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AULÃO

A imaginação educada, de Northrop Frye


03/08/21

1. Apresentação
a. Quem sou eu
b. De onde veio a idéia
c. O que vamos fazer no aulão
d. Intuito do livro/do aulão

2. Estrutura do livro
a. 6 palestras de rádio na CBC em 62, de 30min. cada
b. 4 primeiras: teoria literária; 2 últimas, esboço de programa
c. Sempre se reporta à faculdade da imaginação

3. 4 primeiras palestras: princípios da teoria literária de Frye


a. O motivo da metáfora
i. 3 modos de estar para 3 razões para falar
ii. Nível da consciência: descrever o mundo exterior (perda de
identidade e sentimento de separação)
iii. Nível da participação: senso prático, transformar o mundo
(dar forma humana à natureza)
iv. Nível da imaginação: construir modelos ideais (mundo
plenamente humano, resgate do sentimento de
identidade = METÁFORA)
v. Imaginação: “capacidade de construir modelos possíveis
da experiência humana”
b. A escola de canto
i. Imaginação: constrói modelos possíveis de experiência
humana, portanto modelos de mundos puramente
humanos, com identidade total entre homem e natureza. O
começo, portanto, será sempre uma mitologia.
ii. “Nenhuma sociedade humana é tão primitiva que não
tenha alguma espécie de literatura” (incrustrada, at first).
iii. A literatura se desenvolve a partir da imitação do que já se
fez — convenção — e portanto deriva dela mesma: há várias
formas literárias com suas genealogias identificáveis.
(Escola de canto)
iv. Os problemas formais são sempre os mesmos, ainda que se
possa preenchê-los de conteúdos “novos”. Portanto, o que
importa não é o que se diz (como nas outras duas maneiras
de usar a linguagem), mas como se diz aquilo (ex: Rei Lear).
Tampouco importa a vida pessoal do autor, mas sim a
forma.
v. A literatura, portanto, é “auto-referente” por natureza: é
como se fosse uma só e grande família. Dá para se falar em
algo como “a literatura como um todo” — e se dá, então dá
pra traçar um arcabouço comum para toda a literatura
(uma “meta-história”): a história da perda e reconquista
da identidade (e às vezes da falta de identidade). :::
PETERSON?
c. Gigantes no tempo
i. Modelos/ideais existem na realidade ou não?
ii. Imaginário (irreal) x Imaginativo (típico)
iii. O poeta não nos diz o que aconteceu, mas o que acontece.
Macbeth não fala da Escócia, mas daquele que ganhou o
mundo à custa de perder a alma.
iv. Isso porque a linguagem literária é alegórica, isto é,
simbólica/analógica (condensa semelhanças e
diferenças). Uma ovelha nunca é só uma ovelha.
v. É também uma linguagem muito alusiva (“grande
família”). E daí vem o nosso problema educacional...
vi. Esse distanciamento imaginativo afasta a narrativa do
universo das nossas crenças (não acreditamos piamente
numa história ficcional), e isso favorece a tolerância
(imaginação como ferramenta para exercitar a virtude).
vii. Ele também permite entendermos a vida como um todo,
diferente da realidade cotidiana em que temos apenas
vislumbres. A literatura engole a vida e apresenta os
homens como “gigantes imersos no tempo”.
d. As chaves para a terra dos sonhos
i. Convenções da literatura x Convenções da sociedade:
ambas impõem padrões de ordem e estabilidade, mas
enquanto as segundas buscam a conformidade, as
primeiras buscam a excentricidade.
ii. Nesse sentido, a literatura não se desenvolve como a vida;
suas convenções são estranhas de propósito. Hamlet
não vai ao banheiro porque isso não interessa; ele mata o
próprio tio.
iii. “O que jamais veríamos senão nos livros é justamente o
que nos leva a eles. Em literatura, para dar vida às coisas,
não adianta ser fiel à vida: é preciso ser fiel à literatura”.
iv. A especialidade do escritor, portanto, não é passar uma
informação, mas sim juntar palavras (Bruno Tolentino,
maneira memorável de dizer). Então ele como que
encontra a melhor maneira de dizer as coisas. MALLET
v. Por obedecer às suas próprias convenções, portanto,
nenhum romance pode ser moralmente bom ou mau, mas
apenas bom ou mau dentro das próprias categorias. Um
personagem é vil porque esse é seu papel naquela forma.
vi. O romance será bom ou mau moralmente de acordo com o
juízo do leitor.
vii. Há, no entanto, uma dimensão moralizante na literatura:
são sempre extremos em cena, de alto a baixo. Mas os
extremos, na literatura, estão purgados do horror e se
apresentam com certo fascínio. “A ficção, para ser
purificadora...”.
viii. Literatura como escopo da imaginação humana, espécie de
Apocalipse; a crítica como Juízo Final.
4. 2 últimas palestras: um plano de educação literária/imaginativa
a. As verticais de Adão. Como ensinar literatura?
i. Tese central: literatura segue-se à mitologia. Mito = esforço
imaginativo de identificação do mundo humano com o não-
humano. O mito torna-se o princípio estruturante da
literatura. Uma mitologia se conforma tal como a história
da perda e possível recuperação da identidade.
ii. A forma mais completa de mitologia é a Bíblia, portanto
ela deve ser a base do ensino literário.
iii. A ela, deve se seguir o ensino das mitologias clássicas —
same energy, different cultures.
iv. O passo seguinte é compreender as estruturas das grandes
formas literárias: comédia, romance, tragédia e ironia.
Comédia e romance primeiro (“literatura de condado”?),
tragédia e ironia depois (“literatura de adulto”?).

OUTRAS DICAS:
1. Ler como história e acreditar (suspension of
disbelief)
2. Tentar escrever também (experimentar as formas)
3. Dominar outros idiomas (evita “fluência
automática”)
4. Absorção de outras formas de arte (mesma
imaginação operando, diferentes unidades)
5. Começar pela poesia (ritmo, imagística, síntese)

v. Literatura está para ciências das palavras como a


matemática para as ciências físicas: dá-lhes desde dentro a
sua forma.
vi. A finalidade da instrução literária , portanto, não
é tão-somente a contemplação da literatura, mas,
mais do que isso, é a transferência de energia
imaginativa desde a literatura até o estudante.
b. A vocação da eloqüência. O que uma imaginação bem educada é
capaz de fazer em sociedade?
i. Enfoca agora aqueles que não se dedicarão à produção
literária, mas sim o cidadão típico.
ii. Apesar dos 3 tipos de linguagem, a imaginação está
presente sempre (também nos dois primeiros modos de
falar). Ou seja, ou a treinamos, ou viveremos com ela
atrofiada.
iii. Imaginação como base da nossa vida social (e não as
emoções, e nem o intelecto). É a imaginação que nos
permite, por exemplo, “dizer a coisa certa do jeito certo”, o
que é tão importante quanto dizer a verdade. RETÓRICA
iv. A imaginação é o que identifica as artimanhas da
publicidade&propaganda e do burocratês político.
Ela é a capacidade de reconhecer o que é digno de atenção e
o que é meramente jogo de palavras. Imaginação vs.
Ilusão. Essa ilusão criada pela “imaginação social” é uma
espécie de mitologia imaginária, em oposição à
verdadeira mitologia imaginativa.

CONVENÇÕES SOCIAIS
1. Hard work; No pain, no gain
2. Clichês, frases prontas, termos recorrentes
3. Eufemismos tecnicistas (impessoalidade)
4. Bons velhos tempos x Progresso sempre

v. “O trabalho que a imaginação vai executar no dia-a-dia é


produzir, a partir da sociedade em que temos de viver,
uma visão da sociedade em que queremos viver”.
vi. Estudo da literatura = conquista da liberdade de
expressão. Afinal, liberdade é produto (e não falta) de
exercício. Toca piano aí, do nada...
vii. Cultivar o discurso não é só ler muito; é ter o que dizer —
e só se tem o que dizer quando se imagina um mundo
possível ao qual vale a pena se direcionar, porque ele é
melhor.
viii. “Esse mundo ideal que nossa imaginação elabora
dentro de nós, ainda que pareça um sonho, é o mundo
real, a verdadeira forma da sociedade humana,
escondida por trás desta que vemos. É o mundo daquilo
que a humanidade já fez, e portanto daquilo que ela pode
fazer, o mundo revelado a nós pelas artes e pelas ciências.
É o mundo que não vai embora, com o qual
construímos o nosso mundo atual”.
ix. Ambiente social x Ambiente cultural. Somente o ambiente
cultural — o mundo construído pela imaginação — pode
fornecer os padrões e valores necessários para quem
pretenda fazer qualquer coisa melhor do que se ajustar.

MAS E A TORRE DE BABEL?

A imaginação, portanto, é um poder construtivo, que age em prol da


restituição da nossa identidade com o mundo ideal. Esse é justamente o mito da
Torre de Babel: uma construção em que todos falavam a mesma língua e
estavam buscando alcançar o céu. Sua ruína foi a confusão das línguas, isto é, a
deterioração da linguagem, e conseqüente deterioração da imaginação (ou vice-
versa?).

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