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A relação História e ciência, numa concepção

iluminista 
O século XVIII é marcado por uma sociedade em transformação, pela desestruturação
final do feudalismo e o avanço da ordem burguesa.Tal transformação renascentista, dá
origem ao Iluminismo, corrente filosófica pautada na razão, a qual aproxima História e
ciência, sendo estas as bases para o entendimento do mundo. 
A tentativa do homem em compreender a origem da vida, a si mesmo, aos fatores
naturais e sociais é tão velha quanto ele próprio e cada grupo tem uma maneira particular
de procurar desvendar estes mistérios.Antes da ciência, existiam as lendas,fábulas e
mitos.Não tendo ainda explicações racionais que pudessem ser demonstrados
cientificamente, os homens criaram histórias que o ajudassem a compreender a si
mesmos e a própria natureza. 
Com a desconfiguração do mito, nasce a História inicialmente conceituada como
narração, isto é, o historiador seria um memorialista escrevendo uma história do
presente.Mas tarde, a História continua sendo considerada narrativa, porém ganha uma
finalidade didática de ensinar e criar modelos de comportamento para os homens. 
A partir do século XVIII, havia uma História interessada em explicar acontecimentos
realmente importantes e em relacionar os fatos entre si.A palavra História ganha vários
significados, como estudo de um acontecimento, processo político, estudo cientifico da
evolução das sociedades humanas, por fim a História é definida como base da
experiência humana, um constante processo de construção, desconstrução e
reconstrução. 
O iluminismo traz em si a noção de natureza e do universo como coisas mutáveis, a idéia
de progresso.Procura mostrar a História como sendo o desenvolvimento linear,
progressivo e interrupto da razão humana.Para ele, o conhecimento se aproxima mais da
verdade, pois a humanidade irá cada vez mais dominar a natureza, numa evolução
progressiva e constante.
Nessa perspectiva, os pensadores iluministas pregavam a emancipação dos homens em
sociedade a partir do uso consciente da própria razão.Diziam, de si mesmos, que traziam
as luzes contra as trevas da ignorância, dos dogmas religiosos e dos privilégios ao
absolutismo já em decadência, que queriam tornar claras as coisas do mundo as quais
estavam obscuras, sem clareza.
Na historiografia, o filosofo Voltaire (1694-1778) chamava à atenção para a necessidade
de uma História que ultrapasse as crônicas de reis e poderosos, defendia uma história
explicativa e não narrativa. 
Essa nova História, fundamenta-se na cientificidade, pois o historiador ganha novo papel
deixa de ser apenas narrador de acontecimentos e fatos, passa a ser detetive, investiga a
partir dos fatos, aceita ou recusa interpretações já existentes,colhe depoimentos e chega
a conclusão.Nessa busca pela verdade é que podemos perceber o quanto ciência e
História encontram-se inter-relacionadas, nesse processo de construção e transformação
de pensamento.Foi o pensamento histórico entre a emergência do Iluminismo, a base
ideológica para as Revoluções Burguesas( Revolução Industrial e Revolução
Francesa),as quais caracterizou-se por um otimismo generalizado sobre as
potencialidades humanas de atingir a felicidade geral.Para os pensadores da ilustração,
era possível que o progresso e o desenvolvimento coletivo das sociedades fossem
conseguidos com reformas sociais.O pensamento sobre a História acompanhou esse
otimismo.Com melhores métodos e técnicas de pesquisa, acompanhados de uma crença
de que era possível compreender o sentido dos fenômenos sociais ao longo dos tempos,
imaginava-se que seria possível entender a lógica dos acontecimentos humanos. 
A Revolução Francesa, síntese desse esforço coletivo de transformação, longe de ser
uma reforma harmoniosa, ao mesmo tempo em que despertou e popularizou o gosto pela
historia, foi responsável por irrecuperáveis destruições de documentos e obras de arte
relacionada ao Antigo Regime (Silva,2001).
Assim como o Iluminismo, o Materialismo Histórico busca para a História, a tentativa de
estabelecer bases cientificas para o estudo dos fatos e descobrir leis que os
expliquem,sempre acompanhados por farta documentação, dando seqüência e
complementando o pensamento dos iluministas.
O materialismo histórico sistematiza uma concepção de história articulada a prática
revolucionária, para mudar o presente.Assim, a idéia de que a evolução histórica
acontece através do conflito, da luta entre as classes sociais, entre ricos e pobres, os que
dominam e os que são dominados, teve grande influência nesse período de
desenvolvimento da História.
Hegel da mesma forma como os iluministas, ousava continuar pensando na história sobre
um ponto de vista universal.Para ele, por mais que estejamos informados sobre os fatos
do presente, dele não temos senão uma pálida percepção instantânea e localizada,e não
uma reflexão consistente.Essa compreensão efetiva do presente só pode ocorrer por
meio do conhecimento do sentido do desenvolvimento histórico universal.Portanto, mais
do que o resultado final do desenvolvimento histórico, interessa o processo que leva ate
ele, que mudanças ocorrem, onde, por que e como ocorrem, como se articulam o que
muda e o que permanece e que leis regem tais mudanças (LEOPOLDO E SILVA,1987) . 
Em Hegel, encontramos um vigoroso e complicado sistema metafísico no qual, a
realidade, para ele, é, ao mesmo inteligível , do ponto de vista racional das idéias e um
processo evolutivo e dinâmico.Sendo "a história desenvolvida em fases determinadas"(...)
"estando cada fase intimamente relacionada com a precedente "(p.73).
Os idealistas alicerçaram suas interpretações da história dos homens a partir de leis
universais, a saber, no âmbito "Espírito," impondo exemplos únicos e suficientes para
explicar o funcionamento de todas as sociedades e de sua evolução no tempo.Os
fenômenos investigados por idealistas partem do pressuposto de que a História
"pertencem ao domínio do espírito," sendo que, o termo Mundo inclui tanto a Natureza
física, quanto a natureza psíquica."Natureza e Espírito" desempenham papéis
fundamentais na História tendo o "Espírito" função preponderante. 
Vale lembrar que tanto Immanuel Kant quanto Georg W.F.Hegel, partilhavam de um
conceitual ilustrado, iluminista na essência, cujo referencial teórico baseava-se nos
postulados racionalistas do século XVII e XVIII. 
Décadas depois de Hegel, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engles (1820-1895)
burlaram estabelecer não uma filosofia de história, mas, sobretudo, uma proposta de ação
política articulada a uma concepção global da história da humanidade.
Em resumo, é a partir dos iluministas que surge a preocupação com uma História
explicativa que se fundamenta na investigação dos fatos,comprovação das
hipóteses,sendo estas etapas do processo cientifico, as quais interligam ciência e História
ou faz da História uma ciência em constante construção.Preocupação esta comum aos
pensadores marxistas.

REFERÊNCIAS:

ANASTACIA, Carla; RIBEIRO,Vanise.Brasil encontros com a História.Volume I ?São


Paulo:Editora Brasil,1996.

FERRAZ, Francisco César . Historiografia.In.UNIVERSIDADE NORTE DO PARANA .


Licenciatura em História.Módulo 2. Londrina, UNOPAR, 2007.
RIBEIRO, Vanise. O caminho percorrido pela História. Estudos Sociais, São Paulo, 1992. 

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