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O ANO
Domínio: Educação Literária
Conteúdo: Obras de leitura obrigatória – questionários
Fernando Pessoa
● Ortónimo e heterónimos
2.Considerando a segunda estrofe, caracterizae justificao efeito que a memó ria exerce
sobre o estado de espírito do sujeito.
3.Apontaas duas linhas temá ticas da poesia de Fernando Pessoa ortó nimo presentes
neste poema.
Poema IX
1.Mostrao tipo de relaçã o que sujeito poético estabelece com a realidade, esclarecendo
o papel das sensaçõ es e do pensamento no estabelecimento dessa relaçã o.
1. Na primeira estrofe, o sujeito poético aponta «uns» e «outros» dos quais se distancia.
1.1Explica como «uns» e «outros» vivenciam o tempo.
1.2Identifica as aná strofes usadas nesta estrofe.
2. Na segunda estrofe, o sujeito poético apresenta o seu ponto de vista sobre a vivência
do tempo.
2.1Explicita-o atendendo ao quadro temá tico da consciência da mortalidade.
A Última Nau
1. bandeira, estandarte; 2. funesto, que traz desgraça; 3. que pressagia; 4. nevoeiro; 5. volta.
1.Explicitao sentido histó rico e o significado simbó lico de «a ú ltima nau», baseando-te
em elementos das duas primeiras estrofes do poema.
2.«Ah, quanto mais ao povo a alma falta, / Mais a minh’alma atlâ ntica se exalta».
Considerando o estudo de Mensagem, e recordando o seu cará ter épico-lírico,
interpretaestes versos, relacionando-os com o conteú do das estrofes anteriores.
Prece
2.Explicade que modo, na segunda estrofe, surge a ideia de esperança, contrá ria ao
pessimismo da estrofe anterior.
3.Interpretao desejo, de sentido coletivo, patrió tico e simbó lico, expresso na ú ltima
estrofe, relacionando-o com o conteú do da primeira estrofe.
Acontece que, mesmo à esquina, um primeiro andar vem sendo habitado por uma
família de médicos que dali faz consultó rio. Pouco antes da instalaçã o dos semá foros a
pedal, veio morar o Doutor Joã o Pedro Bekett, pai de filhos e médico singular. Chegou de
Coimbra com boa fama mas transbordava de espírito de missã o. Andava pelas ruas a
interpelar os transeuntes: «Está doente? Nã o? Tem a certeza? E essas olheiras, hã ?
Venha daí que eu trato-o.» E nesta â nsia de convencer atravessava muitas vezes a rua. O
semá foro complicava. Aproximou-se do Ramon e bradou, severo: «A mim, ninguém me
diz quando devo atravessar uma rua. Sou um cidadã o livre e desimpedido.» Ramon
entristeceu. Nã o gostava que interferissem com o seu trabalho e, daí por diante, passou
a dificultar a passagem ao doutor. Era caso para inimizade. E eis duas famílias
desavindas. Felizmente, nunca coincidiram descendentes casadoiros. Piora sempre os
resultados.
Má rio de Carvalho, «Famílias desavindas», Contos Vagabundos, Porto Editora, 2018
– Tu?
– Tu, Gi?
Tã o jovem, Gi. A rapariguinha frá gil, um vime, que ela tem levado a vida inteira a
pintar, primeiro à maneira de Modigliani, depois à sua pró pria maneira, à de George,
pintora já com nome nos marchands das grandes cidades da Europa. Gi com um
pregador de oiro que um dia ficou, por tuta e meia, num penhorista qualquer de Lisboa.
Em tempos tã o difíceis.
– Vim vender a casa.
– Ah, a casa.
1.Gi, jovem de 18 anos, decide que está na altura de partir. Nã o sabemos para onde,
sabemos porquê.
Especificade que «foge» Gi.
3.«uma simples lá grima no olho direito, o outro, que esquisito, sempre se recusa a
chorar. É como se se negasse a compartilhar os seus problemas, nã o e nã o.»
Interpretaesta estranha forma de manifestar emoçõ es.
Aos Poetas
2.Explicitaa exortaçã o feita nas três ú ltimas estrofes, apontando três valores universais
da poesia para os quais apela o sujeito poético.
3.Interpretao valor da metá fora «asas» usada na terceira estrofe, relacionando-a com o
conteú do geral do poema.
Urgentemente
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
2.«É urgente destruir certas palavras». Explica o sentido deste verso, explicitando o que
«é urgente destruir».
3.Interpreta a terceira estrofe,prestando atençã o ao valor metafó rico e simbó lico das
palavras.
4.«Cai o silêncio nos ombros e a luz / impura, até doer.» Interpreta estes dois versos:
relacionando-os com o conteú do das estrofes anteriores;
como representaçã o do contemporâ neo.
Só nã o trarei o resto
da ternura em resto esta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo
quando a quiseres –
Ana Luísa Amaral, Imagias, Gó tica, 2002
2.«este chã o», «desta tarde»/«esta tarde». Determina a importâ ncia das referências
deíticas.
3.Considerando toda a terceira estrofe, bem como o título do poema, aponta o valor
simbó lico das «gavetas», associadas à memó ria do amor.
D. Jorge de Sena
Lê, atentamente, o poema seguinte.
1.O poema é uma pesada acusaçã o de Camõ es aos seus contemporâ neos.«Podereis
roubar-me tudo». Explicitao conteú do geral dos oito primeiros versos, mostrando
E. Alexandre O’Neill
Lê, atentamente, o poema seguinte.
O beijo
O funcionário cansado
G. Herberto Helder
Lê, atentamente, o poema seguinte.
O poema
H. Ruy Belo
Lê, atentamente, o poema seguinte.
O portugal futuro
1.Atendendo ao valor simbó lico dos elementos «pá ssaro» e «criança», explicitao
que, segundo o sujeito poético, é possível no «portugal futuro».
1.1Propõ euma interpretaçã o para o desenho das crianças e para o asfalto negro
que serve de suporte ao desenho.
2.O «portugal futuro» terá a mesma dimensã o e as mesmas fronteiras que «este».
Mostrao que será diferente.
3.Nesse país futuro, o sujeito poético gostaria de ouvir as badaladas do reló gio da
1.Neste poema, o sujeito poético é observador do movimento do mundo que lhe chega
atravésde sons e imagens.Destacaas expressõ es que transmitem sensaçõ es auditivas,
banda sonora do rumor matinal.
J. Nuno Júdice
Lê, atentamente, o poema seguinte.
2.Explicitao conceito de amor que preside à relaçã o eu-tu e que está expresso nos
vv. 6-15.
K. Manuel Alegre
Lê, atentamente, o poema seguinte.
Portugal em Paris
Solitá rio
por entre a gente eu vi o meu país.
Era um perfil
de sal
e abril.
Era um puro país azul e proletá rio.
Anó nimo passava. E era Portugal
que passava por entre a gente e solitá rio
nas ruas de Paris.
Vi minha pá tria derramada
na Gare de Austerlitz. Eram cestos
e cestos pelo chã o. Pedaços
do meu país.
Restos.
Braços.
Minha pá tria sem nada
sem nada
despejada nas ruas de Paris.
E o trigo?
E o mar?
Foi a terra que nã o te quis
ou alguém que roubou as flores de abril?
Solitá rio por entre a gente caminhei contigo
os olhos longe como o trigo e o mar.
É ramos cem duzentos mil?
E caminhá vamos. Braços e mã os para alugar
meu Portugal nas ruas de Paris.
1.Apontaa realidade observada pelo sujeito poético, que serve de motivo e tema para o
poema.
3.Mostraos sentimentos que o sujeito poético exprime através do uso das interrogaçõ es
da 3.ª estrofe.
Nota:Alusã o ao poema de Camilo Pessanha começado pelos versos «Imagens que passais pelaretina / Dos meus olhos, porque nã o
vos fixais?»
Nã o voltou a ter notícias de Marcenda, Nem uma palavra, eu é que escrevi, há dias,
uns versos sobre ela, Duvido, Tem razã o, sã o apenas uns versos em que o nome dela
está , quer que lhos leia, Nã o, Porquê, Conheço os seus versos de cor e salteado, os feitos
e os por fazer, novidade seria só o nome de Marcenda, e deixou de o ser, Agora é você
que nã o está a ser amá vel, E nem sequer posso desculpar-me com o estado dos meus
nervos, diga lá o primeiro verso, Saudoso já deste verã o que vejo, Lá grimas para as
flores dele emprego, pode ser o segundo, Acertou, Como vê sabemos tudo um do outro,
ou eu de si, Haverá alguma coisa que só a mim pertença, Provavelmente, nada. Depois
de Fernando Pessoa sair, Ricardo Reis bebeu o café que lhe deitara na chá vena. Estava
frio, mas soube-lhe bem.
Alguns dias depois, os jornais contaram que vinte e cinco estudantes das
Juventudes Hitlerianas de Hamburgo, de visita ao nosso país em viagem de estudo e
propaganda dos ideais nacional-socialistas, foram homenageados no Liceu Normal, e
que, tendo visitado demoradamente a Exposiçã o do Ano X da Revoluçã o Nacional,
escreveram no Livro de Honra esta frase, Nó s nã o somos nada, querendo significar, com
declaraçã o tã o perentó ria, segundo explicava pressuroso o plumitivo1de serviço, que o
povo nada vale se nã o for orientado por uma elite, ou nata, ou flor, ou escol. Ainda
assim, nã o rejeitaríamos esta ú ltima palavra, escol, que vem de escolha, posto o que o
teríamos, ao povo, dirigido por escolhidos, se os escolhesse. Mas por uma flor ou nata,
credo, afinal de contas a língua portuguesa é de um ridículo perfeito, viva pois a elite
francesa, enquanto nã o aprendermos a dizer melhor em alemã o. Porventura com vistas
a essa aprendizagem se decretou a criaçã o da Mocidade Portuguesa, que, lá para
outubro, quando iniciar a sério os seus trabalhos, abrangerá , logo de entrada, cerca de
duzentos mil rapazes, flor ou nata da nossa juventude, da qual, por decantaçõ es
sucessivas, por adequadas enxertias, há de sair a elite que nos governará depois, quando
a de agora se acabar. Se o filho de Lídia vier a nascer, se, tendo nascido, vingar, daqui
por uns anos já poderá ir aos desfiles, ser lusito, fardar-se de verde e caqui, usar no
cinto um S de servir e de Salazar, ou servir Salazar, portanto duplo S, SS, estender o
braço direito à romana, em saudaçã o […]. Como amostra do que virá a ser a nossa
juventude patrió tica, irã o a Berlim, já fardados, os representantes da MP, esperemos
que tenham oportunidade de repetir a frase célebre, Nó s nã o somos nada, e assistirã o
aos Jogos Olímpicos, onde, escusado seria dizê-lo, causarã o impressã o magnífica, estes
belos e aprumados moços, orgulho da lusitana raça, espelho do nosso porvir, tronco em
flor estende os ramos à mocidade que passa2, Filho meu, diz Lídia a Ricardo Reis, nã o
entra em semelhantes comédias, e com estas palavras teríamos principiada uma
discussã o daqui a dez anos, se lá chegá ssemos.
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Porto Editora, 2016
1. sinó nimo iró nico de jornalista; 2. ú ltimos versos do hino da Mocidade Portuguesa.
Nã o volto aqui, dissera Lídia, e é ela quem neste momento bate à porta […].
É por causa do meu irmã o. Ricardo reis lembra-se de qu o Afonso de Albuquerque
regressou de Alicante, porto que ainda está em poder do governo espanhol, soma dois e
dois acha que sã o quatro, O teu irmã o desertou, ficou em Espanha, O meu irmã o veio
com o barco, Entã o, Vai ser uma desgraça, uma desgraça, Ó criatura, nã o sei de que está s
a falar, explica-te por claro, É que, interrompeu-se para enxugar os olhos e assoar-se, é
que os barcos vã o revoltar-se, sair para o mar, Quem to disse, Foi o Daniel em grande
segredo, mas eu nã o consigo guardar este peso para mim, tinha de desabafar com uma
pessoa de confiança, pensei no senhor doutor, em quem mais havia de pensar, nã o
tenho ninguém, a minha mã e nã o pode nem sonhar. Ricardo Reis espanta-se por nã o
reconhecer em si nenhum sentimento, talvez isto é que seja o destino, sabermos o que
vai acontecer, sabermos que nã o há nada que o possa evitar, e ficarmos quietos,
olhando, como puros observadores do espetá culo do mundo, ao tempo que imaginamos
que este será também o nosso ú ltimo olhar, porque com o mesmo mundo acabaremos,
Tens a certeza, perguntou, mas disse-o somente porque é costume dar a nossa cobardia
ao destino essa ú ltima oportunidade de voltar atrá s, de arrepender-se. […] A ideia é
irem para Angra do Heroísmo, libertar os presos políticos, tomar posse da ilha, e
esperar que haja levantamento aqui. E se nã o os houver, Se nã o houver, seguem para
Espanha, vã o juntar-se ao governo de lá . É uma rematada loucura, nem conseguirã o sair
a barra, Foi o que eu disse ao meu irmã o, mas eles nã o dã o ouvidos a ninguém, Para
quando será isso, Nã o sei, ele nã o modisse, é um destes dias, E os barcos, quais sã o os
barcos, É o Afonso de Albuquerque, mais o Dã o e o Bartolomeu Dias, É uma loucura,
repete Ricardo Reis, mas já nã o pensa na conspiraçã o que com tanta simplicidade lhe foi
descoberta. Recorda-se, sim, do dia da sua chegada a Lisboa, os contratorpedeiros na
doca, as bandeiras molhadas como trapos pingõ es, as obras mortas pintadas de morte-
cinza, O Dã o é aquele mais perto, dissera o babageiro, e agora o Dã o vai sair para o mar,
2. Explica, com palavras tuas, a hipó tese de definiçã o de destino, colocada pela
protagonista.
B.
1.É através das sensaçõ escaptadas pelos cinco sentidos(visã o, ouvido, tato, olfato, gosto – vv. 4-6), que o
poeta estabelece a relaçã o com a realidade, seja ela flor, fruto ou dia de calor. Essa forma de
relaçã osensacionistacom o real basta-lhe, pois é a que lhe traz a verdade desse real. Ao afirmar a sensaçã o
como fonte ú nica do conhecimento do real, o poeta nega o pensamento, submetendo-o à sensaçã o. Caeiro
consegue, assim, unir o pensar ao sentir, afirmando, por exemplo, «Pensar uma flor é vê-la e cheirá -la / E
comer um fruto é saber-lhe o sentido».
2.Metá fora: «Sou um guardador de rebanhos»; «O rebanho é os meus pensamentos». Estas metá foras sã o
essenciais para a compreensã o de toda a poética de Caeiro, cujo livro se chama, precisamente, «O
Guardador de Rebanhos». Através destas metá foras, Caeiro assume a sua dimensã o de poeta bucó lico,
intimamente ligado à Natureza, ao mesmo tempo que nos fornece a interpretaçã o desse bucolismo: ele é
pastor de um rebanho que sã o os seus pensamentos, guardando-os, nã o deixando que eles se libertem,
mas que se diluam e convertam em sensaçõ es.
Aná fora:Este recurso está ligado ao tipo de articulaçã o do discurso: muito simples, com predomínio da
coordenaçã o, neste caso aditiva (conjunçã o coordenativa copulativa – e)
Enumeraçã o:A enumeraçã o dos ó rgã os dos sentidos, nos versos 4 a 6, contribui decisivamente para a
afirmaçã o da relaçã o sensacionista com o real.
Antítese: Na ú ltima estrofe poderemos considerar a antítese «triste» / «feliz», dois estados contrastivos
que o sujeito poético experimenta na sua relaçã o sensacionista com a Natureza.
C.
1.Ao acordar, sozinho, na noite, o sujeito poético experimenta diversas sensaçõ es (auditivas: o silêncio, o
tictac; visuais: a janela iluminada do vizinho e a luz da sua pró pria janela; e táteis: a humidade da noite),
que desencadeiam os seguintes sentimentos:
– «desespero» pela «insó nia» que o despertou;
– surpresa, jú bilo e depois curiosidade, face à luz de uma janela, que assinala a presença de outro ser
humano em vigília como ele;
– «fraternidade» e comunhã o com esse outro ser, acordado como ele, naquela hora de solidã o noturna.
2.O poema termina com a apó strofe«Ó candeeiros de petró leo da minha infâ ncia perdida!», que remete,
de imediato, para um sentimento de nostalgia da infâ ncia irremediavelmente perdida pelo sujeito poético.
Esta nostalgia, desencadeada pela visã o da luz de um candeeiro de petró leo como os da sua infâ ncia, é um
tema que Á lvaro de Campos partilha com Fernando Pessoa ortó nimo.
D.
1.1 Diferentemente do sujeito poético, «uns» e «outros» sã o os que nã o sã o capazes de viver o presente.
Assim, «uns» vivenciam o tempo olhando para o passado, o que significa nã o ver a realidade, pois sendo
●A Mensagem
A.
1.Do ponto de vista histó rico, a «ú ltima nau» é aquela que levou D. Sebastiã o e o seu exército para o Norte
de Á frica onde seriam derrotados, na batalha de Alcá cer Quibir.
A nau partiu numa atmosfera de otimismo e orgulho imperialista, «Levando a bordo El-Rei Dom
Sebastiã o, / E erguendo, como um nome, alto, o pendã o / Do Império». Mas a partida foi também marcada
pelo sentimento de desolaçã o, tristeza, â nsia e pressá gios de desgraça. Repare-se na expressã o «sol
aziago» e considere-se que o sol remete para energia, força, açã o, ideias contrariadas pelo adjetivo
«aziago», anunciador de morte, de «pressago mistério». Os adjetivos usados na primeira estrofe – última,
aziago, erma, pressago – sã o determinantes na criaçã o dessa atmosfera de desgraça pressentida e
confirmada na expressã o «Nã o voltou mais», que inicia a 2.ª estrofe.
Ao nível simbó lico, «a ú ltima nau» representa o fim do Império. No entanto, as interrogaçõ es colocadas na
2.ª estrofe abrem um rasgo de esperança, conferindo a Deus o papel de guardiã o e inspiraçã o do sonho
restaurador do futuro («Deus guarda o corpo e a forma do futuro, / Sua luz projeta-o, sonho escuro / E
breve»).
2.A «ú ltima nau» partiu e nã o voltou ainda. Entã o, o sujeito poético, consciente da hora apagada que a
pá tria vive no presente, deseja ser o impulsionador de uma nova energia que a faça renascer das cinzas.
Por isso, «quanto mais ao povo a alma falta», quanto menos energia a pátria tem, mais o sujeito poético
sente a exaltaçã o da sua missã o inspiradora do sonho que quer transmitir à pátria: o sonho utó pico de
uma nova era.
É assim que o sujeito poético conjuga a epopeia da memó ria dos heró is e dos mitos com o lirismo da sua
pró pria ânsia e do seu pró prio sonho inspirador, de onde decorre o cará ter épico-lírico da obra.
3.Imbuído, como anteriormente se afirmou, do desígnio de construçã o de uma nova era, o sujeito poético
afirma nã o saber o momento, mas ter a certeza da chegada do momento misterioso e desejado.
Configurado como a chegada do sol (a luz) que afasta o nevoeiro, é a era do renascimento do império,
agora espiritual, logo, mais duradouro do que o império terreno que acabou. É a desejada luz – D.
Sebastiã o – que regressa do nevoeiro, afastando as sombras e fazendo reerguer o pendã o – o símbolo – o
sonho do Quinto Império. Assim se expressa, neste poema e, particularmente, nesta estrofe, a temática do
Sebastianismo presente na Mensagem.
B.
1. O sujeito poético caracteriza o presente como um tempo adormecido e moribundo, através das
expressõ es «noite», tempo da «alma vil», «silêncio hostil», «saudade» e «frio morto em cinzas».
2. Começando com a adversativa «Mas», a 2.ª estrofe abre uma janela de esperança no presente
moribundo, apontando «a chama», nã o totalmente extinta por trá s das cinzas, que pode erguer-se com o
vento, o sopro vital da vontade.
3. A ú ltima estrofe exprime um apelo/desejo, de sentido coletivo, patrió tico e simbó lico, de ressurgimento
e rejuvenescimento do «sopro» vital, da «â nsia» de conquista do desconhecido, ainda que seja «desgraça»,
mas que é também vida, esforço, conquista. Deseja-se que Portugal renasça das cinzas, para conquistar «a
Distâ ncia / do mar ou outra», mas que seja a sua identidade, o seu rosto.
Assim, o sujeito lírico, depois de lamentar o presente de cinzas em que a pá tria está mergulhada (depois
de ter vencido tanta «tormenta» e ter tido tanta «vontade»), exprime o desejo de um ressurgimento,
Conto
● Mário de Carvalho
1. É movido pelo pedalar de um semaforeiro. O doutor Beckett é um médico singular porque anda nas
ruas a captar doentes. Diz à s pessoas que nã o estã o com bom aspeto e procura convencê-las a utilizar os
seus serviços.
2. O médico, nesta sua tarefa de arranjar doentes, precisa de circular livremente e o semá foro nã o o
permite. Desta implicâ ncia nasceu uma inimizade que passou de geraçã o em geraçã o.
3. A desavença teria sido mais grave ou mais dolorosa se em alguma das famílias houvesse alguém
apaixonado por um elemento da outra família (a lembrar Romeu e Julieta ou tantas novelas de Camilo
Castelo Branco).
D. Jorge de Sena
1.Dirigindo-se aos seus contemporâ neos, o poeta acusa-os de lhe roubarem a obra, a vida de combate e o
amor. Essa acusaçã o é carregada de ironia amarga contida na expressã o «Podereis roubar-me», que
indicia o roubo de que, de facto, é vítima, por parte dos seus contemporâ neos.
2.O poeta acusa os seus contemporâ neos de ignorarem a sua obra, enquanto proclamam outros poetas
sem valor, mas igualmente ladrõ es como eles.
3.O castigo dos contemporâ neos será o seu pró prio esquecimento, enquanto a memó ria do poeta
perdurará para sempre. Daquele tempo em que vivem (o poeta e os seus vis contemporâ neos) apenas o
nome de Camõ es perdurará , num futuro que será caracterizado como a época de Camõ es. No final do
poema, mais uma vez com ironia, referirá o facto de um qualquer esqueleto (de um dos seus
contemporâ neos) ser usado como se fosse o de Camõ es, resgatado da vala comum para colocar no tú mulo
solene dos Jeró nimos.
E.Alexandre O’Neill
1.As duas realidades que se cruzam no poema sã o um bando de gaivotas e um beijo. Sendo
completamente diferentes – as gaivotas sã o aves reais, concretas, o beijo é um gesto / ato de amor, nã o
tem existência material –, nã o sã o dissonantes no texto, porque o beijo, poeticamente, voa como as
gaivotas, junta-se a elas.
2.O beijo chegou a voar, «ainda palpitante», de origem desconhecida. A sua imagem é perfeitamente
surrealista: «É uma ave estranha: colorida», um coraçã o vermelho a pulsar no ar, com a força apaixonada
de duas bocas.
2.1As expressõ es «Congresso de gaivotas» e «De inveja as gaivotas a gritar» contêm uma muito
expressiva ironia surrealista.
3.O poema é um soneto (constituído por catorze versos, organizados em duas quadras e dois tercetos); os
versos sã o decassilábicos e apresentam rima cruzada nas quadras e emparelhada e interpolada nos
tercetos, segundo o esquema rimá tico abab / abab / ccd / eed.
G.Herberto Helder
1.Os cinco primeiros versos revelam a origem interior do poema. Como exemplo, atentemos nas
expressõ es que evidenciam a origem íntima, física e humana do poema: «Um poema cresce […] na
confusã o da carne. Sobe […] só ferocidade e gosto, talvez como sangue ou sombra de sangue pelos canais
do ser.»
2.«Fora existe o mundo» (v. 6) é a expressã o que inicia a enunciaçã o da realidade exterior que se estende
até ao final do v.14 («a hora teatral da posse»).
3.«E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.» (v. 15). É a partir deste verso que o poema se
apropria da realidade, invadindo tudo com o seu poder.
4.Este poema é uma verdadeira «Arte poética», pois nele está exposto um conceito de criaçã o poética.
Assim, o poema começa por gerar-se dentro do poeta, confuso, sensual, íntimo, para depois abarcar a
realidade do mundo, sugá -la para o seu interior de palavras que se erguem poderosas e acima da
realidade, acima do tempo – «E o poema faz-se contra a carne e o tempo».
H.Ruy Belo
1.No «portugal futuro», é possível o voo do pá ssaro, ou seja, a liberdade; é possível o desenho das crianças
sobre o asfalto, ou seja, a criatividade; é possível a dança das crianças, ou seja, a alegria; é possível a
felicidade.
1.1O desenho tem a forma de um peixe e representa a infâ ncia. Ao desenharem esse peixe sobre o asfalto
negro, como quem desenha numa lousa, as crianças estã o a transformar a estrada em rio, caminho vivo e
natural.
2.O que mudará no «portugal futuro» nã o serã o as dimensõ es nem as fronteiras, nem o nome, mas sim o
seu interior, a sua alma («tudo nele será novo desde os ramos à raiz»), ou seja, o país é á rvore que tem de
renovar-se para dar frutos novos.
3.O sujeito poético identifica as badaladas do reló gio da matriz com o passado, por isso receia que ouvi- -
las, no «portugal futuro», seja ficar preso a esse passado e que, assim, a renovaçã o necessá ria nã o
aconteça.
4.Rima:A rima, muito livre, musical e flexível, apresenta-se com o esquema: abcacbdada|eeafgfahh ou
seja, há uma rima que predomina ao longo de todo o poema – país, giz, país, feliz, raiz, matriz ; verifica-se a
existência de conjuntos que se apresentam de forma variada (emparelhada: este / leste, duro / futuro;
cruzada: desenharem /país / chamarem / feliz; interpolada: feliz / este / leste / raiz); o ú nico verso solto, o
15.º, nã o o é completamente, pois rima com o interior do verso seguinte – beira-mar / mudar.
Aliteraçã o: «o puro pá ssaro é possível»; «desde os ramos à raiz»; «na avenida que houver»; «o passado e
podia». Outras repetiçõ es– desenhem / desenharem; chamem / chamarem; será / serei; este / oeste / este.
J.Nuno Júdice
1.O poema apresenta um conjunto de metá foras caracterizadoras daquilo que o sujeito poético sente
como uma dá diva transformadora do ser amado. Estas sã o as primeiras.
a.Trouxeste a segurança, que anula a incerteza; trouxeste a felicidade, que afasta os medos.
b.Trouxeste a luz da felicidade a uma vida de tristeza e solidã o.
2.Segundo o sujeito poético, o amor é cada um encontrar a sua pró pria identidade, construir-se por
dentro, para poder entrar na equaçã o de ser dois, e sem deixar de o ser, poder também fundir- se num só ,
liberto da solidã o. O amor é ainda nã o precisar da presença física do ser amado para o ter junto de si,
dentro de si. Finalmente, o amor é a luta contra o tempo.
3.O tema do amor de Pedro e Inês está presente na tradiçã o literá ria portuguesa desde o Cancioneiro
Geral de Garcia de Resende, no início do século XVI, passando por Camõ es e inú meros autores ao longo
dos séculos.
Neste poema de Nuno Jú dice, o título remete para esse tó pico, mas ultrapassa-o. Na verdade, podemos
entender o poema como um discurso de Pedro dirigindo-se à amada morta, mas o texto é sobretudo um
poema sobre o amor vivido plenamente, numa dimensã o que lhe confere universalidade, nã o o
restringindo a uma histó ria de amor concreta. «Pedro e Inês» serã o a metonímia dos amantes mais felizes
que infelizes.
K.Manuel Alegre
1.A realidade é a da emigraçã o portuguesa em França, observada através da visã o dos emigrantes na gare
parisiense de Austerlitz.
2.O sujeito poético percepciona um país marítimo, proletá rio e muito pobre. Duas metá foras muito
expressivas o caracterizam: «um perfil / de sal / e abril» e «um puro país azul e proletá rio». A 1.ª remete
para a condiçã o marítima de Portugal; a 2.ª remete para o mar e para a condiçã o simples e proletá ria dos
emigrantes. Já a enumeraçã o de cestos, pedaços, restos, braços remete para a descriçã o da pá tria exilada,
transmitindo uma ideia de pá tria rural, partida em pedaços, caída, perdida em terra alheia.
3.As interrogaçõ es, nos vv. 19 e 20, referenciam a situaçã o de abandono dos campos e do mar, provocada
pela saída dos homens que emigravam. A dos vv. 21-22 contém implícita a situaçã o política das
perseguiçõ es do tempo do fascismo. A do v. 25sugere o nú mero incontá vel de emigrantes. Através destas
interrogaçõ es, o sujeito poético exprime perplexidade, revolta, solidã o e saudade. Por outro lado, ao
utilizar a 1.ª pessoa do plural («É ramos», «caminhá vamos»), exprime a solidariedade e a comunhã o com a
condiçã o dos emigrantes que, alugam a sua força de trabalho em França.
José Saramago
O Ano da Morte de Ricardo Reis
A.
1.No primeiro pará grafo do excerto, diversos elementos sã o reveladores da relaçã o heteronímica, mais
exatamente, do facto de Ricardo Reis ser uma criaçã o de Fernando Pessoa: as referências ao poema, que
este sabe nã o ser verdadeiramente sobre Marcenda, e do qual diz o segundo verso, acrescentando
«Conheço os seus versos de cor e salteado, os feitos e os por fazer»; o criador dos heteró nimos, expondo
ainda mais flagrantemente o seu estatuto, corrige a afirmaçã o de que sabem tudo um do outro para «…ou
eu de si», o que conduz à ú ltima pergunta de Reis, «Haverá alguma coisa que só a mim pertença», dando
lugar à ú ltima confirmaçã o de que a sua identidade é dependente de uma outra, é o desdobramento de
uma outra, «Provavelmente, nada».
2.O excerto mostra a influência crescente em Portugal do nacional-socialismo alemã o, referindo a visita
da delegaçã o das Juventudes Hitlerianas de Hamburgo e um dos pilares da ideologia que vinham defender
– a necessidade de um poder autoritá rio. A criaçã o da Mocidade Portuguesa é assim enquadrada no
regime político que deve servir e perpetuar, preparando a elite futura, «que nos governará depois,
quando a de agora se acabar». A fidelidade ao modelo alemã o é visível na descriçã o do uniforme, da
saudaçã o nazi executada nos desfiles, na referência à exaltaçã o da «raça». O excerto informa finalmente
sobre a presença de representantes da organizaçã o portuguesa nos Jogos Olímpicos de 1936.
3.O narrador usa a palavra «escol» como pretexto para criticar uma das estratégias do nacional- -
socialismo, seguida de perto em Portugal: a anulaçã o da vontade coletiva, a submissã o generalizada e
voluntá ria, face ao autoritarismo. Em oposiçã o, o narrador afirma uma clara preferência pelo regime em
que os dirigentes sã o escolhidos pelo povo.
B.
1. Os elementos presentes no texto retratam uma relaçã o de grande proximidade, quer da parte de Lídia,
pela confiança revelada, quer da parte de Ricardo Reis, que a ouve, se interessa, pergunta se a pode
ajudar. O beijo e o «momento perfeito» final sã o ilustrativos dessa intimidade.
2. O protagonista admite que o destino seja o reconhecimento da nossa impotência perante os
acontecimentos da vida e perante a morte.
3. O texto refere a guerra civil de Espanha, quando Reis lembra que Alicante nã o foi ainda tomada pelos
golpistas e quando é revelada por Lídia a alternativa dos revoltosos, caso a sua revolta falhasse. O assunto
principal é, porém, o da revolta dos marinheiros, que pretendiam iniciar um levantamento nacional, indo
para Angra do Heroísmo e libertando os presos políticos.
4. «deu por si Ricardo Reis a inspirar fundo, como se ele pró prio fosse na proa do barco, recebendo em
cheio na cara o vento salgado, a amarga espuma.» A comparaçã o mostra a identificaçã o de Reis com os
conspiradores, a emoçã o provocada pela revelaçã o de Lídia.