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APONTAMENTOS PRÁTICOS
2.º SEMESTRE
APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Bons estudos!
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
CASO N.º 1
3.º - O prazo legal de conservação das gravações já se esgotou, razão pela qual a
diligência se afigura inócua.
Comente.
O artigo 340.º CPC está na secção relativa à Audiência de Julgamento, pelo que
é este que se aplica ao caso, sendo este um artigo de natureza epistemológica.
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CASO N.º 2
A pessoa vai reconhecer quem procurou nas redes sociais se for apresentada uma
foto. Por a pessoa a procurar ativamente nas redes sociais pode oferecer uma garantia de
fidedignidade muito menor. O reconhecimento fotográfico não é procurar na internet,
mas sim pedir as características ao sujeito e, depois, mostrar fotografias de pessoas
parecidas.
Não é proibido fazer a pergunta e pode servir para saber se se pode acreditar. Mas
não se pode perguntar, para que a resposta valha como prova de reconhecimento.
b) Ao aproximar-se do seu automóvel, A viu uma pessoa, que lhe pareceu ser
do sexo masculino, a forçar o fecho da porta do condutor. Nada mais viu,
porque a pessoa em causa fugiu rapidamente por uma rua esconsa. No local
havia câmaras de vigilância, que captaram o rosto do autor da tentativa de
furto e permitiram identificar B. Não foi feito o reconhecimento a que se
refere o artigo 147.º. Em julgamento, durante a inquirição de A, o juiz
perguntou-lhe se reconhecia o arguido, ali presente, como o autor do furto
tentado.
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O proibido não é fazer a pergunta, uma vez que esta até pode ajudar para que se
possa acreditar. O que não se pode é perguntar para que a resposta valha como prova de
reconhecimento.
Agora, quando a pessoa nada viu ou pouco viu, pode ser irrelevante fazer prova por
reconhecimento.
A prova por reconhecimento não é única, as câmaras de vigilância podem ser outro
meio, pelo que a polícia fez bem em procurar as câmaras de vigilância.
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Se nós quisermos dar como provado que era o mesmo sobretudo, a lei exige que
se faça o reconhecimento em termos paralelos ao feito para o reconhecimento de
pessoas. Caso nos bastássemos com o facto de que é um sobretudo parecido, que
corresponde aos elementos descritos, não é necessário esse reconhecimento. Mas
trata-se, note-se, sempre de um mero indício, aquele primeiro mais forte e este segundo
menos.
CASO N.º 3
A, que está a ser julgado por três crimes de abuso de confiança qualificado,
pede a suspensão do processo, alegando sofrer de Alzheimer e estar, por isso,
impedido de exercer com propriedade a sua defesa. Como deverá proceder o
tribunal?
A lei diz que a perícia psiquiátrica é obrigatória, não se podendo substituir por
outro meio de prova. Mas a lei, para a perícia psiquiátrica na questão da
inimputabilidade, diz que a prova pericial é obrigatória quando a apreciação/valoração
de certos factos é necessária.
Nestes casos pode ser necessária a prova pericial. Quando está em causa uma
doença mental, fazendo apelo a conhecimentos científicos, assim o meio de prova de
que se pode socorrer é a perícia. Temos que perguntar ao perito se a incapacidade está
preenchida ou não. Parece que, definido o critério primeiro, o juiz deverá ordenar prova
pericial.
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CASO N.º 4
O que se quis foi, portanto, contornar as formalidades que a lei impõe que se
cumpram em interrogatório, para que as declarações possam valer em julgamento, nos
termos daquele primeiro artigo enunciado. Ora, se se permitir-se que se usasse a
reconstituição de facto como interrogatório, no fundo, seria defraudar a lei, pelo que não
poderia ser valorada em julgamento. É a tal ideia da não fungibilidade, em que não se
pode usar um meio de prova com uma determinada finalidade justificativa de um
determinado formalismo para obter a finalidade prevista para outro meio de prova.
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CASO N.º 5
A, suspeito de vários crimes de burla, foi notificado para ser ouvido como
arguido pela PSP. Nos minutos que antecederam o interrogatório, B, agente da
PSP das relações de A, convidou-o para tomar um café e fumar um cigarro e
perguntou-lhe o que se passava. Estas declarações, que não seguem os formalismos
dos artigos 141.º e 144.º, podem ser consideradas como prova para, no inquérito,
de decidir sobre a medida de coação a aplicar a A?
Conclui-se, portanto, que estas “conversas informais” não podem ser valoradas
de todo, nem em sede de inquérito nem em sede de audiência de julgamento, uma vez
que não preenchem os formalismos dos artigos 141.º e 144.º do CPP e,
consequentemente, do artigo 357.º do CPP.
CASO N.º 5
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A polícia faz uma busca, que é regular e os documentos foram bem apreendidos,
logo não há proibição de produção, mas a informação tem natureza privada, assim pode
haver uma proibição de valoração. Há uma proibição de valoração independente de
acordo com direito alemão? Isto é, ela resulta de um atentado a direitos fundamentais –
reserva da vida privada. Quando contende com provas de valoração privadas, pode ter
haver com a valoração independente e não com a ponderação, antes de chegar à
ponderação temos de ver a valoração, aqui tem de se ver se há interesses de privacidade
ou não, se houver não pode haver ponderação. Para fazer a ponderação temos de ver se
o crime é mais grave ou menos grave. Se, por fim, a informação for mais reportada à
camada interior pode valorar-se, sendo que isto é o que defende o tribunal alemão.
Este diário era da camada intermédia, mas era de valorar, pois tinha relevância
para a o caso. Temos de compaginar a vontade de reserva com o interesse de reserva.
CASO N.º 6
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Porém, este critério não serve, pois segundo o 126o/3 CPP a invalidade está relacionada
com o objeto e com as invalidades sanáveis. O critério que releva é o material de
obrigação à CRP, aos direitos fundamentais.
Vamos imaginar que foi outra a formalidade violada, por exemplo uma das
formalidades do 136.º do CPP. Aqui a consequência é uma invalidade processual típica,
porque se trata de formalidades que não são da CRP, são outras que ficam ao critério do
legislador, não sendo impostas pela CRP. Se nada se disser é uma mera irregularidade.
Depois fez-se exame da roupa. As buscas não são fontes de informação, são
meios de obtenção de provas, o juiz não valora buscas. As roupas foram sujeitas a
exame, pode-se valorar o resultado doe exame? Aqui convoca o problema do efeito à
distância de prova. Produz-se este efeito, em princípio, a base legal é encontrada no
artigo 32.º do CRP, onde diz que são nulas todas as provas, sendo que para Costa
Andrade a base é o 131.º CPP. Não basta que a prova secundária tenha ocorrido depois
da prova primária, tem de haver um nexo antijurídico. Entre nós aceitasse o efeito à
distância, sendo a extensão dele pautada por critérios análogos aos do EUA e da
Alemanha, ou seja, vamos seguindo o que é dito noutros ordenamentos jurídicos. Neste
caso, não há nenhuma evidência que pudesse afastar o efeito à distância, por isso ele ia
se produzir.
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CASO N.º 7
Ouvido como arguido numa investigação por homicídio, A foi coagido por
meio de tortura a confessar, revelando o local onde se encontrava a vítima. As suas
declarações permitiram ainda à polícia descobrir a arma do crime, que se verificou
estar coberta de impressões digitais de A.
As declarações prestadas sob tortura não podem ser valoradas, nos termos do artigo
126.º nº1 e nº2 alínea a). Tratando-se de uma proibição absoluta.
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CASO N.º 8
A lei permite agentes infiltrados entre nós, ou seja, que alguém entre no meio
criminoso para obter informações sobre os arguidos. Mas a lei autoriza isto não para
crimes já consumados e acabados, mas para crimes que ainda não esgotaram as
possibilidades probatórias, ainda não esgotaram a sua capacidade decisiva. Então a lei
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permitiria isso não para punir A por um crime que ele já cometeu. Em relação a isto
existe a convicção segura da parte da doutrina e jurisprudência de que não é admissível
esta junção de colocar alguém na sela do arguido para extorquir declarações, isto será
uma fraude à lei. O arguido é interrogado nos termos do artigo 141o CPP, tendo o
direito ao silêncio. Esta solução é um interrogatório disfarçado, por isso não deve ser
permitido sobre pena de se estar perante uma fraude à lei. Contra este entendimento
temos Costa Andrade que diz que, a utilização de agentes encobertos supõe que o crime
a investigar não esteja ainda consumado, no sentido de esgotado na sua capacidade
lesiva, por exemplo, se se está a investigar uma rede de tráfico de droga pode ser que A
já tenha cometido tráfico, mas se o propósito do agente encoberto é recolher informação
sobre uma rede e não sobre A esta utilização de agentes encobertos não é permitida,
pois não se pode usar quanto a crimes já consumados, segundo a doutrina. A
jurisprudência diz o mesmo, com base num caso de lisboa, em que o que se queria fazer
era colocar dois suspeitos na mesma sela e gravar as conversas que tivessem, sendo que
isto não foi admitido, embora aqui não fosse a mesma coisa.
No direito americano este mecanismo chama-se “Jail Plant”, não sendo proibido,
pois a preocupação aqui é com a coação, pretendendo-se criar um âmbito coativo. Os
Miranda Warnings justificam-se porque uma pessoa que é detida e interrogada está num
ambiente coativo que lhe limita a liberdade. Mas não há nenhuma preocupação com o
engano. Na Alemanha, por exemplo, são os casos de prisão. A jurisprudência alemã tem
presente a ideia de coação, a pessoa tem a necessidade urgente de falar abrindo-se em
confidencias com quem estiver ao lado. Na privação da liberdade cria uma coação para
a confidencia que não pode suspender de outro modo e tratava-se de limitação da
dignidade humana, proibindo-se este tipo de procedimentos.
No Tribunal Europeu dos Direitos Humanos também foi discutida esta questão
no caso Allan C. Neste estava em causa o homicídio de uma pessoa, em que o culpado
se remeteu ao silêncio. O arguido admitia a participação nos roubos, mas não no
homicídio, sendo que para obter uma confissão a polícia colocou um informador na sua
sela conseguindo obter informações através desse método. Contudo, o tribunal entendeu
que o procedimento tornava o processo injusto no seu todo. O TEDH entendeu que
houve a violação do princípio do fair play do artigo 6.º do CPP, pois era como se
tivessem feito um interrogatório disfarçado e uma vez que não se podem contornar os
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Então conclui-se que não se proíbe agentes infiltrados, mas tem de se ver os
casos concretos. Contudo, entre nós, não se tem aceitado este método de obtenção de
prova quer na doutrina quer na jurisprudência. Então, as declarações de B não podiam
ser aproveitadas, porque não têm autonomia em relação à confissão de A. se tivesse sido
gravada, não se poderia também valorar.
CASO N.º 9
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ilegalidade cometida, pode tratar-se de escutas ilegais porque foram autorizadas fora dos
pressupostos previstos na lei ou pode tratar- se de escutas ilegais porque foram
realizadas sem cumprimento das formalidades que o legislador impõe para a sua
execução.
Neste caso, parece tratar-se do efeito à distância, mas só podemos falar dele se
houver a proibição de valoração. Teríamos de perceber que invalidade é esta para ver se
se trata de invalidade típica ou proibição de prova. Mas nas escutas se se tratar de uma
formalidade que é a concretização dos parâmetros constitucionais de que depende o
sigilo das telecomunicações, isto é, se o que estiver em causa é uma invalidade que
concretiza estes parâmetros, então temos proibição de prova. Por outro lado, se for uma
formalidade estabelecida pelo legislador trata-se de uma invalidade típica. Isto é, o
artigo 190º CPP diz que os requisitos e condições estabelecidos no artigo 187º, 188º e
189º CPP são estabelecidos sob pena de nulidade. Se atendêssemos apenas ao ponto de
vista terminológico ou formal o vício que decorreria da violação de algum dos
requisitos ou formalidade das escutas seria a nulidade e, nada se dizendo na lei,
tratar-se-ia de uma nulidade sanável, artigo 120º/1 CPP. Mas a verdade é que temos de
articular esta disposição com o artigo 126º/3 CPP que diz quais são os métodos
proibidos de prova. Portanto se forem feitas escutas e uma vez que as escutas atingem o
direito à reserva da vida privada, o direito à palavra falada, o direito ao sigilo das
telecomunicações, se forem feitas escutas fora dos pressupostos previstos na lei temos
que articular a norma que as culmina com a nulidade com a proibição de prova no artigo
126º/3 CPP que diz que estas são nulas não podem ser utilizadas.
Tem se entendido entre nós que se for violado o artigo 187º CPP que diz quando
se admite escutas e todas as formalidades, teremos sempre uma proibição de valoração.
Se for violado o artigo 188º CPP deve-se fazer uma distinção, sendo que para isso tem
se em conta um critério material. Ou seja, se se tratar de formalidades dos requisitos
constitucionais o que vai estra em causa é uma proibição. É entendido isto, apesar de no
artigo 190º CPP se falar de invalidade. A doutrina maioritária vai neste sentido.
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É assim também a propósito das escutas. A lei exige no artigo 188º CPP o
cumprimento de certos prazos. Se os prazos forem violados, a consequência depende do
facto de serem violados de forma mínima ou se o desvio for de tal ordem que coloca em
causa as escutas. Se for violado de forma mínima o que está em causa é uma invalidade,
por outro lado se o desvio colocar em causa as escutas, o princípio da judicialidade na
realização de escutas imposto pela CRP está a ser colocado em causa e assim sendo
estamos perante uma proibição de prova, não se podendo valorar. Isto resulta num
entendimento jurisprudencial sólido, temos um acórdão do STJ de fixação de
jurisprudência nº1/2019 que diz isto mesmo. Portanto aquilo que temos é que não
sabemos a espécie de ilegalidade que foi cometida, mas vamos assumir que não se trata
de uma pequena quanto ao prazo e vamos assumir que se está perante uma proibição de
valoração das escutas.
Neste caso vamos entender que há uma proibição de prova. Ora se a prova
primária não pode ser valorada a questão que se coloca é de saber se a proibição de
valoração que a atinge se comunica ou não às provas secundárias que à custa dela foram
obtidas. Estamos perante o problema do efeito à distância. Aqui produz-se efeito à
distância ou não? Neste caso, segundo o direito norte-americano aplicar-se-ia a exceção
da descoberta inevitável segundo a teoria dos frutos da árvore envenenada, porque há
um caminho alternativo que não foi seguido, mas esta disponível. O caminho lícito
alternativo não foi efetivamente seguido, não se trata da exceção da fonte independente,
não vale a ideia do “atual clean path”, há um caminho alternativo, mas ele é apenas
hipotético que não foi seguido pelas autoridades. Mas ele teria sido caso não se tivessem
feito as escutas legais. Por outro lado, segundo o direito alemão, era necessário fazer
uma ponderação entre o interesse da prossecução penal, que se afere à luz da gravidade
do crime imputado aos agentes e da indispensabilidade probatória da informação. Neste
caso tratava-se de um crime grave em que este elemento de prova parece ser de grande
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
valor, apesar de não sabermos se é indispensável ou não. Por outro lado, tem também de
se ponderar os interesses fundamentais que a proibição de prova visam proteger, no caso
são sobretudo a reserva da vida privada, o direito à palavra, o sigilo das
telecomunicações. É preciso aferir do peso e da gravidade da intromissão nesses direitos
fundamentais. O direito alemão, desse exercício concluiria ser admissível a valoração da
prova secundária e essa convicção seria reforçada por apelo aos critérios hipotéticos de
investigação. A jurisprudência alemã é pouco exigente na avaliação desse critério, basta
olhar para o caso e concluir que não era impossível obter-se seguindo o caminho legal.
A nossa doutrina é mais exigente e impõe que fosse altamente provável a obtenção do
mesmo resultado através de um mecanismo lícito, ou seja, dir-se-ia o resultado não pode
ser aproveitado porque da articulação do artigo 190.º CPP com o artigo 26.º nº 3 CPP
resulta a extensão às escutas telefónicas da disciplina de proibição de prova. Isto será
assim quer sejam violados os requisitos da admissibilidade das escutas quer seja violada
alguma formalidade que seja a concretização dos parâmetros constitucionais de que
depende a legitimidade da intromissão nos direitos fundamentais. A prova secundária,
embora se aceite entre nós um efeito à distância poderia ser aproveitada, não se lhe
estende a proibição de valorar que atinge a prova primária, aproveitando-se aqui a
exceção da descoberta inevitável e atendendo ao ordenamento alemão o critério dos
processos hipotéticos de investigação associada ao princípio da ponderação.
NOTA: quanto a esta matéria importa ler o Ac. STJ 07P4552, de 2008 que
também versa sobre a questão do efeito à distância das proibições de prova. Era uma
busca no aeroporto, feita sem mandado do MP. Essa busca permitiu encontrar uma mala
de um viajante cheia de droga. Essa droga foi substituída por farinha e os OPC fizeram
uma operação de vigilância no aeroporto para encontrar a mala verdadeira. Em
simultâneo, fazem-se outras buscas em casa de outros suspeitos onde se encontra droga
e armas.
CASO N.º 10
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O facto de ter assumido que agrediu o B não significa que o tenha matado.
Convoca-se para este caso a proibição do engano (artigo 126.º nº 2 b) CPP).
Necessita-se de preencher os 3 requisitos:
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Neste caso, temos uma representação efetivamente real do plano factual. Apenas
se omitiram alguns factos importantes.
Aqui, temos efetivamente uma prova real. Mas o erro forma-se em relação ao
que se encontra na carrinha. E este erro foi provocado pelo agente? O agente de facto
não disse nada para criar a convicção errónea (não houve intervenção ativa); contudo,
deixou o arguido em erro quanto ao que se encontrou na carrinha.
O engano não releva neste caso. Se houvesse, seria por omissão, mas aqui falha
o 2º requisito e potencialmente o 1º também, porque não houve vontade da autoridade
de induzir o arguido em erro. O 3º requisito, da convicção determinante estaria
preenchi, mas não releva, pois tem de se verificar os três requisitos cumulativamente.
Esta prova não cai no âmbito da proibição do engano e poderia ser valorada.
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Tendo isto em conta, aplicaríamos o artigo 58.º nº 5 CPP, que a doutrina tem
entendido valer para todos os casos em que tenha sido omitido o direito ao silêncio. A
omissão dessa informação torna não valoráveis as declarações que sejam prestadas.
Entre nós temos uma norma em que se diz que não pode valorar-se as declarações,
sendo que isso resulta da aplicação conjugada o artigo 141.º nº 4 a) CPP + artigo 44.º
CPP + artigo 58.º nº 5 CPP. Na Alemanha não existe esta norma tendo de se verificar se
esta omissão foi deliberada, sendo preciso que o arguido estivesse erroneamente
convencido de que tinha um dever de falar. Se o arguido tivesse incorrido neste erro
existia um dever de esclarecimento pelas autoridades e, por isso, um engano por
omissão relevante. E, por fim, seria preciso ver, se esta convicção errónea era
determinante da prestação de declarações. É de salientar que, não temos de fazer isto,
uma vez que temos uma norma que diz que não se pode valorar as declarações quando o
dever de esclarecimento sobre o direito ao silêncio não foi cumprido.
CASO N.º 11
Para além disso, quanto aos requisitos materiais era preciso que a ação encoberta
fosse adequada aos fins de prevenção ou repressão penal e fosse proporcional a esses
fins e à gravidade, neste caso estão presentes fins de repressão penal, uma vez que que
se trata de recolha de provas num processo já em curso. Para além disso, o agente
encoberto é um agente da PJ, o que faz com que outro requisito esteja verificado, uma
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vez que estas ações devem ser lavadas a cabo por um funcionário da PJ ou por um
terceiro atuando sobre o controlo da PJ, este terceiro pode ser um particular ou um
membro de outra força policial.
Por fim, a atuação concreta do agente deve conter-se dentro dos limites do artigo
6.º da Lei nº 101/2001. Será que o facto desta pessoa se fazer acompanhar com a droga
torna a sua conduta ilícita? E se daqui vier resultar alguma prova? O artigo 6.º não
traduz uma isenção de responsabilidade. Tem uma valência substantiva e uma valência
processual. Limita o âmbito da atuação encoberta, não valoradas as provas. A lei diz
que para a conduta não seja punível tem de constar de atos preparatórios ou de execução
– ou seja, não pode ter havido consumação. O crime já se consumou. Estamos para além
de atos executórios. Mas não temos efetiva lesão do BJ, ou seja, a consumação. A
exigência da lei está, portanto, cumprida.
Se houver instigação ou autoria mediata, a prova obtida não pode ser valorada.
Neste caso, tratava-se de um caso de não instigação ou autoria mediata. Ou seja, não se
preenche o requisito negativo que a lei impõe.
Portanto, uma vez que o agente encoberto apenas transportava consigo a droga o
que em si consuma um crime, se este se revelar proporcional às finalidades da ação
encoberta o agente não será punido porque beneficia de uma causa de exclusão da
ilicitude. As provas que o agente venha a obter podem ser valoradas e atuação do agente
é legitima.
Temos de fazer uma interpretação corretiva da norma. Pode não ser preciso
ouvir o agente infiltrado, por vezes, as provas recolhidas na ação encoberta já são
suficientes. Mas se queremos ouvir o agente infiltrado, precisamos de o ouvir.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Podemos chamar o artigo 4.º nº 4 da Lei nº 101/20021, que nos diz que se aplica
o artigo 87.º nº 1 CPP, que pode funcionar como uma exceção da audiência pública.
Além disso, pode ainda haver lugar à aplicação do regime da lei de proteção de
testemunhas (Lei nº 93/99). A lei de proteção de testemunhas prevê a inquirição da
testemunha por teleconferência e a possibilidade da distorção da imagem e da voz. A
audiência poderia não ser pública mas está sempre sujeita ao contraditório cross
examination. Para além disso, pode o agente depor com a sua identidade fictícia.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
CASO Nº 12
Medina de Seiça, pelo seu lado, diz que isto é uma formalidade excessiva,
interrogando-se se se justifica separar aqui os processos só para poder ouvir A em
relação à responsabilidade penal de B. este autor sustenta que com uma adequada gestão
processual, começar-se-ia por discutir a responsabilidade penal de A, intervindo B como
testemunha e, depois, reafirma-se a sua posição como arguido e B pode testemunhar
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
quanto à sua responsabilidade penal, agora. Atente-se que não passa de uma posição
meramente teórica, sendo exemplo disso o Acórdão STJ de 28/11/1990.
d) Admita ainda que B foi, entretanto, julgada e que a decisão contra ela
proferida já transitou em julgado. Notificada na qualidade de testemunha
para comparecer em audiência no processo em que A está a ser julgado, B
recusou-se a prestar quaisquer declarações. Quid iuris?
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
CASO N.º 13
Se a pessoa tivesse sido, mas neste momento já não fosse cônjuge aplicava-se o
134.º nº 1 b) CPP.
Aqui não muda nada, mas isto alerta-nos para uma possível manipulação, que é
alguém casar apenas para não ter de prestar declarações. Outra advertência, é que há o
direito de recusa das pessoas casadas, este aplica-se a todos os factos, enquanto, os
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
unidos de factos têm direito de recusa apenas quanto aos factos que ocorreram na
pendência da coabitação.
Quanto à primeira questão, importa dizer que, no elenco do artigo 134.º CPP não
constam os amigos de infância, por isso não terá direito de recusa do depoimento, por
isso praticará um crime se não prestar depoimento. O elenco não considera os amigos de
infância, por uma questão de controlo, pois não há uma fiscalização do direito de
recusa, podendo haver abuso, outra razão é que também está aqui em causa a tutela da
instituição familiar e o facto da família ser a célula fundamental da sociedade, por isso
merece maior proteção do que qualquer outro tipo de relação.
Quanto à segunda questão, não seria possível, pois o crime já tinha prescrito. Há
um direito de recusa de depoimento no artigo 132.º CPP, mas mais limitado do que o
artigo 134.º CPP. Neste caso o perigo do artigo 132.º CPP não existe, porque dado o
tempo da prática do crime a responsabilidade já estaria prescrita.
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mente para evitar a incriminação do familiar (tem de ser um familiar que conste na
categoria do artigo 134.º CPP). Tendo isto em conta, se C mentisse para proteger o seu
irmão, poderia não ser punido, e assim sendo não faz sentido obrigar alguém a prestar
depoimento e a mentir para depois ser alvo de dispensa de pena.
Portanto, a nossa lei não estabelece diretamente este direito no artigo 132.º nº 2
CPP, mas consideramos razoável que se aplique com base nos artigos 134.º CPP e 364.º
CP.
Aqui está em causa o segredo religioso, que é um segredo profissional, mas mais
fortemente protegido, ou seja, basta provar a legitimidade, isto é, que a, matéria foi
obtida no exercício das funções e que o D exerce de facto essas funções.
CASO N º14
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Há factos que a testemunha não verificou, mas que lhe foram contados pelo
advogado (B). B é advogado e contou esses factos violando o seu segredo profissional.
Será que o tribunal pode considerar essas informações para formar a sua convicção e
como deverá proceder?
Em relação a B, como deve agir o tribunal? Isto está relacionado com o segredo
norma e tem de se saber se no exercício da sua profissão o advogado teve conhecimento
dos factos. Tem de se verificar da legitimidade da recusa e se a recusa legítima,
passamos para o plano de justificação da escusa. Quando se fala do artigo 129.º nº 1
parte final do CPP diz-se que este artigo estabelece casos excecionais em que o tribunal
pode valorar o depoimento da testemunha indireta quando está indisponível a
testemunha presencial, como por exemplo casos em que a testemunha direta morreu,
não pode ser encontrada, entre outros. Esta enumeração é entendida pela doutrina e
jurisprudência, como não taxativa, sendo ilustrações de um princípio geral que consente
às autoridades judiciarias a valoração do depoimento indireto quando a testemunha
presencial não esteja disponível por algum motivo que não pode se controlado pelas
autoridades. Podia aqui perguntar-se se tendo A sido testemunha e tendo ouvido as
declarações de outra pessoa que não quer falar se o tribunal pode valorar o depoimento
indireto? A resposta é não. Se B se recusar a declarar com base na quebra do segredo
profissional e esta se justificar, o tribunal não pode valorar na mesma as declarações de
A. Ouvido como testemunha, poderia recusar-se a responder nos termos do artigo 132.º
nº 2 CPP. Se o tribunal superior entender que a quebra do segredo profissional não se
justifica, não se vai contornar a circunstância de não se ouvir B com a valoração das
declarações de A.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
A continua a ser testemunha indireta, mas, desta vez, foi o irmão do arguido que
lhe fez confidencias. O irmão convocou, no processo, o impedimento do artigo 134.º
CPP.
O depoimento de A está sempre inquinado, nos termos do artigo 129.º CPP. Por
outro lado, a recusa do artigo 134.º CPP é inultrapassável. Tem-se dado uma
interpretação mais ampla a esta disposição, para abranger circunstâncias como o coma
ou a amnesia irreversível. Se assim for, encontra-se preenchida a parte final do artigo
129.º nº 1 CPP, podendo valorar-se o depoimento de A.
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Aqui teríamos de aplicar o artigo 345.º nº 4 CPP. O que a lei diz é que quando no
mesmo processo, as declarações de A valem contra B quando A responde a todas as
questões, se ele não responder isto não vale, porque ele se furta ao contraditório,
dificultando o apuramento da verdade, não estando relacionado com o direito ao
silencio de B. A lei procura assegura o contraditório, isto é, que as declarações prestadas
sejam fiscalizadas.
Nos termos do artigo 345.º nº 1 CPP, C pode não responder a perguntas, mas se
não o fizer as declarações dele não são valoradas contra A e B. Mesmo que o juiz ache
que C falou a verdade, o que ele disser não pode ser valorado, uma vez que não
respondeu a todas as questões que lhe foram colocadas.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
atingidas pelo vicio das declarações prestadas no inquérito. Pode D prestar declarações
como testemunha? Segundo o artigo 133.º nº 1 a) CPP, não podia ser testemunha, mas
segundo o artigo 133.º nº 2 CPP, se fosse no mesmo processo o impedimento seria
relativo.
A ideia do legislador no artigo 133.º nº 2 CPP é ressalvar que mesmo nos casos
em que D não é sequer arguido, porque o processo dele já terminou, uma vez que aqui
ele foi alvo de processo sumaríssimo, que é mais rápido, o impedimento continua a
existir.
CASO N.º 15
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
CASO N.º 16
Terá razão?
Mas aqui não existia uma descrição anterior, pelo que o que se pretendia era
documentar as declarações que o arguido estava disposto a prestar naquele momento
para evitar que depois pudesse mudar de ideias.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Será que existe algum obstáculo à valoração desta reconstituição? Para ser
valorada teria de cumprir os formalismos que a lei estabelece para o interrogatório
judicial, isto é, o arguido deveria ter sido esclarecido do seu direito ao silêncio,
interrogado perante autoridade judiciária com a presença do defensor, etc.
Ou seja, uma vez que não se trata de uma verdadeira reconstituição de facto mas
da materialização de declarações prestadas pelo arguido, teria de respeitar o disposto no
artigo 357.º nº1 alínea b) CPP. Isto porque vigora um princípio da não fungibilidade dos
meios de prova.
CASO N.º 17
Resumo:
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Trata-se de realizar uma diligência sobre o corpo de uma pessoa contra a sua
vontade, um exame que é instrumental a uma ulterior perícia. Esse exame a que
requisitos tem de obedecer para que a informação recolhida possa ser valorada? O juiz
tem de autorizar esse exame que, por sua vez, terá de ser realizado numa entidade
autorizada. A lei estabelece este formalismo que até foi cumprido, pelo que a questão
que se coloca é: a pessoa a quem se faz o exame pode ser o arguido mesmo que ele não
consinta ou isso ofende o seu direito à não autoincriminação? Não porque este se
destina apenas às provas comunicativas, mas este critério é confirmado, de alguma
maneira, pela lei?
Outra questão diferente é saber que espécie de medida se pode tomar para o
forçar a colaborar: pode usar-se força física ou só ameaçar com o crime de
desobediência? Não se incorre num meio de proibição de prova já que o artigo 126.º
CPP permite o recurso à força desde que se respeite o princípio da proporcionalidade.
CASO N.º 18
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Quanto às buscas: trata-se de uma busca ordinária já que parece que não estamos
perante uma dependência da casa, aplicando-se o regime geral das buscas do artigo
174.º e 176º. Elas foram autorizadas por quem tem competência para o efeito, mas
depois há questão da validade do prazo que terá sido ultrapassado – artigo 174.º nº 4
CPP. Qual é a consequência? A lei diz “sob pena de nulidade”, mas já vimos que por
vezes a lei não é rigorosa. Será que estamos de facto perante uma nulidade ou perante
uma proibição de prova? Se estivéssemos perante uma ultrapassagem do prazo grande
teríamos uma proibição de prova, mas neste caso estaríamos apenas perante uma
invalidade processual típica. As proibições de prova podem ser arguidas a todo o tempo
e reconhecidas oficiosamente pelo juiz, mas as nulidades sanáveis, como é caso, só
podem ser arguidas dentro de um prazo e pela pessoa a quem respeitam. Mas se o
forem, verifica-se praticamente o mesmo resultado que o das proibições de prova.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
um crime cujo limite máximo seja superior a 3 anos (o que é o caso, visto tratar-se de
suspeita de homicídio) e que a apreensão diga respeito à correspondência que essa
pessoa receba ou envie. Por fim, tem de ser relevante para a descoberta da verdade,
devendo o despacho ser fundamentado. Os requisitos estariam preenchidos mesmo
tratando-se de um pacote do defensor? Se o juiz estivesse convencido de que o pacote
fosse objeto de um crime cometido pelo próprio defensor, isto é, se suspeitasse que o
defensor fosse comparticipante de um crime imputado ao arguido ou autor de outro
crime incluído no catálogo poderia apreender-se e valorar esse pacote. Caso contrário,
esse pacote não poderia ser valorado.
CASO N.º 19
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também o é, assim como a falsificação (artigo 187.º, nº 1, al. a) CPP). O único que não é
crime de catálogo é o furto simples.
É ainda preciso que haja suspeita fundada em factos concretos: quanto a isso,
diz-se aqui que “em face das suspeitas”, pressupõe-se que há uma suspeita fundada em
factos que são trazidos ao caso. O crime, para além de ser do catálogo, tem de ser grave,
em concreto.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
auxílio (art. 200.º, n.º 2, CP). Poderá, de alguma forma, utilizar-se estas
escutas na investigação de tais crimes?
d) Poderão as escutas ser valoradas em juízo para a prova dos factos que
consubstanciam furto simples, se o crime que justificou as escutas tiver sido
apenas o de associação criminosa e o tribunal entender que se justifica a
absolvição dos arguidos nessa parte?
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
uma suspeita inexistente sobre um crime de catálogo para realizar escutas que de outra
maneira não se podiam fazer para investigar outros crimes?
A tese de COSTA ANDRADE assenta numa premissa que o próprio não adere
totalmente, e esta premissa não é absolutamente inequívoca.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
A doutrina exige algo mais do que o nexo formal, previsto no artigo 187.º nº 7
CPP, é preciso uma relação material entre os crimes. Não há um critério unanime, mas o
que se tem dito é que há conexão material nos crimes de associação e normalmente este
critério é visto casuisticamente.
Para serem valoradas nos termos do artigo 187.º nº 7 do CPP, tem de ser um
crime catálogo. É preciso saber se é possível valorar relativamente ao outro crime –
prevaricação agravada. É preciso que as escutas sejam também indispensáveis para a
comprovação desse crime.
Por fim, é preciso que esteja preenchido o requisito do artigo 187.º nº 4 CPP.
Neste caso, as escutas foram autorizadas a A, B e C, A conversou com E, e, por isso, a
conversa autoincriminatória de E foi captada nas escutas. O requisito do 187.º nº 4 está
preenchido, porque este artigo não exige que a conversa autoincriminatória seja do
próprio alvo, o que impõe é que a conversa onde se revelam informações
incriminatórias seja uma conversa captada numa escuta feita ao alvo. O que a lei quer é
que não haja uma utilização abusiva das escutas.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
CASO Nº 20
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Por isto, a proibição da reformatio in pejus indireta também vale, pelo que o
tribunal não fica vinculado à pena aplicável, uma vez que não se pode modificar a
decisão recorrida para pior, na perspetiva do arguido. Ou seja, não se pode agravar, nem
em espécie, nem em medida, a pena aplicável ao arguido.
Para a reformatio in pejus interessa apenas a pena aplicável. Neste caso a pena é
mais grave ou não (pena de prisão substituída por trabalho a favor da comunidade e
pena de prisão substituída por pena de prisão suspensa)? Neste caso há uma agravação
da pena na sua espécie, e não na sua medida. Esta modificação poderia ocorrer ou não?
Neste caso não vale a proibição da reformatio in pejus, porque houve um recurso do
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
MP, que não no exclusivo interesse do arguido. Esta hipótese não cabe, portanto, no
âmbito de aplicação do artigo 409.º CPP.
CASO Nº 21
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
Admite-se recurso per saltum para o STJ? As regras estão no artigo 247.º e ss
(TR) e artigo 432.º e ss (STJ). O prazo para recorrer é sempre de 30 dias (art. 411º, nº1
CPP), seja qual for a natureza do processo e quer verse sobre matéria de facto ou de
direito. Em regra, os recursos são reconduzidos ao TR, exceto se estiverem preenchidos
os pressupostos do artigo 432.º, nº 1, alínea c) CPP: é necessário que se trate de uma
decisão condenatória, que se aplique uma pena de prisão efetiva superior a 5 anos, e que
se trate de uma decisão de tribunal coletivo ou de júri, requisitos estes que estão
cumpridos. No entanto, é ainda necessário que verse sobre matéria de direito, o que não
se verifica, pois estamos perante matéria de facto. Assim sendo, não poderia haver
recurso per saltum para o STJ, tendo antes este de ser reconduzido ao TR.
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APONTAMENTOS PRÁTICOS DE DIREITO PROCESSUAL PENAL II
para o Supremo, porque estamos perante matéria de direito (artigo 432.º, nº 1, alínea c),
parte final CPP).
Aplica-se o artigo 401.º nº 1 CPP, que deve ser lido a contrário já que este nos
diz os casos em que não há recurso, importando as alíneas f) e e). Ou seja, a contrário
existe recurso quando a condenação seja em pena superior a 8 anos e se ficarmos no
intervalo entre os 5 anos e os 8 anos, só haverá recurso se houver divergência.
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Neste caso, a lei diz que não pode haver recurso para o STJ, uma vez que pena é
não superior a 5 anos (artigo 432.º, nº 1, alínea e) CPP). No entanto, a lei foi declarada
inconstitucional com força obrigatória geral pelo Acórdão nº 595/2018, pelo que é como
se esta norma não existisse. Fora destes casos, pode haver recurso para o Supremo.
Assim sendo, poderia haver recurso nesta hipótese, uma vez que estamos perante
um caso de pena de prisão efetiva. Se tivesse sido aplicada, por exemplo, uma pena não
privativa da liberdade, não poderia haver recurso, porque o TC só declarou a
inconstitucionalidade para os casos de pena de prisão efetiva, e não outros.
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Se a pessoa não foi notificada e, por isso faltou, a sua ausência gera nulidade
sanável – artigo 120.º nº 2 b) CPP.
Prazo – artigo 120.º nº 3 alínea b) remete para a nulidade da alínea b). Mas
temos de ver se isto faz algum sentido: a falta de notificação associada à ausência gera
uma nulidade sanável, sendo que a mera falta de notificação é apenas uma
irregularidade. Ora, uma vez que só se toma conhecimento da existência desta nulidade,
no momento da ausência do arguido na audiência de julgamento, esta norma não faz
qualquer sentido, daí que estejamos perante um lapso já que o que se pretendia era
remeter para a alínea a) do nº2 e não para a b). Ora, assim sendo aplica-se o prazo geral
de 10 dias – artigo 105.º nº 1 CPP.
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