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Introdução*

Economia e Finanças Públicas 2020-21†

8 de março de 2021

1 Introdução

1.1 Objeto de Estudo, Justificação e Abordagens


No inı́cio de qualquer unidade curricular é, naturalmente, importante identifi-
car, desde logo, qual é o seu objecto de estudo. No caso de Economia e Finanças
Públicas, o seu objecto de estudo corresponde às actividades do sector público /
Estado, com importância económica.
Como a própria designação indica, nesta unidade curricular, combinam-se
duas vertentes:1
• A vertente da Economia Pública – Enquanto ramo da ciência económica,
nesta vertente considera-se uma abordagem de natureza analı́tica, usando
um método cientı́fico, neste caso o hipotético-dedutivo, preocupando-se (mais)
com a, chamada, esfera real da economia. Pela sua natureza, é mais abran-
gente que a abordagem das Finanças Públicas.
• Finanças Públicas – Nesta vertente considera-se uma abordagem de natu-
reza descritiva associada à actividade financeira das administrações públicas,
preocupando-se (mais) com a, chamada, esfera monetária da economia. Associa-
se, muitas vezes, às ciências jurı́dicas.2
Por o que atrás foi dito, é óbvia a natureza interdisciplinar desta unidade cur-
ricular, a qual combina, o Direito, a Polı́tica e, naturalmente, a Economia e, em
relação a esta, também, a microeconomia com a macroeconomia.
*
Sumário da aula de 04-Março-2021, com base nos apontamentos da Professora Gertrudes Guer-
reiro, o qual não dispensa a consulta dos apontamentos das aulas e do manual recomendado, i.e.
Pereira, P.T., Afonso, A., Arcanjo, M. & Santos, J.C.G. (2016), Economia e Finanças Públicas, 5ª edição
revista e atualizada, Lisboa: Escolar Editora.

Departamento de Economia, Universidade de Évora.
1
Estas não são tão evidentemente ‘separáveis’, na realidade anglo-saxónica, em que os termos
“Public Economics”e “Public Finances”são usados de uma forma, quase, equivalente.
2
Tanto assim é que alguns dos manuais (mais antigos) de Finanças Públicas se associam às fa-
culdades de Direito.

1
A justificação mais evidente para a existência de uma unidade curricular que
se dedique ao estudo das actividades do Estado/sector público consiste em afirmar
que tal se justifica porque oEstado (sector público) existe. Naturalmente, poder-
se-á, então, colocar a questão: Porque existe (é necessário) o Estado? De facto, ao
longo da história, têm vindo a ser apresentadas algumas teorias sobre a necessi-
dade de existência do Estado, as quais se apresentam (muito) relacionadas entre
si.3
• Teoria da força – O Estado existe para que os mais fortes dominem os mais
fracos.

• Teoria do direito natural – Associada ao liberalismo, o Estado deve intervir


para que os direitos naturais – segurança, liberdade, propriedade – estejam
garantidos.

• Teoria patrimonial – Com inspiração na filosofia de Platão, o Estado existe


para assegurar a propriedade.

• Teoria da ordem e da tradição – O Estado deve existir para garantir a moral,


a ordem (pública), os bons costumes, etc.

• Teoria do contrato social – Do ponto de vista democrático, cada indivı́duo


deve comportar-se, em sociedade, por forma a que as suas liberdades e as
dos restantes estejam garantidas, cabendo ao Estado zelar para que tal aconteça.
Em Economia e Finanças Públicas, são, habitualmente, consideradas duas abor-
dagens (complementares):
• Abordagem Positiva – Pretende descrever as actividades do sector público,
de forma isenta, o mais possı́vel, de juı́zos de valor. Assim, associa-se, es-
sencialmente, à teoria.
A questão fundamental nesta abordagem é: O que é? Como exemplo de
questões desta abordagem: Quais são os efeitos da manipulação das variáveis
instrumentais (usadas no desempenho das atividades do Estado) sobre as
variáveis objectivo (importantes, relevantes para o Estado)?

• Abordagem Normativa – Pretende avaliar as consequências das polı́ticas públicas,


no sentido de determinar aquelas medidas de polı́tica que sejam considera-
das as melhores, do ponto de vista dos objectivos das autoridades públicas.
Assim, de uma forma implı́cita ou explı́cita, reflete juı́zos de valor.
A questão fundamental nesta abordagem é: Qual deve ser? Como exem-
plo de questões desta abordagem: Qual deverá ser a intervenção do Estado
na economia, para que, dessa intervenção, resulte, o mais possı́vel, uma
3
Recomenda-se, vivamente, uma pesquisa sobre esta matéria, de forma a complementar o es-
tudo. Pode, entre muitos outros, consultar-se http://www.loveira.adv.br/material/tge2.htm; ace-
dido em 8 de março de 2021.

2
situação económica considerada ideal ou, pelo menos, melhor que a ante-
rior?

Aquela segunda abordagem associa-se à existência de critérios normativos, os


quais são:

• Eficiência – Associado ao, chamado, problema económico, i.e. à necessi-


dade de afectar recursos, que são sempre escassos, para a produção de bens
e serviços que consigam satisfazer as necessidades humanas, as quais são
‘ilimitadas’. Uma afectação de recursos é a mais eficiente, se permitir satis-
fazer o maior número possı́vel de necessidades importantes.
O economista italiano Vilfredo Pareto apresentou um conceito que é funda-
mental neste critério normativo da eficiência. O, chamado, óptimo de Pa-
reto é aquela situação em que, estando perante o máximo cumprimento do
critério da eficiência, não será possı́vel melhorar a situação de um indivı́duo
sem piorar a situação de outro.

• Equidade – A eficiência não é necessariamente complementar em relação à


equidade. Pode existir uma situação económica mais eficiente do que outra,
mas também menos justa, menos equitativa que esta outra.

• Liberdade (negativa) – O indivı́duo deve estar o mais possı́vel imune à intervenção


coerciva do Estado. “Tenho o direito a não ser escravo de ninguém” – é uma
expressão de liberdade negativa. “Tenho o direito de ser o meu próprio patrão”
é uma expressão de liberdade positiva.

2 As Funções Económicas do Estado


O papel económico do Estado associa-se, essencialmente, ao desempenho de três
tarefas:4

• Função de afectação – O desempenho desta função – que é de natureza es-


sencialmente microeconómica – prende-se com o desempenho das activi-
dades do sector público que tenham como objectivo alcançar uma situação
económica que seja a mais eficiente possı́vel. Quando existem falhas de mer-
cado, a eficiência (máxima) está posta em causa. Em concreto, são impor-
tantes questões como o fornecimento de bens públicos e as externalidades
(positivas/negativas).

• Função de (re)distribuição – Por via de impostos e/ou transferências soci-


ais, o Estado intervém para que o rendimento seja alvo de redistribuição
por forma a que a distribuição de rendimentos seja mais equitativa. Uma
4
Este trio de tarefas está muito associado ao pensamento de um autor fundamental em Econo-
mia e Finanças Públicas, que foi Robert Musgrave.

3
função de natureza essencialmente microeconómica, mas com relevância a
nı́vel macroeconómico.

• Função de estabilização – É, essencialmente de natureza macroeconómica.


As autoridades públicas deverão ter como objectivo alcançar uma evolução
para a economia que, em termos dos seus agregados macroeconómicos, seja
a mais ‘suave’, i.e. com a maior estabilidade, possı́vel.

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