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Unidade II
5 BREVE HISTÓRIA DA GESTÃO ESCOLAR NO BRASIL
O termo gestão tem origem latina (gerere), significa governar, conduzir, dirigir. De acordo com
Andrade (2001), a palavra portuguesa, gestão, em seu sentido original, vem do termo latino gestio,
que expressa a ação de dirigir, de administrar e de gerir a vida, os destinos, as capacidades das
pessoas e as próprias coisas que lhes pertencem ou que delas fazem uso. Uma parcela da sociedade
compreende gestão como sendo funções burocráticas, destituídas de uma visão humanística,
como ação voltada à orientação do planejamento, da distribuição de bens e da produção desses
bens.
Gestão remete a gestação, ou seja, gerir, trazer à vida. Seu objetivo principal é tornar a vida dos seres
humanos, durante seu período escolar, promissora, digna e humana. Nesse contexto, a gestão vai além
de administrar.
No Brasil, os jesuítas iniciaram e organizaram o processo educativo, que era baseado no conjunto de
preceitos, normas e estratégias denominadas Ratio Studiorum, uma coletânea privada, fundamentada
em experiências e acontecimentos do colégio romano, que buscava instruir rapidamente todo jesuíta
docente sobre a natureza, a extensão e as obrigações do seu cargo. A Ratio Studiorum surgiu para
formar integralmente o homem cristão baseado na fé e na cultura da época e a partir da necessidade
de unificar o processo pedagógico dos jesuítas diante aumento do número de colégios confiados
à Companhia de Jesus, cuja administração era centrada em Roma com a supervisão de um
provincial geral, que atuava como um mediador e responsável em vigiar o cumprimento das
normas nas casas e colégios.
A educação jesuítica entra em crise no Brasil durante o reinado de D. José I, com o primeiro ministro
Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, que desenvolveu estratégias que visavam
modernizar Portugal e transformá-lo em uma metrópole capitalista como a Inglaterra.
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GESTÃO EDUCACIONAL
Ele foi responsável pela expulsão dos jesuítas do Brasil, cujo objetivo foi além de confiscar as
propriedades da Igreja, mas de aprofundar o controle político-econômico nas regiões administradas
pelos jesuítas, o que implicaria uma profunda reforma educacional com a retirada do monopólio da
Igreja.
Para ele, a educação deveria ser usada como uma ferramenta sempre a serviço dos interesses do
Estado. Devido a isso, a administração escolar no período pombalino foi marcada pela intervenção do
Estado na educação, o que criou um sistema educacional nacional ligado a processos políticos e sociais.
Por meio do Alvará Régio de 28 de junho de 1759, o Marquês de Pombal suprimia as escolas jesuíticas
de Portugal e de todas as colônias, ao expulsar os jesuítas da colônia e, ao mesmo tempo, criava as aulas
régias de Latim, Grego, Filosofia e Retórica, que na teoria deveriam suprir as disciplinas antes oferecidas
nos colégios jesuítas.
Nesse período, não havia uma organização ou formalização, as aulas eram independentes, com
um único professor e sem relação entre as disciplinas, o que acabou criando um ensino disperso e
fragmentado.
É importante ressaltar que foram quase trinta anos entre a expulsão dos jesuítas e a assunção do
controle da educação pelo governo português, tempo suficiente para ocasionar o desmantelamento do
único sistema educacional presente no país.
As providencias até então tomadas foram insuficientes para assegurar a continuidade e a expansão
das escolas brasileiras, constantemente reclamadas pelas populações que até então se beneficiavam
dos colégios jesuítas. Percebendo que a educação brasileira estava estagnada, Portugal precisava tomar
uma decisão e implantou o subsídio literário, um imposto colonial que servia para custear o ensino,
aumentou no número de aulas régias, mas ainda muito de maneira precária, devido à escassez de
recursos, de docentes capacitados e de um currículo regular.
Se, para Portugal, as reformas no campo da educação, que levaram à laicização do ensino,
representaram um avanço, para o Brasil, tais reformas significaram um retrocesso na educação escolar,
com o desmantelamento completo da educação brasileira oferecida pelo antigo sistema de educação
jesuítica, mais bem estruturado, organizado e administrado do que as aulas régias. Sendo assim, durante
esse período, a administração escolar ficou limitada a atender aos interesses do governo e da sua corte.
Em 1821, o retorno de D.João VI para Portugal criou transformações na política brasileira devido à
posse de D. Pedro I à frente do Estado e a iniciativa de proclamação da independência política do país
em 1822, dando origem ao início do sistema imperial no Brasil.
O Império lançou um novo olhar sobre a administração escolar no Brasil, estabelecendo uma
relação entre educação e sistema legislativo. A Lei Geral de 15 de outubro de 1827 refletiu acerca da
necessidade da nova nação legislar sobre a administração escolar pública, o que a tornou a primeira
lei de educação no país. Para melhor compreensão, veremos alguns artigos que contribuíram para a
expansão da organização da administração escolar pública no Brasil.
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Unidade II
Art. 1. Em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, haverá as escolas de primeiras
letras que forem necessárias.
Art. 4. As escolas serão do ensino mútuo nas capitais das províncias; e serão também nas
cidades, vilas e lugares populosos delas, em que for possível estabelecerem-se.
Art. 7. Os que pretenderem ser providos nas cadeiras serão examinados publicamente
perante os Presidentes, em Conselho; e estes proverão o que for julgado mais digno e darão
parte ao Governo para sua legal nomeação.
Art. 9. Os Professores atuais não serão providos nas cadeiras que novamente se criarem,
sem exame de aprovação, na forma do Art. 7.
A partir desses artigos, podemos perceber que a nova legislação estabeleceu alguns procedimentos
até então ausentes no sistema educacional, como a organização e formalização das matérias, política
salarial aos docentes e as condições para exercer esse cargo.
Observação
A educação brasileira sofreria mais uma vez com a descentralização do ensino durante o período
regencial. No Ato Adicional de 1834, a administração escolar foi dividida por um sistema de elementos
sociais. A Coroa ficou responsável pelo ensino do nível superior, o que beneficiou apenas a elite, e as
províncias passariam a administrar a educação popular, sendo responsáveis pela escola elementar e
secundária.
às necessidades educacionais, visto no trecho do relatório do Dr. João Alfredo Correia de Oliveira,
publicado no jornal A instrução pública, em 1872:
Durante esse período, a função de administrar e manter as escolas elementares ficava a cargo das
juntas de professores formadas em cada colégio; já o cargo de diretor existia apenas nas escolas do
segundo segmento, e ambas eram subordinadas e controladas pelo Estado.
Lembrete
Durante a Primeira República (1889-1930), inicia-se outra reforma educacional. Essa por sua vez
tendo como base os pensamentos da teoria positivista, que no Brasil era defendida por Benjamin
Constant.
A ideia era reformular o ensino primário e secundário a partir de projetos que buscavam homogeneizar
a criação de novas medidas pedagógicas para a administração das escolas e para a ação dos professores
em sala de aula.
Tais projetos propunham uma educação para todos, mas na prática foi visto um dualismo
acentuado, no qual, de um lado, havia a elitização do ensino, preocupado com estudos científicos
e sua continuidade, enquanto, do outro lado, existia a educação para as massas, que eram
direcionadas para a educação elementar e profissional. Assim, a administração da educação
elementar e profissional era de responsabilidade dos estados, e a educação superior e secundária
caberia à União.
O setor cafeeiro brasileiro entrou em decadência com a Primeira Guerra Mundial em 1914,
e os setores econômicos, como a indústria, passaram a crescer e receber mais investimentos,
levando à ascensão da até então minoria burguesia urbana, que se preocupava com a qualidade
da educação e buscava um ensino acadêmico e científico. Outras classes relacionadas ao setor
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Unidade II
industrial exigiam uma escolarização que atendesse às necessidades mínimas e que possibilitassem
a expansão do ensino.
Com a crise da República Velha, surgem projetos ideológicos, como o dos anarquistas, que, mesmo
sendo reprimido, tendo suas escolas fechadas pelo governo, acabou por deixar suas contribuições, que
mais tarde seriam adotadas, como turmas mistas de meninos e meninas, interação entre classes sociais.
Nesse período, o ensino primário e os cursos de formação de professores não eram descritos nas
leis nacionais; somente com o fim do Estado Novo, em 1946, durante a vigência do Governo Provisório,
o Decreto-lei 8.529, ainda com o nome de Leis Orgânicas, organizou o ensino primário com diretrizes
gerais, mantendo-o sob a responsabilidade dos estados; organizou o ensino primário supletivo,
destinado a adolescentes a partir dos 13 anos e a adultos, com duração de dois anos; criou o Fundo
Nacional do Ensino Primário, com o intuito de adequar mais recursos a esse grau de ensino, a partir
de contribuições dos estados, da União e dos municípios; fixou diretrizes para o ensino normal, mas
manteve a responsabilidade dos estados na sua administração; organizou o ensino agrícola; criou o
Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac).
Mesmo assim, esse período não apresentou mudanças significativas para a maioria da população.
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação (4.024/61) estabeleceu o direito tanto do setor
público quanto do particular em ministrar o ensino no Brasil. Como a gratuidade da educação ficou
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De modo geral, a estrutura do ensino pouco se alterou. O ensino pré-primário foi então definido
como composto de escolas maternais e jardins de infância; o ensino primário com duração de quatro
anos, e o secundário foi subdividido em ginasial, com quatro anos, e colegial, com três anos. O ensino
normal e os técnicos (industrial, agrícola e comercial) não sofreram alterações e, no ensino superior,
destaca-se, em 1961, a criação da Universidade Nacional de Brasília.
Houve um aumento das vagas escolares em todos os níveis do ensino, e mesmo assim uma boa parte
da população ainda não era atendida. Mesmo com acesso, a educação básica era interrompida, visto que
a sua continuidade era severamente seletiva.
A partir de 1964, o regime político do Brasil sofreu um baque com o golpe civil-militar e a
implantação de uma ditadura que se entendeu até 1984. O governo então instalado caracterizou-se
pelo autoritarismo e terror com que comandou o Estado e a educação.
Com o crescimento das indústrias e a chegada das multinacionais, novos postos de empregos foram
criados devido à demanda. O Estado como propulsor da expansão econômica gerou uma crescente
demanda por mão de obra, com diversos níveis de habilitação para atender aos investimentos em
infraestrutura de comunicações, transporte e energia.
Essa demanda exigia qualificação dos profissionais para a ocupação desses novos postos criados
pela expansão econômica; assim, a educação passa a ser vista como caminho para ascensão social das
classes média e baixa.
Já a reforma do ensino no 1º e 2º graus foi promovida por meio da Lei 5.692/71, cujo objetivo geral
era direcionar o ensino para a qualificação profissional. As principais mudanças introduzidas por
essa lei foram: a extensão da obrigatoriedade escolar para oito anos, com a fusão dos antigos cursos
primários e ginásio e a extinção do exame de admissão; a introdução do ensino profissionalizante
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por meio dos ginásios orientados para o trabalho e a implantação da profissionalização compulsória
no ensino de 2º grau.
A política educacional durante o governo militar se caracterizou pela visão utilitarista, sob inspiração
da Teoria do Capital Humano, que pregava que o sistema educacional apenas responde às demandas
individuais, não cabendo como atribuição promover a igualdade de oportunidades. Legitima-se, assim,
as propostas neoliberais de desmantelar o setor público, de transformar a educação num negócio
submetido à lógica do mercado.
Assim, a educação passou a ter a função de habilitar ou qualificar para o mercado de trabalho.
Com a criação da habilitação profissional compulsória aos alunos do 2º grau, o governo tinha por
objetivo inserir uma grande quantidade de alunos, recém-saídos do sistema escolar, diretamente
no mercado de trabalho, diminuindo a pressão dos jovens das classes médias por vagas no ensino
superior.
Em 1975, com o Parecer 76, houve uma tentativa de eliminar o equívoco no entendimento da
Lei 5.692/71 de que toda escola de Ensino Médio (2º grau) deveria se tornar uma escola técnica,
quando não havia recursos materiais, financeiros e humanos para que isso ocorresse. A desistência
da implementação da profissionalização compulsória finalmente aconteceu com a Lei 7.044/82, que a
extingue formalmente, visto que, na prática, nunca chegou a ser efetivamente consolidada. Essa mesma
lei foi revista a partir da concepção vigente antes de 1971, de uma escola dualista: propedêutica e
profissionalizante.
O Estado, com sua concepção ideológica da “doutrina da segurança nacional”, visava combater
a ameaça interna representada pela infiltração comunista, o que vinha justificar a ação repressiva
do governo, que era supostamente exercida em defesa da sociedade brasileira. As universidades e as
agremiações estudantis foram os alvos principais nessa ação de extinguir a resistência às políticas do
governo militar, e o campo da educação sofre com toda essa repressão.
Sobre a ocupação do cargo de diretor de escola, a primeira Lei de Diretrizes de Base da Educação
Nacional (LDB – Lei 4.024/61) estabelecia, no artigo 42, apenas que o diretor da escola deveria ser
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GESTÃO EDUCACIONAL
educador qualificado, definição dada no Parecer 93/62 do antigo Conselho Federal de Educação (CFE),
que, por sua vez, considerava como educador qualificado aquele que reunisse qualidades pessoais
e profissionais que o tornassem capaz de infundir à escola a eficácia do instrumento educativo por
excelência e de transmitir, a professores, alunos e à comunidade, sentimentos, ideias e aspirações de
vigoroso teor cristão, cívico, democrático e cultural.
Logo os Estados passaram a criar regulamentos para o preenchimento do cargo de diretor de escola.
A partir dessa definição do Conselho Federal de Educação, atendendo a LDB, isso perdurou até a reforma
do ensino superior pela Lei 5.540/68, que introduziu a exigência de formação do administrador escolar,
para todos os níveis de ensino, em cursos superiores.
A Resolução CFE 02/69, anexa ao Parecer CFE 252/69, aprovado em 5/3/1969, que dispunha sobre a
estrutura, o funcionamento e os mínimos curriculares do curso de Pedagogia, exigido para a formação
de diretor de escola, determinava:
Tais mudanças na Lei 4.024/61, realizadas pelas Leis 5.540/68 e 5.692/71, no que se refere à exigência
de que o preparo de especialistas destinados ao trabalho de planejamento, supervisão, administração,
inspeção e orientação, no âmbito das escolas e dos sistemas de ensino, fosse feito em nível superior,
levaram à valorização do curso de Pedagogia, visto como curso de formação de professores e dirigentes
escolares.
Assim, a Lei 5.692/71, ao unir os cursos primário e ginasial, que passaram a constituir o ensino de
primeiro grau, com caráter obrigatório e duração de oito anos, extinguia o cargo de diretor de grupo
escolar e criava o cargo de diretor de escola.
de uma equipe escolar que deverá ministrar uma educação básica pública a
um contingente muito maior da população (CORTINA, 1999, p. 68).
Percebemos que o cargo de diretor de escola consolida aos poucos suas funções específicas de
atuação, como controlar e fiscalizar as atividades desenvolvidas na instituição escolar, assegurando
assim a manutenção da ordem exigida pelo governo militar.
Após o período do governo militar, chamado de regime autoritário, no final da década de 1970 se
inicia um processo de redemocratização (anistia política, fim do bipartidarismo etc.), com realizações
de grandes congressos e debates políticos em escala nacional, caracterizando-se como um período de
transição, buscando saídas para o regime ditatorial-militar no país.
A educação brasileira conseguia tomar um rumo próprio, no qual educadores, professores, alunos,
coordenadores, diretores, funcionários e supervisores podiam debater as prioridades do ensino público
em simpósios, congressos e tantos outros eventos, que buscavam sempre a expansão da democratização
do espaço político nas escolas.
A gestão da educação brasileira passou e ainda tem passado por profundas transformações, assim
como demais segmentos, como campo social, político, econômico e científico. Tais mudanças afetaram
profundamente o comportamento das pessoas, no modo de pensar e atuar, nas relações sociais, no
trabalho, enfim, em todos os aspectos da vida humana. As perspectivas para a gestão escolar frente
a essas mudanças propõem desafios e iniciativas que promovam a integração do ambiente escolar à
cultura atual, que estimulem o envolvimento dos estudantes e se amplie a formação e capacitação de
gestores e professores para uma atuação mais dinâmica e participativa.
Observação
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GESTÃO EDUCACIONAL
Saiba mais
6 TIPOS DE GESTÃO
O dicionário Aurélio (2002) define autoridade como: “1.Direito ou poder de se fazer obedecer, de dar
ordens, de tomar decisões, de agir etc. 2. Aquele que tem tal direito ou poder. [...] 5. Poder atribuído a
alguém; domínio. 6. Influência, prestígio, crédito. [...].”
Define autoritário como: “1.Relativo a autoridade. 2. Que se baseia na autoridade, despótico. 3. Que procura
impor-se pela autoridade. 4. Altivo, impositivo, dominador, arrogante. 5.Impetuoso, violento, impulsivo.”
Dentro do ambiente escolar, o autoritarismo pode se configurar na figura do diretor escolar, que
julga ser o único responsável pela escola, o poder estaria centralizado nele.
Uma escola estruturada sob uma gestão autoritária possui um formato no qual não há diálogo, as
decisões estão nas mãos do diretor. Isso ocorre também nos dias atuais, pois historicamente há uma
tradição institucional da educação brasileira. As matrizes sob as quais foi concebida e a busca por
uma gestão democrática são recentes na história do país e ainda são tema de estudos de professores,
gestores e pesquisadores ligados à educação.
A escola é um espaço de muitas práticas além do ensino de conteúdos. Entre elas, políticas, éticas e
institucionais. Nos locais onde prevalece a dominação, fica evidente a presença do autoritarismo.
O diretor escolar tem funções específicas dentro da escola. Cabe a ele administrar as questões
burocráticas da escola, além do aspecto financeiro e também do pedagógico. Assim, assume um papel
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de fundamental importância no funcionamento da escola, porém não deve ser o único a tomar decisões;
essa visão de que todo o poder da escola está centralizado na figura do diretor tem origem histórica, um
resquício da maneira como a educação foi concebida no Brasil.
Um líder toma decisões que influenciam toda a comunidade escolar. Se ele adotar uma postura de
superioridade e imposição daquilo que acredita, acaba por coagir professores, alunos, funcionários, pais
e a comunidade escolar. O sentimento que fica é o de medo, ameaça, perseguição, utilizado na tentativa
de se manter o controle da instituição escolar.
Na sociedade, não é apenas na escola que esse perfil de gestor aparece, mas o espaço escolar é um
local onde questões sociais, democráticas e participativas deveriam se iniciar.
Uma maneira de superar esse perfil de diretor autoritário seria a extinção da nomeação de pessoas
para esse cargo por indicações políticas baseadas no interesse vigente, e sim a escolha por concurso
público, por meio do qual os candidatos tenham que comprovar capacidades e habilidades para
exercer essa função. Um gestor definido de maneira democrática possibilita também uma gestão
democrática.
Saiba mais
SOCIEDADE dos Poetas Mortos. Dir. Peter Weir, 128 minutos, 1990.
A gestão centralizada estabelece uma autoridade global, governamental ou estatal, que regula
e preside as atividades de todas as unidades do sistema integrado. É pautada sempre pelos mesmos
objetivos: centralizar, unificar e integrar.
O Estado e os governos viram, na educação, um meio excelente para afirmarem a sua autoridade.
Por meio da educação, esperavam, seria possível formar cidadãos, zelar pelas consciências, cuidar pelos
comportamentos e formar técnicos e trabalhadores.
A unidade do sistema era defendida e promovida a fim de facilitar a gestão centralizada do sistema. A
sua homogeneidade era considerada indispensável para obter economias de escala na administração de
um corpo social e administrativo que não cessou de crescer. Até para permitir a liberdade de circulação
e a mobilidade dentro do sistema de professores e de estudantes e alunos, foi postulada a necessidade
da igualdade entre todas as partes.
Embora com valores diferentes, tanto a República como o Estado Novo tentaram impor um modelo
único de educação, uma escola politicamente orientada e uma pedagogia ideologicamente definida,
assim como um sistema educativo submetido ao Estado. A laicização não contribuiu apenas para o
desenvolvimento de escolas tolerantes e pluralistas, mas também ideológicas e orientadas. A natureza
real da escola e do sistema educativo acabou por depender mais da sociedade envolvente e do regime
político e social do que das doutrinas pedagógicas.
Finalmente, não parece razoável, nem empiricamente demonstrável, pensar que o centralismo
político tenha tido uma contribuição decisiva para o desenvolvimento ou o atraso da educação, da
cultura ou até da economia. Na verdade, praticamente todos os sistemas educativos ocidentais são mais
centralizados do que descentralizados, enquanto os graus de desenvolvimento de cada país são muito
diferentes.
O processo de descentralização do ensino no Brasil teve seu início no período colonial. A delegação à
Companhia de Jesus da organização da educação e criação de uma escola na então colônia de Portugal
caracterizou a política educacional descentralista da Coroa portuguesa. Isso revela certa contradição, uma
vez que notadamente o período colonial se caracterizou por um regime excessivamente centralizador
de poder.
Em 1772, foi instituído o subsídio literário, fato que marcou decisivamente a participação
municipal no custeio da educação básica, uma vez que a cobrança de tal tributo era tarefa das
câmaras municipais.
A Constituição Federal de 1988, a Lei 9394/96, a Emenda Constitucional 14/96 e a Lei 9424/96
constituem os instrumentos legais onde se ancoram as políticas descentralistas, visto que
estabelecem as responsabilidades dos entes da Federação no que tange à oferta do ensino público,
definindo inclusive as fontes financiadoras. O fato de a Constituição Federal de 1988 consagrar
aos municípios o direito a organizar sistemas de ensino autônomos, assim como definir suas áreas
de atuação prioritária em matéria educacional (artigo 211), constitui-se em marco em matéria de
descentralização do ensino.
A legislação posterior (Lei 9.394/96, Emenda Constitucional 14/96 e Lei 9.424/96) aprofundou essa
tendência descentralizadora:
Nesse contexto descentralizador, a gestão do Ensino Fundamental pelo município tem sido uma
prática frequente. É comum, no entanto, creditar as recentes reformas descentralistas ao advento da
recuperação das bases do Estado Federativo do Brasil – originada das deliberações da Constituição
Federal de 1988. Embora tais processos tenham ocorrido quase que simultaneamente, “federalismo e
descentralização não implicam engenharias políticas gêmeas” (ARRETCHE, 2002, p. 27).
O que determina a distinção entre Estados unitários e federativos são as formas de distribuição da
autoridade política dos Estados nacionais. Enquanto em um a autoridade política, fiscal e militar está
concentrada no governo central, derivada do voto popular direto, nos outros, os diferentes tipos de
governo têm autoridade sobre a mesma população e território.
Nos anos 1980, no Brasil, houve a retomada das eleições diretas para todos os níveis de governo e a
descentralização fiscal da Constituição de 1988, recuperando assim as bases do Estado Federativo. O que
não significou, necessariamente, uma descentralização da gestão política, pois esta estaria relacionada
à questão de distribuição das funções administrativas e não somente da autonomia política e fiscal.
Apesar das instituições políticas federativas estarem plenamente instauradas, isso não significava que a
gestão das políticas fosse descentralizada.
No início dos anos de 1990, a gestão das políticas públicas da área social ainda estava sob a
responsabilidade da gestão e do financiamento do governo federal, embora o federalismo já estivesse
plenamente instaurado.
No que se refere às políticas educacionais, é preciso considerar que, embora a recuperação do Estado
federativo possa ter impulsionado a descentralização nessa área, a educação municipal já era uma
realidade no Brasil.
Nas décadas de 1980 e 1990, os municípios apresentavam uma participação significativa na gestão
da educação e oferta de ensino, mas de fato foi uma época em que mais se consolidou a implementação
de políticas indutoras da descentralização, concretizada sob forma de municipalização da oferta e da
gestão do ensino e ao contexto político e administrativo.
Daí surge a necessidade de se indicarem soluções para unidades educacionais que fracassam por
não conseguirem gerir diretamente as condições operacionais do ensino, reconhecendo a relevância da
dinâmica social da escola, com sua identidade e culturas próprias que necessitam que decisões sobre
75
Unidade II
suas ações sejam imediatas. E, por último, a necessidade de se conceber a escola dentro de um processo
educacional formativo, contínuo, visando a uma formação democrática.
Para que realmente ocorra a descentralização, o poder de decisão sobre o que é relevante no campo
pedagógico e administrativo deve se instalar na escola, para assim assumir concepção democrática que
valoriza o desenvolvimento pessoal, a qualificação profissional e a competência técnica na construção
da autonomia da escola, exigindo práticas democráticas no cotidiano da escola.
A discussão sobre a gestão democrática tornou-se comum, porem é preciso ter bem claros os
conceitos que embasam uma gestão democrática para não cair em uma gestão autoritária inconsciente.
Para o educador Paulo Freire, o processo de educação ocorre na medida em que as práticas são
baseadas no diálogo e na participação dos indivíduos como sujeitos políticos, em uma educação para o
desenvolvimento da cidadania.
Para o autor, a partir dessa prática educativa, o indivíduo passa a fazer uma leitura do mundo de
maneira critica, refletindo e atuando sobre a própria educação.
Lembrete
A gestão da escola se traduz cotidianamente como um ato político, que implica a tomada de decisão
dos atores sociais cuja concepção não deve ser individual, mas sim coletiva. Assim, efetiva-se como
processo de aprendizagem político fundamental para a construção de uma cultura de participação,
levando à nova escola.
Figura 13
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Unidade II
A autora ainda cita as seguintes formas participação: por presença; como expressão verbal e
discussão; como representação política; como tomada de decisão; como engajamento. Acrescenta
que a participação deve ser orientada por valores, princípios e objetivos. Entre os valores, cita: ética,
solidariedade, equidade e compromisso.
Como princípios da gestão participativa, a autora destaca: a democracia é vivência social comprometida
com o coletivo; a construção do conhecimento sobre a realidade escolar é resultado da construção
dessa realidade; a participação é uma necessidade humana; a participação implica uma visão global do
processo social. Um gestor, ao buscar promover a participação, estará lidando com alguns limites, entre
eles: formalização dos papéis e funções; tamanho da escola; natureza autoritária e centralizadora de
nossa cultura escolar; participação entendida apenas como voto. Sugere algumas formas de lidar com
esses limites, entre elas: criação de uma visão de conjunto associada a uma ação cooperativa; promoção
de um clima de confiança e reciprocidade; valorização das capacidades e aptidões dos participantes;
quebra de arestas e eliminação de divisões; estabelecimento de demanda de trabalho centrada em ideias
e não em indivíduos; desenvolvimento da prática da assunção de responsabilidades em conjunto.
A gestão democrática exige participação, existem formas e estratégias de participação e que cabe ao
gestor buscar e mobilizar a comunidade escolar para participar.
Na gestão participativa, é necessário que haja integração entre as várias partes (funções) da estrutura
organizacional, em que conselho de escola, direção, coordenação, setor pedagógico, professores, alunos,
setor técnico e administrativo, pais e comunidade devem coordenar suas ações para a melhoria do
processo educacional.
Uma gestão participativa pressupõe que só é possível transformar o processo educacional na medida
em que os envolvidos tomem consciência de que são responsáveis por essa transformação.
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GESTÃO EDUCACIONAL
A LDB 9394/96 aponta direções para o desenvolvimento da gestão democrática no ensino público,
no seu Art. 14, enquanto determina que (BRASIL, 1996):
Com base na LDB, é compromisso dos sistemas de ensino assegurarem às escolas públicas de educação
básica progressivos graus de autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira, o que
representa uma descentralização de poder. As decisões de caráter financeiro do conselho escolar devem
levar em conta as necessidades da escola no sentido de operacionalizar a sua proposta pedagógica. Com
essas determinações, a legislação brasileira prevê a democratização do ensino público.
De acordo com Barroso (1998), o conceito de autonomia está etimologicamente ligado à ideia
de autogoverno, de se reger por regras próprias. Se a autonomia pressupõe a liberdade de decidir,
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Unidade II
ela não se confunde com a independência. A ação da autonomia se exerce sempre num contexto de
interdependência e num sistema de relações, exprimindo sempre certo grau de relatividade: pode-se ser
autônomo em relação a umas coisas e não o ser em relação à outra.
Neste contexto, a autonomia da escola não é algo adquirido, mas construído com base na
inter‑relação, buscando a própria identidade, os envolvidos interagem entre si.
A busca pela autonomia da escola se dá por meio do seu sistema de ensino, provocando o rompimento
do paradigma existente para instituir um novo modelo de governabilidade. A eficácia desta ação vai
depender da ousadia de cada escola de vivenciar essa nova realidade, construindo nos acertos e nos
erros, fortalecendo a confiança para administrar seus problemas.
Observação
A autonomia escolar deve surgir primeiramente do desejo dos que atuam na escola, para assim
partir em busca de seus ideais. Podemos concluir que a autonomia é resultado de um percurso, de um
movimento que implica esforço e exercício do poder e não se sustenta sem uma atuação ativa dos
envolvidos.
Além de se implantar a autonomia das escolas, devem-se criar as condições para que ela seja
construída em cada escola, de maneira que ela se torne uma necessidade.
A questão não é determinar autonomia às escolas, mas sim reconhecê-la como um meio de
a escola realizar, em melhores condições, as suas finalidades, ter discernimento, organizar-se em
função de metas, estabelecerem critérios e eleger princípios éticos, governar-se, promover gestão
de ações coletivas.
Esse conceito de autonomia está relacionado com a globalização e com a mudança de paradigma
nas concepções de gestão escolar e nas ações realizadas por ela.
Lembrete
Dimensões da autonomia
Quando nos referimos a dar à escola autonomia para sua gestão, isso implica legitimar o poder de
decisão no interior da escola nas dimensões pedagógica, administrativa e financeira. Dessa forma, o
poder de decisão passa a ser partilhado pela comunidade escolar, influenciando as práticas, as políticas
e as direções organizacionais.
No que diz respeito à dimensão pedagógica, deve ser concebida na essência da atividade educacional,
entendendo essa como parte integrada às demais dimensões, constituindo-se como referência, trazendo
para o espaço da escola a reflexão por um ensino de qualidade.
Devido à burocracia que envolve os serviços educativos, sabemos que o sistema não é autêntico.
Portanto, para que a verdadeira educação se estabeleça na escola, é preciso que nesta haja a autonomia
pedagógica, o que implica a necessidade da autonomia administrativa.
A escola com autonomia financeira adquire uma nova dinâmica, tornando-se capaz de alterar
a estrutura organizacional de seu sistema. Adquire o poder de resolver problemas imediatamente,
reduzindo a burocracia e dando importância ao seu planejamento e suas decisões, ganha eficiência na
aquisição e distribuição de bens e serviços.
rápida e urgente as soluções que são reclamadas, os imprevistos que surgem, em busca de atender as
necessidades do cotidiano da escola.
O gestor da escola é provido de autonomia e, tendo o recurso, o atendimento é feito com toda
propriedade e rapidez, mas quando não há descentralização financeira, o problema se estende e a
solução tardia consequentemente desencadeia novas consequências.
Quando o repasse dos recursos às escolas está garantido, o Conselho de Escola, instrumento legítimo
de participação da comunidade, é o órgão responsável para gerenciar os recursos, de acordo com os
objetivos e metas definidos.
A autonomia será sempre interdependente, não alcançando sua forma absoluta, a exemplo da
dimensão financeira que se submete às exigências das normas gerais de direito financeiro público,
consagradas nas Leis 4.320/64, 8.666/93 e na Lei de Responsabilidade Fiscal 101/2000, segundo
a qual a escola não conta com receitas próprias capazes de sustentar a condição de autonomia. As
autonomias pedagógicas, administrativas e de gestão financeira fazem parte de um processo construído
coletivamente, exigindo muita participação, empenho e responsabilidade dos seus envolvidos, seja nos
acertos ou erros das decisões tomadas.
a própria escola torne-se também centro de decisão inacessível em virtude de sua fragilidade decorrente
do padrão de gestão centralizado, que resulta no alheamento das escolas nas tomadas de decisões.
Segundo Melo (2000), o medo da instabilidade e descontinuidade política pode resultar em danos
para a educação. Seja porque novos dirigentes podem refuncionalizar a meta de autonomia para
transformá-la, na prática, em abandono e descompromisso ao poder público; seja porque, num processo
de descentralização que visa à escola, pode-se desarticular seu modo de funcionamento tradicional sem
que tenha havido tempo de consolidar formas mais autônomas de gestão.
É necessário reconhecer que consolidar uma gestão autônoma significa torná-la plenamente
soberana. O Estado continua corresponsável, desempenhando o papel de parceiro na manutenção
das escolas, avaliando, supervisionando e participando para assegurar o gerenciamento com plena
autonomia. Ao estabelecer essa autonomia, não há a isenção da atuação do Estado e de suas instâncias
centrais da administração, não significa que haverá um descompromisso do governo com o ensino.
Implica profunda revisão e fortalecimento de suas novas funções e papéis, visando conceder poder e
governabilidade às instâncias educativas.
Tais questionamentos não devem impedir a escola de caminhar em direção à autonomia, pois
há necessidade do fortalecimento dessa autonomia, mesmo que seja implantada lentamente, mas
percorrendo as dificuldades e tornando-se um fator decisivo para um novo modelo de gestão educacional.
A concretização da autonomia na escola está relacionada com uma série de características, que
devem ser visualizadas em conjunto.
• Autonomia é construção
situação seria irreal na dimensão social. A interdependência é a regra geral que rege todas
as organizações sociais.
• Autonomia é transparência
Não basta assumir uma responsabilidade. É preciso dar conta dela e prestar contas para a
sociedade do que é feito em seu nome. Em vista disso, a sua prática envolve monitoramento,
avaliação e comunicação de ações e seus resultados. Em última instância, autonomia e
transparência implicam abrir a “caixa-preta” da escola (para a comunidade) e do sistema de
ensino (para a sociedade).
85
Unidade II
Autonomia não é um processo interno à escola, mas sim um princípio que deve permear
todo o sistema e até mesmo a sociedade. É por isso que não se realiza autonomia por decreto,
nem se delega condições de autonomia. Para ser plena, necessita de que, no âmbito macro
de gestão, que tanta influência exerce sobre a escola, não apenas por suas regulamentações
e determinações, mas por seu modo de ser e de fazer, adote-se a prática da construção de
sua própria autonomia, que implica sua responsabilização pelo todo.
Fonte: LÜCK, H. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto à formação de seus gestores. Em aberto.
Brasília: INEP, v. 17, n. 72, p. 11-33, fev./jun. 2000.
No entanto, é utopia afirmar que a maioria das escolas possui uma gestão democrática, há de se
reconhecer a existência de escolas que continuam estagnadas. A autonomia é um meio, um instrumento
de promoção do exercício da cidadania, é algo possível porque é desejável, positiva, irreversível na
concretização de uma educação libertadora e cidadã.
86
GESTÃO EDUCACIONAL
Nas teorias tradicionais temos idealizadores como Frederick Winslow, um engenheiro norte-
americano criador da Escola de Administração Científica, e Henri Fayol, um francês, criador da Escola
Clássica de Administração.
Já no campo das teorias modernas de gestão, podemos citar Peter Drucker, com a concepção da
administração por objetivos, defendida por ele em 1954 na obra A prática da administração das empresas.
Surge também a administração contingencial, concebida sob a ideia da possibilidade de “algo incerto
ou eventual, que pode suceder ou não”. Já a administração estratégica defende um processo interativo
e contínuo, integrado ao ambiente de forma apropriada, visando a uma manutenção da organização.
Ainda sobre as teorias modernas, temos a administração participativa, que se baseia em uma filosofia
ou política de administração de pessoas, que valoriza a capacidade do individuo de tomar decisões e
resolver problemas, contribuindo para um melhor desempenho e a competitividade das organizações.
Já nas teorias emergentes de gestão, temos como idealizador Fritjof Capra, um físico austríaco que,
em sua obra O ponto de mutação, publicada em 1982, traz um pensamento sistêmico, no qual compara
o pensamento cartesiano, reducionista, modelo para o método científico desenvolvido nos últimos
séculos, e os paradigmas emergentes do século XX, propondo a reengenharia, que trata da necessidade
que as empresas têm de adaptar ao ambiente, e a Teoria da Administração Virtual, ligada à revolução
da informação.
Observação
A escola, e por consequência a sua administração, está inserida num contexto capitalista, sofrendo
as influências, ideologias e valores presentes nessa sociedade, permanecendo suscetíveis a problemas
87
Unidade II
de administração presentes em qualquer empresa, visto que a escola lida com elementos presentes na
administração, como organização, planejamento, controle e implementação, que se inter-relacionam,
mas que, pela sua importância e para efeitos de estudo, devem ser observados de maneira individual.
Martins (1991) aponta oito princípios fundamentais da administração. Defende que eles estão
presentes em qualquer tipo de administração, seja ela pública ou privada.
2) Princípio da liderança.
3) Princípio da funcionalização.
5) Princípio da coordenação.
6) Princípio do controle.
7) Princípio da experimentação.
8) Princípio da elasticidade.
Lembrete
Com base nos conceitos obtidos e considerações acerca da administração, podemos agora tratar de
uma administração específica: a escolar.
88
GESTÃO EDUCACIONAL
A Constituição Federal de 1988 estabelece no seu artigo 206 que a forma de gestão da
educação brasileira deve ser a democrática e participativa, como atesta o inciso VI do referido
artigo: “gestão democrática do ensino público, na forma da lei” (BRASIL, 1988). Já no artigo
3º, inciso VIII, da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (9394/96), diz que a gestão do
ensino público deve ser democrática, respeitando a forma da lei e da legislação dos sistemas de
ensino. O artigo 14 dessa mesma lei estabelece que os sistemas de ensino definirão as normas da
gestão democrática do ensino público, na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades
e conforme os seguintes princípios:
Evidencia-se uma forma democrática e participativa que deve permear a gestão escolar, por meio da
qual se busca que os sistemas de ensino possam organizar e adaptar a gestão pública escolar, conforme
o contexto em que ela está inserida.
A democracia é que vem propiciando maior liberdade e autonomia de expressão e participação nas
tomadas de decisões para as políticas sociais.
No que se refere à educação, alguns focos de participação e de autonomia também podem ser
observados. As administrações escolares e a comunidade são acolhidas e incentivadas a participar e cuidar
da educação. Esses mecanismos de participação começam pela escolha do gestor, preferencialmente
via eleições diretas, que possibilitam a integração da comunidade escolar e a participação desta no
desenvolvimento das ações didático-pedagógicas e técnico-administrativas, assim como na avaliação
dessas.
A prática da gestão nas escolas públicas apresenta quatro formas de escolha de diretor de
escolas, tanto na educação básica quanto no ensino superior: nomeação, concurso, eleição e
esquemas mistos.
89
Unidade II
Nesse contexto, o cargo de diretor escolar é estratégico do governo para as manobras políticas
eleitoreiras, tanto na distribuição de cargos como na arrecadação de mais votos nos períodos de
campanhas.
a) Nomeação
b) Concurso público
Parece ser a maneira mais democrática e segura de se escolher um indivíduo para exercer o
cargo, mas na prática esconde algumas sutilezas, como determinadas preferências dos governantes:
nem sempre os melhores são aprovados, além de, às vezes, o profissional possuir pouca ou nenhuma
identificação com a comunidade escolar em que vai atuar.
Segundo Paro (1992, p. 39-47), “o diretor escolhe a escola, mas nem a escola nem a comunidade
podem escolher o diretor”. Isso significa que o concurso acaba sendo democrático para o candidato, que,
sendo aprovado, pode escolher a escola onde irá atuar, mas é antidemocrático em relação à vontade da
comunidade escolar, que é obrigada a aceitar a escolha do primeiro.
Quando isso acontece, o diretor pode não se comprometer com os objetivos educacionais
articulados com os interesses da comunidade escolar, o que gera a negligência em relação às
formas democráticas de gestão.
90
GESTÃO EDUCACIONAL
c) Eleição direta
Vista por muitos estudiosos da área da educação como a maneira mais coerente de se chegar à gestão
democrática escolar, pois favorece um sistema emancipatório, autônomo, democrático e participativo, por
oportunizar, mediante legislação específica, o exercício de escolha e participação de toda a comunidade escolar,
não apenas na escolha, mas também durante toda a gestão, em que o gestor eleito tratará das necessidades da
comunidade escolar e a ela submeterá o seu mandato, oportunizando o crescimento do processo educacional.
A escolha via eleição direta está baseada na manifestação da vontade da comunidade escolar. A
eleição pode-se efetivar sob diversas formas: voto direto, representativo, uninominal ou ainda por escolha
a partir de listas tríplices ou plurinominais. As experiências com esse tipo de escolha têm mostrado que
tal critério favorece a discussão democrática na escola e acaba implicando maior distribuição do poder
para as instâncias da base da pirâmide estatal.
A escolha do gestor escolar por eleições livres e diretas representa uma forma
democrática e participativa. A forma como é feita essa escolha necessita de uma
legislação clara, simples e objetiva, que deve ser uma Lei votada pela câmara de
vereadores da cidade, com normatização, via resolução, elaborada pelo Conselho
Municipal de Educação. Desse modo, [...] introduzindo a eleição de dirigentes
escolares e os conselhos escolares, garante a liberdade de expressão, de pensamento,
de criação e de organização coletiva na escola, e facilita a luta por condições
materiais para aquisição e manutenção dos equipamentos escolares, bem como
por salários dignos a todos os profissionais da educação (BASTOS, 2002, p. 8).
A participação da comunidade escolar e o processo dessa gestão se fazem efetivamente por meios
democráticos e participativos, por exemplo, por meio de conselhos de escola, grêmios estudantis e/ou
associações de pais e mestres. Entende-se que são os interesses da comunidade escolar voltados para o
processo ensino-aprendizagem.
[...] podemos constatar as temáticas que mais foram objeto do debate sobre gestão
democrática. Entre as mais discutidas estão as eleições diretas para dirigentes
escolares, a autonomia da gestão administrativa e pedagógica da escola, a
participação das entidades nas políticas públicas de educação, mais verbas para a
educação, a democracia na sociedade e na escola [...] (BASTOS, 2002, p. 14).
Nesse processo, a rotatividade de professores frente à direção da escola é um benefício, pois permite maior
democracia e menos autoritarismo no processo educativo, evita o sistema vitalício de administração, em que o diretor
pode sentir-se dono da escola e não promover a participação da comunidade nas decisões referentes à escola.
91
Unidade II
d) Formas mistas
Podem ser maneiras alternativas para inovar na escolha do gestor, porém ainda necessitam de uma
série de aprimoramentos e estudos, para evitar o controle dirigente de autoridades mal-intencionadas
predominante no Brasil.
Os recentes esforços por reformas no ensino e reestruturação das escolas, o que exige uma mudança
na natureza das relações entre diretores e os demais envolvidos no processo educativo. Tais mudanças
causam impacto no ambiente externo e no controle do funcionamento interno das escolas.
Refletimos muito sobre a descentralização da gestão e democratização da mesma, mas qual seria
então o papel do diretor em meio a essas questões?
Observação
Saiba mais
Para embasar ainda mais nossas reflexões, convido você a ler um artigo
intitulado Papel dos gestores educacionais num contexto de descentralização
para a escola, de Ana Luiza Machado, disponível no link a seguir:
<http://www.schwartzman.org.br/simon/delphi/pdf/amachado.pdf>.
92
GESTÃO EDUCACIONAL
Planejar é uma atividade que faz parte do ser humano [...]. Planejar é antecipar mentalmente uma
ação a ser realizada e agir de acordo com o previsto; é fazer algo incrível, essencialmente humano:
o real comandado pelo ideal [...]. Planejar ajuda concretizar o que se almeja (relação teoria-prática);
aquele algo que planejamos é possível acontecer: podemos, em certa medida, interferir na realidade [...]
(VASCONCELOS, 2002, p. 16-35).
Após a promulgação da LDB (Lei Federal 9.394, 20/12/1996), intensificou-se a discussão em torno do
Projeto Político-Pedagógico (PPP ou Proposta Pedagógica) para a escola.
[...]
[...]
93
Unidade II
Assim, toda instituição deve construir seu PPP com base nas leis de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e no Plano Nacional de Educação.
Por estar intimamente ligado à questão sociopolítica, o projeto de uma escola faz-se então político,
efetivando a intencionalidade da escola.
Portanto, o projeto político pedagógico não é apenas um documento burocrático, ele deve ser
construído democrática e coletivamente, trazendo uma constante ação e reflexão no âmbito escolar.
O objetivo do PPP, segundo Santiago (2001), é buscar uma projeção de uma sociedade
idealizada pelos princípios de igualdade, liberdade e justiça. E, neste contexto, o PPP contribui
para alcançar esse objetivo, fazendo uso de um currículo cientificamente organizado e capaz de
conduzir o educando à mudança de atitude, domínio de conhecimentos e habilidades compatíveis
com as demandas sociais.
O PPP deve ser construído coletivamente. Nele, devemos encontrar os objetivos e as propostas dos
profissionais da educação que estão atuando na instituição e as medidas do que se pretende mudar
nela. É importante constar qual base curricular orientará a ação didático-pedagógica dos profissionais
da escola, que tipo de aluno se pretende formar e as estratégias de integração entre a escola e a
comunidade.
Outro aspecto relevante sobre o PPP é que ele confere identidade à escola, está impregnado da
cultura escolar, com esta favorecendo a consciência e a consciência do processo educativo.
O PPP passa por fases como elaboração, regulação, implementação, avaliação e, se necessário,
o redirecionamento, sendo que nesse processo a participação dos envolvidos é de extrema
importância.
95
Unidade II
Assim, como ponto de partida para esse processo, temos a figura do diretor.
Nesse processo, a gestão democrática necessita ser vivenciada no cotidiano escolar, para o efetivo
exercício da participação de todos.
Podemos então dizer que o papel do diretor influencia profundamente na elaboração e implementação
do PPP, na medida em que propicia as condições conscientes e favoráveis à sua elaboração e execução,
partindo do princípio de que a autonomia deve emergir da própria escola, assegurando autenticidade
das propostas do PPP.
96
GESTÃO EDUCACIONAL
Saiba mais
Observação
Para elevarmos nossa reflexão acerca das questões de gestão escolar, gestão democrática e
todos as facetas envolvidas no assunto, temas desta unidade, assim como sua importância no
contexto contemporâneo, convido você a ler o artigo a seguir, devido a sua relevância e a fim de
compor e ampliar a visão sobre os assuntos tratados e levantar questionamentos que permitam
uma reflexão maior.
Durante um ano, uma equipe comandada por ela entrevistou mais de 200 pessoas
e visitou 120 escolas em vinte países. Justamente aqueles com resultados mais
extraordinários na educação, caso de Cingapura, Coréia do Sul e Finlândia. O maior
mérito do trabalho é chamar a atenção para práticas comuns a esses países, todas
testadas com sucesso na sala de aula. Na semana passada, Mona esteve em São Paulo
para falar sobre o estudo a representantes do Ministério da Educação (MEC) e de
secretarias de ensino. Ela diz: “Estou certa de que outros países podem se beneficiar
dessas práticas a curto prazo e sem gastar muito”. Em entrevista a VEJA, a consultora
97
Unidade II
fala de sete medidas aplicadas com sucesso nos países que estudou – e que podem
ajudar também a elevar o nível do ensino no Brasil.
Para sonhar com um lugar numa dessas faculdades (e muita gente lá sonha mesmo), é
preciso ainda passar por provas, entrevistas e aulas demonstrativas devidamente avaliadas
por especialistas. Com tantos filtros na entrada, a experiência aponta para três efeitos
positivos: não se desperdiça tempo nem dinheiro na formação de gente sem talento, a
qualidade dos cursos aumenta e a carreira de professor, naturalmente, ganha novo status.
Nada disso faria mal ao Brasil.
Mais do que isso: aos tutores é designada a tarefa de avaliar o desempenho dos
aspirantes a professor, corrigir eventuais falhas e ensinar tudo na prática – chance que os
estudantes brasileiros raramente têm. A decisão de criar essa função, tomada por governos
de diferentes países, ajudou a elevar o nível dos professores recém-formados. Deu tão certo
que, em alguns lugares, tais profissionais já são figuras permanentes nas escolas, caso da
Inglaterra. Lá, eles não apenas dão consultoria aos principiantes como avaliam, diariamente,
o nível geral do ensino.
Esses países não fizeram isso sem consultar as pesquisas. Segundo elas, turmas
maiores não prejudicam o ensino de maneira significativa, como apregoa o senso comum.
Por outro lado, um bom salário inicial tem funcionado como poderoso fator de atração
98
GESTÃO EDUCACIONAL
MBA para os diretores – em geral, vale a regra: quanto mais eficiente o diretor, melhor
é o ensino da escola. Por isso, países de educação exemplar se empenharam em encontrar
uma fórmula para chegar aos melhores e treiná-los para exercer a função. Enquanto em
nações que aparecem na rabeira dos rankings, como o Brasil, os diretores ainda tomam
decisões com base na intuição, naquelas que estão no topo eles só podem ocupar o cargo
depois de passar por uma espécie de MBA.
Durante seis meses, frequentam cursos para aprender técnicas elementares de gestão
e fazem estágio em grandes empresas, nas quais observam os métodos aplicados por
executivos. É assim em Cingapura, país que levou às últimas consequências o treinamento
de diretores na iniciativa privada. Ninguém lá é empossado sem antes se internar numa
multinacional, entre as quais HP e IBM, e provar, por meio de avaliações, ter aprendido a
traçar metas, cobrar resultados e estimular uma equipe.
Ainda que não pairem dúvidas sobre o mérito dessa prática, ela é rara no Brasil. Para se
ter uma ideia, apenas recentemente o estado de São Paulo passou a adotar um currículo
único nas escolas – até o ano passado, eram 600 deles. São justamente os países de mau
99
Unidade II
ensino, como o Brasil, que mais precisam dos currículos, e eles devem ser prescritivos. Só
é recomendado que se tornem mais flexíveis quando o país já tiver enraizado a cultura do
bom ensino, o que não é o caso do Brasil.
Aula particular de graça – em escolas públicas de países como a Finlândia, nada funcionou
tão bem no combate à repetência como a implantação de um sistema para atender os
estudantes com dificuldade de aprender, à parte das aulas. O reforço escolar é levado tão a
sério que em cada escola há alguém designado para ministrar as tais aulas particulares. Esses
professores não costumam se queixar. Ganham mais e têm boas condições de trabalho: são
treinados durante um ano para a função e ainda contam com a ajuda de psicólogos para
lidar com os casos mais difíceis.
Não é pouca gente que frequenta esse tipo de aula: cerca de 30% dos alunos. A decisão
de investir aí se provou acertada – até do ponto de vista financeiro. Cada aluno que
repete custa algo como 20.000 dólares a mais aos cofres públicos. Ao fazerem as contas,
os especialistas concluíram que custa menos pagar pelo reforço escolar. Depois dele, a
reprovação sempre despenca – algo que em países campeões em repetência como o Brasil
é emergencial – e o ensino melhora.
Fonte: PEREIRA, C. Medidas testadas e aprovadas. Revista VEJA, São Paulo, n. 2065,
p. 128-130, 18 jun. 2008.
Saiba mais
Resumo
Exercícios
I – Após o final do regime militar, a educação brasileira conseguiu tomar outro rumo, no qual
educadores, professores, alunos, coordenadores, diretores, funcionários e supervisores podem debater as
prioridades do ensino público de várias formas.
II – A gestão da educação brasileira passou por transformações importantes, igualmente vividas nos
campos social, político, econômico e científico.
III – Os aspectos de organização política não devem influenciar a gestão educacional, que precisa
manter-se à margem desse debate para poder preservar a disciplina e a ordem como elementos
fundamentais da aprendizagem.
104
GESTÃO EDUCACIONAL
IV – Bons salários para professores e gestores educacionais são os fatores preponderantes para um
bom sistema de ensino. A participação democrática vem depois e não tem a mesma relevância.
A) I e III.
B) III, IV e V.
C) I, II e V.
D) III e IV.
E) II e IV.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a afirmativa I está correta porque ao final do regime militar o Brasil viveu um
momento de intensa participação social, durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte
e após a promulgação da Constituição Federal, e isso permitiu que educadores, professores, alunos,
coordenadores, diretores, funcionários e supervisores pudessem debater as prioridades do ensino
público de várias formas. A afirmativa III está incorreta porque a organização política de uma sociedade
influencia a gestão educacional de forma imediata, porque a escola é um ente vivo, situado em uma
dada sociedade e em um dado momento histórico. Além disso, a alternativa III está incorreta porque a
experiência acumulada por educadores, gestores e estudiosos de educação já comprovou que disciplina
e ordem não são os únicos elementos fundamentais para a aprendizagem.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a afirmativa III já foi explicada anteriormente. A afirmativa IV está incorreta porque
bons salários para professores e gestores não são os fatores preponderantes para um bom sistema de
ensino, embora sejam muito relevantes. De nada adiantará uma remuneração adequada em uma gestão
pouco democrática, com práticas irresponsáveis e autoritárias. A afirmativa V está correta porque
promover uma atuação de professores, gestores e alunos de forma mais dinâmica e participativa é um
dos grandes desafios da escola contemporânea no Brasil.
105
Unidade II
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
E) Alternativa incorreta.
D) Facultativa para os que ministrarem aulas em mais de uma escola, mesmo sendo uma pública e
uma particular.
E) Desprovida de regulamentação.
106
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
Figura 9
Figura 10
107
Figura 11
REFERÊNCIAS
Audiovisuais
Textuais
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