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PONTO DE VISTA O JORNAL BATISTA Domingo, 27/02/22 15

OBSERVATÓRIO BATISTA

Convenção, estratégia de PLATAFORMA como


caminho para ampliar sua ação (parte 1)
Lourenço Stelio Rega real ganho no cumprimento do SERVIR a
Igreja local, seus líderes e o Reino de Deus.
da obra missionária, plantação de Igre-
jas etc., em situações em que cada Igreja,
as organizações denominacionais descu-
bram meios de aproximação do “chão da
Há alguns anos, ao conversar com o No campo organizacional, uma plata- separadamente, poderia ter dificuldades Igreja” para detectar suas demandas e
pastor Manoel Ramires Filho, na época forma pode ser compreendida como um de concretizar, especialmente no forneci- realidades para que possam atendê-las,
presidente da Convenção Batista do Es- conjunto de subsistemas e interfaces que mento de suporte para missionários, seja especialmente a partir desse cenário.
tado de São Paulo (CBESP), dialogamos forma uma estrutura comum, na qual uma no âmbito nacional, seja internacional; as Uma proposta que fez esse caminho está
sobre uma estratégia importante para uma organização pode eficientemente desen- organizações no âmbito educacional para desenhada no Plano Diretor de Educação
convenção conseguir cumprir sua missão volver e produzir um conjunto de serviços a Igreja devem proporcionar atendimento Religiosa (PDER) da CBB, que dá a cada
de forma ampla e dinâmica que é a con- ou atendimentos derivados destes sub- nessa área; a Ordem de Pastores cuidar do Igreja local construir um projeto pedagógico
cepção de PLATAFORMA, um conceito ou sistemas, focado em um público destino bem-estar destes líderes; os conselhos ou a partir das necessidades locais, mas, ao
mesmo estratégia, muito utilizada hoje em – Igrejas, pastores, líderes, membros das juntas no campo da educação teológica mesmo tempo, oportunizar o atendimento
dia para atender o funcionamento de uma Igrejas, e o próprio mundo que necessita e ministerial, na formação de ministros e de necessidades bíblicas na formação dos
organização de forma ampla, contextua- do Evangelho. Assim, em uma convenção líderes competentes e capazes, e assim crentes e líderes locais. Para isso, se utili-
lizada, dinâmica e diversificada, pois per- cada organização, instituição ou entidade por diante. zou da abordagem de educação orientada
mite inúmeras interações por meio do que é como que um subsistema e o conjunto Mas, se já estamos com estas organi- por objetivos educacionais contextuais e
podemos chamar de portas de acesso ao desses subsistemas ao FUNCIONAREM zações e atendimentos, o que a estratégia gerais. O PDER precisa ser revisitado para
público destino. No campo da informática EM SINCRONIA são como que portas de de plataforma poderá trazer de novo e em que isso seja mais bem compreendido.
dizemos portas I/O de input e output ou entrada e saída (I/O) para o cumprimento benefício no cumprimento de nossa mis- Sobre o PDER veja os artigos “Conheça
entrada e saída. da missão institucional maior. são como CBB? Alguns detalhes, mas que um pouco do novo projeto educacional
Já discutimos aqui nessa coluna sobre E aqui é necessário dirimir alguns pon- fazem grande diferença. da Convenção” (OJB, 18/04/2010, pg.8)
a declaração de missão da Convenção Ba- tos. Em primeiro lugar, a autonomia da 1. Em primeiro lugar, a estratégia de e “Plano Diretor de Educação Religiosa, o
tista Brasileira (CBB) que vai ao encontro Igreja local é uma doutrina bíblica, mas se plataforma, mais do que uma visão jurídi- que minha igreja ganha com isso?” (OJB
das Igrejas locais: Viabilizar a cooperação aplica à Igreja local. Ao longo do tempo é ca, deve ser entendida como uma unidade 14/11/2010, pg. 15).
entre as Igrejas Batistas no cumprimento notório que vemos a aplicação dessa dou- funcional, isto é a CBB e demais conven- 3. Toda “malha” denominacional, que
de sua missão como comunidade local. trina e conceito ao funcionamento denomi- ções e associações regionais necessitam envolve tanto a CBB, como as convenções
Em resumo, isso nos coloca como CBB nacional e institucional que tem provocado ser consideradas como uma plataforma e associações regionais precisam desco-
diante das Igrejas locais, para compreen- inúmeros contratempos e até mesmo alte- apenas, cujas ações precisarão estar sin- brir meios de criarem interfaces entre suas
dermos a missão que Deus tem dado à pró- rações e desvio no cumprimento da mis- cronizadas, dentro de suas características, ações e organismos para que possam
pria Igreja. Na Teologia compreendemos são em atender a Igreja local. A sincronia demandas regionais e especificidades pró- atuar sincronizadamente e em conjunto
como Missio Dei, isto é, a missão dada entre os diversos órgãos denominacionais, prias para que as igrejas, seus pastores e evitando a fragmentação ou mesmo a re-
por Deus, Ele que criou a Igreja para que entre as diversas convenções e associa- líderes, possam ser atendidos, mas dentro dundância de atendimento. E aqui é que
seja Seu instrumento para trazer o mundo ções regionais e até mesmo envolvendo de equilíbrio entre uma política de oferta precisamos reaprender a atuação sincroni-
pecador de volta para o Plano da Criação a CBB e seus organismos precisa ser esti- e de demanda. zada e em conjunto de forma cooperativa
por meio da salvação e obra missionária, mulada. Muito mais do que subserviência 2. E o que vem a ser essas duas polí- ultrapassando as barreiras jurídicas ou
mas também pelo amadurecimento das entre estes diversos subsistemas, esse ticas - oferta e demanda? As palavras já mesmo de equívocos sobre a aplicação da
vidas das pessoas que se renderam ar- estímulo deve ser buscado em termos possuem em si os significados básicos, doutrina da autonomia da igreja nas ações
rependidas aos pés do Mestre para sua funcionais e operacionais para o bem da política de oferta é quando uma orga- denominacionais institucionais.
salvação, e isso por meio do discipulado, Igreja local no cumprimento da missão nização pretende, por exemplo, ofertar Temos ainda mais outros aspectos e
comunhão entre os domésticos da fé, e que Deus tem lhe dado. algum serviço para seu público destino, detalhes práticos que virão na próxima
demonstração do Evangelho vivo por meio Claro, também, tem o aspecto jurídico sem, necessariamente, ouvir sobre suas parte do artigo, como “learning organi-
da vida concreta no mundo, (Atos 17.6) da independência entre as diversas perso- reais necessidades e demandas. Assim, a zation” (organizações que aprendem),
instrumentalizada pelos valores cristãos nalidades jurídicas denominacionais, mas mobilização é dar atendimento sem levar mobilização “staff on demand”, que en-
como novas criaturas (II Coríntios 5.17). aqui voltamos a tocar em necessidades de em conta a situação de quem vai receber volve inclusive o voluntariado etc. E até
Esse resumo sobre o papel e a função ação representadas pelos significados das o atendimento. A política de demanda faz conceitos clássicos como o de missão
da Igreja local já nos despertam inúmeras palavras e expressões tais como sincronia, o caminho inverso, antes de dar o atendi- organizacional estão sendo revisitados e
portas de acesso que uma convenção, interfaces, serviço, cumprimento de mis- mento busca “pisar no mesmo chão” de aprofundados, por exemplo, por “Propó-
seja em nível nacional, seja regional, tem são, unidade, diálogo, atuação conjunta, quem vai ser atendido e, a partir disso, sito Transformador Massivo” (PTM), bem
diante de si para cumprir com sua missão cooperatividade etc. Então, o que pesará oferecer o atendimento. compatível com o plano da redenção do
focada na Igreja local, que tem sua missão aqui será sempre projetos de servir que de- Atuando há algumas décadas no ce- mundo pelo Evangelho tanto no campo
a cumprir, que, como vimos no resumo aci- vem superar projetos de poder, muito mais nário denominacional tem sido possível missionário, quanto no missiológico.
ma, vai além da obra evangelizante e mis- do que implicações jurídicas ou outras que observar que, em geral, temos desenvolvido Muito mais do que teoria, a estratégia e
sionária, missão muito ampla, portanto. possam desviar a atenção e ação de todos. mais uma política de oferta do que de de- conceito de PLATAFORMA está em plena
Vamos explicar melhor o que seja, Alguns exemplos poderão ajudar na manda e precisamos ir nos dois sentidos de atividade nas grandes corporações concre-
então, a concepção de PLATAFORMA, mobilização para a implantação de uma forma equilibrada, mesmo porque o público tizando respostas e resultados palpáveis,
e como a CBB, Convenções Estaduais e plataforma de atendimento às Igrejas lo- destino nem sempre tem a completa per- trazendo novos desafios e benefícios ao
Associações Regionais, além dos demais cais, líderes e Reino de Deus. Comecemos cepção do que, de fato, necessita diante da público destino que se pretende atender.
organismos denominacionais, possam se pelas Juntas Missionárias, que abrem às complexidade do mundo em que vivemos. Aguardem. Enquanto isso desejando
valer de sua funcionalidade e dela obter Igrejas a oportunidade para a realização Mas, mais do que isso, será necessário que contato é só escrever: rega@batistas.org. n
PONTO DE VISTA O JORNAL BATISTA Domingo, 13/03/22 15
OBSERVATÓRIO BATISTA

Convenção - estratégia de PLATAFORMA como


caminho para ampliar sua ação (conclusão)
Lourenço Stelio Rega que a mentalidade de silo possa ser supe- Nesse ponto me parece que estamos tão uma estrutura piramidal. Igreja local é au-
rada dando à organização maior dinâmica divididos que estamos nos “machucando” tônoma e ponto final. Não estou falando
Na primeira parte desse artigo inicia- e funcionalidade no cumprimento de sua e marginalizando, em vez de atuarmos a de uma Igreja, mas de uma plataforma
mos a apresentação de uma estratégia missão. partir de nossas semelhanças e abrindo para atender com mais eficiência e dinâ-
para ampliar a dinâmica da Convenção 5. Uma plataforma busca abrir espa- espaço para nosso amor nas diferenças, mica a Igreja local por meio de serviços
no cumprimento de sua missão, com a ço para todos e o atendimento das novas desde que nossos Princípios Distintivos com maior dinâmica e qualidade. Por ou-
concepção de PLATAFORMA, um con- gerações que poderão estar se ausen- sejam seguidos. Plataforma cria um am- tro lado, o que menciono com esta estra-
ceito presente atualmente em grandes tando da dinâmica denominacional em biente em que “partidos”, divisões sejam tégia de plataforma nada mais é do que
corporações que estão conseguindo fazer larga escala precisará ser priorizado para superados. ação conjunta operacional de serviços
diferença no atendimento de seu público que as percepções dessas novas gera- 9. A utilização de tecnologia é um dos para atender a Igreja local no cumprimen-
destino de forma ampla e massiva. ções possam abrir novas fronteiras, não componentes necessários, especialmente to de sua missão.
Entendo que alguém possa imaginar apenas para a pregação do Evangelho, para a troca de informações e planejamen- Com certeza, isso tudo precisará de
que estou trazendo práticas organizacio- mas também para a busca de respostas to, além de avaliação de resultados em novos conjuntos de habilidades que não
nais do mundo secular para dentro da bíblicas e éticas para os novos e comple- âmbito local e regional. O uso da tecno- são necessários, por exemplo, no modelo
vida denominacional. Pois é, o mundo xos dilemas que estas novas gerações logia poderá ser aberto ou escalável, isto de silo. Compreendo que isso exigirá mu-
das trevas está aprendendo e aplicando, possuem diante de si. Podemos aprender é, com acessibilidade por níveis de atua- dança de mentalidade ou mindset, como
sem muitas reservas, princípios organiza- muito com eles, mas precisamos abrir ção e responsabilidade. A presença de dizemos em liderança contemporânea,
cionais presentes na história bíblica, tais espaço para a sua liderança, precisamos membros das novas gerações promoverá onde as variáveis restritivas que já não
como no planejamento e execução da ouvi-las. a implementação desse tão importante funcionam mais sejam substituídas por
criação, a lição de Jetro, gestão de Nee- 6. Uma plataforma abre espaço para componente. outras variáveis, tais como sinergia, sin-
mias e Esdras, Jesus e tantos outros e que os cenários amplos das Igrejas bus- 10. A estratégia da plataforma tornará cronia, cooperatividade, aprendizagem
estamos, muitas vezes, resistentes em ver quem ser conhecidos, pois permitirá inte- a estrutura convencional mais “porosa”, o conjunta, projeto de servir em vez de po-
os resultados desses caminhos aplicados rações entre líderes e colaboradores de- que estimulará o acesso mais rápido ao der, diálogo, desejo de estar juntos para
na prática. Muitas vezes queremos ape- nominacionais e líderes, pastores locais. “chão da Igreja” e das regiões, ampliando a buscarmos o fortalecimento da Igreja
nas que cada passo tenha um versículo 7. Ao conhecer as múltiplas realidades cooperação intersetorial e o engajamento local no cumprimento da missão que
citado, como se fosse uma “caixinha de locais, os subsistemas (organismos) da aprimorado entre líderes locais e líderes Deus lhe deu. E, nesse sentido, temos de
promessa”. Não é assim que as coisas plataforma precisarão buscar, em con- regionais e nacionais, além das equipes reaprender a germinação de um ambiente
funcionam. Paulo mesmo nos orientou junto, conhecer as tendências culturais operacionais. A plataforma semeia uma fértil de convivência, busca de objetivos
a examinar tudo e reter o que é bom (I e ideológicas que estão formando novos estrutura mais aberta, facilitando melho- comuns que ultrapassem os limites e
Tessalonicenses 5.21). Posto isto, vamos cenários, que poderão ser tanto positivos rias no atendimento contextualizado, pois fronteiras regionais, busca a equidade e
ampliar mais ainda a descrição dos deta- para a pregação e ensino do Evangelho, para atender a Igreja local é preciso conhe- a cooperação.
lhes da estratégia de plataforma. quanto colocar em risco a vivência dos cer bem de perto o que ocorre nelas, suas Essa mudança de “mindset” é como
4. Uma plataforma estimula o estilo crentes em um mundo que cada dia mais necessidades. Vejam que nesse caso a o que está ocorrendo com a invasão do
“learning organization” isto é, a aprendi- se torna caótico e sem Deus. Assim, a expertise se descentraliza e se distribui virtual no mundo físico, quando se tenta
zagem organizacional em que cada seg- plataforma precisará desenvolver estudos nacionalmente e estimula parcerias de dar conta de tudo utilizando referenciais
mento possa crescer aprendendo com estratégicos, por meio da ação de espe- diversas naturezas. que já não funcionam mais. Na vivência
os outros segmentos ou subsistemas. cialistas, teólogos, profissionais das áreas 11. Para que haja o devido relaciona- denominacional, os indicadores apontam
Assim, a criação destas interfaces de co- de comunicação, Psicologia, gestão etc., mento entre os diversos subsistemas, para o fato de que, muitas vezes, nossa
municação e aprendizagem podem, em para que estas tendências possam ser co- regiões etc., será necessário que se crie mentalidade pode estar sento judicialista
muito, dinamizar o atendimento da Igreja nhecidas e mitigadas quando for o caso, um conjunto de princípios fundamentais e isso precisa mudar e dar vez à mentali-
local, da formação de líderes e ministros, com respostas bíblicas para assegurar que todos possam seguir, de modo que os dade funcional e operativa, que até supera
de dar suporte para que a Igreja local cum- ao povo de Deus melhores condições de conflitos entre as interfaces possam ser um projeto de poder, pois se o amor e o
pra a missão dada por Deus. Isso evita o respostas às suas decisões e escolhas minimizados. Serão princípios de confi- senso de cooperação é que nos move,
fortalecimento da mentalidade de silo. O diárias de modo que Atos 17.6 se cumpra dencialidade, de relacionamentos mútuos, menos regras jurídicas precisaremos, pois
silo é um local que serve para armazenar mais efetivamente: “… aqueles que trans- prazos para atendimento a solicitações onde falta o amor e desejo de servir são
produtos geralmente agrícolas. Aplicada tornaram (no grego: virar de perna para o entre os subsistemas, de responsabiliza- necessárias regras rígidas, códigos regu-
no campo organizacional aponta para o ar, revolucionar) o mundo chegaram até ção e de limites de cada operador e cola- ladores etc.
fato de que cada área ou setor é isolado e nós…” borador da plataforma. Aqui precisaremos A implantação da estratégia de pla-
não tem fluxo dinâmico de comunicação 8. E a questão da diversidade doutri- do suporte na área do Direito para que taforma exigirá esforço conjunto, exigirá
com os demais setores, cuidando cada nária? Já escrevi uma série de artigos alguns princípios possam regular criativa que cada interface seja motivada a partici-
um de seu “quintal” sem interfaces de sobre isso demonstrando a necessidade e sabiamente os relacionamentos e fun- par, sejam criados princípios de operação.
planejamento e atuação colegiada. Isso de estimularmos espaço para o diálogo cionamento entre os diversos segmentos Mais ainda, exigirá coragem para buscar
acontece quando diferentes áreas e de- e aprendizagem colegiada. Precisamos da plataforma. a união de todos para que os Batistas,
partamentos da organização não compar- redescobrir que, desde nossa origem, Talvez alguém poderia pensar que es- para que as Igrejas Batistas brasileiras
tilham informações, objetivos, processos como Batistas, a unidade é fruto não da tou sugerindo uma “super Igreja” com um possam ser mais ainda dinamizadas e
e prioridades entre si. A implantação do uniformidade, mas da diversidade a partir comando central, mas não é nada disso; serem embaixadoras do Evangelho onde
modelo de plataforma é a solução para dos Princípios Distintivos dos Batistas. primeiro porque nós, Batistas, não somos estão e onde vivem. Quem se habilita? n

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