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1º Módulo: Introdução

Introdução
O cuidador de idosos
O treinamento de pessoas para o cuidado faz-se necessário, face à situação de desamparo
em que se encontram os idosos, no sentido de facilitar o atendimento imediato às suas
necessidades básicas quando doentes fragilizados. Tendo em vista o aumento progressivo
da população idosa, o resgate do papel dos "cuidadores" é uma questão a ser pensada.
Entretanto, em razão da complexidade cada vez maior na organização das sociedades,
enfatiza-se a necessidade de preparo e aprendizado específicos para exercer o papel de
"cuidador". Para cuidar de idosos, espera-se que haja alguém capaz de desenvolver ações
de ajuda naquilo que estes não podem mais fazer por si só; essa pessoa assume a
responsabilidade de dar apoio e ajuda para satisfazer às suas necessidades, visando a
melhoria da condição de vida. Não se pode esquecer que, em muitas situações, o "cuidador"
nem sempre é um ente da família, e que introduzir pessoas externas ao contexto familiar
implica em reconhecer valores de respeito e discrição, para não interferir na dinâmica
familiar.
Princípios orientadores
O preparo de cuidadores exige a definição de uma base conceitual norte adora dos valores e
princípios filosóficos, que podem ser reconhecidos pelos pressupostos de Gonçalves e col
(1997):
1. O cuidado humano ou "cuidar de si" representa a essência do viver humano; assim,
exercer o autocuidado é uma condição humana. E ainda "cuidar do outro" sempre
representa uma condição temporária e circunstancial, na medida em que o "outro" está
impossibilitado de se cuidar .
2. O "cuidador" é uma pessoa, envolvida no processo de "cuidar do outro" - o idoso, com
quem vivência uma experiência contínua de aprendizagem e que resulta na descoberta de
potencialidades mútuas: É nesta relação íntima e humana que se revelam potenciais, muitas
vezes encobertos, do idoso e do cuidador. O idoso se sentirá capaz de se cuidar e
reconhecerá suas reais capacidades;
3. O cuidador é um ser humano de qualidades especiais, expressas pelo forte traço de amor
à humanidade, de solidariedade e de doação. Costuma doar-se ou voluntariar-se para as
áreas de sua vocação ou inclinação. Seus préstimos têm sempre um cunho de ajuda e apoio
humanos, com relações afetivas e compromissos positivos.
Funções - Ajudar nas atividades da vida diária; administrar medicamentos por via oral
prescritos pelo especialista; auxiliar na deambulação e mobilidade; cuidados com a
organização do ambiente protetor e seguro, acesso a dispositivos de ajuda ( equipamentos )
para a atenção ao idoso; propiciar conforto físico e psíquico; estimular o relacionamento e
contato com a realidade e levar o idoso a participar de atividades recreativas e sociais.
Conferir sinais vitais, reconhecer sinais de alterações (alerta) e prestar socorro em situações
de urgência (os primeiros).
Cuidador Profissional
Conceito - O cuidador profissional é a pessoa que possui educação formal com diploma
conferido por instituição de ensino reconhecida em organismos oficiais, e que presta
assistência profissional ao idoso, família e comunidade. Perfil - Ter cursado Ensino Médio ou
Superior e tido treinamento específico em cuidado do idoso, em instituições oficialmente
reconhecidas.
Destacam-se as habilidades e qualidades pessoais para o cuidado.
Funções - Os cuidadores profissionais seguem funções específicas em conformidade com as
legislações das categorias profissionais.
Os cuidadores "informais" e "formais" devem desenvolver algumas habilidades e
qualidades para prestar cuidado, especificadas a seguir:
Habilidades técnicas: É o conjunto de conhecimentos teóricos e práticos, adquiridos por
meio da orientação de profissionais especializados. Esses conhecimentos irão preparar o
cuidador para prestar atenção e cuidados ao idoso (descritas nas funções).
Qualidades éticas e morais: São atributos necessários para permitir relações de confiança,
dignidade, respeito e ser capaz de assumir responsabilidades com iniciativa. Quando não for
parente, deve procurar adaptar-se aos hábitos familiares, respeitar a intimidade, a
organização e crenças da família, evitando interferência.
Qualidades emocionais: Deve possuir domínio e equilíbrio emocional, facilidade de
relacionamento humano, capacidade de compreender os momentos difíceis vividos pelo
idoso, adaptação às mudanças sofridas por ele e família, tolerância ante situações de
frustração pessoal.
Qualidades físicas e intelectuais: Deve possuir saúde física, incluindo força e energia,
condições essenciais nas situações em que há necessidade de carregar o idoso ou dar apoio
para vestir- se e cuidar da higiene pessoal. Ser capaz de avaliar e administrar situações que
envolvem ações e tomada de decisões.
Motivação: É condição fundamental a empatia por idosos. Valorizá-los como grupo social,
considerando que o "cuidado" deve ser um compromisso prioritário, pessoal e também da
sociedade.
O cuidador de idosos dependentes deve organizar suas tarefas de cuidado de modo a ter
oportunidades de se autocuidar. Muitas vezes, o cuidador se sobrecarrega nas suas
atividades e se esquece de que é uma pessoa que também necessita de cuidados. A família
deve avaliar esse trabalho, em conjunto com profissionais e planejar atividades para idosos
e cuidadores. Cursos são necessários, visando a orientação aos cuidadores do cuidado com
o outro e consigo mesmo. Fonte: BRASIL, Presidência Social. Idosos: Problemas e cuidados
básicos. Brasília: MPAS/SAS, 1999.
1.3. O cuidado, com freqüência, começa em forma gradual. Provavelmente você já esta
ajudando a alguém a:
Levar ao Médico;
● Fazer as compras no supermercado;
● Pagar as contas;
● Lavar a roupa ou limpar a casa ou Cozinhar.
Com o tempo, você poderia oferecer maiores cuidados. Quem sabe compartilhe a
responsabilidade com outros membros da família ou com amigos, ou quem sabe se
encarregue de tudo você mesmo, inclusive ate dedicar às 24 horas do dia ao cuidado dessa
pessoa. É provável que o cuidado de outra pessoa compreenda:
● Alimentá-la ou dar-lhe banho; Ajudá-la a usar o banheiro;
● Supervisionar o horário de tomar as medicações;
● Contratar a outras pessoas que a cuidem;
● Programar todo o atendimento médico ou;
● Administrar todos os seus assuntos econômicos e legais.
SE VOCÊ REALIZA ALGUMA DESTAS TAREFAS POR OUTRA PESSOA, ENTÃO VOCÊ É UM
CUIDADOR!
2º Módulo: Reflexão, Cuide de si mesmo, Higiene Pessoal
Reflexão
Respeito e Dignidade
Antes de começar a realização deste curso, vamos nos deter alguns minutos para considerar
seu papel especial como ajudador. A diferença de um cuidador profissional, você conhece
na pessoa que cuida. Conhece a pessoa por completo, o que ela gosta e o que ela não gosta
também, suas fortalezas e suas fraquezas individuais, além de seus desejos e necessidades.
É muito fácil cair numa atitude “protetora” quando se cuida de outra pessoa,
especialmente se tratar de um membro da família. Mas precisamos compreender que a não
ser que a pessoa esteja passando por um transtorno cognitivo (Distúrbio cerebral devido a
um derrame cerebral, demência ou outro problema de saúde), ELE, entretanto toma as
decisões sobre sua vida. Às vezes, a pessoa poderia tomar decisões que você não tomaria,
mas é sua decisão. Isto pode ser difícil para você, como cuidador, mas deve ter cuidado e
estar alerta para não cair na superproteção.
Uma das necessidades humanas mais importantes é o respeito e a dignidade e essa
necessidade não muda quando a pessoa adoece e fica incapacitada, de fato, esta poderia
inclusive acentuar-se mais.
Existem muitas coisas que você pode fazer para se assegurar que a pessoa sob seus
cuidados receba respeito e dignidade, direito básicos de todo ser humano.
Respeitar sua privacidade física e emocional.
● Fechar a porta quando o ajuda a vestir-se ou usar o banheiro;
● Bater a porta antes de entrar;
● Não comentar informação privada com outras pessoas, mesmo que estas sejam membros
da família, sem sua permissão.
Respeitar seu direito de escolher.
● Ao tomar decisões, sentimos certo controle sobre nossa vida. Por exemplo, se a pessoa
pode fazê-lo, permita que decida o que e quando comer;
● Se a pessoa tem problemas cognoscitivos, ofereça- lhe opções sobre o que comer, quando
comer e o que usar.
● Se a pessoa insiste em usar a mesma camisa todos os dias, use uma toalha como proteção
quando coma e lave a roupa de noite.
● Se pensar que é uma decisão boba ou de pouca importância, trate de ver porque isso é
importante para a pessoa.
● Se a pessoa se nega a tomar seus medicamentos ou toma decisões que possam ser
perigosas, trate de negociar uma possível solução. Ofereça-lhe os comprimidos com seu
suco favorito (se a receita permite), aceite dar-lhe banho com a freqüência absolutamente
necessária, planeje tempo para que alguém a leve a caminhar com ele se não é seguro que o
faça sozinho.
Trate-o com dignidade.
● Ouça suas preocupações;
● Peça sua opinião e faça-o saber que esta e importante para você;
● Faça-o participar de tantas decisões quanto possível;
● Inclua-o na conversação. Não fale dele como se não tivesse presente.
Converse com ele como um adulto, mesmo que você não esteja certo do quanto ele
entende.
Filosofia de vida independente
A filosofia de vida independente é um conceito que tem surgido do desejo natural que as
pessoas incapacitadas têm de exercer o controle sobre sua vida. Em uma visão mais
abrangente, esta filosofia afirma que todos, incapacitados ou não, tem direito e
oportunidade de seguir um curso de ação em particular e isto implica na liberdade de
aprender de nossas experiências, incluindo nossos erros.
Cuide de si mesmo
Cuidar de outra pessoa e a responsabilidade mais difícil que terá na sua vida. Se bem que
cuidar de uma pessoa traz muitas satisfações, mas existem sacrifícios e exigências que
poderiam chegar a ser muito fortes. Dado ao fato que cuidar de outra pessoa pode ser
exaustivo, é importante que se controle. No geral, é difícil saber por quanto tempo deverá
cuidar desta pessoa ou se sua tarefa se tornará mais exigente ao longo do tempo e deve-se
levar em conta que esse trabalho não vem com uma descrição trabalhista! Cuidar de suas
próprias necessidades é tão importante como cuidar de outra pessoa.
Se você adoece ou tem estafa emocional ou física, não poderá cuidar dos outros.
Agora veja a apresentação a seguir sobre como fazer!
A Importância de fazer exercício
Ninguém pode estar tão fora de forma, tão cansado ou ocupado como para não se
beneficiar com um programa regular de exercícios. O que ouvimos geralmente são os
benefícios...
Se você tem desculpas do tipo: “Eu nunca fiz exercícios antes”, “Meus joelhos e meus pés
doem muito” ou “Não tenho tempo”, faça a você mesmo um favor: com tão somente 10
minutos por dia e em pelo menos 3 dias por semana, o exercício correto te ajudará a sentir-
se melhor, a reduzir o estresse e a gozar mais da vida.
Algumas observações importantes para quando você fizer exercício:
● Programe uma hora específica cada dia para fazer exercício;
● Seja constante. Para obter benefícios de qualquer programa de exercício, deves fazê-lo de
forma regular;
● Faça exercícios de alongamento e de relaxamento antes e depois de teu exercício;
● Comeces com uns 10 minutos de exercício ao dia e aumente gradualmente ate 30 minutos
para obter o máximo benefício;
● Faça o teste do falar/cantar para saber se estás fazendo o exercício de forma
demasiadamente forte ou não o suficiente, utilize este simples teste. Se não pode falar ao
fazer exercício ao mesmo tempo, está se extenuando. Se você pode cantar e fazer exercício,
não está se esforçando o suficiente;
● Sempre comece lentamente a atividade durante os primeiros 5 minutos e diminua o ritmo
durante os 5 últimos minutos em vez de parar abruptamente.
Exercícios recomendados.
Nota de advertência: Sempre consulte seu médico antes de começar qualquer programa
de exercícios.
Dê um passeio diário.
Procure um amigo com quem caminhar. Motivar-se-ão mutuamente quando estiverem
tentados há ter o dia livre sem o exercício.
Veja um vídeo de exercícios.
Procure vídeos para principiantes. Evite começar com programas que incluam saltar ou
dobrar-se. Melhor ainda, use vídeos para fazer alongamento, tonificação muscular e
relaxamento.
Informe-se sobre aulas oferecidas através dos centros comunitários, ginásios e centros
para idosos.
Consulte sobre Yoga, tai-chi ou outros programas de exercícios não tradicionais. Estes são
uma forma excelente de melhorar a flexibilidade, tonificar os músculos e relaxar. Veja se
tem disponível piscina comunitária e consulte sobre horário de natação para idosos ou aulas
de hidroginástica. Muitas piscinas oferecem aulas só para idosos ou para pessoas que
desejem um ritmo mais lento.
Dance, para ter uma saúde melhor.
Os bailes de São João, de salão ou tradicionais são uma excelente forma de incrementar sua
resistência e melhorar seu equilíbrio.
Se você necessita ajuda para encontrar um programa de exercícios adequado, consulte seu
médico.
Consulte sobre programas sociais em sua comunidade.
Os centros de cuidado diurno podem proporcionar um descanso programado com
regularidade.
Disponíveis em muitas comunidades, estes centros proporcionam programas sociais e
comidas. Alguns proporcionam transporte para aqueles idosos que necessitam atividade sob
supervisão.
Os participantes podem freqüentar 1 ou 2 vezes por semana ou todos os dias, dependendo
do programa individual.
Também poderia conseguir programas noturnos.
Alguns lugares de repouso, lar de idosos e comunidades de aluguel com ajuda oferecem
estadias de até duas semanas.
Consulte sobre atenção domiciliar.
Se a pessoa não puder freqüentar um centro de atendimento diurno, poderia haver a
possibilidade que assistentes capacitados possam proporcionar cuidado em turnos na sua
casa.
Convivendo com o estresse
Estabeleça limites e faça-os saber.
Assegure-se de ter metas e expectativas realistas.
Não espere ter a casa perfeita ou ter uma vida social como a que tinha antes de assumir o
papel de cuidador. Provavelmente tenha que simplificar as folgas nos feriados ou repartir as
responsabilidades com outros membros da família.
O Bom Humor é geralmente o melhor remédio.
Loque um filme ou olhe programas de televisão que o façam sorrir. Leia um livro de piadas.
O humor pode fazer milagres para reduzir o estresse.
Busque apoio.
Através de amigos compreensivos, grupos de apoio ou um conselheiro profissional. Participe
também das comunidades na internet sobre esse tema.
Evite pessoas difíceis.
Como por exemplo, amigos que o criticam o tempo todo.
Descubra o que lhe ajuda a aliviar o estresse.
Algumas idéias poderiam ser exercícios de respiração, yoga, meditação, escrever um diário
de vida ou sair para caminhar. Feche os olhos e se imagine em um lugar bonito, rodeado por
suas coisas favoritas.
Faça uma lista das coisas que aliviam o seu estresse.
E depois o mantenha a mão e utilize!
Como saber se você precisa de ajuda profissional? (cuidador).
Alguns sinais de advertências poderiam ser:
● Uso abusivo de bebidas alcoólicas ou de medicamentos como pílulas para dormir;
● Perda ou aumento considerável de apetite;
● Depressão, perda das esperanças, sentimento de alienação;
● Pensamentos suicidas;
● Perda do controle físico e emocional;
● Tratar mal outras pessoas ou ignorá-las.
Se apresentar quaisquer destes sintomas, você está levando uma carga demasiadamente
grande. Consulte um conselheiro ou converse com seu médico sobre seus sentimentos. Seu
médico poderá recomendar-lhe um conselheiro ou você poderia se por em contato com um
hospital local ou secretaria de saúde.
Higiene Pessoal
2. Higiene Pessoal
BANHO
Tomar banho pode ser uma atividade agradável durante o dia. Depois do banho nos
sentimos bem, limpos e relaxados. Se você cuida de alguém que precisa de ajuda para
tomar banho, faça com que a ocasião seja a mais agradável possível. Depois, ambos se
sentirão melhor.
Quando tomar banho for um problema...
Tentar identificar a(s) causa (as) da recusa é um bom começo.
O idoso pode estar com dificuldade para caminhar, ter medo da água, medo de cair, pode
estar deprimido; com infecções que geram mal-estar, dor, tontura ou mesmo sentir-se
envergonhado por expor seu corpo diante de um cuidador estranho, especialmente se for
do sexo oposto.
ADAPTANDO O AMBIENTE
● Todas as adaptações deverão ser feitas mediante o grau de dependência apresentado;
● Mantenha o piso seco e no interior do Box utilize tapetes antiderrapantes
(emborrachados) para evitar quedas;
● A colocação de barras de segurança na parede (semelhante àquelas utilizadas em
academias de balé) é de grande ajuda, pois permitem que o paciente se apóie nelas durante
o banho, fazendo-o sentir-se mais seguro;
● Se for difícil para ele manter-se em pé por muito tempo, pense que talvez uma cadeira de
banho vá auxiliá-lo e permitir maior conforto.
RESPEITE SEUS HÁBITOS
● Os que apresentam dependência leve devem ter seus hábitos de higiene respeitados
como: horário do banho, marca do sabonete, xampu, etc.
● Não há razão para se ―obrigar‖ o paciente a banhar-se pela manha se é seu hábito fazê-lo
à tarde;
● É interessante se criar uma rotina para aqueles que apresentam dependências severas,
isto facilita o trabalho do cuidador e cria um hábito para o paciente;
● Mesmo os acamados devem ser levados ao banheiro para que seja realizado o banho de
chuveiro, esta é uma ótima oportunidade de mobilização;
● Banhos no leito devem ser evitados, sendo indicados apenas para aqueles pacientes com
prescrição de repouso rigoroso no leito.
INDO PARA O BANHEIRO
● Prepare o banheiro previamente e leve para lá todos os objetos necessários à higiene;
● Elimine correntes de ar fechando portas e janelas;
● Separe as roupas pessoais antecipadamente;
● Regule a temperatura da água que deve ser morna;
● Se possível, o paciente deve ser despido no quarto e conduzido ao banheiro protegido por
um roupão, neste momento, evite fixar os olhos em seu corpo (isto pode constrangê-lo),
observe-o sutilmente.
O BANHO PROPRIAMENTE DITO
● Oriente-o para iniciar o banho e auxilie-o, se necessário;
● Não faça por ele. Estimule, oriente, supervisione, auxilie. Apenas nos estágios mais
avançados da doença o cuidador deve assumir a responsabilidade de dar o banho;
● Aproveite a oportunidade para massagear suavemente a sua pele, isto favorece a
circulação sanguínea e produz grande conforto;
● Não utilize buchas de banho, lembre-se que a pele é muito sensível e você pode provocar
lesões;
● Lave a cabeça no mínimo 3 X por semana, utilize xampu neutro, observe se há lesões no
couro cabeludo. Mantenha se possível, os cabelos curtos;
● Observe se há necessidade de cortar as unhas das mãos e dos pés, em caso positivo,
posteriormente, corte-as retas com todo cuidado especialmente nos pacientes diabéticos;
● Após o banho, seque bem o corpo, principalmente as regiões de genitais, articulares
(dobra de joelho, cotovelos, axilas) e interdigitais (entre os dedos).
3º Módulo: Cuidando da Pele, Higiene Oral, Alimentação
3. CUIDANDO DA PELE
A pele merece atenção especial e o momento do banho é o mais apropriado para se
observar a presença de hematomas (manchas roxas), hiperemia (vermelhidão), pruridos
(coceiras), assaduras ou qualquer outro tipo de lesão, as quais se tratadas adequadamente e
a tempo evitam complicações e previnem a ocorrência de úlceras por pressão (escaras).
● Manter a higiene da pele é de suma importância, pois se trata de uma barreira natural de
que dispõe o organismo contra infecções, portanto, trabalhe para manter sua integridade;
● Idosos apresentam fragilidade de vasos capilares, que se rompe com facilidade, causando
manchas avermelhadas na pele. Aumente a oferta de alimentos ricos em vitamina C , ela
melhora a resistência dos vasos capilares;
● Ao segurar o paciente pelos braços ou mãos, não exerça demasiada pressão, lembre-se, a
sua pele é frágil, e muitas vezes, rompe-se com uma simples pressão;
● Manter a pele hidratada é de fundamental importância, existem no mercado bons cremes
hidratantes, de perfume suave, que umidificam adequadamente, evitando seu
ressecamento;
● Mantenha o paciente hidratado, ofereça líquidos à vontade;
● Evite a exposição à luz solar após as 9 horas da manhã (10 no horário de verão);
● Pruridos (coceiras) podem ser causados por vestuário confeccionado com tecidos
sintéticos, dê preferência às roupas de algodão ou tecidos antialérgicos;
● Assaduras podem surgir devido a má higienização ou a longa permanência com fraldas
molhadas;
● Após eliminações urinárias ou intestinais, deve-se providenciar uma higiene íntima;
● Pacientes incontinentes devem ter suas fraldas trocadas de 3/3 horas ou antes se
necessário;
● Evite cosméticos com perfume forte, eles costumam produzir alergias respiratórias;
● Não use talcos, se aspirados inadvertidamente podem produzir alergias respiratórias;
● Evite banhos muito quentes, eles provocam o ressecamento, além de causar queimaduras
em peles muito sensíveis.
Higiene Oral
4. HIGIENE ORAL
A Higiene Oral é um hábito saudável e agradável que deve ser mantido ao longo de toda a
vida. Alterações da mucosa oral, perda de dentes, próteses mal ajustadas, gengivites
(inflamação das gengivas), diminuição do fluxo salivar, são fatores que podem ocasionar
infecções na cavidade oral.
● A Higiene Oral deve ser realizada após cada refeição ou num mínimo de 3 X ao dia;
● A boca deve ser inspecionada imediatamente após cada refeição, para que dessa forma,
possa ser removido todo e qualquer resíduo alimentar;
● Utilizar escovas de dentes de cerdas macias, massageando as gengivas verticalmente com
suavidade;
● Pode-se utilizar após cada escovação antissépticos orais, mantendo assim um hálito
agradável;
● Algumas vezes é muito difícil fazer com que o paciente abra a boca para se fazer a higiene
oral. Tente introduzir delicadamente uma espátula entre os dentes e faça um movimento
rotatório, caso não seja possível, utilize o próprio dedo indicador envolto em gaze para que
seja possível a higienização.
6.1. A LÍNGUA
A Língua deve ser massageada com escova macia, para remoção de sujidades.
Em caso de haver presença de uma crosta branca sobre a língua – saburra – removê-la
utilizando uma solução de bicarbonato de sódio, na proporção de 1 colher de café de
bicarbonato em 1 copo d água. Para executar a limpeza da língua, molhar na solução a
escova de dentes, ou uma espátula envolvida em gaze, ou mesmo o próprio dedo indicador
envolto em gaze e proceder a limpeza. Esta deve ser feita com movimentos suaves, sem
esfregar.
O QUE OBSERVAR
Deve-se observar cuidadosamente a presença de lesões na cavidade oral – manchas
brancas, vermelhas, pequenos ferimentos que sangram e não cicatrizam – e nesse caso,
alertar o médico responsável.
CUIDE BEM DAS PRÓTESES
● Deve-se ter maior atenção para a higiene oral naqueles pacientes que usam próteses
dentárias. Estas devem ser retiradas após cada refeição, higienizadas fora da boca, e após
limpeza da cavidade oral, recolocadas;
● Pacientes muito confusos devem ter suas próteses retiradas à noite, colocadas em solução
antisséptica, e após higienização, recolocadas pela manhã;
● Observar a estabilidade da prótese na boca do paciente, lembrar que com o
envelhecimento ocorre perda de massa óssea, fazendo com que as próteses fiquem frouxas
e se desestabilizem. É conveniente, neste caso, aconselhar-se com um dentista;
● Observar a presença de cáries ou dentes quebrados que causam dor. Existem equipes de
profissionais (dentistas), que atendem no domicílio aqueles pacientes que se encontram
impossibilitados de comparecer ao consultório;
● Muitas vezes, a recusa do paciente em alimentar-se ou sua agitação no horário de
refeições deve-se ao fato de próteses mal ajustadas ou significar simplesmente uma dor de
dentes.
Alimentação
5. ALIMENTAÇÃO
Nem sempre alimentar o portador da doença de Alzheimer é tarefa fácil. Horários regulares,
ambiente tranquilo, especialmente muita calma e paciência, da parte do cuidador, são
fatores imprescindíveis para que a alimentação seja bem aceita pelo paciente.
● O paciente deverá estar sentado confortavelmente para receber a alimentação;
● O ambiente deverá ser calmo, livre de ruídos;
● Jamais ofereça alimentos ao paciente quando este estiver deitado;
● Os pacientes que ainda conservam a independência para alimentarem-se sozinhos devem
continuar a receber estímulos para esta ação, não importando o tempo que levem para
fazê-lo;
● O Cuidador nunca deverá criticar ou apressar o paciente durante as refeições.
● As instruções passadas ao paciente deverão ser claras e o comando suave;
● Para aqueles pacientes que demoram a alimentar-se, o uso de baixelas térmicas, que
mantém o alimento aquecido por mais tempo, é bastante útil.
● Independentemente da apresentação da dieta – sólida, pastosa ou líquida – deve-se,
sempre que possível, respeitar as preferências do paciente. Uma pessoa que sempre gostou
de comer carne, mas que já não consegue deglutir pequenos pedaços deve ter a carne
liquidificada e servida em consistência de purê. O mesmo artifício deve ser utilizado para os
outros alimentos.
● O convívio com a família é de extrema importância. Sempre que possível, deve-se permitir
que o paciente alimente-se em companhia de seus familiares.
● A vida social deve ser mantida enquanto possível. Se for hábito do paciente almoçar fora,
os restaurantes devem ser selecionados e a opção por um local tranquilo é a ideal.
● Os utensílios utilizados durante a refeição devem ser preferencialmente lisos e claros. As
estampas – de pratos, por exemplo – podem distraí-lo e reduzir sua concentração naquilo
que lhe é explicado no momento (mastigação e deglutição).
● Aqueles que apresentam dependência severa devem ser alimentados com colheres, em
lugar de garfos.
● Os alimentos crus e secos devem ser evitados, pois o perigo de engasgamento é maior.
● Doces e salgados serão permitidos, desde que não haja restrição médica. Os temperos
devem ser suaves e os molhos picantes evitados.
● Caso haja engasgamento, mantenha a calma, coloque-se imediatamente atrás do paciente
e abraçando-o com as duas mãos juntas, comprima o abdome, fazendo pressão sobre o
diafragma.
● Após cada refeição, a higiene oral é indispensável e deve ser realizada uma inspeção
cuidadosa da boca, a fim de que possa ser removido todo e qualquer resíduo alimentar.
Nutrição
6. NUTRIÇÃO
Nutrição não deve ser confundida com alimentação, na maioria dos casos as pessoas bem
alimentadas estão mal nutridas.
Os idosos podem necessitar de uma maior oferta de proteínas (carnes brancas, como peixes
e aves; carnes vermelhas, desde que sem gordura; leite desnatado; queijo fresco etc.); além
de carboidratos (açúcares, massas) e reguladores, fontes de vitaminas e minerais (vegetais,
frutas e legumes).
No entanto, a nutrição adequada a cada paciente deve ser orientada por profissional
competente, uma nutricionista.
● Lembrar que o suprimento das necessidades nutricionais é um fator que deve ser
analisado clinicamente, considerando-se hábitos e gasto energético individuais, sendo que
esses fatores variam de indivíduo a indivíduo.
● As refeições devem conter pelo menos um alimento de cada grupo, a saber: construtores
(proteínas), energéticos (carboidratos) e reguladores (frutas, legumes e vegetais).
● É importante analisar hábitos antigos do paciente e mantê-los, desde que não haja
prejuizo nutricional para ele.
● Alguns pacientes mudam seus hábitos alimentares com a evolução da doença, dando
preferência a pequenos lanchinhos ou guloseimas que alimentam, porém não nutrem.
Tente incrementar estes lanches garantindo que ele receba quantidades adequadas de
proteínas, carboidratos e reguladores.
● É importante chamar a atenção do cuidador para que as informações de como nutrir o
paciente deve advir de profissionais capacitados (nutricionista), que após avaliação terão
condições de prescrever uma dieta adequada a cada paciente individualmente.
● Rotineiramente o paciente deve (sob orientação médica), realizar exames laboratoriais
para que seja analisado seu estado nutricional. A freqüência destes exames irá variar de
acordo com o quadro clínico apresentado.
● A presença de edemas (inchaços) pode, em alguns casos, significar desnutrição. É
conveniente consultar um médico.
● Atenção para perda de apetite pode estar relacionada a várias causas que devem ser
investigadas e tratadas. Lesão da boca, infecções, doenças crônicas ou refeições que não
estejam do agrado do paciente são alguns exemplos.
● Deve-se aumentar a oferta de nutrientes como proteínas, vitaminas e minerais, quando
em presença de infecções, permitindo assim, uma reabilitação precoce.
● O controle do peso corporal deve ser feito mensalmente, alterações súbitas (ganho ou
perda ponderal), merecem investigação clínica.
Hidratação
9.1. HIDRATAÇÃO
Queixas de hipotensão (pressão baixa), acúmulo de secreções bronco-pulmonares (catarro),
obstipação intestinal (prisão de ventre), são algumas das complicações que na maioria das
vezes estão relacionadas a quadros de desidratação, que nos pacientes idosos pode dar
origem a complicações clínicas sérias e de difícil manejo.
● Oferecer líquidos é de extrema importância, não se deve esquecer que eles colaboram
para o equilíbrio de todos os sistemas orgânicos.
● Deve-se oferecer uma quantidade de líquidos equivalente a 2 litros por dia, na forma de
água, chás, sucos, vitaminas etc.
● O volume indicado deve ser fracionado em pequeno as doses que ao fim do dia devem
somar 2000 ml.
● Deve-se garantir que a quantidade de líquidos ingerida seja mais ou menos igual às perdas
(urina, suor, lágrimas, saliva).
● Oferecer copos cheios de água causa uma sensação de plenitude gástrica desconfortável
para o paciente, ofereça pequenas quantidades, várias vezes ao dia.
● Lembrar que a maioria dos idosos ingere pouca quantidade de água pura. Colocar sabor
na água como os sucos, refrescos etc. é uma estratégia eficaz.
● A ingestão adequada de líquidos também é de extrema importância para a manutenção
do adequado turgor cutâneo (elasticidade da pele), melhorando conseqüentemente a
resistência da pele.
● Pacientes diabéticos devem receber líquidos adoçados artificialmente.
● Aqueles que possuem restrição de líquidos prescrita por médico devem respeitá-la com
rigor.
● Idosos acumulam facilmente secreções bronco- pulmonares, a oferta adequada de
líquidos possibilita uma expectoração mais rápida, prevenindo infecções.
● Nas fases mais avançadas, devem ser servidos sucos espessos – como vitaminas, ou
engrossados com gelatina, por exemplo – eles reduzem os riscos de engasgamentos.
● Jamais ofereça líquidos com o paciente deitado, este deve estar em posição sentada ou
recostada em travesseiros. Esta medida reduz o risco de aspirações e otites (dor de ouvido).
● Atenção! Quedas de pressão arterial, diurese concentrada (urina escura) e baixo débito
urinário (pouco volume de urina) podem estar associados à baixa ingestão de líquidos.
● A obstipação intestinal (intestino preso) é outra queixa comum que também pode estar
associada a baixa ingesta de líquidos, imobilidade e dieta inadequada.
● Lembre-se de que o coração (assim como uma bomba d’água) necessita de volume para
trabalhar adequadamente. A falta de líquidos pode trazer conseqüências graves para o
paciente.
● Pacientes que apresentam dificuldade para digerir alimentos (disfagia) devem receber
alimentação específica, orientadas por profissionais especializados (fonoaudiólogos e
nutricionistas).
Em determinados momentos da evolução da doença pode haver necessidade da colocação
de sondas para alimentação e especialmente para hidratação.
CUIDANDO DA ROUPA
Manter um vestuário simples e confortável, criando sempre que possível a oportunidade de
escolha pelo próprio paciente é de fundamental importância; essa rotina permite a
preservação da personalidade elevando a autoestima e a independência.
● Estimular a independência é fundamental;
● As roupas devem ser simples, confeccionadas com tecidos próprios ao clima;
● O paciente pode ter perdido a capacidade de expressar sensações de frio ou calor, dessa
forma, nunca esquecer de tirar ou colocar agasalhos, conforme a variação da temperatura;
● O cuidador deve, ao falar com o paciente, colocar-se no seu campo visual, ou seja, diante
dele, orientando-o calmamente e gesticulando, se necessário;
● Deve-se estimular o ato de vestir-se sozinho, dando instruções com palavras fáceis de
serem entendidas;
● Dê a ele a oportunidade de optar pelo tipo de vestuário e as cores que mais lhe agradem.
Apenas supervisione, pois pode ser que haja necessidade de auxiliá-lo na combinação de
cores;
● Tenha calma e paciência, não o apresse enquanto ele executa sua rotina de vestir-se;
● Para que ele mesmo possa procurar suas roupas, nos armários, cole fotos de peças e ou
objetos pessoais na parte externa da gaveta ou guarda-roupas. Isso o ajudará a encontrar
rapidamente o que procura;
● Roupas como blusas, camisas ou suéteres, deverão ser preferencialmente abertas na
parte da frente, para facilitar a colocação ou retirada;
● Evite roupas com botões, zíperes e presilhas, elas dificultam o trabalho do paciente para
abri-los ou fechá-los. De preferência às roupas com elástico ou velcro;
● Nas fases mais avançadas da doença, deve-se dar preferência aos conjuntos do tipo
moletom, em função de sua praticidade;
● Pacientes limitados à cadeira de rodas ou poltronas, o critério para a escolha do vestuário
é ainda mais rigoroso. Deve-se optar por roupas confortáveis, largas, especialmente nos
quadris;
● O uso de objetos pessoais (acessórios), pode ser mantido, porém, com a evolução da
doença, as jóias deverão ser substituídas por bijuterias;
● Na medida do possível, deve-se providenciar um roupão, para que o paciente possa se
despir no quarto e, protegido, ser conduzido ao banho;
● Deve-se evitar o uso de chinelos, pois eles facilitam as quedas;
● Todos os tipos de sapatos devem ser providos por solados antiderrapantes, os mais
indicados são aqueles que possuem elástico na parte superior, pois além de serem fáceis de
tirar e colocar, evitam que o paciente tropece e caia, caso o cadarço se desamarre.
4º Módulo: A Identidade do Idoso Brasileiro
A Identidade do Idoso Brasileiro
O conceito de identidade é demasiadamente complexo. Na verdade, a identidade é
relacional, ou seja, a identidade se constrói e reconstrói naquelas identidades já existentes,
por isso elas são abertas a mudanças. Elas se formam a partir de três questões principais: a
escolha de uma ocupação; a adoção de valores os quais acreditar e viver; e o
desenvolvimento de uma identidade sexual satisfatória.
No começo do século XXI, com a crescente globalização, as tecnologias disponíveis à
população, possibilitaram melhor qualidade de vida para as pessoas de modo que essas
foram envelhecendo de maneira mais segura e saudável. No âmbito de alcançar a velhice
bem sucedida, as pessoas freqüentemente planejam novas ocupações para suas vidas pós-
aposentadoria. Essa nova busca proporciona uma transição para uma identidade diferente
daquelas visadas há alguns anos atrás.
Preconceitos sobre o envelhecimento
Em nosso país, hoje em dia, vivemos um período de muitas conturbações. São vários os
problemas econômicos e sociais que envolvem os campos da saúde, mercado de trabalho e
educacional. Dentre todos esses problemas, a questão do idoso brasileiro é um de difícil
solução, o qual vem sendo um grande desafio.
O envelhecimento pode ser entendido como um processo múltiplo e complexo de contínuas
mudanças ao longo do curso da vida, influenciado pela integração de fatores sociais e
comportamentais. A idéia pré-concebida sobre a velhice aponta para uma etapa da vida que
pode ser caracterizada, entre outros aspectos, pela decadência física e ausência de papéis
sociais.
Cada vez o brasileiro está vivendo mais, pois hoje, no país, os idosos ultrapassam o número
de 15 milhões, correspondendo a 8,6% da população total do país. Segundo projeções
demográficas, iremos ser a sexta população mundial de idosos, e isso é alentador. Muitas
vezes o idoso é visto pela sociedade como um indivíduo “inútil” e “fraco” para compor a
força de trabalho, que por valores sociais impedem a participação do mesmo em vários
cenários da sociedade. De acordo com Mercadante (1996), na nossa sociedade, ser velho
significa na maioria das vezes estar excluído de vários lugares sociais. Um desses lugares
densamente valorizado é aquele relativo ao mundo produtivo, o mundo do trabalho.
A nova imagem do idoso
A imagem que possuímos dos idosos vem mudando devido ao avanço das tecnologias na
área da saúde proporcionando uma elevação da expectativa de vida, o “novo idoso” é
influenciado por hábitos saudáveis. Não é apenas com a saúde física que o idoso do século
XXI está mais cuidadoso. Ciente de que o corpo e a mente estão muitos associados, eles
buscam manter ambos em atividade, como voltar a estudar, fazer cursos de informática,
hidroginástica, teatro, jardinagem, etc.
Os chamados “programas para a Terceira Idade”, oferecem diferentes propostas para o
lazer e ocupação do tempo livre, são espaços nos quais o convívio e a interação com e entre
os idosos permitem a construção de laços simbólicos de identificação, e onde é possível
partilhar e negociar os significados da velhice, construindo novosmodelos, paradigmas de
envelhecimento e construção de novas identidades sociais.
Mercadante (1996) afirma ainda que, (...) a identidade de idosos se constrói pela
contraposição a identidades dejovens, como conseqüências, se têm também a
contraposição das qualidades: atividade, força, memória,beleza, potência e pro dutividade
como características típicas e geralmente imputadas aos jovens e as qualidades opostas a
esta última, presentes nos idosos.
Os direitos do idoso
Conforme o Estatuto do idoso, que entrou em vigor no dia primeiro de outubro de dois mil e
três:
Art. 10 § 2º O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica
e moralabrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, de valores,
idéias e crenças, dos espaços e dos objetivos pessoais.
Os direitos do idoso são garantidos por lei federal e cabe a cada um de nós também poder
dar sua contribuição, incentivando-os e apoiando-os sem qualquer distinção deste. Idosos,
criativos, produtivos, estimados, ...
São inúmeros os exemplos de pessoas que continuam a ter uma vida produtiva e criadora
mesmo após terem entrado no estágio da vida em que são consideradas idosas. Em muitos
casos, é neste período que se dá a sua contribuição mais significativa para a sociedade.
São exemplos que mobilizam uma mudança da visão do idoso em nossa sociedade !!!
Conferir entre outras algumas destas biografias: Cora Coralina; Dalai Lama; Fernanda
Montenegro; Jorge Luis Borges; Liu Pai Lin; Madre Teresa de Calcutá; Oscar Niemeyer; Pablo
Picasso; Paulo Autran; e tantos outros...
5º Módulo: Saúde na Terceira Idade
Saúde na Terceira Idade
Geriatria
Cuidados com o aparelho locomotor
O aparelho locomotor é formado por ossos, articulações e músculos, sendo responsável
pela sustentação e pela movimentação do corpo. Divide-se em: tronco; pernas e pés
(membros inferiores); braços e mãos (membros superiores).
A locomoção é fundamental para a saúde de todo ser humano, e principalmente para o
paciente geriátrico. A falta de locomoção pode causar:
● aumento da osteoporose; úlceras de pressão — feridas de atrito, por passar muito tempo
na mesma posição;
● prisão de ventre; problemas urinários e respiratórios;
● redução da força e do tônus muscular;
● aumento do risco de infecções e embolias.
A prevenção de problemas no aparelho locomotor deve garantir a movimentação
apropriada e manter a postura sempre correta, evitando assim danos à coluna vertebral.
Como orientar a correta movimentação do idoso
Os idosos em repouso tendem a se movimentar pouco na cama, mas é recomendável que
sejam incentivados a fazer rotações e mudar de posição, para evitar sérios problemas de
saúde. O processo de rotação é bastante simples de ser orientado, mas, para facilitá-lo, o
cuidador deve colocar uma tábua por baixo caso o colchão seja muito mole. Siga as
instruções para cada movimento específico:
Mover-se na cama ............ Levantar da cama
Sentar ................ Ficar de pé
Levantar ............... Andar
Mover-se na cama
Os pacientes que ainda se movem sozinhos podem fazer estes movimentos sem auxílio:
1. flexionar os joelhos, apoiando os pés sobre a cama e virando as pernas para o lado que se
pretende girar;
2. entrelaçar as mãos e levantá-las, esticando os cotovelos simultaneamente.
3. finalmente, rodar a cabeça para este mesmo lado.
Se o paciente for incapaz de realizar este exercício sozinho, o profissional ou o cuidador
deve ajudá-lo, ficando a seu lado e seguindo as instruções do item acima. Para dar
continuidade:
1. segurar com firmeza o paciente, colocando as mãos sobre o lado do corpo que ficará para
cima após o movimento;
2. apoiar uma mão na altura do ombro e a outra nos quadris;
3. depois, mover com delicadeza o paciente para o lado desejado, solicitando que ele olhe
para as mãos, para que mova a cabeça ao mesmo tempo.
Sentar
A maioria dos idosos, mesmo tendo boa saúde e independência para locomover-se, sofre de
problemas nas articulações e no sistema circulatório, de falta de vigor muscular e
coordenação motora, principalmente para a sustentação do tronco. Reunimos algumas
recomendações importantes sobre os tipos de assento aconselháveis:
● os apoios para os braços são essenciais, para a maior comodidade e para facilitar os
movimentos de levantar e sentar;
● o encosto deve proporcionar um bom apoio para as costas, os ombros e a cabeça,
deixando o idoso realmente confortável;
● o material do estofado do assento deve ser firme, para facilitar a movimentação do idoso,
e de fácil lavagem.
Realizando o movimento
● se o paciente estiver muito incapacitado, o cuidador, ao sentá-lo, deve usar seus próprios
pés e joelhos para firmar os do paciente;
● o idoso precisa aproximar-se o suficiente do assento até encostar nele com a parte de trás
dos joelhos;
● a seguir, deve colocar as mãos sobre os braços da poltrona e inclinar-se para frente,
flexionando os joelhos até se sentar.
Caso o idoso seja incapaz de se sentar sozinho, e para que não escorregue no assento, o
cuidador deve pegá-lo por debaixo das axilas, até que toque com toda a parte das costas o
encosto da poltrona.
Postura correta do idoso sentado
● apoiar completamente os pés no chão, evitando que eles fiquem pendurados. Caso seja
preciso, colocar um suporte, como um banquinho ou almofada;
● distribuir o peso do corpo, para que o idoso se sente com a postura correta;
● manter as costas completamente apoiadas no encosto;
● manter quadris, joelhos e pés formando um ângulo de 90°.
Levantar
Em muitos casos, os idosos necessitam usar bengalas ou se apoiar em qualquer outro
objeto para se levantarem do assento. Isto pode ser muito perigoso, além de difícil e
incômodo. Então leia esta seção abaixo e saiba como ajudar nestes casos:
● o idoso deve ir até a beirada da cama, inclinar a cabeça e o tronco para frente com os pés
apoiados no chão e ligeiramente separados, segurar os braços de apoio do assento com as
mãos e dar impulso;
● caso o paciente não seja capaz de se levantar sozinho, o cuidador deve segurá-lo pelas
costas, usar seus próprios joelhos e pés para firmar os do paciente e colocar uma das pernas
entre as dele, com o mesmo intuito;
● quando o idoso tiver alguma deficiência em um dos braços, é recomendável que apóie o
braço saudável no braço do assento, e dê um impulso sobre a perna mais hábil;
● não é aconselhável superproteger o idoso quando for auxiliá-lo, tanto no sentar como no
levantar. O cuidador deve prestar a ajuda mínima necessária para motivá-lo a fazer por si
próprio.
Levantar da cama
O idoso com dificuldade, porém com movimentação independente, deve:
1. colocar as pernas para a beirada da cama;
2. apoiar os cotovelos e as mãos, e erguer a cabeça;
3. baixar os pés ao chão, sentando na cama.
Caso o paciente precise de auxílio, o cuidador deve:
1. posicionar-se de frente para ele, com os joelhos flexionados junto aos dele e usando os
pés para firmar os do paciente;
2. abraçando o idoso, por baixo das axilas, motivá-lo a se levantar, ao mesmo tempo que é
puxado para cima até que fique de pé;
Para sentar o paciente quando estiver deitado, pode-se usar uma escada de corda,
graduando-a de acordo com a necessidade, ou também trapézios que auxiliam no levantar.
Ficar de pé
A maioria dos idosos tendem a ficar curvados quando estão em pé. Por isso, deve-se sempre
policiá-los e conscientizá-los da importância de manter a postura ereta. Ou seja:
1. colocar os pés afastados, com um ligeiramente à frente do outro;
2. posicionar os quadris paralelos ao tronco ereto, ainda que com uma ligeira flexão, e os
pés apoiados no chão.
Andar
O andar nos idosos pode ser dificultado por diversos fatores, como doenças físicas ou
psíquicas e o próprio envelhecimento, entre outros.
Caso o idoso precise de ajuda para andar
O cuidador deve caminhar ao seu lado, segurando-o pela mão para que ele sinta mais
segurança, mas mesmo assim deixando que ele faça esforço; desta forma, o idoso não irá se
acostumar mal.
Caso o idoso precise de meio auxiliar para andar
Em muitos casos o paciente deve usar bengalas e muletas como auxílio para caminhar, o
que requer muito cuidado e alguns conhecimentos básicos. Os meios auxiliares mais usados
pelos idosos são:
Tripé e bengala de quatro pés: São recomendados para pessoas com idade mais avançada e
com muita instabilidade, e são considerados muito estáveis;
Muletas: São consideradas de uso simples, mas em muitos casos não oferecem a
estabilidade necessária, e por isso alguns idosos não se adaptam a elas. É fundamental que
se faça o uso correto das muletas: o paciente deve colocar o braço na braçadeira de apoio e
a mão no punho;
Bengala: é o meio mais utilizado. Deve ser usada do lado oposto ao lado lesado, e funciona
como uma extensão do braço: deve-se posicioná-la pouco à frente do corpo e paralela a ele,
a fim de melhorar a sustentação. É necessário atentar para o peso e a altura do paciente,
além de conferir se a bengala possui uma ponteira com borracha antiderrapante;
Andadores: eles podem ou não possuir rodas. Para que seu uso seja correto, é necessário
fazer pressão com as mãos, segurar nos punhos e posicionar o aparelho próximo ao corpo.
Isto porque o idoso, em muitos casos, fica longe do andador, o que favorece o risco de
quedas e acidentes. Os andadores são recomendados em situações mais graves, quando o
grau de instabilidade é alto.
Caso o idoso não precise de ajuda para andar
Mesmo que o idoso consiga caminhar sozinho, ainda precisa de orientação sobre sua
postura ao andar, que deve ser ereta e acompanhada do balançar dos braços. É preciso
sempre lembrá- lo de que deve levantar os pés para andar, colocando primeiro o calcanhar
e depois a ponta do pé.
6º Módulo: Incontinência Urinária
Incontinência Urinária
A incontinência urinária é a perda incontrolável de urina.
A incontinência urinária pode ocorrer e ocorre em qualquer idade, mas as suas causas
tendem a ser diferentes entre as faixas etárias. A incidência global da incontinência urinária
aumenta progressivamente com a idade.
Aproximadamente um em cada três indivíduos idosos apresenta algum problema com o
controle da bexiga. As mulheres apresentam o dobro de probabilidade que os homens de
serem afetadas. Mais de 50% dos residentes de asilos de velhos apresentam incontinência.
A incontinência urinária pode ser um motivo de internação de indivíduos idosos e contribui
para o desenvolvimento de úlceras de decúbito, de infecções vesicais e da depressão. A
incontinência urinária também produz situações embaraçosas e é frustrante.
Os rins produzem urina constantemente, a qual flui através de dois longos tubos (os
ureteres) até a bexiga, onde ela é armazenada. A parte mais baixa da bexiga (o colo) está
circundada por um músculo (o esfíncter urinário) que permanece contraído para manter
fechado o canal que leva a urina para fora do corpo (a uretra), de modo que a urina fica
retida no interior da bexiga até que ela encha. Quando a bexiga enche, estímulos são
transmitidos ao longo de certos nervos que ligam a bexiga à medula espinhal e, em seguida,
são enviados ao cérebro e o indivíduo toma consciência da necessidade de urinar. Ele pode
então, de modo consciente e voluntário, decidir se irá urinar ou não. Quando a decisão
tomada é a de urinar, o músculo do esfíncter relaxa, permitindo que a urina flua através da
uretra ao mesmo tempo em que os músculos da bexiga contraem para empurrar a urina
para fora. Esta força de expulsão pode ser aumentada com a contração dos músculos da
parede abdominal e do assoalho pélvico para aumentar a pressão sobre a bexiga.
O processo completo de retenção e liberação da urina (micção) é complexo e a capacidade
de controlar a micção pode ser comprometida em diferentes etapas do processo devido a
várias anormalidades. O resultado dessas anormalidades é a incontinência urinária (perda
de controle).
Os tipos de incontinência urinária são classificados de acordo com o modo e o momento do
início da incontinência: incontinência recente e repentina e incontinência de início gradual e
persistente. A incontinência urinária de início súbito freqüentemente indica um problema
de bexiga. A cistite (infecção da bexiga) é a causa mais comum. Outras causas incluem os
efeitos colaterais de medicamentos, os distúrbios que afetam a mobilidade ou causam
confusão mental, o consumo excessivo de bebidas que contêm cafeína ou de álcool e as
condições que irritam a bexiga ou a uretra (p.ex., vaginite atrófica, constipação grave). A
incontinência urinária persistente (crônica) pode ser decorrente de alterações cerebrais,
alterações vesicais ou uretrais ou problemas dos nervos que inervam a bexiga. Essas
alterações são particularmente comuns em idosos e mulheres na pós-menopausa.
O Que Causa Incontinência?
Incapacidade de postergar a micção por mais que alguns minutos após sentir a
necessidade de urinar.
A incontinência urinária também é classificada de acordo com a sintomatologia. Ela pode ser
de urgência, de esforço, de transbordamento ou total.
Causas e Tipos
A incontinência de urgência é um desejo urgente de urinar seguido pela perda incontrolável
de urina. Normalmente, os indivíduos conseguem conter a urina durante algum tempo após
a primeira sensação de que a bexiga está cheia. Em contraste, os indivíduos com
incontinência de urgência normalmente têm pouco tempo para chegar ao banheiro. Uma
mulher pode apresentar esta condição isoladamente ou concomitante com um grau variado
de incontinência por esforço (incontinência mista).
A causa aguda mais comum é a infecção do trato urinário. No entanto, a incontinência de
urgência não acompanhada por uma infecção é o tipo mais comum de incontinência em
indivíduos idosos e, freqüentemente, não apresenta uma causa evidente. As causas comuns
de incontinência de urgência em indivíduos idosos são a hiperatividade da bexiga e
distúrbios neurológicos (p.ex., acidente vascular e demência), os quais interferem na
capacidade do cérebro de inibir a bexiga. A incontinência urinária de urgência torna-se um
problema especial quando uma doença ou uma lesão impede que o indivíduo consiga
chegar rapidamente ao banheiro.
A incontinência por esforço é a perda incontrolável de urina durante a tosse, o esforço, o
espirro, o levantamento de objetos pesados ou qualquer manobra que aumente a pressão
intra- abdominal. A incontinência urinária por esforço é o tipo mais comum de incontinência
entre as mulheres. Ela pode ser causada por um enfraquecimento do esfíncter urinário.
Algumas vezes, a causa são alterações uretrais resultantes do trabalho de parto ou de uma
cirurgia pélvica. Nas mulheres que se encontram na pós-menopausa, a incontinência por
esforço ocorre devido ao fato da carência de estrogênio (um hormônio) contribuir para o
enfraquecimento da uretra e, conseqüentemente, reduzindo a resistência ao fluxo urinário
através desse canal.
Nos homens, a incontinência por esforço pode ocorrer após uma cirurgia de remoção da
próstata (prostatectomia, ressecção transuretral da próstata) durante a qual ocorreu uma
lesão da parte superior da bexiga ou do colo da bexiga.
A incontinência por transbordamento (ou paradoxal) é o escape incontrolável de pequenas
quantidades de urina de uma bexiga cheia. O escape ocorre quando a bexiga torna-se
dilatada e insensível devido à retenção crônica de urina. A pressão na bexiga aumenta tanto
que ocorre um gotejamento de pequenas quantidades de urina. Ao exame físico, o médico
freqüentemente consegue apalpar a bexiga cheia.
Em última instância, o indivíduo pode tornar-se incapaz de urinar porque o fluxo encontra-
se bloqueado ou porque os músculos da parede da bexiga não conseguem mais contrair.
Nas crianças, a obstrução do trato urinário inferior pode ser causada pela estenose da
extremidade da uretra ou do colo da bexiga. Nos adultos do sexo masculino, a obstrução da
saída da bexiga (a abertura da bexiga para a uretra) é normalmente causada por um
aumento benigno da próstata ou pelo câncer prostático.
Menos comumente, a obstrução pode ser causada pela estenose do colo da bexiga ou da
uretra, a qual pode ocorrer após uma cirurgia prostática. Mesmo a constipação pode causar
incontinência por transbordamento, pois quando as fezes enchem o reto, o colo da bexiga e
a uretra são pressionados. Diversos medicamentos que afetam o cérebro ou a medula
espinhal ou que interferem na transmissão nervosa (p.ex., drogas anticolinérgicos e
narcóticos) podem comprometer a capacidade de contração da bexiga, acarretando
distensão da bexiga e incontinência por transbordamento.
A disfunção nervosa que acarreta a bexiga neurogênica também pode causar incontinência
por transbordamento. A bexiga neurogênica pode ser decorrente de várias causas como,
por exemplo, uma lesão medular, uma lesão nervosa causada pela esclerose múltipla, o
diabetes, traumatismos, alcoolismo e intoxicação medicamentosa.
A incontinência total é a condição na qual a urina escapa constantemente da uretra, dia e
noite. Ela ocorre quando o esfíncter urinário não fecha adequadamente. Algumas crianças
apresentam esse tipo de incontinência devido a um defeito congênito no qual a uretra não
se fecha como um tubo. Nas mulheres, a incontinência total normalmente é causada por
uma lesão do colo da bexiga e da uretra ocorrida durante o trabalho de parto. Nos homens,
a causa mais comum é uma lesão do colo da bexiga e da uretra resultante de uma cirurgia,
principalmente a prostatectomia devido a um câncer.
A incontinência psicogênica é a incontinência decorrente de causas emocionais e não de
causas físicas. Este tipo ocorre ocasionalmente em crianças e mesmo em adultos que
apresentam problemas emocionais. A enurese (ato de urinar na cama) persistente pode ser
um exemplo. O médico pode suspeitar de uma causa psicológica quando o sofrimento
emocional ou a depressão é evidente e as outras causas de incontinência foram
descartadas.
Algumas vezes, ocorrem tipos mistos de incontinência. Por exemplo, uma criança pode
apresentar uma incontinência decorrente tanto de uma disfunção nervosa quanto de
fatores psicológicos. Um homem pode apresentar uma incontinência por transbordamento
devido ao aumento da próstata juntamente com uma incontinência de esforço devido a um
acidente vascular cerebral. As mulheres idosas freqüentemente apresentam um misto de
incontinência de urgência e por esforço.
Diagnóstico
Comumente, os indivíduos tendem a conviver com a incontinência sem buscar auxílio
profissional por terem medo ou por sentirem-se embaraçados para discutir o problema com
o médico ou porque eles acreditam equivocadamente que a incontinência faz parte do
processo de envelhecimento normal. No entanto, muitos casos de incontinência podem ser
curados ou controlados, especialmente quanto o tratamento é iniciado precocemente.
Normalmente, a causa pode ser descoberta e um plano terapêutico pode ser elaborado
após a realização de uma anamnese (história clínica) e de um exame físico. Deve ser
realizado um exame de urina para se verificar a presença de infecção. A quantidade de urina
que permanece na bexiga após a micção (urina residual) é freqüentemente mensurada com
o a auxílio da ultra-sonografia ou da sondagem vesical (colocação de um pequeno tubo,
denominado sonda ou cateter, no interior da bexiga). Um grande volume de urina residual
indica uma obstrução ou algum problema dos nervos ou da musculatura da bexiga.
Algumas vezes, pode ser necessária a realização da avaliação urodinâmica (exames especiais
realizados durante a micção). Esses exames mensuram a pressão da bexiga em repouso e
quando ela enche, sendo particularmente úteis nos casos de incontinência crônica. É
realizada a passagem de uma sonda vesical e, enquanto a bexiga é cheia com água através
da sonda, é realizada a mensuração da pressão no seu interior. Normalmente, a pressão
aumenta lentamente. Em alguns indivíduos, a pressão aumenta em espasmos súbitos ou
aumenta muito rapidamente antes da bexiga estar completamente cheia. O registro das
alterações da pressão ajuda o médico a determinar o mecanismo da incontinência e o
melhor tratamento.
Outro exame mensura a velocidade do fluxo urinário. Este exame pode ajudar a determinar
se o fluxo urinário encontra-se obstruído e se os músculos da bexiga conseguem contrair
com uma força suficiente para expulsar a urina.
A incontinência por esforço é diagnosticada através da história clínica do problema, do
exame vaginal nas mulheres e da observação da perda de urina durante a tosse ou durante
a realização de um esforço. O exame ginecológico também ajuda a determinar se o
revestimento uretral ou vaginal sofreu um adelgaçamento devido à falta de estrogênio.
Tratamento
O tratamento ideal depende da análise minuciosa do problema de forma individualizada e
varia de acordo com a natureza específica do problema. A maioria dos indivíduos com
insuficiência urinária pode ser curada ou podem ser ajudados consideravelmente.
Freqüentemente, o tratamento exige apenas a instituição de medidas simples para mudar o
comportamento. Muitos indivíduos podem recuperar o controle vesical através de técnicas
de modificação comportamental como, por exemplo, urinar em intervalos regulares (a cada
2 a 3 horas) para manter a bexiga relativamente vazia. Evitar irritantes da bexiga (p.ex.,
bebidas que contêm cafeína) e a ingestão de uma quantidade de líquido (6 a 8 copos de 240
ml por dia) para evitar que a urina se torne concentrada (o que pode irritar a bexiga) pode
ser medidas úteis. Freqüentemente, o uso de medicações que afetam a função da bexiga de
modo adverso pode ser interrompido.
Tratamentos específicos (descritos a seguir) devem ser tentados. Quando é impossível
controlar totalmente a incontinência urinária com tratamentos específicos, absorventes e
roupas de baixo especialmente projetadas para incontinência urinária podem proteger a
pele, permitindo que os indivíduos permaneçam secos, confortáveis e socialmente ativos.
Esses dispositivos são discretos e podem ser facilmente adquiridos.
Os episódios de incontinência de urgência freqüentemente podem ser evitados através da
micção em intervalos regulares, antes do surgimento da urgência miccional. As técnicas de
treinamento vesical, os quais incluem os exercícios da musculatura pélvica e o biofeedback,
podem ser muito úteis. Alguns medicamentos que relaxam a bexiga (p.ex., propantelina,
imipramina, hiosciamina, oxibutinina e diciclomina) também podem ser úteis. Apesar de
muitas das drogas disponíveis poderem ser muito úteis, cada uma atua de forma diferente e
pode causar efeitos adversos. Por exemplo, um medicamento que relaxa a bexiga pode
reduzir a irritabilidade desse órgão e a forte urgência para urinar, mas pode causar
ressecamento da boca ou uma retenção excessiva de urina. Algumas vezes, os outros efeitos
do medicamento podem ser utilizados de modo vantajoso. Por exemplo, a imipramina é um
antidepressivo eficaz e pode ser particularmente útil no tratamento de um indivíduo que
apresenta incontinência urinária e depressão. Às vezes, as combinações de medicamentos
podem ajudar. O tratamento medicamentoso deve ser controlado e ajustado segundo as
necessidades individuais.
Em muitas mulheres com incontinência por esforço, o problema pode ser aliviado com a
aplicação de um creme vaginal de estrogênio ou o uso oral de comprimidos de estrogênio.
Os adesivos cutâneos de estrogênio ainda não foram estudados para o tratamento da
incontinência. Outros medicamentos que ajudam a contrair o esfíncter (p.ex., fenilpro-
panolamina, pseudo- efedrina) devem ser concomitantemente com o estrogênio. Para as
mulheres com fraqueza da musculatura pélvica, os exercícios (de Kegel) que reforçam essa
musculatura podem ser úteis. O auto-aprendizado dessas técnicas de contração muscular
não é fácil e, por essa razão, são freqüentemente utilizados mecanismos de biofeedback
para ajudar no treinamento. Os enfermeiros ou os fisioterapeutas podem auxiliar no ensino
desses exercícios. Os exercícios implicam na contração repetida da musculatura, várias
vezes ao dia, para desenvolver a resistência e aprender a utilização adequada da
musculatura, nas situações que provocam incontinência (p.ex., tosse). Podem ser utilizados
absorventes para reter as pequenas quantidades de urina que geralmente escapam durante
os exercícios.
Os casos mais graves, os quais não respondem aos tratamentos não-cirúrgicos, podem ser
corrigidos cirurgicamente através da utilização de qualquer um dos vários procedimentos de
levantamento da bexiga e do fortalecimento do fluxo urinário de saída. Em alguns casos, a
injeção de colágeno em torno da uretra é eficaz.
Para a incontinência por transbordamento causada pelo aumento da próstata ou por uma
outra obstrução, a cirurgia normalmente é necessária. Existem disponíveis vários
procedimentos de remoção parcial ou total da próstata. O medicamento finasterida
freqüentemente consegue reduzir o tamanho da próstata ou interromper o seu
crescimento, de modo que a cirurgia pode ser evitada ou postergada. As drogas que
relaxam o esfíncter (p.ex., terazosina) também são freqüentemente úteis.
Quando a causa é a contração fraca da musculatura da bexiga, os medicamentos que
aumentam a contração vesical (p.ex., betanecol) podem ser úteis. A aplicação de uma leve
pressão através da compressão da região abdominal inferior com as mãos, logo acima da
bexiga, também pode ser útil, especialmente para os indivíduos que conseguem esvaziar a
bexiga, mas apresentam dificuldade para esvaziá-la completamente. Em alguns casos, é
necessária a sondagem (cateterização) vesical pra drenar a bexiga e prevenir complicações
(p.ex., infecções recorrentes e lesão renal). A sonda pode ser mantida de modo permanente
ou pode ser inserida e removida de acordo com a necessidade.
A incontinência urinária total pode ser tratada através de diversos procedimentos cirúrgicos.
Por exemplo, um esfíncter urinário que não fecha adequadamente pode ser substituído por
um esfíncter artificial.
O tratamento da incontinência psicogênica consiste de psicoterapia, normalmente
coordenada com a modificação comportamental e o uso dos dispositivos que despertam a
criança quando a enurese começa ou com o uso de medicamentos que inibem as
contrações da bexiga. O indivíduo com incontinência e depressão pode ser beneficiado com
o uso de medicamentos antidepressivos.
7º Módulo: Medicamentos e Envelhecimento
Medicamentos e Envelhecimento
Com o envelhecimento, aumenta a probabilidade de ocorrência de doenças crônicas; por
isso, as pessoas idosas em geral tomam mais medicamento que os adultos jovens. Em
média, uma pessoa idosa toma quatro ou cinco medicamentos de receita obrigatória e dois
de venda livre. Os idosos são duas vezes mais suscetíveis a reações medicamentosas
adversas que os adultos jovens. Também a probabilidade de reações adversas serem mais
severas é maior para os idosos.
À medida que as pessoas vão envelhecendo, a quantidade de água no organismo diminui.
Como muitas drogas se dissolvem na água e há menos água disponível para sua dissolução,
essas drogas atingem níveis mais elevados de concentração nas pessoas idosas. Além disso,
os rins tornam-se menos capazes de excretar as drogas na urina, e o fígado, menos capaz de
metabolizar muitas delas. Por essas razões, muitos medicamentos tendem a permanecer no
corpo das pessoas idosas durante um tempo muito maior do que ocorreria no organismo de
uma pessoa mais jovem.
Em decorrência disso, os médicos devem prescrever doses menores de muitos
medicamentos para pacientes idosos ou um menor número de doses diárias. O organismo
do idoso também é mais sensível aos efeitos de muitos medicamentos. Por exemplo, as
pessoas idosas tendem a ficar mais sonolentas e apresentam maior possibilidade de ficar
confusas ao tomar drogas ansiolíticas ou indutores do sono.
Medicamentos que baixam a pressão arterial por meio do relaxamento das artérias e de
redução da tensão sobre o coração tendem a baixar a pressão de forma muito mais
acentuada nos idosos que nas pessoas jovens. Cérebro, olhos, coração, vasos sangüíneos,
bexiga e intestinos tornam-se consideravelmente mais sensíveis aos efeitos colaterais
anticolinérgicos de alguns medicamentos de uso freqüente. As drogas com efeitos
anticolinérgicos bloqueiam a ação normal da parte do sistema nervoso, denominada
sistema nervoso colinérgico.
Certos medicamentos tendem a causar reações adversas com mais freqüência e intensidade
nos idosos, devendo por isso ser evitados. Em quase todos os casos, existem substitutos
mais seguros à disposição. Pode ser arriscado não seguir as orientações do médico em
relação ao uso de medicamentos. No entanto, a não adesão às orientações clínicas não é
mais comum entre idosos do que entre pessoas mais jovens. Não tomar um remédio, ou
tomá-lo em doses erradas, pode causar problemas; por exemplo, provocando o surgimento
de outra doença ou levando o médico a mudar o tratamento por acreditar que o remédio
não funcionou. Uma pessoa idosa que não deseja seguir as orientações clínicas deve discutir
a situação com seu médico em vez de agir sozinha.
Drogas que Representam Aumento de Risco em Pessoas Idosas.
Analgésicos
O propoxifeno não oferece maior alívio da dor que o acetaminofeno e provoca efeitos
colaterais narcóticos. Pode causar constipação, tontura, confusão e (raramente) respiração
lenta. Como os outros narcóticos (opióides), essa substância pode causar dependência.
Entre todas as drogas antiinflamatórias não esteróides, a indometacina é a que mais afeta o
cérebro. Às vezes, essa substância provoca confusão mental ou tontura. Quando injetada, a
meperidina é um analgésico potente, mas, quando administrada por via oral, não é muito
eficaz contra a dor e freqüentemente produz confusão mental.
A pentazocina é um analgésico narcótico que apresenta maior possibilidade de provocar
confusão mental e alucinações, em comparação com outros narcóticos.
Substâncias Anticoagulantes
No idoso, o dipiridamol pode provocar tontura quando o indivíduo se levanta (hipotensão
ortostática). Para a maioria das pessoas, essa substância oferece pouca vantagem, em
comparação com a aspirina, na prevenção da formação de coágulos sangüíneos.
Para a maioria das pessoas, a ticlopidina não é mais eficaz que a aspirina na prevenção de
coágulos sangüíneos, sendo consideravelmente mais tóxica. A ticlopidina pode ter utilidade
como alternativa para pessoas que não podem tomar aspirina.
Drogas Antiulcerosas
Doses usuais de alguns bloqueadores da histamina (em especial de cimetidina e, até certo
ponto, de ranitidina, nizatidina e famotidina) podem causar efeitos adversos,
principalmente confusão mental.
Antidepressivos
Em razão de suas fortes propriedades anticolinérgicas e sedativas, a amitriptilina
geralmente não é o melhor antidepressivo para pessoas idosas. A doxepina também é um
potente anticolinérgico.
Medicamentos contra Náusea (antieméticos)
A trimetobenzamida é uma das drogas menos eficazes contra a náusea e pode provocar
efeitos adversos, como movimentos anormais dos braços, das pernas e do corpo.
Anti-histamínicos
Todos os anti-histamínicos de venda livre e muitos de receita obrigatória produzem efeitos
anticolinérgicos potentes. As drogas incluem: clorfeniramina, difenidramina, hidroxizina,
ciproeptadina, prometazina, tripelenamina, dexclorfeniramina e medicamentos combinados
contra resfriado. Mesmo que possam ser úteis no tratamento de reações alérgicas e alergias
sazonais, em geral os anti-histamínicos não são apropriados para combater a coriza e outros
sintomas de infecção viral. Nos casos em que há necessidade de anti-histamínicos, dá-se
preferência aos que não produzem efeitos anticolinérgicos (loratadina e astemizol).
Normalmente os medicamentos contra tosse e resfriado que não incluem anti-histamínicos
em suas fórmulas são mais seguros para pessoas idosas.
Anti-hipertensivos
A metildopa, isoladamente ou em combinação com outros medicamentos, pode reduzir os
batimentos cardíacos e agravar a depressão. O uso de reserpina é arriscado, pois pode
induzir à depressão, impotência, sedação e tontura quando a pessoa se levanta.
14.8. Antipsicóticos
Embora antipsicóticos como clorpromazina, haloperidol, tioridazina e tiotixeno sejam
eficazes no tratamento dos distúrbios psicóticos, não foi estabelecida sua eficácia no
tratamento de distúrbios comportamentais associados à demência (como agitação,
devaneios, repetição de perguntas, arremesso de objetos e agressão). Freqüentemente
essas drogas são tóxicas, provocando sedação, distúrbios do movimento e efeitos colaterais
anticolinérgicos. No caso de o uso ser imprescindível, as pessoas idosas devem usar
antipsicóticos em doses pequenas. A necessidade do tratamento deve ser freqüentemente
reavaliada, e os medicamentos devem ser interrompidos o mais rápido possível.
Antiespasmódicos Gastrintestinais
Antiespasmódicos gastrintestinais, como diciclomina, hiosciamina, propantelina, alcalóides
da beladona e clidínio- clordiazepóxido são administrados no tratamento das cólicas e dores
estomacais. Essas substâncias são altamente anticolinérgicas, e sua utilidade – em especial
nas baixas doses toleradas pelas pessoas idosas – é questionável.
Drogas Antidiabéticas (hipoglicemiantes)
A clorpropamida tem efeitos prolongados, que são exagerados nas pessoas idosas e podem
causar longos períodos de baixos níveis de açúcar no sangue (hipoglicemia). Por promover a
retenção de água pelo organismo, a clorpropamida também diminui o nível de sódio no
sangue.
Suplementos de Ferro Doses de sulfato ferroso que excedam 325 miligramas diários não
melhoram muito sua absorção e podem causar constipação.
Relaxantes Musculares e Antiespasmódicos Quase todos os relaxantes musculares e
antiespasmódicos, como metocarbamol, carisoprodol, oxibutinina, clorzoxazona metaxalona
e ciclobenzaprina provocam efeitos colaterais anticolinérgicos, sedação e debilidade. É
questionável a utilidade de todos os relaxantes musculares e antiespasmódicos nas baixas
doses toleradas pelos idosos.
Sedativos, Ansiolíticos e Indutores do Sono
O meprobamato, além de não oferecer vantagens em relação aos benzodiazepínicos,
apresenta muitas desvantagens.
Clordiazepóxido, diazepam e flurazepam – benzodiazepínicos utilizados no tratamento da
ansiedade e insônia – têm efeitos extremamente prolongados nos idosos (em geral, por
mais de 96 horas). Essas drogas, isoladamente ou em combinação com outras, podem
causar sonolência prolongada e aumentam o risco de quedas e fraturas.
A difenidramina, um anti-histamínico, é o ingrediente ativo em muitos sedativos de venda
livre. Mas a difenidramina produz efeitos anticolinérgicos potentes.
Barbitúricos, como o secobarbital e o fenobarbital, produzem mais efeitos adversos que
outras drogas utilizadas no tratamento da ansiedade e da insônia. Também interagem com
muitas outras substâncias. Em geral, os idosos devem evitar os barbitúricos, exceto para o
tratamento de distúrbios convulsivos.
Anticolinérgico: O Que Isso Significa?
A acetilcolina é um dos muitos neurotransmissores do organismo. Neurotransmissor é uma
substância química utilizada pelas células nervosas para a intercomunicação e para a
comunicação com os músculos e com muitas glândulas. Diz-se que as drogas que bloqueiam
a ação do neurotransmissor acetilcolina têm efeitos anticolinérgicos. A maioria dessas
substâncias, no entanto, não foi projetada para bloquear a acetilcolina; seus efeitos
anticolinérgicos são efeitos colaterais. Pessoas idosas são particularmente sensíveis às
drogas com efeitos anticolinérgicos porque, com a idade, diminui tanto a quantidade de
acetilcolina no organismo quanto a capacidade orgânica de utilização da acetilcolina
existente no corpo. Drogas com efeitos anticolinérgicos podem provocar confusão mental,
turvamento da vista, constipação, boca seca, tontura e dificuldade de micção ou perda do
controle da bexiga.
Atividade Física
1. Atividade Física
Nesta seção, apresentamos conceitos relacionados à atividade física para idosos. O enfoque
principal é treinamento de equilíbrio, mas outras capacidades e habilidades também serão
abordadas, uma vez que o equilíbrio em seres humanos é dependente de inúmeros fatores.
1. Treinamento do equilíbrio
● Fundamentos de treinamento (equilíbrio) Exercícios para treinar o equilíbrio
1. Treinamento de força
● Exercícios para treinar a força
1. Treinamento de resistência aeróbia
● Fundamentos de treinamento (resistência) Exercícios para treinar a resistência aeróbia
1. Treinamento de flexibilidade
● Fundamentos de treinamento (flexibilidade)
● Exercícios para treinar a flexibilidade
Fundamentos de treinamento (equilíbrio)
Alguns exercícios utilizados para o treinamento de força dos membros inferiores podem
também ser utilizados para o treinamento do equilíbrio. Para tal, pode-se adotar uma
seqüência de estágios que desafia com dificuldade progressiva a capacidade de se
equilibrar. Os estágios a seguir trazem uma progressão que pode ser facilmente utilizada
durante os exercícios de treinamento de força:
Estágio I – apoiar as duas mãos em uma cadeira (ou qualquer outro apoio);
Estágio II – apoiar apenas uma mão na cadeira; Estágio III – apoiar apenas um dedo na
cadeira;
Estágio IV – realizar o exercício sem apoio dos membros superiores;
Estágio V – se houver grande estabilidade no estágio IV, os exercícios podem ser realizados
sem o apoio das mãos e de olhos fechados. Como neste estágio há um maior risco de
instabilidade, é importante haver alguém acompanhando o executante para evitar possíveis
acidentes.
No entanto, é essencial ter em mente que, apesar de os exercícios estarem sendo
direcionados para o treinamento do equilíbrio, as mesmas precauções tomadas durante o
treinamento de força devem ser consideradas antes de se iniciar uma sessão dessa
atividade.
● É importante treinar todos os grupos musculares principais, evitando treinar o mesmo
grupo muscular dois dias consecutivos.
● Cada repetição deve ser executada da seguinte maneira: 3 segundos para realizar o
movimento, 1 segundo mantendo a posição alcançada, e mais 3 segundos para retornar à
posição inicial.
● Antes do treinamento deve ser realizado um aquecimento, que pode consistir em uma
caminhada leve e movimentação dos membros utilizados nos exercícios (aproximadamente
10 minutos de duração).
● A respiração deve se dar normalmente durante a execução dos exercícios. Prender a
respiração pode gerar variações na pressão sanguínea, tornando o exercício perigoso para
portadores de problemas cardiovasculares. Nos exercícios de elevação do membro inferior,
é importante expirar durante o levantamento, e inspirar enquanto o membro volta à
posição inicial.
● As cargas utilizadas devem ser iguais para ambos os lados do corpo.
● É importante remover os pesos utilizados nos membros inferiores para andar, pois sua
utilização durante o andar aumenta o risco de quedas.
● Quando os pesos não estiverem sendo usados, é importante colocá-los em lugares
apropriados, para que não haja o risco de alguém tropeçar neles.
● Pequena dor muscular e alguma fadiga são normais nos dias seguintes à prática, mas se
esses sintomas aparecerem de maneira excessiva, provavelmente a intensidade do
treinamento está alta demais.
● Se houver qualquer dor nas articulações durante a execução dos exercícios
(principalmente com relação à utilização de pesos), deve-se para o treino. Se a dor ocorrer
apenas em ângulos extremos nas articulações, os exercícios devem ser feitos de maneira a
não atingi-los;
● A amplitude dos movimentos deve ser a maior possível, de maneira que
simultaneamente haja alongamento da musculatura oposta àquela realizando o movimento.
Essa amplitude deve ser regulada pela flexibilidade de cada um, além de ser feita em limites
nos quais não ocorrem dores nas articulações.
● As primeiras sessões devem sempre ser realizadas sem carga extra, para que haja um
devido aprendizado dos exercícios. Como o enfoque principal do PEQUI é a prevenção de
quedas na população idosa, é interessante disponibilizar exercícios que contribuam para tal
de maneira prática, e de fácil entendimento de todos. Mas é também importante fornecer
orientação sobre como os exercícios devem ser feitos.
A literatura voltada para exercícios em idosos mostra muita coerência no que diz respeito às
suas características. A cada sessão, deve ser executado um exercício para cada grupo
muscular principal, sendo que as sessões devem ocorrer duas vezes por semana. Cada
exercício deve ser executado em séries, sendo que cada série corresponde a um grupo de
repetições desenvolvidas de forma contínua, sem interrupções, e, neste caso em particular,
devem possuir de 8 a 15 repetições. O número de séries pode variar entre um e três por
sessão de treinamento. É importante haver um descanso entre cada série, sendo que a
literatura relata que esse tempo deve estar entre 1 min e 3 min (é importante lembrar que
esse tempo de descanso corresponde à recuperação do músculo, ou seja, o tempo que ele
leva para estar metabolicamente preparado para novamente realizar o exercício; assim,
quanto maior a intensidade/ repetições realizadas, maior deverá ser o descanso entre as
séries). Cada repetição deve ser feita em aproximadamente 6 segundos, que correspondem
a: 3 segundos para realizar o movimento e 3 segundos para retornar à posição inicial
(lembrando que é mais válido realizar um exercício lentamente e de maneira correta que
realizá-lo rapidamente, o que diminui o controle do movimento, podendo assim não
estimular os músculos da maneira adequada para os objetivos do exercício).
Os itens apresentados acima são muito simples e práticos. No entanto, decidir a carga
utilizada nesse treinamento é um fator importantíssimo para que haja eficiência e segurança
durante a sua execução. O controle de carga se dá essencialmente de duas maneiras
distintas: pesos anexados ao membro executando o movimento, o número de repetições
por série, e o número de séries. Inicialmente, é importante que não haja nenhum peso
extra. Além de o peso dos próprios membros já servirem como uma ótima carga inicial, essa
ausência de cargas extras permite uma facilidade maior para executar os exercícios, levando
assim a um melhor aprendizado e conseqüente aproveitamento dos exercícios. Também é
interessante que no início seja executada apenas uma série por exercício, com oito
repetições cada. Após ser criada uma intimidade entre o executante e os exercícios,
mudam-se as regras para carga, como descrito a seguir.
Neste momento, é importante selecionar uma carga mais adequada à pessoa em questão,
ficando difícil portanto definir dados de maneira absoluta. O número de repetições que
apresenta um ganho interessante na força em idosos está entre 8 e 15. Assim, a carga deve
ser escolhida de maneira que, em cada série, o indivíduo consiga realizar de 8 a 15
repetições. Se não for possível realizar 8 repetições, a carga está muito alta, e deve ser
diminuída. Se mais de 15 repetições forem alcançadas, significa que a carga está muito
baixa, e deve ser aumentada. É importante lembrar que esse número não está relacionado
ao momento em que o músculo não mais consegue realizar o movimento, e sim ao
momento em que ocorre um grande desconforto em realizar o movimento (devido ao
cansaço do músculo). À medida que o treinamento ocorre, a tendência é que cada vez fique
mais fácil realizar o número de séries e de repetições estipulados inicialmente.
Como só há ganho de força à medida que o corpo é desafiado, essa maior facilidade em
realizar os exercícios deve ser acompanhada por um aumento da carga das sessões de
treinamento. Isso pode ocorrer de duas maneiras. O primeiro modo de fazê-lo é
simplesmente aumentar o peso levantado, o que pode ser feito também baseado no
número de repetições. À medida que ocorre aumento da força, o número de repetições
possíveis com uma mesma carga também aumenta. Como uma carga que permita mais de
15 repetições não trará os mesmos benefícios que uma carga que corresponda a um
máximo de 8 a 15 repetições, quando um exercício se torna muito fácil de ser executado
(sendo possível realizar mais de 15 repetições), o ideal seria ajustar a carga, de maneira que
só fosse possível realizar 8 repetições (portanto, deveria haver um aumento de peso).
Assim, apenas depois de um grande período de treinamento novamente essa carga
permitiria mais de 15 repetições por série, e novamente deveria ser ajustada.
A outra alternativa, seria aumentar o número de séries por exercício, o que deve ser feito
simultâneo a um pequeno decréscimo na quantidade de pesos utilizada. Mas o número de
séries não deve ultrapassar 3 (quando estiverem sendo feitas 3 séries com 15 repetições, a
única alternativa é aumentar a carga, sendo que neste caso deve haver uma diminuição no
número de séries), e o número de repetições nunca deve ultrapassar 15 ou ficar inferior a 8.
8º Módulo: Exercícios para Treinar o Equilíbrio
Exercícios para Treinar o Equilíbrio
Nesta seção apresentamos alguns exercícios para treinamento de equilíbrio e esses
exercícios podem ser ministrados obedecendo os princípios de treinamento. A idéia é que
em cada sessão de treinamento todos os exercícios abaixo devem ser executados. É
importante ressaltar que nem todos idosos são capazes de realizar tais movimentos, mas
adaptações são possíveis a cada exercício.
Flexão Plantar
Este exercício tem por objetivo fortalecer os músculos do tornozelo e da região posterior da
perna (panturrilha). O executante deve estar na posição ereta, com os pés totalmente
apoiados no chão, segurando em um apoio para aumentar o equilíbrio (por exemplo o
encosto de uma cadeira). O executante deve ficar nas pontas dos pés, o mais alto que
puder. Deve levar 3 segundos para subir, permanecer no alto por 1 segundo, e levar mais 3
segundos para voltar à posição inicial. A carga deste exercício pode ser aumentada
colocando pesos extras nos tornozelos. À medida que a força e o equilíbrio aumentarem
suficientemente, o executante pode passar a realizar este exercício com uma perna de cada
vez (mas é importante o mesmo número de repetições seja realizado para cada perna), mas
é importante lembrar que neste caso o aumento de carga é muito grande (só deve ser feito
quando realmente a carga estiver muito baixa, mesmo com pesos extras, ao realizar o
exercício com as duas pernas simultaneamente).
Resumo:
1. Mantenha o corpo ereto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;
2. Lentamente fique nas pontas dos pés, o mais alto que conseguir (expirando);
3. Mantenha a posição um pouco;
4. Lentamente desça os calcanhares até o chão (inspirando).
●Flexão de Joelho
Este exercício serve para fortalecer a musculatura da região posterior da coxa e da
panturrilha. O executante deve manter-se na postura ereta, segurando em um apoio para
aumentar o equilíbrio. O executante deve levar 3 segundos para flexionar o joelho, tirando o
pé do chão, de maneira que o tornozelo vá o mais alto possível (como ilustrado na figura). A
coxa deve permanecer imóvel durante a execução do exercício, apenas o joelho deve ser
flexionado. A volta à posição inicial também deve levar 3 segundos, terminando então uma
repetição do exercício. A carga pode ser aumentada colocando pesos extras nos tornozelos.
Resumo:
1. Mantenha o corpo ereto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;
2. Lentamente flexione o joelho até o limite (expirando);
3. Mantenha a posição um pouco;
4. Lentamente abaixe a perna, voltando à posição inicial (inspirando);
5. Ao terminar a as séries com uma perna, repita com a outra.
● Flexão de Quadril
Este exercício tem como objetivo fortalecer os músculos da coxa e do quadril. O executante
deve se posicionar atrás ou ao lado de uma cadeira (ou outro apoio qualquer). O movimento
de levantar a perna deve levar 3 segundos. A posição deve ser mantida por 1 segundo, e a
descida deve levar mais 3 segundos. A maneira de aumentar a carga do exercício é
adicionando pesos extras nos tornozelos.
Resumo:
1. Mantenha o corpo ereto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;
2. Lentamente erga seu joelho na direção do peito, sem deixar o tronco descer em direção à
coxa (expirando);
3. Mantenha a posição um pouco;
4. Lentamente abaixe a perna até o chão (inspirando);
5. Ao terminar as séries com uma perna, repita com a outra.
Extensão de Quadril
Este exercício serve para fortalecer a musculatura da região posterior da coxa e da região
glútea. O executante deve ficar de 30 a 45 cm afastado de uma cadeira ou mesa (ou outro
apoio para os membros superiores), com os pés ligeiramente afastados um do outro. O
tronco deve estar inclinado a aproximadamente 45º (na direção do apoio). A perna deve ser
erguida para trás sem flexão de joelhos, e este movimento deve levar aproximadamente 3
segundos. Durante a subida é importante não ficar nas pontas dos pés e nem levar o tronco
mais à frente. A posição alcançada deve ser mantida por 1 segundo, e a volta à posição
inicial deve levar 3 segundos, terminando então uma repetição do exercício. A carga pode
ser aumentada colocando pesos extras nos tornozelos.
Resumo:
1. Se posicione entre 30 e 45 cm afastado de um apoio para os membros superiores;
2. Incline o corpo à frente e segure no apoio;
3. Lentamente erga a perna (extendida) para trás (expirando);
4. Mantenha a posição um pouco;
5. Lentamente abaixe a perna, voltando à posição inicial (inspirando);
6. Ao terminar a as séries com uma perna, repita com a outra.
● Elevação Lateral do Membro Inferior
Este exercício serve para fortalecer a musculatura da região lateral da coxa e do quadril. O
executante deve manter-se na postura ereta, segurando em um apoio para aumentar o
equilíbrio, com os pés ligeiramente afastados. O executante deve levar 3 segundos para
elevar lateralmente a perna, sendo que o movimento deve ter um alcance de 15 a 30 cm.
O tronco deve permanecer sempre reto, e as duas pernas extendidas. Os pés devem estar
apontando para a frente. A posição alcançada deve ser mantida por 1 segundo, e a volta à
posição inicial deve levar 3 segundos, terminando então uma repetição do exercício. A carga
pode ser aumentada colocando pesos extras nos tornozelos.
Resumo:
1. Mantenha o corpo ereto, segurando em um apoio para manter o equilíbrio;
2. Lentamente eleve uma perna para o lado, de 15 a 30 cm (expirando);
3. Mantenha a posição um pouco;
4. Lentamente volte à posição inicial (inspirando);
5. Ao terminar a as séries com uma perna, repita com a outra;
6. O tronco e os dois joelhos devem estar extendidos durante toda a execução do exercício.
●Levantar e sentar sem a utilização das mãos
Este exercício tem por objetivo fortalecer os músculos do abdômen, das costas, do quadril e
da coxa. O executante deve sentar-se na metade anterior do assento da cadeira e reclinar
seu corpo até os ombros tocarem o encosto. As costas devem estar retas (apesar de o
tronco estar reclinado), o que é facilitado colocando um apoio para a região lombar (como
exemplificado na figura por um travesseiro). Os joelhos devem estar flexionados, e os pés
devem estar com toda a planta em contato com o chão. Usando minimamente os membros
inferiores (ou até mesmo sem usá-los, se possível), o executante deve trazer o tronco à
frente, desencostando do encosto da cadeira e do apoio lombar.
Para trabalhar adequadamente a musculatura abdominal, o tronco deve ser trazido à frente
com as costas retas (sem que os ombros se inclinem à frente durante a subida). Partindo
então desta posição sentada, com os pés totalmente apoiados no chão, o executante deve
levar 3 segundos para se erguer até a posição ereta (usando minimamente as mãos), e mais
3 segundos para sentar. Durante a subida e a descida do corpo, é importante também
manter as costas retas. Neste exercício, uma maneira de aumentar a carga é utilizar cada
vez menos as mãos para auxiliar o movimento do corpo. Após estar sentado, o corpo deve
novamente ser reclinado até o encosto da cadeira, terminando assim uma repetição do
exercício.
Resumo:
1. Coloque um travesseiro no encosto de uma cadeira;
2. Sente na metade anterior do assento da cadeira, com os joelhos flexionados e com os pés
totalmente apoiados no chão;
3. Recline sobre o travesseiro, permanecendo com o tronco inclinado e com as costas retas;
4. Leve o tronco à frente até ficar sentado com as costas retas, usando minimamente as
mãos (inspirando);
5. Levante lentamente, usando minimamente as mãos (expirando);
6. Sente lentamente, usando minimamente as mãos (inspirando);
7. Recline novamente o corpo, apoiando as costas no travesseiro, retornando assim à
posição inicial (expirando);
8. Mantenha as costas e os ombros retos durante toda a execução do exercício.
Adaptação 1 o exercício também pode ser feito sem a fase de trazer o corpo à frente
(correspondendo apenas à segunda e à terceira imagens na figura), mas isso implica em um
menor ganho de força nos músculos abdominais, que são extremamente importantes para
manter um bom equilíbrio.
Adaptação 2: Como nem todos conseguem realizar muitas repetições desse exercício, pode
ser necessário adaptá-lo da seguinte maneira: ao invés de o idoso levantar por completo,
ele deve somente iniciar o movimento de subida, perdendo assim o contato com a cadeira.
A posição alcançada deve ser mantida por 1 segundo, e então o idoso retorna à posição
sentada (podendo também reclinar se estiver utilizando um apoio lombar). Dessa maneira,
o desgaste do exercício fica reduzido (permitindo assim um maior número de repetições),
mas os mesmos músculos são trabalhados. Conforme o idoso ganha força e resistência
muscular, essa adaptação deve ser deixada de lado para que ocorram maiores ganhos.
● Outros exercícios
Há ainda alguns exercícios que treinam o equilíbrio e podem ser praticados a qualquer hora,
em qualquer lugar e quanto for desejado. Mas é importante que haja algum apoio por perto
para gerar segurança em uma eventual instabilidade durante sua execução:
● Permanecer ereto em apenas um pé (alternando-os), o que pode ser feito durante
atividades do cotidiano.
● Andar com passos bem curtos, de maneira que o pé que executou o passo encosta o
calcanhar nos artelhos (dedos do pé) do pé de apoio.
Exercícios para Treinar a Força
Os exercícios aqui sugeridos correspondem a exercícios de treinamento de força para os
membros superiores. Como os exercícios para treinar o equilíbrio são também exercícios
para treinamento de força para os membros inferiores, um treinamento completo será
alcançado somando os exercícios deste item com os de equilíbrio. Assim, ao realizar seu
treinamento de força, simultaneamente a capacidade de manter o equilíbrio também será
treinada, tornando assim o treinamento mais simples. É importante lembrar que os mesmos
cuidados necessários para o treinamento de força para os membros inferiores também
devem ser tomados para o treinamento de força para os membros superiores. Estes
cuidados estão descritos em fundamentos de treinamento (equilíbrio). Estes exercícios
também podem ser executados em pé, sendo a cadeira apenas um facilitador.
● Elevação Lateral dos Membros Superiores
Este exercício serve para fortalecer a musculatura do ombro. O executante deve estar
sentado em uma cadeira sem braços, com as costas retas (apoiadas no encosto) e os pés
totalmente apoiados no chão, separados um do outro na largura dos ombros. O exercício
deve se iniciar com os braços relaxados ao lado do corpo, com as palmas das mãos voltadas
para dentro (para o próprio corpo). Os braços então devem ser elevados lateralmente
durante 3 segundos, até ficarem paralelos ao solo. A posição deve ser mantida por 1
segundo, e então os braços devem ser abaixados durante 3 segundos, até ficarem
extendidos ao lado do corpo novamente (finalizando assim uma repetição). A posição das
mãos não varia durante o exercício, tomando como referência o braço.
A carga deste exercício pode ser aumentada segurando pesos com as mãos. No caso de a
carga estar muito grande, mesmo sem pesos extras, uma estratégia para diminuí-la é fazer
uma flexão de cotovelo ao realizar o exercício. Quanto mais longe do corpo está o peso,
maior será a força necessária para levantá-lo. Flexionar o cotovelo permite regular a
distância da mão ao corpo durante a elevação lateral do membro superior, e, portanto,
regular a força necessária para realizar o movimento. Quanto mais flexionado estiver o
cotovelo, mais próxima do corpo estará a mão, e menor será a carga do exercício. Um outro
ponto importante deste exercício é que ele pode ocasionar dores nos ombros. Ao invés de
cessar a atividade, uma alternativa é não elevar os braços tão lateralmente.
Quanto mais à frente do corpo forem elevados os braços, menor será a sobrecarga nos
ombros, e menor será a carga do exercício. Mas essa adaptação deve ser feita com no
máximo com um ângulo de 45º de diferença (à partir desse ângulo o exercício estará mais
próximo de uma flexão de ombro, que será descrita mais adiante), e apenas se houver dor
durante sua execução.
Resumo:
1. Sente em uma cadeira;
2. Mantenha os pés em total contato com o chão e afastados na largura dos ombros;
3. Os braços devem estar extendidos ao lado do corpo;
4. Eleve os braços lateralmente até a altura dos ombros;
5. Mantenha a posição um pouco;
6. Lentamente retorne à posição inicial.
● Extensão de Cotovelo
Este exercício tem por objetivo fortalecer o músculo posterior do braço (tríceps). O
executante deve estar sentado em uma cadeira, com os pés totalmente apoiados no chão e
afastados um do outro na largura dos ombros. O braço deve ser elevado com o cotovelo
flexionado, até que o cotovelo aponte para o teto (como na primeira figura). A mão do
braço realizando o movimento deve inicialmente estar próxima ao ombro, com a palma da
mão voltada para dentro. O braço deve ser sustentado pela mão do braço oposto, que deve
fornecer um apoio logo abaixo do cotovelo (não apoiar na articulação). O cotovelo deve
então ser extendido durante 3 segundos, até que fique completamente extendido, de
maneira que a mão aponte para o teto. Apenas a articulação do cotovelo deve se
movimentar. A posição deve ser mantida por 1 segundo, e então o cotovelo deve ser
flexionado (durante 3 segundos), voltando assim à posição inicial (finalizando assim uma
repetição). O apoio dado pela mão do braço oposto deve ser mantido durante toda a
execução do exercício. Uma maneira de aumentar a carga deste exercício é segurando pesos
extras na mão do braço executando o movimento.
Resumo:
1. Sente em uma cadeira;
2. Mantenha os pés totalmente apoiados no cão, separados na largura do ombro;
3. Levante um braço com o cotovelo flexionado, até este ficar apontando para o teto (e a
mão deve estar próxima ao ombro);
4. Apoie a mão do braço oposto logo abaixo do cotovelo para dar suporte para o exercício;
5. Extenda o cotovelo lentamente;
6. Mantenha a posição um pouco;
7. Flexione o cotovelo lentamente, voltando à posição inicial;
8. Repita o exercício com o outro braço após terminar as séries;
● Flexão de Cotovelo
Este exercício tem por objetivo fortalecer a musculatura anterior do braço (bíceps) e os
músculos do antebraço. O executante deve estar sentado em uma cadeira sem braços, com
as costas apoiadas no encosto da cadeira. Os pés devem estar totalmente apoiados no chão
e afastados um do outro na largura dos ombros. O braço deve estar extendido para baixo,
ao lado do corpo, com a palma da mão voltada para a frente. O cotovelo deve então ser
flexionado, mantendo a posição da mão em relação ao braço ( a articulação do ombro não
se mexe, apenas a do cotovelo). Esse movimento deve levar 3 segundos para ser efetuado, e
o executante deve tomar cuidado para que seu corpo não se movimente lateralmente
durante a flexão de cotovelo. Atingido a flexão máxima, a posição deve ser mantida por 1
segundo, e o cotovelo deve então ser extendido, voltando à posição inicial, em mais 3
segundos (finalizando assim uma repetição). Para aumentar a carga deste exercício, basta
segurar um peso extra na mão do braço realizando a flexão.
Resumo:
1. Sente em uma cadeira sem braços, apoiando as costas em seu encosto;
2. Mantenha os pés em total contato com o chão e afastados na largura dos ombros;
3. Deixe o braço extendido para baixo, ao lado do corpo, com a palma da mão para a frente;
4. Lentamente flexione o cotovelo, trazendo a mão para perto do peito;
5. Mantenha a posição um pouco;
6. Lentamente extenda o cotovelo, voltando à posição inicial;
7. Repita o exercício com o outro braço após finalizar as séries.
● Flexão de Ombro
Este exercício serve para fortalecer a musculatura dos ombros. O executante deve estar
sentado em uma cadeira sem braços, com as costas retas apoiadas no encosto da cadeira.
Os pés devem estar totalmente apoiados no chão e afastados um do outro na largura dos
ombros. Os braços devem, inicialmente, estar estendidos ao lado do corpo, com as palmas
da mão voltadas para dentro. Os braços devem então ser levantados para a frente durante 3
segundos, mantendo-os estendidos e girando os punhos para que as mão fiquem voltadas
para cima. Quando os braços ficarem paralelos com o chão, a posição deve ser mantida por
1 segundo. O executante deve então descer os braços até a posição inicial, girando
novamente os punhos para que as palmas das mãos fiquem voltadas para dentro, o que
deve levar mais 3 segundos. Para aumentar a carga deste, basta segurar pesos extras com as
mãos.
Resumo:
1. Sente em uma cadeira;
2. Mantenha os pés totalmente apoiados no cão, separados na largura do ombro;
3. Posicione os braços entendidos ao lado do corpo, com as palmas das mãos voltadas para
dentro;
4. Eleve ambos os braços à sua frente até a altura dos ombros, girando as palmas das mãos
para cima;
5. Mantenha a posição um pouco;
6. Lentamente desça os braços até a posição inicial, girando as palmas das mãos para dentro
novamente;
●Empurrar a Cadeira
Este exercício serve para fortalecer os músculos da parte de trás dos braços (tríceps), das
costas, do antebraço e do peito. O executante deve estar sentado em uma cadeira com
braços, com o corpo pendendo levemente à frente, com as costas retas (mas sem encostá-
las no encosto da cadeira). O executante deve então segurar nos braços da cadeira,
alinhando suas mãos e o tronco, ou posicionando-as levemente à frente do tronco. Os pés
devem estar posicionados embaixo da cadeira, com os calcanhares levantados, de modo
que o peso dos pés esteja distribuído somente sobre os artelhos (dedos do pé) e sobre o a
parte anterior do pé. Lentamente, o executante deve levantar seu corpo usando os braços,
o mais alto que conseguir, tentando manter a posição em que o corpo se encontrava
sentado (com flexão de quadril e de joelho). Mesmo que o executante não consiga se
levantar, o esforço necessário para tentar é suficiente para fortalecer progressivamente os
músculos em questão. O ideal é que os membros inferiores não sejam utilizados para ajudar
o movimento de subida, ou ainda que sejam utilizados minimamente. A carga deste
exercício pode ser aumentada colocando pesos extras sobre as coxas.
Resumo:
1. Sente em uma cadeira com braços;
2. Incline o corpo ligeiramente à frente, mantendo as costas retas;
3. Segure nos braços da cadeira;
4. Posicione os pés abaixo da cadeira, com o peso sobre os artelhos;
5. Lentamente levante o corpo utilizando apenas os braços (expirando);
6. Lentamente desça os braços até a posição inicial (inspirando).
9º Módulo: Fundamentos de Treinamento
Fundamentos de Treinamento (Resistência)
A capacidade aeróbia consiste, basicamente, na capacidade de absorver, transportar e
utilizar o oxigênio do ar para realizar as reações bioquímicas necessárias para gerar a
energia que será utilizada durante a atividade física. Essa capacidade corresponde a uma via
metabólica específica, e esses mecanismos se tornam mais eficientes quando se pratica
atividades de baixa intensidade e longa duração. Uma maneira de quantificar essa
capacidade é medindo o VO2max, que corresponde ao consumo máximo de oxigênio
durante atividades físicas, ou seja, o quanto do oxigênio a pessoa é capaz de retirar do ar e
aproveitar para gerar energia
. Assim como qualquer atividade física, o treinamento de resistência aeróbia deve seguir
algumas regras, tanto para que o treinamento alcance os objetivos buscados, quanto para
preservar a integridade física de quem o está praticando.
A resistência aeróbia é uma capacidade que deve ser desenvolvida gradualmente. Para se
iniciar um treinamento, um tempo mínimo diário por sessão de treinamento é de 5 minutos.
Apesar de este tempo não ser suficiente para trazer os ganhos de um treinamento de
resistência aeróbia, começar o treinamento com um baixo nível de esforço e ir aumentando-
o gradualmente é especialmente importante para aqueles que estão inativos há muito
tempo. A idéia é que com o devido tempo, essa leve atividade se torne uma atividade de
dificuldade de moderada a vigorosa, apesar de ainda continuar com um curto tempo de
duração (5 minutos).
Quando for possível realizar atividades com intensidade de moderada a vigorosa por 5
minutos, é hora de aumentar esse tempo por sessão de treinamento para pelo menos 10
minutos, já que realizar atividades por tempos menores que esses não trará os benefícios
cardiovasculares e respiratórios desse tipo de treinamento. O objetivo nesta progressão é
que o executante chegue a pelo menos 30 minutos de atividade em cada sessão de
treinamento. Uma progressão possível seria aumentar em 5 minutos o tempo de atividade a
cada mês, até atingir 30 minutos (ou mais). Dividir esses 30 minutos em três fases de 10
minutos de duração também traz benefícios cardiovasculares e respiratório, sendo uma
estratégia interessante para indivíduos com pouca tolerância a atividades com longa
duração. Quanto mais leve a atividade, maior deve ser sua duração, e quanto maior sua
intensidade, menor pode ser sua duração. Uma faixa de tempo válida para que os benefícios
desse tipo de treinamento sejam alcançados é de 20 a 60 minutos por sessão.
Inicialmente, o treinamento aeróbio deve ser feito pelo menos 3 vezes por semana, em dias
não consecutivos (se possível). Ao longo dos meses de treinamento, conforme o indivíduo
vai ganhando condicionamento, o número de dias de atividade aeróbia por semana deve
aumentar progressivamente, até 5 dias por semana. Mas é importante manter em mente
que o mínimo necessário para trazer os benefícios desse tipo de treinamento é realizar 3
sessões por semana.
A intensidade dos exercícios, para que o maior benefício seja alcançado, deve estar em, uma
faixa de 50% a 70% do VO2max. Uma outra maneira de ajustar facilmente essa intensidade
é através do controle a freqüência cardíaca. Inicialmente, o indivíduo deve medir sua
freqüência cardíaca de repouso (FC rep), que corresponde ao número de vezes que o
coração bate
por minuto após 10 minutos de inatividade (de preferência, a pessoa deve ficar deitada
relaxando durante esse período de tempo). É necessário conhecer também a freqüência
cardíaca máxima (FC max), que pode ser quantificada em testes ergométricos, ou ainda
estimada subtraindo a idade do indivíduo de 220. É importante medir esse valor através do
teste ergométrico, pois através dele é possível detectar problemas cardíacos, além de
identificar em qual freqüência cardíaca eles começam a aparecer. Isso torna possível
considerar como freqüência cardíaca máxima a freqüência na qual aparecem sintomas de
problemas cardíacos, permitindo uma maior segurança no treinamento (que estará sempre
abaixo dessa freqüência). A faixa de treinamento deve então ser calculada da seguinte
maneira:
● Freqüência mínima de treinamento: (FC max – FC rep) x 0.5 + FC rep
● Freqüência máxima de treinamento: (FC max – FC rep) x 0.7 + FC rep Dessa maneira, fica
assegurando que o indivíduo estará treinando em uma faixa entre 50% e 70% da sua
freqüência cardíaca de reserva (FC max – FC rep), sendo essa faixa a zona ideal para o
treinamento da capacidade aeróbia.
Seguem agora algumas regras de segurança básicas para o treinamento de resistência
aeróbia:
● As atividades aeróbias não devem fazer o executante respirar tão rapidamente de
maneira que seja muito difícil falar durante sua execução. Sua intensidade também não
pode causar vertigem e dor no peito (para respirar);
● O executante deve realizar uma atividade leve antes de iniciar a sessão de treinamento
para aquecer e outra para voltar à calma no final da atividade. Um bom exemplo é andar
vagarosamente;
● Exercícios de alongamento devem ser feitos após as atividades, enquanto os músculos
ainda estão quentes;
● Com o aumento da idade, o mecanismo que gera a sede passa a funcionar mais
lentamente. Isso pode fazer com que, apesar de um indivíduo precisar de água, ele não sinta
sede. O executante deve ter uma preocupação em beber líquidos durante atividades que
causem transpiração. Se o indivíduo chegar a sentir sede, significa que seu corpo já está
levemente desidratado. Mas é importante atentar que algumas pessoas possuem limitações
de ingestão de líquidos (como em patologias envolvendo o coração e o fígado), e esse
controle de ingestão durante a atividade física deve ser feito juntamente com seu médico.
● Idosos são mais afetados pelo frio e pelo calor que adultos (devido a um sistema termo-
regulador menos eficiente), o que pode trazer riscos à saúde. É interessante que um idosos,
ao se exercitar, vistas as roupas em ―camadas‖, de maneira que fique protegido contra o
frio, mas se vir a sentir calor seja possível remover algumas peças para regular a
temperatura.
● Antes de aumentar a dificuldade da atividade executada é mais aconselhável aumentar a
duração da atividade.
Exercícios para Treinar a Resistência Aeróbia
Seguem alguns exemplos de atividades e exercícios de treinamento da resistência aeróbia:
Dificuldade moderada:
● Nadar
● Pedalar
● Andar rapidamente em superfície plana
● Fazer faxina
● Jogar golfe a pé
● Jogar tênis em duplas
● Jogar voleibol
● Remar
● Dançar.
Dificuldade vigorosa:
● Subir escadas
● Andar rapidamente em superfícies íngremes (subidas)
● Subir superfícies íngremes de bicicleta
● Jogar tênis
● Nadar rapidamente
● Marcha atlética
● Correr lentamente.
Fundamentos de Treinamento (Flexibilidade)
Exercícios de alongamento muscular têm por objetivo aumentar a flexibilidade, trazendo
assim uma maior liberdade de movimentos para executar as tarefas do cotidiano e outras
tarefas mais específicas. Assim como qualquer tipo de atividade física, ao treinar a
flexibilidade o executante deve atentar para algumas regras, assegurando assim uma maior
eficiência do treinamento e uma maior segurança na execução dos exercícios.
Os exercícios de alongamento devem ser executados após o término das sessões de
treinamento aeróbio ou de treinamento de força para resultarem em ganhos na
flexibilidade. No caso de não ser possível realizar esses dois tipos de treinamento, o
treinamento de flexibilidade deve ser executado pelo menos duas vezes por semana,
podendo chegar a até sete vezes por semana, e as sessões devem durar ao menos 20
minutos cada.
Para um iniciante é interessante treinar poucas vezes por semana para ganhar alguma
intimidade com os exercícios e para perceber seus limites. Um treinamento visando um
grande aumento de flexibilidade deve consistir em sessões diárias de treinamento, ou ainda
um número grande de sessões por semana (de 5 a 7). Treinar de duas a três vezes por
semana é uma boa maneira de manter a flexibilidade alcançada. É importante ressaltar que
exercícios de alongamento não servem para implementar a força ou a resistência aeróbia.
Cada exercício de alongamento deve ser feito de 3 a 5 vezes em cada sessão de
treinamento. O executante deve chegar à posição desejada lentamente, alcançando a maior
amplitude possível sem que haja dor. A posição deve então ser mantida de 10 a 30
segundos, e então o executante deve relaxar e voltar lentamente para uma posição mais
confortável (posição inicial), terminando assim uma repetição.
Segurança
● Se o executante já sofreu alguma lesão, fratura ou cirurgia nos ossos do quadril
(principalmente na articulação coxo-femoral, que corresponde à junção do quadril com o
fêmur), é importante consultar um médico antes de executar os exercícios para treinar a
flexibilidade dos membros inferiores;
● Se o executante sofreu fratura da cabeça do fêmur, ele não deve cruzar as pernas em
ângulos superiores a 90 graus;
● Se a sessão de treinamento for realizada separada de outros tipos de treinamento, é
importante realizar um leve aquecimento antes de iniciá-la. Isso pode ser feito com alguns
minutos de caminhada e movimentação dos membros superiores. Alongar os músculos sem
aquecimento prévio pode resultar em alguma lesão;
● Alongar os músculos não deve resultar em dor, principalmente nas articulações. Se isso
ocorrer, provavelmente a amplitude do alongamento está muito grande, e deve ser
reduzida;
● Uma leve sensação de desconforto é normal durante o alongamento (mas não de dor);
● O alongamento nunca deve ser feito rapidamente ou com "trancos" (alongamento
balístico), pois esticar o músculo rapidamente faz com que um mecanismo reflexo seja
disparado, e o músculo então se contrai involuntariamente. Além de isso prejudicar a
amplitude que poderia ser alcançada com o músculo relaxado, ainda há algum risco de lesão
se o alongamento for executado desta maneira;
● Durante o alongamento, o membro alongado deve estar esticado, mas manter uma
pequena folga na articulação é aconselhável para diminuir um pouco a carga sobre os
tendões e ligamentos (as articulações não devem ser hiper-estendidas).
● O executante deve respirar profunda e lentamente durante a execução dos exercícios. Se
o executante sentir alguma tontura, mesmo que leve, ele deve voltar a respirar
naturalmente.
● Realizar os exercícios seguindo as recomendações acima descritas resultará em um
aumento da flexibilidade, e a maneira de progredir no treinamento é sempre tentar alcançar
a maior amplitude articular sem que ocorra dor;
Os exercícios de flexibilidade também podem ser utilizados no aquecimento, antes das
sessões de treinamento, com a função de preparar o corpo para o exercício. Nesse caso os
exercícios devem ser feitos após o corpo já estar aquecido, pois alongar músculos "frios"
pode resultar em lesões musculares a articulares.
Os exercícios devem ser realizados com apenas uma repetição, e devem durar poucos
segundos. Além disso, devem ser escolhidos de acordo com a atividade a ser realizada, pois
como o intuito é apenas de preparar o músculo para o exercício, somente devem ser
alongados os membros a serem utilizados durante a atividade. Uma outra alternativa é
incorporar exercícios dinâmicos multiarticulares durante o aquecimento, pois apesar de não
buscar uma amplitude grande de movimento, aquece e alonga levemente um grande
número de músculos.
Exercícios para Treinar a Flexibilidade
Isquiotibiais
Este exercício tem por objetivo alongar a musculatura posterior da coxa, sendo que o
conjunto dos músculos dessa região também é denominado de isquiotibiais. O executante
deve sentar-se em um banco ou outra superfície rígida que lhe permita apoiar toda a perna
(como duas cadeiras colocadas lado a lado). Uma das pernas deve então descansar sobre o
banco, com a ponta do pé apontando para cima (as costas devem ser mantidas retas). A
outra perna deve estar ao lado do banco, com o pé totalmente apoiado no solo. O joelho da
perna apoiada no banco deve ser totalmente estendido. Se neste ponto o executante já
sentir o alongamento, essa é a posição que deve ser mantida pelo tempo determinado para
esse tipo de treinamento. Se o executante não sentir o leve desconforto nessa posição, deve
levar o tronco à frente, como se fosse deitá-lo sobre a perna estendida, mantendo sempre
as costas retas (a única articulação que se movimenta é o quadril). No caso de o executante
ter sofrido uma fratura na cabeça do fêmur, não é seguro levar o corpo à frente neste
exercício (a não ser que haja aprovação do médico ou fisioterapeuta responsável). Após
manter a posição de 10 a 30 segundos, o executante deve retornar lentamente à posição
inicial, terminando uma repetição.
Resumo:
1. Sente de lado em um banco;
2. Mantenha uma perna esticada sobre o banco;
3. A outra perna deve estar ao lado do banco, com o pé apoiado totalmente no chão;
4. Mantenha as costas retas;
5. Leve o tronco à frente, flexionando o quadril, até sentir o alongamento (não faça esse
movimento se tiver sofrido fraturas ou cirurgias no quadril);
6. Mantenha a posição;
7. Repita com a outra perna.
● Isquitibiais (alternativa)
Uma alternativa ao exercício anterior é se posicionar em pé atrás de uma cadeira com os
joelhos em extensão. O executante deve segurar o encosto da cadeira com as duas mãos e
flexionar o quadril levando o tronco para frente, mantendo as costas retas durante toda a
execução do exercício. Quando o corpo estiver paralelo com o solo, a posição deve ser
mantida. Após 10-30 s, o executante deve retornar lentamente usando como apoio o
encosto da cadeira para subir.
Resumo:
1. Fique em pé atrás de uma cadeira, segurando seu encosto com as duas mãos;
2. Flexione o quadril levando o tronco à frente;
3. As costas devem estar retas durante todo o tempo;
4. Quando o tronco estiver paralelo com o solo, mantenha a posição.
● Tríceps Sural (Panturrilha)
Este exercício alonga a musculatura posterior da perna. O executante deve estar em pé,
apoiando as duas mãos em uma parede, com os cotovelos estendidos. Mantenha o joelho
de uma das pernas levemente flexionado e leve o pé da outra perna atrás
(aproximadamente meio metro), mantendo os pés totalmente em contato com o solo (o pé
da perna levada atrás deve estar levemente virado para dentro). O executante então deverá
sentir o alongamento da musculatura da panturrilha. Se isso não ocorrer, a perna
posicionada atrás deve ser ainda mais distanciada da outra, fazendo com que os músculos
se alonguem ainda mais. A posição alcançada deve então ser mantida por 10 a 30 segundos.
Então o executante deve flexionar levemente o joelho da perna que está atrás (como na
segunda figura), e manter novamente a postura alcançada pelo mesmo tempo.
Resumo:
1. Fique em pé com ambas as mãos apoiadas em uma parede e com os cotovelos
estendidos;
2. Dê um passo de aproximadamente 50 cm para trás com uma das pernas, e mantenha
ambos os pés totalmente apoiados no chão;
3. Mantenha a posição;
4. Flexione levemente o joelho da perna que está atrás;
5. Mantenha a posição;
6. Repita com a outra perna.
● Tornozelo
Este exercício tem como objetivo alongar a musculatura envolvida na articulação do
tornozelo. Deve ser realizado com os pés descalços, já que o calçado limita a movimentação
do pé. O executante deve estar sentado na parte anterior do assento de uma cadeira,
inclinando o corpo para trás até apoiar o tronco no encosto da cadeira (um travesseiro deve
ser utilizado para fornecer apoio lombar, como exemplificado na figura). As pernas devem
então ser estendidas “escorregando” os pés para frente ao longo do chão.
Mantendo os calcanhares em contato com o chão, o executante deve apontar os artelhos
(dedos do pé) para frente até sentir o alongamento na parte anterior do tornozelo. Se nessa
posição o executante ainda não sentir o alongamento, ele deve levantar um pouco os pés
do chão, permitindo uma maior variação do ângulo do tornozelo. Após manter essa posição,
o executante deve agora mover os pés em sua própria direção, sentindo assim o
alongamento na região posterior do tornozelo.
Resumo:
1. Sente-se em uma cadeira;
2. Estenda as pernas à sua frente, mantendo os calcanhares no chão;
3. Flexione os pés, apontando os artelhos para frente;
4. Mantenha a posição;
5. Flexione os pés, apontando os artelhos para trás;
6. Mantenha a posição.
7. Se o alongamento não for sentido, faça com os pés um pouco levantados, sem encostá-
los no chão.
● Tríceps Braquial
Este exercício alonga o músculo da região posterior do braço. O executante deve segurar a
ponta de uma toalha com uma das mãos. Deve então levantar o braço que está segurando a
toalha, e flexionar o cotovelo de maneira a deixar a toalha cair ao longo das costas. Com a
outra mão, deve alcançar, por trás das costas, a ponta da toalha que está sendo segurada
pela outra mão.
Gradualmente, o executante deve, com a mão posicionada atrás das costas (mais embaixo),
tentar alcançar pontos mais altos da toalha, encurtando assim a diferença entre as duas
mãos (simultaneamente a mão que estiver em cima vai descer).
Quando o alongamento for sentido, a posição deve ser mantida (o limite é o ponto onde as
duas mãos se tocam). Após terminar a série, a posição deve ser invertida.
Resumo:
1. Segure a toalha com uma das mãos;
2. Levante o braço e flexione o cotovelo, fazendo a toalha ficar atrás das costas;
3. Com a outra mão, segure a ponta da toalha que está livre;
4. Suba a mão de baixo progressivamente, tentando alcançar o ponto mais alto possível;
5. Inverta a posição.
Pulso O executante deve empurrar as palmas das mãos um contra a outra,mantendo os
cotovelos apontando para baixo. Deve então elevar os cotovelos tentando deixá-los
paralelos ao solo (ou o mais próximo disso que sua flexibilidade permitir), mantendo as
palmas das mão em total contato uma com a outra. A posição deve ser mantida de 10 a 30
segundos, e então os cotovelos devem ser novamente baixados, terminando assim uma
repetição.
● Resumo:
1. Junte as mãos, tocando uma palma na outra (posição de rezar);
2. Lentamente eleve os cotovelos até ficarem paralelos ao solo, e mantenha as mãos unidas;
3. Mantenha a posição.
● Quadríceps
Este exercício tem como objetivo alongar os músculos da parte anterior da coxa, sendo que
o conjunto destes músculos é chamado de quadríceps femoral. O executante deve deitar-se
de lado no chão (podendo utilizar um colchonete para aumentar o conforto), alinhando os
quadris, de maneira que um dos lados esteja posicionado exatamente acima do outro. A
cabeça deve ser colocada em cima de um travesseiro, ou pode-se usar a mão como apoio. O
joelho da perna posicionada acima deve ser flexionado.
O executante deve então alcançar o pé da perna flexionada com a mão, segurando no
calcanhar. Se o executante não consegue alcançar o próprio calcanhar com a mão nesta
posição, a alternativa é colocar um cinto (ou faixa de pano) em volta do pé, podendo assim
segurá-lo a uma maior distância. O executante deve então puxar o pé lentamente, até que o
alongamento seja sentido na parte anterior da coxa, mantendo então a posição. Se houver
cãibras na parte posterior da coxa durante o exercício, este deve ser parado e a região
afetada alongada (podendo ser utilizados os exercícios para alongar os músculos
isquiotibiais descritos acima), para mais tarde retomar o alongamento de quadríceps.
Resumo:
1. Dente-se de lado no chão;
2. Descanse a cabeça em um travesseiro ou na mão;
3. Flexione o joelho da perna de cima;
4. Segure no calcanhar da perna flexionada;
5. Lentamente puxe a perna flexionada até alongar os músculos da parte anterior da coxa;
6. Mantenha a posição;
7. Inverta a posição e repita com a outra perna.
● Rotação Dupla de Quadril
Este exercício deve ser evitado se o executante tiver sofrido uma fratura ou cirurgia no
quadril, a não ser que o médico responsável concorde com sua execução. Seu objetivo é
alongar os músculos externos (laterais) do quadril e das coxas. O executante deve deitar-se
de costas no chão (decúbito dorsal), podendo utilizar um colchonete para aumentar o
conforto. Os joelhos devem estar flexionados, e os pés devem ter suas plantas em total
contato com o solo.
Um travesseiro deve ser usado para apoiar a cabeça, aumentando ainda mais o conforto
para executar o exercício. O executante deve então manter os dois ombros em contato com
o solo, os joelhos flexionados e unidos um ao outro, e descer lentamente os dois joelhos
para um dos lados na maior amplitude possível sem forçá-los. A posição alcançada deve ser
mantida por 10 a 30 segundos, e então os joelhos, ainda unidos, devem ser trazidos à
posição inicial, e o mesmo exercício deve ser feito para o outro lado.
Resumo:
1. Não faça esse exercício se tiver sofrido fraturas ou cirurgias no quadril;
2. Dente-se de costas no chão com os joelhos flexionados;
3. Mantenha os ombros em contato com o solo todo o tempo;
4. Mantendo os joelhos unidos, baixe lateralmente as pernas para um dos lados;
5. Mantenha a posição;
6. Volte as pernas para cima;
7. Repita com o outro lado.
● Rotação simples de quadril
Este exercício tem por objetivo alongar os músculos da pelve e da região interna (medial)
das coxas. O executante deve deitar-se de costas (decúbito dorsal), com os joelhos
flexionados, podendo utilizar um colchonete para aumentar o conforto. Deve então descer
um dos joelhos lentamente para o lado, mantendo a outra perna e a pelve imóveis. A
posição alcançada deve ser mantida de 10 a 30 segundos, e então o executante deve trazer
seu joelho de volta à posição inicial. Os ombros devem ser mantidos em contato com o chão
durante toda a execução do exercício.
Resumo:
1. Deite-se de costas no chão;
2. Flexione os joelhos;
3. Desça um dos joelhos lentamente para o lado;
4. Mantenha a posição;
5. Traga o joelho de volta à posição inicial;
6. Mantenha os ombros em contato com o chão durante todo o exercício;
7. Repita com a outra perna.
●Rotação de Ombro
Este exercício alonga a musculatura envolvida na articulação do ombro. O executante deve
deitar-se de costas (decúbito dorsal) no solo e colocar um travesseiro para apoiar a cabeça.
Também é importante colocar uma almofada embaixo dos joelhos, mantendo-os levemente
flexionados (o que serve para diminuir a tensão na coluna vertebral enquanto o indivíduo
está deitado). O executante deve então esticar os braços para os lados, mantendo-os
alinhados na altura dos ombros. Os cotovelos devem então ser flexionados, de maneira que
as pontas dos dedos devem apontar o teto (os antebraços perdem o contato com o solo,
mas os braços devem continuar em contato com ele durante toda a execução do exercício),
e os antebraços devem estar paralelos.
O executante deve então fazer uma rotação de ombro, lentamente deitando seus
antebraços para trás, ao lado da cabeça (mantendo-os paralelos), até sentir alongar o
ombro. Se houver qualquer sensação de dor aguda ou de pinçamento no ombro durante a
execução deste exercício, ele deve ser parado imediatamente. A posição alcançada deve ser
mantida de 10 a 30 segundos, e então o executante deve lentamente levantar os antebraços
até a posição inicial e fazer uma rotação de ombro para a frente, tentando levar os
antebraços até os lados do corpo (mantendo-os paralelos). Quando o alongamento for
sentido, a posição deve ser mantida pelo mesmo tempo. Após o tempo de alongamento, os
antebraços devem ser levados até a posição inicial para que o exercício se repita.
Resumo:
1. Deite-se de costas no chão com uma almofada embaixo dos joelhos;
2. Estenda os braços para os lados;
3. Flexione os cotovelos até formarem um ângulo reto, com as mãos apontando para o teto;
4. Gire os ombros, tentando posicionar os antebraços ao lado da cabeça;
5. Mantenha a posição;
6. Gire no outro sentido, tentando posicionar os antebraços ao lado do corpo;
7. Mantenha a posição;
8. Mantenha os ombros em contato com o solo durante todo o exercício.
● Rotação de Pescoço
Este exercício alonga a musculatura do pescoço. O executante deve deitar-se no chão,
apoiando a cabeça em um livro grosso (um colchonete pode ser usado para aumentar o
conforto). O exercício consiste em virar a cabeça de um lado para o outro, mantendo a
posição de 10 a 20 segundos em cada lado (extremidade do movimento). A cabeça não deve
estar pendendo para frente ou para trás durante a execução do exercício, o que torna
necessário encontrar um livro com uma espessura ideal para manter a cabeça alinhada com
o tronco. Para aumentar o conforto, ainda é aconselhável manter os joelhos flexionados, o
que diminui a tensão na região lombar da coluna vertebral.
Resumo:
1. Dente-se de costas no chão (decúbito dorsal);
2. Apóie a cabeça em um livro grosso (por exemplo, uma lista telefônica);
Vire a cabeça de um lado para o outro, mantendo a posição em cada lado.
10º Módulo: Prevenção e Manejo de Quedas no Idoso
Prevenção e Manejo de Quedas no Idoso
Introdução
Queda é um evento freqüente e limitante, sendo considerado um marcador de fragilidade,
morte, institucionalização e de declínio na saúde de idosos (8,18,39).
O risco de cair aumenta significativamente com o avançar da idade, o que coloca esta
síndrome geriátrica como um dos grandes problemas de saúde pública devido ao aumento
expressivo do número de idosos na população e à sua maior longevidade, competindo por
recursos já escassos e aumentando a demanda por cuidados de longa duração.
Diversos fatores de risco e múltiplas causas interagem como agentes determinantes e
predisponentes, tanto para quedas acidentais quanto para quedas recorrentes, impondo
aos profissionais de saúde, especialmente ao médico o grande desafio de identificar os
possíveis fatores de risco modificáveis e tratar os fatores etiológicos e comorbidades
presentes (35,45,51).
As intervenções mais eficazes baseiam-se na identificação precoce dos idosos com maior
chance de sofrerem quedas e particularmente, aqueles que além do risco de queda
apresentem também um risco aumentado de sofrem lesões graves decorrentes da mesma
(13,23,50).
Geralmente, idosos tendem a sub-relatar quedas. Além disso, creditam à idade seus
problemas de equilíbrio e marcha, fazendo com que com que estas dificuldades de
mobilidade não sejam detectadas, até que uma queda com uma conseqüência grave ocorra.
Evitar o evento de queda é considerado hoje uma conduta de boa prática geriátrico-
gerontológica, tanto em hospitais quanto em instituições de longa permanência, sendo
considerado um dos indicadores de qualidade de serviços para idosos. Além disso, constitui-
se em política pública indispensável, não só porque afeta de maneira desastrosa a vida dos
idosos e de suas famílias, como também drena montantes expressivos de recursos
econômicos no tratamento de suas conseqüências, como a fratura de quadril (19,42,45).
Cenário do problema
Cerca de 30% a 60% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano e cerca da metade cai de
forma recorrente, variando de acordo com a precisão do monitoramento realizado pelo
estudo (39,44).
No Brasil cerca de 29% dos idosos caem ao menos uma vez ao ano e 13% caem de forma
recorrente, sendo que somente 52% dos idosos não relataram nenhum evento de queda
durante um seguimento de dois anos (39).
A incidência de quedas em idosos residentes na comunidade varia de 0,2 a 1,6 quedas/por
pessoa/por ano, com uma média de aproximadamente 0,7 quedas por ano. Em idosos
hospitalizados a média é de 1,4 quedas/por leito/por ano, variando de 0,5 a 2,7 quedas e
em idosos institucionalizados a prevalência é consideravelmente maior chegando até 75%,
com uma incidência de 0,2 a 3,6 quedas/por leito/por ano devido a maior vulnerabilidade
desta população e a maior acurácia nas notificações dos eventos (44).
Os acidentes são a quinta causa de morte entre os idosos e as quedas são responsáveis por
dois terços destas mortes acidentais. Aproximadamente 75% das mortes decorrentes de
quedas nos Estados Unidos ocorrem em 14% da população acima de 65 anos de idade, e o
índice de mortalidade aumenta dramaticamente após os 70 anos, principalmente em
homens. (8,44,45).
A maior suscetibilidade dos idosos a sofrerem lesões decorrentes de uma queda se deve a
alta prevalência de comorbidades presentes nesta população, associado ao declínio
funcional decorrente do processo de envelhecimento, como o aumento do tempo reação e
diminuição da eficácia das estratégias motoras do equilíbrio corporal, fazendo de uma
queda leve um evento potencialmente perigoso.
Dos que caem a cada ano, entre 5% a 10% dos idosos residentes na comunidade tem como
conseqüência lesões severas como fratura, traumatismo craniano e lacerações sérias, que
reduzem sua mobilidade e independência, aumentando as chances de morte prematura.
Cerca de metade dos idosos hospitalizados por fratura de quadril não recuperam a
mobilidade prévia ao evento. (1,8).
Cerca de 90% das fraturas de quadril são causadas por quedas e o custo atual estimado do
tratamento das fraturas de quadril é da ordem de 10 bilhões de dólares. Entre 1988 e 1996
a taxa de hospitalização por fratura de quadril em mulheres acima de 65 anos nos EUA
aumentou 23% (7,8).
Além da alta mortalidade, destacam-se ainda como conseqüências relevantes o fato da
queda causar restrição de mobilidade, incapacidade funcional, isolamento social,
insegurança e medo, detonando um mecanismo cumulativo e em efeito dominó de eventos
prejudiciais a saúde e qualidade de vida dos idosos(28,31).
Em um estudo populacional multicêntrico, a razão de chance bruta de idosos com
dependência em quatro ou mais atividades de vida diária ou prática ter experimentado ao
menos uma queda no ano anterior foi 1,9 vez a chance quando comparados aos idosos
independentes (43).
Entre as pessoas que caíram e foram atendidas em unidades de emergência, cerca de 40%
tiveram dor contínua ou incapacidade funcional por dois meses e 16% tiveram queixa de dor
por cerca de 7 meses após o evento (19).
Um estudo prospectivo de dois anos aponta que 32% dos idosos que caem referem medo
de cair novamente e são marcadamente mulheres. Os fatores fortemente associados ao
medo de cair novamente são a presença de distúrbios de marcha, um relato de percepção
subjetiva de saúde física e mental ruim e condições econômicas desfavoráveis (53).
Definição e classificação
Queda é uma mudança de posição inesperada, não intencional que faz com que o indivíduo
permaneça em um nível inferior, por exemplo, sobre o mobiliário ou no chão. Este evento
não é conseqüência de uma paralisia súbita, ataque epilético ou força externa extrema (25).
Podem ser classificadas a partir da freqüência com que ocorrem e do tipo de conseqüência
advinda do evento. A queda acidental é aquele evento único que dificilmente voltará a se
repetir e é decorrente de uma causa extrínseca ao indivíduo, em geral pela presença de um
fator de risco ambiental danoso, como um piso escorregadio, um degrau sem sinalização ou
devido à atitudes de risco como por exemplo,subir em banquinhos. Em contrapartida, a
queda recorrente, expressa a presença de fatores etiológicos intrínsecos como doenças
crônicas, poli farmácia, distúrbios do equilíbrio corporal, déficits sensoriais, dentre outros.
A queda pode ainda ser dividida de acordo com a presença ou não de lesões. As quedas
com lesões graves são consideradas aquelas cuja conseqüência é uma fratura, trauma
crânio- encefálico ou luxação. Abrasões, cortes, escoriações e hematomas são considerados
lesões leves.
Há ainda, a classificação de acordo com o tempo de permanência no chão. A queda
prolongada no chão é aquela em que o idoso permanece caído por mais de 15 a 20 minutos
por incapacidade de levantar-se sem ajuda. Os idosos que são mais predispostos a sofrerem
quedas prolongadas são os idosos com 80 anos ou mais, com dificuldade em atividades de
vida diária, que têm disfunções em membros inferiores, tomam sedativos e moram sozinhos
ou permanecem por longos períodos do dia ou noite desacompanhados.
Hoje, busca-se não só identificar o perfil dos idosos mais vulneráveis a cair, como também
procura-se distinguir quais terão maior suscetibilidade a sofrerem uma lesão grave
decorrente deste evento ou que têm uma maior propensão a experimentarem quedas
recorrentes o que aumenta a probabilidade de perda de capacidade funcional, seja ela
decorrente de um único evento grave ou da perda de confiança e do senso de auto-eficácia
o que com o tempo acaba por provocar uma restrição de atividades e um declínio na
mobilidade, expondo este idoso a um maior risco de tornar-se frágil.
Fatores de risco e Causas
Há necessidade de se dividir os fatores determinantes de quedas em idosos em dois grupos:
Fatores de risco ou fatores predisponentes: são aqueles que impõe aos idosos uma maior
chance de experimentarem quedas. O levantamento destes fatores permite a identificação
de idosos com maior suscetibilidade a caírem. A estratificação do risco possibilita a
implementação de estratégias de prevenção definidas para cada grupo - alto, médio e baixo
risco.
Fatores causais: são aqueles agentes etiológicos presentes na determinação da ocorrência
de um evento de queda específico. Constituem-se nas razões que levaram aquele idoso a
cair e são potencializados pela presença de fatores de risco intrínsecos e extrínsecos.
Os fatores de risco são derivados de estudos populacionais tipo caso-controle ou estudos
longitudinais. Embora, existam umas séries de questões metodológicas a serem
consideradas na análise destes fatores, a aplicabilidade clínica é imediata, no que tange ao
fato de que há um aumento significativo do risco com o aumento do número de fatores de
risco individuais presentes. Além disso, o levantamento da existência de fatores que possam
ser modificados por meio de intervenções específicas é essencial tanto na prevenção de
futuros episódios, como também no manejo do processo de reabilitação.
O Quadro 1, abaixo, lista os fatores de risco encontrados em estudos populacionais, com
idosos da comunidade. Os fatores foram classificados de acordo com peso da sua evidência
e se estão relacionados a quedas acidentais, quedas recorrentes ou quedas com lesão
(2,5,6,9,11,18,21,27,29,32,35,,37,39,46,51,52,54)
O peso da evidência foi construído a partir da freqüência com que o fator aparece nos
estudos analisados. Salienta-se que não há uma homogeneidade quanto aos fatores de risco
apontados nos estudos. Trata-se apenas de um guia para que se possa valorizar com maior
ou menor intensidade determinados fatores.
Os fatores de risco considerados de peso alto, ou seja, apontados na maioria dos estudos
como fatores determinantes de quedas foram: idade igual ou maior a 75 anos, sexo
feminino, presença de declínio cognitivo, de inatividade, de fraqueza muscular e de
distúrbios do equilíbrio corporal, marcha ou de mobilidade, história prévia de acidente
vascular cerebral, de quedas anteriores e de fraturas, comprometimento na capacidade de
realizar atividades de vida diária e o uso de medicações psicotrópicas, em especial os
benzodiazepínicos, assim como o uso de várias medicações concomitantes.
Dentre estes estudos, destaca-se o realizado no município de São Paulo que aponta que os
idosos que caíram de forma recorrente tiveram sua chance aumentada em 1,6 vezes (95% IC
1,00-2,52) por serem viúvos, separados ou desquitados, em 1,5 vezes por não terem o
hábito de ler como atividade de lazer (95%IC 1,03-2,37), em 4,6 vezes por terem história de
fratura (95% CI 2,23-9,69) e em 2,37 vezes por apresentarem comprometimento em 1 a 3
atividades de vida diária (95% CI 1,49-3,78), em 3,31 vezes a chance por apresentarem
dificuldade em 4 ou mais atividades de vida diária (95%CI 1,58-6,93) e em 1,53 vezes a
chance por relatarem ter visão ruim ou péssima (95%CI 1,00-2,34) quando comparados aos
idosos que tinham boa percepção subjetiva de visão. Este modelo explicou 73% dos eventos
(39).
Rubenstein e Josephson analisando 16 estudos de idosos vivendo na comunidade e de
idosos institucionalizados, apontam um aumento do risco com a presença dos seguintes
fatores, por ordem de importância: presença de fraqueza muscular, história de quedas,
déficit de marcha e de equilíbrio, uso de dispositivo de auxílio à marcha, déficit visual,
artrite, comprometimento em atividades de vida diária, depressão, declínio cognitivo e
idade igual ou superior a 80 anos (440.
Em uma revisão sistemática de 11 estudos de coorte ou casos- controle a cerca dos fatores
de risco para quedas em ambiente hospitalar foram levantados como os mais freqüentes:
alteração do estado mental, em especial os estados de confusão e desorientação (9/11), uso
de medicações como sedativos, tranqüilizantes e benzodiazepínicos (4/11), limitações de
mobilidade, como distúrbios de marcha, equilíbrio e fraqueza muscular (4/11), história de
quedas (4/11), necessidade especial com toalete ou eliminações (4/11), idade avançada
(4/11), necessidade de dispositivos de auxílio a mobilidade (3/11) e fraqueza geral, tontura,
depressão e tempo maior de hospitalização (2/11). Os fatores de menor relevância foram
mês da internação, ter tido três ou mais transferências de unidade, sonolência, abuso de
drogas, terapia endovenosa, condições médicas gerais, anemias, condições pós-operatórias,
evidência de estado confusional agudo, dentre outros. Os autores concluem que as
intervenções a serem priorizadas nos idosos hospitalizados são aquelas direcionadas a
identificar e tratar as limitações relacionadas ao estado mental e ás alterações de
mobilidade (15).
As principais causas de quedas estão dispostas no Quadro 2. Há, no entanto, uma grande
dificuldade em estabelecer uma única causa, visto que a etiologia das quedas nos idosos é
em geral multifatorial, particularmente nos idosos frágeis. Mas, a busca ativa de causas que
levaram o idoso a cair é fundamental para que uma intervenção apropriada seja realizada.
Quadro 1- Fatores de risco, classificados de acordo com o peso da evidência, além da
classificação de acordo com o tipo de queda.
(se alta: fator presente na maioria dos estudos, se moderada: fator presente em boa parte
dos estudos, mas não na maioria e se baixa: fator presente em um ou dois estudos apenas)
Quadro 2 – Causas de quedas em idosos: resumo de 12 estudos levantados por Rubenstein,
Josephson, 2002.
Para que este levantamento sobre as causas possa ser realizado de forma sistematizada, faz-
se necessário identificar todo o contexto, como mecanismo da queda, atividade que estava
sendo realizada no momento do evento, hora do dia ou noite, tipo de calçado, local onde
ocorreu a queda, e qualquer sinal ou sintoma pré ou pós-evento que possa ter relevância na
determinação do mesmo. Aspectos como se houve ou não perda da consciência ou
escurecimento da visão podem descartar síncopes.
Outros mecanismos envolvidos, como falseamento dos joelhos pode estar relacionado à
fraqueza muscular, osteoartrose de joelhos e ao drop attack; a sensação de tontura
relacionada à posição da cabeça ou a movimentos do corpo pode estar associada à presença
de disfunções vestibulares. O roteiro apresenta as principais perguntas a serem realizadas
na investigação do evento de queda. A queda pode ser o reflexo de uma doença aguda
como infecção urinária ou respiratória, arritmia cardíaca, acidente vascular encefálico,
delirium, dentre outras. A mesma pessoa pode cair em diferentes momentos por várias
razões. A queda de causa desconhecida deve ser amplamente investigada até que um fator
ou vários fatores seja apontado como agentes etiológicos ou precipitantes do evento.
Nunca, especialmente, nos idosos que caem recorrentemente devê-se assumir como causa
aquela relacionada a um evento anterior. A busca sistematizada de fatores causais permite
o adequado manejo, previne novos eventos e trata doenças associadas, evitando
comorbidades e o escalonamento de incapacidades (26).
Roteiro sugerido para investigação do evento de queda:
o Quantas vezes o Sr.(a) caiu no último ano?
o Houve alguma conseqüência como fratura, luxação, trauma craniano ou escoriação,
contusão, corte?
o Houve necessidade de procurar um médico ou serviço de emergência em um hospital?
o O Sr. (a) restringiu suas atividades habituais por causa da queda?
o Se sim, o Sr. (a) o fez por dor, insegurança, medo, dificuldade para andar, dentre outros.
o Agora vamos falar sobre sua última queda.
o O Sr. (a) sabe precisar quando ela ocorreu?
o A queda aconteceu de dia ou de noite?
o O evento ocorreu após a refeição?
o Em que lugar aconteceu a queda?
o Houve perda da consciência?
o Que movimentos o Sr.(a) estava fazendo no momento da queda? Andando, levantando-se
da cadeira, inclinando-se, virando-se, etc.
o Que atividade o Sr.(a) estava realizando no momento da queda? Tomando banho,
andando até o banheiro, voltando para o quarto, subindo no banquinho, calçando o chinelo,
descendo do ônibus, dentre outras.
Como a queda ocorreu? Desequilibrou-se, os joelhos falsearam, sentiu-se fraco
subitamente, sentiu-se tonto ?
o Que parte do corpo bateu primeiro no chão ou no mobiliário?
o Estava usando óculos ou aparelho auditivo (quando se aplicar)?
o Como estava se sentindo antes de cair (na semana prévia)? Houve alguma modificação na
sua saúde? Como fraqueza generalizada, cansaço, apatia, falta de ar, problemas de
memória, febre, taquicardia, dor no peito, etc.
o Houve alguma modificação na medicação usada habitualmente? Algum medicamento
novo foi introduzido ou retirado? Fez uso de alguma medicação por conta própria?
o No último ano, o Sr.(a) esteve hospitalizado?
o O Sr.(a) diria que tem tido maior dificuldade para andar dentro de casa, vestir-se, tomar
banho, andar fora de casa, ir ao banheiro em tempo, tomar remédios na hora certa ?
Com o objetivo de facilitar a exclusão de fatores causais foi proposto o algoritmo descrito
abaixo como um modelo para tomada de decisão clínica em relação ao diagnóstico. Levar
em conta a presença de fatores extrínsecos precipitantes. O crédito do evento a um fator
ambiental deve ser vastamente pesquisado. A exclusão de outros fatores intrínsecos pode
classificar o evento como tipicamente acidental (38).
Figura 1 - Algoritmo adaptado proposto pela OPAS,2002.
Avaliação do risco para quedas e testes de equilíbrio e marcha
Um screening de risco para quedas é um instrumento eficaz na identificação de idosos com
maior chance de sofrerem um evento no futuro. Deve ser realizado em todos os idosos
admitidos em hospitais, em assistência domiciliar, centro de reabilitação, instituições de
longa e curta permanência e em unidades de acompanhamento ambulatorial (15,42,46,50).
Nenhum instrumento aplicado de forma isolada é capaz de identificar idosos de risco para
quedas, assim como estratificar este risco. Uma combinação de instrumentos em geral
contidos na avaliação geriátrico-gerontológica abrangente deve ser utilizada como rastreio
para maior vulnerabilidade a quedas.
É consenso que quanto maior o número de fatores de risco presentes maior será a chance
de queda. A queixa de dificuldade de equilíbrio e marcha, assim como as histórias prévias de
quedas têm sido apontadas como fatores de risco para idosos que vivem na comunidade.
Vários testes têm sido desenvolvidos com o objetivo de avaliar funcionalmente o equilíbrio
e a marcha e busca estabelecer parâmetros para identificação de idosos com maior
suscetibilidade a cair. Dentre estes, destacam-se: Timed Up & Go Test (PODSIADLO &
RICHARDSON (1991), a escala de Equilíbrio de Berg - Berg Functional Balance Scale (BERG et
al., 1992), o POMA -– Performance-Oreinted Assessement of Mobility (TINETTI, 1986,1988)
o Functional Reach e o Dynamic Gait Index (SHUMWAY-COOK et al. (1997).
As escalas de Berg, o POMA e o Dynamic Gait Index são testes funcionais de avaliação do
equilíbrio e da marcha que contém um maior número de tarefas motoras e necessitam de
um maior treinamento e expertise na sua aplicação. Em geral, são aplicados por
fisioterapeutas dentro de um espectro maior de avaliação físico-funcional de idosos. Todos
têm sido largamente apontados na literatura internacional como instrumentos válidos na
determinação de idosos com maior chance de quedas.
O POMA consiste de nove itens como contra-reação ao desequilíbrio aplicado ao esterno,
passar de sentado para de pé, virar 360 graus, os quais são categorizados em uma escala de
três pontos. A Berg Balance Scale foi desenvolvida para monitorar o desempenho dos idosos
quanto à tarefas motoras de equilíbrio em idosos, para identificar indivíduos que se
beneficiariam de um encaminhamento para fisioterapia e para prever quedas em idosos da
comunidade e institucionalizados (3,4,20). A escala consiste de 14 tarefas, categorizadas
numa escala ordinal de cinco pontos, que vai desde 0 - incapaz de realizar a tarefa, até 5 -
realiza de forma independente, baseada na qualidade e necessidade de assistência para
realizar a tarefa de forma assim como, no tempo para completar a prova. Os escores dos 14
itens são combinados em um escore total que vai de 0 a 56 pontos, com um escore maior
relacionado a um melhor desempenho. Os elementos do teste são representativos de
atividades do dia a dia como sentar, levantar, inclinar-se à frente, virar-se, dentre outros.
BERG et al.,1992 demonstraram que o escore de 45 ou menos foi preditivo de quedas
recorrentes em um estudo de meta-análise com 110 sujeitos.
O Índice dinâmico da marcha é composto por oito tarefas de deambulação que avaliam
velocidade e instabilidade na marcha durante o acelerar e desacelerar, em movimento de
rotação e flexo-extensão da cabeça, em movimentos de rotação axial do corpo, em
movimentos de ultrapassar e circundar obstáculos e em subir e descer degraus. Uma
pontuação de 19 ou menos foi associada a quedas em idosos na comunidade (47). Assim,
estratégias compensatórias devem ser elucidadas com objetivo de avaliar se são as mais
indicadas para dado paciente no seu contexto funcional diário. Assim, os fisioterapeutas
devem perguntar-se se seus pacientes estão utilizando as melhores estratégias dada suas
limitações primárias e se uma intervenção terapêutica poderia melhorar os mecanismos de
controle postural.
O Timed up & go test é bastante simples e não exige nenhuma expertise específica,
necessitando apenas de um procedimento sistematizado que consiste em medir o tempo
gasto na tarefa de levantar-se de uma cadeira (a partir da posição encostada), andar 3
metros até um demarcador no solo, girar e voltar andando no mesmo percurso, sentado-se
novamente com as costas apoiadas no encosto da cadeira. a instrução dada é que o idoso
execute a tarefa de forma segura e o mais rapidamente possível. Os autores admitiram
como tempo normal para a realização da tarefa por adultos saudáveis, um tempo de 10
segundos; considera-se que 11 a 20 segundos sejam os limites normais de tempo para
idosos frágeis ou pacientes deficientes; mais de 20 segundos na execução da atividade é
considerado um valor indicativo da necessidade de intervenção adequada.
“Guidelines” para Prevenção de Quedas em Idosos
O diagrama acima tem como objetivo nortear as intervenções para idosos vivendo na
comunidade. A partir do levantamento da ocorrência de queda no último ano e da suspeita
de alterações de marcha ou equilíbrio, é necessária uma avaliação sistematizada por meio
de uma avaliação geriátrico-gerontológica abrangente e de avaliações do equilíbrio
funcional e da marcha, que em conjunto possam classificar os idosos em função risco de
queda. A partir daí, implementa-se intervenções específicas para cada grupo. O
monitoramento subseqüente diz respeito não só a ocorrência, a freqüência, a gravidade
como também do intervalo entre os eventos.
De forma geral preconiza-se que:
Todos os idosos devem ser perguntados quanto a ocorrência de qualquer evento no último
ano e rastreados quanto ao risco de quedas (13,22,23,44,45,46);
Todos os idosos devem ser classificados quanto ao grau do risco para que se possa
determinar o nível de intervenção a ser prescrita (39,42,46);
Devem-se enumerar todos os fatores de risco presentes e separá-los em modificáveis e não
modificáveis (39,36);
Deve-se avaliar o equilíbrio e a marcha, usando teste válidos e confiáveis de acordo com a
população estudada (21,26,36, 38,45,49);
Uma avaliação do evento de queda deve ser desencadeada para a busca sistematizada de
fatores etiológicos (21,38);
Deve-se atuar de maneira personalizada sobre os fatores de risco modificáveis,
estabelecendo intervenções baseadas em evidências;
É recomendável que se promovam intervenções multidimensionais. A intervenção isolada
tem pouco impacto sobre a diminuição no risco relativo de quedas. Não há comprovação de
que exercícios, adequação de medicação, ou adaptação ambiental isoladamente diminuam
o risco de queda (13 ,16,22,23, 46,50);
Programas multidimensionais bem-sucedidos incluem avaliação e aconselhamento médico e
ambiental, mudança na prescrição medicamentosa, exercícios individualizados, treino de
transferências posturais e de marcha e, encaminhamento a especialistas de acordo com a
necessidade (7,10, 16, 22, 23, 53);
Uma vez estabelecido um protocolo de intervenção, é imprescindível monitorar a
ocorrência de eventos, sua freqüência e a presença de conseqüências adversas ao menos
mensalmente. A melhor forma é utilizar o sistema do tipo calendário (13);
Estabelecer medidas educacionais visando à diminuição de comportamentos de risco (42);
Ensinar ao paciente como se levantar após uma queda (42);
Avaliar, quando necessário, o medo de cair e a percepção de auto-eficácia em atividades do
cotidiano (42);
Quando o paciente for identificado como sendo de alto risco e possuir um declínio
cognitivo, um sistema de vigilância contínua deve ser iniciado com a presença de alarmes
sonoros ou de cuidadores em tempo integral. A restrição ou contenção física deve ser
evitada(42, 13);
As intervenções para prevenção de quedas são mais eficazes se forem direcionadas a idosos
de alto risco de cair e que vivem na comunidade. Seis de oito ensaios clínicos que
envolveram pessoas com estas características relataram uma significativa redução no risco
relativo de queda. Dois destes ensaios envolveram intervenções multidimensionais, dois
envolveram exercícios, um envolveu a redução no uso de medicações psicotrópicas e um
relacionou-se com a redução de riscos ambientais por meio da avaliação de uma terapeuta
ocupacional (13,)
No entanto, há ainda dificuldades metodológicas que não permitem a adequada
comparação entre os estudos. Há estudos apontando que mesmo com intervenções
multidimensionais, que variam tremendamente entre os estudos, não se encontrou
diferença entre o grupo que sofreu intervenção e o grupo controle quanto ao número
cumulativo de quedas, o número médio de quedas e quanto à freqüência das quedas.
Encontrou- se uma diferença significante quanto ao intervalo entre os eventos de queda.
Em uma meta-análise recente envolvendo 12 estudos, os resultados apontam que houve
uma redução de 4% na ocorrência de quedas para os idosos que estavam no grupo de
tratamento que receberam várias e diferentes intervenções. Reforçou-se ainda que
intervenções isoladas tem um menor impacto na redução das quedas, independentemente
da intervenção realizada, e que os programas direcionados para idosos de risco mas,
vivendo na comunidade têm maior eficácia do que aqueles direcionados à idosos
institucionalizados (22,23).
O quadro abaixo enumera intervenções específicas de acordo com evidências existentes na
literatura.
Quadro 4 – Intervenções recomendadas para tratamento de fatores de risco/ causas de
quedas em idosos
11º Módulo: Transtornos Mentais em Idosos
Transtornos Mentais em Idosos
Transtornos Mentais em Idosos
A velhice é um período normal do ciclo vital caracterizado por algumas mudanças físicas,
mentais e psicológicas. É importante fazer essa consideração pois algumas alterações nesses
aspectos não caracterizam necessariamente uma doença. Em contrapartida, há alguns
transtornos que são mais comuns em idosos como transtornos depressivos, transtornos
cognitivos, fobias e transtornos por uso de álcool. Além disso, os idosos apresentam risco de
suicídio e risco de desenvolver sintomas psiquiátricos induzidos por medicamentos. Muitos
transtornos mentais em idosos podem ser evitados, aliviados ou mesmo revertidos.
Conseqüentemente, uma avaliação médica se faz necessária para o esclarecimento do
quadro apresentado pelo idoso. Diversos fatores psicossociais de risco também predispõem
os idosos a transtornos mentais. Esses fatores de risco incluem:
o Perda de papéis sociais
o Perda da autonomia
o Morte de amigos e parentes
o Saúde em declínio
o Isolamento social
o Restrições financeiras
o Redução do funcionamento cognitivo (capacidade de compreender e pensar de uma
forma lógica, com prejuízo na memória).
Transtornos psiquiátricos mais comuns em idosos
o Demência
o Demência tipo Alzheimer
o Demência vascular
o Esquizofrenia
o Transtornos depressivos
o Transtorno bipolar (do humor)
o Transtorno delirante
o Transtornos de ansiedade
o Transtornos somatoformes
o Transtornos por uso de álcool e outras substâncias
Demência
Demência é um comprometimento cognitivo geralmente progressivo e irreversível. As
funções mentais anteriormente adquiridas são gradualmente perdidas. Com o aumento da
idade a demência torna-se mais freqüente. Acomete 5 a 15% das pessoas com mais de 65
anos e aumenta para 20% nas pessoas com mais de 80 anos.
Os fatores de risco conhecidos para a demência são: Idade avançada História de demência
na família, Sexo feminino
Os sintomas incluem alterações na memória, na linguagem, na capacidade de orientar-se.
Há perturbações comportamentais como agitação, inquietação, andar a esmo, raiva,
violência, gritos, desinibição sexual e social, impulsividade, alterações do sono, pensamento
ilógico e alucinações.
As causas de demência incluem lesões e tumores cerebrais, síndrome da imunodeficiência
adquirida (AIDS), álcool, medicamentos, infecções, doenças pulmonares crônicas e doenças
inflamatórias. Na maioria das vezes as demências são causadas por doenças degenerativas
primárias do sistema nervoso central (SNC) e por doença vascular. Cerca de 10 a 15% dos
pacientes com sintomas de demência apresentam condições tratáveis como doenças
sistêmicas (doenças cardíacas, renais, endócrinas), deficiências vitamínicas, uso de
medicamentos e outras doenças psiquiátricas (depressão).
As demências são classificadas em vários tipos de acordo com o quadro clínico, entretanto
as mais comuns são demência tipo Alzheimer e demência vascular.
Demência tipo Alzheimer
De todos os pacientes com demência, 50 a 60% têm demência tipo Alzheimer, o tipo mais
comum de demência. É mais freqüente em mulheres que em homens. É caracterizada por
um início gradual e pelo declínio progressivo das funções cognitivas. A memória é a função
cognitiva mais afetada, mas a linguagem e noção de orientação do indivíduo também são
afetadas. Inicialmente, a pessoa pode apresentar uma incapacidade para aprender e evocar
novas informações.
As alterações do comportamento envolvem depressão, obsessão (pensamento, sentimento,
idéia ou sensação intrusiva e persistente) e desconfianças, surtos de raiva com risco de atos
violentos. A desorientação leva a pessoa a andar sem rumo podendo ser encontrada longe
de casa em uma condição de total confusão. Aparecem também alterações neurológicas
como problemas na marcha, na fala, no desempenhar uma função motora e na
compreensão do que lhe é falado.
O diagnóstico é feito com base na história do paciente e do exame clínico. As técnicas de
imagem cerebral como tomografia computadorizada e ressonância magnética podem ser
úteis.
O tratamento é paliativo e as medicações podem ser úteis para o manejo da agitação e das
perturbações comportamentais. Não há prevenção ou cura conhecidas.
Demência vascular
É o segundo tipo mais comum de demência. Apresenta as mesmas características da
demência tipo Alzheimer mas com um início abrupto e um curso gradualmente
deteriorante. Pode ser prevenida através da redução de fatores de risco como hipertensão,
diabete, tabagismo e arritmias. O diagnóstico pode ser confirmado por técnicas de imagem
cerebral e fluxo sangüíneo cerebral.
Esquizofrenia
Esquizofrenia (esquizofrenia e outras psicoses)
Essa doença começa no final da adolescência ou idade adulta jovem e persiste por toda a
vida. Cerca de 20% das pessoas com esquizofrenia não apresentam sintomas ativos aos 65
anos; 80% mostram graus variados de comprometimento. A doença torna-se menos
acentuada à medida que o paciente envelhece. Os sintomas incluem retraimento social,
comportamento excêntrico, pensamento ilógico, alucinações e afeto rígido.
Os idosos com esquizofrenia respondem bem ao tratamento com drogas antipsicóticas que
devem ser administradas pelo médico com cautela.
Transtornos depressivos
A idade avançada não é um fator de risco para o desenvolvimento de depressão, mas ser
viúvo ou viúva e ter uma doença crônica estão associados com vulnerabilidade aos
transtornos depressivos. A depressão que inicia nessa faixa etária é caracterizada por vários
episódios repetidos.
Os sintomas incluem redução da energia e concentração, problemas com o sono
especialmente despertar precoce pela manhã e múltiplos despertares, diminuição do
apetite, perda de peso e queixas somáticas (como dores pelo corpo). Um aspecto
importante no quadro de pessoas idosas é a ênfase aumentada sobre as queixas somáticas.
Pode haver dificuldades de memória em idosos deprimidos que é chamado de síndrome
demencial da depressão que pode ser confundida com a verdadeira demência. Além disso, a
depressão pode estar associada com uma doença física e com uso de medicamentos.
Transtorno Bipolar (Transtornos do Humor)
Os sintomas da mania em idosos são semelhantes àqueles de adultos mais jovens e incluem
euforia, humor expansivo e irritável, necessidade de sono diminuída, fácil distração,
impulsividade e, freqüentemente, consumo excessivo de álcool. Pode haver um
comportamento hostil e desconfiado. Quando um primeiro episódio de comportamento
maníaco ocorre após os 65 anos, deve-se alertar para uma causa orgânica associada. O
tratamento deve ser feito com medicação cuidadosamente controlada pelo médico.
Transtorno Delirante
A idade de início ocorre por volta da meia-idade mas pode ocorrer em idosos. Os sintomas
são alterações do pensamento mais comumente de natureza persecutória (os pacientes
crêem que estão sendo espionados, seguidos, envenenados ou de algum modo assediados).
Podem tornar-se violentos contra seus supostos perseguidores, trancarem-se em seus
aposentos e viverem em reclusão. A natureza dos pensamentos pode ser em relação ao
corpo, como acreditar ter uma doença fatal (hipocondria).
Ocorre sob estresse físico ou psicológico em indivíduos vulneráveis e pode ser precipitado
pela morte do cônjuge, perda do emprego, aposentadoria, isolamento social, circunstâncias
financeiras adversas, doenças médicas que debilitam ou por cirurgia, comprometimento
visual e surdez.
As alterações do pensamento podem acompanhar outras doenças psiquiátricas que devem
ser descartadas como demência tipo Alzheimer, transtornos por uso de álcool,
esquizofrenia, transtornos depressivos e transtorno bipolar. Além disso, podem ser
secundárias ao uso de medicamentos ou sinais precoces de um tumor cerebral.
Transtornos de Ansiedade
Incluem transtornos de pânico, fobias, TOC, ansiedade generalizada, de estresse agudo e de
estresse pós-traumático. Desses, os mais comuns são as fobias.
Os transtornos de ansiedade começam no início ou no período intermediário da idade
adulta, mas alguns aparecem pela primeira vez após os 60 anos.
As características são as mesmas das descritas em transtornos de ansiedade em outras
faixas etárias.
Em idosos a fragilidade do sistema nervoso autônomo pode explicar o desenvolvimento de
ansiedade após um estressor importante. O transtorno de estresse pós-traumático
freqüentemente é mais severo nos idosos que em indivíduos mais jovens em vista da
debilidade física concomitante nos idosos.
As obsessões (pensamento, sentimento, idéia ou sensação intrusiva e persistente) e
compulsões (comportamento consciente e repetitivo como contar, verificar ou evitar ou um
pensamento que serve para anular uma obsessão) podem aparecer pela primeira vez em
idosos, embora geralmente seja possível encontrar esses sintomas em pessoas que eram
mais organizadas, perfeccionistas, pontuais e parcimoniosas. Tornam- se excessivos em seu
desejo por organização, rituais e necessidade excessiva de manter rotinas. Podem ter
compulsões para verificar as coisas repetidamente, tornando-se geralmente inflexíveis e
rígidos.
Transtornos Somatoformes
São um grupo de transtornos que incluem sintomas físicos (por exemplo dores, náuseas e
tonturas) para os quais não pode ser encontrada uma explicação médica adequada e que
são suficientemente sérios para causarem um sofrimento emocional ou prejuízo
significativo à capacidade do paciente para funcionar em papéis sociais e ocupacionais.
Nesses transtornos, os fatores psicológicos são grandes contribuidores para o início, a
severidade e a duração dos sintomas. Não são resultado de simulação consciente.
A hipocondria é comum em pacientes com mais de 60 anos, embora o seja mais freqüente
entre 40 e 50 anos. Exames físicos repetidos são úteis para garantirem aos pacientes que
eles não têm uma doença fatal. A queixa é real, a dor é verdadeira e percebida como tal
pelo paciente. Ao tratamento, deve-se dar um enfoque psicológico ou farmacológico.
Transtornos por Uso de Álcool e Outras Substâncias
Os pacientes idosos com dependência de álcool, geralmente, apresentam uma história de
consumo excessivo que começou na idade adulta e apresenta uma doença médica,
principalmente doença hepática. Além disso, um grande número tem demência causada
pelo álcool.
A dependência de substâncias como hipnóticos, ansiolíticos e narcóticos é comum. Os
pacientes idosos podem abusar de ansiolíticos para o alívio da ansiedade crônica ou para
garantirem uma noite de sono.
A apresentação clínica é variada e inclui quedas, confusão mental, fraca higiene pessoal,
depressão e desnutrição.
Depressão
Sinônimos e nomes relacionados:
Transtorno depressivo, depressão maior, depressão unipolar, incluindo ainda tipos
diferenciados de depressão, como depressão grave, depressão psicótica, depressão atípica,
depressão endógena, melancolia, depressão sazonal.
O que é a depressão?
Depressão é uma doença que se caracteriza por afetar o estado de humor da pessoa,
deixando-a com um predomínio anormal de tristeza. Todas as pessoas, homens e mulheres,
de qualquer faixa etária, podem ser atingidas, porém mulheres são duas vezes mais
afetadas que os homens. Em crianças e idosos a doença tem características particulares,
sendo a sua ocorrência em ambos os grupos também freqüente.
Como se desenvolve a depressão?
Na depressão como doença (transtorno depressivo), nem sempre é possível haver clareza
sobre quais acontecimentos da vida levaram a pessoa a ficar deprimida, diferentemente das
reações depressivas normais e das reações de ajustamento depressivo, nas quais é possível
localizar o evento desencadeador.
As causas de depressão são múltiplas, de maneira que somadas podem iniciar a doença.
Deve-se a questões constitucionais da pessoa, com fatores genéticos e neuroquímicos
(neurotransmissores cerebrais) somados a fatores ambientais, sociais e psicológicos, como:
o Estresse
o Estilo de vida
o Acontecimentos vitais, tais como crises e separações conjugais, morte na família,
climatério, crise da meia-idade, entre outros.
Como se diagnostica a depressão?
Na depressão a intensidade do sofrimento é intensa, durando a maior parte do dia por pelo
menos duas semanas, nem sempre sendo possível saber porque a pessoa está assim. O mais
importante é saber como a pessoa se sente, como ela continua organizando a sua vida
(trabalho, cuidados domésticos, cuidados pessoais com higiene, alimentação, vestuário) e
como ela está se relacionando com outras pessoas, a fim de se diagnosticar a doença e se
iniciar um tratamento médico eficaz.
O que sente a pessoa deprimida?
Freqüentemente o indivíduo deprimido sente-se triste e desesperançado, desanimado,
abatido ou " na fossa ", com " baixo-astral ". Muitas pessoas com depressão, contudo,
negam a existência de tais sentimentos, que podem aparecer de outras maneiras, como por
um sentimento de raiva persistente, ataques de ira ou tentativas constantes de culpar os
outros, ou mesmo ainda com inúmeras dores pelo corpo, sem outras causas médicas que as
justifiquem. Pode ocorrer também uma perda de interesse por atividades que antes eram
capazes de dar prazer à pessoa, como atividades recreativas, passatempos, encontros
sociais e prática de esportes. Tais eventos deixam de ser agradáveis. Geralmente o sono e a
alimentação estão também alterados, podendo haver diminuição do apetite, ou mesmo o
oposto, seu aumento, havendo perda ou ganho de peso. Em relação ao sono pode ocorrer
insônia, com a pessoa tendo dificuldade para começar a dormir, ou acordando no meio da
noite ou mesmo mais cedo que o seu habitual, não conseguindo voltar a dormir. São
comuns ainda a sensação de diminuição de energia, cansaço e fadiga, injustificáveis por
algum outro problema físico.
Como é o pensamento da pessoa deprimida?
Pensamentos que freqüentemente ocorrem com as pessoas deprimidas são os de se
sentirem sem valor, culpando-se em demasia, sentindo-se fracassadas até por
acontecimentos do passado. Muitas vezes questões comuns do dia-a-dia deixam os
indivíduos com tais pensamentos. Muitas pessoas podem ter ainda dificuldade em pensar,
sentindo-se com falhas para concentrar-se ou para tomar decisões antes corriqueiras,
sentindo-se incapazes de tomá-las ou exagerando os efeitos "catastróficos" de suas
possíveis decisões erradas.
Pensamentos de morte ou tentativas de suicídio
Freqüentemente a pessoa pode pensar muito em morte, em outras pessoas que já
morreram, ou na sua própria morte. Muitas vezes há um desejo suicida, às vezes com
tentativas de se matar, achando ser esta a " única saída " ou para " se livrar " do sofrimento,
sentimentos estes provocados pela própria depressão, que fazem a pessoa culpar-se, sentir-
se inútil ou um peso para os outros. Esse aspecto faz com que a depressão seja uma das
principais causas de suicídio, principalmente em pessoas deprimidas que vivem
solitariamente. É bom lembrar que a própria tendência a isolar-se é uma conseqüência da
depressão, a qual gera um ciclo vicioso depressivo que resulta na perda da esperança em
melhorar naquelas pessoas que não iniciam um tratamento médico adequado.
Sentimentos que afetam a vida diária e os relacionamentos pessoais
Freqüentemente a depressão pode afetar o dia-a-dia da pessoa. Muitas vezes é difícil iniciar
o dia, pelo desânimo e pela tristeza ao acordar. Assim, cuidar das tarefas habituais pode
tornar-se um peso: trabalhar, dedicar-se a uma outra pessoa, cuidar de filhos, entre outros
afazeres podem tornar-se apenas obrigações penosas, ou mesmo impraticáveis,
dependendo da gravidade dos sintomas. Dessa forma, o relacionamento com outras
pessoas pode tornar-se prejudicado: dificuldades conjugais podem acentuar-se, inclusive
com a diminuição do desejo sexual; desinteresse por amizades e por convívio social podem
fazer o indivíduo tender a se isolar, até mesmo dificultando a busca de ajuda médica.
Como se trata a depressão?
O tratamento médico sempre se faz necessário, sendo o tipo de tratamento relacionado à
intensidade dos problemas que a doença traz. Pode haver depressões leves, com poucos
aspectos dos problemas mostrados anteriormente, ou pode haver depressões bem mais
graves, prejudicando de forma importante a vida do indivíduo. De qualquer forma,
depressões leves ou mais graves necessitam de tratamento médico, geralmente
medicamentoso (com medicações antidepressivas), ou psicoterápico, ou a combinação de
ambos, de acordo com a intensidade da doença e a disponibilidade dos tratamento
12º Módulo: Doença de Alzheimer
Doença de Alzheimer
1. Doença de Alzheimer - Dúvidas Freqüentes
O que é doença de Alzheimer?
A doença de Alzheimer é a mais freqüente forma de demência entre idosos. É caracterizada
por um progressivo e irreversível declínio em certas funções intelectuais: memória,
orientação no tempo e no espaço, pensamento abstrato, aprendizado, incapacidade de
realizar cálculos simples, distúrbios da linguagem, da comunicação e da capacidade de
realizar as tarefas cotidianas. Outros sintomas incluem, mudança da personalidade e da
capacidade de julgamento.
Erroneamente conhecida pela população como “esclerose” ou como o “velhinho gagá” não
está relacionada com problemas circulatórios.
O que é demência?
Demência é um grupo de sintomas caracterizado por um declínio progressivo das funções
intelectuais, severo o bastante para interferir com as atividades sociais e do cotidiano. A
doença de
Alzheimer é a forma mais comum de demência. A segunda causa mais freqüente de
demência é a demência por múltiplos infartos cerebrais, uma série de pequenos derrames.
A demência pode ocorrer também a partir de outras doenças do sistema nervoso como a
doença de Parkinson e a Aids.
O que é Demência Senil? Demência Senil é um termo ultrapassado que foi usado para definir
demências que ocorriam em idosos.
Quantas pessoas sofrem de doença de Alzheimer?
Estima-se no Brasil 1 milhão e 200 mil pessoas.
A proporção de pessoas com a doença dobra a cada 5 anos a partir dos 65 anos de idade.
Qual é a idade da maioria das pessoas com doença de Alzheimer?
Na maioria das pessoas os sintomas iniciam depois dos 60 anos de idade.
Cerca de 3% das pessoas com idade entre 65 e 74 anos tem a doença mas quase a metade
das que tem 85 ou mais são acometidas. Normalmente o diagnóstico é feito pelo menos um
ano depois dos primeiros sintomas que costumam ser leves e confundidos como normais no
envelhecimento.
O que causa a doença de Alzheimer ?
Os cientistas ainda não sabem exatamente qual é a causa da doença de Alzheimer. O que se
sabe é que a doença desenvolve- se como resultado de uma série de eventos complexos
que ocorrem no interior do cérebro.
A idade é o maior fator de risco para a doença. Quanto mais idade maior o risco.
Se uma pessoa da minha família tem Alzheimer eu tenho maior risco de ter a doença?
Existem dois tipos de doença de Alzheimer: a doença de Alzheimer familiar que ocorre em
adultos jovens e parece ter um caráter hereditário importante e a forma esporádica na qual
o fator hereditário não é óbvio.
Aproximadamente apenas 5 % da doença de Alzheimer é familiar e 95% esporádica.
Na forma familiar da doença de Alzheimer, vários membros de uma mesma geração são
afetados. Na forma esporádica a doença desenvolve-se a partir de uma grande variedade de
fatores que os cientistas ainda estão tentando determinar.
A idade é o fator de risco mais conhecido e importante para a forma esporádica da doença
de Alzheimer. Ter um familiar com Alzheimer aumenta o risco duas ou três vezes na forma
esporádica mas não há como prever se você irá ter a doença ou não.
Fora a genética, que outros fatores contribuem para que a doença se desenvolva?
Se bem que a causa da doença de Alzheimer ainda não esteja completamente esclarecida,
alguns pesquisadores sugerem que traumas cranianos repetidos, especialmente os com
perda da consciência no passado, processos inflamatórios cerebrais e o chamado ―stress
oxidativo‖ podem estar envolvidos na causa da doença.
São os homens ou as mulheres os mais afetados?
Mais mulheres do que homens têm a doença de Alzheimer. Porém, como a expectativa de
vida das mulheres é pelo menos 5 anos superior a dos homens não se sabe se o risco está
no sexo em si ou no fato das mulheres viverem mais do que os homens.
De que modo os traumas cranianos podem contribuir para que a doença de Alzheimer se
desenvolva?
Alguns estudos sugerem que a pessoa que sofreu um trauma craniano com perda da
consciência no passado, têm duas vezes mais probabilidade de ter a doença, mas outros
estudos não confirmaram essa associação.
O nível educacional está relacionado com o risco de se ter à doença de Alzheimer?
Pesquisas sugerem que quanto maior o número de anos de educação formal que uma
pessoa tem, menor é a chance dela ou dele desenvolver a doença quando for idoso. Alguns
estudos sugerem que manter uma atividade intelectual como fazer palavras cruzadas por
exemplo pode reduzir a probabilidade de se adquirir a doença de Alzheimer.
Qual é a relação entre o alumínio e a doença de Alzheimer?
Uma das mais controvertidas hipóteses veiculada pela mídia é sobre a correlação entre o
alumínio e a doença de Alzheimer. Essa suspeita foi originada a partir da constatação de que
portadores da doença de Alzheimer possuíam traços de alumínio em seus cérebros.
Inúmeros estudos não foram capazes de demonstrar conclusivamente essa correlação. Não
se pode afirmar que esse metal desempenhe um papel na gênese da enfermidade. Algumas
pessoas, desinformadas ou mal intencionadas, baseiam seus pseudo-tratamentos, no
mínimo duvidosos como a quelação, apoiados nessa equivocada premissa.
Quais são os sintomas da doença de Alzheimer?
A doença de Alzheimer é uma enfermidade progressiva e os sintomas agravam-se à medida
que o tempo passa. Mas é também uma doença cujos sintomas, sua gravidade e velocidade
variam de pessoa para pessoa.
Os sintomas mais comuns são:
o Perda de memória, confusão e desorientação.
o Ansiedade, agitação, ilusão, desconfiança.
o Alteração da personalidade e do senso crítico.
o Dificuldades com as atividades da vida diária como alimentar-se e banhar-se.
o Dificuldade em reconhecer familiares e amigos.
o Dificuldade em tomar decisões.
o Perder-se em ambientes conhecidos.
o Alucinações, inapetência, perda de peso, incontinência urinária e fecal.
o Dificuldades com a fala e a comunicação.
o Movimentos e fala repetitiva.
Perder memória não é normal em nenhuma idade. É comum à medida que vamos
envelhecendo. Problemas com a memória podem ser devidos a uma ampla gama de fatores.
É normal em qualquer idade esquecer de vez em quando nomes, compromissos ou objetos
como chaves, guarda-chuva etc... A causa pode ser: certos medicamentos (calmantes e
hipnóticos principalmente), estresse, distração, tristeza, cansaço, problemas de visão ou
audição, uso de álcool, uma doença grave ou a tentativa de se lembrar de muitas coisas ao
mesmo tempo.
Como a doença de Alzheimer é diagnosticada?
A doença de Alzheimer só pode ser diagnosticada com certeza através do exame
microscópico do tecido cerebral por biópsia ou necropsia, para demonstrar a presença das
lesões características: as placas neuríticas e os novelos neurofibrilares em certas áreas do
cérebro. Os médicos podem fazer o diagnóstico de ―possível‖ ou ―provável‖ doença de
Alzheimer.
Vários instrumentos clínicos são usados para se chegar ao diagnóstico: uma história médica
completa, testes para avaliar a memória e o estado mental, avaliação do grau de atenção e
concentração e das habilidades em resolver problemas e nível de comunicação. Testes
laboratoriais como exames de sangue e urina são usados para excluir outras causas de
demência, algumas delas passíveis de serem curadas.
Exames de imagem como a tomografia computadorizada, ressonância nuclear magnética,
spect e pet, são utilizados para determinar o tipo de demência e/ou avaliar sua gravidade.
Qual o nível de certeza do diagnóstico clínico?
Médicos experientes em doença de Alzheimer fazem o diagnóstico correto em cerca de
90% dos casos.
Quais as outras doenças que têm sintomas parecidos com a doença de Alzheimer?
Tumores cerebrais, derrames, depressão maior, doenças da tireóide, o uso de certos
medicamentos, problemas nutricionais, e outras condições podem imitar os sintomas da
doença de Alzheimer. O diagnóstico precoce aumenta em muito a chance de se tratar essas
doenças com sucesso.
Esquecer onde coloquei as chaves, óculos é um processo natural do envelhecimento ou da
doença de Alzheimer?
A depressão pode comprometer a concentração, causar distúrbios do sono que levam à
perda de memória em pessoas não portadoras de doença de Alzheimer.
Pessoas nas fases iniciais da doença de Alzheimer freqüentemente apresentam
comprometimento da memória. Podem ter dificuldades em lembrar de eventos recentes, de
atividades, de pessoas familiares e de objetos. A perda de memória que se associa com a
doença de Alzheimer acaba por interferir seriamente na execução das atividades da vida
diária.
Por que o diagnóstico precoce é tão importante?
Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, maiores serão as chances de tratar os sintomas
corretamente, retardando a evolução da doença e assim oferecer uma oportunidade digna
para a pessoa portadora da doença de Alzheimer poder inclusive, tomar parte nas decisões
que lhe diz respeito , especialmente na fase inicial da enfermidade.
Existem fases ou estágios na doença de Alzheimer?
Existem 4 fases:
Na fase inicial os sintomas mais importantes são:
. perda de memória, confusão e desorientação
. ansiedade, agitação, ilusão, desconfiança.
. alteração da personalidade e do senso crítico.
. dificuldades com as atividades da vida diária como alimentar-se e banhar-se.
. alguma dificuldade com ações mais complexas como cozinhar, fazer compras, dirigir,
telefonar.
Na fase intermediária os sintomas da fase inicial se agravam e também pode ocorrer:
. dificuldade em reconhecer familiares e amigos
. perder-se em ambientes conhecidos
. alucinações, inapetência, perda de peso, incontinência urinária
. dificuldades com a fala e a comunicação
. movimentos e fala repetitiva
.distúrbios do sono
.problemas com ações rotineiras
. dependência progressiva
. vagância
. Início de dificuldades motoras.
Na fase final:
. Dependência total
. Imobilidade crescente
. Incontinência urinária e fecal
. Tendência em assumir a posição fetal
. Mutismo
. Restrito a poltrona ou ao leito
. Presença de úlceras por pressão (escaras)
. Perda progressiva de peso
. Infecções urinárias e respiratórias freqüentes
. Término da comunicação
Na fase terminal:
. Agravamento dos sintomas da fase final
. Incontinência dupla
. Restrito ao leito
. Posição fetal
. Mutismo
. Úlceras por pressão
. Alimentação enterall
. Infecções de repetição
. Morte
A partir do diagnóstico, quanto tempo uma pessoa com doença de Alzheimer tem de vida?
Pessoas com doença de Alzheimer podem viver por muitos anos e freqüentemente morrem
de pneumonia. A duração da doença pode ser de 20 anos ou mais. A média de vida varia
entre 4 a 8 anos.
Por que as pessoas com a doença de Alzheimer costumam morrer de pneumonia?
Realmente a pneumonia é uma das principais causas de morte em pacientes com doença de
Alzheimer.
O primeiro fator se relaciona com a idade uma vez que na maioria das vezes as pessoas
acometidas são idosas.
O sistema imunológico normalmente está comprometido facilitando a ocorrência de
infecções, especialmente as respiratórias e urinárias.
O estado nutricional e o nível de hidratação também desempenham um papel decisivo .
É imperioso que esses pacientes estejam bem nutridos seja com o uso de suplementos ou
com medidas dietéticas eficazes.
A questão da comunicação se soma a esses fatores uma vez que podem não se queixar de
frio,fome, sede etc.
Nas fases mais adiantadas o paciente se movimenta menos, os sintomas motores começam
a aparecer e a imobilidade propicia a instalação de infecções pulmonares, muitas vezes
fatais.
Esse fato demonstra a importância dos cuidados gerais uma vez que essa complicação pode
ser evitada.
Como a doença de Alzheimer é tratada? Não existe nenhuma droga que garanta a cura, ou
que interrompa definitivamente o curso da doença de Alzheimer.
Uma parcela dos doentes, especialmente nas fases iniciais e intermediárias, pode se
beneficiar de alguns medicamentos específicos.
Outros medicamentos podem ajudar a controlar distúrbios de comportamento, insônia,
agitação, vagância, ansiedade e depressão. O tratamento correto desses sintomas deixam o
paciente e seu cuidador mais tranqüilos e confortáveis. Há ainda uma outra gama de opções
de drogas que podem colaborar no retardamento da doença. Várias drogas encontram-se
em experiência em laboratórios por todas as partes do mundo.
Existe uma vacina contra a doença de Alzheimer? Não há uma vacina disponível para a
doença de Alzheimer. Essa abordagem está sendo investigada e é muito promissora. A
vacina estimularia o sistema imunológico para reconhecer, detectar e evitar a formação das
placas neuríticas e da deposição de amilóide, substância tóxica para os neurônios.
Os antiinflamatórios não hormonais podem tratar a doença de Alzheimer? Existem fortes
evidências de que a doença de Alzheimer está associada com processos inflamatórios
cerebrais e que esse tipo de droga pode ajudar.
Alguns cientistas defendem a tese de que pessoas com alto risco de desenvolverem a
doença poderiam evitar ou no mínimo retardar a evolução utilizando essa estratégia
terapêutica. Casos de evolução muito rápida seriam candidatos naturais a esse tipo de
abordagem. Os efeitos colaterais são muitos e bastante sérios fazendo com que esses
pacientes devam ser acompanhados com muito cuidado e sob estrita supervisão médica.
A reposição hormonal pode ser usada para tratar a doença de Alzheimer?
Várias pesquisas estão sendo conduzidas no sentido de determinar se a administração de
estrógenos retarda a evolução e/ou reduz o risco de se desenvolver a doença.
Estudo recente concluiu que a administração de estrógeno em conjunto com progesterona
aumentou o risco da doença em duas vezes quando comparada com o grupo que não fez
uso da medicação.
Existem compostos como as isoflavonas que mimetizam a ação dos hormônios femininos.
Parece que, por serem naturais, obtidos através da soja, beneficiam os pacientes sem
apresentar os efeitos indesejáveis dos hormônios.
Mais estudos precisam ser realizados mas essa não deixa de ser uma opção interessante.
O colesterol alto representa algum risco para a doença de Alzheimer? Recentemente alguns
estudos sugerem fortemente a associação de níveis elevados de colesterol com a doença de
Alzheimer. Atualmente estão em curso estudos controlados para determinar se essa
correlação é verdadeira. Por outro lado, sabe-se que o colesterol sérico elevado é
comprovadamente um importante fator de risco para doenças cardiovasculares devendo ser
tratado independente dessa possível correlação.
É verdade que alguns nutrientes e vitaminas devem ser administradas em conjunto com o
tratamento convencional? Existem demências relacionadas com níveis baixos de vitaminas
do complexo B, especialmente a vitamina B12, B1 e ácido fólico. Estudos recentes
demonstraram que pacientes com doença de Alzheimer apresentam níveis elevados de
Homocisteína (substância passível de ser quantificada por exame de sangue). Essa
substância estaria relacionada com a teoria do “stress oxidativo” e seus níveis podem ser
controlados com orientação nutricional e/ou com a administração de folato. Com base
nesse mesma teoria, a suplementação de Vitamina C e de Vitamina E pode resultar em
neuroproteção.
Como o familiar e cuidador (a) pode encontrar informações e ajuda sobre a doença?
13º Módulo: Doente no Domicílio
Cuidar do Idoso Doente no Domicílio
EXTRATO NA ÍNTEGRA DE ARTIGO CIENTÍFICO
CATTANI, R. B.; GIRARDON-PERLINI, N. M. O. - Cuidar do idoso doente no domicílio na voz
de cuidadores familiares. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 02, 2004. Disponível
em www.fen.ufg.br
"Categoria 1. Ser cuidador familiar: uma opção ou uma obrigação?
Definir quem será o cuidador familiar de um idoso doente no domicílio constitui-se numa
situação em que a família, na maioria das vezes, necessita reorganizar-se e negociar
possibilidades, que incluem identificar, conforme o parentesco, a disponibilidade de tempo
e o desejo pessoal, quem poderá assumir essa tarefa.
A partir das informações obtidas junto aos colaboradores deste estudo percebemos que o
grau de parentesco tem influência decisiva na escolha de quem irá cuidar, ou seja, quanto
mais próxima for a relação familiar, mais chances tem esta pessoa de vir a ser a responsável
pelo cuidado do idoso, conforme descrito na literatura.
Alguns entrevistados referiram que assumiram o cuidado do idoso doente porque
entendem ser uma obrigação matrimonial, tanto de esposo como de esposa, pois uma vez
casados constitui-se em dever um cuidar do outro até o fim da vida. Atribuem esta
responsabilidade ao acordo firmado perante Deus, por ocasião do matrimônio, em que se
comprometeram a partilhar alegrias e tristezas, além de estarem juntos na saúde e na
doença, conforme pode ser evidenciado nas seguintes manifestações:
“A senhora sabe que antigamente a gente, tendo, casado, fez aquele juramento pra Deus e
as coisas assim, nas horas boas e nas horas ruins, a gente tem que estar sempre junto, pra
cuidar, eu tenho que cuidar, o que eu vou fazer, abandonar não dá”.” (He-man)
Esta obrigação também é mencionada por aqueles que tem uma vida em comum, que
mesmo não tendo formalizado a sua união de acordo com um ritual religioso ou num
contrato civil, sentem- se com o mesmo tipo de responsabilidade.
“Penso assim que, que eu tenho que cuidar dele, porque estou junto com ele. É meu
companheiro, então tenho que cuidar”. (Shenna)
Em investigação realizada por SILVA (1995) na qual buscou conhecer as relações de gênero e
poder entre cuidadoras – mulheres e pacientes acometidos por Acidente Vascular Cerebral
(AVC) e que perderam sua independência, constatou que para algumas cuidadoras a
“opção” de cuidar é vista como uma obrigação que está embutida no seu papel de esposa,
estando relacionado ao projeto de vida do casal, já que o casamento se constitui em um
projeto de vida comum que inclui a questão do cuidado pelo outro.
Associado ao fato de cuidar como uma função inerente ao casamento, evidencia-se que
também existe um componente afetivo que conduz essa atuação e contribui para que um
cônjuge cuide do outro: o sentimento de carinho, de gostar do outro, como pode ser
percebido nesta fala:
“Mas porque, é meu esposo, a gente cuida, é uma pessoa que a gente quer bem, a gente
cuida nem que não seja esposa, que seja mãe, cuida, Não há como um porque, não há uma
obrigação eu acho, e sim gostar da pessoa. Eu acho que, que mais que obrigação é um dever
que a gente tem, um cuidar do outro, tem que ser, quando não der mais, terá que se
arrumar uma pessoa mais”. (Sherra)
O cuidar se apresenta como uma manifestação de afeto, pois como diria o poeta, “quem
ama, cuida”, e a concepção popular de amar remete a essa forma de compromisso com o
outro. Na língua portuguesa cuidar denota “aplicar a atenção; o pensamento; ter cuidado
com os outros e consigo mesmo; tratar de assistir”, dentre outros sinônimos (FERREIRA,
1999, p. 589).
Embora a cuidadora refira-se ao afeto como motivação para cuidar, evidencia-se que cuidar
de seu esposo também é um dever, mais que uma obrigação, podendo se notar o expressivo
traço cultural, no qual sendo esposo, tem que ficar junto e dedicar-se na realização dos
cuidados. Assim, podemos depreender que o componente afetivo apresenta-se como um
fator importante e influencia na escolha do cuidador, porém este estará acompanhado de
valores impostos pela cultura familiar, ou seja, os direitos, deveres e obrigações dos
membros da família.
Dever é definido como se ter obrigação ou necessidade de; ser devedor de; aquilo a que se
está obrigado por lei, pela moral, pelos costumes, incumbência ou obrigação; sendo que
obrigação é definida como dever; imposição; tarefa necessária; compromisso; motivo de
reconhecimento; favor; serviço; preceito...(FERREIRA, 1999). Assim, quando o cuidador se
refere a seu dever ou a sua obrigação, podemos considerar que este está se referindo a uma
obrigação moral determinada, expressa em uma regra de ação, que nesse caso é o cuidar.
Culturalmente, a sociedade espera essa atitude dos casais e, segundo KARSCH (1998), para
cuidadoras esposas, o ato de cuidar está embutido no seu papel de mulher casada, a partir
do compromisso assumido e selado desde o momento do matrimônio. Este compromisso
associa-se a valores como responsabilidade e obrigação e o dever como um sentimento
natural e subjetivo. Cuidar do companheiro, enquanto puder, enquanto tiver forças, tem
uma representação para os cuidadores, no sentido de ser valorizado e reconhecido pelas
outras pessoas, por aquilo que faz. De certo modo, há um heroísmo que os torna
respeitados perante a sua comunidade, pois estão cumprindo com suas obrigações.
Nesse sentido, SOMMERHALDER & NERI (2001) em uma investigação com 15 mulheres
cuidadoras principais de idosos de alta dependência identificaram que os benefícios
relatados por estas estavam relacionados a crescimento pessoal, senso de auto-realização,
senso de significado e senso de reciprocidade. No aspecto social os ganhos relacionaram-se
à valorização social, à satisfação pelo cumprimento de normas sociais e benefícios às
relações familiares.
Também MENDES (1995) reforça a idéia de que os cuidadores entendem a atividade de
cuidar como um dever moral decorrente das relações pessoais e familiares inscritas na
esfera doméstica, visto que muitos cuidadores não se viam como tais e, a partir do
momento que necessitam desempenhar tal papel, o assumem como uma exigência
decorrente do viver em família.
O dever, entretanto, refere-se a ações impostas por normas sociais. Estas por sua vez, estão
inscritas num conjunto de crenças e valores compartilhados entre membros de uma
sociedade, sendo que a família é o lugar da transmissão, introjeção e manutenção dos
valores.
Para os casais, principalmente, os idosos, cuidar de seu companheiro(a) é tido como uma
etapa normal e esperada no processo de envelhecer o que, como diz MENDES (1995), faz,
muitas vezes, com que “o cuidador de um idoso doente e dependente seja outro idoso, que
por sua vez também pode ter restrições em sua saúde, porém, encontra-se em melhores
condições, o que os possibilita cuidar”.
Quando o cônjuge não pode desempenhar esse papel ou já é falecido, a responsabilidade
pelos cuidados passa a ser uma obrigação filial. Os filhos referem que cuidam porque não há
outra alternativa, pois “mãe é mãe”. O sentimento para com o idoso é fortuito, cuidam pelo
amor que sentem pelo genitor, procurando aceitar seus defeitos, e pelos laços de afeto que
os une.
“Olha eu, eu faço, porque isso tem que fazer, ela é minha mãe, tudo, o que eu vou fazer, tem
que fazer igual e (...) suportar o que a mãe é”. (Super-homem) Quando os idosos precisam
de ajuda, os filhos adultos costumam assumir o papel de cuidadores, por terem um vínculo
afetivo e uma responsabilidade culturalmente definida, conhecida como “obrigação filial”
(Bleiszner, apud PAVARINI et al., 2001).
Ser cuidador da própria mãe (ou pai) transcende o ato em si, pois resgata o carinho, o amor,
as desavenças do cotidiano e possibilita a retribuição de valores, de cuidados e também, de
certa forma, o fato de existirem.
“Eu (filha) tenho amor por ela, à gente se não fosse ela, a gente não estava no mundo”.
(Mulher Maravilha) “É eu cuido, é minha mãe, tenho carinho por ela. É o que eu posso fazer
hoje por ela, é cuidar”. (Super-homem)
Mesmo que esta obrigação seja vista como um fator inerente à condição de filhos, outras
figuras se apresentam neste estudo como cuidadoras. A neta, embora não seja filha, sente-
se como tal e, portanto, imbui-se da mesma obrigação filial. Ao residir com a avó, passou a
cuidá-la diariamente, sentindo-se responsável por ela. Além disso, separada dos pais, por
motivos familiares, relata que com o passar do tempo, do carinho e da atenção da avó a
considera como a própria mãe.
“Se eu fosse escolher eu não ia escolher cuidar dela, aí então como surgiu eu cuidar dela, eu
aceitei. Daí fosse uma escolha assim, no meu ver, antes eu não ia querer cuidar de uma
pessoa idosa doente, mas surgiu a oportunidade, então eu vim cuidar. Também ficou na
minha responsabilidade e eu fiquei aqui então. E eu tenho um carinho de mãe com ela, o
carinho que a minha mãe não teve por mim ela teve”. (Bat girl)
A responsabilidade que lhe foi imposta frente às circunstâncias familiares sem possibilidade
de optar ou não por tal tarefa, fez com que o cotidiano fosse moldando a relação familiar e
a realização dos cuidados para com a idosa doente, na esfera familiar. Tornar-se cuidador de
um familiar idoso e dependente no domicílio implica em alguns fatores que levam o
cuidador a assumir-se como tal, como, por exemplo, ser o familiar mais próximo e do fato
dos outros se desvencilharem do cuidado.
Também, como cuidadora identifica-se à nora, que cuida da mãe de seu esposo. Ambos
residem no mesmo domicílio e, como nestas ocasiões, em que alguém necessita de
cuidados no âmbito familiar, alguém tem de executar, a nora, devido às contingências,
assumiu esta tarefa. Considerando que o cuidado é culturalmente desempenhado pela
figura feminina, a nora o realiza, pois o filho precisa trabalhar e considera esta uma tarefa a
ser desempenhada pela mulher. Refere também que realiza um sistema de rodízio com uma
das filhas da idosa, quando uma ou outra precisa viajar, porém ainda fala que os outros
filhos se desvencilharam do cuidado, então alguém precisa realizá-los.
“Vou cuidar dela até quando ela precisar de mim, enquanto eu puder, eu cuido. Por isso que
enquanto eu puder e tiver saúde eu cuido dela, agora o dia que eu não puder mais, daí as
filhas vão ter que assumir ela daí. Por enquanto sou eu que estou assumindo e vou assumir
até enquanto der, pra cuidar dela. Gosto dela, quero bem e tudo e os outros não querem,
não tem muita vontade de cuidar, então alguém tem que cuidar”. (Mulher Gato)
A colaboradora explicita que enquanto puder desenvolver os cuidados à sogra irá fazê-los,
entretanto quando isto não for possível, enfatiza que as filhas é que deverão assumir os
cuidados. De certa forma, sua mensagem deixa transparecer que na sua concepção esta
função compete às filhas, e não a ela.
O assumir o fato de ser o responsável pelo cuidado não é uma opção, porque em geral, o
cuidador não toma a decisão de cuidar, mas esta se define na indisponibilidade de outros
possíveis cuidadores para cuidar e, quanto mais o cuidador se envolve, mais os não-
cuidadores se desvencilham do cuidado (KARSCH, 1998). Assim percebemos que, uma vez
assumindo, o cuidado dificilmente é transferível.
A aceitação de ser cuidador se dá, geralmente, num processo que pode ser explicado como
uma forma de “impulso” inicial e ou de slipping into it (escorregar para dentro) conforme
Ungerson (1987), Lewis & Meredith (1988) apud MENDES (1995). Ou seja, em princípio, a
pessoa, num ato espontâneo e impulsivo assume o cuidar ou, sem perceber, vai assumindo
pequenos cuidados e quando percebe já é o cuidador principal, estando completamente
comprometido. “É como se de um lado o cuidador escorregasse cada vez mais para dentro
da situação e, de outro, os não - cuidadores deslizassem cada vez mais para fora dela”
(KARSCH, 1998, p.138).
Categoria 2 : Sendo cuidador familiar de idoso doente no domicílio
Sentimentos do cuidador: da gratidão a resignação
Desempenhar a tarefa de cuidar do idoso doente e dependente no domicílio deflagra
diferentes sentimentos que são vivenciados pelos cuidadores diariamente. Alguns
entrevistados relatam que para ser cuidador é imprescindível ter algumas qualidades, que
os possibilitem resistir ao cotidiano. Têm que se conformar, “agüentar” cuidar do idoso, pois
não há o que fazer. Segundo eles, qualquer atitude, como abandonar a função, brigar com o
idoso e os outros familiares, não mudará a situação de ser cuidador, nem a situação do
idoso doente, pois este continuará dependente e possivelmente não haja outra pessoa para
assumir o cuidado. Assim, não podendo abdicar de tais responsabilidades, acabam sentindo-
se impotentes diante da situação e a aceitam como imutável, resignando-se às
circunstâncias.
“Em cuidar eu me sinto bem, fazer o quê, estou junto, tenho que cuidar, tenho que
agüentar”. (Sherra) [...] Ele está doente, tenho que cuidar. Paciência. E se não tem paciência,
e daí?”(Sherra)
Outra colaboradora ainda expressa a “raiva” como um sentimento passageiro, mas que se
faz presente frente ao cuidar. Muitas vezes torna-se incomodada pela condição de ser
cuidadora, de ter que cuidar de alguém doente, entretanto, afirma que o sentimento é
temporário, efêmero e que com o passar do tempo, na medida do possível, tudo volta ao
“normal”.
“Me dava raiva assim, mas depois que a raiva passava, daí (...)”. (Tempestade) “Bem, às
vezes tem umas resmunguinhas ou outra, mas ela não aceita, às vezes a gente briga por
causa de remédio dela e outras coisas, mas é coisinha, assim”. (Bat girl)
O cotidiano do cuidado favorece o surgimento de sentimentos de insatisfação por parte do
cuidador e a manifestação do seu descontentamento, entre outros motivos, pode produzir
situações de conflito entre ele e o familiar. Refletir sobre estes desencontros desencadeia
sentimentos ambíguos para ambos os lados. Ao cuidador o sentimento de compaixão pela
dependência do idoso e de desagrado pelas limitações que lhe impõe a condição de
cuidador. Ao familiar que está sendo cuidado, a indignação pela dependência e o
reconhecimento pela ajuda recebida. Conforme KARSCH (1998), o cuidador não pode ficar
pensando nos problemas de relacionamento que poderão surgir no decorrer do cuidado,
mas este deve fazer o que tem que ser feito, porque, ao ficar preocupado, não cuida e nem
muda a situação.
Considerando as motivações que permeiam a tarefa de cuidar, evidencia-se no cuidado uma
forma de agradecimento pelas experiências vividas e pelos cuidados e atenção recebidos no
passado. A fala abaixo expressa esse sentimento.
“Então eu acho que chegou a vez de eu retribuir o que ela fez por mim”. (Batman)
“Eu tenho carinho por ela, ela me deu amor. Então agora tenho que cuidar dela, retribuir
pra ela”. (Bat girl)
Sentimentos de gratidão são perceptíveis, principalmente, nas relações em que os filhos são
cuidadores dos pais. SILVA (1995) em sua pesquisa com cuidadoras de adultos dependentes,
analisando a relação mães-filhas, conclui que as filhas ao assumirem os cuidados querem
retribuir o que a mãe fez ao longo de suas vidas, especialmente no período em que
dependiam dos pais para a sua manutenção. É como se fosse uma espécie de “retribuição”
pelos esforços realizados pela mãe ao criá-las.
Sentindo-se inexperiente frente à demanda de cuidados
O exercício de cuidar do idoso doente no domicílio é um aprendizado constante, baseado
nas necessidades físicas e biológicas e de acordo com o nível de dependência do idoso. Na
maioria das vezes se torna difícil, pela inexperiênciado cuidador, atender as demandas que
vão surgindo no transcorrer do processo do cuidar e que necessitam ser aprendidas no
enfrentamento do cotidiano.
Atividades que parecem ser simples, para quem já as desenvolve, se tornam árduas para
quem nunca precisou enfrentá-las. Assim, o cuidar, que inicialmente abrange atividades
simples que se limitam a ajudar na realização de atividades da vida diária, como ajudar no
vestir-se ou a servir de apoio para andar na rua, podem, gradativamente, ir se
complexificando e exigindo do cuidador conhecimento e habilidades para o exercício do
cuidar de acordo com as necessidades físicas do idoso.
“Daí, eu tive que aprender como dar banho nela em cima da cama, eu tive que aprender
como trocar de roupa nela, os cuidados que tinha que ter pra não dar aquelas feridas no
corpo dela, tudo eu tive que aprender”. (Batman)
“Eu tive que aprender a lidar com o oxigênio, com tudo, praticamente. Desde as pequenas
coisas”. (Sherra)
Com isso, o processo de tornar-se cuidador é gerado no enfrentamento diário, segundo
Mendes (1995), aprendendo a lidar com as necessidades do idoso doente e muitas vezes,
tendo que se adaptar a elas. Também, nesse sentido, GIRARDON- PERLINI (2001, p.118) em
um estudo com cuidadores familiares principais de pessoas incapacitadas em decorrência
de AVC que cuidam no domicílio, identificou que a maioria dos cuidadores referiu ter
“aprendido a cuidar na prática do dia – a – dia, como um autodidata, fazendo, errando e
acertando e, em segundo lugar, observando e auxiliando a enfermagem durante a
internação, o que reflete também um aprender por si mesmo”.
Os cuidadores descrevem que tiveram que incorporar e desenvolver a cada dia uma nova
gama de cuidados, adequando- os às necessidades do idoso que, conforme a dependência
vai se apresentando no transcurso da evolução de sua doença, o que torna o cotidiano
cansativo e repetitivo. Referem que as noites são mal dormidas, geradas pela preocupação
em saber se o idoso está bem, pelo compromisso de administrar medicamentos nos
horários corretos e pela repetição de tarefas.
“Em casa tenho que cuidar de noite e dia, durmo um sono e me acordo, pra ir lá atender ele,
ver se tá coberto, tapado, dar um remédio (...). E é isso (...). Acordar, levantar, tratar de
esquentar uma água”. (Shena)
“Eu fui cuidando ele, conforme as necessidades dele e cada vez mais, eu tive que ir fazendo
as coisas pra ele, até chegar um ponto assim, que agora eu que dou banho, eu que tenho
que ajudar ele a pôr na cadeira, às vezes nem na cadeira não dá pra ir, tem que colocar
fralda, então, e (...)”. (Sherra)
Outros colaboradores mencionaram que iniciaram os cuidados conforme as necessidades
que o idoso doente apresentava, porém, com o passar do tempo, a dependência do mesmo
foi aumentando e a sobrecarga de cuidados também, posto às exigências da evolução da
doença. Percebemos que os cuidadores sentem-se sobrecarregados pela demanda de
cuidados e, também, por terem que realizar tarefas que até então eram atividades pessoais
do idoso, realizadas por eles próprios, como tomar banho e ir ao banheiro e que agora, com
o avanço da patologia, tem de ser executada pelo cuidador.
Ser cuidador de um idoso doente e dependente seja ele parcial ou total, no âmbito
doméstico, como refere MENDES (1995), é uma atividade absorvente que preenche o dia, e
às vezes, à noite da pessoa que assume cuidar deste familiar, pois o cotidiano é o espaço do
imediato em que os indivíduos devem operar as atividades através do saber prático.
As mudanças que se instalam na nova dinâmica de vida do cuidador estão, principalmente,
relacionadas a re-acomodação das atividades, com reformulação de horários, preparação de
uma alimentação, muitas vezes, diferenciada, administração de medicamentos,
estabelecimento de uma rotina para exercícios e atividades de conforto que incluem efetuar
a higiene pessoal, pentear o cabelo, escovar os dentes, cortar as unhas, fazer a toalete,
vestir, despir, locomover de um lugar para outro, subir escadas, sentar, levantar, deitar,
entre outras (MENDES, 1995; KARSCH, 1998).
Assim, ao cuidador familiar é apresentada a necessidade de incorporar a nova realidade ao
seu cotidiano, muitas vezes árdua e desgastante, conforme o que o idoso doente apresenta,
e conviver com ela.
Sentindo cansaço físico e emocional
Associado ao aprendizado constante do cuidar, posto o enfrentamento do cotidiano e a
repetição de cuidados para com o idoso doente e dependente no âmbito domiciliar, surge,
dentre os entrevistados, manifestações relacionados a cansaço físico e emocional.
Cansaço emocional, conforme FREITAS et al. (2002), se caracteriza pela perda progressiva
de energia, fadiga e esgotamento emocional. Reflete a situação em que os trabalhadores
não podem dar de si no âmbito afetivo. Trata-se de uma diminuição da energia vital, assim
como dos recursos emocionais. É uma experiência de desgaste psicológico ocasionado pela
assistência cotidiana prestada a usuários que demandam ajuda. Já o cansaço físico pode ser
entendido como fraqueza causada por exercício ou doença e ainda por atividades que exige
esforço físico, agregado a repetição das mesmas (FERREIRA, 1999).
O cuidar diariamente de alguém que apresenta dependência pode significar o
desenvolvimento de atividades que envolvem esforço físico para a prestação de alguns
cuidados e, também, estar atento à execução de determinados procedimentos que exigem
concentração e planejamento antecipado do que será feito, afim da obtenção de resultados
satisfatórios no cuidado que tem de ser realizado. Com o tempo vão surgindo características
estressantes da atividade de cuidar, o desgaste físico e emocional dos cuidadores.
“Que, a cabeça da gente é muita coisa né. É a mesma coisa que a senhora tivesse cansada
demais, bem cansada, a senhora não dorme direito e essa canseira na cabeça da gente que
vem de certo, essa amoaceira, essa canseira e a gente fica assim’’.( He-man)
Como pode ser observado, as noites tornam-se mal dormidas e o acúmulo de preocupações,
que envolvem a prática do cuidar fazem com que o cuidador fique “amoado” e sentindo-se
“fraco mentalmente”, referindo-se ao cansaço emocional causado pelo estresse da
responsabilidade de cuidar diariamente do idoso doente.
Postos às exigências do cuidar, os colaboradores deste estudo demonstraram que cuidar de
um idoso doente no domicílio é uma tarefa cansativa, pois lhes ocupa muito tempo. Além
das atividades que envolvem o cuidado ao idoso doente no domicílio, aliam-se a estes os
afazeres domésticos que consomem outra parte do tempo, tendo, com isso, que organizar
as ações de modo a conseguir dar conta da demanda de todos os trabalhos.
“Canso, mas Deus o livre, estou cansada mesmo. A filha dele diz que está cansada e vai
descansar, mas eu tenho que lavar roupa, limpar a casa, fazer a comida (...)”. (Shena)
As atividades relacionadas ao lar, como aponta KARSCH (1998), estão inscritas nas
necessidades de tarefas a serem desenvolvidas pelos cuidadores no dia-a-dia, sendo que
isto imputa a eles uma jornada de trabalho que, muitas vezes, estende-se ao longo do dia e
para a qual não contam com ajuda de outras pessoas. Conciliar as atividades domésticas
com os cuidados pessoais e os cuidados ao idoso dependente exige habilidade na
organização do tempo e da execução dos mesmos.
Analisando cuidadoras – mulheres de adultos acometidos por AVC, SILVA (1995) constatou
que a maioria das cuidadoras admite que sua vida mudou radicalmente após assumir esse
papel, pois além das tarefas caseiras aumentarem, o idoso normalmente precisa ser
auxiliado nos cuidados pessoais. O cansaço foi o sentimento mais comum entre as
cuidadoras, e nos casos em que o paciente tinha incontinência urinária e/ou de fezes, essa
situação era mais aguda, pois, na sua maioria, era somente a cuidadora que lidava com a
troca de roupas.
Também se referindo aos afazeres dos cuidadores, FREITAS et al. (2002) menciona que
estes percebem o cuidar como um trabalho solitário e gerador de sobrecarga,
principalmente de natureza física, que se expressa em cansaço, insônia e problemas de
saúde.
Percebe-se que em certas ocasiões os cuidadores se sentem esgotados, sem condições para
cuidar, porém como o idoso não pode se autocuidar nem, muitas vezes, colaborar nos
cuidados, o cuidador tem de fazer as atividades, superando as próprias dificuldades e
limitações. Diante do desgaste pessoal e da dependência do outro, chega a se questionar se
o familiar realmente não consegue cooperar nos cuidados, surgindo dai um certo conflito
interno e de culpa por estar em dúvida quanto a dependência do outro. Esta constatação
pode ser reforçada com a afirmação de FREITAS et al. (2002) de que cuidar não é uma
situação linear em que são vivenciados sempre os mesmos sentimentos e por isso existem
conflitos e ambivalências.
A gente diz que também não está, como é que a gente diz, assim, com muita vontade de
fazer isso. Isso cansa, fico nervosa e até a gente não devia ficar, porque ele também não tem
culpa, mas a gente pensa, será que ele está tanto assim que, não podia se ajudar um
pouco”. (Sherra)
Para SILVA (1995) o esgotamento físico e emocional relatado pelas cuidadoras, está
associado a múltiplos fatores. Além das tarefas dos cuidados, sofrem pressão cotidiana
decorrentes do próprio estado de saúde do doente, que gera a dependência física e
emocional; da falta de ajuda de outros familiares; das dificuldades financeiras para a
manutenção da própria família; da ausência de suporte formal por parte do Estado, como
por exemplo, atendimento domiciliar médico, de enfermagem, de fisioterapia e
medicamentos. Prestar cuidados a um idoso muitas vezes leva o cuidador a reestruturar sua
vida, alterando costumes, rotinas, hábitos e até mesmo a natureza de sua relação com o
idoso (NERI, 1993).
As exigências no cuidar , de acordo com FREITAS et al. (2002), parecem ser mais fortes no
início de cada nova atividade, porém o senso de sobrecarga pode se estabilizar ou diminuir
ao longo do tempo, em virtude de uma variedade de processos que ocorrem na vida do
cuidador, tais como aprender a desempenhar as tarefas, reorganizar-se de acordo com suas
disponibilidade e com as demandas ou estabelecer novos níveis de adaptação para
comportamentos e estados psicológicos. Além disso, a evolução da doença pode ocasionar
mudanças no curso das exigências.
Outro fator a contribuir no desgaste emocional dos cuidadores está relacionado às
dificuldades financeiras. Diante da impossibilidade de suprir todas as necessidades que o
familiar necessita e que a doença exige, se sentem impotentes e tristes.
“É, nessas condições, e de qualquer maneira, eu só me sinto triste às vezes, quando eu não
posso alcançar o que ele precisa, que nem sempre eu posso fazer o que ele precisa, tanto
financeiro como ... Mais o financeiro, que é difícil, porque ele, é uma doença que requer
muito, só alimentação é muito cara e, às vezes tu tem dinheiro, às vezes não tem”.
(Tempestade)
“Quê, cuidar não é nada vizinha, pior são as dificuldades que a gente tem, por exemplo, pra
comprar um remédio, as coisas financeiras e tal, paga isso, aquilo e a gente ganha pouco,
dinheiro de aposentado já viu, é pouca coisa, duzentos pila, duzentos e poucos pila, então
tudo isso vai acumulando, a gente vai indo”. (He-man)
Quando comparam o ato de cuidar com os gastos para atender as necessidades dos idosos,
ponderam que cuidar não é tão oneroso, pois o mais difícil é dar conta dos custos que a
doença exige para suprir todas as carências do idoso. Como maioria dos participantes do
estudo dependem dos valores recebidos como aposentados da previdência social, referem
que o valor recebido pelos benefícios, às vezes, a única fonte de manutenção e
sobrevivência, é insuficiente para atender as necessidades básicas do idoso doente e
dependente.
Assim, diante das limitações financeiras, buscam, primeiramente, suprir as necessidades do
idoso, pois os gastos com a doença são ordem prioritária sendo que os gastos domésticos e
pessoais podem ser deixados em segundo plano.
Cuidar sentindo a perda de liberdade e sendo solitário
Os cuidadores deste estudo além de mencionar o cansaço físico e emocional como fatores
desgastantes desencadeados durante o processo de cuidar referem, também, a necessidade
de “abrir mão” de atividades que eram praticadas habitualmente, antes de se tornarem
cuidadores familiares. Ser cuidador de um idoso doente na esfera domiciliar é, na maioria
das vezes, ter que negligenciar sua própria vida ou parte dela. A prioridade, neste momento,
é cuidar de seu familiar doente, realizar o que ele necessita abdicando de suas próprias
vontades.
Um dos maiores obstáculos apontados enquanto vivenciam o processo de cuidar é a
impossibilidade de sair de casa, passear, pois, de forma geral ficam atrelados à
responsabilidade e a preocupação diária com a doença e cuidado do idoso. A pouca
realização de atividades de lazer no cotidiano e a limitadas possibilidades de conversar com
outras pessoas contribuem para o sentimento de solidão e de perda da liberdade.
“Não tenho liberdade, faz anos que eu já não tenho mais a liberdade pra sair, assim passear,
a senhora pensa, bá, capaz, saía ali, já tinha que estar em casa de volta. Gente doente em
casa é uma coisa ou outra, chega uma pessoa a gente sempre com aquele cuidado, aquela
coisa, aquela aflição parece dentro da gente”. (Heman)
“Minha vida é sofrida, porque a gente fica assim sem poder sair, tem que ficar em casa
isolada e se eu saio um pouquinho ela está chamando, ela está procurando, se eu vou sair
eu tenho que falar bem com ela, explicar bem pra ela o que eu vou fazer”. (Mulher
Maravilha)
Como diz MENDES (1995), existe uma dinâmica no processo de cuidar que é uma relação
tensionada onde os sujeitos envolvidos, cuidador e idoso dependente, constroem seus
espaços respectivos, dentro dos limites dessa nova relação pessoal. Desse modo, os
cuidadores também apontam que a perda da liberdade se desencadeia pelo vínculo e pela
dependência que o idoso manifesta, ou seja, quanto mais o doente necessita de cuidados
ou se sente sozinho, mais o cuidador tende a ficar “isolado” no domicílio para cuidar deste.
Para cuidadoras de um estudo realizado por SILVA (1995), o sentir-se privado do contato
nas relações com amigos e parentes é bastante visível, já que a possibilidade de sair de casa
é cada vez mais escassa e as visitas são mais esporádicas. Este afastamento das pessoas faz
com que as cuidadoras busquem alternativas para o seu próprio suporte emocional que
substituem o diálogo com as pessoas, tais como: chorar, rezar ou isolar-se.
Nesse sentido, MENDES (1995) considera que fatores psicossociais interferem na forma dos
sentimentos dos cuidadores serem objetivados no cotidiano do cuidador e do idoso, sendo
comum à busca de valores religiosos como suporte para a aceitação deste cotidiano e dos
sentimentos que afloram.
Os colaboradores manifestaram, ainda, que as condições do idoso são fatores
preponderantes na realização de atividades extra-domiciliares. Muitas vezes, para
desenvolverem ações voltadas ao lazer, como sair à noite, ou visitar amigos, há necessidade
do idoso estar bem, caso contrário, a atenção precisa estar constantemente voltada a este,
e o cuidador tem que readequar seus planos.
“Às vezes eu não realizo tudo que quero realizar. Às vezes quero sair à noite e não dá,
porque tenho que pensar nela, então (...). Tudo depende de como ela está no dia, como ela
levanta. Se está bem, ela pode ficar um pouco mais sozinha, senão não dá pra deixar. Tudo
depende de como ela está”. (Bat girl)
“Então eu digo, às vezes eu tenho vontade de sair, ir numa tia minha, mas não posso, num
domingo, ir lá almoçar, mas não posso fazer o que quero, tenho que ficar cuidando da “vó”,
ela não pode caminhar muito, então eu fico e é assim”. (Mulher gato)
Cuidar de uma pessoa dependente faz com que o estilo de vida do cuidador seja modificado
em função das necessidades do outro. Independente do fato do cuidador ser uma pessoa
jovem ou idosa, suas atividades de recreação e convívio social acabam sendo alteradas e
dando a este a sensação de não ter autonomia para gerenciar a própria vida e ter de viver
em torno do outro. O indivíduo que necessita dos cuidados, por sua vez, “cobra” a presença
do cuidador e nem sempre reage favoravelmente às ausências.
Como bem explicita MENDES (1995), “a falta de liberdade e os momentos solitários
vivenciados pelos cuidadores fazem com que o cuidador e o idoso se lancem numa relação
de busca, querendo (re)montar, (re)fazer, (re)estabilizar uma vida cotidiana nos moldes
anteriores, o que já não é mais possível pela demanda dos cuidados e pela dependência do
idoso para com o cuidador”. O processo de reconstrução da vida do cuidador é conflitante,
exige tempo para desenhar um novo cotidiano, novas articulações, novos personagens,
novas identidades que nascem de uma descontinuidade, mas mantém-se articuladas pela
história de cada um (MENDES, 1995).
Em meio à solidão de ficar inserida somente no meio domiciliar e não ter liberdade para
realizar o que gosta, os participantes deste estudo apontaram que, mesmo com a
preocupação de cuidar do idoso doente e isto ser um fator gerador de dificuldades no
enfrentamento pessoal, procuram reorganizar suas atividades de rotina e de vida para se
sentirem, além de úteis, felizes consigo mesmo.
“E agora eu também então estou indo na ginástica ali, de quarta e sexta, é às duas horas e
demora uma hora só. É tão pertinho, só que daí eu tenho que deixar ele fechado, ele fica
sozinho, às vezes chega gente, não tem nem quem abra a porta, daí ficam batendo, é meio
difícil, mas (...)”. (Sherra)
“Agora eu estou mais assim, porque ele melhorou, assim mais feliz, ele melhorou, posso sair,
vou no baile dos velhos, eu já tava com as pernas meio duras de não treinar as pernas, e
agora dá pra eu ir, assim, às vezes”. (Shena)
Diante da tentativa de readequação de suas vidas, os cuidadores principais ainda enfrentam
dificuldades, pois na ausência de cuidadores secundários, muitas vezes, o idoso acaba por
ficar sozinho no domicílio, enquanto realiza atividades fora de casa, situação esta que gera
preocupação ao cuidador.
Podemos deduzir que, com o passar do tempo, o cuidador pode redefinir e redesenhar seu
papel em relação às tarefas do cotidiano e do cuidado, que mesmo sendo conturbado,
permite a ele vislumbrar opções de lazer e descontração. Para não adoecer, é importante
que o cuidador perceba que está vivo, que não está doente e precisa continuar a sua vida da
melhor forma possível.
A necessidade de mostrar ao cuidador a importância do desenvolvimento de atividades
físicas e de lazer, de dedicar um tempo a si, para que possa manter sua saúde física e
mental, foi apontado por PAVARINI et al. (2001). Esta necessidade está relacionada ao mal -
estar e a frustração gerada pelas dificuldades para auto-cuidado, geralmente por falta de
tempo, no caso dos cuidadores que, envolvidos no cuidado, muitas vezes, esquecem da sua
própria vida. Por outro lado, os cuidadores referem que a reorganização das atividades, a
fim de se distraírem, acontece, mais facilmente, quando o idoso melhora seu estado clínico,
de debilidade e dependência.
Em uma reflexão mais abrangente e mais profunda, MENDES (1995), mostrou em sua
pesquisa que o dia-a-dia do cuidador é radicalmente modificado pela doença. De acordo
com esta pesquisadora, na relação de cuidar e ser cuidado, velhas relações pessoais são
redefinidas, novas atividades, tanto de rotina como de vida e relações psico –“sociais são
introduzidas no seu cotidiano, e de certa forma, a doença põe em suspensão a vida
cotidiana da família. Uma nova vida cotidiana se instala aos poucos reitroduzindo algo do
velho cotidiano, no novo."

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