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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

CENTRO DE EDUCAÇÃO
CURSO BACHAREL EM PSICOLOGIA

ANA CAROLINA BARBOSA DE OLIVEIRA


PROFª DRA DANIELE DA COSTA CUNHA BORGES ROSA

RELAÇÕES DE PERTENCIMENTO À UFRR E A BOA VISTA: UMA ANÁLISE


DO APEGO AO LUGAR SOB A ÓTICA DOS SERVIDORES

BOA VISTA - RR
2022
ANA CAROLINA BARBOSA DE OLIVEIRA
PROFª DRA DANIELE DA COSTA CUNHA BORGES ROSA

RELAÇÕES DE PERTENCIMENTO À UFRR E A BOA VISTA: UMA ANÁLISE


DO APEGO AO LUGAR SOB A ÓTICA DOS SERVIDORES

Trabalho de Conclusão De Curso


apresentado como pré-requisito para
conclusão do Curso de Graduação em
Psicologia na Universidade Federal de
Roraima.

Orientadora: Profª. Drª. Daniele da Cunha


Borges e Rosa

______________________________________________________
PROF. DRA.DANIELE DA CUNHA BORGES E ROSA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR
(ORIENTADORA)

______________________________________________________
PROF. DR LEANDRO ROBERTO NEVES
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE - UFF

______________________________________________________
PROF. DRA. ANA PAULA DA ROSA DEON
UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA - UFRR

BOA VISTA - RR
2022
À minha criança interna, que desde sempre sonhou em ser psicóloga.
Nós conseguimos.
AGRADECIMENTOS

Aos meus irmãos: Dayane, Alexsandra, Anderson e Adrielle. Ter vocês é saber que
todas as memórias e lembranças que vivi a vida inteira estão guardadas em vocês também.
Obrigada por serem a extensão de mim.
Aos meus sobrinhos, Lunna e Ravi. Minha Lunna, você chegou com a calmaria e
poesia da lua, me mostrando o amor mais descomunal e visceral que já senti em minha
existência. Meu Ravi, como um raio de sol, completou a constelação das nossas vidas,
iluminando a todos nós com o seu sorriso. Muito obrigada por existirem e terem nos
escolhido como família.
À minha doce Bárbara, minha pessoa, meu amor. Obrigada por ter sido impecável
em todos os sentidos que a palavra companheirismo pode ter. Sem você a caminhada teria
sido muito mais difícil, você acreditou em mim mais do que eu mesma acreditei. Obrigada
por ser você o amor da minha vida.
À minha mãe, a pessoa mais corajosa, determinada e persistente que eu conheço.
Essa conquista também é sua. Toda sua. Se eu tiver metade da sua força, tenho certeza que
alçarei grandes vôos. Tudo por você.
A caminhada na universidade me proporcionou grandes aprendizados. Não duvidei
nem por um segundo que o lugar em que eu queria estar era exatamente esse. Espero, na
minha prática enquanto psicóloga, honrar com a profissão que me faz brilhar os olhos.
Àqueles que direta e indiretamente fizeram parte desse ciclo, pois ninguém consegue
chegar a lugar nenhum sozinho, e quando achei que sozinha estava, Bárbara Bellei se
aconchegou nesse espaço e se fez presente, obrigada por ter sido minha companhia, espero
ter retribuído à altura.
Agradeço também à minha orientadora, Drª Daniele Cunha por todos os
ensinamentos e contribuições neste trabalho, sua postura enquanto profissional e pessoa
também me inspiram. Muito obrigada.
“Jogando meu corpo no mundo
Andando por todos os cantos
E pela lei natural dos encontros
Eu deixo e recebo um tanto”

(Novos Baianos)
RESUMO

O presente estudo foi realizado com o objetivo de evidenciar e compreender aspectos


afetivos e sentimentos de pertencimento decorrentes da migração dos servidores da UFRR.
Para isso, utilizou-se a base epistemológica da Psicologia Ambiental - PA, pois é uma área
da psicologia que está interessada pelo estudo das pessoas e suas relações com os lugares,
espaços, e todos os ambientes que os compõem, ou seja, está ligada diretamente com o
objetivo geral desta pesquisa, dentre os conceitos trazido pela PA o referido trabalho focou
no apego ao lugar, dependência de lugar, identidade de lugar e laços sociais. Tratou-se de
uma pesquisa quantitativa e qualitativa, com a utilização dos instrumentos: Índice de Bem
Estar Pessoal - PWI, Escala de Bem Estar Subjetivo - SWLS, Escala de Apego ao Lugar e
uma entrevista semi estruturada, a fim de proporcionar um olhar subjetivo para o fenômeno
pesquisado. Participaram da pesquisa 54 servidores da UFRR, dos quais 5 participaram
também da entrevista semi estruturada. Com os dados levantados foi possível verificar os
níveis de apego e bem estar dos servidores para com a UFRR e com a cidade de Boa Vista,
bem como os reflexos que a migração suscitou na vida deles.

Palavras-chave: Universidade Federal de Roraima; Psicologia Ambiental; Apego ao Lugar;


Servidores; Migração.
ABSTRACT

The present study was carried out with the to highlight and understand affective aspects and
feelings of belonging resulting from the migration of UFRR servers. For this, the
epistemological basis of Environmental Psychology - PA was used, as it is an area of
​psychology that is interested in the study of people and their relationships with places,
spaces, and all the environments that compose them, that is, it is linked directly with the
general objective of this research, among the concepts brought by the PA, this work focused
on attachment to place, place dependence, place identity and social ties. It was a quantitative
and qualitative research, using the following instruments: Personal Well-Being Index - PWI,
Subjective Well-being Scale - SWLS, Place Attachment Scale and a semi-structured
interview, in order to provide a subjective look. for the researched phenomenon. 54 UFRR
employees participated in the research, of which 5 also participated in the semi-structured
interview. With the data collected, it was possible to verify the levels of attachment and
well-being of the servants towards UFRR and the city of Boa Vista, as well as the reflexes
that migration aroused in their lives.

Keywords: Federal University of Roraima; Environmental Psychology; Attachment to


Place; servers; Migration.
LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Correlação de Spearman das escalas 30


LISTA DE FIGURAS

Gráfico 1: estado civil dos participantes 27


Gráfico 2: servidores que possuem/não possuem filhos 28
Gráfico 3: rede familiar dos participantes 28
Gráfico 4: composição da rede familiar dos participantes 29
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 12
2. PROBLEMA 12
3. HIPÓTESE 12
4. OBJETIVOS 13
4.1 OBJETIVO GERAL 13
4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 13
5. JUSTIFICATIVA 13
6. REFERENCIAL TEÓRICO 14
6.1 Apego ao lugar, identidade de lugar e pertencimento 14
6.2 Trabalho e migração 17
6.3 Satisfação com a vida e bem estar subjetivo 20
6.4 Universidade Federal de Roraima 21
7. METODOLOGIA 22
7.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO 22
7.2 PARTICIPANTES 23
7.3 ÉTICA EM PESQUISA 23
7.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS 24
a) Escala de apego a Universidade Federal de Roraima 24
b) Instrumento de Índice e Bem Estar Pessoal (PWI) 25
c) Escala de Satisfação com a Vida (SWLS) 25
d) Caracterização do Participante 25
e) Entrevista Semi-estruturada 26
7.5 ANÁLISE DE DADOS 26
8. RESULTADOS E DISCUSSÕES 27
8.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES 27
8.2 ESCALA DE APEGO AO LUGAR 29
8.2.1 PWI 30
8.2.2 SWLS 30
8.2.3 ENTREVISTA 32
a) Dependência de lugar 32
b) Laços sociais 34
c) Os reflexos da migração na vida do servidor 36
d) Motivações para ficar 37
e) Motivações para ir embora 39
f) Palavra que define a UFRR para o servidor 40
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS 41
10. CRONOGRAMA 43
REFERÊNCIAS 44
APÊNDICE A 48
APÊNDICE B 51
APÊNDICE C 55
APÊNDICE D 56
APÊNDICE E 57
APÊNDICE F 59
1 INTRODUÇÃO

O presente estudo foi desenvolvido com o desígnio de evidenciar e compreender


aspectos afetivos e sentimentos de pertencimento decorrentes da migração dos servidores da
UFRR, de modo que o público alvo desta pesquisa foram servidores lotados na
Universidade Federal de Roraima - UFRR.
A motivação para a construção deste estudo surgiu a partir de observações do núcleo
docente do curso de Psicologia, visto que este, em quase sua totalidade, é composto por
professores advindos de outros estados da federação. Por isso, perguntas a respeito das
vivências desses profissionais tornam-se pertinentes, a título de exemplo: Como é para esses
servidores viverem longe da cidade em que moravam e da família? Qual o grau de
pertencimento que eles possuem com a cidade atual? Quais foram as estratégias de
adaptação dos professores e técnicos com o novo lugar de residência? Possuem algum nível
de apego com a cidade atual?
A presente pesquisa possui como base epistemológica a Psicologia Ambiental - PA,
a qual traz consigo o entendimento sobre as relações do sujeito com o seu ambiente, bem
como, a construção da identidade de lugar como formação da afetividade e pertencimento.
Tais aspectos são considerados comportamentos intrínsecos ao ser humano.
Diante disso, tal abordagem mostra-se estritamente relacionada a problemática deste
estudo, apresentando-se como o arcabouço teórico a ser utilizado para compreensão das
questões que compõem o objetivo final do presente trabalho de pesquisa. Desta forma, o
referido estudo pretende alcançar resultados evidentes quanto à relação dos servidores da
UFRR e a migração, bem como promover um espaço para que sejam expostas demandas
subjetivas por eles experienciadas, fomentando dessa maneira um olhar mais compassivo
frente às questões dos docentes e técnicos da instituição para com a temática.

2 PROBLEMA
12
Quais são as implicações afetivas e de pertencimento que a migração suscita nos
docentes e técnicos da UFRR?

3 HIPÓTESE
Os níveis de bem estar do sujeito podem ter relação com os níveis de apego ao
lugar.

4 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVO GERAL

● Evidenciar e compreender aspectos afetivos e sentimentos de pertencimento


decorrentes da migração dos servidores da UFRR.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

● Compreender estratégias de ambientação dos servidores da Universidade Federal de


Roraima;
● Mensurar os níveis de apego ao lugar dos servidores;
● Analisar pontos positivos e negativos da migração em virtude do trabalho;
● Verificar a possível relação entre o nível de apego e índices de bem estar.

5 JUSTIFICATIVA

A globalização trouxe consigo diversas mudanças na forma de trabalho e no


significado do trabalho para a construção de uma identidade social. Para além da
sobrevivência no arranjo capitalista, ter uma profissão e contribuir para o desenvolvimento e
manutenção da sociedade de modo geral, passou a ser uma das motivações da grande
maioria das pessoas no momento da escolha profissional.
13
Em virtude disso, a existência de uma movimentação dentro dos próprios estados da
federação ou até mesmo fora do país, passou a ser mais comum no que tange ao exercício
profissional de quem busca, por diversos motivos, uma posição social ou reconhecimento
enquanto prestador de serviço dentro da sua área laboral. Por isso, muitos profissionais
deixam sua cidade de origem, casa, família, laços afetivos, cultura em busca desses anseios,
por vezes, passando por problemáticas com a adaptação ou com as dificuldades de
sentirem-se pertencendo àquela cultura ou região.

À vista disso, pretende-se compreender e evidenciar as nuances dessa migração, sob


a ótica perceptiva dos docentes e técnicos da UFRR, uma vez que não há um número
expressivo de pesquisas voltadas para esse campo de conhecimento dentro desta instituição
de ensino, carecendo assim da elaboração e levantamento de dados acerca dessa temática.
Para isso, a literatura da Psicologia Ambiental com ênfase no apego ao lugar e suas
ramificações serão utilizadas como aporte teórico deste estudo.

6 REFERENCIAL TEÓRICO

6.1 APEGO AO LUGAR, IDENTIDADE DE LUGAR E PERTENCIMENTO

A Psicologia Ambiental - PA é uma área dentro da psicologia que está interessada


pelo estudo das pessoas e suas relações com os lugares, espaços, e todos os ambientes que
os compõem. Entende-se, a partir disso, que a PA busca explorar e investigar a percepção e
vinculação dos seres humanos com o ambiente. Dentro dos conceitos postulados pela PA,
pode-se citar: apego ao lugar, identidade de lugar, pertencimento, etc.
O conceito de apego ao lugar, ou place attachment como também é identificado na
literatura, concerne na vinculação afetiva do indivíduo com seu o ambiente físico e todos os
sentimentos que emergem diante dessa interação. A palavra place na tradução significa
“lugar” e attachment quer dizer "vínculo", portanto, são lugares com os quais os indivíduos
possuem algum tipo de vinculação seja emocional ou cultural.
Giuliani (2004) destaca três processos que influenciam no apego ao lugar: apego
funcional, apego simbólico e apego resultante de um processo temporal e de familiaridade
com o local. Estes processos possuem características próprias entre si, no entanto, tais
14
processos indicam a estabilidade do apego, bem como as ações no que compete às
mudanças de um local para o outro.
O processo funcional trata-se da quantidade e importância de necessidades que são
satisfeitas nesse lugar, se esse ambiente oferece recursos que propiciem o alcance de
objetivos específicos ou atividades desejadas (Williams & Vaske, 2003). Este primeiro
processo é considerado uma somatória positiva da relação da pessoa com o ambiente,
levando em consideração os propósitos alcançados no lugar ao qual a pessoa está inserida.
De acordo com Scannell & Gifford (2010) o apego simbólico, por sua vez, refere-se
aos significados atribuídos pelas pessoas aos lugares, que podem ser de origem individual e
sociocultural que agem como intermediários na relação pessoa- ambiente. (apud ALVES et
al. 2015 p. 156). Logo, o apego simbólico está atrelado aos sentimentos e sentidos que este
lugar produz na vida das pessoas que ocupam este ambiente.
O processo temporal surge a partir de um grande período de proximidade com o
lugar e sua maior característica é o vínculo afetivo positivo entre a pessoa e o lugar (Hidalgo
& Hernandez, 2001, apud Pinheiro et al. 2019). Desse modo, enquanto o processo funcional
é mais cognitivo que emocional, o apego temporal refere-se ao sentido emocional,
acarretando um maior sofrimento no processo de separação do indivíduo com o ambiente e
na adaptação em um lugar posterior.

O apego ao lugar é um dos fatores fundamentais para o desenvolvimento da


identidade da pessoa, ou seja, há lugares que têm um grande valor simbólico para
o sujeito. A identificação com o local promove a capacidade de se vincular
afetivamente a este, promovendo o apego ao lugar (LIMA; BOMFIM, 2009, p.
445).

Segundo Proshansky, Fabian e Kaminoff (1983) o apego ao lugar "indubitavelmente


ocorre naqueles indivíduos cuja identidade de lugar envolve cognições positivamente
valorizadas de uma ou alguma combinação desses contextos, que de longe pesam mais que
o número de cognições negativamente valorizadas" (apud FELIPPE e KUHNEN, 2012, p.
610).
A psicologia ambiental traz o conceito de identidade de lugar ou place-identity
(identidade de lugar) como sendo a construção afetiva e emocional com espaços
geográficos. A leitura que a pessoa faz do ambiente ao seu redor, as memórias, histórias,
lembranças e planos para a sua vida, de acordo com Lopes e Bastos (2002), estão ligadas
aos objetos que compreendem seu entorno.
15
Mourão e Cavalcante (2006 p. 143) afirmam que “[...] o entorno físico e social
vivenciado pelo sujeito pode significar um componente fundamental para a construção da
sua identidade”. Portanto, tais vivências estão estritamente ligadas com a significação que o
sujeito atrela ao espaço, construindo, desta forma, a identidade do lugar.

Na construção da identidade, existem dimensões e características do entorno físico


que são incorporadas pelo sujeito por meio da interação com o ambiente. Nesse
sentido, a identidade de lugar é um componente específico do próprio eu do
sujeito, forjado em um complexo processo de ideias conscientes e inconscientes,
sentimentos, valores e objetos (GONÇALVES, 2007, p.70).

A apropriação ocorre conforme o indivíduo se familiariza e passa a se identificar


com o ambiente, diante dessa interação passa a coexistir, também, o processo de
apego.“Um sujeito, ao apropriar-se de um lugar, com o tempo, deixa sua marca e, ao
transformá-lo, inicia um processo de reapropriação com o ambiente, colocando nele objetos
com o qual se identifica.” (GONÇALVES, 2007, p.28-29).
O processo de apropriação ocorre de forma subjetiva para cada pessoa, no entanto,
podem ser consonantes aos aspectos sociais e culturais de cada indivíduo, ou seja, fatores
ligados à construção identitária de cada um fazem parte desse movimento do apropriar-se.
“Os processos de apropriação são complexos e se dividem em dois aspectos fundamentais:
comportamentais de ação-transformação e de identidade de lugar simbólica – identidade do
sujeito com o espaço, na qual se incluem os processos afetivos, cognitivos e interativos.”
(GONÇALVES, 2007, p.29).
Destarte, a partir da identificação e afetividade que o sujeito desenvolve com esse
ambiente, é possível estabelecer a relação de pertença, pois o vínculo de afeto e a percepção
que a pessoa possui desse ambiente corroboram veemente para a construção do sentir-se
pertencente àquela região, cultura, lugar ou quaisquer que sejam os espaços que ela esteja
ocupando. De acordo com Martins e Gonçalves (2014, p. 622)“(...) a apropriação do espaço
é um processo que se constrói nas etapas de identificação, sentimento de pertença,
personificação, cultivação e sentimento de defesa”.
Diante do exposto, é possível conceituar e, consequentemente, sistematizar diversas
influências que o ambiente acarreta na construção e transformação desse sujeito. No que
tange à mudança de espaço, especialmente mudanças geográficas, torna-se cada vez mais
importante um aprofundamento a respeito das implicações causadas por esse fenômeno.
16
Delimitando o objeto da presente pesquisa aos professores e técnicos da Universidade
Federal de Roraima, de acordo com Neves e Melville (2013):

Observa-se que o vínculo com a cidade de Boa Vista fica na superfície e as


experiências com o local de origem e/ou outros lugares estão na base da sua
memória e essas com uma potência de influenciar a ação dos professores de
retorno, conforme a conjugação da satisfação do trabalho e família. Essa
transitoriedade entre o presente e o passado, que caracteriza o sujeito em trânsito,
como uma pessoa em que vivencia uma tensão constante no processo de
identificação com o lugar, a díade permanência ou retorno, sempre estão presente
na vida dessas pessoas.

Isto posto, percebe-se a existência de um dinamismo entre a migração, a


permanência e a transitoriedade desses servidores na cidade de Boa Vista e, por
consequência, na UFRR. Entender que o apego ao lugar, bem como a identidade de lugar,
não garantem a longevidade dessa estadia no ambiente afetivo, endossa os pormenores a
serem observados na subjetividade do construto do presente estudo. Portanto, a referida
pesquisa possui grande potencial na investigação e compilação de novos dados para os
servidores da UFRR.

6.2 TRABALHO E MIGRAÇÃO

O trabalho está presente em toda a base histórica da humanidade e, ainda nos tempos
atuais, permeia estudos e pesquisas relacionados às implicações e desdobramentos que a
significância do trabalho traz, principalmente, nos moldes capitalistas.
Ao longo dos anos, a concepção de trabalho sofreu diversas mudanças, afinal, as
formas de produção e as estruturas sociais, arranjos econômicos e as representações
políticas também passaram por transformações, exigindo, dessa maneira, novas formas de
exercer funções laborais, bem como, no significado que o trabalho evoca no indivíduo e na
sua relação com o ser no mundo.
Muito se sabe que o trabalho ocupa uma posição de grande importância na vida das
pessoas, para além das necessidades subsistenciais, o trabalho pode representar realizações,
desejos pessoais, contribuições que aquele indivíduo pode oferecer à sociedade, assim como
a relevância que a posição social decorrente do seu trabalho promove. O trabalho, em cada
17
momento da história, reflete como a sociedade estava organizada. De acordo com Bock
(2006, p. 20):

[...] se abríssemos, por exemplo, um dicionário da Grécia antiga, possivelmente


achar-se-ia o trabalho como [...] atividade exclusivamente física, que se reduzia ao
esforço que deviam fazer as pessoas para assegurar seu sustento, satisfazer suas
necessidades vitais [...] que não era valorizada socialmente.

Pode-se perceber que, atualmente, o entendimento de trabalho difere da conceituação


e da simbolização que o trabalho desempenhava na Grécia Antiga, pois, a história e a
sociedade sofreram mudanças, afetando, dessa maneira, o conceito de trabalho, contudo,
cada representação ao longo da história mostrou-se necessária para o entendimento que se
tem hoje do que vem a ser trabalho.
Segundo o autor Carmo (2001, p.15), o trabalho pode ser conceituado e entendido
como “toda atividade realizada pelo homem civilizado que transforma a natureza pela
inteligência''. E realizando essa atividade, o homem se transforma, se auto-produz e, ao se
relacionar com outros homens, estabelece a base para as relações sociais”.
Dessa maneira, o trabalho para além do trabalho braçal a qual exigia unicamente a
força física de um determinado grupo, passa então, na contemporaneidade, a contemplar as
atividades intelectuais, as profissões que desenvolvem ciências, colaboram com avanços
tecnológicos, aquelas que fazem parte da base de formação de outros indivíduos e tantas
outras formas de desempenhar funções na sociedade.
O sociólogo Ricardo Antunes (2004) define que a classe trabalhadora na sociedade
moderna é composta por homens e mulheres que vivem da venda de sua força de trabalho,
ou seja, vai além dos trabalhadores manuais, desta forma, todo e qualquer indivíduo que
faça da sua força de trabalho uma mercadoria em troca de salário .
O autor também afirma que a classe trabalhadora atual é diferente da classe
trabalhadora de décadas atrás e se organiza dentro de novas formas de produção,
ajustando-se ao modelo capitalista, ele traz exemplos como a economia informal,
trabalhadores terceirizados, part time (trabalho em regime de tempo parcial), tais arranjos
representam a nova organização de divisão de trabalho e traz implicações na relação da
pessoa para com a sociedade.
18
Para Antunes (2004), a força de trabalho envolve elementos que constituem uma
relação social, mas também o submete a uma relação de aprisionamento com o capital:

Dessa maneira, o que é específico é que a força de trabalho, além de ser um dos
elementos constitutivos da relação social que a aprisiona e “submete”, é também um
elemento que nega aquela relação e por isso mesmo sua “subordinação” precisa ser
reiteradamente afirmada. É neste processo que o capital visa a superar uma
subordinação (melhor: subsunção) meramente formal, transformando-a em real
(subsunção real), com o corolário de que a transformação da força de trabalho em
capital acaba por consolidar-se socialmente

Por conseguinte, fazendo um paralelo entre as formas de trabalho e as mudanças que


ocorreram ao longo do tempo, é possível observar que, na época atual, devido aos avanços
tecnológicos, houveram mudanças significativas no que tange a diminuição das distâncias
em decorrência da rapidez no processamento de informações. A movimentação das
informações repete-se, também, na movimentação da mão de obra e força de trabalho dentro
dos espaços físicos, bem como entre cidades, estados e até mesmo países, construindo dessa
maneira a migração em busca de trabalho.
Na história do Brasil e do mundo as migrações ocorreram principalmente por
desastres ambientais e questões econômicas, de acordo com Level et al (2020):

A migração não é um fenômeno recente, ela ocorre desde os primórdios da


humanidade e todos os países que existem hoje são formados por mobilidades
internas e externas de muitos povos. Com o advento da globalização e todas as
facilidades de mobilidade e comunicação que esse processo proporcionou, o
fenômeno da migração se tornou mais intenso e mais visível.

Diante disso,a migração esteve sempre presente na sociedade e ocorre pelos mais
diversos motivos, torna-se pertinente que estudos sejam voltados para caracterizar esse
fenômeno que está diretamente ligado com a construção da sociedade.
De acordo com Jannuzzi (1999 p. 82):
o significado da migração para indivíduos e grupos sociais não poderia ser
indubitavelmente apreendido, já que para certos tipos de migrante a mobilidade
espacial teria proporcionado uma melhor inserção sócio-ocupacional na sociedade,
para outros, a migração seria uma das poucas ou inevitáveis estratégias de
sobrevivência básica e garantir sua posição na estrutura social.

Julga-se importante pontuar que, de acordo com o autor, há uma diferenciação social
entre migrantes que se deslocam em busca de uma melhor posição social e outra categoria
19
de migrantes que são obrigados a se deslocarem para garantir a sobrevivência, muitas vezes
ocupando lugares de marginalização na sociedade. No presente trabalho, a categoria de
migrantes a ser estudada são os indivíduos que partiram em busca da ascensão na estrutura
social.
À vista disso, torna-se possível traçar um paralelo entre o trabalho, e toda
significância que este traz consigo, e a migração, de modo a identificar os possíveis efeitos
que tais aspectos suscitaram na vida do indivíduo. Considerando a imprescindibilidade do
trabalho, presente desde os primeiros registros históricos, evidenciando, assim, a condição
intrínseca que tal fenômeno ocupa na vida e na construção social do sujeito, e atrelado a
este, o fenômeno migração, o qual traz consigo inúmeras possibilidades de atuação
profissional para o indivíduo, apresenta-se de suma importância à análise dos impactos que
esse distanciamento causa no sujeito, uma vez que a mobilidade o distancia de suas raízes,
família, lugares de apego e, por vezes, tais mudanças podem gerar efeitos relevantes na vida
do trabalhador.

6.3 SATISFAÇÃO COM A VIDA E BEM ESTAR

Os conceitos de satisfação com a vida e bem estar são amplamente estudados e


discutidos na Psicologia Positiva, a qual está interessada em estudar as emoções,
parentalidade, virtudes positivas e comportamentos positivos de uma maneira geral. Essa
área de estudos dentro da psicologia pode ser entendida como uma "tentativa de levar os
psicólogos contemporâneos a adotarem uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais,
das motivações e das capacidades humanas” (SHELDON E KING, 2001, p. 216 apud
YUNES, 2003, p. 75)
A satisfação com a vida pode ser compreendida como um julgamento cognitivo de
avaliação que o sujeito faz da sua vida, para isso, são levados em consideração os afetos
positivos, sendo os sentimentos agradáveis, e os afetos negativos ligados a emoções
desagradáveis e, também, a qualidade de vida. (ALBUQUERQUE & TRÓCCOLI, 2004).
O bem estar, por sua vez, também possui características similares a satisfação com a
vida, pois está associado às emoções positivas e a ausência de emoções negativas, estando
vinculada diretamente com a satisfação que o sujeito possui em relação a vida.
20
O bem-estar subjetivo é um importante componente da psicologia positiva. É
um aspecto que pode favorecer a maneira como vemos a nós mesmos e as
outras pessoas, o que pode resultar em maior prazer em vivenciar as
situações cotidianas e o relacionamento com nossos pares. Torna-se
importante, cada vez mais, conhecer os aspectos relacionados a esse tema
(Passareli & Silva, 2007, p.514).

Ambos os conceitos possuem uma relevância muito importante na vida do sujeito,


pois a partir da avaliação desses aspectos é possível observar características no seu entorno
que contribuem para que seu bem estar e satisfação com a vida estejam favoráveis.
Outro fator interessante para ser levado em consideração é qualidade de vida, visto
que, também, contribui com o processo de entendimento e observação, pois, qualidade de
vida conceitua-se como “A percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto
da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL-BREF, 1996, p.6 apud FLEK, 2000,
p.34).
Dessa maneira, levantar dados acerca do bem estar subjetivo dos profissionais da
universidade, torna-se imprescindível na análise do apego ao lugar, uma vez que fatores
como a satisfação e qualidade de vida estão estritamente relacionados com o lugar em que
moram e, também, com o local de trabalho, já que estes são os ambientes objeto desta
pesquisa. Mas, para além disso, a cidade é o lugar em que encontra-se a residência desse
sujeito, e o trabalho é onde o servidor passa grande parte do seu dia, então, para que o
servidor tenha uma qualidade de vida positiva, é necessário que estes lugares propiciem
emoções e afetos positivos e, este estudo permitirá a observação de tais fenômenos. Diante
disso, levanta-se a hipótese que os níveis de bem estar do sujeito podem ter relação com os
níveis de apego ao lugar.

6.4 UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

A Universidade Federal de Roraima foi criada no ano de 1985[, regida pela Lei nº
7.364/85 de setembro de 1985, sendo autorizada pela Lei nº 7.364/85 apenas quatro anos
após sua criação, no ano de 1989. A referida instituição foi a primeira universidade fundada
em Roraima, é considerada, inclusive, uma instituição de ensino jovem, tendo apenas 32
anos. A UFRR é composta por 47 cursos de graduação, dentre estes 26 bacharelados, 20
21
licenciaturas e 1 tecnólogo. Quanto ao quadro de funcionários, este constitui-se por 600
professores e 360 técnicos administrativos. Da totalidade desses docentes, cerca de 80%
possuem mestrado e doutorado, dos quais 35% são doutores e 45% mestres (UFRR, 2021).
Além disso, está incorporado à UFRR o Colégio de Aplicação (CAp) e a Escola
Agrotécnica (EAgro), a primeira escola refere-se ao ensino básico desde os anos iniciais,
anos finais e ensino médio, e a segunda ao ensino médio e técnico. A universidade é
dividida em três campus: paricarana, cauamé e murupu.
Vale ressaltar que a formação do quadro de técnicos e docentes é feita por meio de
concurso público. No caso dos técnicos, o nível de escolarização depende do cargo que ele
irá ocupar. Já na contratação dos docentes, exige-se, também, mestrado e/ou doutorado,
exceto nos casos de processo seletivo de professores substitutos.
De acordo com dados obtidos a partir de uma pesquisa elaborada por Neves e
Melville (2013) a respeito dos professores da UFRR, é possível constatar que 14,3% dos
professores da Universidade Federal de Roraima eram naturais de Roraima, 82,3% eram
docentes advindos de outros estados da federação e, por fim, 3,3% tratavam-se de docentes
estrangeiros. Torna-se importante ressaltar que esses dados abrangem todos os professores
da UFRR, incluindo o CAp e a Eagro.
Tais dados correspondem a um número expressivo de docentes provenientes de
outros estados do país, suscitando, assim, dúvidas com referência ao processo de
ambientação que esses profissionais enfrentam nesse processo de movimentação geográfica,
bem como compreender as estratégias utilizadas para potencializar a identificação com o
lugar em que o ofício os trouxeram e, também, descrever as representações afetivas que a
cidade de Boa Vista e a Universidade Federal de Roraima simboliza para eles. A
importância de visibilizar esse fenômeno, tornará evidente as características particulares e
subjetivas do percurso que os profissionais traçaram nessa experiência supracitada.

7 METODOLOGIA

7.1 CARACTERIZAÇÃO DO ESTUDO


22
A Psicologia Ambiental se caracteriza pelo estudo Pessoa x Ambiente e a interação
entre eles, para isso, utilizou-se a abordagem multimétodo que permite a junção de mais de
um método para explicar o mesmo fenômeno, dada a complexidade de análise das
experiências ambientais humanas (Günther, Elali & Pinheiro). Neste estudo foram utilizados
métodos quantitativos e qualitativos para a compreensão da relação dos participantes com o
contexto pesquisado.
Estima-se que ao fim desta pesquisa seja possível levantar dados relativos ao apego a
Boa Vista e a UFRR, bem como estratégias de ambientação e de pertencimento nas
vivências dos docentes e técnicos. Para além das contribuições científicas que o presente
estudo trará, as contribuições acerca dos pormenores vivenciados pelos servidores tornará
evidente as implicações que tal fenômeno emerge nesses sujeitos, atrelado diretamente ao
trabalho exercido por eles na instituição.
Ter um olhar mais compassivo em relação às experiências dos servidores no
ambiente laboral faz-se necessário, e os resultados deste estudo poderá auxiliar a instituição
a desenvolver uma ótica humanizada frente às demandas dos seus colaboradores e, a partir
disso, elaborar ferramentas e estratégias de enfrentamento em conjunto.
Portanto, a UFRR e os servidores terão impactos positivos com os resultados dessa
pesquisa, pois servirá como subsídio para a instituição promover ações e será um espaço em
que os servidores terão para compartilhar suas experiências. Uma instituição cuja premissa
esteja voltada ao bom funcionamento interno e alinhada com seus servidores, terá maiores
chances de um bom funcionamento como um todo.

7.2 PARTICIPANTES

Esta pesquisa contou com 54 servidores da Universidade Federal de Roraima,


incluindo CAp e EAgro, todos responderam o questionário integralmente e 5 servidores
participaram da entrevista semi-estruturada de forma online.
Os participantes deste estudo foram os servidores lotados na Universidade Federal
de Roraima e se deu pelo livre e espontâneo interesse a participação de cada um. Para tanto,
foi solicitado que o participante concordasse com as considerações contidas no Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido-TCLE, o qual foi disponibilizado no início da pesquisa.
23
A amostra foi segmentada em duas partes, sendo a primeira composta por
participantes naturais de Boa Vista e servidores advindos dos demais estados, e a outra
apenas com participantes de outros estados, para que assim pudesse ser feita uma análise
correlacional do fenômeno do apego ao lugar.

7.3 ÉTICA EM PESQUISA

A coleta de dados ocorreu apenas após o parecer favorável do Comitê de Ética - CEP
da Universidade Federal de Roraima (Nº do parecer 5.133.703) seguindo as resoluções nº
466/2012 e 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde e as recomendações da Comissão
Nacional de Pesquisa (CONEP)

7.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS

A ferramenta utilizada para disponibilizar o questionário para os participantes foi o


Google Formulário, pois possibilitou um grande alcance de servidores e compilação de
dados e, principalmente, em função da inviabilidade do contato físico devido a pandemia
mundial que está ocorrendo no presente momento.
O questionário foi enviado para os emails institucionais dos servidores e, também,
por outros meios de comunicação disponibilizados por eles. Contemplou o corpo do
formulário o TCLE (Apêndice A), 3 (três) escalas, sendo: Escala de Apego a Universidade
Federal de Roraima (Apêndice B), o Instrumento de Índice e Bem Estar Pessoal - PWI
(Apêndice C) e a Escala de Satisfação com a Vida - SWLS (Apêndice D), todas elas serão
descritas posteriormente e o questionário de caracterização dos participantes (Apêndice E).
Possuía, também, o convite para responder a uma entrevista semi-estruturada, no
entanto, participou desta entrevista apenas aqueles que demonstraram interesse ao final do
questionário, havendo a concordância, foram posteriormente contatados para a realização da
mesma.
24
a) Escala de Apego a Universidade Federal de Roraima

A escala que foi utilizada para mensurar o nível de apego dos docentes e técnicos a
UFRR (Apêndice C) foi adaptada de Rosa (2014) e contou com 17 questões estruturadas em
uma escala tipo Likert de 5 pontos, onde 1 refere-se a discordo totalmente e 5 concordo
totalmente. Foram consideradas as seguintes dimensões para a construção deste
instrumento: dependência de lugar (8,9,11,12,13) identidade de lugar (1, 2, 3, 4, 6, 7, 14) e
laços sociais (5, 10, 15, 16, 17) como partes indispensáveis no que tange o fenômeno de
apego ao lugar. Estas dimensões consideraram uma compilação de indicações teóricas que
apontam o apego ao lugar como construto multidimensional.

b) Instrumento de Índice e Bem-Estar Pessoal (PWI)

Personal Wellbeing Index (PWI) – Índice de Bem-Estar Pessoal (Apêndice D), foi
criado por Cummins, Eckersley, Van Pallant, Vugt, e Misajon (2003) com a finalidade de
mensurar a qualidade de vida de diversos grupos da população, sendo traduzido por um
psicólogo e submetido a back translation. O índice abrange sete domínios os quais
referem-se a satisfação com a saúde, o nível de vida, com as coisas conseguidas, a
segurança, e a segurança sobre o futuro, as relações com outras pessoas e com os grupos dos
quais faz parte. A escala conta com 10 pontos, sendo (0) para completamente insatisfeito e
(10) para completamente satisfeito.
O PWI foi utilizado em vários estudos em diferentes países, apresentando-se com
boa confiabilidade interna, obteve valores entre 0,70 e 0,85 para o alfa de Cronbach
(International Wellbeing Group, 2006). Já em outro estudo realizado com adolescentes no
Brasil, a referida escala apresentou um alfa de Cronbach de 0,76 (Bedin & Sarriera, 2014).

c) Escala de Satisfação com a Vida (SWLS)

Satisfaction With Life Scale (SWLS) – A Escala de Satisfação com a Vida


(Apêndice D) (Diener, Emmons, Larsen, & Griffin, 1985) – trata-se de um instrumento de
cinco questões que dizem respeito à satisfação de diferentes domínios. A escala é composta
25
por 10 pontos, onde (0) corresponde a “não, de nenhuma forma” e (10) representa “sim,
completamente''. Um estudo realizado por Sarriera et al. (2012) apresentou um alfa de
Cronbach de 0,77 para uma amostra de adolescentes argentinos e 0,82 para adolescentes
brasileiros, desta maneira, mostrou-se um instrumento com boa consistência interna.
A SWLS foi utilizada para mensurar a satisfação com a vida dos servidores.

d) Caracterização do Participante

Dado o assentimento do participante no TCLE, a caracterização contou com


perguntas a respeito do gênero, naturalidade, cargo em que ocupa na instituição, tempo de
serviço na UFRR, tempo de residência em Boa Vista e rede familiar (Apêndice B). Tais
perguntas colaboraram para traçar o perfil dos participantes, bem como as formas de
ambientação com a cidade de Boa Vista e a Universidade Federal de Roraima.

e) Entrevista Semi-Estruturada

A entrevista semi-estruturada (Apêndice F), voltada para servidores naturais de


outros estados, teve como finalidade compreender subjetivamente as estratégias de
ambientações e as implicações psicoemocionais que a mudança de estado ocasionou a eles,
bem como a identidade de lugar e o apego à UFRR e a cidade de Boa Vista. A entrevista
serviu apenas como um roteiro, contou com perguntas norteadoras para o desenvolvimento
das respostas por parte dos participantes.
De acordo com Triviños, a entrevista semi-estruturada (1987, p. 152) “[...] favorece
não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de
sua totalidade [...].” Participarão desta entrevista os participantes que confirmarem o
interesse ao final do questionário.

6.4 ANÁLISE DE DADOS

As escalas utilizadas no estudo foram submetidas a análises descritivas simples e


inferenciais. Realizou-se a Correlação de Spearman das escalas para avaliar a relação entre
as variáveis do estudo, a fim de compreender as vivências dos servidores naturais de Boa
26
Vista e os níveis de apego ao lugar, pertencimento e identidade de lugar e se existiu uma
correlação ao mesmo fenômeno de acordo com as vivências dos servidores naturais de
outros estados. As entrevistas semi estruturadas foram submetidas à análise de conteúdo
convencional (Hsieh e Shannon, 2005) com um intuito de explorar uma visão subjetiva em
torno dessa problemática.

8 RESULTADOS E DISCUSSÕES

8.1 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES

Participaram desta pesquisa 54 sujeitos, de ambos os sexos, dentre os participantes


38 (70,4%) eram docentes e 16 (29,6%) eram técnicos, ou seja, grande parte dos
respondentes atuam como professores na universidade. Em relação ao tempo de serviço na
instituição, os números foram: 26 servidores (48,1%) trabalham há mais de 10 anos na
instituição; 11 servidores (20,4%) trabalham entre 0 a 2 anos na instituição; 7 servidores
(13%) trabalham entre 3 a 5 anos; 6 servidores (11,1%) trabalham entre 6 a 8 anos e 4
servidores (7,4%) trabalham entre 9 e 10 anos na instituição.
No que tange ao servidores naturais de Boa Vista, apenas 10 servidores (18,5%) do
total da amostra nasceram no estado de Roraima, diante disso é possível constatar que a
grande maioria dos respondentes vieram de outros estados.
Os demais 44 (81,5%) respondentes vieram das seguintes regiões: São Paulo (8
servidores); Rio de Janeiro (6 servidores); Amazonas (5 servidores); Pará (4 servidores);
Paraná (4 servidores); Maranhão (3 servidores); Ceará (2 servidores); Pernambuco (2
servidores); Rondônia (1 servidor); Amapá (1 servidor); Paraíba (1 servidor); Piauí (1
servidor) Rio Grande do Norte (1 servidor) Rio Grande do Sul (1 servidor); Minas Gerais (1
servidor); Mato Grosso (1 servidor); Distrito Federal (1 servidor) e Goiás (1 servidor). Com
esses dados, é possível observar a diversidade multicultural que compõe a UFRR.
De acordo com o Gráfico 1 é possível observar que metade dos servidores são
casados (27 servidores); os servidores solteiros correspondem a 18 servidores; divorciados
somam 8 servidores e apenas um servidor se declarou viúvo.
27

Gráfico 1: estado civil dos participantes

Quando perguntados sobre filhos 23 pessoas não têm filhos e 31 servidores têm
filhos, as respostas em porcentagem foram as seguintes:

Gráfico 2: servidores que possuem/não possuem filhos

No quesito rede familiar na cidade de Boa Vista, um total de 43 servidores


responderam que possuem familiares residentes na cidade e 11 servidores não possuem rede
familiar na cidade, portanto, é possível constatar que a maioria dos servidores possuem
algum membro da família no estado, assim como demonstra o gráfico 3.

Gráfico 3: rede familiar dos participantes


28

No gráfico 4, no que tange à rede familiar que mora na cidade de Boa Vista, os
participantes poderiam selecionar mais de uma alternativa que se enquadra em suas
realidades. Obteve-se as seguintes respostas: 64,3% marcaram a opção esposo(a); 61,9%
marcaram filho(os); 47,6% marcaram a opção mãe/pai e 52,3% responderam que outros
familiares moravam na cidade também, tais como: tios, primas, avós, irmãos, sogros,
familiares de maneira geral.

Gráfico 4: composição da rede familiar dos participantes

8.2 ESCALA DE APEGO AO LUGAR


29
Pode-se constatar que dos 17 itens do instrumento, onde continha alternativas de 1 a
5 para mensurar o possível apego do servidor à UFRR, a média de respostas foi 3,64,
portanto, revela um nível de apego de médio a alto por parte dos respondentes. A dimensão
dependência de lugar (itens 8,9,11,12,13) obteve a média 3,77; a dimensão identidade de
lugar (itens 1, 2, 3, 4, 6, 7, 14) obteve a média 3,74; a dimensão laços sociais (itens 5, 10,
15, 16, 17) trouxe a média 3,96.

8.2.1 PWI

O instrumento de Índice de Bem Estar Individual apontou uma média de 7,64 entre
as respostas dos participantes, em uma escala de 0 a 10, onde as perguntas foram referentes
ao bem estar em diferentes áreas da vida, saúde, relações, etc.

8.2.2 SWLS

O instrumento de Bem Estar Subjetivo trouxe uma média de 7,55 entre as respostas
dos participantes, onde as escalas de respostas eram de 0 a 10. Diante disso, é possível
observar que a SWLS e a PWI que aferem a satisfação com a vida, apesar de perguntas
distintas, apresentaram resultados similares.

Tabela 1: Correlação de Spearman das escalas


30
Para descrever a correlação entre as variáveis, utilizou-se a Correlação de Spearman,
onde o coeficiente verifica se quando o valor de uma variável aumenta ou diminui, o valor
da outra variável aumenta ou diminui também.
Cohen (1992) propõe os seguintes tamanhos de efeito r = 0,10 (correlação fraca) r =
0,30 (correlação moderada) r = 0,50 (correlação forte) entre as variáveis analisadas. A partir
disso, é possível analisar os resultados da correlação entre as médias das escalas de Apego
ao Lugar (EALM); Índice de Bem Estar Individual (PWI9); Bem Estar Subjetivo (SWLS); e
duas escalas contidas na seção de caracterização do participante: “em uma escala de 0 a 10
o quanto você gosta de morar em Boa Vista” (C.P 10) e “em uma escala de 0 a 10 o quanto
você pensa em se mudar de Boa Vista” (C.P 11).
As escalas PWI e SWLS demonstraram uma correlação forte entre as variáveis r =
0,632, o que já era um resultado esperado, pois as duas tratam do mesmo construto. A PWI
correlacionada com a EALM traz um resultado moderado r = 0,293, assim como a
correlação entre a EALM e a SWLS r = 0,379, desta forma, é possível constatar que existe
uma relação moderada entre os níveis de apego à UFRR associado ao bem estar subjetivo e
pessoal do servidor, respondendo a hipótese da pesquisa.
Com relação a C.P 10, os resultados são bem interessantes, pois demonstram uma
correlação forte quando correlacionado com a escalas PWI9 r = 0,585; SWLS r = 0,502 e
EALM r = 0,514, tais resultados demonstram que os níveis de apego a universidade, bem
estar subjetivo e pessoal possui com correlação positiva para o servidor em relação a gostar
de morar em Boa Vista.
Já nos resultados da C.P 11 é possível observar que todas as correlações possuem
resultados negativos, confirmando que quanto maiores os Índices de Bem Estar Pessoal -
PWI9, menor é a vontade de ir embora de Boa Vista r = -0,280 . Quanto maior é o Bem
Estar Subjetivo - SWLS, menor é a vontade de ir embora de Boa Vista r = -0,184. Quanto
maior é o apego pela UFRR - EALM, menor é a vontade de ir embora de Boa Vista r =
-0,055. E por fim, quanto mais o servidor gosta de morar em Boa Vista - C.P 10, menor é a
vontade de ir embora r = -0,473, importante ressaltar sobre esse último resultado que, apesar
de serem escalas com perguntas opostas, não necessariamente as respostas precisam ser
opostas, pois o servidor pode gostar de morar em Boa Vista e pensar em ir embora, mas os
resultados demonstraram que os servidores respondentes gostam de morar em Boa Vista e
necessariamente não pensam em ir embora.
31
8.2.3 ENTREVISTA

Participaram da entrevista 5 professores da UFRR, todos são efetivos e se


dispuseram a participar por livre e espontânea vontade. Dentre os 5 servidores, 3 trabalham
há mais de 10 anos na instituição (participantes 2,3 e 4) e 2 trabalham há pouco mais de 2
anos (participantes 1 e 5), ou seja, mudaram-se para a cidade meses antes do isolamento
social em virtude da pandemia.
As entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo convencional (Hsieh e
Shannon, 2005), onde os autores sugerem que a codificação seja estabelecida durante a
análise a partir dos dados. Desta forma, elaborou-se categorias que se enquadrassem de
forma precisa com os dados das entrevistas.
A Primeira Dimensão identificada na entrevista se refere ao apego ao lugar e
subdividiu-se em 2 dimensões: dependência de lugar e laços sociais que envolve conceitos
relacionados ao apego ao lugar (dependência de lugar, laços sociais e identidade de lugar).
A Segunda Dimensão, abarca os reflexos da migração na vida dos servidores, e
subdivide-se em duas categorias: motivos para ficar e motivos para partir, ou seja, os
motivos pelos quais os fazem permanecer na cidade, os motivos que os levam a querer ir
embora.
Por fim, os participantes usaram uma palavra para definir a UFRR em suas vidas,
buscando exemplificar o que a instituição representa para o servidor.

Dimensão 1

a) Dependência de lugar

A dimensão dependência de lugar refere-se à quantidade de subsídios que o espaço


físico fornece ao indivíduo para atender suas necessidades básicas, essas necessidades
envolvem, por exemplo, casa, alimento, conforto, lazer, entre outros (ROSA, 2014). Desta
forma, as respostas abaixo caracterizam como o trabalho na universidade proporcionou aos
participantes meios para que alcançassem metas pessoais e uma segurança quanto à
estabilidade financeira.
32
Participante 1:

“Dois filhos, então a carga é… pressão social, de sustentar e tal, enfim é


muito grande,então foi um alivio assim indescritivel,um mundo saiu das
minhas costas uma vez que eu tomei posse, então teve um valor agregado
muito grande, tanto profissional quanto pessoal e a mudança pra mim nunca
foi um problema”

O participante 1 traz em sua fala sobre o alívio que trabalhar na universidade trouxe
para sua vida, tanto por ter alcançado suas metas financeiras quanto pelas metas
profissionais alcançadas e o quanto foi importante para ele e para a família.

Participante 2:

“É eu e meu marido decidimos vir pra Boa Vista porque nós queríamos é..
morar num lugar que nós pudéssemos almoçar com a nossa filha porque nós
já éramos casados há 11 anos, não tínhamos filhos, mas a gente nunca
almoçava juntos porque o trânsito era muito ruim, era muito pesado, então
uma das coisas assim… um dos motivos que nós é…tivemos ao vir morar
aqui foi que todos os dias desde o que dia em que chegamos aqui raramente
nós deixamos de almoçar com a nossa filha”

Em sua fala, a participante 2 trouxe um motivo bem específico sobre sua vinda para
Boa Vista que é a possibilidade de almoçar em casa com sua família, e isso está atrelado a
um conjunto de fatores trazidos por outros participantes também, que é a praticidade em
morar perto da UFRR; pouco trânsito, o que em outras cidades não é possível de se realizar.

Participante 3:

“em termos de trabalho a universidade que me proporcionou me desenvolver


enquanto professora, e a parte de pesquisa, de ensino, pesquisa e extensão,
você tem um acolhimento e um apoio de desenvolver projetos”

A participante 3, a partir do trabalho na universidade, pôde alcançar metas enquanto


profissional e demonstra agradecimento pelo espaço prover meios para que ela exerça
funções e a projetos.

Participante 4:

“Pra minha área de trabalho né eu trabalho com relações internacionais e


política né ao mesmo tempo então morar em uma fronteira internacional do
33
país é uma coisa super legal né eu acho que todo profissional de ciências
humanas têm muita curiosidade também com a diversidade humana e Boa
Vista tinha isso né”

O participante 4 trouxe a questão da cidade estar na tríplice fronteira entre Brasil,


Venezuela e Guiana como parte importante no seu ofício e esse fator agregou bastante em
sua atuação enquanto professor e pesquisador.

Participante 5:
“foi realmente bastante diferente e difícil no começo nesse sentido mas eu já
imaginava que seria, mas foi em nome de algo que eu sempre quis que era
ser professora de universidade concursada em uma federal de preferência,
então por causa desse motivo eu já acho que é um fator muito positivo e
estou muito satisfeita, não tive decepções em relação a isso, gosto muito do
meu trabalho, gosto da ufrr, dos meus colegas, de verdade”

A participante 5 teceu a respeito da realização profissional e da estabilidade


financeira que o concurso público proporciona, para ela, independente da localização, o
importante seria ser professora universitária.

b) Laços sociais

A dimensão laços sociais faz referência ao apego que os participantes têm pela
cidade em decorrência das relações sociais que estabeleceram em Boa Vista e na UFRR. A
partir das falas trazidas pelos participantes, é possível observar que os laços sociais foram
criadas, a priori, com os colegas de trabalho, pois são os primeiros contatos que eles
possuem assim que se mudam, e assim vão criando uma rede de apoio e posteriormente
estendem as relações sociais para além do campo universitário.

Participante 1:

“Socialmente, como eu me mudei e logo veio a pandemia, eu não tive muita


oportunidade de me inserir socialmente em contextos abertos, então
basicamente meu vinculo de amizades são os professores também da
universidade e aí acaba meio que misturando uma coisa com a outra”
34
O participante um, por exemplo, apesar de não ter participado de outros ambientes
fora o ambiente de trabalho, considera seus colegas da universidade como seus amigos
pessoais também, podendo estar relacionado ao acolhimento que ele recebeu dos colegas
assim que chegou na cidade.

Participante 2:

“nós conhecemos várias pessoas, acho que a convivência com as outras


pessoas é uma convivência boa, é bem diferente da convivência que a gente
tinha em Brasília, é um distanciamento muito maior, acho que aqui há uma
proximidade muito maior, então acho que são aspectos que me fazem gostar
de viver aqui”

A participante 2 mora em Boa Vista há mais de dez anos e seus laços afetivos
estendem-se para além da universidade e um ponto interessante em sua fala é a comparação
entre a sua cidade natal e Boa Vista em relação a socialização com outras pessoas, tendo
sido para ela um diferencial positivo em suas relações sociais.

Participante 3:

“eu me adaptei, como eu disse né a questão de criar vínculos né fora apenas


dos seus colegas de trabalho, as amizades que você fez dentro da
universidade eu também fiz de fora né da universidade”

A participante 3 mora em Boa Vista há 17 anos e quando chegou na cidade seus


laços sociais eram os outros professores e em sua fala ela demonstra que parte da adaptação
dela se deu a partir da criação de vínculos afetivos, tanto com pessoas da UFRR quanto com
pessoas que não estavam ligadas ao trabalho.

Participante 4:

“eu gosto muito também do jeito do padrão de sociabilidade que a gente


gera entre amigos aqui né, você tem uma roda de amigos que, pro pessoal
que vem de fora né, que muitas vezes só com sei lá, ou vem sozinho ou vem
com o cônjuge, um parceiro ou uma parceira, a gente desenvolve com os
amigos uma relação bem familiar, tipo, então o almoço de domingo é na casa
desses amigos né então então eu tenho umas amizade [...]”
35
O participante 4 mora em Boa Vista há mais de 10 anos e possui laços sociais
significativos na cidade. De acordo com sua fala, é possível observar estratégias de
ambientação que ele e suas relações pessoais desenvolveram para enfrentar a distância de
casa e da família.

Participante 5:

“gosto principalmente como eu falei pelas colegas que eu acho que faz toda
a diferença, cria realmente um ambiente bem melhor, um ambiente mais
tranquilo, mais seguro [...]eu acho que é mais pelos colegas mesmo, eu gosto
também do trabalho né fora isso né eu gosto desse trabalho mas os colegas
fazem muita diferença pra construir uma ideia né do que a UFRR é pra
mim”

A participante 5 está na cidade há pouco mais de 2 anos e também não conseguiu


estar em outros ambientes além do trabalho por conta do isolamento social, mas considera
as colegas de trabalho seus laços sociais por conta da solicitude e acolhimento que recebeu
quando chegou na cidade, sendo um diferencial para ela.
Percebe-se, a partir de algumas falas dos participantes, a importância que os
professores têm na adaptação inicial e rede de apoio aos servidores que migram para Boa
Vista, pois o contato com o trabalho vem antes de qualquer outra interação social nesse
contexto.

Dimensão 2

c) Os reflexos da migração na vida do servidor

A dimensão sobre os reflexos da migração na vida do servidor traz aspectos que os


servidores observaram a partir de suas experiências individuais e de que forma essa
mudança os afetou. Os reflexos trazidos pelos participantes envolvem a questão geográfica,
uma vez que Boa Vista é uma cidade distante, o que afeta na relação com os familiares, a
sensação de isolamento que eles sentiram quando vieram para Boa Vista e a questão da
logística para sair da cidade. Traçar esses aspectos se faz necessário para compreender as
implicações que tal fenômeno desencadeou em cada participante.

Participante 2
36
“Mas vou te dizer, eu raramente tenho contato com a minha família, muito
raramente.. (choro) meu pai morreu e eu não pude ir ao enterro porque eu ia
chegar depois do enterro dele, então eu não pude ir pro enterro do meu
pai…..Desculpa, eu me emociono”

A participante 2 trouxe em sua fala a experiência no falecimento do seu pai e o


quanto a logística para sair de Boa Vista é complicada, pela questão geográfica, malha
aérea, etc. Por isso, para quem mora longe dos familiares, por exemplo, enfrenta esse
obstáculo da distância.

Participante 3

“a questão da distância, eu vim do estado de São Paulo pra cá, daí assim,
independente de ser em linha reta ou não mas é 5 mil km então nós temos né
essa questão geográfica que dificultava, que dificulta também a questão da
periodicidade de você retornar, de encontrar com seus os amigos, seus
familiares, aí no caso primos por exemplo e amigos mais chegados né”

A terceira participante também trouxe a problemática da distância da família e em


como isso afetou a convivência com seus familiares, já que não é tão perto e simples de se
locomover para outras cidades.

Participante 5

“uma sensação que eu senti muito assim que eu cheguei que foi o isolamento,
é uma sensação de isolamento muito grande [...] essa sensação de
isolamento que me impactou desde o primeiro momento”

A participante 5 trouxe a experiência de que a migração para Boa Vista suscitou nela
a sensação de isolamento devido ao estado de Roraima ser muito afastado de outros lugares
e a dificuldade em ir para outros lugares, pois em outros estados essa locomoção se dá de
maneira mais fácil.

d) Motivações para ficar

A dimensão motivações para ficar traz aspectos que os servidores julgam positivos
na cidade de Boa Vista e na UFRR, sendo pontos importantes para sua permanência na
cidade, no entanto, mencionar esses pontos não necessariamente significa que o servidor não
37
tenha vontade de ir embora, mas sim pontos que influenciam positivamente em sua
permanência.

Participante 1

"Eu gostei muito da cidade, principalmente pelo fator das minhas crianças,
as praças, a segurança, ah o que mais? ah, a praticidade, é uma cidade,
apesar de ser uma capital, é pequena, tudo bem simples, eu vou e volto da
universidade pra trabalhar de bicicleta isso pra mim é muito prático, legal, é
bem tranquilo, eu posso ir e voltar pra almoçar em casa porque a
universidade é bem próxima de casa, o aeroporto é do lado da universidade,
próximo de casa, então é tudo muito prático pra mim, eu gostei muito, muito
mesmo”

Participante 2

“eu gosto muito da cidade, eu vejo muitas coisas positivas ao contrário da


maioria das pessoas que vem pra cá, eu realmente gosto, eu realmente gosto
da cidade, eu gosto da proximidade, eu moro próximo a universidade, eu
moro próximo ao centro, eu moro próximo a escola da minha filha, eu moro
próximo ao lugar que eu trabalho, um lugar bem central e isso pra mim é um
dado muito positivo”

Participante 3

“eu gosto, eu acho assim uma cidade tranquila em termos pra mim né, pra
quem veio da cidade de São Paulo, então assim, em termos de segurança, de
qualidade de vida , a distância da minha casa até a universidade que eu
gasto né é relativamente curto, o percurso [...]como eu te disse foi em cima
de escolhas e não me decepcionou né essa escolha que eu fiz, de vir fazer um
concurso aqui pra universidade então ela não me decepcionou.”

Participante 4

[...]hoje o que mais me dói o coração é por exemplo às vezes de estar em


uma conversa com pessoas próximas né e surge essa conversa né que eu
tenho o desejo de falar que eu não tô gostando de morar aqui o que mais me
dói é falar isso na frente dos meus amigos, eu fico envergonhado, porque pra
mim essa é a melhor parte, então… acho que se não fosse por eles eu
jamais… eu teria ido embora já”
38

Participante 5

“[...] eu moro aqui no bairro dos estados e a universidade está super perto, e
assim, não dá nem cinco minutos daqui até lá de carro e a pé também não dá
muito tempo, já fiz esse trajeto a pé então é surreal assim nesse o quanto que
é perto as coisas [..] Mas eu percebo que é bom assim muito bom porque
parece que eu tenho mais tempo de dia que eu acho que efetivamente tem e
eu tenho mais calma porque sem perceber quando a gente tá num lugar
maior você começa também a ficar mais tensa, mais agitada, as vezes você
nem ta percebendo mas aqui não [..] parece que você vai vivendo melhor,
aproveitando as horas, os dias sabe, então eu gostei disso e me fez perceber
até que é melhor”

Observa-se, a partir das falas, a similaridade nas respostas dos participantes, por
exemplo, a distância entre a universidade e suas casa, a tranquilidade, qualidade de vida que
veio com essa percepção de lugar mais calmo, tais motivações apareceram nas falas de 4
participantes, diferente do participante 4, tendo sido bem enfático em sua fala sobre a
importância dos seus laços sociais crucial para sua permanência na cidade.

e) Motivações para ir embora

A dimensão motivações para ir embora compila motivos que os servidores julgam


como pontos negativos em Boa Vista e na UFRR e que poderiam interferir em sua decisão
de partida.

Participante 1

“[..]não pretendo ir embora, tá tranquilo pra mim.”

Participante 3

“Então, ao longo desse tempo eu não tive motivos de querer ou de retornar


ao meu estado de origem ou pra outras regiões do Brasil, pra outras
instituições”

Participante 4
39
“Olha é, a resposta hoje é não, se isso for uma pergunta sobre o momento
em que eu estou vivendo hoje é não, e por quê? Porque eu acho que Boa
Vista é muito isolada do mundo assim, eu acho que a internet hoje é mais
estável e que dá acesso a algumas, alguns bens dos serviços culturais já dá
uma melhorada né do que já foi há dez anos atrás[...] é muito caro viajar,
tipo é caro fazer tudo entende, acho uma cidade cara então também tipo sei
lá, é isso, acho que Boa Vista é cara e acho que o custo de deslocamento
daqui é alto, e basicamente é isso, assim considerando o meu padrão de vida
aqui, o que eu ganho de salário e o que eu tenho à disposição pra tocar a
minha vida e os meus desejos eu acho que a combinação dessas duas coisas
me fazem não gostar de morar aqui”

Dentre os 5 entrevistados, apenas 1 servidor demonstrou não estar satisfeito em Boa


Vista, embora em sua fala esse desejo não esteja relacionado a aspectos da cidade e da
UFRR especificamente, está relacionado a parte financeira. Dois servidores expuseram de
maneira explícita que não pretendem ir embora e que gostam de morar na cidade, ou seja,
estão satisfeitos.

f) Palavra que define a UFRR para o servidor

Quando perguntados sobre uma palavra que definisse a instituição na vida do


servidor, as respostas foram as seguintes:

Participante 1

“Realização [...] a conquista de algo que foi muito muito importante pra
mim, um sonho, todo mundo que trilha uma carreira acadêmica o objetivo é
chegar ao final e atuar nessa área de pesquisa, ensino e tal, e a universidade
no Brasil é infelizmente o único lugar que a gente consegue fazer isso”

Participante 2

“Seria conhecimento, porque foi por causa do conhecimento que a gente


veio pra cá, mas é por causa do conhecimento que a gente também se
realiza”

Participante 3

“Pra mim foi uma realização, pra mim foi realização, então a universidade
pra mim foi um meio de eu me realizar profissionalmente, profissionalmente
40
né porque toda a formação que eu tive acadêmica então ela me proporcionou
essa realização de ser uma professora, uma pesquisadora”

Participante 4

“diria que a palavra que eu acho que mais mais fala sobre a minha
experiência com a universidade acho que é aprendizado mesmo, eu sei que
pode parecer meio clichê acho que é no sentido mais profundo do que é
aprendizado né porque é o lugar que tá ligado [...] aprendi muito sobre
paciência sobre profissionalismo, assim é um lugar de aprendizado mesmo,
acho que não como aluno mas como pessoa, como profissional e até mesmo
a experiência do doutorado que me deu apoio assim, então aprendizado
mesmo”

Participante 5

“Bom, acho que seria realização, como eu falei foi a realização de um sonho
de uma meta que eu tinha profissional, fiquei bastante feliz então realização
nesse sentido”

Dos 5 participantes, 3 responderam que a palavra que definia a instituição era


realização, dado interessante pois retrata a importância da UFRR na concretização de metas
e em como trabalhar na universidade faz parte do sonho de vida do servidor. Apareceu
também as palavras conhecimento e aprendizado que também são substantivos parecidos e
que retratam a realização profissional igualmente.

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mudanças de uma maneira geral normalmente geram diversos sentimentos, no caso


específico da migração, representa uma mudança significativa na vida do indivíduo. A
Universidade Federal de Roraima é composta por muito migrantes de todos os lugares do
país e até mesmo estrangeiros, por isso o objetivo geral desta pesquisa buscou evidenciar e
compreender aspectos afetivos e sentimentos de pertencimento decorrentes da migração dos
servidores da UFRR, e por meio das entrevistas e do compilado de instrumentos foi possível
delinear tais aspectos.
41
Estudar o fenômeno da migração, em tese, é bastante delicado, uma vez que migrar
de forma voluntária ou não, acarreta mudanças em diferentes níveis na vida de quem se
muda. Durante a construção da presente pesquisa, foi possível proporcionar um espaço de
escuta, de acolhimento e de troca durante as entrevistas com os participantes e, dessa
maneira, traçar as implicações que mudar de cidade, mudar de casa, trocar de trabalho, estar
longe da família, criar novos laços, estabelecer novos vínculos e de como foi para eles
percorrer novos caminhos.
O primeiro contato que os servidores possuem quando se mudam para a cidade são
os colegas de departamento e são essas pessoas que proporcionam o sentido de acolhimento,
de solicitude, prestatividade e cortesia, o que faz muita diferença na vida dos migrantes
nesse momento inicial de adaptação, o sentir acolhido pode não tornar o processo mais fácil,
mas torna o processo menos solitário.
Trabalhar na docência para grande parte dos servidores significa uma realização
profissional, a instituição e a cidade são coadjuvante no alcance desse objetivo, embora
sejam protagonistas no que se refere a permanência deles também.
Os instrumentos utilizados demonstraram um nível de bem estar e de apego positivo
em relação a Boa Vista e a UFRR, esses resultados estão ligados estritamente ao fato dos
servidores optarem pela permanência em ambos os locais. Por isso, torna-se imprescindível
proporcionar ao servidor um ambiente com boas relações interpessoais; uma instituição
onde seja possível que o servidor progrida academicamente, seja no mestrado, doutorado;
realize projetos de pesquisa, ensino e extensão, assim como já vem sendo feito.
A UFRR está sempre recebendo novos servidores e se despedindo de antigos, por
essa razão, torna-se pertinente que sejam feitos estudos à respeito desse processo, seja para
investir possíveis motivos para a não permanência, seja para levantar estratégias de
ambientação dos novos servidores e até mesmo pesquisas voltadas para os servidores que já
se mudaram para outra cidade e/ou instituição.
Cada vez que um servidor se muda, leva consigo fragmentos de histórias e vivências
que ajudariam na construção contínua da história da UFRR, essas histórias vão se perdendo
com o tempo, caso não sejam escutadas, escritas, compartilhadas e guardadas. Por isso, para
preservar aspectos importantes na construção da identidade da universidade, esses estudos
tornam-se essenciais.
42
10 CRONOGRAMA

Jul/ Ago/ Set/ Out/ Nov/ Dez/ Jan/ Fev/ Mar


ETAPAS 21 21 21 21 21 21 22 22 /22

Escolha do tema X

Levantamento X X X
bibliográfico

Elaboração do projeto de X X X
pesquisa

Apresentação do projeto X
de pesquisa

Coleta de dados X X X

Tratamento dos dados X X

Análise e discussão dos X X


dados

Defesa do TCC X
43
REFERÊNCIAS

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subjetivo. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 2004, v. 20, n. 2, pp. 153-164. Disponível em:
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<https://doi.org/10.1590/S1413-73722003000300010 > Acesso em: 31 jul. 2021
47
APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar da pesquisa “Relações de Pertencimento à


UFRR e a Boa Vista: Uma Análise do Apego ao Lugar sob a Ótica dos Servidores'', sob a
responsabilidade da pesquisadora Profa. Dra. Daniele da Costa Cunha Borges Rosa, e sua
participação não é obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e
poderá sair da pesquisa sem nenhum prejuízo para você ou para a pesquisadora. Estima-se
que você levará aproximadamente 20 minutos para responder todo o instrumento.

1. O objetivo deste estudo é: Evidenciar e compreender as consequências, no âmbito


afetivo e de pertencimento, decorrentes da migração dos servidores da UFRR.

2. Sua participação nesta pesquisa será:

a) respondendo a uma escala referente ao apego ao lugar à Universidade Federal de


Roraima, com perguntas sobre identidade de lugar, laços sociais, etc;

b) respondendo ao instrumento PWI referente a satisfação com a vida, contendo perguntas à


respeito da satisfação com a saúde, segurança, conquistas, etc;

c) respondendo ao instrumento SWLS referente a satisfação em diferentes âmbitos da vida;

d) respondendo a um questionário para traçar e caracterizar o participante e sua vivência em


Boa Vista e na UFRR, contendo perguntas relacionadas ao tempo de estadia na cidade,
naturalidade, tempo de trabalho na universidade, estrutura familiar, etc.

e) respondendo a uma entrevista semi-estruturada referente a migração e a ambientação na


UFRR e em Boa Vista. A referida entrevista será realizada apenas com os participantes que
sinalizarem, ao final deste questionário, a disponibilidade em participar.
48

3. O principal benefício relacionado com a sua participação será: Auxiliar na obtenção


de dados que serão utilizados para fins científicos e aplicados no sentido de compreender a
relação do sujeito com a casa em que mora dentro do contexto pandêmico. Caso seja de sua
preferência, os resultados poderão ser disponibilizados nos e-mails informados por cada
participante, ao final do questionário.

4. O principal risco relacionado com a sua participação será: Responder às questões


podem envolver riscos mínimos, como desconforto resultante da exposição de opiniões e
experiências pessoais. Você também pode experimentar cansaço por responder ao
instrumento. Você terá a liberdade de interromper o preenchimento do instrumento a
qualquer momento, não sendo preciso enviar as questões já respondidas.

Você receberá uma via deste termo com o telefone e o endereço institucional do pesquisador
principal, pesquisador auxiliar e do CEP e poderá tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua
participação, agora ou a qualquer momento.

Contato da pesquisadora responsável e da pesquisadora auxiliar (24 horas por dia e sete dias
por semana):

Pesquisadora Responsável: Daniele da Costa Cunha Borges Rosa | E-mail:


daniele.costa.cunha@gmail.com | Telefone: (95) 99141-8842 – Endereço profissional:
Universidade Federal de Roraima, Campus Paricarana, Centro de Educação, Faculdade de
Psicologia, Bloco 1, Sala 3, Av. Cap. Ene Garcez, 2413, Bairro Aeroporto, CEP:
69.310-000, Boa Vista - RR.

Pesquisadora auxiliar: Ana Carolina Barbosa de Oliveira | E-mail: aninhacac7@gmail.com |


Telefone: (95) 98106-5655.

Endereço do Comitê de Ética em Pesquisa: Bloco da PRPPG-UFRR, última sala do corredor


em forma de T à esquerda (o prédio da PRPPG fica localizado atrás da Reitoria e ao lado da
Diretoria de Administração e Recursos Humanos - DARH) Av. Cap. Ene Garcez, 2413 –
49
Aeroporto (Campus do Paricarana) CEP: 69.310-000 - Boa Vista – RR E-mail:
coep@ufrr.br (95) 3621-3112 Ramal 26

Declaro que entendi o objetivo, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa


e concordo em participar.

_______________________________
Participante da pesquisa

_______________________________
Pesquisador Responsável
50
APÊNDICE B

Escala de Apego ao Lugar

A partir deste momento, serão apresentadas afirmações para que você identifique se
você concorda ou não com cada uma delas. Para isso, utilize a escala de resposta indicada
abaixo de cada frase marcando a numeração que melhor indica sua opinião.

Eu sinto que a UFRR faz parte de quem eu sou:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

A UFRR é muito especial para mim:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Eu me identifico fortemente com a UFRR:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

A UFRR significa muito pra mim:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente
51

Vivi muitas histórias na UFRR:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

A UFRR reflete quem eu sou:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Na UFRR eu posso ser eu mesmo mais do que em qualquer outro lugar:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Eu sinto mais satisfação estando na UFRR do que em qualquer outro lugar:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

A UFRR é o melhor lugar para fazer as coisas que eu mais gosto:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
52
Totalmente Totalmente

Fico muito feliz com ideia de ficar alguns dias na UFRR:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Nenhum outro lugar pode ser comparado a UFRR:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Fazer o que eu faço na UFRR é mais importante pra mim do que fazer as mesmas
coisas em outro lugar:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Eu sinto que a UFRR faz parte da minha história:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Eu sinto que faço parte da UFRR:


53

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

A UFRR é um patrimônio do Brasil:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

A UFRR se tornou muito importante por causa das pessoas com quem tive contato:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente

Eu tenho orgulho da UFRR:

1 2 3 4 5
Discordo Concordo
Totalmente Totalmente
54
APÊNDICE C

Escala de Bem Estar Subjetivo (PWI)

Atualmente, até que ponto você está satisfeito com cada um destes aspectos de sua vida?

0=Totalmente Insatisfeito/a 10=Totalmente


Satisfeito/a

Com a sua saúde 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Com o seu nível de vida 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Com as coisas que você tem conseguido 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


na vida

Com o quanto você se sente seguro/a 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Com os grupos de pessoas dos quais faz 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


parte

Com a segurança a respeito do seu 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


futuro

Com as suas relações com as outras 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


pessoas

Com suas relações familiares 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Com toda sua vida, considerada 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


globalmente
55
APÊNDICE D

Escala de Bem Estar Subjetivo (SWLS)

A seguir, temos cinco frases que refletem como podem pensar e sentir as pessoas a
respeito de sua própria vida. De 0 a 10 indique o ponto em que você se situa:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Não, de Não, Não Relativa- Mais Meio Mais Relativa- Sim, Sim, Sim,
nenhuma quase de muito mente para não a para mente mui- forte- comple-
forma nenhum não do que meio sim do sim to mente tamente
a forma sim que
não

A minha vida, em quase tudo, corresponde 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


àquilo que desejo

As condições em que vivo são boas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Estou satisfeito/a com minha vida 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Até agora, tenho conseguido coisas que 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


são importantes para mim

Se eu nascesse de novo, mudaria muitas 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10


coisas em minha vida.
56
APÊNDICE E

Caracterização do Participante

1. Você trabalha na UFRR?


( ) Sim
( ) Não

2. Qual cargo ocupa?


( ) Docente
( ) Técnico

3. Há quanto tempo trabalha na UFRR?


( ) 0 a 2 anos
( ) 3 a 5 anos
( ) 6 a 8 anos
( ) 9 a 10 anos
( ) mais de 10 anos

4. Você é natural de Boa Vista?


( ) Sim Pular para a pergunta 6
( ) Não

5. De qual estado você é?


( ) Amazonas ( ) Piauí ( ) Bahia
( ) Pará ( ) Pernambuco ( ) São Paulo
( ) Tocantins ( ) Alagoas ( ) Rio de Janeiro
( ) Acre ( ) Sergipe ( ) Mato Grosso
( ) Rondônia ( ) Rio Grande do Norte ( ) Mato Grosso do Sul
( ) Amapá ( ) Rio Grande do Sul ( ) Distrito Federal
( ) Maranhão ( ) Santa Catarina ( ) Goiás
( ) Ceará ( ) Paraná ( ) Espírito Santo
57
( ) Paraíba ( ) Minas Gerais
6. Qual o seu estado civil?
( ) Casado/união estável
( ) Solteiro
( ) Viúvo
( ) Divorciado

7. Você tem filhos?


( ) Sim
( ) Não

8. Você possui alguma rede familiar na cidade?


( ) Sim
( ) Não

9. Se sim, quem? *marcar todas que se apliquem


( ) esposa (o)
( ) filho (os)
( ) mãe/ pai
( ) outro:_________

10. Em uma escala de 0 a 10 o quanto você gosta de morar em Boa Vista:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

11. Em uma escala de 0 a 10 o quanto você pensa em se mudar de Boa Vista:

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

12. O que mais te chama a atenção em Boa Vista? *pode marcar mais de uma alternativa
( ) Praças
( ) Espaços verdes disponíveis a população
( ) Trânsito
58
( ) Comida
( ) Clima
( ) outros:__________
59
APÊNDICE F

Entrevista Semi- Estruturada


Participantes de outros estados*

- Quais os reflexos que a migração trouxe pra você?


- Você gosta de morar aqui? Por quê?
- Você se sentiu acolhido em Boa Vista? De que forma se deu esse acolhimento?
- Você gosta de trabalhar na UFRR? Por quê?
- Você se sente acolhido pela UFRR?
- Se você pudesse escolher novamente, teria escolhido trabalhar na UFRR? por quê?
- Se você pudesse descrever a UFRR em uma palavra, qual seria? Por quê?

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