar que deveríamos dar repertório às na sala de aula para entrar nesses objetos
crianças para realizarem as atividades com a digitais e mostrar para as crianças. Nessa
maior autonomia possível. A ideia não era situação, elas interagem com esses objetos e
enviar atividades que fizessem com que os fazem seus próprios caminhos de
familiares atuassem como professores. aprendizagem.
88
2.3 Ferramentas digitais, metodologias
ativas: experiência da sala de aula invertida.
Figura 16. Comentários das crianças no site da revista Ciência Hoje das Crianças
2.3 Ensino híbrido: articulando o presencial elementos digitais que possibilitem esse
com o virtual trânsito entre atividades presenciais e remotas,
tornando, assim, a aprendizagem equitativa a
Com o retorno gradual das aulas presenciais, todos os educandos, porém através de meios
acreditamos que, mais do que nunca, o ensino diferentes. Entendemos aqui a educação
híbrido se fará necessário, sendo incorporado híbrida abarcando todas as possibilidades de
como uma importantíssima estratégia tanto articulação entre diferentes ambientes de
para adequação do momento atual vivenciado aprendizagem, presenciais e digitais, com uma
pela sociedade, quanto como ferramenta para exploração orgânica que se beneficie das
a prática de um ensino mais personalizado. vantagens pedagógicas de cada um deles em
A ideia é oportunizar a mesma aprendizagem, benefício da aprendizagem das crianças, como
na perspectiva de conceitos e habilidades tanto também a vertente que entende essa
no ambiente de sala de aula, como no modalidade como uma forma de potencializar
ambiente virtual, trazendo, para isso, os processos educativos pela incorporação das
90
Tecnologias Digitais de Informação e mais autônoma possível o caminho para fazer
Comunicação (TIDC). Segundo Mill e as atividades propostas.
Chaquime (2020, p. 6): Dessa forma, será possível realizar momentos
de estudos que estarão dentro da trajetória de
Mais recentemente, começam a ser
explorados aspectos inovadores no ensino- aprendizagem – um caminho que articulará
aprendizagem, tais como: apropriação de momentos de estudos coletivos, em grupos e
metodologias ativas (que, em geral, nem são
tão novas assim), convergência das mídias e individuais. Esses podem ser alternados de
das tecnologias, incorporação do mundo acordo com a necessidade que o professor
virtual no seio educacional, proposição de
currículos mais flexíveis – com tempos e sentir em relação a turma, fazendo com que
espaços integrados, combinados, com haja interação com os alunos que farão as
possibilidade de encontros presenciais e
virtuais, em grupos e de acordo com a atividades remotas e aqueles que estão
necessidade do estudante, de modo mais presentes na escola, garantindo um movimento
coerente com a sua vida cotidiana, por meio
de práticas, atividades, jogos, problemas, de aprendizagem dentro da proposta
projetos relevantes etc. Isto vem sendo estabelecia.
experimentado a partir da incorporação das
TDIC no contexto educacional, com especial Uma maneira prática que já vem sendo
atenção ao processo de colaboração trabalhada são as oficinas de Linguagem e
(aprender juntos), personalização (incentivar e
gerenciar os percursos individuais) e autoria Matemática.
(aprendizagem ativa e participativa).
91
Figura 19. Sequência didática oficina de
Linguagem repertoriando verbos de comando
utilizando personagem de anime na Figura 20.Sequência didática oficina de Linguagem
problematização e contextualização indicando a tarefa a ser realizada
Com elas trabalhadas da maneira como são, é Nesse sentido, as crianças podem trabalhar
possível, por exemplo, aprofundar conceitos e com uma proposta de atividade virtual que está
garantir o processo de recuperação para os articulada a propostas de atividades
educandos que necessitem. Dentro do roteiro presenciais.
de estudos é possível retomar conceitos, O ambiente virtual de aprendizagem também
problematizar e dar repertório aos alunos para pode ser utilizado para socializar diferentes
que realizem a atividade proposta sem, materiais, como, por exemplo, compartilhar
portanto, que se tenha discrepâncias entre as sínteses e mapas conceituais. A socialização
turmas que se revezarão nas aulas desses registros na sala virtual é favorecer que
presenciais. os estudantes desenvolvam habilidades
A virtualização da aprendizagem também relacionadas aos procedimentos de estudos
poderá ser realizada com a proposta de autônomos, trocando experiências e
exploração de diferentes objetos digitais de aprendendo diferentes procedimentos.
aprendizagem (ODA), em momentos distintos
das aulas no espaço físico. Com o roteiro de Figura 21. Socialização dos mapas conceituais
estudos, as crianças podem realizar dois ilustrados do sistema elétrico Brasileiro, produzidos
movimentos diferentes, dependendo do objeto durante a aula de Ciências.
92
O uso dos fóruns no AVA possibilita
aprendizados de naturezas diferentes,
principalmente no que se refere às práticas de
leitura, escrita e registro com o objetivo de
estudo. A participação em fóruns de discussão
mobiliza capacidades diferentes das
discussões presenciais e demandam a
mobilização de outras habilidades. Os fóruns
são articulados com as atividades presenciais,
viabilizando estudos em outros espaços, além
da escola.
Os fóruns também se tornam portfólios digitais
de aprendizagem, uma vez que além de
possibilitar a socialização de diferentes
registros, esses ficam arquivados e servem
para identificar, tanto para o professor, família
e o próprio estudante, os avanços e pontos que
necessitam de maior atenção, favorecendo
assim, a autoavaliação.
Os fóruns potencializam as possibilidades de
aprendizagem e de ensino em cada disciplina,
um exemplo são fóruns para rodas de leitura.
Podem ser propostas leituras para casa e as
apreciações realizadas em fórum, neles
podemos também propor análises coletivas,
como por exemplo, de escritas de palavras,
pensando nas formas corretas de uso e nas
regras geradoras de escrita.
94
Principalmente em produção de texto é comum
que as crianças estejam em diferentes níveis de
proficiência e algumas necessitem revisar os
textos mais vezes que outras. Fazer isso em um
ambiente virtual possibilita que todos tenham
suas demandas atendidas, tanto aqueles que
precisam permanecer mais tempo revisando
seus textos, quanto os que podem passar para
outras propostas de produção, permitindo o
acompanhamento do professor em todas as
etapas e ajustadas as necessidades,
intervenções pontuais mais difíceis de serem
organizadas em sala de aula física. Assim, a
flexibilidade de tempo e espaço promovem mais
aprendizagens e mais personalizadas.
As ferramentas digitais possibilitam o trabalho
colaborativo, com a possibilidade de produzir
conteúdos em Word, PowerPoint e outros
aplicativos de forma compartilhada. Um exemplo
Figura 25. Primeira Produção de texto usando Forms:
deste trabalho está sendo realizado pela
registro da orientação para revisão
professora Ediluci Rocha que cria,
conjuntamente com alguns estudantes, os
materiais da acolhida do dia, fazendo parceria
com as crianças que têm menor iniciativa e são
mais tímidos.
Nos chats as crianças também podem postar
Fonte: Arquivo pessoal
materiais complementares as aulas,
demonstrando proatividade e estendendo a
atividade de estudo e o prazer pelo aprendizado
Figura 26. Segunda produção-Revisão postada como para além dos muros da escola. O chat também
tarefa usando o Teams é usado de forma colaborativa. Muitos
estudantes, por iniciativa própria, organizam
grupos para pedir orientações das professoras e
estudarem juntos.
O trabalho colaborativo, mediado pelos
espaços virtuais, permite a participação das
famílias nas atividades realizadas na escola, é o
Fonte: Arquivo pessoal espaço ampliado de educação, articulando todos
os agentes.
Conversas, discussões
Planejamento, impressões
Atividades, procedimentos
Tudo com muito cuidado e sentimento
E assim, podemos
dizer que Ação
com colaboração
Leva à inclusão.
Poema dedicado à parceria realizada com uma mediadora muito especial no ano de 2020 em meio
a pandemia da Covid-19.
TRABALHANDO CONCEITOS DE
GEOGRAFIA ATRAVÉS DE UM JOGO
EM UMA proposta inclusiva
Kewlyn Carolinne Ferreira¹
Nathalia De Assis Silva²
Pedro Ryo De Landim Y Goya³
102
COMO É O JOGO?
104
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
diversos problemas percebidos na sociedade
contemporânea, onde seja significativo o
Habilidades/superdotação), com mestrado e
aprender do conhecimento culturalmente
doutorado em curso em Psicologia do
produzido. É o ambiente do saber epistêmico.
Desenvolvimento e Aprendizagem da
Destaca-se que, reconhecendo essas
UNESP/Bauru, que me impulsionaram a uma
dimensões, a aprendizagem acontece
necessária atuação docente atendendo aos
individualmente e no coletivo. Cada sujeito
direitos individuais e coletivos consoantes a
relaciona-se de forma diferente para as
uma educação plural, de qualidade
práticas pedagógicas. Observar, identificar e
independentemente das condições de cada
tratar as situações advindas dessas relações
educando. Meu grande aliado nesse momento,
exigem saberes que relacionem todos esses
iniciar em 2020 com a turma do 4º ano C, como
aspectos, a multidimensionalidade, ou seja,
educadora, professora-tutora, foi o saber da
técnica, humana e político social da formação
corporeidade, área que entende o sujeito
docente irão se manifestar em uma atuação
integral, que atua no movimento e educação,
plural, abrangente e diversa no atendimento
apresentando uma cultura corporal que
das peculiaridades dos educandos.
acrescente uma melhor qualidade de vida, de
Foi com essa pluralidade formativa que sou
explorar suas habilidades e de respeitar seus
formada no curso de bacharel em Direito,
limites, exercitando atividades que possam
especialista em Direito Constitucional, tive
superar barreiras enquanto individualidade,
experiência como professora de ballet, sou
com expectativas e construções individuais e
Pedagoga formada pela Faculdade de Ciências
coletivas a fim de exercer seu papel no mundo.
da Unesp (extensionista dos Projetos Ioga e
Educação e Identificação de alunos com altas
110
movimento das articulações, a “câmeras Indubitavelmente, nos asseguramos, ajudamo-
abertas” e as crianças acompanhando, eu os nos e trouxemos para o ambiente virtual um
vendo fazer, emocionava. Éramos vínculo saudável que corroborou nos avanços
companheiros. As músicas faziam parte, pedagógicos no processo de aprendizagem de
muitas vezes ao final, marcavam o todos da turma, considerando a influência
encerramento, o relaxamento, o alerta com a mútua e que o comportamento de cada um
postura. Exercícios para os olhos, o alerta em afeta o todo.
ser necessário avistar o horizonte de tempo em Ao retornar para o presencial, mesmo que
tempo, a importância do sentar-se confortável. por poucas horas em outubro de 2020,
O acomodar as pernas no chão, ou em um tínhamos o retorno de todos, pudemos então
apoio, o respirar e ajustar a postura. O abrir e conferir o quanto ações simples foram valiosas.
fechar as mãos, alongar o pescoço, de olhar de A posição da árvore, que realizávamos nas
um lado para o outro, alongar os braços, ficar atividades, se consolidou no nome de turma,
em pé e fazer equilíbrios, uma perna, depois a escolhido com consulta democrática: 4º ano C
outra. O abraçar a si e alongar, o massagear – Turma Ipê. As cartas relatórios de final de
com as mãos e dedos, a cabeça e o rosto. As ano escritas a cada família, de cada um dos 23
crianças faziam, praticavam e mostravam educandos, inclui a descrição de
satisfação. características dos aspectos integrais
Algumas outras atividades foram feitas: ouvir e salientados pelas práticas corporais, pois
assistir a 5ª Sinfonia de Beethoven sendo facilitou a manifestação da presença de cada
tocada pela Orquestra Filarmônica de Berlin, um deles e no grupo. A carta que a turma fez
descrever o que sentiram e compartilhar, coletivamente ao 4º ano C 2021, expressa em
aguçar os sentidos, aproveitar e recordar as palavras deles: “[...] uma coisa que nós
funções de cada um dos sentidos e seus amamos! Ela coloca música todos os dias de
respectivos órgãos sensoriais. Ressaltar que manhã, às sextas-feiras nós fazemos alguns
com os sentidos conhecemos o mundo e movimentos de yoga [...]” (Carta de boas-
quanto é importante cuidar do corpo para ter vindas do 4º ano C ao futuro 4º ano 2021,
saúde. 2020).
A sensibilização quanto aos cuidados com o
corpo. Conteúdos curriculares foram propícios
ao trabalharmos as ervas da Amazônia e o
conhecimentos da população indígena em
relação aos medicamentos; o Guaraná, fruto de
planta genuinamente brasileira e seus
benefícios. Sistemas do corpo humano,
esquelético, muscular, nervoso central e os
cuidados e atividades que devemos ter com
eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS
112
A afetividade e a colaboração como
fundamentos do processo
educativo e criativo docente
Bruna Laselva Hamer¹ 1
Olhar para o educador a partir da pessoa que por meio de uma metáfora. A Shabono, a
é, com sua história, anseios, desejos e medos, casa-aldeia Yanomami, Um lugar específico e
é uma atitude que humaniza o processo uma comunidade que nos falam da
educativo. O professor, que não é apenas o circularidade da vida. Nossa identidade
reprodutor de um programa acadêmico técnico, concretizada num projeto educacional.”
mas a figura humana que se apresenta como (COLÉGIO CHAMINADE, 2019, p.4).
referência para as crianças. A inspiração na cultura Yanomami não é
apenas poética, é uma escolha que assume a
importância das pessoas e das relações na
Nossos olhos devem estar voltados para o
formação de uma comunidade. A afetividade
HOMEM que está dentro do professor.
constitui-se em um princípio e ao mesmo
Há um homem esquecido dentro dele.
tempo em um clima relacional.
Há um ser comprimido dentro de sua pele.
Há uma pessoa. No primeiro encontro com todos os
Há sim, educadores docentes, que chegavam no
Há uma pessoa dentro do papel do professor. colégio repletos de expectativas e disposição,
Qualquer modificação de qualquer estrutura nos reunimos em uma grande roda, para ouvir
educacional não começará a acontecer o nome de cada um, uma palavra que o
enquanto este professor não deixar sair de representasse e dançamos, marcando o ritmo
dentro de si mesmo esta pessoa que está com nossos pés e entoando um cântico
guardada e aguardada. (SAWAYA, 1981, p.54)
indígena. Depois de caminharmos juntos pelo
colégio finalizamos o encontro em torno de um
grande tacho de terra. Cada um recebeu um
Esse reconhecimento de cada individualidade
vasinho, e coletou um punhado de terra com a
traz um tom afetivo para o acolhimento da
mensagem “É com muita alegria que nos
cultura individual na construção de uma cultura
reunimos para plantar esse sonho! Seja bem-
institucional que seja capaz de receber o
vindo à nossa casa, nossa família!”. Cada
melhor de cada um em prol de um objetivo
educador iniciou o ano de 2020 trazendo seu
comum.
vasinho com sua planta, com sua oferta para
nosso jardim.
¹ Os índios Yanomamis, ocupam a região norte do Amazonas, e constroem suas casas-aldeias em formato circular,
chamando-as de "shabonos" (palavra que designa fenda, abertura ou clareira na selva). Seu dimensionamento é feito
conforme o número de ocupantes que abriga. Um grupo de parentes, em que normalmente reside apenas um grupo
familiar em cada casa.
A cobertura das unidades de moradia é articulada de modo a formar uma única superfície que abriga a todas. É um cone
truncado em sua parte superior onde permanece aberto para a penetração da luz solar na praça central, bem como para
exaustão da fumaça. A parte central da área constitui a praça da povoação, o espaço da vida social e religiosa. E,
próximo ao seu limite, ergue-se uma estrutura ininterrupta feita de troncos de árvores e folhas de palmeiras com um
imenso telhado de uma só água, que é o espaço doméstico.
114
Figuras 1 e 2. Formação de professores - Dez 2019 O ponto de observação:
a reelaboração da cultura pessoal
A afetividade e acolhimento possibilitam o
desenvolvimento de uma forte relação de
pertencimento, elementos fundamentais da
vida comunitária. Juntamente com o âmbito
coletivo, existe um processo individual que
precisa ser olhado e zelado. Cada educador
tem sua cultura pessoal e suas necessidades.
Para acompanhar o desenvolvimento
individual, o ponto de observação é um
instrumento de reflexão e crescimento. Trata-
se de um espaço de escrita para ampliar a
percepção de si mesmo e da própria prática, a
partir de um ponto específico.
116
Mais alguns trechos dos pontos de
observação da educadora 2 (sic), professora
especialista:
Descobri novas possibilidades dentro da SER LIVRE PRA CRIAR HOJE, É O QUE ME
tecnologia, na edição de vídeos, na criação MOTIVA. SER LIVRE PARA RECEBER O
das tarefas, tentei me colocar no lugar das QUE ELES TÊM A ME DIZER, É HOJE O SOL
crianças, e do ouvinte em geral quando DA MINHA PROFISSÃO. Finalmente
desenvolvo os roteiros dos vídeos, gravo e licenciatura do meu diploma tem sentido..
edito. É um processo longo, às vezes leva Tenho a LICENÇA para despertar o interesse
horas infinitas de trabalho, mas compensador. de crianças na língua que eu amo!
(01/07/2020, Educadora 2) (04/08/2020, Educadora 2)
Me sinto privilegiada de trilhar esse caminho, Essa equipe do fund I tem um coração imenso,
com muitos altos e baixos, porque é isso que e habilidades incríveis. Fico impressionada
nos faz nos sentir vivos, nem sempre o pior é quantas coisas legais sai desse baú. Acredito
realmente o pior (porque nos impulsiona a que a criação, e execução desse projeto
tentar melhorar) e nem sempre o melhor mostrará um pouco que nada somos sozinhos,
resultado é realmente algo bom (nos põe na e que a participação é algo muito maior que o
zona de conforto). trabalho pronto em si. (12/09/2020, Educador
Tento me desafiar a cada semana, estamos 2)
percorrendo o nosso caminho de Santiago, de
estômago vazio, as vezes sedentos por uma
novidade, esperando chegar no lugar
planejado e nos ajoelhar por ter cumprido a
missão. (03/08/2020, Educadora 2)
Fonte: Imagem enviada pelo Educador 2 Fonte: Imagem enviada pelo Educador 2
118
Inteligência Coletiva e o processo criativo
O termo colaboração tem sido utilizado com
muita frequência para referir-se as novas
formas de relação contemporânea. Enquanto
sociedade estamos convocados a avançar para
uma organização que supere ações
individualistas em prol das necessidades
comunitárias. Na educação, a colaboração é
reconhecida como uma qualidade a ser
desenvolvida no ser humano no âmbito da
dimensão social, assim como uma maneira de
estabelecer as relações educativas, ou seja,
aprender em um ambiente colaborativo.
Trabalhar de maneira colaborativa é uma
necessidade e ao mesmo tempo um desafio.
Pierre Lévy desenvolveu o complexo conceito
de inteligência coletiva para referir-se à
dinâmica estabelecida por uma comunidade
em que cada parte oferece seus recursos que
se encadeiam de maneira complementar
gerando ganhos para o todo. As abelhas,
formigas e a própria organização planetária são
exemplos de como atua a inteligência coletiva.
Nas organizações humanas é possível
desenvolver a capacidade de cooperação ativa
de seus membros, como amadurecimento de
nosso processo de desenvolvimento enquanto
sociedade.
__________________. Planejamento 1°
trimestre 2021 - 1° e 2° ano. Bauru: Colégio
Chaminade, 2021a.
Esse é um relato de um processo vivo de
formação e transformação docente em que a __________________. Planejamento 1°
afetividade e colaboração são elementos trimestre 2021 - 3° a 5° ano. Bauru: Colégio
Chaminade, 2021b.
fundamentais. O educador nesse movimento é
o sujeito que pensa e cria sua prática educativa FREIRE, Madalena (org). Observação,
Registro, Reflexão: Instrumentos
de forma integrada com seus pares, Metodológicos 1. 3. ed. São Paulo: Espaço
construindo uma comunidade de Pedagógico, 2003. (Série Seminários).
aprendizagem: “um grupo de pessoas que
LÉVY, Pierre. Inteligencia colectiva: por uma
persegue propósitos comuns, com o antropologia del ciberespacio. Tradução Felino
compromisso coletivo de sopesar regularmente Martinez Álvarez. Washington, DC: Biblioteca
Virtual em Saúde, BIREME, 2004. Disponível
o valor dos mesmos, modificando-os quando em:
tenha sentido, e desenvolvendo continuamente https://ciudadanosconstituyentes.files.wordpres
s.com/2016/05/lc3a9vy-pierre-inteligencia-
modos mais efetivos e eficientes de o colectiva-por-una-antropologc3ada-del-
conseguir.” (PACHECO, 2014, p. 102). ciberespacio-2004.pdf. Acesso em: 15 jun.
Seguimos nesse permanente fluxo de 2021.
desconstrução, criação e transformação! PACHECO, José. Aprender em comunidade.
São Paulo: Edições SM, 2014.
122
1. INTRODUÇÃO
estágio superior da
interdisciplinaridade [...] que não se
A transdisciplinaridade limitaria a reconhecer as interações
e/ou reciprocidade entre as
como estratégia na pesquisas especializadas, mas o
qual seria capaz de alocar esses
prática docente links dentro de um sistema integral,
no qual não mais existem fronteiras
entre as disciplinas (PIAGET, 1972,
p. 138, tradução nossa)
Marcos Roberto de Paula¹
² Princípio segundo o qual algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo e na mesma relação. “É impossível o mesmo
existir e também não existir simultaneamente no mesmo conforme o mesmo (modo)”. (Aristóteles, Metafísica, IV).
¹ Professora de geografia do Colégio Chaminade, Bauru/SP. Mestra e doutoranda em Geografia pela UNESP/ Campus
de Presidente Prudente.
angelica.abrantes@chaminade.com.br
130
Figura 2. Mapa tátil do estado
de São Paulo elaborado por
educando do 6º ano C,
utilizando camurça e barbante.
132
4. EDUCAÇÃO BÁSICA E ENSINO
SUPERIOR: UMA APROXIMAÇÃO
POSSÍVEL E NECESSÁRIA
5. Qual sua área favorita da geografia? Qual lugar você gostaria de estudar?
7. Desde quando a senhora trabalha nessa área? Quando despertou o interesse em cartografia?
8. Quais aspectos você leva em conta na escolha dos materiais para fazer um mapa tátil? Você
escolhe os materiais pela textura ou aparência?
134
Questões elaboradas previamente pelos educandos dos sextos anos
(ano letivo de 2020) sobre geologia, pedologia e geomorfologia
2. Você acha que no futuro com mais tecnologia, o ser humano consiga chegar no manto?
3. Você ainda tem algum mineral que gostaria de ter? Se, sim, qual?
4. Você já viu um vulcão em erupção e no outro dia pegou uma rocha de lá?
7. Você pode, por favor, nos contar uma curiosidade sobre o solo?
RESUMO 1. INTRODUÇÃO
² Em “Portos de Passagem”, Geraldi discute sobre a identidade do professor diante à história do ensino no Brasil e
estabelece alguns paradigmas importantes para o ensino de língua materna: a importância das escolhas docente (textos,
matérias etc.), a centralidade em atividades reflexivas e dialógicas, por exemplo.
3 Geraldi, em “O texto na sala de aula”, promove reflexões aos docentes acerca dos fundamentos do ensino da língua, da
literatura, da leitura e da produção de textos na escola. Tal publicação trouxe impactos sobre a importância de colocar o
texto como unidade de trabalho nas aulas de Língua Portuguesa.
4 Concepção de Street (2014) referente ao letramento escolar embasado nas práticas sociais, em contraste com um
140
fazendo com que haja uma heterogeneidade
explícita na constituição dos gêneros
discursivos. Afinal, conforme Bakhtin (2010, p. de um gênero para outro não só modifica o tom
262), “a complexidade da atividade humana, do estilo nas condições do gênero que não lhe
situada em campos específicos, faz com que é próprio como destrói ou renova tal gênero”
os elementos relativamente estáveis sejam (Ibid, p. 268).
abstratos e vazios”. Logo, compreender esses Postulando, então, os gêneros discursivos
enunciados, em toda a sua complexidade e como elementos abstratos e os enunciados
sem minimizar a heterogeneidade, é uma como unidade da comunicação discursiva em
tarefa crucial para decifrar os discursos da que há a concretização dos gêneros, é
sociedade e para compreender a vida, uma vez importante trazer à tona alguns outros conceitos
que o homem é constituído como sujeito de relevantes acerca da natureza enunciativa: a
língua, que existe, circula e se manifesta, na responsividade, dialogismo e alteridade.
sociedade, por meio dos enunciados/gêneros.
Já dizia Bakhtin (2010, p. 271) que “o
Bakhtin (2010) considera a existência de dois
ouvinte, ao perceber e compreender o
tipos de gêneros: os primários e os
significado (linguístico) do discurso, ocupa
secundários. Enquanto aqueles formam-se em
simultaneamente em relação a ele uma ativa
condições discursivas imediatas e possuem
posição responsiva: concorda ou discorda (total
vínculo com a realidade concreta (campo da
ou parcialmente), completa-o, aplica-o,
vida), estes surgem nas condições de um
prepara-se para usá-lo, etc.”. Então, todo ato
convívio cultural mais complexo/desenvolvido
comunicativo é responsivo, uma vez que a
(artístico, científico, político etc.) e incorporam
compreensão é de natureza responsiva e que
e reelaboram os gêneros primários.
“toda compreensão é prenhe de resposta” (Ibid,
Uma das grandes diferenças entre os gêneros
p. 271) e, por isso, dialógica.
primários e secundários, de acordo com Bakhtin
Isto quer dizer que todo enunciado se
(2010), é sobre o estilo – um dos elementos-
apresenta como uma resposta a outros
chave dos gêneros. Sendo todo enunciado
enunciados, em atividades humanas
único, individual e não reiterável⁶, o estilo
específicas, não sendo isolados no tempo e no
marca e reflete a individualidade do
espaço. Considerar enunciados/gêneros, na
falante/produtor, dentro de um contexto
concepção dialógica, é compreender que existe
específico. Assim, por forças coercivas, os
um elo na cadeia comunicativa: os
gêneros primários possuem uma presença
enunciados não existem sozinhos, pois é
maior do estilo individual do falante, uma vez
marcado pela dialogicidade, o que o configura
que estão atrelados às esferas cotidianas,
como “um elo na corrente complexamente
enquanto os secundários refletem um estilo
organizada de outros enunciados” (BAKHTIN,
geral/genérico, determinado pelas
2010, p. 272).
especificidades do campo da atividade ao qual
está vinculado. Por isso, “a passagem do estilo
6
Justamente pelos enunciados serem materializados em uma situação única e em uma instância de enunciação
irrepetível, que marca um falante (eu), em um tempo (aqui) e espaço (agora) definidos, como uma atividade humana que
acontece em uma esfera específica.
142
Dessa forma, considerando o dialogismo e a
alteridade como elementos essencialmente
constituintes das ações humanas, são
postuladas as propriedades do enunciado: (i)
Limite/ Dixi – alternância dos sujeitos do
diferentes campos/esferas. Assim, as unidades
discurso, que marca os elos; (ii) Finalização – a
linguísticas, antes arquitetadas apenas por
conclusibilidade do enunciado, vista como a “a
uma abordagem normativista, agora passam a
inteireza do enunciado, que assegura a
ser entendidas pela normalização, sendo
possibilidade de resposta” (BAKHTIN, 2010, p.
mutáveis, plásticas e relativamente estáveis,
281), indicada por três fatores: exauribilidade
construindo os estilos de diversos enunciados
do sentido e do objeto (acabamento ), pela
e articuladas com as esferas de atividade
intenção discursiva (o projeto de dizer) e pelas
humana.
formas típicas composicionais (marca 7 o “fim”
Assim, como tudo é responsivo e responsável,
de um enunciado); (iii)
pertencente a uma cadeia comunicativa, é
Individualização/Expressividade – estilo
preciso reconfigurar a própria representação
individual/subjetividade. Logo, todo enunciado
psicológica sobre a ideia de aula – que era
é pelo marcado pela alternância de sujeitos
marcado pelo tradicionalismo – como um
(que se constituem na alteridade), na
gênero discursivo que se materializa em forma
finalização e expressividade.
de enunciado, situado em um tempo e espaço,
envolvendo diversos sujeitos.
3. AULA COMO ACONTECIMENTO
A aula também é um elo e, por isso, surge por
meio de uma resposta e de uma necessidade.
Nesta seção, embasados nas teorias
Por exemplo, antes do momento de uma aula
bakhtinianas apresentadas anteriormente,
são mobilizados conhecimentos e enunciados
serão consideradas algumas implicações
de diversas esferas – teórico, didático,
pedagógicas que os estudos do Círculo de
prescritivos (dos documentos oficiais) etc. –
Bakhtin trouxeram no contexto educacional,
que serão engendrados, por meio da interação
problematizando com o ensino atual de língua
verbal com diversos sujeitos de subjetividades
materna, mesmo o grupo não tendo
e existências distintas, para criar um evento
preocupações voltados ao ensino, mas sim a
único e novo. Esta, por sua vez, justamente na
uma filosofia da linguagem.
interação, responde e exige resposta dos e aos
A concepção dialógica da linguagem proposta
sujeitos envolvidos.
por Bakhtin ressignificou o conceito de língua –
focando na enunciação – e trouxe um
paradigma de como conceber os gêneros
discursivos, como elementos indissociáveis às
atividades humanas desenvolvidas em
7
Medviédev (2012) e Bakhtin (2010), dentro do Círculo, discutem a questão do acabamento como algo relativo, uma vez
que ele não é marcado pelo falante, mas também pelas respostas dos outros/ouvintes.
8
Há de se considerar as diversas interações possíveis: professor-aluno, aluno-aluno e aluno-professor.
9
A existência de enunciação escolar monológica, que tem um caráter unificador e centralizador (homogêneo) das
ideologias verbais.
144
4. OS ENUNCIADOS DOS ALUNOS:
PRODUTO OU PROCESSO?
146
Isto quer dizer que, enquanto houver uma
realidade de uma resistência ao trabalho com
os gêneros discursivos (ou uma negligência
acerca dessa abordagem), teremos alunos
pouco participativos e pouco a Educação
Básica contribuirá para a sua formação,
repetindo sempre os mesmos erros.
Enquanto a língua não for realmente
entendida como prática social, que se molda às
esferas de atividade humana, e a produção
textual concebida como um acontecimento
Muitas pessoas que dominam discursivo de interações de várias vozes e
magnificamente uma língua sentem
amiúde total impotência em alguns identidades – um processo na cadeia
campos da comunicação precisamente
porque não dominam na prática as comunicativa, que marca um “eu”, “aqui” e
formas de gênero de dadas esferas
Frequentemente, a pessoa que domina “agora” – não haverá um trabalho real na
magnificamente o discurso em perspectiva de gêneros.
diferentes esferas da comunicação
cultural sabe ler o relatório, desenvolver
uma discussão científica, fala
magnificamente sobre questões sociais, 5. Considerações finais
cala ou intervém de forma muito
desajeitada em uma conversa mundana
Aqui não se trata de pobreza vocabular Este artigo trouxe à tona alguns dos conceitos
nem de estilo tomado de maneira
abstrata tudo se resume a uma primordiais da filosofia da linguagem
inabilidade para dominar o repertório
dos gêneros da conversa mundana, a bakhtiniana de interesse ao campo
uma falta de acervo suficiente de pedagógico, reforçando uma teoria da
noções sobre todo um enunciado que
ajudem a moldar de forma rápida e enunciação essencialmente dialógica e
descontraída o seu discurso nas formas
estilístico composicionais definidas, a marcada pela alteridade.
uma inabilidade de tomar a palavra a Embora ainda persista, na realidade, um
tempo, de começar corretamente e
terminar corretamente (nesses gêneros, monologismo na Educação Básica, (refletido
a composição é muito simples). [...]
Quanto melhor dominados os gêneros nas aulas monológicas e na própria produção
tanto mais livremente os empregamos
(BAKHTIN, 2010, p. 284-285). textual dos alunos, como observados neste
artigo), muito vem sendo discutido sobre a
concepção de ensino de língua por meio dos
gêneros discursivos, o que tem sido um ganho.
Cursos de formação continuada e os
documentos oficiais da Educação vem
trazendo, cada vez mais, a necessidade de se
pensar em práticas sociais do uso da leitura e
da escrita. Porém, é necessário, ainda, mesmo
com todo esse discurso necessário em busca
da concepção enunciativo-discursiva nas aulas
de português, apresentar novas maneiras de
148
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: _______. O texto na sala de aula. São Paulo:
_______. Estética da criação verbal. São Ática, 2006.
Paulo: Martins Fontes, 2010.
_______. A Aula como Acontecimento. São
_______. Toward a reworking of the Paulo: Pedro & João Editores, 2015.
Dostoievsky book. In: _______. Problems of
Dostoievsky's poetics. Minneapolis: ILARI, R. A Linguística e o Ensino da Língua
University of Minnesota Press, 1987. Portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
12 St. Martin de Porres Marianis School de Long Island- New York (EUA)