Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Um corpo artista possui habilidades ou treinamentos que o sustentam como tal. Porém, os
teatros pós-dramáticos, quando introduzem o real na cena (tudo aquilo que foi excluído do
campo da percepção pelo teatro de ilusão), validaram as corporeidades não-artistas (não
treinadas numa disciplina artística). Tal corpo pode entrar em estados singulares e
anômalos. Dito de outro jeito: há corpos não-artistas em estado de poesia.
Assim como os pensadores Gilles Deleuze e Félix Guattari dizem que “a arte não espera o
homem para começar, podendo-se até mesmo perguntar se ela aparece ao homem só em
condições tardias e artificiais”, também pode-se dizer que a arte não espera o ofício da arte.
A arte contemporânea não cessa de trazer à tona experiências corpóreas não restritas ao
corpo artista, tomando este como habilitado pelos ofícios e treinamentos. Ou seja, outros
corpos podem entrar na cena por uma via estética, isto é, em criação.
A questão passa a ser: como um corpo-artista pode produzir uma corporeidade anômala?
Que treinamentos? Por enquanto, somente uma resposta: que o corpo não seja, na cena,
apenas um significante para um significado ulterior. Arrisco uma pista: um corpo que
produz seus próprios experimentos de esvaziamento de todos sentido que seja prévio. E isso
não quer dizer neutralidade. Vale a pena ler Deleuze e Guattari sobre o CsO, o Corpo sem
Órgãos.
REFERÊNCIAS
DELEUZE, G. E GUATTARI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Vol. 4.
Tradução de Suely Rolnik. São Paulo: Editora 34, 1997.
GIL, José. GIL, José. Movimento total: o corpo e a dança. Tradução de Miguel Serras
Pereira. São Paulo: Iluminuras, 2005.
GREINER, Christine. O corpo: pistas para estudos indisciplinares. São Paulo: Anna Blume,
2005.
DRAMATURGY BEYOND REPRESENTATION:TEXTS, BODIES, SPACES IN
CONTEMPORARY EUROPEAN THEATRE