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1 R. Dir. Def. Pub 1 Rio de Janeiro 1 a.10 1 NQ 14 1p.1 a 5421 1998


acredita estado de direito tendo sua base na intenção do sujeito
conforme o direito e prescindindo da efetiva disponi-
bilidade da coisa, a ponto de se dizer que a posse nesse período, é
a ou seja, a posse jurídica"
1Neste contexto sobre a posse no direito romano, para contradizer a
Artur Moreira da Silva Abertaro, mais recentemente, em 1953, Antônio D' Emília, ao elaborar a
Defensor Público síntese histórica-dogmática sobre a configuração da posse romana e
Aposentado bizantina à luz de numerosos estudos exegéticos, diz que a controvérsia
da posse no direito romano ainda não terminou. Segundo suas palavras:
1) DA POSSE "... na época pré-clássica, a noção de posse aparece fundamentalmente
baseada na consideração de dois elementos, um material (imediato relação
1.1) da posse no direito romano entre sujeito e objeto) e outro jurídico causa DOSS'~S~;jOí
Os juristas do império romano baseavam-se no fato de que a posse se O elemento de fato da (considerado res é claramente
assentava no animus porque, antes, na sua formação, se posto à luz pelos juristas romanos e só se obscurece nas épocas pré-clás-
apresentava figurada nas causas e em seus usus, de acordo com a Lei das sicas e bizantinas ... "
XII Tábuas. " ... A consideração das causas constitui ponto fun-
Para entendermos a posse, dentro do critério romano, temos que nos damentai do tratamento da posse pelos juristas republicanos, fato este a
fixar em três grandes épocas, devendo examinar a evolução do conceito que é dado o devido relevo ... "
de posse.
"... No período clássico, a escola sabiniana (Cassio, Javaleno e Juliano),
1º) A época e que se pode denominar de pré-clás- seguindo a doutrina dos antigos, continuou a considerar, em matéria
sica, onde, possessória, os mesmos dois elementos (material e jurídico puro =causa),
"a posse é uma senhoria de fato sobre a coisa com relação à qual o ao passo que os Proculeianos (primeiramente com Paulo, consoante Ihe-
concedente tem a senhoria de direito; senhoria de fato que não se transfor- ring, com Lobão, segundo Riccobono) elaboraram um elemento intencional
ma em senhoria de direito, e, é revogável, sem limite no tempo, e exercida que vem substituir o elemento objetivo representado pela causa posses-
com intenção de ter a coisa para si." sionis. A noção de posse continuou, assim, a basear-se num elemento
2º) A época clássica material (possessio enquanto o requisito objetivo é substituído
"observa-se a obra de análise que os juristas imperiais fazem da posse pelo elemento intencional (animus DC~SS:J(:I,~mjl
como se delineava no começo do império; é a posse, nesse período, a Na época pós-clássica, a doutrina proculeiana toma a dianteira, conser-
senhoria de fato sobre a coisa que se consubstancia e se exaure nos dois vada no período bizantino, em conformidade com a importância geral
elementos da disponibilidade material de seu objeto: o elemento objetivo adquirida pelo animus no campo do direito.
(possessio corpore) e o elemento subjetivo (animus e é ela
irrevogável, ilimitada no tempo e capaz de conduzir à aquisição da senhoria 2Portanto, o desenvolvimento da posse no direito romano ainda mostra
de direito (o domínio)". várias divergências entre os doutrinadores.
3º) Já na romana-helênica e O que se pode concluir é que, ao tempo da Lei das XII Tábuas, a
"subverte-se o instituto clássico da posse: surge a idéia de que se pode possessio existia com relação à maior parte das terras.
possuir o direito, aparecendo assim, ao lado da rei (posse da
coisa), por isso a noção de posse, estendida aos direitos reais, se altera, 1 Alves, José Carlos Moreira - Posse - 2 - Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1985
passando a ser exercício de direito do proprietário ou de qualquer outro 2 Alves, José Carlos Moreira - Posse - 2 ª ed. - pags. 11 e 12 - Rio de Janeiro, Ed. Forense,
1985
direito real, que se associa a um efetivo (ou, pelo menos que, de boa fé, se

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Neste caso, as terras conquistadas pelos romanos eram entregues aos teoria da posse direito romano teve sua nas terras
cidadãos em caráter revogável, portanto, eles não dispunham do dom/~ comuns.
n/um mas sim, da IJU'SSI~S~.IO.
A instituto do ius honorarium (direito pretoriano), difere do . A "GEWERE"
usus, que não goza de qualquer proteção jurídica; já a é
2.1) A posse no direito germânico surgiu na Idade Média, mas que vem
tutelada pelos interditos.
do direito costumeiro anterior. A Gewere tida pelos juristas alemães era
A dúvida pairava sobre se havia a distinção entre usus e IU!U:::i:::iIf:!!S:'IU
equivalente à posse romana.
aceita por Kaser.
A gewere ora se manifestava como o poder físico sobre a coisa, ora
3Já chegando aos nossos dias, Lauria nos diz que a posse é um instituto como o poder de fato conexo com o direito a ele correspondente, ou ainda
unitário em sua essência. Por isso, é que se diz que, tanto as posses antigas independentemente de qualquer poder físico.
como as recentes, são posses sobre coisa alheia, é o exame que se faz
das posses arcaicas. 2.2) Posse no direito canônico

" O objeto da posse na época pré-clássica, de início, tinha por objeto A posse no direito canônico fundou-se no direito romano com influência
coisas, pessoas e direitos, ou, era senhoria de tato apenas sobre coisas no direito germânico medieval.
corpóreas. " A posse se estende a todos os direitos de exercício duradouro, mas essa
4Quanto à composse, é opinião corrente, que começou a surgir no extensão não alterou a noção de posse vinda do direito romano, se
período clássico, quando se entendia que a mesma coisa poderia estar na desenvolveu e se estendeu para formar a constituição da Igreja e de vários
posse de diversas pessoas. Estados Europeus. Por essa extensão o poder episcopal dependia da posse
da sede do bispado e dos bens que lhe eram próprios, extensão essa
Início da posse no período pré-clássico: era necessário a senhoria de
desconhecida pelos romanos, com isso o direito canônico deu grande
fato sobre a coisa. Já no período clássico se caracterizava com a possessio
contribuição para se conhecer melhor a posse.
corpore, elemento objetivo, introduzida a expressão corpus e do animus
com a conjunção desses dois elementos surge a "",.,nr<''''''''''_ Assim, grande contribuição foi dada no que concerne à proteção da
slo. posse pelo direito canônico, com essa extensão veio a melhor compreensão
da composse.
A posse, neste caso, termina quando ocorre um dos aspectos em virtude
dos quais finda a posse ela se conserva com o próprio possuidor ou com
terceiros (copere et animo nostris). 3) TEORIAS DA POSSE

No direito clássico perdia-se a posse quando desaparecesse os dois Várias teorias atravessaram os tempos e em cima dessa fundamentação
elementos (possessio corpore e o animus possidendl). do que é a posse, em 1803, aos vinte e quatro anos de idade, Savigny
5publicou seu livro intitulado: Das Recht des Besitzes, que o imortalizou.
Seu livro tinha como base, apresentar a posse como ela era reproduzida
no direito romano.
A proteção possessória surgiu para tutelar o ager pois, não
sendo susceptível de proprietários não podia defender-se com as ações Savigny 6 pa rtiu da idéia de que só dois efeitos se atribuem à posse: o
relativas a esta, houve então a proteção pretoriana, por meio dos interditos usucapião e os interditos possessórios, com total independência da proprie-
que mais tarde foram estendidos à posse. dade.

3 Beviláqua, Clóvis - Direito das Coisas - Rio de Janeiro - 1976 5 Savigny - Apud - Beviláqua, Clóvis
4 Apud - Beviláqua, Clóvis 6 Savigny - ap.cit - Beviláqua, Clóvis

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São, portanto, dois elementos constitutivos da posse: um fato exterior a teoria da apropriação pois a posse é relação da apropriação
(o e uma vontade determinada que o acompanha (o fato econômica, e não, relação de apropriação jurídica.
interior). No entanto, Perozzi 11destaca as teorias de Savigny, Ihering e Saleilles
e cria a teoria social da posse, ao dizer que esta é:
A posse representa para Savigny7 a possibilidade real e imediata de
dispor fisicamente da coisa e de defendê-Ia contra agressões de terceiros. "a plena disposição de fato de uma coisa."
Já o an;mus que caracteriza a posse é o animus dom;n; (a intenção de
ter a coisa como se fosse proprietário dela). O próprio Savigny reconhecia A POSSE NOS
que existiam casos, segundo os textos romanos, de que havia posse,
A posse no Código Civil Francês - Art. 2.228 "Posse é a detenção ou o
apesar da inexistência do animus como no caso do precarista, do
gozo de uma coisa ou de um direito, que temos ou exercemos por nós
credor pignoratício, do depositário de coisa litigiosa e do enfiteuta, que
mesmos ou por outrem que a tem, ou que a exerce em nosso nome."
possuíam, sem an;mus dominr Nestes casos, deveriam ser meros deten-
tores, diante da teoria subjetiva, como o era, por exemplo, o locatário, o No Código Civil Italiano:
depositário, o comodatário e o usufrutuário. "É a detenção de uma coisa ou gozo de direito, que uma pessoa tem por
si mesmo, ou por meio de outrem, que detenha a coisa ou exerça o direito,
Ihering 8 criou a teoria objetiva, com base na teoria da posse, desde os
glosadores até os tempos modernos. Para isso, inspirou-se no direito em nome dela"
germânico, oriundo dos debates sobre a gewere, e começou, em 1868, a No Código Suíço, Art. 919, diz:
divulgação de uma revisão da teoria da posse, dizendo que o corpus é a "É possuidor de uma coisa aquele que a tem efetivamente."
relação de fato entre a pessoa e a coisa, de acordo com a sua destinação O Código Civil Português de 1867, considera posse:
econômica; é o procedimento do possuidor com referência à coisa pos-
"a retenção ou fluição de qualquer coisa ou direito." (Art. 474).
suída.
O Código Argentino no Art. 2.351 , diz: "haverá posse das coisas, quando
Seu estudo diz o seguinte: alguma pessoa, por si ou por outrem, tiver uma coisa em seu poder com
"Na relação com a propriedade se encontra a chave para a compreensão intenção de submetê-Ia ao exercício de um direito de propriedade."
de toda a teoria material da posse: tanto para a extensão abstrata do O Código Civil do Peru no Art. 824, diz: "É possuidor o que exerce, de
instituto da posse - ela segue paralelamente à propriedade - como para os fato, os poderes inerentes à propriedade ou um ou mais deles."
requisitos de posse concreta - eles se reduzem à relação exterior sobre a Código Civil Português em 1967, em seu Art. 1251, diz: "posse é o poder
coisa correspondente à propriedade. A designação de posse com a exte- que se manifesta quando alguém a tem por forma correspondente ao
riorização ou a visibilidade da propriedade encerra toda a teoria da posse'. exercício do direito de propriedade ou de outro direito real."
9Para Ihering, a posse é a exterioridade da propriedade, o critério da
existência da posse há de ser o modo pelo qual o proprietário usa, 5) POSSE NO DIREITO
normalmente, de sua propriedade, que varia segundo o destino econômico
das coisas das quais o homem se serve. No esboço de Teixeira de Freitas 12 cuja publicação se iniciou em 1860,
a posse era disciplinada em diversos lugares da Seção 1- "dos direitos reais
Saleilles 10ao examinar as concepções de Savigny e Ihering sobre o em geral', sendo que, neste esboço, a posse se baseava na teoria subjetiva
corpus e o animus na posse, introduziu modificações que lhe permitiu criar de Savigny, porque a teoria de Ihering estava sendo publicada neste mesmo
ano.
7 Savigny - ap.cit - Beviláqua, Clóvis
8 Ihering - Apud - Alves, José Carlos Moreira
11 Perozzi - Apud - Alves, José Carlos Moreira
9 Alves, José Carlos Moreira, obra citada pág. 224
10 Saleilles - Apud - Alves, José Carlos Moreira 12 cf. livro Alves, José Carlos Moreira

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Seguindo-se os projetos de Nabuco de Araújo e de Felício dos Porém, se olharmos do de vista da relação jurídica e nos abs-
a posse vem regulada em dois capítulos do Título 2º do livro 2º. coisas termos do estado de fato, verificamos que existe um interesse tutelado,
particulares) - (Arts. 1297 a 1319). diante desse vínculo, há um direito também.
Também nesse projeto se observava a teoria subjetiva de Savigny, no. Como observa Bartolo,15 ao dizer:
Art. 1297: " que a posse é fato quanto à origem, e direito, quanto aos efeitos que
13 "Se diz possuidor, aquele que, com animus de proprietário, detém produz."
uma coisa ou exerce um direito, ou detenha a coisa ou exerça o direito por O mesmo raciocínio lhe deu Savigny, ao dizer que: "a posse tem dupla
si ou por outrem em seu nome. Tal detenção da coisa ou exercício do direito natureza, a posse é um fato quanto às conseqüências, mas igual a um
se diz posse." direito."
Em 1890, foi incumbido Coelho Rodrigues de elaborar um novo projeto Já, Pontes de Miranda,16 parte da premissa de que não existe nenhuma
ao Código Civil, cuja conclusão se deu três anos mais tarde. conseqüência jurídica no fato da posse, extraindo sua conclusão de que a
posse em si é puro estado de fato que suscite com sua existência, os
Nele, a posse é disciplinada nos Arts. 1324 a 1369 e se afasta da teoria
direitos. Não chegando a grandes conclusões.
subjetiva de Savigny.
O Código Civil Brasileiro não enquadrou a posse no elenco dos direitos
Em 1899, Carlos de Carvalho publicou "O Direito Brasileiro Recopilado",
reais, conforme se pode verificar no Art. 674.
nessa publicação se refere à posse no Art. 336:
O projeto primitivo de Clóvis Beviláqua em seu art. 775, considerava
"Presume-se posse na detenção ou fruição de qualquer espécie de direitos reais os ali enumerados. Portanto, Clóvis não se mostrou seguro
bens, a menos que exista uma relação de direito que exclua ou em virtude quanto ao enquadramento da posse, se era um fato ou um direito real.
do qual a detenção ou fruição se exerça em nome de outrem."
Como também, Ihering nos diz que a posse é um direito, mas não chega
Nesse mesmo ano, 1899, Clóvis Beviláqua 14 concluiu o projeto do a dizer se é um direito real, e sim, como assentava Clóvis, um direito de
Código Civil Brasileiro, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1917. natureza especial.
Regulou-se a teoria da posse tomando-se como base a doutrina objetiva Para outra corrente, a posse é um instituto jurídico, "sui generis". Instituto
de Ihering. esse, que se entende como inexistente, porque essa tese não chega a
nenhuma conclusão.
6) NATUREZA DA A sustentação da posse, no nosso ordenamento jurídico atual, segue
duas correntes: - uma que sustenta que a posse é um direito real e outra,
A posse é um fato ou um direito?
minoritária, que a posse é um direito pessoal.
- ou ainda: - a posse é um fato e um direito? O Código Civil Português de 1967, se inspira no Código Civil Italiano, e
A sustentação de que a posse é um fato se baseia no nascimento da coloca a posse na parte do direito das coisas.
posse que é um estado de fato, porque ele existe enquanto perdura a posse, O Código do Peru de 1984, inspirado no Código Civil Brasileiro, coloca
esta concepção teve seus adeptos como: Windscheid, De Filipis, Trabucchi a posse no elenco dos direitos reais.
e outros. Concluindo, entendemos que a posse é um direito real, com todas as
No entanto, para essa corrente, muito embora acabe o fato da posse suas características, com indeterminação do sujeito passivo, na relação
persiste o direito objetivo, como um instituto jurídico e não como um estado jurídica, incidindo sobre um objeto determinado vinculado ao sujeito ativo,
de fato inerente à ordem jurídica. Esse estado de fato, que é a relação entre tendo no pólo passivo toda a comunidade, que terá que se abster, contendo
a posse e a coisa, ninguém a nega.
15 Alves, José Carlos Moreira - obra citada
13 cf. livro Alves, José Carlos Moreira 16 Miranda, Pontes - Comentários ao Código de Processo Civil - Tomo XXIII, 1ª edição, Ed.
14 Beviláqua, Clóvis - obra citada Forense Rio de Janeiro - 1977

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as mesmas características dos direitos reais, que são: a) oponibilidade erga O mesmo entendimento é o do consagrado Pontes de Miranda, ao
seqüela, aderência, ambulatoriedade e tipicidade; destarte, enten- afirmar que as ações possessórias são reais. 19
demos, que não há como refutar que a posse não seja um direito real. Muito No entanto, a contrário sensu, Adroaldo Furtado Fabrício entende que:
embora o tema ainda seja polêmico, tanto na doutrina como na juris-.
prudência. " Com efeito, do nosso ponto de vista, as ações possessórias não
A corrente que segue o direito pessoal, tem a sua sustentação que a envolvem de modo algum ius im Esses interditos visam tão-somente
posse não é um direito real, com o argumento de que a posse não foi preservar ou restaurar um estado de fato ameaçado ou inovado arbitraria-
inserida no Art. 674, do Código Civil. Mas, outros direitos reais existem e mente. '20
não estão no Código Civil, como por exemplo, a alienação fiduciária, a
promessa de compra e venda registrada, e outros. CONCEITO DE POSSE
Rui Barbosa 17escreveu uma monografia intitulada: "A Posse dos Direi-
tos Pessoais", e, nesse trabalho estendeu a todos os outros direitos em O nosso Código não conceitua a posse, como ocorre em algumas
geral, como por exemplo: posse do estado de casado, posse do estado de legislações alienígenas, mas conceitua possuidor, no seu Art. 485, ao dizer:
filho, posse do estado de cônjuge e assim por diante. " Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício pleno
A posse, de acordo com o Art. 485 do Código Civil, vai além dos direitos ou não de alguns dos poderes inerentes ao domínio ou propriedade."
reais sobre coisa corpórea, por isso, deu ensejo à justificativa de que a O que se pode fazer é uma adaptação e chegar-se a um conceito,
posse não é um direito real. usando a terminologia do Código:
Outro artigo, que dá embasamento a essa teoria é o Art. 488, do Código
" Posse é de fato o exercício pleno ou não de quaisquer dos poderes da
Civil, quando diz: "se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa ou
senhoria, com autonomia."
estiverem, no gozo do mesmo direito" ...
Outro artigo que dá margem a essa controvérsia é o Art. 490 do Código Outros conceitos se perfilam neste trabalho como os exemplos abaixo:
Civil, ao caracterizar a boa fé, quando diz: "se o possuidor ignora o vício ou Para Laerson Mauro, posse é " fato que consiste no exercício, total ou
o obstáculo que lhe impede a aquisição do direito possuído ... ". parcial, com autonomia, de alguns dos poderes inerentes ao domínio ou
Muito embora haja essa sustentação de que aludidos artigos dão ensejo propriedade."
ao entendimento de que a posse se enquadra como direito pessoal, ela não Para Washington de Barros Monteiro, posse "é o exercício de fato dos
é suficiente para caracterizar a posse como tal, porque ao verificarmos a poderes constitutivos do domínio ou propriedade, ou de alguns deles
defesa da posse, temos que só os direitos reais podem ser defendidos pelas somente, como no caso do direito real sobre a propriedade alheia.
ações possessórias. Portanto, a posse é um direito real.
21 Para Maria Helena Diniz, " Posse é o poder imediato que tem a pessoa
Inclusive no Código de Processo Civil, o legislador processualista ao se
de dispor fisicamente de um bem com a intenção de tê-lo para si e de
referir à posse a tem como um direito real, como se depreende dos
defendê-lo contra agressão de quem quer seja".22
ensinamentos dos dou1rinadores transcritos abaixo:
" Síntese do art. 95. - Em síntese, nas ações fundadas em direito real
TOMO II - 1ª ed. - Rio de Janeiro - Ed. Forense - 1975.
sobre imóveis, o sistema do Código é o seguinte: a) quando o litígio recair
19 p. 229, Miranda, Pontes - Comentários ao Código de Precesso Civil- TOMO XXIII- 1ª
sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão, demar- ed. - Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1977.
cação de terras e nunciação de obra nova, o foro é o da situação do 20 p. 472 - Fabricio, Adroaldo Furtado - Comentários ao Código de Processo Civil- Vol. VIII
imóvel... ".18 - TOMO 111 - 1ª ed. - Rio de Janeiro - Ed. Forense, 1980
21 Monteiro, Washington de Barros - pag 26 - Curso de Direito Civil das Coisas - 12 ed -
Rio de Janeiro - Ed. Saraiva - 1973
17 Miranda, Pontes - obra citada
22 Diniz, Maria Helena - Curso de Direito Civil Brasileiro, 4º Vol. - Direito das Coisas - 7ª ed.
18 p. 428/429, Barbi, Celso Agrícola. " Comentários ao Código de Processo Civil" - Vol. I - - Rio de Janeiro - Ed. Saraiva - 1991

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Carlos Alberto Bittar conceitua posse" como direito que a pessoa tem Esse desdobramento está previsto no Art. 486 do Código Civil, e, só
de exercer os poderes constitutivos do domínio sobre as coisas a seu ser feito, por um direito real sobre coisa alheia, ou por direito obriga-
alcance, de modo total ou parcial".23 cional, como seja, usufruto e locação; portanto, na base do desdobramento,
terá que existir um ato jurídico lícito, porque o ato ilícito não tem o condão
'VM'VMV DA POSSE de desmembrar a posse.
Ambos os possuidores, tanto o direto como o indireto, gozam da mesma
A posse se apresenta no ordenamento jurídico como um todo unitário, proteção possessória. Só há neste caso, um adendo a se fazer, - o
no entanto, para melhor estudarmos, teremos que dessecá-Ia, em suas possuidor indireto, só pode exercer a proteção possessória contra terceiro,
diversas modalidades, a fim de entendermos melhor a relação possessória. e não, contra o possuidor direto, porque, neste caso, caberia a rescisão
8.1) Posse e Posse Derivada contratual.
8.3)
A posse originária é a que resulta de investidura do próprio possuidor,
é tida como posse inaugural. É o que acontece com o pescador quando O Art. 488 do Código Civil estabelece a modalidade de posse simultâ-
capta o peixe ou com o banhista quando apanha a concha na praia. nea, como também, pode-se chamar de posse pró indiviso. Para que exista
a composse torna-se necessário dois pressupostos: - pluralidade de pos-
Para o direito, há interesse em saber se a posse é originária ou derivada.
suidores e coisa indivisa.
A primeira se apresenta escoimada de qualquer vício possessório, pois não
Neste estado de comunhão, todos os compossuidores podem exercer
foi ainda maculada. A segunda, posse derivada, é a posse transmitida,
a proteção possessória contra terceiros, individualmente ou coletivamente,
pressupõe a existência de possuidor anterior, envolve sempre dois pos-
e contra os próprios consortes, inclusive, pode se valer do desforço pessoal,
suidores, o que transmite e o que recebe.
quando for lesado nos seus direitos.
A derivação pode ocorrer de ato lícito ou ilícito, causa mortis ou inter
8.4) Posse Justa e
vivos, compra e venda, doação, herança e desapropriação; a derivação,
Para adentrarmos neste título, temos que verificar quando a posse se
ainda, pode se dar por ato ilícito, como na usurpação, nos casos de
torna injusta, porque a posse justa é a decorrente de ato legítmo, surgindo
subtração da coisa e na apropriação indébita.
de uma causa perfeita, e portanto, lícita. Já, a posse injusta é aquela
Esta posse, como vemos, transmitida por ato ilícito, é viciosa e, portanto, acometida de um vício possessório, que é todo o ato ilícito encontrado na
injusta. origem da posse.
8.2) Posse Direta e Indireta São três os vícios possessórios, previstos no Art. 489 do Código Civil:
A posse direta é aquela transmitida do poder de uso, pelo proprietário violência; clandestinidade e precariedade.
ou usufrutuário. Este desmembramento só ocorre através do direito ou da A violência é a subtração da coisa através de força física ou moral, é o
obrigação. A posse direta é também conhecida como imediata ou derivada, arrebatamento da coisa contra a vontade do titular da posse.
porque procede de alguém, de um transmissor. Clandestinidade é a substituição da coisa às escondidas, de forma
A posse direta coexiste com a indireta sem se anularem, esta é transi- enganosa, fraudulenta, sem a percepção de seu legítimo possuidor.
tória e, portanto, temporária. Assim ocorre na posse direta do locatário, Já precariedade é a subtração da coisa com abuso de confiança. A coisa
quando rescindida a locação, a posse se consolida e se torna plena, nas já é do manuseio do possuidor injusto, só que, neste caso, há uma inversão
mãos do proprietário, que era possuidor indireto. do título da posse.
O possuidor indireto é o que entrega a posse direta, apenas reserva para Os autores costumam assemelhar esses vícios a três tipos criminais: a
si o contato imediato indireto. violência ao roubo; a clandestinidade ao furto e, a precariedade à apropria-
ção indébita.
23 Bitar, Carlos Alberto - Direito Reais -1ª ed. - Rio de Janeiro - Ed. Forense Universitária A posse, de acordo com os romanos, pode ser denominada, quando
-1991 tiver violência de posse vi e sem violência nec vi; quando clandestina,

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posse clam e sem clandestinidade nec já, a precária é a posse de contato material com a coisa, já a
e sem precariedade é a nec esse contato.
Portanto, a posse justa é aquela sem vícios possessórios, já a posse elus
injusta, contrário sensu é a posse viciosa. O ius se restringe exclusivamente à posse, o poder sobre
Para se saber qual o vício embutido na posse, temos que saber o exato a coisa é limitado à sua defesa. No entanto, o jus é a posse
momento em que esta saiu da esfera de vigilância de seu possuidor, o decorrente do direito de propriedade.
momento do flagrante, isto é, o momento do apossamento, e verificarmos 8.10) Posse Nova e Posse Velha
se sua remoção foi com violência, clandestinidade ou precariedade. A primeira é a posse de menos de ano e dia, e a segunda é a posse de
8.5) Posse Mansa e Pacffica mais de ano e dia.
Mansa e pacífica tem o mesmo significado, sentidos equivalentes, é a Essa distinção é de grande importância, pois a posse nova, comporta
posse que não é perturbada, isto é, posse justa, sem vícios possessórios. medida liminar, porque é referente a ações de força nova; o que não ocorre
8.6) Posse de boa fé e de má fé com a posse velha cujas ações são decorrentes de força velha. Mas,
mesmo assim, dita ação de força velha não perde o caráter possessório.
Tanto a posse de boa fé como a de má fé são posses injustas, porque
contém um vício possessório na sua origem. A diferença está no co- 8.11) Posse melhor e posse
nhecimento do possuidor, se este conhece o vício possessório e sua origem O Art. 507 do Código Civil nos dá o enfoque de conceito, o que nos resta
estamos diante de uma posse de má fé. Já, se o possuidor desconhece o saber, qual é a sua finalidade e seu alcance jurídico.
vício possessório e tem a presunção, para si, de posse justa, esta posse é A melhor posse é aquela que está calcada no justo título. Se, porém,
de boa fé. São estas as diretrizes estabelecidas pelo Art. 490 do Código iguais os títulos, neste caso, a melhor posse será a mais antiga.
Civil. Se não houver a possibilidade de se verificar a presença de justo título,
8.7) Posse com justo e sem justo por exclusão, a melhor posse será a atual.
Ter-se-á que levar em conta nesta conceituação de posse com justo 8.12) Posse ad e posse ad """""""""'n..!ll
título que, aparentemente, nos leva à indução de posse justa, mas, ao A posse ad interdicta é a que é amparada pela proteção possessória,
contrário, é posse injusta. na hipótese de ser molestada. A posse ad é a posse onde
A posse com justo título provém de uma causa, que contém um título não cabe mais defesa, frente à prescrição aquisitiva, e que dá origem,
não verdadeiro, porque se fosse seria posse justa. através do usucapião, à aquisição da propriedade.
A contrário sensu, posse sem justo título, é aquela que não está ligada
a qualquer espécie de causa, não existe qualquer documento que prove a
existência da posse, qual seja um recibo de um imóvel ou a transferência
da posse através de uma epístola.
o objeto da posse pode constituir-se de qualquer bem, pois não há
limitação legal, porque o legislador do Art. 485, do código Civil, ao conceituar
A presença de justo título presume a boa fé, só que esta presunção é possuidor, "diz que é aquele que exerce um dos poderes inerentes ao
relativa. domínio ou propriedades", neste contexto, abrange também os direitos, pois
8.8) Posse natural e civil relaciona-se com propriedades e esta relação alcança as coisas incorpó-
reas.
Posse natural é a que se exerce com a sua ocupação, estabelecendo-se
o contato material com a coisa. Já, na posse civil, não se exerce o contato O direito romano, que a princípio se limitava, apenas, a prestação
material imediato, porque ela é decorrente de lei. O exemplo caracterizador possessória às coisas corpóreas, veio estendê-Ia, também, ao direito real.
da posse civil é o do Art. 1.572 do Código Civil, quando nos fala de Na Idade Média, os jurisconsultos, sofrendo influência do direito canô-
transmissão da herança. nico, chegaram a estender a proteção possessória aos direitos pessoais.

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Entre nós, Ruy Barbosa sustentava que os direitos pessoais estavam ou de má fé. Porque, neste caso, o possuidor de boa fé só indeniza os danos
abrangidos na idéia de posse. Com o advento do mandado de segurança, que causou à coisa culposamente (Art. 514, do Código Civil). Neste sentido,
a hermenêutica desse contexto perdeu toda a maneira de ser, porque a culpa também abrange o dolo.
aludida interpretação visava, tão somente, a defesa dos direitos públicos. Por outro lado, o possuidor de má fé, responde por todos os danos
subjetivos, vez que, só havia o habeas corpus contra a ilegalidade ou abuso causados à coisa, perante o retomante, sejam eles a título de dolo ou de
de poder. culpa, e ainda, por caso fortuito e força maior (Art. 515, do Código Civil).
O possuidor de má fé, só se escusa de indenizar os danos ao retomante
1 EFEITOS DA POSSE se comprovar, que eles aconteceriam, mesmo nas mãos do retomante. Terá
que provar que houve uma causa excludente de culpabilidade militando em
A posse gera conseqüências próprias. Só se pode falar em efeitos da
seu favor.
posse quando esta for viciosa, ou seja, houver de ser retomada e, neste
caso, verifica-se como o retomante vai ser ressarcido pelo retomado. Quanto aos frutos, temos que verificar se eles são naturais, civis ou
industriais. Os frutos naturais são os gerados por força da natureza, como
Ao longo da História da posse, muito se tem discutido sobre os seus
os frutos das árvores, as crias dos animais. Os frutos civis são os ren-
efeitos, pois esta indenização difere da indenização gerada pela res-
dimentos de capital, os juros, o aluguel. Os industriais são os provenientes
ponsabilidade civil, cujo direito pertence ao ramo obrigacional. Para Savig-
da força do trabalho humano, tais como, as mercadorias em geral.
ny, só existia dois efeitos: o uso dos interditos e usucapião.
Os frutos naturais, civis ou industriais, se classificam assim:
Os interditos era o nome pelo qual o Pretor romano designava a medida
defensiva na esfera jurídica do possuidor. I - pendentes: os que estão ainda ligados à coisa;
11 - colhidos ou retirados da coisa: são os que desligam de coisa;
E o usucapião, que vinha a ser o modo aquisitivo da propriedade, pela
posse prolongada e decurso do tempo. 11\ - estantes: existentes, foram desligados da coisa, estão. armazena-
dos;
Modernamente e segundo a doutrina, os efeitos da posse são aqueles
que a lei civil estabelece em seus Artigos 499 a 519, do Código Civil IV - consumidos: gastos, não mais existentes, pois foram utilizados para
Brasileiro, a saber: o consumo;
I - direito de indenização V - antecipados: colhidos fora de época;
VI - percipiendos: não foram colhidos na época própria e sucumbiram,
II - direito à percepção dos frutos
ou apodreceram, ou se desgastaram, ou prescreveram.
III - direito às benfeitorias
Para se estabelecer a indenização dos frutos, mais uma vez, ter-se-á
IV - direitos de retenção
que verificar, se o retomado está de boa fé ou de má fé. Porque todos os
V - direito a defesa possessória frutos pendentes e antecipados pertencem ao retomante.
VI - usucapião Os frutos pendentes, no momento da restituição da coisa, pertencem ao
A indenização dos danos causados à coisa difere da responsabilidade retomante; os antecipados, se não fossem colhidos fora do tempo, seriam
civil, pois esta, segundo o Art. 159, do Código Civil, se dá quando: também pendentes, partindo-se da premissa de que o acessório segue o
principal, tantos os frutos pendentes como os antecipados, não sendo
"aquele que, por ação ou omissão, voluntária, negligente, ou
encontrados, o possuidor de boa fé terá que os indenizar. Porém, todos os
imprudente, violar direito, ou causar prejuízo a outrem, fica obri-
demais frutos pertencem ao retomado, ficando, no entanto, com o direito
gado a indenizar".
da compensação, de ser indenizado nas despesas de produção e custeio.
Nota-se que aqui, não há qualquer diferenciação, porque aquele que (Art. 510 e 511 do Código Civil).
causar dano, seja culposamente ou dolosamente, é obrigado a indenizar. Se o retomado for possuidor de má fé, não terá direito a fruto algum.
No entanto, para se verificar a indenização dos danos na posse, a Todos os frutos de qualquer espécie pertencem ao retomante, se o retoma-
primeira coisa a se fazer, é identificar o possuidor, se ele estava de boa fé do não os tiver ao tempo da reivindicação, terá que os indenizar, só terá

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direito à compensação pelas despesas que teve para defesa da posse é uma das mais simples, amplas e perfeitas que
conservar (Art. 513, do Código Civil), para evitar o sem não é como a defesa da propriedade. Na defesa
causa. da posse limites para determinar, com exatidão, a sua defesa.

No que concerne ao terceiro ítem, classificam-se as benfeitorias em A auto defesa da posse é a faculdade que tem o possuidor de repelir o
necessárias, úteis e voluptuárias. Necessárias são as benfeitorias que têm atentado à posse, mantendo-se ou nela se reintegrando, pela própria
por fim conservar a coisa, para que a mesma não pareça. Quanto as úteis, Este desforço pessoal tem seus limites de investidura, para não acarretar
sua finalidade é dar maior aproveitamento à coisa, ampliando-lhe a utilida- conseqüências antijurídicas. É necessário que haja repulsa à violência, sem
de. Voluptuárias: são as benfeitorias realizadas para a retardamento. Não sendo possível esta auto defesa pessoal,
dar ao seu possuidor maior conforto, luxo e deleite. recorrer ao auxílio da força policial, desde que seja logo, de imediato, para
não se incorrer no retardamento, que não permite esta iniciativa, isto é, a
Para que o retomado possa obter indenização sobre as benfeitorias por auto defesa.
ele realizadas, mais uma vez, teremos que verificar a qualidade da posse.
O retomante não vislumbrando a repulsa do invasor com a auto defesa,
Se o possuidor está de boa fé. Estando o possuidor de boa fé, tem o direito
terá que percorrer o caminho das ações possessórias. Em sendo a posse
de ser indenizado pelo retomante sobre as benfeitorias necessárias e as
um fato, consiste sua defesa, não em título, e sim, provando-se o fato,
úteis, pelo valor correspondente às mesmas. Porém, no que concerne às
através de testemunhas, recibos de pagamento de prestações, contas de
benfeitorias, o retomante não está obrigado a indenizá-Ias; no entanto, o
luz, água, telefone, vistoria. A defesa da posse se produz no Juízo Posses-
retomado tem o direito de levantá-Ias e levá-Ias consigo; caso o retomante
sório, que dispensa a exibição de exame de título. Só no Juízo Petitório é
queira ficar com elas terá de indenizá-Ias. (Art. 516, do Código Civil).
que se exige exame de título, que é o juízo da prova da propriedade. Para
Estando o retomado de má fé, só terá direito à indenização das benfei- se determinar as ações possessórias e seu respectivo cabimento, temos
torias necessárias, pois este conservou a coisa para o retomante, e seu que saber qual foi a lesão possessória cometida pelo possuidor. Elas são
direito à indenização colima para evitar o enriquecimento sem causa. nominadas, só existem as seguintes: esbulho, turbação e ameaça.
(Art. 517, do Código Civil) O esbulho é a lesão mais grave. Consiste em manter afastado da coisa
o seu titular possuidor, ou não permitir a entrada do mesmo na sua posse.
Quanto ao direito de retenção, não deixa de fugir à regra, pois o
A turbação consiste em atrapalhar, perturbar, embaraçar o possuidor no
possuidor de boa fé, tem o direito de reter a coisa, até ser indenizado, pelo
exercício de sua posse, injustamente. Pode também constituir em atos
valor de suas benfeitorias, isto é, sobre as benfeitorias voluptuárias, não
praticados na própria coisa, tais como, extrair madeira, frutos, colocar o
terá direito de retenção o possuidor de boa fé. O possuidor de má fé não
tem o direito de retenção, sobre qualquer espécie de benfeitorias. (Art. 516 gado a pastar em terreno alheio.
e 517, do Código Civil). A ameaça é uma lesão que poderá concretizar-se, no esbulho ou na
turbação, é o estágio anterior. A ameaça é o receio que tem o possuidor de
O sistema de indenização está estabelecido no Art. 519, do Código Civil,
ser molestado.
que determina ao retomante escolher como deverá pagar as benfeitorias,
entre o valor atual ou o valor de custo. Através das lesões, sabe-se as ações correspondentes, tais como, à
lesão de esbulho cabe a ação de reintegração de posse; à lesão de turbação
cabe a ação de manutenção de posse, e para a lesão de ameaça cabe o
11) DEFESA DA POSSE interdito proibitório (ou ação proibitória).

É considerado um dos efeitos da posse, a sua defesa, que pode ser: por As ações possessórias estão previstas no Art. 920 e seguintes do
esforço pessoal, que é a legítima defesa da posse, mediante medida liminar Código de Processo Civil. As ações de força nova têm direito a medida
em se tratando de posse com força nova; e, a propositura das ações liminar, desde que intentadas dentro de menos de ano e dia da lesão, ou
possessórias. seja, do esbulho ou da turbação. São ações de força nova.

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1 PERDA
As ações de força velha, cuja lesão de esbulho ou turbação foi praticada
há mais de ano e dia, não perdem o caráter possessório, no entanto, perda da posse está prevista no nosso ordenamento jurídico nos A~s.
seguem o procedimento comum ordinário. Se a coisa é imóvel, está previsto 520 a 522 do Código Civil. Divide-se no regime codificado, a perda da cOisa
o seu procedimento no Art. 924, do Código de Processo Civil. Se o e a do direito sobre a coisa. Sobre a perda da coisa encontra-se as seguintes
objeto é coisa móvel, qualquer que seja o valor do mesmo, o procedi- causas: o abandono; a tradição; a perda ou deterioração da coisa; coloca-
mento é o comum sumário, previsto no Art. 275, inciso II do Código de ção da coisa fora do comércio; posse de outrem, se não mantido ou
Processo Civil. A natureza jurídica das ações possessórias é ação real reintegrado em tempo hábil o interessado; e a cláusula constituti.
condenatória. Se a ação versar sobre coisa móvel, a sua propositura será Sobre a perda dos direitos estão previstos os seguintes casos: impos-
no domicílio do réu (Art. 94, do Código de Processo Civil). No entanto, se sibilidade do exercício em tempo hábil, que caracteriza a prescrição e, os
a ação versar sobre coisa imóvel, observar-se-á o lugar da coisa, conforme previstos nos artigos 77 e 78 do Código Civil Brasileiro.
preceituado no Art. 95, do mesmo dispositivo legal.
Seguindo a esteira do Código, o primeiro modo expresso é o ab.an?ono,
que consiste no desligamento físico da coisa e dá-se pela descontinuidade
12) AQUISiÇÃO DA POSSE unilateral da relação possessória; nesta mesma relação, verifica-se a perda
A aquisição da posse está prevista no Art. 493, inciso I a 111, do Código da propriedade.
Civil, onde diz: "adquire-se a posse, pela apreensão da coisa, ou pelo A tradição é a entrega da coisa, espontaneamente. E a abdicação em
exercício do direito: como também, pelo fato de se dispor da c.oisa, ou do prol de outrem, aqui, trata-se de ato bilateral.
direito e, finalmente, por qualquer dos modos de aquisição em geral ". No A destruição ou o perecimento da coisa e a sua colocação fora do comércio
parágrafo único, determina o dispositivo legal, a aplicação dos Arts. 81 a 85 ocorre quando a coisa se extravia, de modo que não se tenha controle.sobre
na aquisição da posse. ela, desaparece o exercício da posse. Exemplo temos, quando a cOisa se
A posse se adquire por qualquer fato, ato ou negócio jurídico, tais como: destrói, nesse sentido, perecendo o objeto, perece o direito a ele correspon-
avulsão, morte, furto, sucessão singular ou universal ou por qualquer ato dente, e, isto vem expresso nos Arts. 77 e 78 do Código Civil.
inter vivos. O mesmo acontece com a coisa fora do comércio, retirada de circulação,
A posse também se pode adquirir por representante legal, o que se como previsto no Art. 69 do mesmo diploma legal. Pelo princípi~ da
atribui a posse de incapazes, que são adquiridos pelos pais, tutores ou aderência, o direito se incorpora na coisa, portanto, perecendo-se o objeto,
curadores. No entanto, aquisição por gestor de negócios, depende de perece o direito.
ratificação. Também se adquire a posse por procurador constituído, com A perda da posse com a posse de outrem, é o que resulta do desliga-
contrato do mandado. Esses modos de aquisição são denominados de mento da posse do titular para se ligar a terceiro; se aquele titular não for
originários e derivados. Os primeiros se resumem na posse inaugural, sem
mantido ou reintegrado em tempo hábil.
transmitente; os segundos, os derivados, pressupõem a existência de
Com o constituto possessório, opera-se a transferência da,coisa, que é
posse anterior, portanto, transferida ao adquirente.
uma forma de tradição ficta, e, neste caso, é um ato bilateral. E o desm~m­
A aquisição da posse pelo constituto possessório - que é um modo
bramento da posse que era plena, direta e indireta, em razão do I")egoclo
derivado - é a transformação de posse em nome próprio para posse em
jurídico firmado com terceiro.
nome alheio. É o caso do proprietário que aliena o seu imóvel, e fica como
comodatário ou locatário, inserido no contrato uma cláusula translativa, No que concerne à perda dos direitos, concentram-se as_ causas n~
chamada de cláusula constitutí. impossibilidade do exercício da posse, que, por qualquer razao, determi-
nante de fato ou de direito, deu-se pela inércia de seu titular, ou pela
prescrição.
Se a coisa foi furtada, e aqui se entenda também como roubo, coisa
móvel ou título ao portador, pode seu titular reivindicá-lo de quem o detenha

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injustamente. Ressalvado fica o direito de no 521 do
Código Civil.
Tratando-se de objeto comprado em leilão, feira ou mercado, o dono que 01- José Carlos Moreira, 2ª ed, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1985,
pretende a restituição da coisa, deve pagar ao possuidor o preço qual 02- Celso Agrícola, Comentários ao Código de Processo CivilVol. I Tomo
este a comprou. É a ação de restituição, ou reivindicatória da coisa. II 1ª ed, Rio de Janeiro, Ed. Forense, 1975,
É bom lembrar que, a posse se transfere com os mesmos caracteres 03- Clóvis, Direito das Coisas, Rio de Janeiro, Ed. Rio, 1976,
que antes possuía: se ela era plena, desmembrada ou ainda injusta, 04- BiTAR, Carlos Alberto, Os Direitos Reais, 1ª ed, Rio de Janeiro, Ed, Forense
continua com os mesmos vícios que a originou. Universitária, 1991
05- Maria Helena, Curso de Direito Civil Brasileiro, 4 Vol. - Direito das Coisas,
Ed, Saraiva, 1991,
06- Adroaldo Furtado. Comentários ao Código de Processo Civil. VaI.
VIII, Tomo 111. Rio de Janeiro, 1ª ed" Ed, Forense, 1980,
07- Orlando, Direitos Reais, Rio de Janeiro, Ed, Forense, 1976.
08- Laerson. 1000 Perguntas de Direitos das Coisas, 2ª ed. Rio de Janeiro,
Ed, Record Universidade Estácio de Sá, 1990,
09- Pontes, Comentários ao Código de Processo Civil, Tomo XXIII 1ª
ed. Rio de Janeiro, Ed, Forense, 1977,
10- Washington de Barros, Curso de Direito Civil, 12ª, ed, Direito das
Coisas, Ed. Saraiva, 1973
11- Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, Volume 4 - Direito,
Rio de Janeiro, Ed, Forense, 1991,
12- Silvio, Direito das Coisas Curso de Direito CivilVol. V São Paulo,
Ed. Saraiva, 1976.

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