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Controverso, polêmico, cruel, frio, oportunista. Poderíamos ficar aqui listando
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Coordenadora: Elaine Simoni Stálin. Afinal, este líder russo foi responsável por muitas tragédias e por um pe-
elainesimoni@editoraonline.com.br
Colaborou nesta edição: Lucas Pires (textos) e Felipe Ajzemberg (ilustrações) ríodo na história de seu país e do mundo que muitos desejam esquecer. As
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Cleusa Garcia, Luciana Christofani, Cintia Oliveira, coloque no mesmo patamar de Adolf Hitler no quesito crueldade. Isso quan-
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Rio Grande do Sul: (51) 3374-5672
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do de família pobre, ele mesmo confessou que se tornara marxista por causa
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Supervisor de Marketing: Cassia Silva de sua própria condição e devido à opressão que o regime czarista impunha
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pôs a dar palestras, tornando-se um “doutrinador de operários”. Aos poucos,
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entregou-se completamente à causa revolucionária.
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aliado. Já Trotski, outro ilustre membro do partido, transformou-se em seu rival,
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ASSINATURAS CORPORATIVAS por não concordar com o uso da violência na Revolução. E essa rivalidade
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passaria para a posteridade como um ponto extremamente polêmico da his-
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tatianelopez@editoraonline.com.br tória russa, que terminaria com o assassinato de Trótski a mando de Stálin.
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Primeiros passos
Infância e juventude
S
tálin era descendente de uma família de servos A FAMÍLIA
e viveu uma infância pobre, entre surras do pai, Os mistérios em torno de Stálin já começam pela defi-
que gostava muito de beber, e o carinho da mãe, nição de sua data de nascimento. A maioria afirma que
que teve de trabalhar para suprir a ausência do ele nasceu em 21 de dezembro de 1879. Mas pesquisas
sustento que deveria ser provido pelo pai. mais recentes, descobertas em 1990 em documentos de
A história de Josef Stálin confunde-se rapidamen- arquivos paroquiais, apontam para 6 de dezembro do
te com a dos movimentos socialistas revolucionários na ano anterior. Dúvidas à parte, é certo que o líder rus-
Rússia imperial. Isso porque, na juventude, ele entraria so era filho de um casal de ascendência serva da Geór-
para os devotos da revolução contra o czar e a favor do gia, região independente que fora conquistada em 1801
socialismo, e só deixaria o movimento com sua morte,
pelos czares russos. O pai, sapateiro, deixou sua vila
em 1953, como chefe da União Soviética.
próxima a Tbilissi, capital do Cáucaso, conhecida por
Enquanto viveu, Stálin vivenciou dois momen-
Didi-Lilo, e mudou-se para Gori, cidadezinha de cin-
tos antagônicos. Primeiro, foi o império russo atrasa-
co mil habitantes.
do que tentava sobreviver com um sistema alternativo
ao capitalismo e ao socialismo, sistema este que deixa- Vissarion Ivanovitch Djugachvili, quando ain-
ria 80% da população na miséria. Num segundo mo- da era jovem, por volta de 1875, conheceu a mulher
mento, pós-revolução de 1917, ele se deparou com um que viria a ser sua esposa e a mãe de seus filhos. Ca-
país socialista que expandiu sua economia via uma in- sou-se com Ekaterina Ghelazde, de apenas 15 anos, com
dustrialização acelerada, levando-o a vencer a 2a Guerra quem teve três filhos até 1879, sendo que nenhum
Mundial e a construir uma bomba atômica. deles “vingou” – morreram logo depois do nascimen-
Em pouco mais de 30 anos, um abismo separa- to. Apenas a quarta criança sobreviveria – Iossef Vis-
va essas duas Rússias. E Stálin esteve em ambas – na sarionovitch Djugachvili, mais tarde conhecido como
primeira, como opositor e revolucionário; na segunda, Josef Stálin.
como seu maior protagonista depois da morte de Lê- Como a maioria do povo russo ou dos povos domi-
nin. São estes dois mundos, o tempo de Stálin e sua nados pelo império, que era o caso da Geórgia natal de
participação neles que iremos abordar nestas páginas Stálin, a família do futuro revolucionário bolchevique
de Grandes Líderes da História. era muito pobre. O que o pai ganhava como sapateiro
socialismo
Em 1900, Stálin já fazia parte de grupos marxistas que pregavam contra o
regime do czar. Quatro anos depois, conheceu Lênin, o grande inspirador
revolucionário, e participou da Revolução de 1905, agindo na organização de
populares e em ações de boicote ao governo. Começava a surgir uma figura
de importância para o nascente bolchevismo. A partir dali, Stálin viveria para o
Partido e para a Revolução
Por Lucas Pires
A
estada no seminário, ao contrário do que
desejava a mãe – torná-lo um religio-
so – fez que Stálin conhecesse a doutri-
na marxista. Em 1898, ingressou numa
sociedade clandestina secreta de nome Messame
Dassi, em que seus membros discutiam o socialis-
mo. Os amigos do grupo eram quase todos do pró-
prio seminário, que era um centro de oposição ao
governo czarista.
Por que Stálin acabou aderindo ao socialismo
nessa época? Ele mesmo dá a resposta: “Tornei-me
marxista por causa de minha posição social (meu
pai era operário numa fábrica de sapatos e minha
mãe era uma trabalhadora), mas também (...) por
causa da cruel intolerância e da disciplina jesuítica
que me esmagaram tão impiedosamente no semi-
nário (...). A atmosfera na qual vivia estava satura-
da de ódio contra a opressão czarista”.
Assim, o clima da época, como ele mesmo dis-
se, ajudou-o a entrar para o movimento socialista e
a se dedicar a dar palestras a operários das nascen-
tes indústrias de Tbilissi. Sua atividade socialista
não fora descoberta no seminário, mas o choque
com as autoridades se tornou rotina. Um dos rela-
tórios dos monges afirmava que “Djugachvili é ge-
ralmente grosseiro e desrespeitoso com as pessoas
investidas de autoridade”. Certo é que, em maio
de 1899, sob a alegação de “razões desconhecidas”
que não o deixaram prestar os exames finais, Stá-
lin foi expulso do seminário. O próprio envolvido
mais tarde teria afirmado que o motivo da expul-
Shutterstock
A gestação da grande
Revolução
A derrota na Revolução de conseguiu fugir e chegar a tempo de participar do con-
gresso e deixar clara sua opinião contrária, assim como
1905 abriu um período de se posicionou toda a facção menchevique, a ataques de
contrarrevolução que só seria brigadas de combate com o objetivo de expropriar ban-
cos, transportes de tesouros e tropas. O que Trótski não
invertido com a explosão da queria, e o congresso ratificou, era que os socialistas fi-
Primeira Guerra Mundial. Com ela, zessem uso da violência (roubos, extorsão etc.) para an-
gariar produtos e dinheiro para a Revolução. O tema já
o czarismo assinou seu atestado de tinha sido debatido no congresso de abril de 1906, mas
óbito e possibilitou a ascensão dos as resoluções tomadas na ocasião não foram definitivas
– ficaram permitidos apenas ataques para tomar armas
revolucionários. Enquanto as coisas e munição.
se precipitavam, Stálin passava os Com a intervenção de Trotski, mesmo os bolchevi-
ques se mostraram contra a insurreição armada, isolan-
dez anos entre as duas revoluções do Stálin e Lênin, que eram favoráveis e se abstiveram
preso ou fugindo da prisão de falar e votar. Muitos biógrafos colocam que, nesse
momento, vendo a estrela de Trótski brilhar, bateram
em Stálin a inveja e o ressentimento, sentimentos que
ele carregaria consigo até o fim da vida.
Por Lucas Pires Os ânimos revolucionários do povo arrefeceram ao
A
mesmo tempo que a força do regime cresceu. Greves
expectativa do encontro de Stálin com Lê- foram se tornando mais raras com o passar dos anos,
nin foi daquelas entre fã e ídolo, mas o even- assim como aumentava o ceticismo dos envolvidos. A
to efetivo marcou Stálin por outro fator: o de Revolução entrou num período de perda de vitalida-
ver Lênin como um ser humano normal. Es- de que só seria modificado por algo maior que abalas-
creveu Stálin sobre o líder bolchevique: “Esperava en- se as estruturas do regime. Em 1907, Lênin profetizou
contrar uma águia-real de nosso partido, um grande esse abalo: “Começou uma era de contrarrevolução; e
homem, não apenas do ponto de vista político, como vai durar uns 20 anos, a não ser que o czarismo nes-
também do ponto de vista físico. Porque, para mim, Lê- se meio-tempo seja abalado por uma grande guerra”. A
nin era um gigante, cheio de autoridade e força. E qual Primeira Guerra Mundial veio dar aos revolucionários
não foi o meu desapontamento ao ver aquele homen- todas as armas para a derrubada do czarismo, mas, antes
zinho comum, de altura média, absolutamente igual a disso, é preciso conhecer o papel de Stálin e suas ações
qualquer um de nós... Literalmente idêntico...”. no período entrerrevoluções.
Em maio de 1907, houve novo encontro do Parti-
do, dessa vez em Londres, que serviu para Stálin co- ENTRE PRISÕES E FUGAS
nhecer Trotski. Ali nascia uma rivalidade que marcaria Em 1903, Stálin se casou com uma jovem georgia-
a história da Revolução Russa. Preso em novembro de na, Ekaterina Svanidze, de quem parece, pelos relatos,
1905 e condenado à prisão perpétua na Sibéria, Trótski ter gostado e amado muito. Um amigo do casal falou
Leon Trótski
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C
om a abdicação do czar, um governo pro- suicida e gerou descontentamento geral. Marinheiros
visório passou a controlar o país. Mas, de da base de Kronstadt rebelaram-se e marcharam para
fato, ele não conseguia fazer valer sua von- a capital. O governo renunciou, mas em pouco tempo
tade sem que tivesse o apoio do Soviete de estava recomposto, só que os sovietes ocupavam maior
Petersburgo, o Conselho dos Deputados Operários e espaço em sua composição. Em compensação, a reação
Soldados. Enquanto isso, o novo governo dava anis- aos bolcheviques foi violenta – prenderam diversos de
tia geral a presos para juntar homens para a guerra. seus líderes, inclusive o recém-convertido Trótski – e
Stálin foi convocado, mas seu problema no braço não o VI Congresso do Partido, em fins de julho, acabou
permitiu que fosse enviado. Em março, quando voltou acontecendo na clandestinidade. Lênin teve de fugir
a Petersburgo, reassumiu seu cargo de editor do Pravda para a Finlândia, mas, antes, se escondeu na casa de um
e, por quase um mês – até a chegada de Lênin da Suíça velho amigo de Stálin, Sergo Alliluiev, que viria a ser
–, dirigiu o Partido. sogro do Homem de Aço no ano seguinte. O futuro
A partir de abril, quando do encontro bolchevi- ditador, que não gozava de popularidade e era pratica-
que em Petersburgo, ficou evidente o descompasso do mente um anônimo do Partido, ficou novamente com
grupo com o governo provisório. A chegada de Lênin o papel de dirigente dos bolcheviques com a ausência
trouxe o slogan que marcaria a luta revolucionária até de Lênin em Petrogrado.
outubro – “Todo o Poder aos Sovietes!”. Como já dito,
a ideia bolchevique não era implantar o socialismo e a A DECISÃO POR UMA
ditadura do proletariado na Rússia, mas fazer uma re- NOVA INSURREIÇÃO
volução democrático-burguesa que instigasse a Euro- A ideia de uma nova revolução, embora no ar, não
pa à revolução socialista. Os bolcheviques viam a Re- era aspirada diretamente por Lênin, pois os bolche-
volução na Rússia como uma faísca para a revolução viques não eram maioria nos sovietes, e sua pregação
mundial socialista. Daí as desavenças com os menche- era exatamente a favor do poder aos sovietes. Mas, aos
viques de Kerenski, que assumiram o governo provisó- poucos, a situação convergiria a seu favor, com mas-
rio, quando estes passaram a não levar o programa re- sas de operários sendo convertidas ao bolchevismo e os
volucionário desejado adiante. apoiando cada vez mais. Em setembro, deu-se o even-
A posição dos bolcheviques bateu de frente com o to que seria fatal ao governo provisório: o comandante
governo quando se pronunciaram novamente a favor supremo das Forças Armadas da Rússia, Kornilov, pre-
de um cessar-fogo e da saída do país da guerra. O go- parou um golpe para depor o governo e instalar-se no
verno respondeu com a organização e o ataque con- poder. Informados de que Kornilov estava a caminho
tra a Alemanha em junho, empreitada que se mostrou de Petrogado, os homens do governo mandaram soltar
Em defesa da
revoluc-
AFP
ao
governo tinha de lidar com a fome
da população, a contrarrevolução, as
regiões que queriam sua independência
e mesmo ataques de países ocidentais
na Primeira Guerra Mundial. A muito
custo, os bolcheviques venceram, e daí
nasceu o Estado socialista batizado de
"União Soviética"
Por Lucas Pires
O
novo governo bolchevique, formado logo
após a Revolução de Outubro, era com-
posto por lideranças do partido. Lênin, seu
maior líder, tornou-se Presidente do Con-
selho dos Comissários do Povo (o mesmo que primei-
ro-ministro); Trótski foi nomeado Comissário do Povo
para Assuntos Internacionais, e Stálin acabou como
Comissário do Povo para as Nacionalidades. Dos 15
integrantes do governo, apenas quatro eram operários.
Stálin
suspeito de ação contrar- produção de petróleo, de
revolucionária e traição. energia elétrica e de car-
Um segundo caso, que só vão caíra em mais de 70%.
recentemente foi desco- Em relação a outros se-
berto como ação arbitrá- tores estratégicos para o
ria do ditador russo, ocor- equilíbrio da economia,
reu quando ele e seu gru- como ferro, aço e açúcar,
po, que incluía Vorochílov, uma situação ainda mais
prenderam alguns “espe- desoladora: quase 100%
cialistas” designados por de queda. (...) Quanto à
Trótski no Rio Volga den- produção agrícola, dimi-
tro de uma barcaça. Eram nuição de quase metade”,
soldados e homens do re- escreveu Daniel Aarão Fi-
gime czarista que Trótski lho sobre o momento rus-
reaproveitava para os ver- so no fim da guerra civil.
a Alemanha,
em dezembro
de 1917
Ao pensar na arte russa durante o período revolucionário da Malevich. E tratava-se de uma arte “de pura abstração geométrica”,
queda dos czares, a questão de uma reestruturação estética se nas palavras de Amy Dempsey em seu livro Estilo, Escola e Movimentos
coloca. Conforme Argan, em Arte Moderna (Cia das Letras, (Cosac & Naify, 2003). Evidente que, em seus quadros, reduzidos à
1999), entre as vanguardas que foram animadas por revoluções, a forma do quadrado, ele pretendia transcender o mundo regido pelas
russa foi a única a “colocar explicitamente a função social da arte aparências. Essa transcendência em Malevich está intimamente ligada
como uma questão política”. Sob a égide dos acontecimentos, a um caráter religioso, católico. Lembremos que a arte russa cultivou
artistas foram impulsionados a manter-se em paralelo com ícones até o século 19, à maneira de Bizâncio. O Estado não só era
a política. Com o entusiasmo romântico provocado pelas liberal em relação à produção dos artistas, como também os apoiava.
revoluções de 1917, vários artistas e alunos da arte de esquerda Em 1919, por exemplo, a série Branco sobre Branco participou da
começaram a estruturar novos meios artísticos. Em setembro de Décima Exposição Estatal: Criação Abstrata e Suprematismo. Embora
1918, estabeleceram os svomas (ateliês livres), que procuraram tenha feito desenhos para porcelanas, joalharia e em diversos muros da
atender a uma democracia do ensino, estruturando-se em três cidade, sua obra nunca foi funcionalista ou prática; ela tinha por ideal
tipos: os cujos professores eram eleitos pelos alunos, os que alcançar a essência do projeto, a arte pura.
não possuíam professores e aqueles com mestres designados Se o Suprematismo tinha a insistência de Malevich, o construtivismo
previamente. A intenção desses artistas era tão transgressora, que teve como figura central Vladimir Tátlin. Como base, o construtivismo
o objetivo primeiro de uma nova arte era de que ela fosse livre de tinha a utilização de materiais industriais, como o metal, a madeira
qualquer envolvimento, quer seja político ou ideológico. Assim, e o vidro, e sua exibição se dava por meio de um espaço real
deveria se preocupar prioritariamente com ela mesma. tridimensional, como um material escultórico. A utilização de materiais
É preciso constatar que o ambiente era propício a uma arte “reais” conjugados com um espaço “real” conferia um grande efeito
revolucionária, e de modo algum isso é o mesmo que dizer que a revolucionário ao movimento, já que atuava diretamente na sociedade.
Revolução foi o estopim para os acontecimentos vanguardistas. Para O impacto, para os construtivistas, deveria ser diretamente exercido
tanto, se retornarmos a 1913, verificaremos sobre a sociedade. O grande símbolo do movimento
que Malevich já executava diversas telas é o Monumento à Terceira Internacional, feito
AFP
suprematistas, assim como Tatlin fundava o por Tátlin, de 1919. Esta obra foi edificada para o
construtivismo (veja a seguir). É o que indica Congresso da Terceira Internacional Comunista
Faerna e García-Bermejo em seu livro sobre e era uma espécie de síntese da arte que se quis
Malevich (Malevich, Editora Globus, 1995), socialista. Tratava-se de uma enorme torre em
quando dizem que a revolução russa “deu lugar espiral, de ferro, com um centro de informação
a uma situação em que, por algum tempo, que se utilizava de alta tecnologia, a partir de onde
os artistas modernos tocaram com a ponta seriam transmitidas notícias e propagandas com telas
dos dedos a oportunidade da sua utopia: um ao ar livre. Além disso, havia outro equipamento, em
Estado revolucionário onde a vanguarda conjunto à peça principal, para transmitir imagens
poderia, por fim, realizar seu programa de nas nuvens.
transformação do mundo à medida do homem
novo”. Muitos artistas russos já gozavam de A vitória do Realismo Socialista
certa notoriedade na Europa neste início do Composição suprematista de Entretanto, o apoio vindo do Estado não
século 20, como Kandinsky, Pevsner, Gabo Kasimir Malevich durou muito. Com a morte de Lênin em
e Chagall, que, no período da 1a Guerra 1924, a situação mudou drasticamente. De
Mundial, retornaram à Rússia, onde tiveram um papel ímpar na fato, as mudanças stalinistas foram taxativas, e a liberdade
constituição de uma “arte proletária”. Marc Chagall, que possuía artística acabou podada. Em 1932, todo grupo artístico isolado,
uma pintura particular que tangia o folclore judaico e temas oníricos portanto livre, foi eliminado, e, em 1934, foi completamente
e de fábulas, foi alvo de seus compatriotas, que afirmavam ser a suprimida toda investida na pesquisa e no incentivo à arte. A
verdadeira revolução feita com bastante rigor e nada de fantasia. partir de então, a única forma de produção artística aceitável
Entretanto, muitos teóricos afirmam a força das fábulas na formação foi o chamado “Realismo Socialista”. Este movimento foi
de uma arte que se queria revolucionária e socialista, pois a fábula sancionado pelo governo, que o indicara como “estilo artístico
seria um elemento da expressão criativa do povo. Portanto, tendo oficial da União Soviética”. Logo, todos os artistas tiveram
alguma força popular, teria igualmente certa de fazer parte do Sindicato dos Artistas Soviéticos, que era
força revolucionária. controlado pelo Estado; e a criação deveria ser feita de acordo
com o modelo aceito. Segundo Amy Dempsey, “o realismo
Experimentações revolucionárias socialista destinava-se a glorificar o Estado e celebrar a
A interferência europeia é bem clara quando observamos a superioridade de uma nova sociedade sem classes que estava
vanguarda na Rússia pré-revolucionária. Como dissemos, muitos sendo construída pelos soviéticos”. Ou seja, não era difícil
artistas já tinham uma carreira internacional, o que, de certa forma, encontrar, nas pinturas dessa época, retratos de mulheres e
influenciou a arte de toda uma geração. Antes das grandes guinadas homens no trabalho ou na prática de esporte, em assembleias
vanguardistas, Malevich, por exemplo, nos primeiros anos do século políticas ou em outros segmentos sociais. Sua escala sempre
20, esteve atrelado às propostas do Pós-impressionismo, do Cubismo tendeu para o monumental; a ordem era estabelecer um
e do Futurismo (mesmo Marinetti, grande nome do futurismo otimismo heroico. Dessa forma, todo o furor inicial e a
italiano, realizou, em 1914, palestras em Moscou para um grupo possibilidade de abertura para uma arte socialista, ou mesmo
de futuristas). Toda a teoria e a arte não-figurativa de Kandinsky livre de qualquer imposição, foram aos poucos suplantados
tiveram suas bases fincadas na Alemanha. O Suprematismo foi um por diversas medidas que atolaram as artes russas numa série
movimento quase exclusivamente de um único homem, Kasimir puramente direcionada à propaganda política.
de
ideais
AFP
L
ênin foi o pai da Revolução Russa e ficou co- lho”, sendo informado da situação política por Stá-
nhecido por adaptar os pensamentos de Karl lin, designado pelo Politburo a ser o elo com Lênin,
Marx e deixar como legado o marxismo-le- e por sua esposa, Krupskaia, que era sua secretária.
ninismo. A seu lado sempre estiveram pre- Essa relação não poderia dar muito certo, pois os
sentes dois nomes – Stálin e Trótski – que exerceram médicos pediam que Lênin não fosse incomodado,
papéis díspares. mas ele era teimoso e queria saber de tudo. Logo pi-
A historiografia costuma colocar a relação entre pocaram informações de que Stálin escondia as no-
Trótski e Stálin como algo ao estilo “o bem contra vidades de Lênin, que, mesmo assim, soube de ações
o mal”. Assim, com esse antagonismo criado pos- nada dignificantes do futuro ditador, como a repres-
teriormente, não há jeito de se olhar Stálin e en- são aos camponeses.
contrar nele algo elogioso. E costuma-se ver em Querendo obter maiores informações a respeito
Trótski o herdeiro legítimo de Lênin, aquele que do X Congresso do partido, realizado em feverei-
daria à Revolução um caráter menos ditatorial. A ro de 1923, Kuprskaia ligou para Stálin, que acabou
questão que se coloca é a seguinte: mesmo que se sendo rude ao repreendê-la, e isso chegou aos ou-
estudem as ideias trotskistas, nunca se saberá o que vidos de Lênin. Em 5 de março, Lênin escreveu a
seria a URSS se Trótski superasse Stálin na direção Stálin as seguintes linhas: “Vós tivestes a rudeza de
do Partido e do país. Diante desse fato intangível, convocar minha mulher ao telefone para repreendê-
tudo o que se diga e se coloque não passa de jogo de la. Não tenho a intenção de esquecer tão cedo que
deduções, que poderiam se tornar verdade se não isso foi feito contra mim, e é inútil sublinhar que eu
fosse justamente essa palavra “se”. A História não considero que o que é feito contra minha mulher é
é feita de “ses”. Em compensação, sabemos que os feito contra mim. Por esta razão, eu peço, examineis
homens repetem erros do passado, e temos muito a seriamente se aceitais retirar o que dissestes e apre-
aprender com essa ciência. sentar vossas desculpas ou se preferis romper as rela-
O TESTAMENTO DE LÊNIN
Uma das coisas que definiram a posição de Stálin
como “o mal encarnado” foi o testamento de Lênin. “Stálin é muito brutal, e
“Stálin, tendo se tornado secretário-geral”, decla- esse defeito, perfeitamente
ra o testamento de Lênin, “concentrou um imenso
poder em suas mãos e não estou certo de que ele tolerável em nosso meio
sempre saiba como usar esse poder com suficiente e nas relações entre nós,
cautela”. Dez dias mais tarde, Lênin acrescentou o
seguinte trecho: comunistas, não o é
“Stálin é muito brutal, e esse defeito, perfeita-
mente tolerável em nosso meio e nas relações entre
mais nas funções de
nós, comunistas, não o é mais nas funções de secre- secretário-geral... Proponho
tário-geral... Proponho então aos camaradas estuda-
rem um meio de destituir Stálin deste posto e nome-
então aos camaradas
ar em seu lugar uma outra pessoa que não tenha em estudar um meio de
todas as coisas sobre o camarada Stálin senão a úni-
ca vantagem, aquela de ser mais tolerante, mais leal, destituir Stálin deste
mais polido e mais atencioso com os camaradas, de posto”, Lênin
STÁLIN | GRANDES LÍDERES DA HISTÓRIA | 29
ções entre nós”. Assim, as palavras de Lênin podem calou – “tinha orgulho demais para intervir numa
não condizer com o pensamento real dele a respeito situação que também afetava a própria posição”, se-
de Stálin, pois, como vimos, ele estava irado com o gundo Deutscher – e os votantes ratificaram. Stálin
companheiro em razão da confusão com sua espo- estava a salvo.
sa. Mas também é certo que ele estava dando rumos
à Revolução que Lênin não aprovaria por absoluto. IDEIAS CONTRÁRIAS
Enfim, a verdade parece ser que, até a guerra civil, A briga entre Stálin e Trótski teve início quan-
Lênin via Stálin com bons olhos, mas suas ações de- do ambos se conheceram – em 1907, em congres-
pois disso, e quando assumiu a direção do partido, so do partido. A partir dali, um bolchevique e o ou-
não lhe agradaram totalmente. tro menchevique, passaram por situações opostas até
Ludo Martens, em Stálin – Um Novo Olhar (Re- que Trótski se converteu ao bolchevismo, em julho
nan, 2003), assume a defesa do ditador explicita- de 1917, e tornou-se um dos heróis da Revolução. O
mente e se coloca como um stalinista. A partir disso, ódio de Stálin deve ter crescido ao ver o colega re-
já se pode duvidar de muitas de suas colocações, mas cém-chegado ganhar popularidade e a confiança de
há outras que temos de aproveitar. Um de seus ar- Lênin. Boa parte do Partido não gostava de Trótski
gumentos é o de que Trótski e seus seguidores qui- em razão de seu passado, e isso facilitaria o trabalho
seram criar em torno do testamento de Lênin um ar de Stálin para marginalizar o adversário até sua eli-
de que ali estava indicado Trótski como seu sucessor. minação do Partido, da URSS e da vida.
No entanto, nada em seu texto sugere isso. A dissidência de Trótski com o Partido Comu-
O pai da Revolução Russa, ao contrário do que nista veio a público quando ele publicou, em 1924,
diz seu testamento, tinha enorme estima por am- um prefácio de seus escritos de 1917, chamado As
bos e, a partir do momento em que a rixa entre eles Lições de Outubro. No texto, criticava a falta de estra-
se tornou explícita, passou a intermediar e a apazi- tégia revolucionária de Stálin, e dizia que a indecisão
guar os dois lados. O testamento só foi divulgado demonstrada por Kamenev e Zinoviev às vésperas
em maio, quatro meses depois de sua morte, e deve- da Revolução de Outubro era absurda. Estas discor-
ria ser lido no próximo congresso do partido. Houve dâncias afastaram mais ainda politicamente Trótski
uma reunião do comitê central para decidir se seria de Stálin.
divulgado ou não o conteúdo. Na ocasião, seria sela- Eles divergiam em várias questões, mas a princi-
do o destino de Stálin. E foram Zinoviev e Kamenev pal era a de como construir o socialismo. Para Stá-
que tomaram a defesa do futuro ditador, sugerindo lin, a revolução socialista deveria ser consolidada
que este permanecesse no cargo, pois “os temores de internamente na URSS, pois o país estava interna-
Lênin se mostraram infundados”. Lembraram-se do cionalmente isolado e sofrendo represálias comer-
bom serviço de Stálin e colocaram que, se a decisão ciais. Nascia aí a tese do “socialismo em um país
fosse a da permanência, o testamento não deveria só”, creditada a Stálin, mas, de fato, desenvolvida
ser colocado a público. A viúva protestou, Trótski se por seu colega Bukharin, que seria morto na déca-
URSS
Sem Trótski para atrapalhar, o poder de Stálin tornou-se soberano. Era
hora de colocar em prática o “socialismo de um só país”, que envolveria
imensa industrialização às custas do trabalho no campo por meio das
fazendas coletivas. Enquanto isso, o ditador passava a ver inimigos em
qualquer companheiro que se destacasse, e acabava com todos que
pudessem lhe tomar o poder. Era o terror stalinista
Por Lucas Pires
A
partir de 1928, Stálin estava livre para pôr do voluntariamente, até conhecer a completa coletiviza-
em prática o que alguns historiadores cha- ção. Foi nessa toada que Stálin anunciou o chamado I
mam de “Segunda Revolução”, dessa vez Plano Quinquenal no final de 1928. Tal plano determi-
empreendida diretamente do topo do poder nou a supressão da NEP leninista e da propriedade in-
e por um único homem. Seria o que se chamou de “re- dividual, além do aumento da produção, estabelecendo
volução feita de cima para baixo”, ou “imposta”. como prioridade a industrialização do país, com foco na
Segundo Isaac Deutscher, essa segunda revolução indústria pesada e de equipamentos. Para a agricultura,
“desembocou na rápida industrialização da Rússia; ficavam estabelecidos dois modelos de unidades de pro-
obrigou mais de 100 milhões de camponeses a aban- dução coletiva: sovcoses, as fazendas do Estado, onde o
donar propriedades pequenas e primitivas e se estabe- camponês era um trabalhador assalariado; e os colcoses,
lecer em fazendas coletivas; retirou, impiedosamente, cooperativas em que o camponês recebia uma pequena
o ancestral arado de madeira das mãos do mujique e parcela de terra e, após pagar um tributo ao Estado pelo
o forçou a segurar o volante do trator moderno; con- uso das máquinas, podia vender o que produzia.
duziu dezenas de milhões de analfabetos à escola e fez A intenção era de que as terras fossem estatizadas
que aprendessem a ler e a escrever; e, espiritualmente, em 20% até 1933. Mas essa intenção não parecia ser o
separou a Rússia europeia da Europa e trouxe a Rús- melhor para os camponeses, tanto que estes se rebela-
sia asiática para perto da Europa. O desfecho dessa re- ram e, antes de ser removidos de suas terras, destruí-
volução foi espantoso, assim como o custo: a completa ram a colheita e mataram o gado. “Entre 1929 e 1934,
perda, por parte de toda uma geração, da liberdade po- o número de cabeças de gado caiu de 70,5 milhões para
lítica e espiritual”. A questão a ser definida por Stálin 33,5 milhões; o de cavalos reduziu-se de 33,5 milhões
naquele momento respondia a dois interesses do país para 17,5 milhões, e as perdas foram maiores ainda nos
que vinham desde os tempos do czar: como industria- rebanhos de suínos, caprinos e ovinos. Somente em
lizar rapidamente a URSS e como lidar com a agricul- meados da década de 1950, os rebanhos voltaram a al-
tura, que não tinha boa produtividade. cançar os níveis do período que antecedeu à implanta-
O problema agrícola já vinha sendo debatido in- ção do plano”, escreveram Dorothy e Thomas Hoobler
ternamente pelo partido. Os bolcheviques de esquerda em Grandes Líderes – Stálin.
queriam a transferência da propriedade privada para a Teve início uma verdadeira guerra entre campone-
propriedade coletiva, processo que seria feito gradual- ses e governo. Diversos camponeses, que não aceitavam
mente e diante do consentimento dos camponeses. E, a “obrigação” de se transferir para as fazendas coletivas,
conforme o sistema fosse se mostrando ágil e economi- foram presos, exilados e fuzilados. Houve um excesso de
camente saudável, os demais camponeses iriam aderin- violência contra a população que acabou gerando dis-
Stálin e Kirov
Lev Kamenev
Instaurou-se um período de perseguições, de censu- eles para que seja fuzilado! Stálin jamais permitirá que
ra e de terror. Eram as chamadas “depurações stalinistas”. continue vivo alguém que o faça ver que ele próprio não é
Muitos revolucionários, companheiros de Lênin da época o primeiro ou o melhor”. Poucos dias depois, antes de vol-
da Revolução, foram presos, banidos, torturados e mortos tar para a União Soviética, Bukharin comentou com um
pela repressão. Assim, grandes patriotas foram executados amigo: “Agora ele vai me matar”. De fato, Bukharin foi
como traidores da pátria. Todos aqueles que se opuseram fuzilado em 1938.
a Stálin em algum momento corriam risco de ser pre- As contas finais dos expurgos stalinistas variam con-
sos e mortos. Já a historiografia pró-stalinista coloca que forme a fonte. Falou-se de sete milhões a até mais de 20
essa perseguição tinha razão de existir, pois havia cente- milhões de mortos. Por exemplo, dos 140 membros eleitos
nas de infiltrados no partido a fim de miná-lo por dentro. em 1934 para o Comitê Central, apenas 15 estavam em
A historiografia ocidental vê nos expurgos uma forma de liberdade três anos depois. Um dos crimes mais encontra-
Stálin se livrar de velhos companheiros contrários a seu dos no período foi o de “trotskismo”. O Exército também
modo de governar e aos rumos dados por ele à Revolu- sofreu sérias baixas com os expurgos. Cerca de um terço
ção. Um dos opositores à sua administração foi o ex-ami- dos oficiais de alta patente foi eliminado, o que enfraque-
go Bukharin, teórico do partido que desenvolveu a ideia ceu de forma monstruosa a força do Exército Vermelho, o
do socialismo num único país. Numa entrevista a jorna- que, em 1939, seria uma das razões para o pacto de não-
listas em Paris em 1936, Bukharin deu a seguinte respos- agressão entre Stálin e Hitler.
ta quando perguntado do porquê dos expurgos de tantos As perseguições foram praticamente encerradas em
colegas da Revolução: “Stálin se sente infeliz porque não 1938, bem ao estilo de Stálin. O chefe da polícia secreta,
consegue convencer ninguém, nem a si próprio, de que é responsável prático pelo terror instaurado, Nikolai Yezhov,
maior e mais poderoso do que todo mundo. Essa infelici- foi substituído por Lavrenti Beria e fuzilado. Beria diria
dade talvez seja... o último resquício de humanidade que mais tarde que “Yezhov era um rato. Ele foi responsável
ainda lhe resta. O que não é humano, mas demoníaco, é pela morte de muitos inocentes. Nós o fuzilamos por
que sua infelicidade o leve a querer vingar-se de todos... isso”. Bem stalinista a saída, culpando e exterminando
basta que alguém fale com mais brilho ou clareza do que outros que o serviram com lealdade.
A tragédia pessoal
Stálin teve uma vida pública que superou em muito sua experiência pessoal.
Era pouco afeito à família, mas, apesar disso, casou-se duas vezes
Por Lucas Pires
G
rande homem político, Stálin deixou sua fissional, o que fez que negligenciasse a vida familiar.
mãe para estudar no seminário e sabia que Além disso, Nadia tinha problemas sérios de saúde
nunca mais voltaria para casa. Casa, aliás, é – dores de cabeça, fadiga, angina e artrite, sem con-
o local onde menos Stálin permaneceria em tar uma espécie de esquizofrenia que a enlouquecia
sua vida. Seu tempo estava destinado ao trabalho, e as- de tempos em tempos. Essas crises abalavam o casa-
sim foi quando se casou com Ekaterina Svanidze no mento e a relação com Stálin.
início do século. O casamento durou até que a morte Foi nesse contexto, entre uma relação de paixão e ci-
levasse a jovem esposa quatro anos depois. Da relação, úme, que o casal se preparou para o jantar anual em co-
ficou um filho, que seria criado pelos avós maternos e memoração ao 15o aniversário da Revolução. Era 8 de
passaria a morar com o pai apenas em 1921. novembro de 1932. Nadia, no apartamento do casal,
Dedicado ao Partido, Stálin nunca ligou para fa- vestia um vestido preto longo e moderno, ao qual bor-
mília. Sua vida era o Partido e a União Soviética, dou rosas vermelhas, e resolveu fazer um penteado dife-
tanto que se casou pela segunda vez apenas em 1918, rente. Enquanto isso, Stálin permanecia em reunião com
com a filha de um grande amigo seu, Serge Alliluiev. o chefe da polícia secreta russa. Em seguida, ao lado de
A jovem Nadia Alliluiev tinha três anos quando Stá- Molotov e de outros assessores, saíram para a festa.
lin conheceu a família. “Em algum momento da noite, sem que os outros
Quando voltou da prisão para São Petersburgo, vi- presentes notassem, Stálin e Nadia ficaram bravos um
sitou os Alliluiev e viu uma bela morena de 17 anos. com o outro. O fato não era raro. Para ela, a noite co-
Começava ali seu interesse que resultaria em casa- meçou a desmoronar quando, entre brindes, danças e
mento em 1918. flertes ao redor da mesa, Stálin mal notou como ela
Teria sido em sua ida para Tsaritsin, viagem na se vestira, ainda que fosse uma das mulheres mais jo-
qual Nadia o acompanhou como secretaria, que se vens presentes”, conta Simon Montefiore em Stálin – A
tornaram amantes. Mais de 20 anos os separava. O Corte do Czar Vermelho.
casal era muito apaixonado, mas isso não se traduzia Assim, irritada, Nadia seguiu para o salão e co-
numa vida repleta de convivência. Stálin era casado, meçou a dançar com seu padrinho. Começou um
antes de tudo, com a revolução e com o poder. Pou- jogo de flerte entre ambos, assim como Stálin fler-
cos anos depois, nasceu Vassili, o primeiro filho, se- tava com a esposa de um comandante do Exército
guido de Svetlana. Vermelho. Segundo as descrições feitas por Mon-
Nadia mandava dentro de casa. A comunicação tefiore, era normal a infidelidade na cúpula do po-
entre eles, muitas vezes, era feita por cartas e bilhe- der soviético, e casos entre esposas e maridos alheios
tes, principalmente quando ela viajava de férias com aconteciam com regularidade.
os filhos. Dentro de seu mundo peculiar, Stálin ama- Mas, naquela noite, Nadia ficou irada com o fler-
va Nadia. Podia não ser o cavalheiro romântico de te descarado do marido. Talvez mais ainda ao notar
fábulas, mas nas cartas sempre era carinhoso e amo- que sua provocação a ele não surtira efeito. O orgu-
roso. A relação era difícil, mas sabiam se entender. lho dela estava ferido. Ainda ressoava em sua mente
Talvez o problema maior entre eles brotara no fim talvez uma noite em que foram ao teatro e Nadia teve
dos anos 20, quando Nadia demonstrou interesse um ataque histérico de ciúmes ao ver Stálin flertar
em fazer uma carreira profissional no Partido sem com uma bailarina.
ser considerada a esposa do chefe. Queria subir por Nesse cenário, de provocações e insinuações de
seus méritos. Em 1929, prestou exame para a Aca- ambos os lados, Stálin propôs um brinde. Percebeu
demia Industrial. Seu foco era o estudo e a vida pro- que Nadia não levantara a taça e atirou cascas de la-
AFP
Às vésperas de explodir a
Segunda Guerra Mundial,
receoso de entrar no conflito,
Stálin fechou um pacto de
não agressão com Hitler. Mas,
com o decorrer da Guerra e
a ocupação de quase toda a
Europa, o líder nazista decidiu
romper o acordo e atacar a
União Soviética. Stálin sabia que
essa hora chegaria e preparou o
país para uma verdadeira batalha
pela sobrevivência. O final dessa
história é conhecido: a Alemanha
perdeu a Guerra e a URSS saiu
dela como potência mundial
Por Lucas Pires
E
m meados de 1939, a guerra na Europa estava
prestes a explodir e Stálin não via com bons olhos
a participação, ao menos imediata, da União So-
viética no conflito. Uma das razões mais explíci-
tas e apontadas pelos especialistas para sua postura é que,
para se consolidar no poder, ele praticamente teria acaba-
do com todos os grandes homens do Exército Vermelho,
o que, diante de uma guerra, o colocaria em desvantagem
por não ter comandantes experientes em ação. Assim, era
preciso adiar o máximo possível a chegada da guerra na
frente russa para conseguir se preparar para o inevitá-
vel. Sim, inevitável. A participação da URSS na Segunda
Guerra Mundial aconteceria, cedo ou tarde, pois a locali-
zação geográfica e os ideais russos não poupariam a nação
de lutar contra Adolf Hitler ou a favor dele. A favor, caso
seus líderes chegassem a um acordo referente a territórios
de dominação; contra, se o líder nazista pusesse em prá-
tica o pensamento ariano de superioridade racial, que co-
locava os eslavos e os russos como raças inferiores e passí-
veis de escravidão e eliminação física.
Além do interesse de não guerrear sem militares ex-
perientes, havia outro motivo para Stálin procurar Hitler:
um ano antes, França e Inglaterra, pelo Acordo de Muni-
Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a União Soviética era tida como grande
vencedora do conflito, apesar de sua situação precária. Stálin surgia como
um líder notável, ao lado de Roosevelt e Churchill
N
Por Lucas Pires
ada parecia mais grandioso do que a vitória norte-americana para a reconstrução da Europa –, que
russa sobre os nazistas. E talvez ninguém te- ele via como uma forma de dependência contrária a seus
nha se achado com mais direito de se sentir ideais.
responsável por ela do que Josef Stálin. As Diante disso, renegou qualquer forma de auxílio dos
comemorações e o culto à personalidade dele após a EUA e passou a apoiar governos pró-soviéticos no Les-
Guerra foram de caráter esplêndido. Mesmo totalmente te Europeu. Assim, países como Iugoslávia, Polônia, Ro-
destruída, a população mantinha a fé e a esperança não mênia, Bulgária, Tchecoslováquia e até parte da Alema-
tanto na União Soviética, mas em Stálin. Se ele viveu seu nha – chamada de Alemanha Oriental depois da divi-
apogeu de popularidade, foi naquele momento de 1945. são do país em quatro áreas de influência – passaram
“A nação estava mutilada e faminta. Provavelmen- a ter governos comunistas ou controlados por Moscou.
te esperava que milagres viessem da vitória e do gover- A intenção de Stálin era justamente ter parceiros nes-
no. Queria ver as cidades reconstruídas e as indústrias e a ses países para vender e adquirir provisões. Essa ação foi
agricultura restabelecidas. Ansiava por mais comida, mais chamada por Churchill, de “cortina de ferro”, em que o
roupas, mais escola, mais lazer. Mas nada disso podia ser líder soviético separava a URSS e os demais países sob
obtido rapidamente a partir dos recursos exauridos e de- seu domínio do resto do mundo. Essa “cortina” interes-
sorganizados da Rússia. O sofrimento, em meio ao ar- sava muito a Stálin, pois preservava certo mercado para
rebatamento da vitória, mostrava-se duplamente impa- os russos e ainda impossibilitava a obtenção de informa-
ciente; e Stálin não podia frustrar a nação. Para acelerar ções de seu país por parte do mundo ocidental, que aca-
a reconstrução e melhorar o padrão de vida, devia valer- bava por saber muito pouco do governo soviético e de
-se dos recursos econômicos de outras nações”, escreveu suas ações internas. Para Deutscher, “a ‘cortina de ferro’
Deutscher. escondeu a autocracia de Stálin, seu despotismo sinistro,
E foi isso que Stá- mitos e fraudes. Em ambas as funções, a ‘cortina de ferro’
lin começou a fazer tornou-se a condição indispensável para a própria exis-
quando percebeu que tência do Stálinismo”.
as nações ocidentais o No campo interno, Stálin centralizava tudo em sua
viam com pessoa, eclipsando os generais e militares que tiveram na
des- guerra uma explosão de popularidade, como o marechal
dém e Jukov. Praticamente um ano depois da vitória, imprensa
que pla- e propagandistas tinham esquecido os “heróis” da nação
nos de que lutaram contra os nazistas. Para se ter ideia, a come-
ajuda eco- moração do terceiro aniversário da tomada de Berlim
nômica seriam pelo Exército Vermelho foi feita pelo Pravda, sem que
formas de conver- fosse mencionado o nome de Jukov.
ter o comunismo A população teve que manter a rigidez da vida do
russo em capitalis- período de guerra, com a implantação de um quarto pla-
mo. Mesmo precisan- no qüinqüenal. Mulheres e crianças tinham de traba-
do de ajuda financei- lhar, pois toda uma geração de homens havia morrido
ra, Stálin acabou des- em batalha.
Felipe Azjemberg
O legado
J
osef Stálin é até hoje figura amplamente discuti-
A morte de Stálin foi sobreposta da e, da mesma forma, largamente combatida. No
por revelações de um Ocidente, seu nome causa ojeriza em milhões e
é sinônimo de tudo o que a civilização ocidental
regime cruel e totalitário, que sempre combateu – marxismo, socialismo, totalitarismo,
surpreenderam até mesmo os estatização e economia fechada. O comunismo, incorpo-
rado no Estado bolchevique construído por Stálin, foi o
mais fanáticos dos comunistas. grande inimigo do Ocidente e de seus valores no século
20, assim como o terrorismo é para o século 21, só que
Seus herdeiros, cientes disso, com uma diferença – o comunismo tinha um rosto, um
passaram a governar em vista país a ser combatido. Mesmo concordando com as acu-
sações a Stálin e a seu plano de governo, que envolveu
da Guerra Fria e buscaram trabalho forçado, fome, miséria, prisões arbitrárias, exílio
desmontar o aparelho burocrático e, o pior de tudo, o terror instaurado com os expurgos de
nomes-chave do partido bolchevique nos anos 1930, não
erguido por ele há como escapar de considerações positivas, ao menos em
seu resultado final.
Por Lucas Pires Mesmo Hitler, talvez a maior encarnação do Mal,
pode ser “lido” por seu viés positivo – ao menos em
sua qualidade de unir uma nação – que foi seguido de lin é seu grande desenvolvimento econômico. De um
propósitos negativos, o de guiá-la a um caminho in- país basicamente agrário, ele transformou a URSS na
sano e totalmente destruidor. Assim também pode ser segunda maior potência do mundo, tendo desenvolvi-
visto Stálin, que, por bem ou por mal, olhe-se o papel do mesmo o poder nuclear. Em 1949, o líder soviético
geopolítico da Rússia pré-revolução e a nação sovié- fez explodir a primeira bomba atômica russa.
tica quando de sua morte, não tem como não confir- Outro ato imensurável de valor realizado pelos rus-
mar a guinada econômico-industrial da União Sovi- sos foi a vitória contra o nazismo. Apesar de parte da
ética. Se há um dado louvável da administração Stá- historiografia rever o papel de Stálin na esfera decisi-
Aprofunde-se no assunto
Por Lucas Pires
F I L M E S
O Encouraçado Potemkin (1925) Outubro (1927)
Serguei Eisenstein Serguei Eisenstein
Em 1905, marinheiros do encouraçado Potemkin se Fita encomendada pelo partido para as
rebelam a bordo em razão da má qualidade da comida comemorações dos 10 anos da Revolução, ela
servida. Ao mesmo tempo, acabam se unindo aos retrata o cenário russo de outubro de 1917,
populares revoltosos com o “domingo sangrento”. com a tomada do Palácio de Inverno pelos
Nessa obra clássica do cinema mudo – a obra-prima populares e bolcheviques. A figura de Lênin
de Eisenstein –, o diretor pôs em prática sua teoria da ganha ares messiânicos, e Eisenstein faz outro
montagem, criando um filme poderoso em imagens e filme mudo cuja potência está na montagem
em conteúdo. Era o cinema revolucionário soviético em e na concepção dos personagens e eventos
seu mais alto grau. Indispensável. históricos.
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