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Bom trabalho!
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1.º Teste de Frequência de Teoria Geral do Processo. Pós-Laboral. 60 Minutos. 06/04/2021
TURMA A – GUIÃO DE CORRECÇÃO
2. António propôs no Tribunal Judicial do Distrito de Angoche contra Bela, uma acção de
divórcio litigioso, por ter tido conhecimento dum adultério cometido há quatro anos com
Celso, magistrado judicial que exerce funções na secção cível do Tribunal Judicial do
Distrito onde vive o casal. No mesmo processo, António pediu a condenação de Bela no
pagamento de uma indemnização por danos não-patrimoniais. Para fundamentar a sua
acção, como meios de prova António juntou uma certidão de casamento e arrolou sete
testemunhas. Por constar dos Autos que Bela vive com António, o juiz entendeu que não
era preciso citá-la, uma vez que sempre tomaria conhecimento do processo através de
António, seu marido. De seguida, o Juiz Celso proferiu sentença com teor seguinte: “O
Tribunal é competente, as partes são legítimas. Existe uma nulidade processual grave que
obsta ao prosseguimento dos Autos. Da leitura da petição inicial resulta claro que o pedido
de divórcio caducou, por terem decorrido mais de três anos da data em que o Autor teve
conhecimento do facto susceptível de fundamentar o divórcio, pelo que, julgo improcedente
o pedido do divórcio. Por conhecimento oficioso, condena-se António a 3 meses de multa
pelo crime de ofensas corporais perpetradas contra Bela”. Refira-se aos princípios do
processo que se manifestam na hipótese. (10 v) A propositura da acção judicial por
António constitui uma manifestação do princípio do acesso aos tribunais, na medida
em que ao intentar a acção, António está efectivamente a exercer o seu direito de
recorrer ao tribunal consagrado constitucionalmente (Artigo 70 da CRM).
Relativamente à decisão de não ordenar a citação de Bela por entender que a mesma
teria conhecimento do processo através do seu marido, a mesma constitui violação do
princípio do contraditório, nos termos do qual o tribunal deve dar a oportunidade ao
demandado para vir ao processo e exercer o seu direito de defesa. O artigo 3.º, n.º 1,
do CPC estabelece que “O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a acção
pressupõe sem que (…) a outra (parte) seja devidamente chamada para deduzir
oposição.” Ora, o “chamar devidamente” a outra parte para deduzir oposição não se
pode limitar à simples suposição de que essa parte, porque se encontra em
determinada posição ou situação, terá acesso a informação sobre o processo. “chamar
devidamente” uma parte ao processo pressupõe o cumprimento de formalidades legais
específicas, no caso, a citação, que o tribunal decidiu não observar, pelo que agiu mal
o juiz nesta matéria. Quanto à segunda decisão proferida pelo juiz (a sentença) a
mesma padece de um vício que consistiu na condenação de António pelo crime de
ofensas corporais perpetradas contra Bela. Porque em nenhum momento foi
instaurado um processo contra António pelo referido crime, o mesmo não pode ser
motivo de apreciação e decisão pelo tribunal. Ao conhecer oficiosamente do referido
crime, sem sequer ter dado a António a oportunidade de se defender, o tribunal violou
os princípios do devido processo legal, do contraditório, da acusação, pelo que esta
decisão também não procede.
Bom trabalho!
[00/00/2020] 2
Teoria Geral do Processo. Primeiro Teste de Frequência. Pós-laboral. 02/12/2021.
Guião Indicativo de Correcção
b) Art. 517.º Código de Processo Civil e Artigo 5.º do Código de Processo Penal (3,0
Valores)
ORIENTAÇÃO METODOLÓGICA: Princípio do contraditório - Trata-se de um
princípio fundamental no nosso direito processual e tem acento o CPC e artigo 5 do
CPP. Este princípio constitui a materialização do direito à defesa
constitucionalmente consagrado no art. 62. Segundo este princípio o réu tem o
direito de pronunciar todos os factos que façam valer contra si ou seja todos os
elementos que possam ser usados e que possam prejudicá-los, o réu tem direito de
sobre eles contraditar.
4. Foi encontrado um corpo sem vida e com sinais de violação na Praia do Wimbi.
Cumpridas as formalidades legais, a Procuradoria de Pemba abriu a instrução
preparatória, com vista a identificar os responsáveis pelo crime e obter a sua
responsabilização criminal. Sucede, porém, que a vítima mortal era sobrinha do
Procurador-Chefe da Província de Cabo Delgado que, por seu turno e para responder
a diversas solicitações familiares, ordenou ao Procurador de Pemba, responsável pelo
processo, que procedesse ao seu arquivamento. Quid juris (6,0 Valores)
Bom trabalho!
Exame de Recorrência Teoria Geral do Processo, Diurno, 120 minutos - 08.01.2021
Guião de Correcção
2. José, empresário bem-sucedido e residente em Xai-Xai, vive em união de facto com Isabel.
Do casal existem filhos menores. Chegou ao conhecimento de Isabel que José tem várias
amantes com quem despende grandes quantias. Para além disso, Isabel sabe que José tem um
filho com uma das amantes, registado em seu nome. A Isabel está desesperada e disposta a
pôr termo à sua união com José, mas não sabe como proceder. Diga como poderá proceder
Isabel, do ponto de vista processual, para beneficiar em pleno dos efeitos da união de facto,
referindo-se aos princípios do processo, à organização do poder jurisdicional moçambicano
e ao tipo de procedimento a adoptar. (7 Valores) A resposta do estudante deve incluir,
entro outros aspectos jurídico-processuais relevantes, uma abordagem sobre os três
seguintes elementos: (i) atitudes que Isabel pode tomar, tendo em conta os princípios do
processo; (ii) órgão jurisdicional relevante para a apreciação da questão e (iii) tipo de
procedimento a adoptar. Do ponto de vista de atitude em face dos princípios do
processo, Isabel goza do direito de recorrer aos tribunais (princípio do acesso dos
tribunais) podendo recorrer à ordem jurisdicional para, de acordo com as normas
processuais aplicáveis, exigir que o tribunal reconheça os efeitos da união de facto em
que a mesma se encontra inserida. Quanto ao órgão jurisdicional competente, há que
atentar ao facto de estarmos em face de questões de direito civil (direito da família) o
que significa que se trata de matéria que cabe no âmbito da jurisdição comum (artigo
223, n.º 4 da CRM), sendo que considerando que Isabel e José vivem em união de facto
em Xai-Xai, o tribunal competente será o Tribunal Judicial do Distrito de Xai-Xai (nos
termos conjugados dos artigos 84, n.º 1 a) da Lei 24/2007 – LOJ e 85 do CPC). Em
relação ao procedimento a adoptar, tendo em conta que Isabel pretende beneficiar em
pleno dos efeitos da união de facto, terá primeiro que obter o reconhecimento judicial
dessa mesma união, o que pode fazer-se através de uma acção a propor nos termos do
artigo 211 da Lei da Família (Lei n.º 22/2019, de 25 de Agosto). O tribunal não decidirá
sem antes chamar José para deduzir oposição, por força do princípio do contraditório
(artigo 3.º do CPC).
3. Nícia Mahalas, de 17 anos, residente em Maputo, adquiriu à sociedade Momed, Música e
Discos, Lda., sedeada na Beira, no dia 15 de Setembro de 2019, uma aparelhagem, no valor
de 100 mil meticais. Ficou acordado que a aparelhagem seria entregue, montada e testada no
dia 23 de Dezembro de 2019, na sua casa de praia na Catembe. Porém, a aparelhagem não foi
entregue na data acordada, e Nícia propõe acção, em 2 de Janeiro de 2020, no Tribunal
Judicial do Distrito Municipal KaMpfumu, contra a sociedade Momed, Música e Discos,
Lda., pedindo a entrega da referida aparelhagem, a resolução do contrato, por incumprimento
e uma indemnização por danos morais, uma vez que não pôde usar a aparelhagem durante a
quadra festiva. O ajudante de escrivão encarregue de tramitar o processo contactou por
telefone a Sociedade para solicitar a comparência do respectivo representante legal em
tribunal, para efeitos de citação, uma vez que o oficial de diligências não tinha como realizar
a citação fora da Cidade de Maputo. Em resposta, Idelson, representante da Sociedade,
alegou que não vai perder tempo com o processo pois, no seu entender, a acção deveria ter
sido proposta na Beira. Analise o comportamento dos vários intervenientes processuais,
identificando as irregularidades eventualmente cometidas e apresentando as respectivas
soluções. (7 Valores) Sendo menor, Nícia devia, em princípio, estar em juízo por
intermédio do respectivo representante (artigo 10.º, n.º 1 do CPC). No entanto, é
possível que acção caiba no âmbito das excepções à incapacidade (artigo 127.º do CC).
Ao intentar a acção no tribunal judicial do Distrito Municipal KaMpfumo, Nícia agiu
correctamente pois intentou a acção no tribunal do lugar onde a obrigação devia ter
sido cumprida, cumprindo com as regras sobre a competência do tribunal em razão do
território (artigo 74.º, n.º 1 do CPC, conjugado com o n.º 1 do artigo 772.º do CC),
sendo que o referido tribunal é competente em razão do valor pelo facto de, em
princípio, se tratar de causa de valor inferior a 100 vezes o salário mínimo nacional
(alínea b) do artigo 84 da Lei da Organização Judiciária – Lei n.º 24/2007, na redacção
dada pela Lei n.º 11/2018, de 3 de Outubro), salvo admitindo que, em consequência do
valor da indemnização cumulado com o valor da aparelhagem, o valor da causa seja
superior a cem vezes o salário mínimo nacional; Nícia cumulou pedidos ao abrigo do
artigo 470.º do CPC, sendo que a cumulação é válida por respeitar os requisitos ali
previstos; o comportamento do ajudante de escrivão encarregue de tramitar o processo
deve ser analisado em face do regime geral dos actos processuais, sendo que os mesmos
devem obedecer o formalismo legalmente estabelecido (artigos 137.º e seguintes do
CPC); neste sentido, o contacto telefónico realizado pelo ajudante de escrivão, não tem
validade para efeitos do processo, pelo facto de não ter cabimento nas disposições
aplicáveis: artigos 138.º, 176.º.
Bom trabalho!
1.º Teste de Frequência, Teoria Geral do Processo, 29.04.2019, 1.º Semestre, Diurno
Guião Indicativo de Correcção
1. Comente:
“Os meios extrajudiciais de resolução de litígios podem ser considerados
alternativos, sucedâneos ou subsidiários aos meios judiciais.” (4,0 Valores)
RESPOSTA: No comentário a esta afirmação exige-se que o estudante faça uma análise da relação entre
os meios extrajudiciais de resolução de conflitos e os meios judiciais. Para tal apreciação, pressupõe-se
que o estudante identifique os referidos meios alternativos, defina os seus traços essenciais e estabeleça
a sua caracterização, ainda que sumariamente. Seguidamente, caberá ao estudante tomar posição
sobre se a afirmação é, na sua plenitude, correspondente à verdade e sustentar a sua posição. Nesta
vertente, espera-se que o estudante confirme que os meios extrajudiciais de resolução de conflitos são
alternativos aos meios judiciais (a justiça pública) – no sentido de que mesmo tendo sido consagrada
legalmente a possibilidade de recurso à via jurisdicional para a tutela dos direitos e interesses
legalmente estabelecidos, aos cidadãos são disponibilizados outros meios de resolução de conflitos,
quais sejam a arbitragem, a mediação e a conciliação, de tal sorte que a Constituição chega a prever a
possibilidade de estabelecimento de mecanismos institucionais e processuais de articulação entre os
tribunais e demais instâncias de composição de interesses e de resolução de conflitos (artigo 211, n.º 3
da CRM). No que concerne ao suposto carácter sucedâneo dos meios alternativos de resolução de
conflitos em relação aos judiciais, há que discordar desta parte da afirmação na medida em que
alcançado o fim (resolução de um conflito) pela via judicial, não será necessário o recurso aos meios
extrajudiciais (que, na verdade, são alternativos à via judicial). Já relativamente à natureza subsidiária
dos meios extrajudiciais de resolução de litígios, também haverá que fazer uma análise atendendo à
autonomia de cada um dos meios de resolução de conflitos, no sentido de que não se estabelece
nenhuma relação de subsidiariedade entre uns e outros. Os meios são alternativos no sentido de que os
interessados podem optar por eles em alternativa (e não como subsidiários) dos meios judiciais.
2. António propôs contra Bela, no Tribunal Judicial do Distrito de Angoche, uma acção de
divórcio litigioso, por ter tido conhecimento dum adultério cometido há quatro anos
com Celso, magistrado judicial que exerce funções na secção cível do Tribunal Judicial
do Distrito onde vive o casal. No mesmo processo, António pediu a condenação de Bela
no pagamento de uma indemnização por danos não-patrimoniais. Para fundamentar a
sua acção, António juntou uma certidão de casamento e arrolou sete testemunhas. Por
constar dos Autos que Bela vive com António, o juiz entendeu que não era preciso citá-
la, uma vez que sempre tomaria conhecimento do processo através de António, seu
marido. De seguida, o Juiz Celso proferiu sentença com teor seguinte: “O Tribunal é
competente, as partes são legítimas. Existe uma nulidade processual grave que obsta
ao prosseguimento dos Autos. Da leitura da petição inicial resulta claro que o pedido
de divórcio caducou, por terem decorrido mais de três anos da data em que o Autor
teve conhecimento do facto susceptível de fundamentar o divórcio, pelo que, julgo
improcedente o pedido do divórcio. Por conhecimento oficioso, condena-se António a 3
meses de multa pelo crime de ofensas corporais perpetradas contra Bela”. Analise a
posição do juiz, apreciando a validade e consequência dos actos praticados. (6,0 Valores)
RESPOSTA: Para tomar uma posição nos termos solicitados (analisar a posição do juiz apreciando a
validade e consequência dos actos praticados) é preciso, em primeiro lugar, identificar na hipótese os
dados que se reportam à actividade do juiz. Neste contexto, é preciso identificar os seguintes
momentos:
• Decisão do tribunal no sentido de não ordenar a citação de Bela por entender que não era preciso
citá-la, uma vez que sempre tomaria conhecimento do processo através de António, seu marido e
• A sentença proferida, na qual o tribunal decidiu várias questões relativas ao caso.
Relativamente à decisão de não ordenar a citação de Bela por entender que a mesma teria
conhecimento do processo através do seu marido, a mesma constitui violação do princípio do
contraditório, nos termos do qual o tribunal deve dar a oportunidade ao demandado para vir ao
processo e exercer o seu direito de defesa. O artigo 3.º, n.º 1, do CPC estabelece que “O tribunal não
pode resolver o conflito de interesses que a acção pressupõe sem que (…) a outra (parte) seja
devidamente chamada para deduzir oposição.” Ora, o “chamar devidamente” a outra parte para deduzir
oposição não se pode limitar à simples suposição de que essa parte, porque se encontra em
determinada posição ou situação, terá acesso a informação sobre o processo. “chamar devidamente”
uma parte ao processo pressupõe o cumprimento de formalidades legais específicas, no caso, a citação,
que o tribunal decidiu não observar, pelo que agiu mal o juiz nesta matéria.
Quanto à segunda decisão proferida pelo juiz (a sentença) a mesma padece de um vício que consistiu na
condenação de António pelo crime de ofensas corporais perpetradas contra Bela. Porque em nenhum
momento foi instaurado um processo contra António pelo referido crime, o mesmo não pode ser
motivo de apreciação e decisão pelo tribunal. Ao conhecer oficiosamente do referido crime, sem sequer
ter dado a António a oportunidade de se defender, o tribunal violou os princípios do devido processo
legal, do contraditório, da acusação, pelo que esta decisão também não procede.
Além das questões acima discutidas, a hipótese sugere que o Juiz tinha um envolvimento pessoal com
uma das partes do processo (Bela) e com os factos (foi com o juiz que Bela cometeu o Adultério que
fundamentou o processo). Esta falta de distanciamento entre o juiz e os sujeitos do processo e os factos
integradores da lide põe em causa a sua imparcialidade. Na verdade, o juiz, por se encontrar numa
situação que se pode considerar como de “grande intimidade” entre si e Bela é potencialmente
suspeito, pelo que o mais correcto seria pedir a sua escusa nos termos do n.º 1 do artigo 126.º do CPC
de modo a garantir-se a sua imparcialidade.
4. Foi encontrado um corpo sem vida e com sinais de violação na Praia do Wimbi.
Cumpridas as formalidades legais, a Procuradoria de Pemba abriu a instrução
preparatória, com vista a identificar os responsáveis pelo crime e obter a sua
responsabilização criminal. Sucede, porém, que a vítima mortal era sobrinha do
Procurador-Chefe da Província de Cabo Delgado que, por seu turno e para
responder a diversas solicitações familiares, ordenou ao Procurador de Pemba,
responsável pelo processo, que procedesse ao seu arquivamento. Quid juris (6,0
Valores)
RESPOSTA: A principal questão jurídica em discussão na hipótese é a relação de subordinação
hierárquica que vigora na magistratura do Ministério Público. Na hipótese, temos como intervenientes
dois magistrados afectos à província de Cabo Delgado, sendo que o superior hierárquico (Procurador-
Chefe da Província de Cabo Delgado) ordenou ao seu subalterno (Procurador de Pemba) que procedesse
ao arquivamento de um processo em instrução preparatória em resposta a solicitações familiares e,
portanto, de natureza pessoal (e não profissional). Ao estudante exige-se uma abordagem que parta do
princípio assente de que a organização hierárquica da magistratura do Ministério Público a que alude o
n.º 1 do artigo 234 da CRM tem como critério e limite a lei (n.º 2 do mesmo artigo), sendo que as ordens
de um magistrado de categoria superior a outro de categoria inferior só serão válidas se tiverem
cabimento legal.
FIM
TEORIA GERAL DO PROCESSO
1.º Teste de Frequência
Guião Indicativo de Correcção
1. A propósito da Jurisdição, diga, justificando, quais das afirmações abaixo são correctas:
b) por força do princípio do acesso aos tribunais, a jurisdição está limitada ao espaço geográfico
sobre o qual se projecta a soberania do Estado. Afirmação Incorrecta – O conteúdo do principio
do acesso aos tribunais não é este, mas o plasmado no artigo 70 da CRM.
c) a ideia matriz do princípio do juiz natural legitima a instituição de juízos e tribunais especiais,
destinados à solução de conflitos prévios e determinados, com um especial interesse social.
Afirmação Incorrecta – o conteúdo do princípio do juiz natural é o contrário.
d) embora não se instaure de ofício a jurisdição, os órgãos jurisdicionais do Estado devem oferecer
respostas a todos os conflitos que lhes sejam submetidos, ainda que omissa ou obscura a
legislação em vigor. Afirmação Correcta – é o princípio da proibição do non-liquet previsto no
n.º 1 do artigo 8.º do CC.
2. Numa acção proposta no Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, António peticionou a declaração de
interdição de Bela, em virtude de esta mostrar sinais manifestos de graves perturbações psíquicas,
deficiências do intelecto e da vontade, não regendo devidamente a sua pessoa e seus bens. Para
fundamentar a sua acção, como meios de prova António juntou apenas a certidão de casamento e por
o estado de Bela ser de conhecimento público, não arrolou testemunhas, nem quaisquer outras provas.
Devido ao estado descrito por António, o tribunal entendeu que não valeria a pena tentar citar Bela.
a) Procedeu legalmente o tribunal ao não mandar citar Bela? Não. O tribunal violou o princípio do
contraditório (artigo 3.º, n.º 1, 2.ª parte do CPC))
b) Imagine que, tendo o tribunal citado Bela e esta apresentado a sua contestação, foi proferida
sentença com o seguinte teor: “O Tribunal é competente, as partes são legítimas, não há
nulidades que obstem ao conhecimento imediato do pedido. Julgo procedente o pedido de
declaração de interdição da ré, por existência de provas que revelam a anomalia psíquica e por
falta de contestação da Ré. Por conhecimento oficioso, condena-se Bela a 3 meses de multa pelo
crime de ofensas corporais perpetradas contra António”. Comente O comentário do estudante
deverá incidir sobre a violação do princípio da legalidade do conteúdo da decisão judicial, na
medida em que o tribunal conheceu de questões de que não devia conhecer, determinado a
nulidade da sentença (alínea a) do n.º 1 do artigo 668.º do CPC)
1.º Teste de Teoria Geral de Processo. 12.04.2016. 90 min.
1. “Os tribunais, genericamente considerados, estão divididos tendo em conta uma certa especialização,
ainda que todos, no seu conjunto, exerçam a jurisdição.” Comente.
RESPOSTA: A afirmação é verdadeira. O estudante deve referir-se à organização do poder
jurisdicional em Moçambique, tendo como ponto de partida o disposto no artigo 223 da CRM.
Neste âmbito, deverá ser feita a distinção entre jurisdição comum e jurisdições especiais,
explicando que os tribunais comuns exercem jurisdição em matéria civil e criminal e em todas
as matérias que não sejam por lei atribuída a outras ordens jurisdicionais.
3. Amaral e Bela são casados e residem na Praia do Bilene. Ao tomar conhecimento do comportamento
invulgar da esposa, Amaral contratou um detective para controlar os seus movimentos e eventuais
relacionamentos extra conjugais. Informado da existência de uma relação extra conjugal com o seu
melhor amigo, Casimiro, e com base em informações precisas, Amaral surpreendeu a esposa com o
referido amigo em sua casa, em pleno acto sexual. Bastante ágil e rápida, Bela conseguiu escapulir-
se do local e refugiou-se em casa dos seus pais, não tendo Casimiro encontrado a mesma sorte. Nas
mãos de Amaral e seus amigos, com recurso a instrumentos corto-contundentes, Casimiro foi
violentamente espancado, tendo, como efeito directo e necessário dos golpes aplicados, perdido a
vida no Hospital Central de Maputo. Ainda ferido na sua dignidade de homem famoso e respeitado no
Bairro, Amaral decide ir buscar a esposa, mas ao chegar em casa dos pais de Bela a Machava, foi
violentamente espancado por esta com auxílio dos familiares. Mais aborrecido, Amaral decide propor
uma acção contra os familiares de Bela. Por seu turno, Bela, convencida da insubsistência da sua
relação com Amaral, decide instaurar no Tribunal Judicial do Distrito Municipal KaMpfumo acção de
divórcio litigioso, alegando a vida e costumes desonrosos de Amaral.
a) Analise os factos à luz dos princípios do processo.
RESPOSTA: Ao espaçar Casimiro como forma de o sancionar pelo relacionamento
extraconjugal mantido com sua esposa, Amaral viola o princípio da proibição da
autotutela, fazendo justiça com as próprias mãos. O mesmo se aplica ao comportamento
de Bela e seus familiares que também espancaram Amaral. Ao propor uma acção contra
Bela e seus familiares, Amaral age ao abrigo do principio do acesso aos tribunais, mais
concretamente na vertente do princípio do dispositivo (Artigo 70 da CRM), o mesmo se
afirma relativamente ao processo instaurado por Bela.
1.º Teste de Teoria Geral de Processo. 12.04.2016. 90 min.
b) Indique o valor da causa cível e diga se pode ser interposto recurso da decisão que for proferida
caso uma das partes não se conforme com a mesma.
RESPOSTA: Em primeiro lugar, exige-se ao estudante a identificação da causa cível na
hipótese, sendo esta a acção de divórcio litigioso intentada por Bela contra Amara. Por se
tratar de uma acção sobre o estado das pessoas e interesses imateriais, o valor desta
causa é de 30.000,00 Mt (trinta mil meticais) ao abrigo do disposto no Artigo 312 do CPC.
Desta acção pode ser sempre interposto recurso, nos termos da mesma base legal.
1. Distinga Jurisdição de competência, e indique as principais disposições legais do
ordenamento jurídico moçambicano que consagram e regulam o exercício do poder
jurisdicional.
RESPOSTA: Jurisdição refere-se ao poder de julgar genericamente atribuído aos
tribunais, Vide artigo 212 CRM sobre a função jurisdicional e Artigo 223 da CRM
sobre espécies de jurisdições. Por seu turno, competência é a forma como entre a
totalidade de Tribunais existentes no Estado, se fracciona o poder de julgar. A
competência dos tribunais é repartida com base em diversos critérios, estabelecidos
na Constituição da República e na lei ordinária, com especial enfoque para o Código
de Processo Civil, a Lei da Organização Judiciária (Lei n.º 24/2007, de 6 de Maio), a
Lei Orgânica da Jurisdição Administrativa (Lei 25/2009, de 28 de Setembro), entre
outra legislação. Assim, distingue-se competência em razão da matéria, da
hierarquia competência internacional dos tribunais moçambicanos, competência em
razão do território, competência em razão do valor e competência convencional.