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O Santuário e o culto hebraico

Elias Brasil de Souza (ebsouza_2000@yahoo.com)


Anotações de Michelson Borges

Pentateuco

Dois capítulos sobre a Criação e 45 sobre o santuário.

A localização geográfica do plano da salvação está no santuário. No começo de Gênesis


não há santuário, mas há altares (Noé, Abraão, Jacó...). Para alguns eruditos, a Bíblia
teria começado com o santuário: Jardim do Éden (ali Deus Se comunicava). Depois da
queda, Adão e Eva ofereciam sacrifícios à porta do Jardim.

Ezequiel descreve o templo escatológico como tendo um rio, o que também é dito da
Nova Jerusalém. Pouco antes do Dilúvio, Deus levou o Éden para o Céu (EGW).

O sacrifício é o rito fundamental do santuário. Com a construção do tabernáculo, Deus


deu orientações formais para o serviço. Depois: Salomão, Zorobabel, Herodes. Ali Cristo
Se apresenta como o cumprimento das cerimônias. O livro de Hebreus elabora o assunto
do santuário. Apocalipse também. Portanto, o santuário está presente em todas as
Escrituras. O amor de Deus Se reflete nesses ritos.

Êxodo 25 a 40 – Orientações para a construção


Levítico – Ritos, cerimônias e ofertas
Números – Também menciona o santuário
Deuteronômio 12 – Deus escolheria um lugar para o santuário

Êxodo 24 – Deus orientou que fossem delimitados limites no Sinai. Arão, Nadabe e
Abiu, mais os 70 vão até certo ponto, além do qual vai Moisés e recebe todas as
instruções.

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Na estrutura do Sinai há gradações de santidade:

Povo – Arão e outros – Moisés

Santuário hoje dá a noção de lugar aonde vamos para encontrar Deus. Na Bíblia, é o lugar
onde Deus vem para encontrar o povo. O santuário nos lembra do concerto e da Criação.
O santuário representou para o povo uma espécie de retorno ao Éden.

Ex 25 a 40 – “Disse o Senhor a Moisés” (25:1). Essa expressão está distribuída ao longo


do livro (sete ocasiões): 30:11, 17, 22; 31:1, 12; 30:34. No 31:12, Deus fala do sábado.
“Eco da Criação.” O santuário é a recriação. Deus não vinha mais ao Jardim, mas ao
santuário que, por causa do pecado, tinha restrições quanto à presença humana.

Ex 40:19, 21, 23, 25, 27, 29, 32 – “Segundo o Senhor ordenara.”

33 – “Moisés acabou a obra.” Fim da Criação: Gn 2:3 (“Deus acabou a obra”).

Livros históricos: Josué a Crônicas

Duas obras históricas no AT:

1. Josué (Rute) a 2 Reis – História deuteronomista (entrada do povo na terra prometida e


vai até a libertação do rei Joaquim)
2. Crônicas a Neemias (Ester) – História cronista (começa com a Criação e vai até 444-
450 a.C.

Josué a 2 Reis está contido em 1 Crônicas a Neemias.

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1. Mensagem ao povo que estava no exílio, desanimado, achando que Deus os havia
abandonado, violado a aliança. Mas Deus mostra que foi o povo que falhou.

Dois grandes pilares de Deuteronômio:

Dt 6:4 – “Ouve, ó Israel, o Senhor nosso Deus é o único Deus” (Shemá).


Dt 12 – Um só lugar de culto.

Os reis são qualificados como bons ou maus com base nesses dois princípios. O povo foi
para o exílio por ter abandonado essas duas verdades.

O santuário está presente, nem sempre de forma explícita, nos livros históricos.

Três instituições
1. Dinastia davídica
2. Terra prometida
3. Templo

O exílio provocou o colapso dessas instituições: o rei foi preso, a terra foi tomada e o
santuário foi arrasado.

2. (1 Cr a Nm) Crônicas não trazem muitas informações sobre o reino do norte (Israel),
mas trazem informações sobre Judá (reis davídicos). Esse é o foco. Têm um contexto
histórico diferente da “história deuteronomista”. O problema agora era quanta atenção
dedicar ao templo e não as dúvidas do exílio. Crônicas colocam grande ênfase no templo
e em Davi como rei (preparou o caminho para a construção do templo).

Crônicas dedicam mais tempo ao reis que se dedicaram mais ao templo (Davi, Salomão,
Ezequias e Josias, basicamente).

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História cronista anima para a reconstrução do santuário. Assim, o santuário permeia
todas essas obras.

Deuteronomista – Crítica aos reis


Cronista – Elogio aos reis

Livros poéticos

Jó, Pv, Ct, Ec (livros de sabedoria) – Como viver sabiamente em todas as áreas da vida.
Não há referências ao Êxodo ou Sinai. Foram compostos para atingir uma audiência
global, universal. Há alusões sutis ao templo.

Salmos: 150 capítulos, a maioria dos quais trata do templo. Hinário do templo. Sem o
templo não haveria salmos.

Profetas

Mensagem de advertência para livrar o povo da apostasia e leva-lo à verdadeira adoração


(Is 2). Jerusalém é importante por causa do templo. Isaías 6: chamado de Isaías no
templo. “Casa se encheu de fumaça” – santuário terrestre. Em algum momento há uma
interação entre o santuário celestial e o terrestre.

Jeremias – Viveu na época que precedeu a destruição do templo.

Ezequiel – Maior preocupação com o templo. Dez dos primeiros capítulos tratam de um
juízo investigativo. Tem visão do trono de Deus se movendo, vindo do norte e vai até o
templo, onde a glória de Deus entra. Ordem para marcar os fiéis com um “sinal” (tav,
última letra do alfabeto hebraico, que era grafada como uma cruz ou x). Vislumbre do
assinalamento do fim, mencionado no Apocalipse.

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Cap. 10:18, 19 – Julgamento de Judá e abandono do templo por Deus e pelos querubins
(o templo é entregue aos babilônios). A glória foi para o Monte das Oliveiras até poder
voltar para o templo. Isso se cumpriu na vinda de Jesus: “Habitou entre nós” (glória –
shekinah). Jesus era a glória de Deus que voltaria ao templo.

Profetas menores – Templo aparece em Miquéias 1:1 (“Desde o Seu santo templo”;
santuário celestial, pois Deus desce); 2:7 (“Oração no santo templo”).

Ageu, Zacarias (sumo sacerdote), Malaquias (anjo do Senhor para purificar).

AT começa e termina com o santuário.

Lv 17:11 – Um dos textos mais profundos sobre o santuário.

Do templo brotava água. Jesus é a fonte de água viva (água e sangue saíram do lado de
Jesus).

Êxodo e Levítico

Ex 25-31; 35-40; Levítico; Números (parte) – Código sacerdotal, instruções aos


sacerdotes de como proceder em relação aos serviços do santuário.

1. Há quem os considere inferiores aos demais textos das Escrituras, por serem
associados ao formalismo judaico (e até romano). Teólogos protestantes (justificação pela
fé) têm essa visão e esses textos foram ignorados por algum tempo, o que não fazem os
adventistas.

2. Outro fator que contribuiu para desvalorizar o culto hebraico foi uma interpretação
estreita da crítica profética ao culto (“Deus não quer sacrifícios, mas o

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coração/obediência”). Os profetas não estão criticando o culto, mas a motivação para
realizá-lo (formalismo e hipocrisia). “O abuso não deve impedir o uso.”

3. O estilo literário dos textos cúlticos (procedurais) tem sido considerado pedante e
repetitivo (“manual de instruções”, coisa “chata”).

4. Período vitoriano (intenso moralismo, séc. 19 e 20). O culto hebreu passa a ser
estudado do ponto de vista puramente antropológico e comparado a outros cultos
(xamanismo, etc.). Um “processo evolutivo” até chegar aos profetas. Tudo o que vinha
antes era considerado sem valor (civilização primitiva; métodos primitivos: sacrifícios,
sangue). O NT seria a “religião evoluída”, os ritos do AT seriam parte de uma religião
primitiva (acomodação divina temporária às superstições humanas).

O santuário é o palácio divino no meio do povo. Deus estabeleceu regras/leis pelas quais
o povo deveria se aproximar dEle. São um reflexo da presença de um Deus santo entre os
pecadores, até mesmo no que diz respeito a aspectos involuntários (doença, menstruação,
etc.). Princípio básico: o Deus santo que habita no meio do povo ama a vida e detesta a
morte. Aí dá para encaixar diversas leis/regras que aparecem no AT, como a presença de
fungo nas casas, cadáveres, lepra e outras coisas que evocam a morte. A religião egípcia
era fascinada pela morte; a hebraica, pela vida (Pv 8:36). “No Meu santuário não quero
nada relacionado com a morte.” Paradoxo: o sacrifício é morte. O Senhor assume a
morte, mas é o Deus da vida.

No Pentateuco, há dois tipos de impurezas: essencial (Lv 11, animais imundos, criados
assim; não se pode remover a impureza) e adquirida (a pessoa torna-se pura pela
passagem do tempo ou com o oferecimento do sacrifício, no caso das mais graves).

As quatro dimensões do culto hebraico

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1. Espacial (Ex 25-27; 30-31; 37-40; Nm 1-4). O espaço físico do culto. Orientações
quanto à construção. Pátio de 50 côvados x 100 côvados (1 côvado = 45 cm). A frente
ficava voltada para o leste. Há gradação de materiais, dos mais rústicos aos mais
preciosos, à medida que se aproxima do trono de Deus.

2. Pessoal. Gradação de santidade: pátio, santo e santíssimo (Ex 28-29; 38-39; Lv 8-10;
Nm 5-6). As pessoas que participavam dos serviços. No sistema patriarcal era o chefe da
família. Com a construção do santuário foi necessário pessoal especializado: levitas,
sacerdotes (grupo específico da tribo de Levi) e sumo sacerdotes.

3. Temporal. (Cf. Lv 23 e 16.) Tempo cúltico também mostra uma gradação. O yon
kippur (dia 10 do sétimo mês) era o mais sagrado. Havia o sábado semanal e os dias das
festas. E, por fim, os dias comuns de trabalho. Assim como há um espaço santíssimo, há
um tempo (Dia da Expiação) e uma pessoa (sumo sacerdote) santíssimos.

[Jacob Milgrom desenvolveu a teoria de que o sangue do sacrifício purificava somente o


santuário e não o pecador, e em apenas uma fase. Expiação impessoal. Anula a expiação
em duas fases.]

4. Ritual. Sacrifícios (Lv 1-5): holocaustos (manhã e tarde), oferta de manjares (o


sacerdote poderia comer), ofertas pacíficas (o ofertante poderia comer), ofertas pelo

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pecado (purificação) e oferta pela culpa (como se o pecador estivesse devolvendo alguma
coisa a Deus).

Gradação: oferta totalmente queimada (holocaustos exclusivos para Deus), ofertas das
quais o sacerdote poderia comer (manjares), ofertas das quais o pecador poderia comer
(pacíficas).

Ofertas pelo pecado (Lv 4): pelo sacerdote, pela congregação, pelo príncipe, pela pessoa
comum.

No caso dos dois primeiros (sacerdote e congregação), era oferecido um novilho (animal
mais caro). O sangue do animal era colhido no pátio, levado ao local santo e era
aspergido sete vezes diante do véu (no chão), sendo depois marcadas as pontas do altar de
incenso com o sangue (as pontas apontam para o santuário celestial); depois o sacerdote
voltava e derramava o sangue na base do altar de holocaustos.

No caso dos príncipes e das pessoas comuns, o sangue não era levado para o santuário,
mas ficava no pátio e era aplicado às pontas do altar de holocausto.

Lv 6:26, 29, 30; 10:17, 18: ofertas levadas para dentro do santuário (pelos sacerdotes e
pelo povo) não eram comidas. As que não eram levadas para o santuário (príncipes e
pessoas comuns), deveriam ser comidas pelos sacerdotes, pois em assim fazendo eles
assumiam a culpa (responsabilidade) do pecador. (Lv 4:20, 26 e 31: “...este [pecado] lhe
será perdoado” [voz passiva]. Perdoar = salah, verbo que aparece apenas associado ao
perdão de Deus. Não é o rito e/ou o sacerdote que perdoam, mas somente Deus. Os
católicos acreditam que o rito tem valor em si mesmo (obras).

No ato da confissão, o pecador saía perdoado, mas o pecado prosseguia seu “caminho” e
permanecia registrado na história. O pecador era “liberado” e Deus, em última instância,
assumia a culpa (paradoxo: Deus deixa clara Sua pureza com todos os cuidados que

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deveriam ser tomados para se aproximar dEle, mas se torna “impuro” ao assumir a culpa
do pecador [por isso Jesus teve que morrer]).

Procedimentos cúlticos

Ofertante: impor a mão e imolar o animal

Sacerdote: colher e manipular o sangue

Purificação e contaminação

Pecador, animal, sangue, sacerdote, santuário (o pecador sai purificado e o santuário,


contaminado).

Por que não comer gordura? O melhor vai para Deus; era combustível; e faz mal à saúde.

Ritos do Dia da Expiação (Lv 16)

[Ler capítulo “A estrutura de Levítico”, apostila de Shea. Ver justificação e santificação


no livro e o Dia da Expiação como divisor entre ambas as partes do quiasma. Deus
sempre salvou e justificou pela fé.]

O Dia da Expiação era o ápice de todo o sistema sacrifical.

Procedimentos preliminares

Provisão de animais: para Arão um novilho e um carneiro e para a congregação dois


bodes e um carneiro. Ofertas de purificação / pelo pecado (hattat).

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Vestimentas: túnica, calças, cinto e mitra – tudo de linho. Roupa simples, sem os
paramentos, para que a glória de Deus se sobressaísse.

Não bastava lavar as mãos e os pés nesse dia, o sumo sacerdote deveria tomar banho.

Primeiro ato: matar o novilho e levar o sangue para o lugar santíssimo (antes/ou ao
mesmo tempo tendo levado o incensário até lá, isso para que a fumaça cobrisse o lugar e
o sumo sacerdote não o visse). O sangue era aspergido sobre o propiciatório (indicando
que era sobre a lei). Depois aspergia sete vezes entre a arca e o véu, ainda no santíssimo.
E saía do santuário.

Depois, tomava o sangue do bode para o Senhor e fazia o mesmo processo que havia
feito com o sangue do novilho. E novamente saía do santuário.

Em seguida, ele tomava o sangue do novilho e aspergia sobre os chifres do altar de


incenso e depois aspergia sete vezes esse sangue diante do altar de incenso.

Por último, os sangues do bode e do novilho eram misturados e eram marcadas as pontas
do altar de holocausto.

No serviço diário, o serviço era de fora para dentro. No Dia da Expiação, era de dentro
para fora.

Purificação: santíssimo, santo e altar de holocausto (arca, altar de incenso e altar de


holocausto)

Bode Azazel (Lv 16:21). O processo não termina com a purificação, mas com a justiça
sobre aquele que é o responsável por todos os males. Esse bode funciona como
“caminhão de lixo”, levando o que de ruim havia em Israel para o deserto. Um bode
pertence ao Senhor, o outro pertence a Azazel.

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Cristo ou Satanás? De acordo com Barnabé, Tertuliano e Calvino, é Cristo. De acordo
com 1 Enoque, Apocalipse de Abraão e a literatura rabínica é Satanás.

- Bode Azazel, no contexto de Lv 16, é um rito de eliminação. A expressão hebraica


la’azazel indica posse (Lv 16:8).
- As frases paralelas “para Azazel” e “para YHWH” indicam contraste ou oposição (Lv
16:8).
- O bode para Azazel não era sacrificado; não havia derramamento de sangue (Lv 16:10).
- O bode efetuava uma purificação não sacrifical, pois funcionava apenas como um
veículo para remoção de pecados do acampamento israelita; “caminhão de lixo” (Lv
16:10).
- A tradição judaica identifica Azazel como a fonte demoníaca do mal (1 Enoque 9:6;
10:4, 5). Não é invenção adventista, portanto.

Ritos de conclusão (Lv 16:23, 24). Quem lida com esses animais, agora impuros, tem
que se purificar, coisa que não ocorria com quem lidava com os animais sacrificados em
dias comuns.

O Santuário Celestial no AT

Do ponto de vista bíblico, o santuário celestial é o “quartel general” de Deus, e sempre


esteve lá. Mas havia uma interconexão entre os santuários celestial e terrestre.

Ex 24:9-11 – Com base nos termos usados aqui, pode-se concluir que seja uma visão do
santuário celestial.

Ex 25:9; 25:40 – Modelo = tabnit – Não significa apenas lay-out ou planta, mas sugere
que seria uma referência ao próprio santuário celestial ou um modelo tridimensional.
Tabnit vem de banah, construção. Se tabnit é o próprio santuário ou um modelo
tridimensional, não há certeza. Provavelmente Deus tenha mostrado a Moisés o próprio

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santuário celestial (ou um vislumbre dele) e depois uma maquete para que ele usasse
como modelo.

Santuário Celestial (antítipo)

Tabnit (modelo 3D)

Tabernáculo (tipo)

Dt 26:15 – Os hebreus nunca conceberam Deus como estando restrito ao santuário


terrestre. Ele está no Céu e habita a Terra.

2Sm 22:7-10 – Davi é o autor do texto e em seu tempo não havia templo ainda. Só pode
ser uma referência ao celestial. Assim como Jonas, ele ora a Deus em Seu santuário
celestial.

1Rs 8:30-32 – Salomão reconhece que Deus, de fato, habita no santuário celestial.
Quando o povo orasse voltado para “este” lugar (templo terrestre, onde estava o
Shekinah), Deus ouviria do “lugar da Tua habitação no Céu”, ou seja, do santuário
celestial. Aí está a conexão Céu-Terra. Uma interação dinâmica.

2Cr 30:27 – Os levitas oram no templo e a oração chega até o Céu (santuário).

Is 14:12-15 – “Monte da congregação” é referência ao santuário celestial. O pecado


começa no Céu com um ataque ao próprio santuário e ao longo do grande conflito os
santuários terrestre e celestial têm sido alvo de outros ataques do inimigo. O ponto focal é
adoração a quem.

Ez 28:11-18 – V 2, príncipe; v 12, rei (o poder espiritual que estava por trás do príncipe).
As expressões associadas ao “rei” não poderiam ser associadas a um ser humano.
“Estavas no Éden”, referência às realidades celestiais. (“Éden” = lugar de delícias, de

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prazeres, onde Deus está). Esse ser estava coberto de pedras preciosas, como os
sacerdotes na Terra, o que significa que Lúcifer ocupava posição de destaque no
santuário celestial. “Querubim da guarda/cobridor” (sokek) é a mesma palavra usada para
os querubins de ouro da tampa da arca. Lúcifer estava diante do trono de Deus. V 15 em
diante descreve a queda de Lúcifer. V 16: “comércio” (rekul) = fofoca, lobby maléfico. V
18: profanaste o santuário.

Na raiz do grande conflito está a luta pela conquista do santuário (com a ponta pequena,
Satanás domina ideologicamente o santuário).

Is 6:1-8 – Referências aos santuários celestial e terrestre. Nos primeiros versos há uma
cena no Céu. Depois são mostrados os efeitos do templo celestial no templo terrestre. No
fim, aparece a intercomunicação entre os templos.

Mq 1:2, 3 – “O Senhor desde o Seu santo templo... e descerá...”

Sl 11:4 – “O Senhor está no Seu santo templo; o trono do Senhor está nos céus...” (texto
relacionado com o juízo investigativo e depois executivo sendo realizados a partir do
santuário celestial).

Sl 150:1 – “Louvai ao Senhor! Louvai a Deus no Seu santuário; louvai-O no firmamento


do Seu poder.” Do verso 3 em diante aparecem os instrumentos do santuário terrestre. No
fim manda que todos os seres criados louvem a Deus (os dois santuários são envolvidos).

Relação entre ambos os santuários:

1. Correspondência funcional (funções que são executadas nos dois)


2. Correspondência estrutural (tabnit)
3. Interação dinâmica (um afeta o outro, funcionam em harmonia, um legitima o que
ocorre no outro)

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O episódio da Torre de Babel fornece um modelo de como Deus lida com o pecado

Gn 11 – Microcosmo do juízo investigativo. V 5: “Então desceu [do Céu] o Senhor...” E


Ele faz uma avaliação da situação. V 7: Ele desce segunda vez para executar a sentença.

Ver também Ez 1-11

O santuário no livro de Daniel (contexto do conflito cósmico)

Vista geral do livro: escrito em hebraico e aramaico.

1a – 2:4a – hebraico
2:4b – 7:28 – aramaico (língua universal da época)
8 – 12 – hebraico (capítulos sobre o santuário, para o povo de Deus, na língua deles)

Caps. 2-7 – estrutura literária

2 – Quatro impérios mundiais


3 – Adoração / livramento
4 – Juízo / julgamento de Deus (sobre Nabucodonosor)
5 – Juízo / julgamento de Deus (sobre Belsazar)
6 – Adoração / livramento
7 – Quatro impérios

O conceito de julgamento de Deus percorre toda a seção aramaica, o que combina com o
nome do livro (Deus julga / Deus é juiz).

Conceitos cúlticos de espaço

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“Montanha” (habitação de Deus). A noção básica dos povos antigos era de que os deuses
habitavam o topo das montanhas, lugar onde céu e terra se encontravam.

A palavra/noção “santuário” aparece nos caps. 8-12 (8:14; 11:9; 9:17; 11:24; 11:31).

“Templo”. O livro começa mencionando o templo (1:2, utensílios da casa de Deus). O


culto é cessado por Babilônia. Depois, no cap. 4, esses utensílios são profanados e Deus
dá um basta. Conflito Babilônia x Jerusalém.

“Cidade” (9:16-25). Menção a Jerusalém. A cidade só tem sentido quando relacionada


com o templo.

“Trono” (5:20; 7:9).

Montanha, santuário, templo, cidade, trono

Conceitos cúlticos temporais

Dn 7:25 – tempo (zimnin = pontos de tempo que se sucedem numa linha; idéia pontilhar;
noção básica: sábado).

Dn 9:21 – sacrifício da tarde

Dn 6:10 – orava três vezes ao dia

Dn 1:12, 14, 15 – Daniel queria evitar contaminação (outro conceito cúltico)

Dn 9:24 – 70 semanas

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Daniel 7 (visão dada em 553 a.C.)

Dividido em prosa (descreve eventos ocorridos na Terra) e em poesia (eventos celestiais).

V 2 a 8 prosa; v 9 e 10 poesia; v 11 e 12 prosa; v 13 e 14 poesia; v 15 a 22 prosa; v 23 a


27 poesia.

V 13 e 14 – “Nas nuvens” evoca o Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote entrava no


santíssimo cheio da fumaça de incenso.

Somente depois do período dos quatro impérios mundiais aparece a cena do juízo no Céu.
No fim desse juízo, o reino de Deus é implantado.

Daniel 8

Os animais de Dn 7 são imundos, ao passo que os do cap. 8 são os que eram utilizados no
santuário.

Iconicidade – Propriedade que os textos ou qualquer outro signo lingüístico têm de


representar seu objeto de forma concreta. Quanto mais vivas as imagens, mais icônicas
elas são.

Iconicidade de Dn 8:9-14 (imagens cúlticas / do santuário)

1. Quatro chifres (quatro pontas do altar)


2. Carneiro e bode (Dia da Expiação)
3. Dois seres divinos

Obs.: Três visões paralelas:

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Dn 8:9 – “Para as quatro brisas do céu” (e de uma [brisa] deles [céu]).

Termos cúlticos em 8:9-14

V 10, 13 – exército (tsaba’) – Termo usado no contexto do santuário (Nm 4:3, 23, 30,
levitas)
V 11 – Príncipe (sar) (Js 4:14; Dn 10:21; 12:1; Ed 8:24-29; 10:5; 2Cr 36:14)
V 11, 12, 13 – contínuo (tamid) (Ex 29:42; 25:30; 27:20)
V 11 – lugar de Seu santuário (mekon miqdashô) (Ex 15:17; Sl 89:14 [mekon kis’eka])
V 12, 13 – transgressões (peshaim [pesha’] (Lv 16: 16, 21)
V 13, 14 – o santuário (qodesh) seria purificado (Lv 16:1)
V 14 – purificado / restaurado / justificado / vindicado (nitsdaq) (Sl 24:4, puro = taher).
O verbo aqui é mais amplo que o usado em Lv 16 (taher), pois nitsdaq descreve uma
ação que ocorre no santuário celestial.

Inter-relação entre Dn 7 e 8

Leão = Babilônia
Urso = Medo-Pérsia = carneiro
Leopardo = Grécia = bode
4 cabeças do leopardo = 4 chifres do bode
Animal não identificado = atividade horizontal do chifre pequeno
Chifre pequeno = atividade vertical do chifre pequeno
Julgamento celestial = santuário celestial

Daniel 9:24 – Estrutura literária

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70 semanas determinadas
Sobre o teu povo E sobre a tua santa cidade
Para extinguir a transgressão Para trazer a justiça eterna
Para selar (dar fim) os pecados Para selar (cumprir) a visão e a profecia
Para expiar a iniqüidade Para ungir o santo dos santos

Organização literária de Dn 9:24-27

Vinda do Messias
Reconstrução da cidade
O Messias é cortado
Destruição da cidade
O Messias extingue os sacrifícios
Destruição da cidade

70 semanas analisadas

Messias: término do pecado mediante a expiação


Cidade: introdução da justiça eterna (cruz em Jerusalém; santuário celestial)

Eventos relacionados com o Messias Eventos relacionados com a cidade


(Durante as 70 semanas) (Relacionado com as 70 semanas)
Chegada do Messias Jerusalém restaurada
Morte do Messias Jerusalém destruída pelo príncipe
Aliança do Messias O destruidor de Jerusalém destruído
Sacrifícios interrompidos pelo Messias

O santuário em Hebreus

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Foi escrito para judeus que estavam tentados a voltar à velha aliança, aos ritos de
purificação e do templo. É uma epístola exortativa. O objetivo central não é descrever o
ministério de Cristo no santuário celestial. É mostrar que Cristo é melhor:

- Que os anjos
- Que Moisés
- É a melhor revelação de Deus
- Melhor sacerdote (ordem de Melquisedeque)
- Serve em um melhor santuário
- Oferece um sacrifício melhor
- Provê melhor sangue

Hb 8:1, 2 – Referência mais clara ao santuário celestial, núcleo do qual emerge a crença
adventista no santuário celestial.

Hb 6:19, 20 – “Além do véu” (katapetasma). Belenger dizia que esse era o véu que dava
acesso ao santíssimo, lançando por terra o ministério em duas fases. Ele tentou mostrar
que katapetasma sempre se referia ao segundo véu. Mas esse não é um termo exclusivo
do lugar santíssimo. Além do mais, aqui Paulo não está preocupado em fazer distinção de
lugares no santuário. O que ele quer é deixar claro que qualquer um tem acesso ao trono
da graça a partir da morte de Cristo. Esse é o objetivo principal de Hebreus. Cada crente é
um sacerdote. Belenger errou ao focalizar apenas um verso.

Hb 9:24, 25 – Ministério do Dia da Expiação. Alguns usam este texto para dizer que após
a cruz Jesus entrou já no santíssimo. Mas é bom lembrar que o sangue de Cristo cumpriu
Páscoa, a aliança, o diário e o Dia da Expiação. O autor de Hebreus está dizendo que esse
sangue é o melhor, não está tratando de compartimentos do santuário.

Hb 10:1-4 – “Ano após ano”, “todos os anos”, “de touros [novilhos] e de bodes” (Dia da
Expiação). A intenção, novamente, é mostrar que o sangre dos bodes e novilhos
representava o de Jesus, o sangue melhor.

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Hebreus toma o santuário como um todo e o autor não está preocupado em fazer
distinção de serviços e lugares. “A argumentação de Hebreus com relação aos sacrifícios,
santuários e Dia da Expiação está moldada para retratar a magnificência do cristianismo –
Jesus Cristo, nosso Sumo sacerdote, com um sacrifício realizado de uma vez por todas”
(William G. Johnson).

A Bíblia e EGW apresentam o conceito de um trono móvel de Deus. Ele não pode ser
confinado a espaços e não deixa de ter acesso a qualquer lugar.

“Então um carro de nuvens, com rodas como flama de fogo, circundado por anjos, veio
para onde estava Jesus. Ele entrou no carro e foi levado para o santíssimo, onde o Pai Se
assentava. Então contemplei a Jesus, o grande Sumo Sacerdote, de pé perante o Pai. Na
extremidade inferior de Suas vestes havia uma campainha e uma romã, uma campainha e
uma romã. Os que se levantaram com Jesus enviavam sua fé a Ele no santíssimo, e
oravam: ‘Meu Pai, dá-nos o Teu Espírito.’ Então Jesus assoprava sobre eles o Espírito
Santo. Neste sopro havia luz, poder e muito amor, alegria e paz” (Primeiros Escritos, p.
55).

Hb 9:3, 4 – O altar de incenso pertence ao lugar santo ou santíssimo? Alguns


desconsideram a posição do santuário e dizem que o serviço feito nele se refere também
ao lugar santíssimo; sua fumaça invadia aquele lugar (explicação teológica). Outra
explicação, baseada na tradição judaica, diz que se arrastava o altar de incenso para o
lugar santíssimo até serem terminados os ritos (explicação geográfica).

O santuário e o Apocalipse

Tipologia: é o estudo de prefigurações divinamente determinadas (na forma de


pessoas/eventos/instituições) que apontam para seu cumprimento antitípico em Cristo e
nas realidades do evangelho realizadas por Cristo.

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Elementos básicos:

Histórico (o tipo tem que ser real e não apenas uma idéia que nunca aconteceu)
Profético (o tipo tem que prever algo)
Escatológico (alcança seu cumprimento nos eventos finais)
Cristológico (alcança seu cumprimento em Cristo)
Eclesiológico (alcança seu cumprimento na igreja)

Elemento histórico: realidades históricas, correspondência histórica, intensificação (do


tipo para o antítipo, que tende a ser mais amplo, superior que o tipo).

Elemento profético: apresentação antecipada (no tabernáculo já havia uma predição do


plano da redenção), intencionalidade divina (Deus quis que fosse assim), obrigatoriedade.

Elemento escatológico: cumprimento inaugurado (na pessoa de Cristo), cumprimento


apropriado (na vida da igreja; chuva temporã), cumprimento consumado (na consumação
escatológica; chuva serôdia).

Elemento eclesiológico: adoradores individuais, comunidade corporativa, sacramentos


(batismo, Santa Ceia).

Elemento cristológico: se cumpre em Cristo

Estrutura quádrupla da tipologia (Êxodo)

- Tipo no AT: o evento do Êxodo


- Primeiro advento de Cristo: o Êxodo de Cristo (Mt 2:15)
- Êxodo espiritual: Hb 4:2; 2Co 6:17
- Êxodo apocalíptico: Ap 15:1-3

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[Netser = rebento, renovo, tem a mesma raiz de Nazareno; Nazaré = terra do renovo (Is
11:1; Mt 2:23)]

Estrutura quádrupla da tipologia (santuário/templo)

Tipo no AT – o tabernáculo: Ex 25-40


Cristo no templo: Jô 1:14; 2:21; Mt 12:6
Igreja como templo: 1Co 3:16, 7; 2Co 6:16
Templo celestial: Ap 3:12; 7:15; 11:19; 21:3, 22

Esboço geral do Apocalipse

1. Ap 1-14 – Visões históricas


2. Ap 15-22 – Visões escatológicas

Imagens do serviço diário em Ap 1-8

1. Limpar o candelabro (Tamid [da Mishná] 3:9; cf Ap 1:12-20)


2. Grande porta se abre (Tamid 3:7; cf Ap 4:1)
3. Cordeiro morto (Tamid 3:7; 4:1-3; cf Ap 5:6)
4. Sangue derramado na base do altar (Tamid 4:1; Ap 6:9)
5. Incenso oferecido no altar de ouro (tamid 5:4; cf Ap 8:3, 4)
6. Cântico (Tamid 7:3; Ap 8:1)
7. Trombetas assinalam a conclusão do sacrifício (Tamid 7:3; cf 8:2-6)

Cenas do santuário

1:12-20 (1) Terra – foco na obra terrestre de Cristo (começa na Terra)


4-5 (2) Inauguração do santuário celestial
8:3-5 (3) Intercessão no santuário celestial
11:19 (4) Julgamento no santuário celestial

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15:5-8 (5) Cessação do ministério no santuário celestial
19:1-10 (6) Doxologia no Céu
21:1-22:5 (7) Terra – “Tabernáculo de Deus com os homens” (termina na Terra)

Sem o santuário, não se pode entender o livro do Apocalipse.

As festas de Israel

1. Páscoa (pesah, passar por cima. O anjo destruidor “passou por cima” dos filhos de
Israel. Dia 14 de nisã ou abib [março-abril])
2. Pães asmos (do dia 15 até o dia 22 não deveria haver fermento nas casas)
3. Primícias (primeiro dia da semana após o sábado pascal)
4. Pentecostes (50 dias após as primícias; símbolo da entrega da lei no Sinai)
[festas de primavera]
5. Trombetas (anunciar o Dia da Expiação; no dia primeiro do sétimo mês)
6. Dia da Expiação (décimo dia do sétimo mês [tishri])
7. Tabernáculos (15 a 22 de tishri)
[festas de outono]

Desdobramento antitípico das festas

Páscoa: Ap 1:18
Pães asmos: Ap 1:18ss (implícito)
Primícias: Ap 1:5
Pentecostes: Ap 4:1-5
Trombetas: Ap 8:1-9:12; 11:15-19
Dia da Expiação: Ap 11:1-2, 19
Tabernáculos: Ap 21:3

“No próximo ano, em Jerusalém.

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