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I Ht SENTIDO DA COLONIZACAO SENTIDO DA COLONIZACAO ‘ovo vovo tem na sua evolugio, vista A distancia, um e¢rto “sen tido”, Esto se pereebo nio nos pormenores de sua histéria, mas n0 conjunto ‘dos fatos © acontecimentos essenciais que a constitucm num largo period de tempo.» Quem observa aquéle conjunto, desbastando-o do cipoal de incidentes secundirios que o acom- sempre e 0 fazem muitas vézes confuso © incompre- easivel, nfo deiaré do poreeber que éle se forma de wna linha restr’ ¢ inintermpta de acontecimentos que se sucedem em ‘ordem rigorosa, ¢ dirigida sempre numa determinada orientacao, E isto que se deve, antes de mais nada; ‘procurar quando se aborda a andlise da histéria de um povo, seja alias qual for o momento ou o aspecto dela que interessa, porque todos os mo- ‘mentos © aspects iio so senfo partes, por si s6 incompletas, de um todo que deve ser sempre o objetivo viltimo do historiador, por mais particularista que soja. Tal indagagio 6 tanto mais impor- tante © essencial que é por ela que se define, tanto no tempo como no espago, a individualidade da parcela de humnanidade que interes- sa a0 pesquisador: povo, pals, nagio, sodiedade, seja qual fdr a Aesignagie sproprata no caso, B sdmento af quo dle encontrar, aquela unidade que Ihe permite destacar uma tal parcela humana para estudila & parte, © sentido da evolugao de um povo pode variar; acontectmen- tos gattanhos a éle, transformagées internas profundas do seu equi- ie ‘ou extrutura, ou mesmo ambas estas eircunstincias conjunta- jente, podertio intervir, desviando-o para outras vias até entio ;gnoradas." Portugal nos traz disto um exemplo frisante que para pos 6 quase doméstico. Até fins do sée. XIV, e desde a consti- tnigdo da monarquia, a histéria portuguésa se define pela formacao de uma nova nagio européia ¢ articula-se na evolugio geral da civilizagio do Ocidente de que faz parte, no plano da Iuta que teve de sustentar, para se constituir, contra a invasdo drabe que ameagou num cert) momento todo 6 continente e sua civilizagéo. No alvorecer do séc. XV, @ histéria portugaésa muda de rumo. Intogrado nas fronteiras geogréficas ‘naturals que seriam definitiva- mente as” suas, constituide territorialmente 0 Reino, Portugal se ‘vai transformar num pais maritimo; desliga-se, por assim dizer, do 2 4 CAO PRADO JONIOR continente e volta-se pa 0 Oceano que se abria para o outro Indo; mio tardard, com suas emprésas e conquistas no ullramar, cm se tomar uma grande poténcia colonial Visto deste angoto geral ¢ amp, a evolugio do win povo so ona explicavel. Os pormenores ¢ incidentes mais ou menos com Mazes uublar 0 que verdadeiramente forma a linha mestra que a define, passam_ para o segundo plano; © s6 entio nos é dado al- cangar 6 sentido daquela evolugio, compreendé-la, explicéla. £ {sto que precisamos comeger por fazer com relagio ao Brasil, Nao nos interessa aqui, 6 certo, o conjunto de histéria brasileira, pois partimos de um momento preciso, jf muito adiantado dela, © qne é 6 final do perfodo de oolénia. Mas éste momento, embora o possi mos circunserever com relativa preciséo, nao & seno um elo da mesma cadefa que nos traz desde’ 0 nosso mais remoto passado. Nao sofremos nenhuma discontinufdade no correr da histéria de coldaia. Ese eseolhi um momento dela, apenas a sua ilkima pagina, foi tlo-sdmente porque, jd me expliquei na Introdugio, Aquéle momento se apresenta como um témo final ¢ a resultante do téda nossa evolugio anterior. A sua sintese. Néo so compre- cende por isso se desprezarmos inteiramente aquela evolucao, 0 que fola bouve de fundamental permanente, Numa palavm, 0 Seu sentido. 4. Isto. nos leva, infelizmente, para um pasado relativamente Tonginquo e que nfo interessa diretamente o nosso assunto. Nio podemos contudo dispensé-lo e precisamos recuxstituir © conjunto Ga nossa formagio colocando-a no amplo quadro, com seus ante- cedentes, déstes trés séoulos de atividade colonizadura que carne- terizam a historia dos paises europeus a partir do séc.XV; ativi- dade que integrou um novo continente na sua érbita; paralamente alls a0 que se realizava, embora em moldes diversas, em cutros continentes: a Africae @ Asia, Processo que acabaria por inte rar 0 Universo todo em uma nova ordem, que é a do mundo moderno, em que a Europa, ou antes, a sua eivilizacao, se esten- deria dominadora por t8da parte. ‘Todos éstes acontecimentos sio correlatos, © 2 ocupagio e povoamento do territério que consti- tuiria o Brasil nio 6 senio um episédio, um pequeno detalhe daquele quadro imenso. : Realmente a colonizagio portuguésa na América néo é um fato isolado, a aventura sem precedente © sem seguimento de uma determinada nagio emproendedora; ou mesmo uma ordem de acontecimentos, paralela a outras semelhantes, mas independente delas. £ apenas a parte de um todo, incompleto sem a visio désto todo,“ Incompleto que se disfarca muitas vézes sob nogées racial sastennen FORMAGAO DO BRASIL CONTEMPORANEO 1B que damos como claras e que dis cexplicagies; mas que nio resultam na verdade senéo de hébitos viciados de pensamento. Estamos tao acostumados em nos ocupar com 0 fato da eolonizagio brasileira, que a inieiativa dela, os motivos que a inspiraram e de- terminaram, os ramos que tomou em virtude daqueles impulsos iniciais, se ‘perdem de vista. Ela parece como um acontecimento fatal © necessirio, derivado natural e espontineamente do simples fato do descobrimento, Fos ramos que tomou também se afiguram como resultados exclusives daquele Hato, Esquecemos ai os ante- cedentes que se acumulam atrés de tais ocoréneias, e 0 grande némero de circunstincias particulares que ditaram as normas a seguir. A consideragio de tudo isto, no caso vertente, é tanto mais necessdria que 0s efoitos de tédas aquelas circunstincias ini- ciais © remotes, do caréter que Portugal, impelido por elas, dari & sua obra colonizadora, se gravario profinda ¢ indelévelmente na formagio ¢ evolugdo do pais. A espansio maritima dos paises da Europa, depois do sée. XV, expanséio de que 0 descobrimento © colonizacio da América cons- tituem 0 capftulo que particularmente nos interessa aqui, se origina de simples emprésas comerciais levadas a efeito pelos navegadores daqueles paises. Deriva do desenvolvimento do. eoméreio conti- nental europeu, quo até.o se. XIV & quase Unicamente terrestre, limitado, por via maritima, a uma mesquinha navegacio costeira ¢ de cabotagem, Como se sabe, a grande rota contercial do mundo europeu que sai do esfacelamento do Impérlo do Ocidente é a ‘ve liga por texra o Mediterraneo ao mar do Norte, dosde as rep icas italianas, através dos Alpes, os canties suigos, os grandes empérios do Reno, até o estuério do rio onde estéo as cidades fla- mengas. No séc. XIV, merc8 de uma verdadeira revolugao na arte de navegar e nos meios de transporte por mar, outra rota igard aquéles dois pélos do coméreio europeu: seré’a maritima que contoma 0 continente pelo estreito de Gibraltar. Rota que, subsidiéria a principio, substituir afinal a primitiva no grande Tugar que ela ocupava. O primeiro reflexo desta transformagio, @ principio imperceptivel, mas que se revelars profunda e revolucio- nari todo © equilibrio curopeu, foi deslocar a primazia comercial dos territérios centrais do continente, por onde passava a. anti rota, para aquéles que formam a sui fachade oceanica: a Holand, 2 Inglterm, a Nofiniadi a Drotanba e Peninsula Tbesten Este novo equilibrio finma-se desde 0 principio do séc. XV. Déle derivard no 36, todo um novo sistema de relagdes intemas do continents, como nas suas consoqiiéncias mais afastadas, a ex Penslo européia ultramarina. 0 primeico passo estava dado © a juropa deixard de viver recolhida sObre sii mesma para enfrentar 16 CATO PRADO JONTOR ‘0 Oceano, © papel de pioneiro nesta nova etapa caberi aos por- tuguéses, os melhores situados, geogrificamente, no extremo desta peninsula qne avanga pelo mar. Enquanto holandeses, ingléses, Rormandos e bretoes se ocupam na via comercial recém-aberta, © {que bordeja e envolve pelo mar 0 ocidente exropen, os portuguéses Tio mais Tonge, procurando emprésas em que nfo enoontrassem Concorrentes mais antigos ¢ j@ instalados, e para que contavam com Vantagens geogrificas aprecidveis: buscarad a costa ocidental da ‘Africa, trafieando af com os mouros que dominavam as populacdes indigenas. Nesta avangada pelo Oceano descobriréo as Uhas (Cabo Verile, Madeira, Agores), e continuario perlongando 0 continente negro para o sti. Tudo isto se passa ainda na primefra metade do se, XV. LA por meados déle, comega a se desenhar um plano mais amplo: alingit 0 Oriente contornando a Aftica. Seria abrir para sou proveito uma zota que os poria em contacto direto com Zs opulentas Indias das preciosas especiarins, eujo comércio Eazia a riqueza das repiblicas. italianas e dos mouros por cujas mios transitavam até 0 Mediterrdneo. Nio 6 preciso repetir aqui o que foi © périplo africano, realizado alinal depois de tonazes © siste- mniticos esforgos de mnefo sécul, ue ‘Atis dos portuguéses langam-se os espanhéis, | Escolherio outta sata, pelolocidente ao inves do oriente, Descobsivio a Amé- rica, seguidos aliés de perto pelos portuguéses que também topario com 0 novo continente. Viti, depois dos paises peninsulares, os francoses, ingléses, holandeses, alé dinamarqueses ¢ succos. A grande navegnezo ooedniea estava aberts, e todos procuravam tirar partido dela. $6 ficario atris aquéles que dominavam no antigo Bstema comercial terrestre ow mediterrdneo e cujas rotas iam pas- sando para o segundo plano: mal situados, geogrificamente, com olagio as movas rotas, © presos a umn passado que ainda pesava sobre éles, serdo os retardatirios da mova ordem. A Alemanba ¢ a Italia passarao para um plano secundério ao par dos novos astros uc se levantavamn no horizonte: os paises ibéricos, a Inglaterra, @ range, » Holanda ‘Em suma e no essencial, todos os grandes acontecimentos desta cera. que se convencionou com 1azio chamar dos “desoobrimentos”, ‘iticulam-se mum conjunto que mio é senfo um capitulo da histéria do coméreio europen. ‘Tudo que se passa sio incidentes da imensa emprésa comercial aque se dedicam os pafses da Europa partir Golssc. XV. e que Ihes alargard o horizonte pelo Oceano afora No tém outro eiréter i exploragio da cotta africana’ e 0. deseo- brimento ¢ colonizacso das has pelos portuguéses, 0 roteiro das Indias, o descobrimento da Améxge, a exploagto © ocupaeio, de seus varios setores, FE. éste sitio o capitulo que mais nos interessa FORMAGAO DO BRASIL CONTEMPORANEO vw aqui; mas ndo seré, em sua esséncia, diferente dos outros. E sempre ‘como traficantes que os varios povos, da Europa abordario cada ‘uma daquelas emprésas que lhes proporcionarao sua iniciativa, seus esforgos, 0 acaso € as circunstineias do momento em que se acha- vam." Os portuguéses traficario na costa africana com marfim, ouro, escravos; na India ito buscar especiarias. Para concorter com éles, os espanhéis, seguidos de perto pelos inglésps, franceses e demais, procurario outro caminho para o Oriente; a Amécica, com que toparam nesta pesquisa, no fot para éles, a principio, senio um obstéculo oposto & realizacdo de seus planos e que devia ser contornado. Todos os esforgos se orientam entZo no sentido de encontrar uma passagem, cuja existéncia se admitiu a priori, “Os espanhéis, situados nas Antilhas desde © descobrimento de Co- lombo, exploram a parte contral do continente: descobririo o Mé- xico; Balboa avistard 0 Pacifico; mas a pastagem nao sera encontrada Procura-se entio mais para o sul: as viagens de Sélis, de que resul- tard o descobrimento do Rio da Prata, ndo tiveram outro objetivo. Miagilfiges ser4 seu contimuador © encontrar 0 ostreito que con- servou 0 seu nome € que constitufu afinal a famosa passagem Brosumnda; mas ela se revel pouco prticivel « se desprerar quanto isto se passava no sul, as pesquisas se ativam para o norte; a iniciativa cabe ai aos ingléses, embora tomassem para isto © servigo de estrangeiros, pois indo contavam ainda com pilotos nacionais hastante priticos para emprésas de tamanho vulto, As pprimeiras pesquisas Serio omproondidas pelos italianos Joao Cabéto fe sen filho Sebastigo. Os portuguéses também figurari nestas exploragbes do Extremo-Norte ameticano com os inmios Cérte Real, que descobrirdo 0 Labrador. Os franceses encarregario o floren- fino Verazzano de iguais objetivos. Outros mais se sucedem, & embora tudo isto sérvisse para explorar e tomar conhecido 0 novo mundo, firmando a sua posse polos virios paises da Europa, mio se encontrava a almejada passagem que hoje sabemos no existit (), Ainda em prinetpios do sée. XVI, a Virginia Company of London inclufa entre seus principais objetivos o descobrimento da brecha ‘para o Pacifico que se esperava encontrar no continente, Tudo isto lanea muita luz sObre 0 espitito com que os povos a Europa Gbordam a América. A idéia de povoar nfo ocorre inicialmente a nenhum, fo comércio que os interessa, e dai o relativo desprézo por éste territério primitivo e vazio que é a Amé- (i) Também se tentow, a pane de meados do sée. XVI, a pase sagem porao Orient ples iol drtis’ dy Europa Asa. "A Inkiva abo 0 steso Scbatao. Cabéto, gue fe cocontrumos ba Armies, ¢- ls fama vee a savigo dw ingles (108). 18 CAIO PRADO JONIOR y io faltava objeto . sien; @ inversamente, 0 prestigio do Oriente, onde mio faltava obj ‘para atividades Snereatis, A idéin de ocupa, io como se fizens venti em terras estranhas, apenas como agentes comerciais, fun- Sine dostinadas 2 mereadejar com os natives e servir de articulagio bntre ag rotas poaritimas ¢ os temitérios eeupados; mas oeuper. com toamento efetivo, isto so surgin como contingéncia, necessidade Imnposta por eicunstinlas novas ¢ imprevistas Als neu ee da Buropa estava em condigies naquele momento de supor- Bere nd sue popsgso, que no sae XVI anda not fle wae MAS todo das tremendas devastagées da peste que assolou 0 wee eh gece’ Sole Leen oe Gisos, ae melhores probabilidades indieam que, em 1500 a popu Tagao da Europa ocidental nfo ullrapessava « do wilénio anterion EE ondigées, “colonizagio” ainda era entendida como aqui- lo ae dastes se pratieava; falavse em colonizagio, mas © que to que dative ado é mais que o estabelecimento de feitorias comereiais, como os italianos vinham de longa data praticando ‘no Moniterrines, a Lige Honseatica no Baltico, mais recentemente os ingléses, holindeses outros no Extremo-Norte da Europa ¢ no Levante; como portugueses fizeram na Africa ¢ na india, Na Amé- rica a situagio se apresenta de forma ntelimente divers i enritério primitivo habitado por rala populagio indigena incapaz ferent aint a fn mnereantis que se timham em vista, a ocupacio niéo se podia fazer como nas simples feitorias, com um reduzido pessoal’ ineumbido Gpenas do negocio, sua administragio e defesa atmada; era preciso ‘topliar estas, bases, criar um povoamento capaz i abate © witorias que se fundassem ¢ organizar a produgio mmante ue imeressesem 0 seu com. A kin de povoar surge dai, © 96 dai : : . mii ainda, Portugal foi um pioneiro, Seus primeiros passos, cate Baran Sao nue ithas. do Atlantica, postos avangados, pela dentidade de condigdes para os fins visados, do ee Jano: e isto ainda no sée, XV. Era preciso povosr ¢ organizar s so: Portugal realizo éstes objtivas brentements, Em, to: Bie of problemas que se propdem desde que uma nova ordem Gojséer XV, 0s portuguéses sempre aparecem como pioneirs, bolam tddas as solugbes até seus menores se hes, Espaohtis, Gepais ingléses, franceses © os domes, no, fizoram outta, coi, coapte muito leno, Ss planaudo or Incadors e etrebatando- 0 bem, que acabaram suplantsndo os inici “sxrebatandon {po bem. parte, se nfo priticamonto tbdas as reallzagdes © om présas ullramarinas. { FORMAGAO DO BRASH, CONTEMPORANEO. 19 Os problemas do novo sistema de colonizagio, envolvendo a ceupacio de territérios quase desertos © primitivos, terio feigio variada, dependendo em cada caso das circunstincias particulares ‘com que se apresentam, A primeira delas ser a natareza dos géneros aproveitiveis que cada um daqueles tervitérios proporci niard. A principio naturalmente, ninguém cogitari de outra coisa que proditos espontineos, extrativos, E ainda quase o antigo sistema das feitorias puramente comerciais. Serio as madeiras, de eonstrugo ou tinturiais (como 0 pau-brasil entre nés,) na maior parte déles; também as peles de animais ¢ a pesca no Extremo- ‘Norte, como na Nova Inglaterra; a pesca serk paticularmente ativa nos bancos da Terra Nova, onde desde 0s primeiros anos do séc. XVI, possivelmente até antes, se retinem ingléses, normandos, vas- conhos. -Os-sxpanhis serfo_os_mals felizes: topardo. desde. logo, as éreas que beram, cm a metals precones, a pate 6 9 Gito do México ¢ Peru. Mas os metais, incentivo © base sufic Gente qualquer emprésa’colonizadora, ‘niéo ocu- pam na formac3o da América sendo um lugar relativamente queno. Impulsionaréo 0 estabelecimento © ccupagio das coldnias espanholes citadas; mais tarde, ja no séc, XVIII, intensificario a colonizagéo portuguésa na América do Sul @ a levario para o centro do continente, Mas é s6. Os metais, que a imaginacio escaldante dos primciros exploradores pensava’ encontrar em qual- quer territério novo, esperanga reforgada pelas prematuras des- cobertas castelhanas, nfo se revelaram to disseminados como se esperava. Na mafor extensio da América ficou-se a principio ex- clusivamento nas madeiris, nas peles, na pesca; e a ocupagio de territérios, seus progressos e flutaagées, subordinam-se por muito tempo ao maior ou menor sucesso daquelas atividades. © Viria de- pois, em substituigdo, uma base econdmica mais estavel, mais am- pla: serla a agricultura Nao é meu intuito entrar aqui nos pormenores © vicissitudes da colonizagéo européia na América. Mas podemos, e isto muito {nteressa nosso assunto, distinguir duas éreas diversas, além daquela fem que se verificou a ocorréncia de metais preciosos, em que a coloniza¢do toma rumos inteiramente diversos. Sio elas as que eorrespondem respectivamento as zonas temperada, de um lado; tropical ¢ subtropical, do outro. A primeira, que compreende gros- seitumente 0 territério americano @o norte da baia de Delaware (a outza extremidade temperada do continente, hoje paises platinds, © Chile, esperaré muito tempo para tomar forma e significar alguma coisa), nfo ofereceu realmente nada do muito interessante, © per anodes ainda po 7 muito tempo adstrita & exploracio de produtos _ espontineos: madeiras, peles, pesca, Na Nova Inglaterra, nos pri- 10 PRADO JONIOR 20 neitos anos da colonizacio, viam-se até com maus olbos quaisquer moles anos (i goicultars que deoyievam das feitoris, de peles © pesca as atividades dos pouicos colonos presentes (2). Se se ovaon Bia area temperada, o que aids s6 ocorzeu depois do séc. XVI foi por eiteunstineits muito especifs. fa situagio, interna ‘da Hurdpa, em pacticular da Inglatera, as sas Tutas politice-religio- sus, que desviam para a Amética as atencées de populigdes que nip se sentem & yontade e vio procurar all abrigo e par, pars, sues conviogées, Isto durard muito tempo; pode-se mesmo assim! ar o. a Meatio no fondo, « um proceso que se prolongerd, embor com intensidade variavel, até os tempos Lenina e ee io. Virko para a América panitanos ¢ quakers da_ Inglaterra itigvenotes a Eranga mas tirde movies, schwenkfelders s- pirtcionalistas © menonitas da Alemanha meridional e Suga. Du: Fonte mais de dois séculos despejarse-4 na América todo residue das lutas polticoreligiosss da Kuropa, E certo que se espalhani por tédas as colénias; até no Brasil, tao afastado © por a mais ignorado, procurario refugiar-se ‘huguenotes franceses { a fg Antirtie, no’ Rio de Janeiro.) Mas se concentrard quase inteita: mente nas da zona ine condigdes: ena amas _— . a Europa, ¢ por isso preferida para quem nio buscava “fazer (Europe, ¢ er Soo Pett Pe oi ice Yarriam & Buropa, o reconstrair um lar desfeito ou amoagado. 4 um fator econdmico que também concorre na Europa para ate ore de emigragio, ‘fia. transformagao econdmica solide pela Inglaterra no correr do séo. XVI, e que modifica profanda- Frente © equilibria interno do pais ¢ a distbuictéo de sua populs: Go. Esta 6 deslocada em massa dos campos, que de eultivados se fransformam em pastagens para cameltos euja Ja isla abastecer 5 hasconte industria tOxtil inglésa. Constitui-se ai uma fonte de Correntes migrtorias que abandon 0 campo © vio encontrat ha América, que comega a ser conhecida, um largo centro de afluén- win "Também éstes elementos escolherio de ‘preferéncia, ¢ por tnotivos similares, a3 col6nias temperadas. Os que so ditigirse mais para o stl, para colénias incluidas na zona subtropcal, da ‘América do Norte, porque nem sempre Thes foi dado escolher sau destino com conhecimento de causa, 0 fardo apenas, no mais Gas_vézes, provisdriamente: o maior numero déles refluir mais farde, © na'medida do possivel, para as colénfas temperadas., F S40 assim circunstincias especiais, que nao tém relagéo direta vnmbigdes de traficantes 9a aventureiros, que promoverdo a com ambi ol povornento larga esala Ga 2088 tem- “\ ey Mimeus Lee Hansen, The AMdntio Migration 1607-1680, 18, | | FORMAGAO DO BRASIL CONTEMPORANEO 21 porada da América, Circunstineias aliés que surgem posterior- mente ao descobrimento do Novo Continente, © que no se filiam & ordem geral € primitiva de acontecimentos que impelem os povos da Eurépa para o ultramar. Dai derivaré um novo tipo de colo- nizagio — serd o finico ean que os portuguéses nao serio os plow neirds — que tomara um cariter inteiramente apartado dos obje- tivos comerciais até eniio dominantes neste ginero de emprésas. que os colonos desta categoria tém em vista 6 construir um novo mundo, uma sociedade que Ihes oferega garantias que no con- tinente de origem jé nao Ihes sio mais dacas. Seja por motivos religiosos ow.meramente econdnicos (estes impulsos alfés se entro- lagam e sobrepdem), a sua subsisténeia so tornara If impossivel ou muito dificil, “Procuram entio uma terta ao abrigo das agitagées © transformagdes da Europe, de que slo vitimas, para Tefazerem nela sua existéncia ameacada. O quo resultaré déste povoamento, realizado com tal espirito © num meio fisico muito aproximado do da Europa, ser naturalmente uma sociedade, que embora com caracteres proprios, teri semelhanga pronunciada & do continente de onde se otigina, Seré pouco mais que simples prolongamen- to da Mito divena 6» Mtn da ben tropical e subtropical da América. Aqui a ocupagio e 0 povoamento tomario outro rumo. Em primeiro lugar, as condigées naturais, tio diferentes do habitat de origem dos povos colonizadores, repelem o colono que vem como simples povoador, da categoria daquele que procura a zona tem- “perada. Muito se tem exagerado @ inadaptabilidade do branco. aos {répicos, mela verdado apenas que: os fatog thm demonstrado,@ femonstrado falha em um scm-nimero de casos. O que ha nela de acertado é uma falta de predisposigio, em ragas formadas em climas mais frios ¢ por isso: afeigoadas a éles, em suportarem os tr6picos © se comportarem similarmente néles. “Mas falte de pre- isposicgo apenas, e que nfo é absoluta, corrigindo-se, pelo menos fem geragées subseqtientes, por um novo processo de adaptacio, Contudo, se aquela afirmago posta em téxmos absolutos, é falsa, ngo' deixa de ser verdadeira no’ caso vertente, isto é, nas circuns- ‘iincias em que os primeiros povoadores vieram encontrar a Amé- rica, So trépicos brutos e indevassados que se apresentam, uma natureza hostil e amesquinhadora do homem, semeada de obs- tdoulos imprevisiveis sem conta para que 0 colono europeu mio estava preparado ¢ contra que nao contava com nenhuma defesa. Alids @ dificuldade do estabelecimento de europeus civilizados nes- tas terras americanas entregues ainda ao livro jégo da natureza, 6 comum também i zona temporada, ,Respondendo a teoras apres sadas_e auito em voga (sio as eohtidas no livro famoso de Turmer, ‘The frontier in American History), um recente escritor norte-ame- 2 CATO PRADO JENEOR ricano analis tte fato, com grande atengio, ¢ mostia que colo- ahaa fglsa ma AME pcan, de seleso de lo Ref nk po de plone, © cancerstco yanker, que dotxlo stile c fécniea particulates fol marchando, na ‘vanguarda sel cn pr I ou ao de a indevassada, so aproxima tanto por suas condigbes naturais don europe, que nao seria dos topicos? : L ara estabcleeer-se ai, © colono caropeu tinhn de encontrar ste eels nafs Fostes que os oe © impelern para a Sonus temperadas, De fato assim acontecen, embora ein ctcuns- inctas especias que por 40 também, pasticalariario o tipo de etlono branco. dos tropicos, A diversidade de condigdes naturais, tm comparagio com a Europa, que acabamos de ver como, um acomplia an ot fatinalo, -¥ que lls conigis poprconaio as ps sda Bae ‘n possibilidade da obtengio de géncros que ra pliner anterior ao sée. XVI, isolada i tr6picos, a be ol) gina mente acessiveis, e smaginemo-la, como de fato esteva, pe ee sitcintmente de-produtos que se hoje, pela sua bnaidade, slarecem secundérios, eram entao prezados como requintes de fux0. Fome-se o cuso do agicar, que embora se cultivasse em poquen scala. Sein, ora astigo de and rend © mules sm nos enxovais de raiahas éle chegou a figurar ad fos altameate presaco. A pipenta, importads do Oriente, cons tela durante séctlos 0 principal amo do coméreio das rep moreadoras Halanas, © geande era rota das Indias nie ex Jhuito tempo para outra eoise mais quo abastecer dela a Europa. 6 tas, iy Ames © po i god ants es: brimento, nao terla, depois de coubecido,” menor i B vee sort date tambien, mais tarde, 0 e250 Ao ani, do eros, ds Algadio ede tants cuties gener topeas? "Tato nos da a medida do que representariam os trépicos como stra para a fat Burope, sada tao Tonge Giles, America Ihe poria & aisposict, um tratos imensos,terrvios que 36 espera van init e o Orgy do bomen. ta que extn @ i Spicos americanos. Mas trazendo éste agudo eupn. ds Tspen ses ar com ele dapsigo te porlhe Tservigo, neste meio tio diffell e estranko, a energia do seu tr ‘Mare jgrant in American History — ver {) Nascos Lee Hanson, The Immigrant jase eapitla, Tnmigation ond Expansion | FORMAGAO DO BRASIL CONTEMPORANEO BB halho fisico, Viria como dirigente da produgio de géneros de grande valor comercial, como empresirio de win negdcio rendoso; f a @ contragésto como trabalhador. Outros trabalhariam pa- ra dle. + Nesta base se realizaria uma primeira selegdo entre os colonos que se dirigem respectivamente para um e outro setor do novo mundo: 0 temperado e os trdpicds. Pata astes, 0 curopen sb se dirige, de live e espontinea vontade, quando pode ser um ditt gente, quando dispée de cabedais © aptidées para isto; quando conta com outra gente que trabalhe para éle, Mais uma circuns- tineia vem reforgar esta tendéncia e discriminacéoi £ o cariter que tomaré a exploracdo agriria nos tropicos. Esta se realizara em larga escala, isto 6, em grandes unidades produtoras ~ fazeny das, eng lantagoes (as plantations das colénias inglésas) —| que rednem cada qual um nimero relativamente avultado de tra. balhadores, Em ontras palavras, para cada ropretirio (azen. deiro, sonhor ou plantador), haveria muitos trabalhadores subordi- nados e sem propriedadex, Voltarei em outro capitulo, com mais vagar, sobre as causas que determinaram éste tipo de organizagao da produgio teopial, A grande maioria dos colonos estava assim. 08 trépicos condenada a uma posigao dependente ¢ de baixo nivel; a0 trabalho em proveito de outros tinicamente para a subsis- téneia propria de cada dia. Néo era para isto, evidentemente, que so emigrava da Europe para a América, Assim mesmo, até que se adotasse universalmente nos tropicos americanos a mio-de-obra escrava de outras ragas, indigenas do continente ou negros africa- nos importados, muitos colonos europeus tiveram de se sujeitan, embora a contragésto, aquela condigio, Avidos de partir para a América, ignorando muitas vézes seu destino certo, ou decididos a tum sicrifieio temporirio, muitos partiram para’ se eagajar “nas plantagdes tropicais como simples trabalhadores, Isto ocorreu ticulanmente, em grande escala, nas colbnias inglésas: Vi Maryland, Carolina. Em troca’ do transporte, que néo podiam yl porte, Pagar, vendiam sous servigos por um certo lapso de tempo. ‘Outros wtizam como. deportados, também menores! abandonados om exe lidos pelos pais ou tutores eram levados naquclas condigées para @ América a fim de servirem até a maioridade, uma escravidio temporiria que seri substitufda inteframente, em meados do sée. XVI, pola Setinitiva de negios importados, Mas 4 aioe parte daqueles colonos s6 esperava 0 momento oportuno para sair da eondi¢io que Ibe fora imposta; quando néo conseguiamn estabele- ‘eer-se como plantador e proprietério por conta propria —o que & 2 excegio naturalmente —, emigravam logo que possivel pata as colénias temperadas, onde ao menos tinham um género de vida mais efeigoado a seus hébitos e maiores oportunidades do pro- 24 CAlO PRADO JONIOR gresso, Situagio de instabilidade do trabalho nas plantagses do Sul que durari até a adogio definitiva e geral do escravo africano. © colono europen fiears ontio af ma nica posigéo que lhe com- petia: de dirigente e grande proprictério rural. Nas demais colénias tropicais, inclusive 0 Brasil, néo so chegou nem a ensaiar o trabalhador braneo. Tsto porque nem na Espanha, nem em Portugal, a que pertencia a maforia delas, havia, como na Tinglaterra bragos disponivels, e dispostos a emigrar @ qualquer prego. Em Portugal, a populagio era tio insuficiente que a maior ite do seu territ6rio se achava ainda, em meados do sée. XVI, Froulto e abandonado; faltavam bragos por téda parte, © empre- gava-se em cseala crescente mao-de-obta eserava, primelro dos fnouros, tanto dos que tinham sobrado da antiga dominagio frabe, ‘emo dos aprisionados nas guerras que Portugal levou desde prin- Gipios do see, XV para sous dominios do norte da Africa; como depois, de negros alricanos, que comegam a afluir para o reino desde’ meados daquele século. I por volta de 1550, cérca do 10% da populago de Lisboa era constituida de escravos negros (4), ‘Nada havia portanto que provocasse no reino um éxodo da Sepulagto; e. 6 sabido como as expedigbes do Oriente depaupers- Tain o pais, datando de entéo, ¢ atribuivel em grande parte a esta ‘causa, & precoce decadéacia lusitana. Além disto, portuguéses e espanhbis, particularmente estes slti- mos, encontrarain nas suas colnias, ind{genas que se puderam aproveitar como trabalhadores. Finalmente, os portuguéses tinbam sido os precursores, nisto também, desta feigio particular do mundo modero: a escravidio de negros africanos; ¢ dominavam os terti- Yorios que os forneciam, Adotaram-na por isso em sua colénia quase gue de infcio — possivelmente de inicio: mesmo —, proce dendo os ingléses, sempre imitadores retardatérios, de quase um séoulo (5¥! Como se vé, as colénizs tropicals tomaram um sumo inteira- monte diverso do de suas inmis da zona temperadaN’ Enquanio estas se constituirdo coldnias propriamente de povoamento (0 ome ficou consagrado depois do trabalho clissico de Leray-Beau- Tew, De In colonisation chez les peuples modemes), escoadouro para excestos demogrificos da Europa que reconstituem no novo TG Wiita do cso Pete 2s By ite ig, XL. 7 pe ey ee Me ee ad al ne Te 2 Poa hea Saks IB, he oe eee ja FORMACAO DO BRASIL CONTEMPORANEO 25 mundo uma organizaggo ¢ uma sociedade semelhanga do seu modélo © origem europeus; n0s trépicos, pelo contrério, surgir’ tum tipo de sociedade inteiramente original, Nao sera a simples fei- toria comercial, que jé vimos irrealizivel na América, Mas con- servar no entanto um acontuado carter mercantil; seré a em- présa do colono braneo, que reine & natureza prédiga em recursos Aproveitiveis para a produgio de géneros de grande valor comercial, 9 ‘tabalho reotutado ent ragas inferiotes que dom indigenes fou. negros africanos importados. » H4 um ajustamento entre os tradicionais objetivos mercantis que assinalsm o infcio da expansio ultramarina da Europa, e que so conservados, ¢ as novas condi- Ses em que se realizaré a omprésa, Aquéles objetivos, que ve~ ‘mos passar para o segundo plano nas colbnias temperadas, so man- terdo aqui, € marcario profundamente a feigao das coldnias do nosso tipo, ditando-lhes o destino, No seu conjunto, e vista no plano mun- dial’e internacional, 2 colonizacao dos trépicos toma 0 aspecto de ‘uma vasta emprésa comercial, mais complexa que a antiga feitoria, as sompro com o mesino carater que. cls, destinada a explorer os recursos naturals de um territério virgem em proveito do co- miércio europeu. E ésto 0 verdadeiro sentido da colonizagio tro- pical, de que o Brasil é uma das resultantes; e éle explfcard os ele- mentos fundamentais, tanto no econdmico como no social, da fore magio ¢ evolugio. histéricas dos trdpicos americanos. 4 E certo que a colonizagio da maior parte, pelo menos, déstes teritérios tropicais, inclusive o Brasil, langada e prosseguida em tal base, acabou realizando alguma coise mais que um simples “eontactd fortuito” dos europous com 0 meio, na feliz expressio de Gilberto Freyre, a que 2 destinava 0 objetivo inicial dela; e que em outros lugares semoThantes a eclonizapio européia no conte. glu lliapasiar: assim na generalidade das coldnie tropicas da isu, da Asia o da Oootia; nas Golanas © algunas Antthas, aqui-na América. Entre nés foi-se além no sentido de constituir nos WOpICOS uma “sociedzde com caracterfsticos nacionals e quali- dades de permanéncia” (6), ¢ nfo se ficou apenas nesta simples emprésa de colonos brancos distantes e sobranceiros, ‘Mes um tal caréter mais estivel, permanente, orginico, de uma sociedad propria, o definid, 36 se reveand aos pouoos, do- minado e abafado que é pelo que 6 precede, ¢ que continuaré man- tendo a ia e ditando os tragos essenciais da nossa evolugo colonial. }Se vamos a esséncia da nossa formacdo, veremos que na realidade nos constituimos para fornecer acicar, tabaco, slguns outros ‘géneros; mais tarde ouro ¢ diamantes; depois, algodie, ¢ (6) Gilberto Froyre, Case Grande & Senzala, 16. £ 26 CAIO PRADO JGNIOR fem seguida café, para o comércio enropen, Nada mais que isto E com tal objetivo, objetivo exterior, voltado para fora do pals o sem atengio a consideracées que nio fSssem 0 interdsse daquele comércio, que so organizario & socledide © economis brasileras, Trido se dispork naquele sentido: a estrutura bem como as ative dades do pais. Vird 0 branco europeu para especular, realizar w negécio; inverter seus cabedais ¢ recrataré a méo-de-obra_que precisa; indigenas ow megros importados. Com tais olementos, articulados numa organizagio puramente produtora, industrial, se constituird a colonia brasileira. Este infcio, cnjo cariter se man- tera dominante através dos trés séculos que véo até 0 momento em quo om abordamos a histdria brasileira, se gravart profunda & totalmente nas feigbes © na vida do pais. Haverd resultantes se- cundarias que tendem para algo de mais elevado; mas clas ainda mal se fazer notar. © “sentido” da evolugio brasileira que & © ‘que estamos aqui indagando, ainda se afirma por aquéle carter inicial da colonizagio. “Té-lo’em vista & compreender o essencial déste quadzo que se apresenta em prinefpios do séealo passado, © que passo agora a analisar. POVOAMENTO

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