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31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

Flavio Gordon
Mar 25, 2017 · 25 min read

A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a


Demétrio Magnoli

. . .

“We have not successfully rolled back the frontiers of the state in Britain, only to see them
re-imposed at a European level with a European super-state exercising a new dominance
from Brussels”.

- Margaret Thatcher

. . .

O raciocínio analógico é um dos recursos mais espontâneos da inteligência


humana. Confrontados com fenômenos novos, tendemos naturalmente a
recorrer ao nosso repertório de experiências acumuladas em busca de referências.
Afora a dimensão cognitiva, há um evidente conforto psicológico em jamais sentir-se
surpreendido, e poder dizer mentalmente: “Acho que já vi isso antes”. Num certo
sentido, nunca deixamos de ser aquela criança que, perdida no shopping ou na praia,
busca desesperadamente a fisionomia familiar dos pais em meio ao pesadelo de tantos
rostos estranhos.

No terreno da história, também a analogia costuma vigorar. Estamos sempre buscando


equivalências do passado para interpretar eventos políticos e sociais presentes, até o
ponto em que, a despeito do senso de linearidade introduzido pela tradição judaico-
cristã, a história continua a se nos afigurar como cíclica. A célebre boutade de Marx,
popularizada simplesmente como “a história se repete como farsa”, é não raro citada
com ênfase mais na repetição do que na farsa.

Há decerto alguma verdade naquela imagem da história. Afinal de contas, em que pese
a gigantesca variedade da experiência do Homo sapiens no tempo e no espaço, a

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natureza humana permanece mais ou menos inalterada, impondo limites à nossa


capacidade de inovar. Mas, no campo específico da história, o recurso à analogia não
deve ser levado longe demais, e sobretudo não ao pé da letra, sob pena de gerar
análises incorretas, por estereotipadas, dos acontecimentos correntes.

É o que se passa, por exemplo, com a noção de "nacionalismo”, que vem sendo usada e
abusada para interpretar eventos tais como a eleição de Donald Trump e o Brexit. A
crítica contemporânea ao nacionalismo — e ao seu atual irmão-gêmeo, o populismo —
parte da premissa (tipicamente liberal-progressista) de que o mundo seguia natural e
fatalmente rumo à dissolução dos Estados nacionais, e que, de súbito, de maneira
aberrante, houve um retrocesso, uma espécie de retorno a um ponto anterior da
história. Como escreveu o filósofo político John Gray em artigo recente sobre o tema:

“O cortejo liberal definha, e no entanto os liberais têm dificuldade de encarar a situação


sem se imaginar pertencendo ao lado certo da história. O problema é que só conseguem
divisar o futuro como continuação do passado recente”.

Aquela noção de "retrocesso" é evidentemente ideológica. O que hoje se tem chamado


acrítica e pejorativamente de nacionalismo não pode significar a mesma coisa que no
passado. Aqui, a homonímia, o uso da mesma palavra, é necessariamente ilusória.
Quando muito, seu valor seria apenas metafórico, jamais literal. Levada, como tem
sido, ao pé da letra, traduz tão somente uma gigantesca preguiça analítica.

Em que consiste basicamente a diferença entre o nacionalismo de ontem e o


"nacionalismo" de hoje, uma diferença tão essencial que, a meu ver, deveria implicar
nada menos que o abandono do termo?

Antes, tratava-se de celebrar a nação como um poder situado acima e para além dos
indivíduos. Valorizava-se a nação por sua aparente capacidade de transcendência, e há
mesmo, na ciência política, toda uma corrente a haver tratado o nacionalismo original
como uma forma de Ersatz religion, ou religião substitutiva. Exemplar nesse sentido é a
obra clássica do historiador americano Carlton J. H. Hayes, Nationalism: A Religion,
publicada em 1960.

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Carlton J. H. Hayes (1882–1964)

Hayes e muitos autores insistiram neste elemento fundamental do nacionalismo: a


capacidade de gerar um simulacro daquela experiência do sagrado à qual Rudolf Otto
dedicou a expressão latina Mysterium tremendum et fascinans.

The Idea of the Holy-Text of First English Edition


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Não há nada parecido com aquela reverência quasi- (ou pseudo-) religiosa no assim
chamado nacionalismo contemporâneo. Este se afirma, não contra o indivíduo, mas
contra um projeto de centralização do poder em nível global. Trata-se, por assim dizer,
de um nacionalismo "para baixo", e não, como o original, "para cima". Se antes a nação
era brandida por representar um poder maior, agora o é por representar um poder
menor. Um poder mais fraco e, a despeito de toda a crise de representatividade
observada no âmbito dos Estados nacionais, de algum modo ainda manejável pelo
cidadão comum através do sistema democrático, não importando o quão precarizado e
discutível seja ele.

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Muitos dos que hoje são acusados de "nacionalistas" — subentendido nessa pecha todo
um campo semântico negativo em torno de pecados como racismo, xenofobia,
ignorância, paroquialismo etc. — defendem a nação não de maneira doutrinária,
movidos por algum sentimento de apaixonada devoção, mas por uma exigência
estratégica e circunstancial: querem evitar o surgimento de um poder que se erga
acima do seu próprio território, um poder ainda mais difícil de controlar e fiscalizar.
Trata-se aí de reafirmar a nação como o maior poder político admitido, para que,
eventualmente, ele mesmo possa ser reduzido. Não por acaso, muitos "nacionalistas"
contemporâneos são também federalistas e distritalistas convictos, guiando-se pelo
velho princípio da Revolução Americana: "No taxation without representation".

Há, sobretudo, um dado flagrante curiosamente ignorado pela maioria dos críticos do
"nacionalismo" corrente: a prova de que este não consiste em xenofobia e em mero
apego intransigente às próprias cores nacionais é, paradoxalmente, o seu caráter
internacionalista. Conservadores brasileiros torceram para Donald Trump numa
eleição que, claro está, não lhes dizia respeito diretamente. Conservadores americanos
vibraram com o Brexit. Em retribuição à gentileza, conservadores britânicos como
Nigel Farage celebraram a vitória do candidato republicano. O mesmo se diga de
Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, e Marine Le-Pen, candidata à
presidência na França.

Logo, trata-se de uma grosseira simplificação descrever um fenômeno tão amplo como
mera defesa de valores mesquinhos e expressão de ressentimento xenófobo. O que
temos visto, ao contrário, é o curioso surgimento de uma internacional nacionalista,
segundo a expressão paradoxal de Timothy Garton Ash, historiador e colunista do The
Guardian, que a cunhou com sentido pejorativo, sem perceber que essa "contradição
em termos" (segundo suas próprias palavras) enfraquece a cruzada anti-nacionalista da
qual faz parte.

Como já disse, é muito cômodo a seus detratores qualificar aquela internacional


nacionalista (a formulação original é, na verdade, "internacional dos nacionalistas") de
xenófoba e tacanha. Dispensando-se de dedicar ao fenômeno sequer o mínimo de
empatia e honestidade intelectual que se exige de qualquer análise séria, eles negam
deliberadamente a legitimidade das questões que animam aquele movimento, e que
são tão velhas quanto a própria ciência política: Quem determina as leis sob as quais
iremos viver? Qual a melhor forma de governo? Como criar um mecanismo de pesos e
contrapesos? Como impedir que a autoridade constituída degenere-se em tirania?
Como garantir a representatividade?
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Se não todos, ao menos boa parte dos que integram aquela curiosa internacional
comunga de princípios que giram em torno da defesa de poderes menores e mais
controláveis contra a ameaça de um poder maior e potencialmente totalitário,
representado pela ideologia da "governança global". Esta, aliás, tem sido
particularmente eficaz e insidiosa por apresentar-se em versão soft power, termo
cunhado pelo cientista político Joseph S. Nye Jr., e por ele definido como “a habilidade
de obter o que se quer mediante atração antes que coerção”.

Soft Power: The Means To Success In World Politics


Joseph Nye coined the term "soft power" in the late 1980s. It is now used
frequently-and often incorrectly-by political…

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. . .

No Brasil, um dos últimos opinadores a incorrer no uso estereotipado da noção de


nacionalismo foi o sociólogo Demétrio Magnoli (que, aliás, tem sido nisso useiro e
vezeiro). No dia 23 de março, ele publicou no Globo um artigo intitulado "A volta dos
Sábios de Sião", que parte de um libelo anti-globalista extraído do site russo Fort Russ
— engrenagem do "núcleo duro do putinismo", segundo o autor — para atacar os
nacionalistas contemporâneos, em particular Donald Trump e seus apoiadores.

A volta dos Sábios do Sião


'A oligarquia e a burocracia supranacionais são inimigos genuinamente
perigosos (...), mesmo se Putin e Trump…

oglobo.globo.com

Magnoli acusa-os de tudo um pouco, lançando mão dos rótulos infamantes de sempre
(teóricos da conspiração, xenófobos, radicais, populistas), que soam até
compreensíveis na boca de ativistas e militantes políticos, mas sempre espantosos na
pena (ou melhor, teclado) daqueles que se pretendem cientistas da sociedade e da
política.

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Mas a acusação mais grave está contida já no próprio título do artigo. Como se sabe,
"Os Protocolos dos Sábios de Sião" é um texto anti-semita do século XIX. Trata-se de
uma fraude documental, provavelmente fabricada a mando do czar Nicolau II, e cuja
meta era "revelar" uma vasta conspiração mundial comandada pelos judeus. O texto
ajudou a formatar o imaginário nacional-socialista, e, por incrível que pareça, até hoje
continua a ser levado a sério por anti-semitas e incautos de maneira geral.

Ao fazer uso da analogia, Magnoli tem como objetivo colar a pecha de anti-semitas nos
que alegam combater uma quimera chamada “elite globalista”, expressão que o autor
atribui a Steve Bannon (a grande mente por trás da administração Trump), com a
intenção de ridicularizá-la e equipará-la à farsa dos "sábios de Sião". Aos anti-
globalistas, o sociólogo de formação trotskista reserva termos escarnecedores tais
como "cavaleiros do nacionalismo" e "neotrumpianos". Escreve:

“Ousados, os neotrumpianos explicam que é preciso distinguir a globalização do


‘globalismo’, isto é, da maléfica ação política da ‘elite globalista’ — como se a integração
mundial de cadeias produtivas pudesse dispensar as instituições e as redes que lhe
servem de infraestruturas. Alheios às gargalhadas do público letrado, eles acusam a
‘elite globalista’ (Obama, Merkel, Soros) de nutrir tendências ‘esquerdistas’ e
‘socializantes’. Na mesma linha, insurgem-se contra universidades que pregam o respeito
às liberdades civis e à diversidade cultural, confundindo isso com a doutrina do
multiculturalismo, e entidades científicas que difundem informações sobre mudanças
climáticas (uma lenda inventada pelos chineses para sabotar a economia americana,
segundo Trump).

A 'elite globalista', contudo, não passa da versão renovada de uma narrativa mais que
centenária: a conspiração dos Sábios de Sião (…) A conspiração dos Sábios de Sião
evoluiu por inúmeros caminhos, cruzando-se com as ideias das conspirações maçônica e
comunista, até coagular-se em sua atual encarnação: o governo mundial da 'elite
globalista'. Suas raízes antissemitas jamais desapareceram. O texto publicado pelo Fort
Russ intitula-se Emmanuel ‘Rothschild’ Macron: a resposta globalista a Trump, Putin e
Le Pen e seu alvo explícito é o candidato presidencial francês de centro-esquerda, que
trabalhou num banco de investimentos francês ligado ao Grupo Rothschild. No mesmo
texto, o 'Soroses' faz referência a George Soros, o diabo-chefe judeu…"

É curioso que o autor, aparentemente tão preocupado com o anti-semitismo, consiga


enxergá-lo nos críticos do globalismo mas não em seus entusiastas. Ora, há poucas
instituições no mundo tão anti-semitas quanto a própria ONU, a face mais aparente do

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globalismo, e cujo viés anti-Israel é bem conhecido, ilustrado em centenas de


resoluções absurdas, a exemplo da infame 3379 (que tratava o sionismo como uma
forma de racismo, e que levou anos para ser anulada) e da recente 2234 (que
condenou as colônias israelenses na Cisjordânia, e foi aprovada graças à vergonhosa
abstenção dos EUA, naquele que foi o último de uma série de atos de hostilidade do
governo Obama contra Israel).

Magnoli deveria saber aquilo que, certa feita, um colunista brasileiro descreveu muito
bem:

"O anti-semita polido mobiliza um sofisma básico: a distinção entre anti-semitismo e


anti-sionismo (…) Um século atrás, a distinção entre anti-semitismo e anti-sionismo era
um argumento político admissível; desde pelo menos 1948, não passa de camuflagem do
ódio aos judeus".

E Magnoli sabe. Era ele aquele colunista, que em agosto de 2014 publicou na Folha de
São Paulo o artigo "O sofisma anti-semita".

Demetrio Magnoli: O so sma antissemita


O antissemitismo em estado cru, aquele dos Protocolos dos Sábios do Sião,
sobrevive nos subterrâneos, quase clandestino…
www1.folha.uol.com.br

Por isso, chega a ser inacreditável que Magnoli mencione o bilionário George Soros
como o judeu-modelo, pretensa vítima da retórica anti-semita dos nacionalistas
contemporâneos. Logo Soros, conhecido por haver, quando jovem, percorrido as ruas
de sua Budapeste natal para ajudar os nazistas a confiscar a propriedade de seus
compatriotas judeus, algo de que fala hoje sem qualquer sentimento de culpa.

George Soros rationalizes his role in con scation of Jewish property durin…
durin…

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Logo Soros, cujas fundações, ficamos sabendo através dos "Soros Leaks", financiam um
sem-número de organizações anti-sionistas, algumas das quais pregando abertamente a
destruição do Estado de Israel.

Magnoli caçoa dos nacionalistas para quem, supostamente, Soros seria "o diabo-chefe
judeu", mas não tem nada a dizer do "diabo" ele mesmo, hoje talvez o maior
fomentador da propaganda anti-sionista (e, pois, a se acreditar no argumento do
sociólogo paulistano, anti-semita) no mundo.

Quando se nutre ódio por alguém, recomenda-se não fazer dele objeto de análise. Mas
é isso que Magnoli faz com Trump. Acusá-lo de anti-semitismo beira as raias da
loucura. Trata-se de uma perfeita inversão da realidade. O novo presidente dos EUA e
sua equipe têm conduzido uma virada de 180º na política do país em relação a Israel,
desfazendo a orientação fortemente anti-sionista da administração Obama,
provavelmente o presidente americano mais anti-Israel de todos os tempos.

Um sinal claro da reaproximação com Israel promovida por Trump foi a nomeação de
Nikki Haley como embaixadora dos EUA na ONU. E, logo em seu primeiro discurso
oficial, Haley fez críticas contundentes ao anti-semitismo da organização, defendendo
o Estado judeu com uma clareza moral e uma veemência como há muito não se viam na
América.

Discurso de Nikki Haley, embaixadora dos Estados Unidos na ONU, sobre …

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A postura pró-Israel de Trump, demonstrada ao longo da campanha presidencial, fez


com que o primeiro-ministro israelense saudasse o novo presidente americano com
singular entusiasmo. Benjamin Netanyahu não deve estar lendo com atenção as colunas
do Magnoli.

BENJAMIN NETANYAHU, PRIMEIRO MINISTRO DE ISRAEL, PARABENIZA…


PARABENIZA…

Para o projeto globalista, o anti-sionismo é estrutural, e tem valor estratégico. Bem


como o anti-americanismo. Israel e EUA talvez sejam hoje as duas únicas nações
verdadeiramente soberanas no mundo democrático. Daí que a sua aliança — que a
dupla Obama & Hillary fez de tudo para abalar — seja o pesadelo do globalismo. Como
observa Todd Huizinga, sobre quem falaremos logo abaixo:

"Na qualidade de Estado-nação mais poderoso do mundo, que guarda ciosamente a sua
soberania nacional, os Estados Unidos, por sua própria existência, são um obstáculo no
caminho da visão da União Européia (UE) de um mundo que evolui para além do
Estado-nação. O mesmo vale para Israel, que sofre incansável hostilidade da UE,
sobretudo porque a existência de uma nação democrática e orgulhosa, ademais fundada
numa visão essencialmente etno-religiosa da nacionalidade, desafia a visão-de-mundo

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supranacional, pós-religiosa e pós-étnica da UE. O fato de que Israel ouse ser


fundamentalmente ocidental, e ainda assim rejeitar muito da perspectiva européia sobre
o mundo, atiça a ira da UE".

Evidentemente, Magnoli tem o direito de ignorar tudo do globalismo, sobre o qual há,
hoje em dia, uma quantidade quase inabarcável de literatura — boa parte dela
constituída de livros panfletários e de baixa qualidade, decerto, mas também de um
número suficiente de análises sérias, profundas e extensamente documentadas. Da
mesmo forma, ele tem o direito de militar pelo globalismo em artigos de opinião. O que
ele não tem o direito de fazer é usar a sua posição de intelectual público para
desinformar os leitores, distorcendo os termos do conflito e caricaturando às raias do
grotesco os seus adversários.

Por exemplo, a distinção entre "globalização" e "globalismo" é tão óbvia, e de tão fácil
compreensão, que o deboche do autor em relação a ela, descrevendo os seus
proponentes como "ousados", não pode ser fruto de ignorância, senão de malícia. Não é
preciso qualquer ousadia para entendê-la, mas muita má vontade para não fazê-lo.

A globalização, como descreve Magnoli, de fato diz respeito à "integração mundial de


cadeias produtivas". E é óbvio que esta depende de "instituições" e "redes que lhe
servem de infraestruturas". O ponto é o seguinte: ninguém o nega. O que se questiona é
a natureza, a qualidade e o alcance daquelas "instituições" e "redes". Que elas tenham
necessariamente de passar de um simples suporte de interações econômicas livres e
espontâneas a um meio de concentração de poder político supranacional infenso a
mecanismos de fiscalização — esta a definição de globalismo! — é o que está em pauta.
E é justo o que Magnoli omite de forma deliberada.

Falávamos logo acima da abundante literatura de qualidade acerca do globalismo.


Puxando apenas pela memória, dentre os autores de obras de referência sobre o tema
eu poderia citar Carroll Quigley, Michel Schooyans, Henry Lamb, Nicholas Hagger, Ted
Flynn, Alan B. Jones, Cliff Kinkaid, Gary Allen, Edward Griffin, William F. Jasper, John
Fonte, Pascal Bernardin, entre outros.

Mas, para não me alongar em demasia, destacarei apenas o livro The New Totalitarian
Temptation: Global Governance and the Crisis of Democracy in Europe, do diplomata
americano Todd Huizinga.

The New Totalitarian Temptation: Global Governance and the


Crisis of Democracy in Europe
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What caused the eurozone debacle and the chaos in Greece? Why has
Europe's migrant crisis spun out of control, over the…
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. . .

Com incrível riqueza de detalhes e referências de fontes primárias, o livro de Huizinga


trata do surgimento, funcionamento e objetivos da União Européia (UE), que Pascal
Lamy, ex-diretor-geral da OMC e ex-presidente da Comissão Européia, descreveu certa
vez como “o laboratório da governança internacional — o lugar onde a nova fronteira
tecnológica da governança internacional está sendo testada”.

Pascal Lamy (1947- ): a União Européia como "laboratório" do globalismo

A UE seria, pois, o modelo de um sistema mundial de governança global. Nessa nova


ordem mundial, escreve Huizinga,

"o poder não será exercido primeiramente por governos nacionais que representam seus
eleitorados, mas por uma rede cada vez mais densa de organizações internacionais, que

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administram um corpo crescente de legislação e regulação internacionais, pretensamente


em benefício de uma cidadania global".

No mesmo discurso em que proferiu as palavras citadas anteriormente, Lamy também


forneceu uma descrição paradigmática da ideologia globalista, da qual é hoje um dos
principais proponentes:

“Desafios globais requerem soluções globais, e estas só serão alcançadas com a


governança global adequada, que hoje, 20 anos depois [ele referia-se à queda do Muro
de Berlim], continua muito fraca”.

E citou ainda uma formulação mais antiga de Jean Monnet, o grande mentor intelectual
do projeto europeu:

“As nações soberanas do passado já não podem fornecer um quadro de referência para a
resolução de nossos problemas presentes. E a comunidade européia ela mesma não é
mais que um passo rumo às formas organizacionais do mundo de amanhã”.

Jean Monnet (1888–1979)

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Com efeito, a UE foi desde o início a encarnação mesma da ideologia globalista, criada
com o propósito de estabelecer a utopia kantiana da “paz perpétua”, nem que para isso
fosse preciso amputar largas porções da soberania dos Estados-membros e violar os
valores e tradições de seus cidadãos. Ao contrário de organismos como o NAFTA (este
sim uma daquelas "instituições" e "redes" de que fala Magnoli, voltadas tão somente
para a integração econômica), a UE não é apenas uma entidade econômica, mas
também profundamente política. Ela é, na definição de Huizinga,

“uma organização supranacional que exerce significativos poderes soberanos,


frequentemente às custas dos poderes dos Estados-membros. A lei da UE sobrepõe-se à lei
nacional do Estado-membro, por exemplo, e seus decretos e regulamentações afetam a
vida cotidiana de cada Estado-membro”.

Quando, por acaso, os cidadãos dos países-membros rejeitam via referendo alguma lei
da UE, a reação da entidade é característica. Huizinga ilustra:

“Em três casos, duas vezes na Irlanda e uma na Dinamarca, a UE recusou-se a aceitar a
vontade dos eleitores. Em vez disso, ela impôs novas votações e exerceu pressão maciça
para que os eleitores ‘compreendessem’ e votassem sim”.

Ressalto que o autor escreveu o livro muito antes do Brexit, que certamente entraria
como mais um exemplo do autoritarismo dos burocratas de Bruxelas.

E autoritarismo e elitismo parecem mesmo ser características marcantes do projeto


europeu e, de modo mais geral, do globalismo. Ao contrário do que sugere Magnoli, a
idéia de uma "elite globalista" é tudo menos um delírio conspiratório de seus críticos.
Eis como, por exemplo, a noção de governança global é definida por Thomas G. Weiss,
diretor emérito do Ralph Bunche Institute for International Studies, professor do
Graduate Center da CUNY, e um dos maiores estudiosos contemporâneos do tema:

“O complexo de instituições formais e informais, mecanismos, relacionamentos e


processos entre e dentre estados, mercados, cidadãos e organizações, tanto inter- quanto
não-governamentais, através dos quais os interesses coletivos em nível global são
articulados, deveres, obrigações e privilégios são estabelecidos, e diferenças mediadas por
profissionais instruídos” (citado por Huizinga, pp. 21–22 — Grifos meus).

Notem bem: os responsáveis por comandar aquela complexa maquinaria política não
são representantes eleitos, mas profissionais instruídos. "A UE não seria a UE", comenta
Huizinga, "sem essa cultura de governo da elite e dos insiders".
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Aliás, a proposta de que decisões políticas importantes devam ficar a cargo de uma elite
de iluminados — ou “ungidos”, na feliz expressão de Thomas Sowell — foi avançada
com todas as letras pelo filósofo americano Jason Brennan, que lamentava a decisão
majoritária dos britânicos de sair da UE, motivada, segundo ele, por "informações
equivocadas sobre a realidade britânica". Brennan está falando sério, e a sua opinião
sobre o melhor sistema político para o mundo contemporâneo é uma bizarra reedição
da idéia platônica do "rei-filósofo". Epistemocracia, o governo dos que conhecem: eis
o que sugere o autor em seu livro Against Democracy.

É nisto, em última instância, que consiste a governança global: a usurpação do auto-


governo democrático por uma elite governante que jamais presta contas aos seus
governados, e que, a despeito de sua retórica humanista e universalista de promoção
dos direitos humanos, nutre por aqueles um profundo desprezo. Trata-se de um
programa brutalmente elitista, que põe a política antes das pessoas, na medida em que
busca remodelar os seres humanos em função de seus projetos políticos, em vez de
adaptar os projetos aos seres humanos tais como são.

Como sintetiza John Fonte em Sovereignty or Submission: Will Americans Rule


Themselves or Be Ruled by Others?, os globalistas

“consideram a ‘nova’ lei internacional, que encarna os últimos (e mais progressistas)


conceitos de direitos humanos globais e formais universais, como sendo superior a toda
lei nacional ou constituição de qualquer nação democrática” (citado por Huizinga, p.
24).

A discussão contemporânea sobre o aborto no Brasil é um bom exemplo daquele


elitismo. A proposta de sua legalização, cláusula pétrea do globalismo, é rejeitada pela
esmagadora maioria da população, eleitoralmente representada no Congresso. Ainda
assim, ela tem sido articulada desde cima, por vias anti-democráticas, mediante a
pulsão legiferante do STF, cujos membros, praticantes habituais do mais
desavergonhado ativismo judicial, acreditam encarnar a superioridade moral daquela
"nova lei internacional". O jornalista Felipe Moura Brasil, da Veja, explicou o problema
muito bem:

Vídeo - Barroso e PSOL abortam o Poder Legislativo | VEJA.com


Na TVeja: "O colunista Felipe Moura Brasil comenta o precedente aberto por
Luis Roberto Barroso e a ação do PSOL com…

veja.abril.com.br

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E já agora percebemos que, além de não ser apenas uma proposta de integração
econômica, mas de concentração de poder político, o globalismo tampouco é apenas
uma proposta de concentração de poder político, mas de educação moral. Esmiuçando
os documentos das organizações internacionais (que são a forma institucional mais
visível da ideologia), pode-se notar facilmente o quanto essa educação visa a uma
homogeneização das consciências. Eis um exemplo:

“O ponto mais importante é que deveria haver um currículo universal, internacional e


padrão, estabelecido sob os auspícios das Nações Unidas. Em particular, esse currículo
padrão deveria ser difundido a partir das séries de manuais escolares padronizados
elaborados sob os auspícios das Nações Unidas (…) Enquanto uma geração não tiver
recebido os ensinamentos de um currículo internacional padrão, todos raciocinarão
segundo os velhos esquemas mentais que, por fim, são fatais para a humanidade”
(grifos meus).

- International symposium and round table, 27 nov-2 dez. 1989, Beijing, China.
"Qualities required of education today to meet foreseeable demands in the twenty-first
century". Proceedings, UNESCO, pp. 40 e 42.

O trecho ilustra bem o já mencionado desprezo da "elite globalista" — sim, para o


desgosto de Magnoli, é este o termo correto para descrever o fenômeno — por aqueles
que ela pretende governar sem representar. Daí o desejo de "educá-los".

Ora, a transformação da política em pedagogia, e a idéia mesma de educar adultos, já


mostrou Hannah Arendt, é característica essencial do totalitarismo — a definição
mesma de concentração de poder. Que esse totalitarismo se exerça à moda soft power,
para usar novamente o conceito de Joseph S. Nye Jr., não significa que seja menos
nocivo. Que a ideologia globalista seja uma "soft utopia", e o conceito agora é de
Huizinga, não implica que seja aceitável.

O problema da centralização do poder político hoje é que ela é tanto mais perigosa
quanto mais difícil de visualizar, e isso explica a cegueira de tantos como Demétrio
Magnoli diante dela. O "centro" hoje já não é um tirano individual, um partido político,
uma junta militar, mas uma rede altamente intrincada de agentes, dificilmente
responsabilizáveis diretamente. Todavia, posto que mais complexa e sofisticada, e é
nisso que os anti-globalistas têm insistido, ela é centralização ainda assim.

https://medium.com/@flaviogordon/a-internacional-nacionalista-contra-o-globalismo-7bd93fbd02b2 15/22
31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

A sua eficácia consiste não no segredo, que não há, mas na discrição e no hermetismo
da linguagem utilizada nos documentos oficiais. Contrariamente ao que sugere
Magnoli, os mais importantes críticos do globalismo não são teóricos da conspiração,
até porque, estivéramos mesmo diante de uma conspiração, tratar-se-ia daquela
"conspiração aberta" de que falava o romancista H. G. Wells, dileto membro da
Sociedade Fabiana, e ele próprio um velho entusiasta da idéia de governança global.

The Open Conspiracy: What Are We To Do With Our Lives?


The Open Conspiracy This is a guidebook on world control and
management, a program that Wells believed should be…
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John J. McCloy, ex-presidente do Council on Foreign Relations, comentou certa feita:

“O impulso rumo à governança global pode ser bem documentado, mas ao final do
século XX ele não se parece com uma conspiração tradicional, no sentido usual de uma
cabala secreta de homens cruéis encontrando-se clandestinamente a portas fechadas. Em
vez disso, trata-se de uma 'rede' de indivíduos com a mesma mentalidade, situados em
altos postos a fim de atingir um objetivo comum, tal como descrito pelo insider Marilyn
Ferguson no clássico de 1980, The Aquarian Conspiracy”.

- Citado por Ted Flynn em Hope of the Wicked: The Master Plan to Rule the World.
Herndon (Virginia): MaxKol Communications, 2000. p. 3.

Não, não há mesmo conspiração. Não há segredo. Para além de toda literatura analítica
sobre o globalismo, as fontes primárias estão acessíveis a todos: decretos, declarações,
diretrizes, resumos de conferências, atas de reuniões, livros de memórias… O
problema é que, para extrair alguma unidade por detrás da estonteante massa de
documentos, é preciso proceder a uma análise simbólica do vocabulário empregado,
estabelecer o sentido contextual dos termos.

Como esclarece Huizinga, aquele vocabulário é geralmente vago, genérico e ambíguo o


bastante para permitir acomodar as divergências de pontos-de-vista entre os
globalistas. Sobretudo, é preciso compreender que não há aí, e seria improvável que
houvesse em se tratando de rede tão complexa de agentes, uma completa
homogeneidade ideológica e política. A unidade é sobretudo pragmática, e para isso

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31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

concorrem precisamente a vacuidade e ambiguidade da prosa globalista, sempre


expressa naquela langue du bois característica do mundo diplomático. Nas palavras de
Huizinga:

“Mesmo na ausência de consenso entre as partes, uma declaração, proposta de política


pública ou mesmo tratado expedidos pela UE podem avançar mediante o uso pragmático
da ambiguidade construtiva — ao frasear os trechos controversos de tal modo que cada
parte possa interpretá-los conforme sua preferência”.

Para os curiosos que encaram as fontes documentais pela primeira vez, o linguajar
globalista pode soar impenetrável, entediante ou, pior ainda, inócuo. Só os muito
persistentes seguem na missão de decifrá-lo. Para os preguiçosos e desonestos
intelectuais, a situação é irremediável: eles são imediatamente afugentados pela
esfinge, indo ato contínuo refugiar-se no conforto dos estereótipos socialmente
compartilhados. É mais fácil e gratificante denunciar as "teorias da conspiração".
Caprichando na ênfase, é possível até fazer-se passar por racional e criterioso.

Aquela inescrutabilidade é o segredo do sucesso do projeto globalista, da consolidação


dessa "soft utopia". Novamente, tudo o que é preciso fazer para constatá-lo é vasculhar
as fontes primárias. Como, por exemplo, esta confissão de Jean-Claude Juncker, ex-
presidente do Conselho Europeu, e atual presidente da Comissão Européia. Falando
sobre integração e poder supranacional, ele declarou ao jornal alemão Der Spiegel:

“Nós primeiro decidimos algo, e então lançamos a idéia, aguardando um pouco para ver
o que acontece. Se não houver grandes rebeliões e gritos de protesto, porque a maioria
das pessoas sequer entendeu o que foi decidido, nós vamos em frente — passo a passo,
até não haver mais volta” (grifos meus).

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Ausland

Die Brüsseler Republik Solana, den EU-Außenminister.


eine Art gemeinsames
Und
bildet der Binnenmarkt schon jetzt
„Staatsgebiet“
ohne Grenzen für Personen,Waren

Dienstleistungen.
und
Dass die Nationen auf den Kern ih-
Im 21. Jahrhundert w ächst der europäische Bundesstaat heran.
rer Souveränität, die eigene
Er w ird ein Multikulti-Staatsvolk von w enigstens 440 Millionen zu Gunsten des Euro verzichteten,
Währung,
Menschen umfassen. der
w arentscheidende Schritt hin zum
eu- ropäischen Bundesstaat. Die
Europäi- sche Zentralbank in
J ean-Claude Juncker ist ein Es w erden sich, das lehrt der
Frankfurt lenkt in- zw ischen ohne
Kopf. „Wir beschließen etw as,
pfiffiger zurück,
Blick die bundesstaatlichen gemeinsame Geldpolitik im Euroland
das dann in den Raum und
stellen Struktu- ren im neuen Jahrhundert größere
der Elf; Briten,
Probleme
Schwdieeden, Dänen
einige Zeit ab, w as passiert“,
w arten mal schleppend, mal in Schüben Griechen w erden früh im neuen
und
verfestigen,
der Premier des kleinen Luxemburg bisher.
verrät w ie Aus der Montanunion, der Jahr- hundert im Interesse ihrer
über die Tricks, zu denen er die den
aus Schrecken zw eier Weltkriege dazustoßen.
Wirtschaft
Staats- und Regierungschefs der ge- borenen Friedensallianz Die EU ist in ihren Strukturen und
Europapolitik ermuntert Wenn es Deutschen Franzosen Belgiern Kompetenzen nicht versteinert
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31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli
Europapolitik ermuntert. „Wenn es Deutschen, Franzosen, Belgiern, Kompetenzen nicht versteinert,
EU in der zw ischen den
dann kein großes Geschrei gibt Ita- lienern, Luxemburgern und son- dern bew eglich geblieben.
keine
und Aufstände, w eil die meisten Nieder- ländern, w urde die auch
Deshalb w ird sie mit der Erw eiterung
nicht
gar begreifen, w as da Osten
nach und Süden fertig w erden.
w urde, dann machen w ir w eiter – Europäische Union
beschlossen Wirt- der derzeit 15 – EU
Ob 375
zur Millionen Menschen oder
Schritt für Schritt, bis es kein stets ging es in Richtung
schaftsgemeinschaft 440 Millionen oder eines Tages 540
und dann die bald
mehr gibt.“
Zurück Bundesstaat. Mil- lionen gehören, ist mehr ein
So w urde bei der Einführung
Euro Organisa- tionsproblem – w enn
desverfahren, als tatsächlich
jemand
kaum die Tragw eite der ersten nur die strengen
Be- schlüsse 1991 zur
Währungsunion w ahrnehmen
Wirtschafts-
So ähnlich und
lief es jetzt w ieder
mochte.
EU-Sondergipfel
beim im finnischen Tam-
pere, w o komplizierte
zur Justiz- und Rechtspolitik fielen.
Entscheidungen
w enigen Jahren w erden die
In
Mitglied- staaten die Folgen spüren.
dann
Brüsseldiegibt
Mindeststandards für die
Asylpolitik vor. Und das Geschrei in
Bayern und andersw o w ird groß
w enn die Ermittlungsaufträge von
sein,
Eu- ropol an deutsche
die Polizeihoheit der Bundesländer DPA
Sicherheitsbehörden
durchlöchern. Gipfeltreffen der europäischen Regierungschefs: Als nächstes eine
Nach derselben Methode soll der eigene Armee
Bau des Bundesstaates Europa Ein zunehmend mächtigeres Eu-
w eiter- gehen. ropäisches Parlament (EP) nimmt
Eigentlich gibt es den bereits – mit w achsendem Beitrittsbedingungen der EU bei
sich
w enn
auchdas Karlsruher neue Rechte.
Selbstbew Ohne Widerspruch
usstsein De- mokratie, Menschenrechten
Bundesverfas- sungsgericht das Paris,
aus London oder Berlin nennt und Wirt- schaft nicht missachtet
und lieber von einem Präsident Romano Prodi, vom EP Die Erw eiterung zw ingt die EU,
nicht w ahrhaben
spricht. w ill
Die Europäische Union Quasi-Kanzler gew ählt, seine EU- w erden.
selber
Staatenverbund als sich zu reformieren. Der
die entscheidenden Merkmale auf:
w eist muss besser funktionieren –
Kommission eine „Art europäische Ministerrat
Rechtsgemeinschaft mehrerer
Als Regierung“. einstimmige
w eniger Beschlüsse, mehr
entscheidet sie w ie ein
Staaten Der Ministerrat der EU, das Legisla- Mehr- heitsentscheidungen. Damit
über jene Fragen, die für den
Bundesstaat tivorgan der Mitgliedstaaten, ist
des Ganzen w esentlich sind, Art Bundesrat, in dem die w ächst zu- gleich die Macht
Mehrheitsentscheiden des in
des Rates
Bestand eine
die Gliedstaaten ihre Staatlichkeit
w ährend Regierungs- vertreter eine Parlaments,
Regel seine da
der bei
Zustimmung nötig
be- halten und an der der Gesetzgebung Der Bundesstaat Europa w ird so-
ist.
Ganzen entscheidend beteiligt entscheidende Rolle inhat die
Eine eigene Armee
Willensbildung des spielen. gar eine Art Multikulti-Staatsvolk
Das bundesstaatliche Phänomen
sind. Republik bald auch. Der Aufbau
Brüsseler auf- w eisen. Hielten die Leute 2002
Brüssel
in ist noch ziemlich unfertig, modernen,
einer EU-geführten einmal die Banknoten und Münzen
von 150000 Mann ist eine der erst Euro in den Händen, sagt
des
funk- tioniert aber. Mindestens 60 Streitmacht
der deutschen Innenpolitik, sagt Haupt- aufgaben für den neuen Luxem- burgs Juncker voraus,
Prozent
Europaskeptiker Edmund Stoiber,
sogar Hohen Reprä- sentanten der bald
„dannein neues
bildet Wir-Gefühl: w ir Eu-
sich
w er- den heute in Brüssel Gemeinsamen Außen- und ropäer“. Dirk Koch
gemacht. Sicherheitspolitik (Gasp), Javier

136 der spiegel 52/1999

Depoimento de Jean-Claude Juncker ao Der Spiegel. O trecho traduzido acima está logo no primeiro
parágrafo.

Como observa o jornalista Adrian Hilton:

“As nações européias devem ser guiadas rumo a um super-Estado sem que suas
populações compreendam o que se passa. Isso pode ser obtido por etapas sucessivas, cada
qual disfarçada como tendo um propósito econômico, mas que eventual e
irreversivelmente levará à federação” (citado por Huizinga, p. 33).

Se Magnoli não fica incomodado com aquela falta de transparência por parte da elite
globalista, o problema é dele. Mas que não se valha dessa indiferença para difamar
aqueles que, com toda a razão, o fazem. É contra essa realidade, afinal, que os
"cavaleiros do nacionalismo" têm se levantado. Se as nossas próprias autoridades —
eleitas! — estão longe de ser grande coisa, só nos faltava ter de aturar o cinismo e a
arrogância de potestades supranacionais.

https://medium.com/@flaviogordon/a-internacional-nacionalista-contra-o-globalismo-7bd93fbd02b2 18/22
31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

. . .

Depois de tudo o que vimos até aqui, não há como não julgar indesculpável a tentativa
de Magnoli de deslegitimar e caricaturar grosseiramente uma preocupação tão
razoável frente a um poder que, desde uma altura olímpica, tanto tem impactado a vida
de milhões e milhões de pessoas ao redor do mundo, sem que a elas sejam dados os
meios de constituí-lo, fiscalizá-lo e, eventualmente, revogá-lo. Afinal, as autoridades
globalistas não são sujeitas a impeachment!

A atitude do sociólogo parece ainda mais lamentável — mais realista que a do rei —
quando se nota que até mesmo alguns próceres do globalismo reconheceram o
problema da representatividade política no projeto de governança global. É o caso do
já mencionado Pascal Lamy:

"Quais são, então, os desafios específicos para a governança global? (…) Dado que a
legitimidade depende da proximidade do relacionamento entre o indivíduo e o processo
decisório, o desafio da governança global é a distância. Os outros desafios de
legitimidade são os assim chamados déficit democrático e déficit de fiscalização, que
emergem na ausência de meios pelos quais os indivíduos possam questionar o processo
decisório internacional (…) Se há uma área na qual a Europa não tem tirado boas
notas, é provavelmente no terreno da legitimidade. Temos assistido a uma crescente
distância entre as opiniões públicas na Europa e o projeto europeu…"

WTO | News - Speech - DG Pascal Lamy - Lamy sees need for "right
global governance" to meet global…
Lamy sees need for "right global governance" to meet global challenges -

www.wto.org

Simplesmente não é concebível que Magnoli desconheça especificamente os efeitos das


políticas globalistas sobre o Brasil, até porque ele é autor de uma obra relevante acerca
do assunto. Refiro-me a Uma Gota de Sangue: História do Pensamento Racial. Aí,
Magnoli descreve com detalhes o papel da Fundação Ford (FF) no fomento artificial do
neo-racialismo brasileiro, que, idealizado por acadêmicos subvencionados, culminou
na adoção generalizada de políticas de ação afirmativa contrárias à tradição identitária
nacional, centrada na mestiçagem antes que no binarismo negro/branco. Nas palavras
do autor:
https://medium.com/@flaviogordon/a-internacional-nacionalista-contra-o-globalismo-7bd93fbd02b2 19/22
31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

“A difusão internacional do multiculturalismo foi interpretada pelos sociólogos franceses


Bourdieu e Wacquant como 'uma verdadeira globalização das problemáticas
americanas'. A ação da FF no Brasil atesta a agudeza desse diagnóstico. As subvenções
da Fundação replicaram nas universidades brasileiras os modelos de estudos étnicos e de
'relações raciais' aplicados nos EUA, e consolidaram uma rede de organizações
racialistas que começaram a reproduzir os discursos e demandas das similares afro-
americanas".

Gota de Sangue, Uma


Há 100 mil anos, poucas dezenas de seres humanos saíram da África. Seus
descendentes, adaptando-se aos diferentes…
editoracontexto.com.br

É a esse tipo de atuação política de cima para baixo, que não hesita em violar valores e
tradições culturais, que os críticos dão o nome de "globalismo". Nada muito difícil de
entender, certo?

Mas, como vimos, quer trate do anti-semitismo, quer do racialismo, Magnoli parece
mesmo ter o hábito de não levar muito a sério o que escreve. É como se, uma vez
publicadas as informações contidas em seus textos, elas se tornassem um corpo
estranho à inteligência do autor, incapaz de extrair-lhes as devidas consequências.

Não há, entretanto, nada de sui generis naquela sua postura. Esse senso frouxo de
responsabilidade autoral é uma característica comum a um tipo particular de
intelectual, surgido pela primeira vez na história nos clubes e salões do Iluminismo
francês. Ali, no seio daquela petite troupe de philosophes, naquela "igreja invisível" (a
expressão é de Diderot) de iluminados distantes da canaille ("o populacho", no
recorrente vocabulário de Voltaire), desenvolveu-se uma forma de personalidade
intelectual mais devotada à formação da opinião influente do que à compreensão da
realidade.

Eis como o grande historiador Augustin Cochin — morto nos campos de batalha da
Primeira Guerra — descreve o surgimento do fenômeno:

“Eu não falo daqueles outros, dos bons vivants de 1730, mas dos enciclopedistas da era
seguinte. Estes são graves: como não sê-lo quando se está certo de que o alvorecer do

https://medium.com/@flaviogordon/a-internacional-nacionalista-contra-o-globalismo-7bd93fbd02b2 20/22
31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

espírito humano data do seu século, da sua geração, de si próprio? A ironia substitui a
alegria; a política, os prazeres. A brincadeira vira profissão; o salão, um templo; a festa,
uma cerimônia; o clube, um império, do qual lhes mostrei o vasto horizonte: a república
das letras.

E o que se faz naquele país? Nada além, antes de tudo, do que se fazia no salão de
Madame Geoffrin: conversa-se. Vai-se ali para falar, não para fazer; toda essa agitação
intelectual, esse imenso tráfico de discursos, escritos e correspondências não conduz ao
mais mínimo começo de trabalho, de esforço real. Trata-se apenas de ‘cooperação de
idéias’, de ‘união pela verdade’, de ‘sociedade de pensamento’.

Ora, não é indiferente que um tal mundo se constitua, se organize e dure: pois seus
habitantes se reúnem à força das coisas postas sob um outro ponto-de-vista, sob outra
inclinação, diante de outras perspectivas que não as da vida real. Esse ponto-de-vista é o
da opinião, ‘a nova rainha do mundo’, disse Voltaire, que saúda a sua chegada na
cidade do pensamento. Enquanto que no mundo real o juiz de todo pensamento é a
prova, e sua meta o efeito, nesse mundo o juiz é a opinião dos outros, e sua meta, a
confissão. E se, naquele mundo, o meio é a realização, o “trabalho”, neste é a expressão,
a fala. Todo pensamento, todo esforço intelectual só existe aqui mediante o
consentimento. É a opinião que faz o ser. É real o que os outros vêem, verdadeiro o que
dizem, bom o que aprovam. Assim, a ordem natural é invertida: aqui a opinião é causa, e
não, como na vida real, efeito. O parecer toma o lugar do ser; o dizer, o lugar do fazer”.

- COCHIN, Augustin. Les Sociétés de Pensée et la Démocratie: Études d’Histoire


Révolutionnaire. Paris: Plon-Nourrit et Cie., 1921. pp. 9–10.

Augustin Cochin (1876–1916)

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31/07/2019 A Internacional Nacionalista contra o Globalismo: Uma Resposta a Demétrio Magnoli

O pertencimento de Magnoli àquela igreja invisível — onde "é real o que os outros
vêem, verdadeiro o que dizem, bom o que aprovam", segundo a formulação de Cochin
— fica evidente quando prestamos atenção a um detalhe de sua crítica aos
nacionalistas contemporâneos. Um minúsculo detalhe, perdido em meio à ruidosa
vizinhança de palavras, mas que no entanto parece trair a real motivação do autor para
haver se lançado à inglória tarefa de deitar falação sobre um tema cuja substância
desconhece. Ele se encontra no trecho já citado de seu artigo. Ei-lo:

"Alheios às gargalhadas do público letrado, eles [os neotrumpianos] acusam a ‘elite


globalista’ (Obama, Merkel, Soros) de nutrir tendências ‘esquerdistas’ e ‘socializantes’.

Nem vale a pena entrar no mérito das "tendências 'esquerdistas' e 'socializantes'" de


nomes como Obama (que conduziu a América rumo à extrema-esquerda) e Soros (o
principal patrocinador de movimentos e organizações de esquerda ao redor do planeta,
incluindo o brasileiro Mídia Ninja). Essa é mais uma daquelas obviedades que Magnoli
omite dos seus leitores.

O aspecto curioso é que, na ânsia de difamar os "neotrumpianos", a única idéia que lhe
ocorreu foi a de transformá-los em objeto das "gargalhadas do público letrado". Chega
a ser quase enternecedor, e um tanto embaraçoso, perceber o quanto de sua alma o
sociólogo expõe nesse artifício, deixando nos leitores a impressão de estarem
invadindo-lhe a privacidade.

A reverência do homem pelo "público letrado" é tamanha, que ser alvo de suas
gargalhadas parece-lhe o mais doloroso dos castigos. Houvesse Dante feito de Magnoli
um personagem da Divina Comédia, decerto dedicar-lhe-ia um círculo todo especial do
Inferno, formado por uma multidão de letrados a gargalhar. No tribunal mental do
nosso cavaleiro do anti-nacionalismo, o juiz é a opinião dos pares acadêmicos. E,
perante tão rigoroso magistrado, compreende-se enfim que Demétrio Magnoli tenha
optado por sacrificar a própria inteligência na redação de um artigo tão ruim.

Nacionalismo Globalismo Populismo Onu União Europeia

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