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A Espiritualidade na Velhice

Vamos diferenciar !!

Ø Religiosidade é a crença com práticas a alguma


instituição religiosa organizada, associada ao
coletivo. Trata dos rituais, práticas e símbolos.

Ø Espiritualidade envolve um sentido de bem-estar


com algo maior, divino, fornecendo um sentido e
significado maior à vida e a existência, indo além
da religião e religiosidade A espiritualidade,
segundo Volcan et al. (2003), está vinculada a
uma procura pessoal de sentido, com ênfase no
aperfeiçoamento do potencial humano
Ø Fé é uma palavra que significa confiança, crença, credibilidade. A
fé é um sentimento de total crença em algo ou alguém, ainda que
não haja nenhum tipo de evidência que comprove a veracidade
da proposição em causa. Ter fé implica uma atitude contrária à
dúvida e está intimamente ligada à confiança. Em algumas
situações, como problemas emocionais ou físicos, ter fé significa
ter esperança de que algo vai mudar de forma positiva, para
melhor.

Ø Transcender, segundo os dicionários, significa passar a um


próximo nível, superando as limitações atuais. É você ir de um
ponto A até um ponto B, agregando tudo o que captou nesse
caminho ao seu crescimento. Dessa forma, funciona como uma
metamorfose, onde alguém ou alguma coisa se torna algo maior e
melhor. A transcendência trata-se daquilo que está além do mundo
material. Tem origem na palavra latina "trancendere", que significa
ultrapassar. É um importante conceito para a filosofia e está na
gênese das reflexões sobre o sentido da existência do mundo e da
vida humana, desde os filósofos da Grécia Antiga.

Religiosidade, espiritualidade e saúde mental


A busca pelo sentido da vida

• A transcendência é um tema de grande


valor e discussão para a teologia e para
as religiões. Alcançar a transcendência é
estar em contato com o mundo espiritual,
com as divindades - é a superação dos
limites físicos do ser humano.

• Compreender o sentido da vida sempre


esteve dentre as mais importantes buscas
do ser humano. A transcendência tem a
ver com a vida e a morte e com a
possibilidade da existência de algo que vá
além da vida terrena.
• O ser humano, na busca por sua imortalidade, procura
explicações para a vida que vão além da realidade material em
que vive e que consegue compreender com os sentidos.

• A transcendência seria, então, um caminho para a conexão


com o divino, a projeção do ser humano para uma dimensão
espiritual, onde podem ser encontradas as respostas para as
profundas questões humanas, dentre elas ”Qual o sentido da
vida”? Pedro Menezes – filósofo (UERJ)

• A religiosidade e a fé podem ser uma das formas pelas quais o


ser humano poderá alcançar ou compreender o que é de
natureza transcendental. Nesse sentido, algumas religiões, de
acordo com sua doutrina, descrevem caminhos para o contato
com o mundo espiritual.
• Em todas as sociedades e culturas são encontradas as crenças
em seres, forças ou poderes que não são materiais, e sim
espirituais, que transcendem a experiência física.

• As crenças religiosas, práticas de devoção e atividades ligadas a


grupos religiosos são mais comuns entre os idosos do que em
qualquer faixa etária, assim como ocorre o diálogo espiritual
solitário e introspectivo como reflexão e contemplação da inefável
finitude da vida (COSTA;GOTTLIEB;MORIGUCHI,2012).

• Para as pessoas idosas, as questões relacionadas à


religiosidade têm significado muito especial, principalmente entre
aqueles que vivenciam problemas de saúde.
• A religião e espiritualidade são recursos
psicossociais que desempenham um papel
importante na saúde mental, aumentando os
resultados positivos e podendo ser incorporados
em planos de tratamento que considerem o
indivíduo de maneira integral: espírito, mente e
corpo.

• Conectar-se com um poder superior poderá ser


útil para melhorar a reabilitação e alcançar um
resultado positivo quando incentiva a melhora da
autoestima, segurança e confiança , porém a
religiosidade enquanto dogma, poderá trazer
prejuízos à saúde mental das pessoas, quando
em ambientes autoritários, impondo culpa, medo,
provocando conformismo e colocando Deus numa
figura julgadora, e não como uma presença
amorosa.
• A compreensão e a aceitação da religião e espiritualidade na vida
das pessoas idosas é necessária, pois pode ser um suporte
importante para o enfrentamento das adversidades em suas
vidas. A fé, como uma das principais formas de suportar e
superar o adoecimento.

• Os idosos se apoiam na religião quando se deparam com


acontecimentos negativos ou que fogem do seu controle. A
busca pela religião nos momentos difíceis os aproxima dos
demais membros, o que pode lhes oferecer conforto e ajuda no
sofrimento .

• A crença religiosa na vida atual dos longevos, se caracteriza por


fortes convicções e significados, atribuem à religiosidade (Deus)
sua existência e permanência no mundo, como fonte de
transcendência e segurança. Também age como alento para a
superação das adversidades, uma forma de resiliência.
• Na velhice o indivíduo revê suas
experiências anteriores, fazendo uma
reflexão da vida, ampliando a visão sobre
as pessoas e sobre si mesmo. Nota-se um
reconhecimento das qualidades e defeitos,
desenvolvendo a sabedoria e favorecendo
a integridade.

• Caso haja uma dificuldade dessa


integração, pode ocorrer o desespero,
rigidez, desprezo pelo outro e por si
mesmo e o iminente medo da morte
(ERIKSON,1988). A espiritualidade pode
auxiliar a pessoa idosa na aceitação da
finitude e a reduzir o medo da morte,
dando um sentido a existência, levando a
uma transformação das relações com as
pessoas e consigo mesmo.
• As crenças positivas de confiança em Deus estão relacionadas,
com níveis mais baixos de intolerância a incertezas, ao passo
que crenças negativas mostram níveis mais elevados, trazendo
implicações no aspecto cognitivo, o que sinaliza que a
espiritualidade e a religião auxiliam no bom funcionamento
psicológico (PIRUTINSKY et al., 2017).

• Estudo de revisão sistemática que investigou a associação entre


envolvimento religioso e cognitivo aponta que práticas religiosas
e espirituais parecem ser um protetor cognitivo em adultos de
meia idade e nas pessoas idosas (HOUSSEINI; CHAURASIA;
OREMUS, 2019).
Para quem já passou dos 50

• O teólogo Leonardo Boff (2001), relata que estudos mostram que


pacientes que desenvolvem a religiosidade e espiritualidade
podem melhorar o bem-estar e funcionamento psicoespiritual,
adquirindo mais conhecimento de si e elementos fundamentais
como sabedoria, bem-estar espiritual (conforto e resiliência) e
autotranscedência (esperança e altruísmo) que são elos para a
melhor aceitação da velhice, enfrentamento de doenças e
finitude.
• Alguns estudos demonstraram que a religião e a espiritualidade
podem facilitar a resiliência em quatro formas:
- construir e manter as relações pessoais;
- facilitar o acesso ao suporte social;
- fortalecer os valores morais;
- oferecer oportunidades para desenvolvimento e crescimento
pessoal (VAN DYKE; ELIAS, 2007).
• O avanço da idade e a morte são dois aspectos inevitáveis ao
ser humano. Apesar de não ser muito notada no percurso da
vida, a finitude é algo presente e revela-se com o tempo. Os
idosos, que estão na última fase do desenvolvimento, deparam-
se com diversas situações, modificações e perdas que
contribuem para que os mesmos comecem a pensar de maneira
mais consciente sobre a finitude, visto que nesse momento, ela
está mais próxima.

• A consciência da temporalidade, mostra ao idoso que apesar de


grande parte do tempo ter passado, ainda se pode realizar atos
que trazem sentido à vida, levando-o a reflexão sobre quais
mudanças necessita realizar antes que a morte se apresente. "A
questão do sentido na Velhice" (Lukas, 1992, p. 168), refere-se
ao movimento que a pessoa idosa realiza ao olhar da plataforma
do seu presente, contemplando em três direções distintas, as
quais ela denomina de: "Olhar para trás", 'Tarefa presente' e
"Olhar para frente".
• O primeiro movimento – ”Olhar para trás” - refere-se a uma espécie
de balanço existencial, no qual o idoso depara-se com suas experiências
do vivido e o não vivido em sua historicidade. Nesse movimento, ele
encontra-se com a contribuição que foi prestada para o mundo: tempo
de colheita, de sentidos realizados, de êxitos concluídos, bem como as
experiências "sofridas". Entretanto, recomenda uma postura
reconciliadora nesse olhar retrospectivo, sobretudo no que concerne a
esse tempo na vida.

• No segundo aspecto – “Tarefa presente”- cabe ao idoso olhar


para tarefa presente e continuar, de modo livre, a responder ao que a
vida chama aos desafios do hoje.

• No terceiro movimento – ”Olhar para frente”- propõe contemplar o


futuro, implica assumir o tempo que se tem e as possibilidade de
realizações antes da finitude.
”A presença de fé pode ajudar o idoso a enfrentar algumas situações
adversas, amparando-o de forma emocional e motivacional,
aumentando o senso de propósito e significado da vida. Por isso, é
possível acreditar que a religiosidade e a espiritualidade são capazes
de contribuir para o bem-estar do idoso, além de estimular a
adaptação e a aceitação de momentos difíceis, tornando os dias
mais tranquilos e felizes.”
Robert Atcheley
Gerontologista americano da Universidade Johns Hopkins
Octogenários: os novos velhos
A população considerada idosa, também está envelhecendo,
ou seja, a proporção de 80 anos e mais também está aumentando,
alterando a composição etária dentro do próprio grupo.
Analisando as diferentes trajetórias de vida dos idosos, nota-se
que eles se inserem em distintos níveis da vida social e econômica
do país.
• Em análise de indicadores da
tábua completa de mortalidade
para o Brasil em 2013, foi
evidenciado o importante
aumento da expectativa de vida
do brasileiro, e não somente
isso, o crescimento da faixa
etária de idosos acima de 70
anos (IBGE, 2014)
• O aumento da expectativa de vida tem sido espantoso
especificamente entre os octogenários, visto que entre 1997 e
2007, a faixa etária de 60 a 69 anos ampliou-se em 21%, já entre
os com 80 anos ou mais, a ampliação foi de 47% (Minayo,2012)

• Nogueira et al. (2010) em pesquisa


realizada sobre “Fatores determinantes da
capacidade funcional em idosos
longevos”, afirmaram que os fatores
associados à pior capacidade funcional
foram: ter 85 anos ou mais, ser do gênero
feminino, fazer uso contínuo de cinco ou
mais medicamentos, não visitar parentes
e/ou amigos pelo menos uma vez por
semana e considerar a própria saúde pior
que a de seus pares.
• Segundo o IBGE(2010), a conquista da longevidade é alcançada,
através de um conjunto de ações, entre elas: condições
hereditárias, físicas, psicológicas, sociais, espiritualidade,
alimentação balanceada, atividade física, frequência no
acompanhamento médico e uso correto da medicação.

• A religiosidade foi tida pelos longevos como força propulsora das


suas vidas. O apego à religião denotou crenças, tradições, valores
e formas de proteção. Durante as entrevistas, os longevos
evidenciaram a sua fé, com apoio em citações bíblicas e cânticos
religiosos.

• Os longevos demonstram especial atenção aos cuidados com a


saúde, que é vista como prioritária e procuram se alimentar de
forma saudável.
• Infelizmente, pesquisas assinalam que entre esses indivíduos, a
prevalência de incapacidades e morbidades é maior que em
outros grupos

• Entrevista realizada com geriatras a


psicólogos, constatou-se que a maneira
para se viver uma vida boa e longa é: ter
um propósito de vida. “Na prática clínica,
observa-se que indivíduos que mantém um
objetivo de vida são os mais longevos e
felizes, por exemplo, ter uma segunda
carreira, o sonho de realizar viagens,
praticar um esporte diferente, aprender um
idioma. Ou seja, ter desafios e seguir a
vida, apesar do envelhecimento”. Rodolfo
Pedrão geriatra.
• “Cabe ao indivíduo o engajamento em atitudes de cuidado e
também o orientado por equipe de saúde, utilizando inclusive
quando necessário, medicamentos de controle de doenças
crônicas, o que adia as condições deletérias como perda de
autonomia e morte. Hoje está mais na mão do indivíduo e menos
na mão do acaso um envelhecimento saudável”. Rodolfo Pedrão,
geriatra.

• A prática regular de
exercícios físicos é um dos
pilares para manter a saúde,
e mesmo as pessoas idosas
que já têm alguma
mobilidade comprometida
podem, e devem, se exercitar
com orientação adequada.
• Para os octogenários, a saúde é entendida como um bem a ser
preservado, como forma de sustentação da vida. A utilização
correta dos medicamentos, possuir saúde física, mental e
espiritual, são considerados por eles essenciais para
conservação da saúde. A cultura familiar de cuidados é utilizada
paralelamente à medicina tradicional.

• A autonomia e a
independêcia estão
presentes na vida cotidiana
da maioria dos informantes
no aspecto de gerir a própria
vida, no cuidado de si e dos
outros.
• Uma significativa parcela dos
informantes preocupa-se em manter-se
ativa. As atividades realizadas
envolvem diferentes formas e
ambientes de participação, como o
trabalho voluntário, trabalhos manuais,
oficina da memória, passeios e festas
organizadas pela comunidade religiosa
e pela Unidade Básica de Saúde.

• A maioria dos octogenários vive em casas administradas por


eles, no mesmo terreno ou próximo dos filhos. Há longevos que
são proprietários e dividem o terreno com filhos e netos, e por
outro lado há filhos que partilham o terreno com os pais. Ao
realizar a comparação das trajetórias, percebe-se que esta
conjuntura traz seguraça a todos e favorece a ajuda mútua.
• Os idosos expressam projetos futuros
que soam como ideações de
continuidade da vida e as
expectativas do que podem e o que
almejam fazer, num contexto de
desejos, saudades e declarações de
amor à vida. Demonstram admiração
pelo País e a vontade de conhecê-lo,
bem como o desejo de viver com
alegria.

• Durante entrevista, em histórias, os informantes revelaram seus


projetos de vida, mesmo na velhice, descartando com isto o
modelo da inatividade, a espera pela finitude da vida. Retrata o
viver hoje com o olhar voltado para o amanhã.
• Segundo a antropóloga Mirian Goldenberg , pessoas acima de 80
anos que são lúcidas, saudáveis e ativas são chamadas hoje de
“superidosos”.

• Esses octogenários conseguem


chegar nessa fase com saúde,
projetos, alegria de viver, lucidez,
amizades, e muito aprendizado. São
superidosos porque superam as
expectativas para a idade deles,
muitos estão melhores do que pessoas
bem mais jovens.

• Uma das caracteristicas dos octogenários é que valorizam o hoje,


não reclamam do passado, não fazem planos a longo prazo, não
falam em morte. Tem amor e empolgação pela vida. Sabem viver
o aqui e agora, o mais importante é o tempo presente.
Lição de vida
• O bom humor também é uma característica dos superidosos.
Estudos mostraram que eles apresentam maior nível de “relações
positivas com outros” em uma escala de bem-estar psicológico, o
que significa manter relacionamentos acolhedores, seguros,
íntimos e satisfatórios com outras pessoas.

• “Nosso maior desafio ao chegar nos 100


anos vai ser dar significado para todo
esse tempo. A gente tem que entender
que a vida vai mudar, você vai perder
amigos e parentes. É preciso
ressignificar para seguir em frente, isto
é, formar outros ciclos, participar de
coisas que você nunca fez, ir a lugares
que você nunca foi”, comenta Alécio
Ricci (97 anos)
• O enfrentamento das perdas e passagens marcantes no
passado ocorreu mediante a ajuda de familiares e amigos, bem
como da religiosidade. A superação desses eventos resultou em
aprendizagens e contribuiu para o fortalecimento dos idosos e
suas famílias.

• No presente, as relações familiares são vistas como dispositivo


capaz de promover uma rede de segurança, tecida no cuidado
com os mais idosos, filhos, netos, bisnetos e vizinhos.

• Os longevos procuram não depender totalmente dos familiares e


querem ser úteis, aos familiares e comunidade, além de
manterem a esperança no futuro incerto.

• Apesar dos conflitos causados pela presença de gerações mais


jovens, conseguem viver em harmonia, se ajudam mutuamente e,
se faz presente a solidariedade intergeracional.

Octogenários

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