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BATISMO E, CONFIRMAÇÃO

Sacramentos de iniciação

APRESENTAÇÃO

A imagem de uma sociedade depende em grande parte do modo que ela adota
para recrutar novos membros. A iniciação cristã é um banco de ensaio para a identidade
da Igreja. É compreensível que a teologia e o cuidado pastoral do batismo e da
confirmação tenham estado no centro dos movimentos de renovação que têm animado a
vida da Igreja ao longo do século XX. Houve debates vigorosos e acalorados sobre a
legitimidade, ou pelo menos a adequação pastoral, da prática generalizada do batismo
infantil em uma sociedade secularizada e secularizada; sobre a evolução histórica dos
ritos de confirmação, e seu significado. Houve uma mudança de foco, novas questões
foram levantadas, e uma avaliação mais equilibrada dos elementos envolvidos. A
pesquisa histórica elucidou alguns dos problemas mais obscuros e, acima de tudo,
descobriu riquezas insuspeitas na tradição relativa a estes dois sacramentos de iniciação
cristã. A prática destes sacramentos foi afetada por profundas mudanças, trazidas em
parte pelos novos rituais de iniciação cristã resultantes da reforma do Concílio Vaticano
II. No calor da nova sensibilidade que foi criada, os projetos para uma nova organização
pastoral de iniciação cristã proliferaram. Estamos, de fato, diante de um novo panorama
teológico-pastoral neste campo.
Um manual que afirma estar atualizado tem que tentar abrir espaço para todas
as conquistas doutrinárias que foram feitas, para os novos problemas, para as novas
abordagens. Gostaríamos, nesta apresentação, de indicar os critérios que nos guiaram na
preparação deste manual a fim de alcançar este propósito.
O título do manual já indica que não consideramos o batismo e a confirmação
isoladamente, mas como parte do processo de iniciação cristã: juntamente com a
Eucaristia, eles formam sua espinha dorsal. A estrutura de iniciação nos ajudará a situar
corretamente estes sacramentos em todo o mistério e vida da Igreja e a descobrir sua
verdadeira natureza e riqueza, suas profundas conexões mútuas.
O objetivo deste manual é levar a sério que o batismo e a confirmação são
sacramentos da Igreja, celebrações simbólicas e litúrgicas. A teologia dos sacramentos
deve ser, antes de tudo, um discurso sobre sua celebração litúrgica. Seu ponto de
partida, metodologicamente falando, é o estudo da liturgia, em sua estrutura e formas de
expressão; pois a liturgia é uma expressão autorizada da fé da Igreja. Nossa atenção será
direcionada à totalidade da celebração, em toda sua complexidade de símbolos e
fórmulas eucarísticas, sem transformar o que deveria ser um tratado de teologia em um
manual de liturgia. É nossa clara intenção recuperar para a reflexão teológica o método
mistagógico dos Santos Padres, seguindo a recomendação que nos chegou recentemente
com insistência das mais altas autoridades.
Também na grande tradição dos Padres, a dimensão histórico-salvífica do
mistério da salvação que nos chega através dos sacramentos recebe a principal atenção
neste manual. Os sacramentos são considerados como eventos salvíficos: a atualização
do mistério histórico da salvação nos dias atuais da Igreja. O mais importante na
sacramentologia é revelar a conexão de cada sacramento com as diferentes etapas da
história da salvação: em primeiro lugar, com o evento central da Páscoa do Senhor; com
a consumação final ou Parusia; com a atividade do Espírito nesta fase da história e com
o Mistério Trinitário; com o mistério da Igreja; finalmente, com a inserção do indivíduo
nesta história da salvação através de sua participação no sacramento. O conjunto destas
coordenadas histórico-salvísticas nos dará as autênticas dimensões teológicas de um
sacramento.
Um cuidado especial é tomado para evitar o reducionismo empobrecedor que
tem caracterizado a teologia ocidental em particular por longos períodos de tempo,
porque ela se tornou arraigada em uma única tradição litúrgica e quase em uma única
escola teológica. Busca-se uma compreensão integral dos sacramentos. Guiados pelas
declarações do Magistério, pretendemos estar abertos a toda a variedade de tradições
litúrgicas que refletem a experiência sacramental e a fé das diferentes Igrejas ao longo
dos séculos. Queremos estar atentos, com o discernimento necessário, às reflexões dos
teólogos de todos os tempos e latitudes. Somos animados por uma preocupação
ecumênica. Entretanto, dedicaremos especial atenção ao momento fundador apresentado
pelo Novo Testamento e o período patrístico, um período de grande criatividade
litúrgica e teológica.
É por isso que a primeira parte, que é histórica, pretende ser um inventário das
riquezas que nos são oferecidas pela tradição universal da Igreja. Ao narrar a evolução
histórica tanto da práxis como da doutrina dos sacramentos do batismo e da
confirmação, tomaremos nota das contribuições de cada época que serão incorporadas à
síntese final, sem parar por ora para analisá-las em profundidade.
Na segunda parte tentaremos apresentar todo este material de forma sistemática
e orgânica, como convém a um tratamento científico. Estamos convencidos de que os
contornos ou princípios estruturantes que fluem da própria natureza do objeto, ou seja,
da natureza do sacramento, são capazes de abraçar toda a riqueza de facetas que a fé da
Igreja, ductu Spi ritus, vem descobrindo nos sacramentos do batismo e da confirmação.
A tradicional estrutura tripartite de cada sacramento nos aconselha a partir de
simbolismo e tipologia (signum tantum) para estudar primeiro as dimensões histórico-
salvísticas mencionadas acima (res et sacramentum) e depois passar ao que
tradicionalmente tem sido chamado de efeitos ou graça de cada sacramento (res
sacramenti), e finalmente olhar para a vida, enfatizando suas exigências éticas.
O objetivo é oferecer uma teologia capaz de animar a vida espiritual e
encorajar a ação pastoral iluminada em um setor tão vital da vida da Igreja.
NTRODUÇÃO
O GRANDE SACRAMENTO DA INJUSTIÇA CRISTÃ
Os três primeiros sacramentos da Igreja, o batismo, a confirmação e a
Eucaristia, aparecem desde o início como parte do processo de se tornar um cristão, ou
seja, a iniciação cristã. Na verdade, eles são o auge do processo e abrangem melhor do
que qualquer outro elemento todo o significado e conteúdo da jornada iniciática. Em
uma comunidade como a Igreja, que vive pelo Mistério e é ela mesma um Mistério, a
viagem iniciática deve necessariamente ser de grande profundidade e riqueza. É
importante, portanto, especificar desde o início o que entendemos por iniciação cristã,
pois ela constitui o quadro de referência obrigatório para compreender a natureza dos
sacramentos que serão objeto de nosso estudo.
l. INICIAÇÃO CRISTÃ
Em nosso século, a noção de iniciação cristã tornou-se mais uma vez um
conceito importante na teologia dos sacramentos. 1. O Concílio Vaticano II e os
documentos que de alguma forma derivam dele incorporaram-na em seu vocabulário
sem reservas. 2.
A iniciação vem do verbo latino initiare, que, por sua vez, deriva do
substantivo initium, começando, cuja raiz é o verbo inire, a entrar. Sugere, portanto,
além da ideia de começar, a ideia de apresentar alguém a algo. Se tivermos em mente
que o plural initia, no clássico auto res, poderia significar sacrifícios, mistérios, é
compreensível que a palavra logo tenha assumido conotações religiosas.
Para expressar a mesma ideia, os Padres gregos usam dois termos diferentes: 1)
Myesis, iniciação (ao mistério), do verbo mye6, eu me inicio (ao mistério), do qual
recebemos as expressões mistérios e memioumenos, iniciados; amyetos, não iniciados;
mysterion, mistério; e, acima de tudo, mystagogev, iniciação ao mistério; mystagogos,
iniciador, e mystagvgia, ação de conduzir ao mistério ou, melhor, ação pela qual o
mistério nos conduz. Todas estas palavras mantiveram seu significado religioso original.
2) Telete, iniciação, rito 3: do verbo teleio6, cumpro, perfeito, que deriva de telos, fim,
termo; as expressões teloumenos, iniciado; atelestos, não iniciado; telei6sis,
consagração.
Embora o termo não seja encontrado nos escritos do NT, a realidade que ele
expressa é encontrada na forma embrionária. Ao cristianismo não poderia faltar algo
que os antropólogos consideram "uma dimensão específica da condição humana" (M.
Eliade), uma constante antropológica (J.-B Renard), que está presente na prática em
todas as culturas e religiões, embora seja particularmente relevante nas chamadas
religiões misteriosas (por exemplo, nos mistérios de Eleusis, Isis e Mithra). Antes de ser
uma instituição eclesiástica, era uma categoria antropológica universal. A fim de
aprofundar o significado da iniciação cristã, os estudos dos antropólogos sobre este
importante fenômeno universal da etnologia e da fenomenologia religiosa podem ser
úteis, deixando sempre a originalidade da instituição cristã.
Sem perder de vista o fato de que os padrões de iniciação em uso hoje e no
passado são muito variados, indicaremos as principais coordenadas de iniciação, que
resultam de um estudo comparativo de diferentes tradições, cada vez apontando as
diferenças que marcam a originalidade do fenômeno cristão.

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