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HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

APRESENTAÇÃO

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1 Apresentação
BEM-VINDO(A) À DISCIPLINA ONLINE: HISTÓRIA DO PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO

A História do Pensamento Contemporâneo se insere no contexto das disciplinas de graduação em História que

pretende analisar as principais contribuições das diferentes áreas das ciências humanas para o desenvolvimento

de uma construção reflexiva acerca dos princípios norteadores da história contemporânea. Você irá apreender

alguns conceitos necessários ao entendimento de eventos e transformações que marcaram a política, a cultura e

o pensamento na era contemporânea. Você compreenderá questões relativas ao desenvolvimento da história e

conhecerá um pouco de alguns personagens históricos importantes para a melhor compreensão da dinâmica que

marcou as relações sociais, políticas e econômicas da contemporaneidade. A disciplina dialoga claramente com

outras da área da História, estabelecendo uma comunicação interdisciplinar e aumentando o interesse do

discente pelo conhecimento histórico, principalmente a partir de análises que buscarão alicerçar ainda mais tudo

o que o aluno já tiver apreendido e preparando-o para uma melhor compreensão de outras disciplinas.

AULA 01: O Estado-Nação: conceitos e aplicações. Nacionalismos – direita e esquerda

Nessa aula, será compreendido o conceito de Estado-Nação e sua relação com o advento da Era Moderna e

Contemporânea, enfocando o próprio conceito de Estado e sua relação com a política. Analisaremos a construção

do conceito de nacionalismo e o desenvolvimento desse fenômeno e seu desdobramento na Era Contemporânea.

AULA 02: Do Governo: Democracia e Ditadura

Nessa aula, analisaremos, à luz da História Contemporânea, duas formas de governo presentes, a democracia e a

ditadura e como ambas são vistas e interagem nas sociedades. Também serão abordados seus desdobramentos a

partir de uma conceituação teórica, identificando o que caracteriza cada uma delas e como são abordadas pela

história.

AULA 03: O Positivismo e o dogma Evolucionista

Nessa aula, veremos como se desenvolveu o conceito do positivismo dentro da História e a importância de sua

aplicação dentro da Teoria Evolucionista. O aluno terá contato com alguns dos principais representantes da

Teoria Positivista, analisando ainda a aplicação dessa perspectiva no desenvolvimento da História

Contemporânea.

AULA 04: Socialistas utópicos e o Anarquismo

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Nessa aula, analisaremos a formação do Socialismo Utópico, contextualizando historicamente seu

desenvolvimento, procurando ainda conhecer a obra de alguns de seus representantes. O aluno verá ainda a

formação do Anarquismo e sua proposta política, com ênfase no movimento anarquista desenvolvido no século

XIX e alguns de seus principais representantes.

AULA 05: A Literatura no pensamento contemporâneo – Romantismo, Naturalismo e Impressionismo

Nessa aula, será abordada a Literatura no pensamento contemporâneo e sua relação com a História, com

enfoque para as principais correntes literárias que se desenvolveram no século XIX. Serão analisados ainda

alguns dos principais representantes literários das diferentes correntes desenvolvidas no período.

AULA 06: Racionalismo e sua crítica – Henry Bergson

Nessa aula, o aluno irá identificar as principais características da filosofia de Henry Bergson no pensamento

contemporâneo a partir de uma análise do Racionalismo e sua crítica. Também será analisada a noção de

temporalidade a partir do trabalho de Bergson e sua conceituação da memória.

AULA 07: Racionalismo e sua crítica: Marx, a lei de acumulação capitalista

Nessa aula, analisaremos, à luz do pensamento racional, a filosofia de Karl Marx e sua crítica em relação à

acumulação capitalista. Veremos como Marx desenvolve seu pensamento crítico a partir de uma análise da

sociedade na qual está inserido e suas propostas para a questão do capital e seus efeitos.

AULA 08: O positivismo e a crise da modernidade – Nietsche e Freud

Nessa aula, analisaremos o positivismo e a denominada crise da modernidade a partir do trabalho de dois

importantes pensadores contemporâneos: Nietsche e Freud. Também identificaremos as principais

características e influências da filosofia de ambos no contexto histórico da Europa.

AULA 09: Diversidade e multiculturalismo – A cultura de massa e a globalização

Nessa aula, abordaremos a influência da Antropologia Cultural a partir dos conceitos de etnia, multiculturalismo

e diversidade. Analisaremos ainda o desenvolvimento de uma cultura de massa e seus desdobramentos a partir

da influência do cinema na era contemporânea. Também analisaremos a formação de uma sociedade do

espetáculo.

AULA 10: Teorias da Justiça em Rawls e Dworkin e Igualitarismos em Peter Singer e Amartya Sen

Nessa aula, abordaremos as influências do pensamento de John Rawls e Ronald Dworkin a partir da ideia de

justiça e igualdade. Também veremos a influência dos escritos de Peter Singer e Amnartya Sen acerca das

mesmas ideias, construindo uma análise comparada dos autores propostos.

BIBLIOGRAFIA

PSIER, Evelyne. História das ideias políticas. São Paulo: Manole, 2004

HUBERMAN, Léo. História da riqueza do homem. São Paulo: LTC, 2010.

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SEM, Amartya. Desigualdade Reexaminada. São Paulo: Record, 2008.

Ao final da disciplina o aluno deverá:


• Compreender alguns dos conceitos necessários à construção do pensamento contemporâneo,
estabelecendo relações com os diferentes campos da História;
• identificar autores e conceitos fundamentais para o entendimento de algumas das principais
transformações que se operaram na História Contemporânea;
• Reconhecer a interdisciplinaridade como um elemento importante na ampliação do conhecimento
histórico.
Fique Atento(a) e Bom Estudo!

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HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

DO ESTADO: O ESTADO-NAÇÃO E O
NACIONALISMO: CONCEITOS E
APLICAÇÕES

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Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Identificar o conceito de Estado e seu desenvolvimento ao longo da história;

2- Analisar o surgimento do Estado-nação e do nacionalismo;

3- Relacionar o desenvolvimento do nacionalismo e seus conceitos e aplicações.

1 Introdução
Quando falamos em Estado, nossa mente projeta primeiramente o conceito de local onde vivemos, porção

territorial que está inserida dentro de algum país e que, no caso do Brasil, temos a presença de 27 estados, cada

qual com uma representação política dentro de nossa instituição maior, o país.

Mas, o Estado que trataremos em nossa aula nos remete a uma instituição que se formou ao longo da

história e que se consolida por estar presente na vida de todos nós através de suas leis, seu poder e sua

gestão.

Para que nosso conhecimento se torne mais amplo, analisaremos diferentes tipos de Estado e sua formação ao

longo da história, o que nos possibilitará acompanhar um pouco da herança que cada um deixou e pensarmos

como o nosso Estado brasileiro se formou. Vamos lá!

Compreender o que é o Estado e qual a sua função dentro de uma sociedade requer um conjunto de análises e

definições que procurem deixar claro o papel dessa instituição.

Sendo assim, temos que buscar alguns conceitos que facilitem a compreensão desse elemento dentro da história

e a sua importância na formação da História Contemporânea.

“Temos diferentes versões para o surgimento do Estado.”

Alguns dizem que ele sempre existiu, pois o homem sempre esteve integrado em algum tipo de organização

social com poder e autoridade para comandar o grupo.

Outros afirmam que ele surgiu a partir do momento em que passamos a ter delimitações de fronteiras para

determinar o espaço territorial.

São diferentes visões que se complementam e colaboram para pensarmos o desenvolvimento do Estado.

A seguir, veremos mais algumas definições que nos ajudarão a perceber como o Estado é pensado, lembrando

que estamos tratando em nossa aula do Estado governo.

Streck & Morais identificam algumas formas de Estado que enumeramos.

• Estado Romano

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• Estado Romano
• Estado Antigo
• Estado Grego
Veremos mais a seguir.

O dicionário Aurélio define o Estado como um povo social, política e juridicamente organizado, dispondo de uma

estrutura administrativa, de um governo próprio e que tem soberania sobre um determinado território.

2 Estado Antigo
O Estado Antigo (Oriental ou Teocrático) como sendo uma forma estatal definida entre as antigas civilizações do

Oriente ou do Mediterrâneo, onde a família, a religião, o estado e a organização econômica formavam um

conjunto confuso, sem diferenciação aparente.

Tinha as seguintes características:


• Não eram Estados nacionais, ou seja, o povo não estava ligado por tradições, lembranças, costumes,
língua e cultura, mas produtos de guerras e conquistas;
• Modelo social baseado na separação rígida das classes e no sistema de castas;
• Governos marcados pela autocracia (palavra derivada do grego auto e kratos - como uma forma de
governo onde um único homem detém o poder) ou por monarquias despóticas e o caráter autoritário e
teocrático do poder político;
• Sistema econômico (produção rural e mercantil) baseada na escravidão;
• Profunda influência religiosa.
Streck & Morais (2003:20)

3 Estados Grego e Romano


O Estado Grego, cujas características fundamentais podem ser elencadas como sendo:
• Cidades-Estado, ou seja, a polis como sociedade política de maior expressão, visando ao ideal da
autossuficiência;
• Uma elite (classe política), com participação intensa nas decisões do Estado nos assuntos públicos. Nas
relações de caráter privado a autonomia da vontade individual é restrita.
O Estado Romano, que se apresentava assentado em:
• Base familiar de organização;
• A noção de povo era restrita, compreendendo faixa estreita da população; c) magistrados como
governantes superiores.
Streck & Morais (2003:20)

Os diferentes tipos de Estados que apresentamos, extraídos da obra de Streck& Morais, nos permitem ter uma

visão bem ampla das diferentes características que essa instituição teve ao longo de sua história, marcando

claramente as diferenças entre cada um dos modelos e como o Estado que temos hoje se diferencia dos

anteriores.

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O Estado evoluiu muito ao longo de sua história, deixando para trás alguns resquícios que hoje não se encontram

mais presentes em sua formação, dentre os quais podemos citar a forte influência religiosa que caracterizou o

Estado Medieval e evoluiu para consolidar o poder da Igreja Católica dentro desse período.

Com o advento das monarquias absolutistas, o Estado Medieval, fortemente influenciado pela religião, deixa de

existir e dá lugar ao Estado Centralizado, que tem em Nicolau Maquiavel um de seus mais árduos defensores.

Maquiavel foi um dos primeiros teóricos a utilizar essa denominação em sua obra clássica O Príncipe. Ele

afirmava a necessidade de um Estado forte, com uma liderança que unificasse os diferentes reinos e repúblicas

italianas que guerreavam entre si, o que lhes permitiria adquirir estabilidade tanto no âmbito político quanto no

econômico.

4 Definição de Estado-nação
O Estado-nação é caracterizado por ser uma determinada região com delimitações próprias, fronteiras que as

separam de outras regiões; uma população que tenha identificações comuns dentro daquela localidade; um

governante com poder supremo reconhecido dentro do território; uma moeda própria e um exército preparado

para agir em qualquer circunstância pelo seu Estado.

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Dentro dessa comunidade, o indivíduo passa a ter uma referência própria e surge, com isso, o sentimento de

pertencer àquela localidade, o que será de fundamental importância para o desenvolvimento do nacionalismo,

que veremos mais detalhadamente adiante.

Agora, vamos analisar o nacionalismo, seu desenvolvimento e seus desdobramentos tanto de direita

quando de esquerda

O conceito de nacionalismo é algo muito amplo e que assume diferentes posições ao longo da história. Ele pode

ser analisado a partir de diferentes autores, que fornecerão variadas interpretações.

Clique para ler as opiniões do cientista político Benedict Anderson e do antropólogo (e filósofo) Ernest Gellner.

• Ernest Gellner
De acordo com Ernest Gellner (1983), nacionalismo é a ligação entre o Estado e uma cultura

nacionalmente definida.

• Benedict Anderson
Benedict Anderson (1989) define nação como uma comunidade política imaginada e implicitamente

limitada e soberana. Ainda de acordo com o autor, ela é imaginada porque nem os membros das

menores nações jamais conhecerão a maioria de seus compatriotas e nem ouvirão falar deles(a nação é

imaginada como limitada porque, apesar de sua extensão, ela possui fronteiras específicas e além delas

se encontram outras nações).

5 Reflexão
Normalmente, vemos os países ao nosso redor como independentes e dotados de autonomia para todas as suas

decisões, mas você já parou para pensar quando esses países se formaram?

Sabemos do nosso pelo processo de independência, ocorrido em 1822 através da figura de D. Pedro I e que

culminou na formação do Estado Brasileiro, independente e com suas fronteiras estabelecidas. E nossos

vizinhos?

Tivemos, no século XIX, a formação dos Estados Nacionais na América Latina, com o processo de independência

de praticamente todas as ex-colônias espanholas e a independência da colônia portuguesa, como já falado

anteriormente.

Abaixo, confira uma linha do tempo comparativa entre os países da América Latina e seus anos de início da

independência.

1804 – Haiti

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1810 – Chile, Colômbia e México

1811 – Paraguai

1816 – Argentina

1821 – Peru

1822 – Brasil e Equador

1825 – Uruguai

1898 – Cuba

1966 – Guiana

Repare que alguns países se tornaram independentes recentemente, o que nos mostra que a região ainda era

alvo de dominações estrangeiras.

6 Relação do Estado e nacionalismo


Para pensarmos Estado e nacionalismo, vamos juntos analisar a ideia de Estado-nação, entendida aqui a partir

da análise de Châtelet (1985).

Para ele, o Estado-Nação é entendido:

enquanto representação política que implica o fato de que as populações que constituem uma

sociedade no mesmo território reconhecem-se como pertencentes essencialmente a um poder

soberano que emana delas e que as expressa. (p.85)

7 Nacionalismo
O nacionalismo torna-se um elemento muito importante na formação dos Estados e pode assumir diferentes

características.

Ele moldou as sociedades contemporâneas e adquiriu diferentes formas ao longo dos últimos séculos,

fortalecendo a ideia de que pessoas com as mesmas origens, com o mesmo idioma e as mesmas aspirações

políticas deveriam pertencer ao mesmo território, o que é denominado por alguns teóricos como nacionalismo

patriótico.

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O sentimento de amor à pátria, que identifica nacionalismo e patriotismo, de identificação de interesses comuns

dentro do mesmo grupo, identificação com a nação e de luta por ideais que possam trazer benefícios para os

membros do grupo são algumas das características presentes no nacionalismo, mas a forma como esse

sentimento se apresenta pode assumir diferentes características.

Como exemplos desse tipo de nacionalismo, podemos citar o fascismo italiano e o nazismo alemão. No caso da

Alemanha, o nacionalismo foi cada vez mais fortalecido, tornando-se extremamente exacerbado. Apresentou

características de valorização da pátria e ódio ao elemento estrangeiro, direcionado quase que exclusivamente

aos judeus, fomentando o desprezo e a falta de importância pela vida do outro. Havia ainda a ideia de

escravização de todos os outros povos, incluindo-se os latino-americanos.

É importante destacarmos que esse tipo de nacionalismo pode levar à ocorrência de guerras e conflitos e temos

que ter muito cuidado ao lidarmos com isso. Tudo o que debatemos nesta aula auxilia na formação de um

pensamento contemporâneo que norteou as sociedades e que dialoga claramente com diferentes áreas do

conhecimento.

A superioridade racial ariana era refletida nas artes e a valorização do corpo perfeito também era reflexo da

mentalidade da época. Todos os que não tivessem sua saúde perfeita não estavam aptos a fazerem parte da

Alemanha e deveriam ser eliminados. A xenofobia era utilizada para reforçar a aversão dos alemães por tudo o

que era diferente, levando ao máximo a ideia de “estranhamento”.

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8 Independência marcante
Um dos mais importantes processos de independência da região do continente americano e que se constituiu

como um marco na história contemporânea foi a independência das 13 colônias inglesas da América do Norte,

que se transformaram no que conhecemos como os Estados Unidos da América.

Em 04 de julho de 1776, publicaram a sua declaração de independência, onde ressaltavam valores que

consideravam fundamentais para a constituição da nova nação que surgia e que serviram de inspiração para

outros processos de independência que ocorreram na região.

Seu desejo por independência decorreu principalmente do intenso aumento na cobrança de impostos efetuada

por sua metrópole, a Inglaterra, o que gerou nos colonos um fortíssimo desejo de buscar a sua autonomia. Não

podemos deixar de mencionar que esse processo teve forte influência do Iluminismo e de conceitos aplicados

dentro da própria metrópole.

A concepção dos direitos naturais dos indivíduos de levantarem-se contra um governo que não agisse no intuito

de preservar seus cidadãos, o que garantia o direito legal de insurgência, foi aplicado pelas colônias, gerando

uma espécie de nacionalismo institucional.

Foi a primeira experiência democrática na América e teve uma dimensão intensa na história por ter sido o

processo de independência de colônias, que se levantaram contra a sua metrópole e, posteriormente, se

consolidaram como um grande país.

9 Revolução francesa
Outro importante processo de mudança na ótica governamental ocorreu com a Revolução Francesa, 13 anos

após o processo ocorrido em terras americanas e que sofreu forte influência dos acontecimentos de 1776.

A ideia de união dos indivíduos a partir de algo que liga a vontade de uns à dos outros, a ideia de dificuldades e

aspirações comuns faz com que se queira constituir um poder nacional que lhes dê representatividade enquanto

indivíduos.

Isso é o cerne da formação da nação francesa a partir da revolução, que é a luta pela liberdade e pela

igualdade contra a política de privilégios e usurpações que até então existia. Há a substituição do poder

emanado do rei pela representação a partir de corpos instituídos e que atuarão no sentido de

representar o povo. O poder centrado na figura do rei deixa de existir.

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A imagem mostra a queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789, que marca o inicio da Revolução Francesa

Nessa revolução, temos a vontade do povo e suas aspirações passando a ter representatividade, com a unidade

sendo forjada em todos os lugares. Há o desenvolvimento de que a ideia de República é mais viável, pois

encarnaria as aspirações do povo de uma forma mais concreta.

“Defender o povo e seus ideais é defender e administrar seu território”. (Châtelet: 1985)

A partir da Revolução Francesa, do momento em que a burguesia afirma que o poder deve emanar do povo e da

nação, o que contradiz a ideia de direito divino, a concepção de nacionalismo ganha força e se expande pela

Europa e pelo mundo.

O que vem na próxima aula


• As formas de governo na sociedade contemporânea.
• O conceito de democracia e sua utilização.
• As ditaduras na era contemporânea e sua inserção dentro das sociedades.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Analisou o conceito de Estado e suas diferentes formas ao longo da história;
• Compreendeu a formação do Estado-nação e suas principais características;
• Verificou o desenvolvimento do nacionalismo e seus principais desdobramentos.

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HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

DO GOVERNO: FORMAS E DEBATES

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Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Do Governo: formas e debates;

2- Conceituar a democracia e a ditadura e analisar suas aplicações;

3- Analisar as diferentes formas que esses governos assumem dentro das sociedades contemporâneas.

1 Introdução
Quando falamos em Governo, pode nos vir à mente que tipo de governo seria o mais eficiente para manter a

sociedade organizada e garantir os direitos mais importantes para os indivíduos? Seria um governo civil ou um

governo militar? Deveríamos viver a democracia ou a ditadura? O que seria mais viável para a nossa sociedade?

Antes de tentarmos responder a qualquer uma dessas perguntas, temos que reconhecer um pouco mais sobre as

diferentes formas de governo para que nosso conhecimento se amplie um pouco mais e é isso que faremos na

nossa aula de hoje.

2 Governo
Entendemos governo como uma autoridade política existente dentro de uma sociedade constituída e que, com

regras próprias, procura garantir a organização de uma dada sociedade e, resgatando um pouco de nossa aula

anterior, consolidar a ideia de Estado-nação, dando-lhe um aspecto mais seguro e organizado.

Nesse sentido, a existência do governo se faz praticamente obrigatória e resta à sociedade decidir qual forma é

mais viável para o exercício desse governo. Stuart Mill, em seu livro Considerações sobre o governo

representativo (1861) procura tecer algumas reflexões acerca da formação dos governos, considerando que o

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governo representativo é a melhor forma de constituição, pois nele o povo ou uma parte dele exerce participação

através dos seus representantes políticos.

3 Formas de governo
Aristóteles afirma que o governo pode ser exercido por um só, por poucos ou por muitos, com o objetivo de

estabelecer o bem comum para todos, não devendo o governo, seja ele qual for, distanciar-se desse propósito.

Segundo ele, essas formas de governo são divididas em puras e impuras.

*Demagogia
O sentido de demagogia mudou a partir de Aristóteles, que a vê como uma prática “corrupta ou degenerada da

Politeia”, com a formação de governos despóticos ou que governam em nome do povo.

Totalitarismo, despotismo, tirania e ditadura são regimes de pessoas ou grupos que podem até usar de força

bruta para impor seus mandamentos, regras ou leis, pré-existentes ou não.

3.1 Democracia

A Democracia (demos +kratos) surge na Antiguidade, especificamente dentro da teoria clássica ou aristotélica e

no Dicionário de Política organizado por Bobbio (1983), é entendida como “a democracia como Governo do

povo, de todos os cidadãos, ou seja, de todos aqueles que gozam dos direitos de cidadania, distingue-se da

monarquia, como Governo de um só, e da aristocracia como Governo de poucos”. Sua principal característica é a

participação do povo de forma intensa nas decisões, participação essa que pode ocorrer de forma direita ou

indireta.

Um dos teóricos que mais buscou compreender a democracia no mundo moderno foi Alexis de Tocqueville. Em

sua clássica obra, Democracia na América (1835), o autor analisou o processo que viu se desenvolver nas antigas

colônias inglesas da América do Norte. O modelo que visualizou correspondia ao que ele identificava como o que

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mais se aproximava de uma sociedade onde o exercício da liberdade era plenamente efetuado e era ainda

elemento gerador de mudanças. Para o autor ainda, o povo deveria participar plena e ativamente desse exercício

de liberdade através de suas ações políticas e participações nos negócios públicos.

A liberdade ainda deveria ser um fator constante e o cerne do exercício da democracia e teria que ser

preservada, utilizando-se todos os esforços possíveis e uma constante vigilância para a manutenção dessa

conquista.

Tocqueville, em Democracia na América, afirma que:

(...) Não voltemos nossos olhos para a América para copiar servilmente as instituições que ela se

concedeu, mas para melhor compreender aquelas que nos convém, menos para aproveitar os

exemplos do que os ensinamentos e antes para nos servir dos princípios do que dos detalhes de suas

leis.

“(...) As leis da república francesa podem e devem, em muitos casos, ser diferentes daquelas que

regem os Estados Unidos, mas os princípios sobre os quais as constituições americanas se baseiam,

estes princípios de ordem, de equilíbrio dos poderes, de liberdade real, de respeito sincero e

profundo ao direito, são indispensáveis a todas as repúblicas, devem ser comuns a todas e pode-se

dizer de antemão que, onde eles não existirem mais, a república logo deixará de existir. ”

Ao analisarmos os governos ao nosso redor, vemos que a maioria deles assenta suas bases no modelo

democrático inaugurado com a Constituição dos Estados Unidos da América, definindo a divisão de poderes,

para evitar que um acabe dominando o outro e, assim, garantindo a plena liberdade de atuação e tendo o

princípio da liberdade como máxima que não deve ser, de forma alguma, desconsiderada. O Continente

Americano, ao buscar o seu processo de independência, adotou a democracia representativa como forma de

governo e, apesar de diversos problemas de ordem política que a região apresentou, conseguimos perceber que

o exercício desse poder de liberdade política conseguiu construir países sólidos, ainda que durante a segunda

metade do século XX, uma grande parte da região tenha sido alvo de ditaduras militares.

Deturpação da democracia (Demagogia)

A demagogia pode ser caracterizada como a deturpação da democracia e é um termo de origem grega que,

basicamente, significa “a arte de conduzir o povo”. Na Grécia Antiga, aquele que era um bom orador e sabia

conduzir o povo adequadamente fazia jus ao título. Não é propriamente uma forma de governo e seu sentido está

justamente em ser um tipo de política que busca sua base de apoio nas massas e em seus principais anseios. Sua

prática está associada a trabalhar esses anseios e alguns a associam ao populismo.

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O fortalecimento da demagogia ocorreu de forma intensa a partir do advento da sociedade industrial, quando

líderes passaram a surgir no seio de uma sociedade com muito mais demandas e aspirações. Esses líderes

enfocavam cada vez mais as necessidades de uma população que buscava representação diante de uma gama de

aspirações, principalmente no que diz respeito aos seus direitos.

Muitos políticos são considerados demagogos quando manipulam a massa de acordo com seus próprios

interesses, sujeitando-as e obtendo admiração e respeito, o que lhe garante a continuidade de sua participação

dentro do jogo político, seja dentro de um modelo democrático, autoritário ou ditatorial.

3.2 Aristocracia

É entendida como o governo dos melhores, ou seja, onde a liderança é creditada a um grupo de pessoas que

estariam plenamente aptas a conduzir uma dada sociedade. Seriam os melhores cidadãos, com formação moral e

intelectual, mas com o único objetivo de atender aos interesses do povo. Esses “melhores homens” seriam

escolhidos em consenso com os cidadãos de forma a garantir o interesse da coletividade. Na concepção

aristotélica, esses melhores homens não seriam escolhidos por suas origens de nascimento ou mesmo de

riqueza, o que permitiria que qualquer pessoa pudesse ser alçada à condição de liderança.

Com o passar do tempo e, principalmente na Idade Média, aristocracia passou a ser associada à nobreza e ao

clero, que passaram a compor uma classe de privilegiados por nascimento ou por ordem religiosa, o que acabou

por suplantar de vez a ideia aristotélica de liderança a partir de qualidades e por merecimento.

Deturpação da Oligarquia (Oligarquia)

Está muito associada a abuso de poder e a opressão. É uma forma de manter o poder com o uso da força e pode

ser considerada como o desvirtuamento da monarquia. Seu termo designava um governo marcado, muitas vezes,

pelo uso da força sem limites. No Dicionário de Política (1983) ela aparece associada à ditadura moderna, sendo

o tirano apontado como o chefe de uma facção política que buscava impor seu poder com o uso de sua força,

exercendo um comando “arbitrário e ilimitado”.

Por ter essa associação com pessoas abastadas, a oligarquia acabou por caracterizar o poder exercido pelos mais

abastados em uma dada localidade, ainda que não fosse um país. Como exemplo, podemos citar a formação das

oligarquias no Brasil no período conhecido como República Velha (1889-1930). Os estados de São Paulo e Minas

Gerais possuíam as oligarquias mais fortes da época, que juntas formaram a conhecia política do café com leite.

Esse modelo político era tão forte que, inclusive, estava presente na presidência da república brasileira, tal o

alcance de sua atuação.

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3.3 Ditadura

(Inverso da Democracia)

Acerca da ditadura, é interessante falarmos que ela esteve presente ao longo da história de diferentes formas. Na

antiguidade, especificamente em Roma, era utilizada para situações de emergência e dentro de limites

constitucionalmente definidos, perdendo, ao longo do tempo, sua função de existir somente em situações de

crise e passando a se tornar mais constante e com motivações diferentes daquela para as quais ela havia sido

pensada.

Na modernidade, ela ganha uma nova roupagem, onde o líder exerce seu poder de forma absoluta e se mantém

no exercício desse poder por um longo tempo, mesmo inicialmente se autoproclamando temporária. É

considerado um regime não democrático, pois não pressupõe a participação popular e as decisões são centradas

na figura do líder. Também não há o respeito à divisão de poderes e as decisões são tomadas unilateralmente ou

pelo grupo que esteja no poder.

Em diversos casos, ditaduras são constituídas a partir de golpes de estado e contam com o apoio e a estrutura

das forças militares, pois esse grupo, por deter o poder legal da força, exerce uma influência muito grande na

garantia do exercício do poder dos ditadores em alguns locais.

Na era contemporânea, diversas ditaduras foram instauradas, algumas com cunho político, outras de cunho

ideológico. Cada um desses modelos aborda um ponto de vista que considera essencial para a sua manutenção

no poder e o explora ao máximo. Como exemplo de ditadura política podemos citar as que ocorreram na América

Latina na segunda metade do século XX. Na teoria, eram fomentadas pelo temor ao crescimento do comunismo.

Na prática, buscavam estabelecer uma rede de militares no poder que garantissem interesses diversos. Muitas

dessas ditaduras permaneceram longos anos no poder e começaram a se encerrar a partir do enfraquecimento

da Guerra Fria, na década de 1980. Como exemplo de ditadura ideológica, podemos citar a massificação dos

indivíduos dentro de um mundo globalizado que procura impor suas opiniões e modelos, estabelecendo, ainda

que indiretamente, a sua hegemonia.

3.4 Monarquia

Uma das mais antigas formas de governo, onde é exercido por uma liderança que o detém em suas mãos e que

permanece no poder de forma hereditária. Monarquia, no Dicionário de Política (1983) organizado por Norberto

Bobbio, é definida comumente como “aquele sistema de dirigir a res publica que se centraliza estavelmente em

uma só pessoa investida de poderes especialíssimos, exatamente monárquicos que a colocam claramente, acima

de todo o conjunto dos governados”. No entanto, como ela apresenta diferentes vertentes, é entendida como “um

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regime substancial, mas não exclusivamente monopessoal, baseado no consenso, geralmente fundado em bases

hereditárias e dotado daquelas atribuições que a tradição define com o termo de soberania”.

As monarquias absolutas, centradas exclusivamente na figura do rei, começaram a entrar em crise a partir da

Revolução Francesa (1789), inaugurando uma nova fase na história do pensamento contemporâneo. Essa

revolução fez com que o Antigo Regime, esse poder voltado exclusivamente para o rei e que reside em sua figura,

entrasse em crise. A soberania passou a ser exercida através do povo e da manifestação de sua vontade.

Atualmente, ainda temos formas de governo monárquicas, mas não absolutas como antes do processo da França.

Hoje, muitas são monarquias constitucionais e como exemplo atual disso vemos a Inglaterra, também

denominada como monarquia representativa. Essa limitação do poder do rei ocorreu exatamente para que o

poder absoluto não fosse exercido de forma a não atender aos interesses do povo, da nobreza e da burguesia.

Deturpação da Tirania (Tirania)

Está muito associada a abuso de poder e a opressão. É uma forma de manter o poder com o uso da força e pode

ser considerada como o desvirtuamento da monarquia. Seu termo designava um governo marcado, muitas vezes,

pelo uso da força sem limites. No Dicionário de Política (1983) ela aparece associada à ditadura moderna, sendo

o tirano apontado como o chefe de uma facção política que buscava impor seu poder com o uso de sua força,

exercendo um comando “arbitrário e ilimitado”.

4 Sistemas de governo
Os principais sistemas de governo

• Principais características do presidencialismo


• O sistema só pode ser usado em repúblicas

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• O chefe de estado(presidente) é o chefe de governo e portanto tem plena responsabilidade política e

amplas atribuições.

• O chefe de governo é o presidente eleito pelo povo, direta ou indiretamente. Fica no cargo por tempo

determinado, previsto na Constituição.

• O poder executivo é exercido pelo presidente da República auxiliado pelos ministros de estado que são

livremente escolhidos pelo presidente. A responsabilidade dos ministros é relativa à confiança do

presidente.

• Adotado no Brasil, nos EUA, México, entre outros.

• Principais características do parlamentarismo


• O sistema pode ser usado em monarquias ou repúblicas.

• O chefe de Estado (rei ou presidente) não é o chefe de governo e portanto não tem responsabilidade

política. Suas funções são restritas.

• O chefe de governo é o premier ou primeiro ministro, indicado pelo chefe de Estado e escolhido pelos

representantes do povo. Fica no cargo enquanto tiver a confiança do Parlamento.

• O poder Executivo é exercido pelo Gabinete dos Ministros. Os Ministros de Estado são indicados pelo

premier e são aprovados pelo parlamento. Sua responsabilidade é solidária; se um sair todos saem em

tese.

• É o caso de Inglaterra, França, Alemanha.

O sistema parlamentarista e o sistema presidencialista só se aplicam em regimes democráticos, sejam

monarquias ou repúblicas. Não são aplicados em ditaduras. Em caráter excepcional podemos encontrar modelos

alternativos como os diretórios encontrados na Suíça.

O que vem na próxima aula


• O conceito de positivismo e sua aplicação prática dentro da teoria evolucionista;
• Os principais representantes do positivismo e suas obras, propondo a análise de algumas delas.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:

• Reconheceu o conceito de Governo e como ele foi analisado ao longo da história;

-8-
• Reconheceu o conceito de Governo e como ele foi analisado ao longo da história;
• Compreendeu o conceito e a importância de algumas formas de governo;
• Analisou a democracia e a ditadura e algumas de suas aplicações práticas.

-9-
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

O POSITIVISMO E O EVOLUCIONISMO NA
HISTÓRIA

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Identificar o conceito de positivismo e evolucionismo;

2- Analisar as relações estabelecidas entre ambos;

3- Conhecer alguns dos principais teóricos do positivismo e do evolucionismo;

4- Reconhecer a importância do positivismo para a construção da história e sua forte influência dentro da teoria

evolucionista.

1 Positivismo
Quando pensamos acerca do positivismo, a primeira ideia que nos vem à mente é a associação da palavra com

algo positivo, o que pode levar você a refletir sobre se o período positivista teria sido um momento em que a

mente do homem, ligada ao aspecto positivo, ganhou fortalecimento.

Figura 1 - Auguste Comte

Vamos começar a nossa análise conhecendo o conceito de positivismo.

-2-
O positivismo pode ser entendido como uma busca pelo conhecimento científico. Ele foi uma teoria

sociológica inaugurada por August Comte (1798-1857), que buscava nas ações dos indivíduos

explicações para vários fatores sociais, contrariando, principalmente, a metafísica e a Teologia. O

positivismo buscava demonstrar que explicações para diversos acontecimentos não apareciam somente

nas ciências ditas racionais, a Matemática e a ciência, como até aquele momento pregava o racionalismo.

Podemos afirmar que houve uma passagem do pensamento iluminista para o positivista e para que nossa

discussão fique mais completa, analisaremos agora um pouco do iluminismo, um movimento intelectual que

assenta suas bases no racionalismo.

Sua influência foi muito importante para moldar a sociedade contemporânea, estando seus ideais presentes, por

exemplo, na Revolução Americana, na Francesa e na Industrial.

Herdeiro do humanismo e do renascimento, via com otimismo as realizações humanas e entendia que a razão

era o princípio norteador do homem, que assim passava a adquirir plena consciência de seus atos.

Defendia a valorização da experimentação e buscava explicações para além do universo religioso, que havia

permeado épocas anteriores, atrelando o conhecimento a uma busca por luz dentro de um universo considerado

de trevas, pois havia essa visão consolidada em relação à Idade Média, seria a Idade das Trevas e o iluminismo

traria luz para esse mundo que habitava a escuridão.

2 Legado positivista
De acordo com Barros (2011:91), o positivismo acrescentou ao ideal iluminista de Progresso, o conceito de

Ordem, com o objetivo de conciliar as classes, uma maneira de encobrir a expressão marxista de dominação de

classe. Comte, seu maior representante, era considerado um positivista conservador, equiparando os métodos

das ciências naturais às sociais e afirmando a necessidade de uma rigorosa neutralidade das ciências sociais.

Ainda de acordo com Barros, o discurso de ordem e progresso do positivismo constituiu zelosamente uma das

estratégias mais favoráveis ao desenvolvimento da burguesia ascendente. Pregava-se a conciliação das classes,

mas, na verdade, o que buscava era a submissão dos trabalhadores aos industriais, que seriam os responsáveis

por garantir o progresso positivista. A educação das massas seria orientada pela educação positivista,

preparando os proletários para respeitarem e reforçarem as leis naturais que determinavam a concentração do

poder e da riqueza nas mãos dos industriais.

-3-
Fique ligado
Karl Heinrich Marx (1818-1883) nasceu em Treves, capital da província alemã do Reno. Como
filósofo político, economista e teórico social de origem judaica exerceu grande influência no
pensamento socialista e nos movimentos políticos revolucionários dos séculos XIX e XX.
Durante sua conturbada vida escreveu diversas obras, sendo que, “O Capital” (1867) é
considerada a mais importante.

No século XIX, o ideal positivista auxiliou a consolidar a visão de que a sociedade era um corpo que precisava ter

seus órgãos em correto funcionamento, com espaço delimitado para o cérebro (que seriam os industriais) e os

braços e pernas (que representariam a classe trabalhadora), fortalecendo a ideia de uma correta junção das

classes, onde cada um teria um papel específico a ser cumprido, não devendo dele se distanciar. Assim, o ideal da

revolução perde todo o seu sentido e espaço, calando as vozes que pudessem vir a se opor a essa mentalidade.

-4-
Interessante falarmos que o ideal positivista esteve fortemente presente no ideário da proclamação da república

brasileira, ocorrida no ano de 1889, conforme podemos observar na constituição da bandeira brasileira de cunho

republicano, que apresenta o lema Ordem e Progresso. Essa frase era uma velada alusão ao fato de que sem a

ordem, o país não conseguiria se desenvolver - mentalidade muito presente no conjunto das Forças Armadas

brasileiras - responsáveis diretas pelo fim da monarquia no Brasil.

O positivismo afirmava ainda que cada ramo do saber deveria passar por três estágios diferentes, seriam eles:

• Estágio teológico

Existente na juventude do ser humano, onde o mundo é visto a partir de crenças religiosas, que geram a

interpretação do que está ao nosso redor. O espírito humano explica fenômenos por meio da vontade de

agentes sobrenaturais.

• Estágio metafísico

Também chamado de estado abstrato – está presente na idade adulta e se caracteriza por ser um meio

termo entre o homem e a sua relação com a religião e com a razão. Os deuses são substituídos por

princípios abstratos relacionados à natureza e a noção de causa passa a ser analisada a partir da noção

de lei. É um contraponto à explicação teológica para os fenômenos.

• Estágio positivo

Alcançado na idade adulta, é o estágio no qual o homem começa a buscar explicações para os porquês

das coisas, substituindo a noção de causa pela de lei, principalmente o das leis positivas da natureza,

permitindo prever um determinado futuro. Nesse estado, o espírito humano encontra a ciência.

-5-
3 O positivismo sob a ótica das pesquisas históricas
No que diz respeito à construção da pesquisa histórica, os positivistas defendiam que os acontecimentos

históricos deveriam ser analisados à luz de uma intensa objetividade, com a utilização da razão, e a escrita da

história deveria ser feita com o uso de fontes relacionadas a documentos escritos e legitimados pelo Estado.

Essa seria uma forma de escrever a história oficial, sem os questionamentos que temos hoje, onde era garantida

a reprodução de uma escrita da história com objetivos extremamente específicos. Os pensadores positivistas

propunham uma construção da escrita assentada na neutralidade do historiador, na separação do que é

pertinente ao sujeito e do que é para o objeto, ou seja, entre o pesquisador e o objeto do seu trabalho.

Como exemplo de um importante teórico do positivismo, citamos David Hume (1711-1776). Ele defendia

a experiência e a observação como elementos importantes para a construção da ciência do homem.

Pretendeu implantar nas ciências humanas as propostas das ciências exatas, consolidadas a partir da

observação e experimentação. Não pensava na natureza da alma e só se amparava na experiência.

4 O positivismo sob a ótica do evolucionismo


Agora, tratando um pouco sobre o evolucionismo, ele pode ser entendido como um ramo que aborda a evolução

orgânica das espécies e é um tema que sempre intrigou estudiosos de diferentes épocas. As perguntas “de onde

viemos ?o que somos ?” são algo que sempre intrigou a mente humana mas, antes do século XIX e das concepções

de Charles Darwin, essa questão não havia ganho o espaço que conseguiu dentro das discussões nas sociedades.

-6-
A partir do momento que o homem passa a questionar a si com o advento do pensamento racional expresso no

Iluminismo, novos questionamentos passam a fazer parte do universo dos homens e a célebre pergunta acerca

de nossas origens começa a ganhar mais corpo. Até o século XVIII havia um reinar da Teoria Criacionista, mas

isso começou a ganhar uma nova concepção a partir do XIX.

O primeiro teórico evolucionista foi Jean-Baptiste de Lamarck, ele considerava que um organismo podia ser

modelado e determinado pelo meio no qual vivia, se adaptando para garantir a sua sobrevivência. Ele defendia a

teoria da evolução, que um organismo mais simples poderia se desenvolver a partir de modificações no seu

ambiente e por suas necessidades. Um dos exemplos usados por Lamarck para corroborar sua teoria eram as

girafas. Segundo ele, elas iam ficando com seu pescoço alongado peça necessidade de alcançar os galhos mais

altos das árvores. Suas reflexões ficaram conhecidas como a Teoria dos Caracteres Adquiridos e após algum

tempo elas passaram a não ter mais credibilidade, o que ainda assim não desmerece sua importante contribuição

para a Biologia e seus estudos, obtendo inclusive a admiração de Charles Darwin.

Lamarck foi considerado o primeiro grande evolucionista por suas proposições, mas ainda faltava a

aplicação prática das teorias desse grande teórico da evolução.

Outro importante estudioso do evolucionismo foi Charles Darwin (1809-1872). Ele foi um grande naturalista e

seus estudos basearam-se na observação das espécies e seu comportamento. Suas análises se iniciam quando é

convidado a tornar-se membro de uma expedição científica a bordo do navio Beagle, passando assim 5 anos de

sua vida navegando pela costa do Pacífico e América do Sul, o que lhe permitiu coletar espécies das mais

variadas possíveis. Para onde ia, ele coletava plantas, animais, rochas e todo tipo de elemento que julgava útil

para a sua análise. Sua grande questão era explicar como as espécies apareciam e desapareciam, surgindo em

sua mente vários questionamentos.

4.1 O positivismo sob a ótica do evolucionismo – Darwin

Seu trabalho de coleta acabou por fomentar a sua Teoria da Evolução resultando em um famoso livro Origem das

espécies por meio da seleção natural, ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida, que foi

intensamente criticado na época por lançar as bases de uma análise diferenciada sobre a origem de todas as

espécies, mudando totalmente a forma de pensar a vida na Terra.

-7-
Figura 2 - Charles Darwin

Em seu livro, ele defende a Teoria da Evolução Biológica e afirma que ocorre por seleção natural, onde esse tipo

de seleção impediria o aumento da população. Ele defende que alguns indivíduos de uma espécie são mais fortes,

correm mais rápido, são considerados melhores e mais aptos, mais inteligentes e sobreviverão e se reproduzirão,

enquanto outros, considerados mais fracos e inferiores, perecerão e isso, com o passar do tempo, levará a

formação de uma espécie mais forte e superior.

Claro que a teoria de Darwin foi contestada. Ela afirmava algo totalmente diferente daquilo que havia sido o

pensamento dominante por séculos e gerou um grande número de questionamentos. Mas, também, legitimou o

pensamento de uma sociedade em evolução e que já tinha o positivismo entranhado em si.

A teoria de Darwin era importante para justificar a ascensão de uma burguesia que se via como a legítima

condutora da sociedade que então se formava. Assim, as ideias de Darwin passaram a ser aplicadas para as

sociedades, dando origem ao surgimento de correntes baseadas na sobrevivência dos mais aptos dentro de uma

“selva de pedra”.

Posteriormente, Darwin publica um novo livro onde aborda a origem do homem, intitulado A origem do

homem e a seleção sexual.

Nesse livro, Darwin aborda a inserção dos macacos em nossa árvore genealógica, incluindo-os junto aos homens

em uma única “família” genealógica, o que favoreceu a sua origem da evolução humana. Para ele, novas espécies

não eram criadas e sim, derivadas de ancestrais comuns.

Daí surge a teoria de que o homem tenha evoluído do macaco, o que causou grande impacto na época e que até

os dias atuais ainda é o cerne de um grande debate entre a ciência e a religião.

As teorias de Darwin acabaram por fomentar o que foi conhecido como o evolucionismo social, onde o

pensamento político-social passou a receber forte influência da Biologia. A sociedade passa a ser comparada a

vida orgânica. Assim, as bases para esse tipo de evolucionismo foram lançadas por Herbert Spencer (1830-

-8-
1903). Para ele, o progresso social é derivado de múltiplos fatores sociais e que o processo de evolução

darwiniana se aplicava às sociedades, dando origem ao conhecido darwinismo social, proposta que levaria ao

domínio dos socialmente mais fracos.

Figura 3 - Herbert Spencer

Spencer afirmava que o universo evolui e que a evolução é progresso e que a ordem era necessária ao progresso.

Para ele, a seleção natural se aplicaria dentro das sociedades em prol da supremacia de um grupo. Assim, não

seria um indivíduo mais forte a prosperar, mas, um grupo coeso e diferente dos demais que alcançaria a

primazia necessária para conduzir os outros.

O que vem na próxima aula


• A formação do socialismo utópico, contextualizando historicamente seu desenvolvimento;
• A formação do anarquismo e sua proposta política, com ênfase no movimento anarquista desenvolvido
no século XIX e alguns de seus principais representantes.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Identificou o conceito de positivismo e evolucionismo;
• Analisou as relações estabelecidas entre ambos;
• Reconheceu a importância do positivismo para a construção da história e sua influência dentro da teoria
evolucionista.

-9-
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

SOCIALISTAS UTÓPICOS E O ANARQUISMO

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Identificar o conceito de socialismo e anarquismo;

2- Analisar a construção do socialismo utópico e do anarquismo;

3- Reconhecer alguns dos principais teóricos do socialismo utópico e do anarquismo;

4- Reconhecer a importância de ambos os conceitos na formação de um pensamento contemporâneo.

1 Introdução
Socialismo

Socialismo, palavra que acompanhou a história do pensamento contemporâneo e gerou grandes e

acalorados debates sobre qual tipo de sistema econômico seria o melhor para as sociedades.

Socialismo, termo que gerou incerteza em capitalistas ante a iminência de seu principal discurso: a

divisão da propriedade privada dos meios de produção. Esse embate se estendeu por um longo tempo e

colocou as sociedades em constante dúvida sobre qual seria o sistema mais justo, qual seria o melhor ou

qual garantiria o maior número de benefícios. Era pensar o todo ou o individual.

Em nossa aula, abordaremos um pouco do socialismo utópico, contrapondo com o modelo de socialismo

identificado como sendo o mais adequado para a sociedade do século XIX.

-2-
Afinal, o que é o socialismo?

Qual a proposta desse modelo econômico e por que alguns afirmam que ele seria um modelo mais justo e

igualitário?

Justo e igualitário, mas, aos olhos de quem?

Para compreendermos melhor o socialismo utópico, primeiramente analisaremos o conceito de socialismo.

Ele é entendido como um sistema fundado na organização da sociedade de maneira igualitária e na

administração pública como forma de garantir essa igualdade aos membros de uma dada sociedade.

Norberto Bobbio, a partir dos anos 1840, as palavras socialismo e comunismo “passaram, ao menos em parte, a

indicar variações diversas do movimento que denunciava as condições dos operários no desenvolvimento da

sociedade industrial, se opunha ao liberalismo político e econômico e ao individualismo, apresentava um projeto

de uma reconstrução da sociedade em bases comunitárias e promovia formas associativas de vários gêneros

para realizar as ideias”. (p.1197)

Fique ligado
No Dicionário de Política de Norberto Bobbio (1988), ele é definido historicamente como
programa político das classes trabalhadoras que foram se formando durante a Revolução
Industrial.

O objetivo de pensar o socialismo era analisar os problemas de forte desigualdade em uma sociedade onde a

riqueza começa a evoluir aceleradamente. Pensar como eram díspares as condições de vida e de trabalho em

uma sociedade que se mostrava como cada vez mais capaz de produzir riquezas aceleradamente.

Assim, vários teóricos começaram a pensar e a refletir acerca dessa sociedade e de como seria possível fazer

transformações nesse ambiente de constantes desigualdades e deram origem ao que ficou conhecido como o

socialismo utópico, que analisaremos detalhadamente durante nossa aula.

2 Socialismo utópico
O socialismo utópico tem esse nome porque muitos de seus pensadores acreditavam ser possível conseguir

transformações na sociedade sem ocorrer o confronto entre as classes e disso deriva o termo utópico.

-3-
Suas ideias têm inspiração no iluminismo, pois acreditavam no desenvolvimento da razão e do progresso para ao

alcance da felicidade e da igualdade dentro das sociedades. A denominação de utópico veio principalmente a

partir de escritos de Karl Marx e Friederich Engels, diferenciando esse tipo de socialismo do científico.

Viam no socialismo utópico uma função positiva, especialmente na identificação das contradições da sociedade

industrial em formação e na proposta de reordenação da família dentro desse universo de contradições e na

limitação da ação estatal, que passaria a ser um simples gestor da produção. Para os críticos, a proposta dos

utópicos seria imatura diante de uma sociedade com problemas e contradições cada vez mais acirrados, não

enxergando a necessidade de um ordenamento político para esse proletariado.

Óbvio que não se pode negar a importância desse tipo de socialismo até porque ele foi o primeiro a pensar em

uma alternativa para as contradições, o que se tornou claro a partir de seus principais pensadores, que

analisaremos a seguir.

2.1 Socialismo utópico – Conde Saint-Simon

Conde Saint-Simon (1760-1825) – seu nome era Claude-Henry de Rouvroy - um pensador e economista francês

considerado um dos precursores do socialismo utópico. Não era favorável às desigualdades sociais que

presenciava e sua proposta se baseava no fato de que o Estado deveria gerir os meios de produção, tanto no

planejamento quanto na organização, mas essa liderança deveria estar nas mãos dos industriais e dos homens de

negócios, estabelecendo as igualdades e contribuindo para uma sociedade mais justa, eliminando alguns

elementos do sistema liberal totalmente livre.

Para ele, o individualismo que se acirrava cada vez mais era prejudicial à construção de uma sociedade mais

igualitária e a solução seria o progresso econômico, pois isso eliminaria os conflitos de uma sociedade

considerada desordenada. A industrialização era vista como benéfica porque traria esse progresso econômico e

reduziria os problemas sociais, ou seja, o progresso do mundo acabaria com os conflitos, mas não sob a liderança

dos trabalhadores, como afirmou posteriormente Karl Marx.

Para Simon, os capitalistas deveriam assumir responsabilidades sociais e melhorar as condições de vida de seus

trabalhadores.

Fique ligado
Barros (2011) afirma que Saint-Simon era considerado um profeta da burguesia e entusiasta
da sociedade industrial. Para ele reinava na sociedade a desordem e a anarquia e o
pensamento social deveria orientar a indústria e a produção. Industriais e homens da ciência
formariam uma elite capaz de conduzir a sociedade. Os cientistas tomariam o lugar que a
religião havia ocupado na sociedade medieval no que diz respeito à conservação social,

estabelecendo verdades aceitas por todos os homens e os fabricantes, banqueiros e industriais,

-4-
estabelecendo verdades aceitas por todos os homens e os fabricantes, banqueiros e industriais,
seriam os senhores feudais, formando uma nova elite, estabelecendo os objetivos da sociedade,
ocupando uma posição de mando diante dos trabalhadores e, assim, mantendo o controle.

2.2 Socialismo utópico – Marie Charles Fourier

Outro importante teórico do socialismo utópico foi François Marie Charles Fourier (1772-1837). Nascido em

família rica é considerado um dos pais do cooperativismo, através do qual propunha a formação de

comunidades. Era um crítico do capitalismo de sua época, do liberalismo, condenava a industrialização e a

exploração de mulheres e crianças, defendendo a igualdade de gênero.

Sua análise das comunidades que propunha denominou-se falanstério, que eram comunidades intencionais com

construções comunais e onde cada um exerceria seu ofício de acordo com o seu gosto e sua vontade. Nesse tipo

de organização, cada membro ocuparia um espaço específico e isso ajudaria na resolução dos problemas da

sociedade.

Para Fourier, a sociedade existente impedia que o homem pudesse desenvolver livremente suas qualidades e,

por isso, o trabalho deveria ser associado ao prazer pelo ofício. Foi um forte crítico da moral cristã e burguesa,

que para ele impediam o homem de exercitar livremente sua busca pela felicidade e por isso sua doutrina foi

denominada por alguns teóricos como sendo uma precursora da Psicanálise e do marxismo.

2.3 Socialismo utópico – Robert Owen

Robert Owen (1771-1858) – era um empresário britânico proprietário de uma indústria têxtil que propunha a

criação de cooperativas de trabalho como forma de equilibrar a sociedade. Sua proposta de cooperativas incluía

ainda moradia e escola para os trabalhadores. Dando continuidade ao seu projeto, Owen fundou cooperativas e

inseriu nelas moradias considerando-as adequadas para os trabalhadores, criando ainda escolas, reduzindo

jornadas diárias de trabalho em uma busca por humanização do capitalismo sem destruí-lo, pois esse não era o

seu objetivo.

Owen mesmo sendo um burguês buscava melhorias nas condições de vida de seus trabalhadores. Ele tinha

consciência da situação crítica que o mundo do trabalho vivia. Sua contribuição com as condições do mundo

trabalhista nasceram de sua experiência em uma fábrica de fios de sua propriedade, onde analisou as condições

de seus trabalhadores. Foi o primeiro a usar a palavra socialismo para designar sua forma de pensar.

-5-
2.4 Socialismo utópico – Conclusão

Vimos alguns dos mais importantes teóricos do socialismo utópico e que foram muito importantes para

consolidar a ideia do socialismo.

Um ponto comum a todos foi a exploração do trabalhador e, a seu modo, cada um deles propôs formas de

diminuir ou mesmo eliminar essa exploração, que para eles acabava por gerar uma sociedade cada vez

mais desigual.

É interessante pensar que desta forma, todos propunham mudanças, mas não passavam pela eliminação do

capital ou mesmo dos industriais e, sim, por uma reorganização desse mundo do trabalho e de todos os que dele

faziam parte.

3 Anarquismo
Ao pensarmos ainda a estruturação da sociedade que se desenvolveu no período da Revolução Industrial,

tivemos a formação do anarquismo, uma palavra de origem grega que significa “sem governo”, ou seja, seria um

Estado constituído sem uma liderança constituída que tivesse peso de autoridade, defendendo uma

organização baseada na cooperação entre todos os indivíduos, que seriam então livres e autônomos,

sendo abolidas todas as formas de poder por serem consideradas opressoras.

-6-
Pôster de propaganda mostrando um anjo protegendo pessoas contra um ativista bolchevista com uma

bomba e uma faca nas mãos: a propaganda pelo ato foi amplamente vista negativamente

Então, compreendemos que a recusa do anarquismo, no que diz respeito ao Estado, está na sua associação com o

autoritarismo e por ser um órgão repressivo por excelência, privando o indivíduo de sua liberdade e impondo

regras e comportamentos limitadores, tendo uma imensa capacidade de intervir na vida dos indivíduos de

acordo com essas próprias regras.

Assim, os cidadãos se autogovernariam e conseguiriam garantir a igualdade para todos os membros de uma

dada comunidade e todos teriam as mesmas capacidades de decisão, sendo contrários às ordens hierárquicas e

limitadoras das ações individuais, onde o homem se afirmaria através de suas ações e permitiria que ele

usufruísse de sua liberdade no sentido pleno.

A ideia básica do anarquismo é a concepção de auxílio mútuo e sua doutrina pode ser resumida na palavra

“liberdade”, sendo o uso da violência algo extremamente atacado pelos anarquistas.

-7-
3.1 Anarquismo – Características

Como características do anarquismo, podemos apontar:

- o socialismo libertário,

- o humanismo,

- a ausência de governo limitador,

- a realização da liberdade plena,

- o internacionalismo,

- oantiautoritarismo e

- o apoio mútuo.

-8-
3.2 Anarquismo – Crítica e apoio
• Crítica
Alguns críticos do anarquismo tendem a afirmar que ele é uma utopia, pois o homem vive em constante disputa

por poder e dinheiro, e para frear esses instintos, a ação do Estado se faz necessária, caso contrário, viveríamos

em constante disputa. O homem por si não seria capaz de harmonizar-se com seu semelhante.
• Apoio
Entre os principais teóricos do anarquismo, destacam-se:

• Pierre-Joseph Proudhon (18909-1865)

um dos mais influentes expositores do anarquismo, questionando a ideia de propriedade e a posse da

terra e sendo contrário aos ganhos através da exploração do outro.

• Mikhail Aleksandrovitch Bakunin (1814-1876)

um dos principais teóricos do anarquismo em meados do século XIX.

• William Godwin (1756-1835)

considerado um dos proponentes modernos do anarquismo. Em suas obras, ataca as instituições

políticas e os privilégios da aristocracia.

No Brasil, o anarquismo ganhou força com a vinda de imigrantes europeus a partir da segunda metade do século

XIX e início do século XX, desdobrando-se no movimento conhecido como anarcossindicalismo.

Ocorreu principalmente dentro dos sindicatos que então se formavam e ganhou destaque durante grande parte

do período conhecido como República Velha, predominando principalmente no movimento operário de estados

como São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Teve participação ativa nas greves de 1917 em São Paulo, de 1918 no Rio de Janeiro e de 1919 tanto em São

Paulo como no Rio de Janeiro. Em 1919, foi instituído o Partido Comunista Anarquista, mas perdeu força com a

criação do Partido Comunista do Brasil no ano de 1922.

O que vem na próxima aula


• Enlaces entre a Literatura e a História, com destaque para uma análise social dentro do contexto
histórico de desenvolvimento de um pensamento contemporâneo; A importância de algumas das
principais correntes literárias do século XIX e XX e seus representantes.

-9-
CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Identificou o conceito de socialismo utópico e anarquismo;
• Analisou as especificidades estabelecidas entre ambos;
• Reconheceu a importância de ambos os conceitos na formação de um pensamento contemporâneo e sua
forte influência dentro da teoria evolucionista.

- 10 -
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

A ARTE E A LITERATURA NO
PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO –
ROMANTISMO, NATURALISMO E
IMPRESSIONISMO

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Analisar as relações entre o romantismo, o naturalismo e o impressionismo e a formação do pensamento

contemporâneo;

2- Reconhecer alguns dos principais representantes das correntes artísticas e literárias aqui analisadas;

3- Reconhecer a importância da relação entre as áreas de estudo, a Arte, a Literatura e a História, enfocando o

diálogo que se estabelece entre elas e como se entrelaçam na construção da sociedade contemporânea.

1 Introdução
A formação e a consolidação de um pensamento liberal foram fatores de grande destaque na consolidação da

sociedade contemporânea, influenciando claramente na formação do pensamento moderno.

A História e o mundo das artes passam a estabelecer um diálogo mais próximo e as transformações do mundo

refletiram-se em diferentes campos artísticos tais como a literatura e a pintura.

O homem passa a buscar cada vez mais inspiração para o estabelecimento de um diálogo entre ele e o mundo

exterior e isso aparece bastante no universo artístico.

A Arte passa a ser vista como uma representação histórica, uma voz que se constrói para além do

intelectual e do político e que se distancia de interesses gerais para retratar o indivíduo em sua essência.

Dentre os vários movimentos artísticos que se formaram ao longo do período, aqui denominados de

contemporâneo, destacaremos alguns muito importantes para a nossa análise. Os que aqui abordaremos

representaram uma dualidade do homem que vê a modernidade e busca inserir-se nesse universo.

O primeiro movimento que compõe nossa análise é o romantismo.

2 Surgimento do Romantismo
O romantismo foi uma escola literária que se desenvolveu na Europa a partir dos últimos 25 anos do século

XVIII, espalhando-se posteriormente por outras regiões. Inicialmente, ele refletia tudo aquilo que se opunha ao

clássico, com a difusão de uma arte que passou a valorizar mais o folclórico e o nacional, sendo este último

elemento uma presença constante em várias obras românticas brasileiras.

-2-
O indivíduo passa a estar no centro das atenções (Antropocentrismo) e a refletir sobre a história a partir da sua

visão de mundo e com enfoque para seus sentimentos, o que resulta em uma interpretação um tanto quanto

subjetiva da realidade e faz do romantismo uma escola extremamente interessante.

Figura 1 - Fuseli: O sonho de Belinda, 1780-1790. Galeria de Arte de Vancouver

É importante notarmos que o surgimento histórico do romantismo está ligado a dois acontecimentos muito

importantes: a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, ambas responsáveis pela formação de uma

sociedade burguesa.

2.1 Romantismo

Temos o advento do liberalismo burguês e seus princípios, com o desaparecimento da censura absolutista e o

surgimento de novas ideias políticas e literárias. Nesse contexto, há uma evolução no mundo e as artes

acompanham esse processo.

A liberdade de expressão se torna algo latente, não há mais a necessidade de prender-se a determinados valores

considerados arcaicos e nem aceitar nenhum modelo estabelecido. A possibilidade de expressar-se

individualmente e de forma única torna-se então uma realidade.

Assim, a arte romântica ganha as ruas, passando a fazer parte tanto do cotidiano das pessoas quanto a refletir

esse próprio cotidiano em suas obras.

-3-
O público passa a ser anônimo e já não há mais um compromisso com a nobreza, que antes financiava muitos

desses trabalhos. A Literatura torna-se popular e ganha um público diversificado, onde o sentimentalismo

adquire amplo espaço.

O romantismo valorizava as emoções e os sentimentos, estabelecendo como ponto de partida a experiência

individual de uma relação intuitiva com a realidade.

Os anos 1800, também conhecidos como era oitocentista, foram uma fase onde o nacionalismo esteve

fortemente relacionado ao romantismo artístico e literário, principalmente pelo fato de que surgiram, na Europa,

Estados-nações, tais como Alemanha e Itália, nos quais o romantismo foi um dos recursos artísticos mobilizados

para legitimar culturalmente a existência desses Estados.

E não podemos nos esquecer ainda de que a Alemanha foi uma das precursoras desse movimento romântico! E

viva a liberdade!

Figura 2 - A liberdade guiando o povo (1830), de Eugène Delacroix.

Nesse quadro percebemos a forte presença do ideal de liberdade. Uma

mulher, intitulada liberdade, guia o povo por cima de corpos dos derrotados. Em suas mãos, leva a bandeira

francesa e um mosquete com baioneta, simbolizando a luta e a vitória.

Podemos analisar a imagem da mulher como a lutadora, pensando sobre as mulheres dentro da sociedade

francesa e percebendo ainda as diferentes classes sociais que compuseram a luta pela revolução na França. Ela

seria a guia para a mudança na sociedade francesa.

-4-
Vemos o ideal do romantismo fortemente presente nessa imagem com ênfase para o desenho que se mostra

desafiador para os próprios padrões da época.

Retratar uma mulher lutando com armas nas mãos e os seios desnudos é uma inovação para o momento. Essa

imagem serviu ainda de inspiração para a Estátua da Liberdade, de Nova York, um presente dos franceses para

os estadunidenses 50 anos após a pintura do quadro em questão. Eram os ideais de liberdade, bem ao estilo

romântico e uma de suas principais características, espalhando-se pelo mundo.

2.2 Romantismo no Brasil

No Brasil, também tivemos a fase romântica nas artes e na Literatura.

Vamos analisar as imagens a seguir e refletir acerca de como se inserem nesse momento artístico.

Figura 3 - Primeira missa celebrada no Brasil de Vitor Meireles

Nesse quadro percebemos claramente a ideia de nacionalismo e a busca de um passado histórico baseando-se

nos fatos e representações presentes na imagem.

Vemos a reprodução por parte do pintor, Vitor Meireles, da primeira missa celebrada no Brasil onde temos todos

os elementos formadores da nação brasileira e a reafirmação da fé cristã. Observe que todos estão voltados para

a cruz, ponto dominante do quadro.

Essa imagem é do ano de 1860, um momento histórico de afirmação da nacionalidade brasileira e de

consolidação da construção da história do Brasil.

-5-
Figura 4 - Independência ou Morte, do pintor Pedro Américo

O quadro em questão, intitulado Independência ou Morte, também conhecido como O grito do Ipiranga, do

pintor Pedro Américo, foi feito em 1888.

A pintura foi encomendada pela Família Real Brasileira para compor o futuro Museu do Ipiranga, ainda em

construção e seu objetivo seria ressaltar a monarquia brasileira e suas conquistas.

Nele, identificamos o ideal de nacionalismo, apesar da obra não retratar fielmente o que ocorreu na época. Havia

que ressaltar o ideal de grandiosidade e esplendor da monarquia brasileira e isso foi pensado através dessa

retratação.

3 Naturalismo
No século XIX, vimos surgir outro movimento artístico vinculado ao contexto histórico daquele momento, o

naturalismo. Junto a estudos sobre as novas concepções do homem e sua inserção na realidade, os naturalistas

começaram a analisar o comportamento social e humano, identificando problemas e apontando soluções.

O naturalismo é considerado como a radicalização do projeto realista e com um interesse em reproduzir a

realidade em seus mínimos detalhes, vendo o homem a partir de diferentes determinismos dentre eles o

histórico, o do meio no qual vive, da herança e dos caracteres e da raça. A obra naturalista analisa personagens

patológicos, uma determinação instintiva do homem.

-6-
No naturalismo, o sujeito passou a ser visto como mera reprodução da realidade dentro das condições exteriores

que serviram de palco para a manifestação de sua subjetividade.

O naturalismo, ao lado do cientificismo, tinha a pretensão de racionalizar a realidade, trazendo o que ela tinha

em si, sem falseamentos.

Ele enxergava o homem e a sociedade como objetos de experiências, retratando a realidade de uma forma

objetiva e abordando o homem como um ser materialista e um produto biológico que passa a agir de acordo com

seus instintos e guiado por vários fatores, dentre eles o meio social no qual estava inserido.

A literatura naturalista se caracterizava por diversos aspectos, dentre eles a evocação da oralidade característica

da linguagem falada e o tratamento aberto de temas até então considerados tabus e que começaram a ganhar

espaço nesse período, dentre eles o sexo e a infidelidade.

Outros temas ainda abordados foram a miséria, os crimes, os problemas sociais. Havia uma demanda por

analisar o indivíduo em todas as suas vertentes, fossem quaisquer, mesmo aquelas consideradas mais perigosas.

Como representante da pintura naturalista, podemos citar Vincent Van Gogh.

Em sua obra Os comedores de batatas (1885), vemos uma análise muito próxima dos mineiros oprimidos do

livro Germinal, de Zola.

-7-
3.1 A literatura naturalista no Brasil

No Brasil, a literatura naturalista, com forte influência da obra de Zola, foi retratada nas obras de diferentes

artistas, vamos ver agora algumas das obras de Aluízio Azevedo.

O Mulato
Aluízio Azevedo – autor de O Mulato, de 1881. Esse livro marca o início do naturalismo no Brasil. Ambientado no

Maranhão, retrata a sociedade da época, a corrupção do clero e o forte preconceito racial existente naquela

sociedade. Nesse romance, aparece claramente uma forte preocupação com as classes marginalizadas pela

sociedade da época e uma intensa crítica ao conservadorismo então dominante.


O Cortiço
Do mesmo autor temos outra obra naturalista muito conhecida, o livro O Cortiço, nele, são abordados temas

vinculados ao momento cientificista que o mundo então vivia e destacam-se as bases do determinismo e do

darwinismo com a teoria evolucionista. As pessoas retratadas presenciam as misérias dos outros e, alheios a isso,

querem mais e mais apenas para si. É o reforço do individualismo, fator latente nas sociedades contemporâneas.

Aluízio Azevedo descreve o universo do coletivo e como o homem se insere nele, muitas vezes até de forma

animal em sua essência.

-8-
4 Impressionismo
O século XIX foi caracterizado por inúmeras transformações, avanços técnicos em diferentes áreas tais como nas

comunicações e nos transportes. Essas modificações influenciaram fortemente a vida dos indivíduos, tendo como

resultado uma intensa dinamização na vida urbana, acompanhada de um claro crescimento cultural.

Diante disso surgiu o impressionismo, movimento que resistiu às padronizações características da elite europeia

e se caracterizava por tentar captar os aspectos mais elementares e despretensiosos da vida, muitas vezes

retratando ambientes rurais, atendo-se às cores do local, seus reflexos e sua realidade, sem as ambições do

romantismo.

Figura 5 - As Amapolas, Monet, Museu do Impressionismo, Paris.

Claude Monet (1840-1926) foi um dos principais representantes desse movimento. Sua pintura procurava

retratar a realidade do jeito que ela era, principalmente, a questão do contato com a natureza.

Outro famoso pintor impressionista foi Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), cujas obras também se destacam

pela reprodução da natureza e das pessoas em sua forma mais simples, em ações diárias e sem uma preocupação

romântica.

-9-
Figura 6 - Claude Monet - 1867 Mulher de branco no jardim

Figura 7 - Pierre-Auguste Renoir - 1881 LesdemoisellesCahen d'Anvers - Rose et Bleue

Na Literatura, o impressionismo se destaca nas obras de Charles Baudelaire (1821-1867) principalmente em seu

livro de poesias As flores do mal, publicado em 1857 e que lhe causou grandes embaraços, dentre eles um

processo judicial e uma multa por atentar contra a moral e aos bons costumes.

- 10 -
A obra de Baudelaire foi ainda hostilizada por ser considerada uma deturpação do romantismo. Outras obras

suas são Pequenos poemas em poesia e prosa, Princípio poético (1871), Paraísos artificiais, ópio e haxixe (1860).

5 Finalizando
Como vimos, ao longo dessa aula, as artes refletiram as mudanças históricas e os novos tempos que então se

anunciavam.

A realidade passou a ser vista de forma mais latente e o homem se inseriu dentro de um universo mais intenso e

forte, que transitou desde o romantismo e sua visão de mundo até o impressionismo e suas críticas à sociedade

existente, passando pelo naturalismo e deixando um intenso legado para as artes no século posterior.

O que vem na próxima aula


• Na próxima aula, conheceremos um pouco sobre racionalismo e sua crítica a partir da obra de Henry
Bergson, e sua percepção sobre a memória e a temporalidade.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Analisou as relações entre o romantismo, o naturalismo e o impressionismo e a formação do
pensamento contemporâneo.
• Conheceu alguns dos principais representantes das correntes artísticas e literárias.
• Reconheceu a importância da relação entre as áreas de estudo, a Arte, a Literatura e a História,
enfocando o diálogo que se estabelece entre elas e como se entrelaçam na construção da sociedade
contemporânea.

- 11 -
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

REALISMO E SUA CRÍTICA: HENRY


BERGSON

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Reconhecer o filósofo Henry Bergson e sua crítica filosófica;

2- Analisar a percepção de tempo na crítica bergsoniana;

3- Reconhecer a importância da filosofia de Bergson para a consolidação do pensamento contemporâneo.

1 Introdução
Em nossa aula de hoje, conheceremos um pouco mais sobre o racionalismo e sua crítica a partir da

análise de uma figura muito importante na formação do pensamento contemporâneo: o filósofo francês

Henry Bergson.

Vamos começar?

2 Quem foi Henry Bergson?


Vamos conhecer um pouco mais sobre Henry Bergson e sua contribuição para a história do pensamento

contemporâneo.

Henry Bergson nasceu em Paris, no ano de 1859 e faleceu na mesma cidade em 1941.

O que o leva a interessar-se pela ideia do tempo é seu gosto pela Mecânica e, diz-se surpreendido ao perceber

que tanto a Física quanto a Matemática não se ocupavam do que ele considerava como tempo real, de duração

real e que o tempo observado por essas ciências não servia para nada, era vazio e passível de análise.

Bergson é um daqueles filósofos que marcaram sua permanência na história. Ele inaugurou uma linha de

pensamento contemporâneo que criticava o racionalismo e alguns de seus derivados, enfocando ainda o

cientificismo, o que aparece claramente em sua análise sobre o tempo.

Sua intenção é abordar aquilo que escapa à ciência, a realidade viva e em constante transformação, analisar um

pensamento vivo, pois para ele a vida não estava sujeita às quantificações das ciências exatas. Sua filosofia seria a

da vida.

Foi um filósofo muito influente na segunda metade do século XX, tendo ganhado o prêmio Nobel de Literatura

em 1927.

-2-
3 A concepção de tempo segundo Bergson
Para Henry Bergson, a concepção de tempo é fundamental e sua filosofia apresenta claramente essa questão ao

ver o tempo como um elemento fundamental em sua construção filosófica.

Sua crítica decorre do fato de que muitos desconsideram o tempo real, aquele realmente vivido e

passível de análise.

Em sua obra, Bergson analisa que o tempo não é passível de ser calculado, por isso sua visão acerca dele é

diferente de outras.

O tempo vivido é incompreensível, diferente do tempo analisado pela ciência, que é passível de cálculo e

análise.

4 O tempo vivido e o tempo físico


Bergson diferencia a concepção de tempo a partir de duas vertentes:

• Tempo vivido
Seria qualitativo e por isso mesmo se torna incompreensível para a lógica, não sendo passível de análise

por já ter sido vivido.

É considerado um tempo indivisível exatamente por ser qualitativo.

• Tempo físico
Quantitativo e por isso é passível de ser medido.

Ambos os tempos expostos não pertencem à mesma natureza e um pode ser alvo de medição enquanto o outro,

não.

Essa medição poderia ocorrer através do relógio, o que demonstra o tempo decorrido, traduzido pela lógica

científica e diferente do tempo real, que segundo Bergson, é o que o espírito experimenta. Esse não é passível de

análise.

5 Presente e passado
Ainda de acordo com o pensamento de Bergson, o tempo se desdobra constantemente em presente e passado,

entendendo o presente como algo que passa e o passado como algo que se conserva.

Cada instante que vivemos passa a compor o nosso passado, que não deixa de existir e é imutável.

-3-
A primeira imagem serve para representar o tempo vivido e passível de ser analisado, enquanto a segunda seria

para representar o tempo da natureza.

Para Bergson, os fenômenos do mundo físico seguem uma ordem imutável e intemporal. Assim, passado e futuro

poderiam ser apreendidos no presente e, como esse é um tempo onde a mesma causa sempre produzirá o

mesmo efeito, é possível prever antecipadamente fenômenos futuros que de alguma forma preexistem à sua

realização.

Para além dessas análises, Henry considera o tempo dos físicos e matemáticos como um fenômeno reversível e

mesmo que mudássemos as ordens das equações que descrevem acontecimentos já decorridos ou ainda a

decorrer, as equações utilizadas para esses cálculos permaneceriam as mesmas.

6 Eternidade
Bergson vê uma multiplicidade de momentos ligados uns aos outros por uma unidade que os atravessa como um

fio, uma representação que exprime a multiplicidade e a unidade como concepções antagônicas onde a diferença

está na possibilidade de ênfase em um ou outro dos aspectos já mencionados.

Assim, tempo e espaço apresentariam uma multiplicidade distinta, e por menor que seja o espaço temporal,

ainda assim ele será composto por um número sem limites de momentos, o que nos leva a compreender então

que nenhum momento dura, o tempo se pulveriza e o aspecto psíquico recomeçaria a cada instante e a própria

unidade que liga os momentos não pode durar mais do que eles.

Essa unidade seria então a eternidade, uma essência intemporal do tempo, abstrata, vazia.

Esse tempo que analisamos acima foi o fictício, que não poderia ser vivido efetivamente por ninguém e por nada,

que esconde a natureza do tempo real.

A seguir, iremos analisar o que Bergson entende como o tempo real e vivido. Para encontrá-lo, Henry propõe que

consideremos os próprios acontecimentos, sejam eles físicos ou psíquicos.

-4-
Vamos ver?

7 O tempo real e vivido


Para o filósofo Bergson, o tempo real é aquele sempre irreal, em constante mutação, extremamente inconstante.

Seria o tempo em que agimos, o da vida prática, necessário para nossas ações do dia a dia, o tempo em que nos

vemos como verdadeiros atores do processo da construção da vida.

Em relação à duração, o filósofo se exprime revelando sua percepção a respeito disso.

Para ele, o tempo que dura não é algo mensurável e à medida que deixa de ser puramente convencional

implicaria diretamente em divisão e superposição apesar de não ser possível superpor durações sucessivas para

estabelecer se são iguais ou não e por hipótese, uma deixa de ser quando a outra aparece, não ocorrendo a

presença de ambas e a ideia de igualdade que pode ser constatada perde todo o seu significado exatamente pela

impossibilidade de constatação. (Bergson, 1972).

Para Bergson, a realidade não pode ser presa dentro de um espaço delimitado de tempo, pois isso faria com que

não percebêssemos o verdadeiro sentido da vida.

8 Memória
Quanto ao aspecto memória, Henry Bergson a define como a sucessão contínua de mudança heterogênea, sendo

elemento primordial para compreendermos a noção de continuidade e mudança.

Para ele, a memória tem a função de evocar todas as percepções análogas passadas e uma percepção do

presente, recordar o que o precedeu e o que o segue e, assim, sugerir a decisão mais útil a ser tomada.

A memória parte da lembrança e se materializa e só poderia existir a repetição de momentos se a memória

deixasse de existir e por isso, para o filósofo, o futuro é indeterminado porque, em virtude do dinamismo das

ações, não há como saber o que irá ocorrer.

9 Tempo de percepção
Em relação ao tempo de percepção de algo, Bergson o vê como se fosse uma fotografia instantânea, algo que no

instante seguinte já não mais estaria ali, ou seja, cada instante é único e não se repetirá.

O que torna essa fotografia mais sólida é o fato de que essa percepção, que já é memória, cria uma imagem para

se recordar daquilo que vivenciou, mas nunca atingirá a totalidade plena.

-5-
Bergson afirma que a percepção é algo impregnado de lembranças e que as lembranças-imagens que

contemplam a percepção a interpretam.

Assim, a lembrança seria algo da ordem do tempo, mas, esse tempo é virtual, pois o instante jamais ocorrerá

novamente.

O presente seria então o instante que o tempo decorre, tornando-se imediatamente um passado que já decorreu,

de forma que entre presente e passado há uma linha tênue que delimita o universo de atuação de ambos.

Bergson também analisa a questão da duração e como ela se insere dentro de sua percepção do tempo. O filósofo

entende a duração como um correr do tempo único, algo que não é passível de repetição.

Assim, a duração do tempo seria analisada a partir de diferentes vertentes, não podendo ser pensada a partir de

uma sucessão, o que tornaria a duração uma experiência metafísica, algo que está além do universo físico e

muitas vezes, da própria consciência do homem.

O tempo experimentado pelo espírito seria invisível e, portanto, impossível de ser analisado.

10 Considerações Finais
As reflexões de Henry Bergson se inserem dentro de um contexto de aceleração do tempo vivida pelo indivíduo

contemporâneo.

As noções de duração das coisas passam a adquirir um novo patamar e o homem se vê inserido em um universo

onde a noção de tempo é algo cada vez mais deixado de lado diante das demandas constantes que se apresentam.

O homem moderno, que vive as intempéries da modernidade, acaba por não perceber o mundo à sua

volta e necessita tanto que seu tempo seja cada vez mais prolongado, que seu dia dure mais que 24 horas

para que ele dê conta de todas as suas necessidades.

-6-
Mas, há que nos conscientizarmos que o tempo sempre teve a mesma duração, o que ocorre é que a vida

moderna apresenta tantos afazeres que nos afastamos cada vez de um tempo de reflexão e nos inserimos em um

mundo cujo tempo é constantemente contabilizado.

E você, o que acha?

O que vem na próxima aula


• A crítica do racionalismo a partir de outro importante personagem na formação do pensamento
contemporâneo, Karl Marx;
• Como Marx critica a sociedade capitalista e sua racionalidade;
• O capital e a mais-valia na análise marxista.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu o filósofo Henry Bergson e sua crítica filosófica;
• Analisou a percepção de tempo na crítica bergsoniana;
• Reconheceu a importância da filosofia de Bergson para a consolidação do pensamento contemporâneo.

-7-
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

RACIONALISMO E SUA CRÍTICA: MARX E A


LEI DE ACUMULAÇÃO CAPITALISTA

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Analisar alguns conceitos da obra de Karl Marx;

2- Analisar a concepção de acumulação capitalista na obra de Marx;

3- Estabelecer a importância da obra de Marx para uma análise da história contemporânea e a atualidade de suas

discussões sobre as sociedades e suas diferenciações a partir do capital.

1 Karl Heinrich Marx


Em nossa aula de hoje, conheceremos um pouco mais sobre o racionalismo e sua crítica a partir da análise de

mais um personagem de extrema importância, na construção da história contemporânea e suas reflexões: Karl

Heinrich Marx.

Marx teve um papel preponderante na formação do pensamento contemporâneo a partir de suas análises e de sua

crítica à sociedade capitalista, propondo uma análise aprofundada acerca do capital e suas atribuições na

sociedade contemporânea.

Vamos conhecer um pouco mais sobre Karl Marx e seus pensamentos. A primeira pergunta que nos propomos a

responder é:

Quem foi ele e por que é tão debatido no mundo contemporâneo?

Uma das mais controversas figuras presentes na história contemporânea, Karl Marx foi um dos mais importantes

filósofos da atualidade, dedicando-se ao estudo de várias áreas do conhecimento, dentre as quais a Sociologia, a

Economia, a Política, o Direito, entre outras.

Sua mais importante contribuição foi criar as bases para a compreensão da crítica ao capitalismo, crítica essa

baseada, principalmente, na percepção que tinha da realidade ao seu redor, na Europa, no advento da Revolução

Industrial.

Marx nasceu em 1818, em uma cidade ao sul da Prússia. Filho de uma família judaica estudou Direito e depois se

voltou para o campo da Filosofia, onde participou do movimento dos Jovens Hegelianos. Por diversos motivos de

ordem política, Marx não se empregou em nenhuma universidade e por isso acabou tornando-se editor de jornal.

-2-
Depois da morte de sua esposa, deprimiu-se fortemente, desenvolvendo bronquite e pleurisia, o que o levou à

morte, principalmente por conta das condições em que vivia. Ao final de sua vida, passava por várias

dificuldades financeiras e contou muito com a ajuda de amigos.

1.1 Algumas obras

Marx escreveu vários livros que se tornaram muito importantes para diferentes áreas do conhecimento, dentre

os quais:

• 1845-1846

A Ideologia Alemã

• 1847

Miséria da Filosofia

• 1848

Manifesto do Partido Comunista

• 1849

Trabalho Assalariado e Capital

• 1852

O 18 Brumário de Luís Bonaparte

2 Outras revoluções
Karl Marx foi um homem do seu tempo e para muitos é considerado ainda um dos maiores pensadores na área

das ciências humanas. Ele via a Filosofia crítica com a tarefa de desmascarar a ideologia capitalista então

dominante e revelar a forma pela qual se produzia a violência e a opressão na estrutura das forças produtivas.

Suas análises não tiveram muita aceitação durante sua vida, mas após sua morte seu legado permaneceu e suas

ideias fomentaram a primeira revolução socialista da história, a Revolução Russa. Nela, seus princípios

socialistas foram postos em prática a partir de Wladimir Ilyich Lênin, o grande idealizador desse movimento.

Outras revoluções tiveram como base os pensamentos marxistas e podemos citar como exemplo a

Revolução Chinesa e a Cubana.

-3-
3 Crítica ao sistema Capitalista
Sua obra mais famosa e conhecida é o livro O Capital: Crítica da Economia Política (1867), um livro escrito em

8 tomos, onde Marx critica severamente o sistema capitalista, sendo considerada por muitos como o marco do

pensamento socialista.

Nessa obra, ele apontou como seu objetivo principal a inversão do homem hegeliano, criticando claramente o

idealismo de Hegel. Ele rompeu com a concepção desse pensador de que a consciência individual é produzida

pelas características do tempo em que vive o sujeito, afirmando que é possível existir várias consciências

individuais habitando um mesmo momento histórico porque o que determina a subjetividade é a posição que o

sujeito ocupa na dimensão material do que chamamos de existência.

Foi crítico de uma filosofia idealista, propondo o desenvolvimento filosófico comprometido com a prática e com

a transformação social, o que aparece muito claramente em sua obra XI teses sobre Feuerbach.

-4-
4 Marx: Concepção materialista da história
Karl Marx trabalhou com a ideia de concepção materialista da história que, segundo ele, tinha como principal

característica, analisar cientificamente a história das relações de produção. De acordo com Barros (2011):

a história e as mudanças na vida humana são sempre impulsionadas a partir de sua base material,

isto é, das condições objetivas e concretas por meio das quais os homens em sociedade reproduzem

sua própria existência (Materialismo).

As transformações dão-se a partir do desenvolvimento de “contradições”, isto é, de inúmeras forças

sociais e produtivas que terminam por se confrontar reciprocamente, gerando um movimento

dialético. “Tudo é histórico”. (...) No plano mais amplo, por fim, toda sociedade gera as próprias

sementes de sua destruição e renovação (‘toda sociedade é parteira de uma nova sociedade, que

emergirá de si mesma’).

5 Direcionamento da filosofia de Marx


O principal direcionamento da filosofia de Marx é pensar a forma como o trabalho interfere na história e fomenta

a condição de uma identidade de classe.

O homem não podia ser neutro e imparcial ao capitalismo e isso deveria se refletir em sua produção intelectual.

Ele pensava ainda que dentro da própria estrutura do capitalismo existiria a contradição que iria destruí-lo, pois

sua história era movida pela antítese entre a luta de classes.

Veja o que Marx afirma em sua obra A Ideologia Alemã.

As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que a força

material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que

tem à sua disposição os meios da produção material dispõe, ao mesmo tempo, dos meios de

produção espiritual. As ideias dominantes nada mais são do que a expressão das relações que

tornam uma classe a classe dominante; portanto, as ideias de sua dominação. (1979: p. 72)

-5-
6 Ideologia
Para Marx, a ideologia era o mascaramento da realidade impedindo que o homem vivenciasse sua própria

exploração e se percebesse como oprimido.

Ela agiria no sentido estrito de ocultar a realidade do indivíduo dentro do processo de consolidação do

capitalismo, permitindo assim que ele se mantivesse nessa condição e não lutasse por melhores condições de

vida.

A ideologia seria uma forma utilizada pela classe dominante para camuflar a realidade e seus mais

profundos interesses.

-6-
7 Materialismo Histórico
Ainda sobre o materialismo histórico, Marx afirmava que o conjunto das relações de produção constituía a

estrutura econômica da sociedade, e que ela seria a base concreta sobre a qual se elevaria uma superestrutura

jurídica e política e a qual corresponde a determinadas formas de consciência social.

Para ele, a história não seria um progresso linear e contínuo, mas um processo de transformações sociais

determinadas pelas contradições entre os meios de produção e as forças produtivas.

Assim, a luta de classes seria o motor da história, o que aparece claramente no Manifesto do Partido

Comunista, quando ele afirma que:

A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de

classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e aprendiz;

em uma palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido em uma guerra

ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma

transformação revolucionária da sociedade inteira ou pela destruição das duas classes em luta. Nas

primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade

em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos

patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros,

servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.

A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os

antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas

formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia,

caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais

em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o

proletariado. (Marx, 1848)

8 Revolução Industrial
Marx vê no antagonismo entre essas duas classes todos os problemas da sociedade contemporânea e o confronto

entre ambas seria inevitável.

É interessante resgatarmos qual o contexto histórico que Marx está vivendo para tecer as suas considerações.

-7-
Ele está na época da Revolução Industrial, vivenciando todos os problemas que ele considera como os

causadores dos males sociais: a opressão, a pobreza, as dificuldades do mundo do trabalho, as lutas por melhores

condições de vida.

9 Exploração do trabalhador
Ele percebe a exploração do trabalhador se consolidar através da mais-valia, um conceito fundamental para

entendermos a crítica de Karl Marx à acumulação capitalista.

Ele define a mais-valia como sendo a diferença entre o valor da mercadoria produzida, incluídos nisso o valor do

trabalho assalariado de quem produziu e o custo para a produção e o valor obtido pela venda daquela

mercadoria, ou seja, é o lucro sobre a produção e todas as suas etapas.

Para Marx, o capitalismo se afirma sobre a exploração da mão de obra assalariada e tem na produção de

mercadorias a essência de seu funcionamento, nela assentando suas bases e a mais-valia é a mola mestra desse

sistema, que ele considera desumano.

Ainda de acordo com ele, a lei de acumulação capitalista consiste em quanto mais o produto social, a capacidade

de gerar riqueza e o produto final do trabalho são aumentados de um lado e do outro, temos o aumento

escalonado da miséria, da pobreza e das desigualdades.

Mas por que isso ocorre?

Isso ocorre porque nesse sistema não há a noção de igualdade e de satisfação de necessidades, básicas ou não e,

sim, de obtenção cada vez maior de lucro, gerando um aumento da concorrência entre as empresas com o único

objetivo de garantir seu lucro.

-8-
A outra parte disso e que devemos ressaltar é o fato de que cada vez mais a tecnologia tem substituído a

utilização da mão de obra do trabalhador, o que gera um aumento intenso de desempregados.

10 O avanço Tecnológico
O avanço da tecnologia, que tanto acreditamos ser algo maravilhoso, a automação, a robótica, tem tirado cada

vez mais trabalhadores das linhas de produção e fomentado o fosso das desigualdades. Essa acumulação

capitalista tem se tornado algo cada vez mais constante, onde os grandes empresários e os industriais não

aceitam reduzir sua margem de lucros e, quando assim o fazem, é com extrema insatisfação.

Isso gera um círculo que se consolida a partir de uma constatação muito interessante feita por Marx:

O fetiche da mercadoria, aquele valor que se agrega a uma mercadoria para que ela venda e agrade

cada vez mais, para que a sociedade a consuma com mais e mais prazer e ela se torne um objeto

desejado por todos.

11 Consolidando uma sociedade capitalista e consumidora


Para consolidar esse fetiche, somos o tempo inteiro bombardeados com uma imensidão de propagandas que

querem nos convencer a consumir cada vez mais.

-9-
Outdoors, outbus, propagandas nos meios de comunicação, gingles, são cada vez mais variados os métodos para

atrair o consumidor, principalmente enfocando que ele merece aquela mercadoria, enfeitiçando-o.

Isso permite cada vez mais a consolidação de uma sociedade capitalista e consumidora, onde a obtenção do lucro

é o fator final.

12 Conclusão
Agora que já analisamos a acumulação capitalista apontada por Marx e compreendemos o desenvolvimento cada

vez mais acirrado do capital na sociedade em que vivemos, adquirimos um olhar mais crítico para debatermos a

cerca das desigualdades sociais e de como são fomentadas pelo próprio mundo capitalista em que vivemos.

Vamos juntos refletir sobre isso e pensar em como podemos contribuir para um mundo mais justo e

humanizado!

O que vem na próxima aula


• O positivismo e a crise da modernidade a partir das críticas empreendidas por Friederich Nietzsche e
Sigmund Freud;
• Como ambos visualizaram a sociedade contemporânea, seu racionalismo, como o indivíduo passou a se
inserir na era da modernidade.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Analisou alguns conceitos da obra de Karl Marx;
• Analisou a concepção de acumulação capitalista na obra de Marx;
• Estabeleceu a importância da obra de Marx para uma análise da história contemporânea e a atualidade
de suas discussões sobre as sociedades e suas diferenciações a partir do capital.

- 10 -
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

RACIONALISMO E SUA CRÍTICA:


FRIEDERICH NIETZSHE E SIGMUND FREUD

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Reconhecer um pouco de Friederich Nietzche e Sigmund Freud;

2- Analisar a trajetória de ambos e suas análises.

1 Introdução
Continuando com nossa temática de estudo acerca do racionalismo e sua crítica, abordaremos, nesta aula, esse

assunto a partir da análise de dois importantes personagens que contribuíram muito para a formação do

pensamento contemporâneo:

São dois autores considerados polêmicos e seus escritos fomentaram discussões intensas, colocando de um lado

os que são simpatizantes de suas análises acerca do mundo moderno e os que discordam veementemente de

suas afirmações.

Foram e ainda são polêmicos e complementam a nossa lista de discussões acerca de nossa proposta de análise.

Vamos conhecer um pouco de cada um e adentrar o universo de pensamento e reflexões deles, ainda que de

forma breve.

-2-
2 Friderich Nietzsche
Friedrich Wilhelm Niestzche nasceu em 15 de outubro de 1844, na cidade de Rokken, na Alemanha. Teve muito

contato com o ambiente religioso, pois seus avós eram protestantes, mas seu apego à Filosofia distanciou-o da

carreira religiosa, principalmente devido a sua aproximação com a leitura de Schopenhauer e mantendo contato

com filósofos do mundo antigo.

Era considerado um aluno brilhante e com apenas 24 anos tornou-se professor universitário, profissão que foi

obrigado a abandonar anos depois devido a problemas na fala, que passou a ser inaudível para seus alunos.

Tempos depois, foi acometido por uma crise de loucura permanente e que o acompanhou até sua morte no ano

de 1900.

2.1 Os pensamentos

Os escritos de Nietzsche tornaram-se referência no campo da Filosofia e muitos autores a caracterizam como

uma crítica aos valores ocidentais e a moral cristã. Para ele, os sistemas filosóficos dogmatizadores seriam a

filosofia socrática e o racionalismo moderno.

Ele se intitulava ateu, pois não via na religião um caminho de engrandecimento humano e dizia ainda que seu

ateísmo estava dentro dele, pretendendo desmascarar tudo o que, para ele, estava oculto por trás de uma

máscara de ilusões e preconceitos.

Assim, política, religião e moral teriam a função de esconderem uma realidade nada agradável e difícil de ser

suportada. Ele se opõe as correntes igualitárias, humanistas e democráticas da época, sendo um afirmante da

individualidade de forma intensa e para ele o bem máximo é a própria vida, que resulta na vontade de poder.

Segundo Nietzche, a Filosofia estaria acima do bem e do mal por abdicar da pretensão de buscar a verdade,

porque toda formulação filosófica é necessariamente parcial e subjetiva. A própria ideia de verdade é criticada

pelo filósofo ao ser considerada um valor superior, um ideal. Ela seria impossível de ser alcançada.

Assim, o fundamento da crítica nietzcheana à cultura moderna residiria no fato da impossibilidade de alcançar

uma verdade sobre o mundo. Nietzche criticava a tradição do racionalismo que, segundo ele, foi fundada pela

filosofia socrática e perdurou até os tempos modernos.

-3-
2.2 As obras

A dicotomia entre a arte e a ciência foi uma das características mais marcantes da obra de FriederichNietzche,

mas, apesar disso, a moral foi outro fator muito presente em seus trabalhos e essa discussão apareceu

significativamente no livro Humano, demasiadamente humano e também na Genealogia da Moral.

• 1872

O nascimento da tragédia no espírito da música

• 1873

(publicado postumamente) A Filosofia na idade trágica dos gregos

• 1873-1876

Considerações extemporâneas

• 1881

Aurora – reflexões sobre preconceitos morais

• 1882

A Gaia Ciência

• 1883-1885

Assim falou Zaratustra, um livro para todos e para ninguém

• 1886

Além do bem e do mal, prelúdio a uma filosofia do futuro

• 1887

Genealogia da moral – uma polêmica

• 1895

O anticristo

-4-
2.3 A religião

Na questão religiosa, chama a atenção a afirmação feita por Nietzche em seu livro A Gaia Ciência, seção 125,

onde ele diz que Deus está morto.

A Gaia Ciência, seção 125

O homem louco se lançou para o meio deles e trespassou-os com seu olhar: "Para onde foi Deus?",

gritou ele, "já lhes direi! Nós matámo-lo — vocês e eu. Somos todos seus assassinos! Mas como

fizemos isso? Como conseguimos beber inteiramente o mar? Quem nos deu a esponja para apagar o

horizonte? Que fizemos nós, ao desatar a terra do seu sol? Para onde se move ela agora? Para onde

nos movemos nós? Para longe de todos os sóis? Não caímos continuamente? Para trás para os lados,

para a frente, em todas as direções? Existe ainda 'em cima' e 'embaixo'? Não vagamos como que

através de um nada infinito? Não sentimos anoitecer eternamente? Não temos de acender lanternas

de manhã? Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da

putrefação divina? — também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós

matámo-los! Como nos consolar, nós assassinos entre os assassinos? O mais forte e mais sagrado que

o mundo até então possuía sangrou inteiro sob os nossos punhais — quem nos limpará este sangue?

Com que água poderíamos nos lavar? A grandeza desse ato não é demasiado grande para nós? Não

deveríamos nós mesmos nos tornar deuses, para ao menos parecer dignos dele? Nunca houve um

ato maior — e quem vier depois de nós pertencerá, por causa desse ato, a uma história mais elevada

que toda a história até então!

Essa afirmação nietzschiana tinha por objetivo mostrar que o pensamento moderno tinha tirado Deus do espaço

que ele ocupava a partir de uma visão religiosa e inserido o pensamento da razão, que passou a ocupar o espaço

antes destinado ao Deus religião.

Mais tarde, essa afirmação foi utilizada pelos ateístas e fomentou o crescimento do ateísmo entre aqueles que

passaram a crer na razão. Para criticar os valores modernos, Nietzche usa a Grécia arcaica. Para ele, a religião

grega consistiria na expressão da vida inteiramente imanente, uma religião de beleza intensa, diferente do

cristianismo que se apresentava como fundamentada em dogmatismo.

-5-
Segundo ele, Sócrates e Platão preferiam a estética em detrimento da razão, o que teria gerado a decadência dos

tempos modernos e por isso Nietzche foi interpretado como sendo um precursor do pós-modernismo, onde o

nada se tornou cada vez mais presente, onde não haveria a existência de Deus e da razão, o nada e o vazio como

característica do homem atual.

3 Sigmund Freud
Agora que já conhecemos um pouco de FriederichNietzche, vamos conhecer também outro crítico do

racionalismo, Sigmund Freud.

Sigmund Scholomo Freud, mundialmente conhecido como Sigmund Freud, nasceu em 1856 e faleceu em 1939.

Freud ingressou na universidade aos 17 anos, para estudar Medicina e lá travou contatos com a Filosofia,

desenvolvendo intensos trabalhos na área da Psicanálise, sendo o criador desse termo, que utilizava para

designar um método de investigar os processos do inconsciente, principalmente através do estudo dos sonhos,

onde ele dizia que estavam os mistérios acerca de desejos e sentimentos reprimidos, que os pacientes

guardavam apenas para eles.

A partir desse tipo de análise, Freud conseguiu curar muitos de seus pacientes. Era uma forma de adentrar o mais

obscuro do indivíduo e, assim, descobrir a fundo os seus problemas e medos.

3.1 Interpretação livre

Outro tipo de método criado por Freud foi o denominado interpretação livre, onde ele convidava o paciente a

falar sobre o que lhe viesse à cabeça, uma forma de permitir que o mesmo não fosse pressionado por perguntas e

se sentisse livre para falar abertamente sobre o que lhe conviesse.

Esse método permite que o paciente fale coisas que poderiam ser consideradas para ele como irrelevantes, mas

dentro do quadro da Psicanálise, podem apontar as origens dos problemas que o paciente possui.

O indivíduo se afastaria da coerência e se sentiria mais livre e solto para falar sobre suas próprias experiências e

medos.

Inicialmente utilizava a hipnose como método de tratamento, mas a abandonou por perceber que os problemas

de seus pacientes poderiam ter origem psicológica e não orgânica.

-6-
Algumas das obras de Sigmund Freud são:

• 1900

A interpretação dos sonhos

• 1901

Psicopatologia da vida cotidiana

• 1905

Três ensaios sobre a sexualidade

• 1913

Totem e tabu

• 1923

-7-
O ego e o id

• 1927

O futuro de uma ilusão

• 1930

O mal-estar da civilização

3.2 Mais contribuições de Freud

A contribuição de Freud para o estudo das ciências é algo inquestionável, principalmente pela utilização de seus

métodos.

Ele dá atenção ao fator sexual, até então desprezado nos estudos acerca do ser humano (inclusive ele afirma que

a boca é uma zona erógena e para ele o ato de sugar é sexual), identificando a libido como algo presente na vida

de todos, uma energia sexual que está presente em diferentes campos da vida humana, no privado e no público,

no individual e no social.

Freud analisa a questão dos mecanismos (processos para a solução de conflitos que estejam além do

consciente) de defesa que os indivíduos criam para a sua própria vivência. Dentre esses diversos mecanismos,

podemos citar:

I. a repressão, quando a pessoa procura reprimir algo dentro de si, o que pode, inclusive, levar ao esquecimento

daquilo caso seja um ato que traga vergonha ao ser lembrado;

II. a projeção, onde o indivíduo atribui a outro aquilo que é de sua responsabilidade, utilizando a ação de um

daquele para justificar as suas ações e escolhas;

III. a transferência, que seria pautada na aproximação entre o paciente e o terapeuta, onde o primeiro transfere

ao segundo o que sentia por seus pais, tentando vencer uma dificuldade que havia nessa relação quando o

paciente era criança;

IV. podemos citar ainda o isolamento, quando o paciente isola uma determinada ação ou um pensamento de seu

contexto mais amplo.

4 Conclusão
Nietzche e Freud são dois autores considerados muito polêmicos devido aos seus escritos e a sua forma de

pensarem.

-8-
Suas obras são consideradas um marco para o pensamento contemporâneo por exporem aspectos que

caracterizaram as sociedades, buscando compreender o que forma o indivíduo contemporâneo, seus anseios,

suas metas, as questões que ele é obrigado a viver apenas dentro de si em prol de um bem maior.

O que vem na próxima aula


• A influência da antropologia cultural a partir dos conceitos de etnia, multiculturalismo e diversidade;
• O desenvolvimento de uma cultura de massa e seus desdobramentos a partir da influência do cinema na
era contemporânea;
• A formação de uma sociedade do espetáculo.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Reconheceu um pouco de Friederich Nietzche e Sigmund Freud;
• Analisou a trajetória de ambos e suas análises.

-9-
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

DIVERSIDADE E MULTICULTURALISMO –
A CULTURA DE MASSA E A GLOBALIZAÇÃO

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Reconhecer a diversidade presente nas análises sobre o mundo contemporâneo;

2- Reconhecer a existência e a consolidação de um multiculturalismo cada vez mais presente nas sociedades;

3- Analisar a formação de uma cultura de massa que se torna cada vez mais intensa;

4- Identificar a importância da globalização para o fortalecimento da cultura de massa na história do

pensamento contemporâneo.

1 Premissa
Integramos uma sociedade cada vez mais diversificada, com valores, opções, decisões, direções cada vez mais

plurais e que auxiliam na formação de várias identidades.

O mundo tem se mostrado mais amplo, principalmente com a aceleração no campo das comunicações e com o

fator globalização, o que permite que conheçamos um pouco de cada lugar e de cada cultura.

Alguns podem se perguntar se isso é bom ou ruim. Outros se perdemos um pouco de nossas raízes quando nos

deparamos com tantas opções de conhecimento diferentes. São muitos questionamentos que não nos

proporemos aqui a responder, mas a analisar um pouco de forma a iniciar uma reflexão sobre o assunto.

2 Multiplicidade
Aqui nos propomos a pensar acerca da diversidade presente no mundo em que vivemos e percebemos que

somos uma multiplicidade.

Principalmente no que diz respeito ao continente americano, formado a partir de identidades europeias

e com os valores e a cultura de nossos colonizadores que acabaram por se misturar aos nossos,

formando um grande emaranhado de heranças!

-2-
3 Características brasileiras
No que diz respeito ao Brasil, por exemplo, sua matriz cultural se deu pelo contato entre índios, negros, brancos,

alemães, italianos, japoneses, árabes dentre outros. Temos um pouquinho de cada um desses grupos culturais e

incorporamos gestos, palavras, costumes, alimentos.

Assim, formamos uma cultura híbrida e que tem a presença de várias influências, o que fortalece mais ainda o

ideal de igualdade que tanto se busca na sociedade brasileira.

Aqui percebemos uma grande dificuldade no ato de lidar com as diferenças e na incorporação, por parte de toda

a sociedade, de que somos todos pertencentes a matrizes múltiplas, com influências das mais variadas, o que nos

torna também indivíduos múltiplos.

-3-
4 Multiculturalismo
Atualmente, vivemos a era do multiculturalismo, que pode ser definido como um tipo de hibridismo com

variados tipos de diversidade sejam de caráter étnico, racial ou de qualquer outro que esteja presente em uma

dada sociedade.

O multiculturalismo trabalha com as diversidades e, frequentemente, vemos na história a questão do choque

entre culturas e como esse enfrentamento pode gerar um forte estranhamento.

Tzvetan Todorov, em seu livro, A Conquista da América, a questão do outro (2003), coloca o questionamento

acerca de como devemos lidar com o outro, compreendendo seus os significados da cultura desse outro e as

informações que dela podem ser extraídas.

O livro de Todorov remonta a uma história ocorrida há mais de 500 anos, mas até os dias de hoje percebemos

esse estranhamento e, principalmente, a questão do preconceito quando vemos algo diferente. É a política do

estranhamento e da falta de uma visão multicultural, fatores que podem levar ao radicalismo e, temos que estar

sempre atentos a isso, abertos à compreensão daquilo que é diferente de forma a desenvolvermos um olhar

múltiplo, plural.

Atualmente percebemos, através do fenômeno da globalização, um multiculturalismo cada vez mais crescente e

que tem se tornado a marca das sociedades atuais. Com a difusão desse fenômeno, que fomenta um mundo cada

vez mais interligado, temos mutilações e recriações culturais, uma influência que se torna cada vez mais

crescente.

-4-
Fique ligado
Para melhor compreendermos isso, vamos analisar um pouco mais de perto o que é a
globalização e quais efeitos ela provoca nas sociedades contemporâneas.

5 Globalização
A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural e política dos

países do globo no final do século XX e início do século XXI, através do qual o mundo passa a ser visto como uma

aldeia global.

Para vários estudiosos está claro que a evolução da humanidade, em direção ao reino da liberdade, não se

interrompeu no final de século XX. Para eles, a história sempre avança, sendo escrita por momentos de regressão

e períodos de progresso.

A globalização também se insere nesse contexto, vista como uma padronização dos costumes, pois a constante

propaganda e a exportação de produtos acabam por influenciar as culturas fazendo com que se perca um pouco

do que há de nacional em cada país.

A questão da propaganda fomenta cada vez mais a ideia de um mundo interdependente e isso está claro quando

olhamos ao nosso redor e percebemos o quanto somos bombardeados com mensagens, imagens e elementos

culturais plurais.

6 Desafio
Há um claro esforço no sentido de tornar o multiculturalismo uma realidade cada vez mais forte, mas, um dos

efeitos mais claros desse tipo de proposta é a perda de identidade de grupos minoritários, com a criação de

sociedades massificadas e que estranham aquilo que não lhes é conhecido.

-5-
Ocorre uma resistência em direção aos grupos que não se inserem nesse ambiente multicultural, de forma a

identificar a sua cultura como não oficial, pois o oficial para todos é a pluralidade. São questões que chamam a

nossa atenção e devem pautar todos os debates acerca do multiculturalismo na sociedade contemporânea.

Há que se buscar um equilíbrio entre as diferentes nuances culturais que caracterizam o mundo contemporâneo

e a manutenção de valores e aspectos culturais próprios, de forma a evitar uma massificação que leve à perda de

identidade, fator cada vez mais latente em um mundo globalizado.

7 Cultura de massa
Outro elemento que chama a atenção nas sociedades multiculturais é a questão das culturas de massa, um fator

que tem despertado cada vez mais a atenção de pesquisadores e estudiosos do assunto.

Há uma forte preocupação em fortalecer a indústria cultural em todos os lugares do mundo e, nesse sentido, a

globalização, aqui já discutida, torna-se uma excelente aliada, pois dissemina modelos culturais e forja valores

que direcionam os indivíduos rumo à modernidade, taxando de antiquados àqueles que não se integram ao

mundo moderno e consumista.

-6-
Filmes, novelas, músicas, aparelhos eletrônicos, todos esses elementos que caracterizam a sociedade

contemporânea estão imbuídos de signos e significados que fortalecem cada vez mais a cultura de massa,

tornando os indivíduos integrados e isolados ao mesmo tempo.

Quando vemos programas que têm estreia mundial, percebemos o quanto a cultura de massa está mais presente.

A proposta é manter todos os indivíduos conectados ao mesmo tempo, ávidos por fazerem parte de um universo

em constante mutação, rumo à modernidade. Isso fomenta uma sociedade cada vez mais decidida a inserir-se em

um universo global, a assumir como seus valores considerados universais e a interagirem com todas as partes do

mundo, cada vez mais dependentes da comunicação e, muitas vezes, isolando-se do convívio pessoal.

8 Conclusão?
Vivemos uma sociedade que pode ser caracterizada como cada vez mais excludente, com a presença de

elementos voláteis e isso torna muitos de seus membros volúveis e influenciáveis. O que é interessante e curioso

hoje já não o é amanhã. É a aceleração do tempo que se torna cada vez mais constante e presente.

Agora que analisamos o multiculturalismo, a globalização e a cultura de massa, devemos refletir sobre como nos

inserimos dentro desse universo e somos bombardeados com elementos culturais que visam nos aproximar de

uma modernidade cada vez mais aprisionadora. “O que somos” e “quem somos” dentro desse universo que se

construiu a partir do final do século XIX, consolidou-se no século XX e iniciou o século XXI fortalecendo cada vez

mais o conceito de mundo interligado. Vamos pensar sobre o assunto e debater!

-7-
O que vem na próxima aula
• As influências do pensamento de John Rawls e Ronald Dworkin a partir da ideia de justiça e igualdade;
• As influências dos escritos de Peter Singer e Amartya Sen acerca das mesmas ideias, construindo uma
análise comparada dos autores propostos.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Compreendeu a diversidade presente nas análises sobre o mundo contemporâneo;
• Reconheceu a existência e a consolidação de um multiculturalismo cada vez mais atual nas sociedades;
• Analisou a formação de uma cultura de massa que se torna mais intensa;
• Compreendeu a importância da globalização para o fortalecimento da cultura de massa na história do
pensamento contemporâneo.

-8-
HISTÓRIA DO PENSAMENTO

CONTEMPORÂNEO

TEORIAS DA JUSTIÇA EM RAWLS E


DWORKIN E IGUALITARISMOS EM PETER
SINGER E AMARTYA SEN

-1-
Olá!
Ao fim desta aula, você será capaz de:

1- Estabelecer as influências do pensamento de John Rawls e Ronald Dworkin a partir da ideia de justiça e

igualdade;

2- Analisar as influências dos escritos de Peter Singer e Amartya Sen acerca das mesmas ideias, construindo uma

análise comparada dos autores propostos.

1 Introdução
A História do Pensamento Contemporâneo é formada por diversas nuances que analisamos aqui ao longo de

nossas aulas e, agora, estamos nos aproximando do término de nossa disciplina.

Para compreendermos melhor ainda as relações que se processam ao longo do período designado como História

Contemporânea, analisaremos aqui dois conceitos considerados muito importantes para nosso estudo: a Teoria

da Justiça e o Igualitarismo.

Ambos são primordiais para a análise que nos propomos a estudar e os analisaremos à luz de importantes

teóricos que fundamentaram solidamente os estudos nessas áreas: John Rawls, Ronald Dworkin, Peter Singer e

Amartya Sen.

2 Analisando a Teoria da Justiça


Quando pensamos em Teoria da Justiça, imediatamente vem a nossa mente que essa teorização pode conter uma

fórmula básica para a solução de todos os problemas da ordem da justiça, em uma dada sociedade, e que essa

análise possa vir a dar conta de todas as injustiças existentes e apontar os caminhos corretos para que os

problemas dessa ordem possam ser resolvidos. Ledo engano!

Não é seu papel tecer soluções para os problemas, mas fundamentar as discussões para uma prática mais

adequada da noção de justiça e ampliar o olhar para as questões que envolvem essa temática.

-2-
Perante ao aumento crescente da violência e do acirramento das disputas que permeiam o cidadão

contemporâneo, assuntos como esse passam a fazer parte da pauta de debates que envolvem os rumos

necessários para o alcance do melhor equilíbrio social possível.

Diante disso, temos muitos estudos, dos mais variados, objetivando entender a questão da justiça e seu

alcance, buscando mobilizar a sociedade para atingir o maior nível de tolerância e convivência mais

harmoniosas possíveis.

Iremos agora analisar dois importantes estudiosos desse assunto.

3 John Rawls
John Rawls nasceu em 1921, em Baltimore, estado de Maryland, EUA, e faleceu em 2002, em sua casa, em

Massachusetts.

Foi um importante filósofo norte-americano que contribuiu largamente para a concepção de uma sociedade mais

justa e seu mais importante trabalho, Uma Teoria da Justiça, publicado em 1971, foi de extrema importância para

a análise da questão da justiça e seu alcance, e fortaleceu o debate sobre os limites de sua atuação nas sociedades

contemporâneas.

Para o filósofo, a concepção de justiça é de suma importância para o equilíbrio da sociedade e ele vê a plena

necessidade da eleição de alguns princípios que tornariam as sociedades mais equilibradas. Para ele, a

liberdade é anterior a qualquer outro princípio e deve ser preservada ao máximo possível.

-3-
Fique ligado
Uma curiosidade a ser destacada sobre John Rawls vem do seu interesse por questões sociais.
Isso ocorreu devido ao envolvimento de sua mãe com movimentos feministas e por sua
indignação diante da situação das populações negras da cidade de Baltimore, que viviam em
condições muito inferiores aos brancos, além de ter tido contato com brancos pobres em
outras regiões.

3.1 John Rawls – Principais obras

Abaixo, estão as principais obras de John Rawls.

Em seu livro, Uma Teoria da Justiça (1971), Rawls afirma que:

Deve-se, então, considerar que uma concepção de justiça social fornece primeiramente um padrão

pelo qual se devem avaliar aspectos distributivos da estrutura básica da sociedade. Esse padrão,

porém, não deve ser confundido com os princípios que definem outras virtudes, pois a estrutura

básica e as organizações sociais em geral podem ser eficientes ou ineficientes, liberais ou não

liberais, e muitas outras coisas, bem como justos ou injustos. Uma concepção completa, definidora de

princípios para todas as virtudes da estrutura básica, juntamente com seus respectivos pesos

quando conflitantes entre elas, é mais que uma concepção da justiça; é um ideal social.

Os princípios da justiça são apenas uma parte, embora talvez a parte mais importante, de uma tal

concepção. Um ideal social está, por sua vez, ligado a uma concepção de sociedade, uma visão do

modo como os objetivos e propósitos da cooperação social devem ser entendidos. As diversas

concepções da justiça são o resultado de diferentes noções de sociedade em oposição ao conjunto de

visões opostas das necessidades e oportunidades naturais da vida humana. Para entender

plenamente uma concepção da justiça precisamos explicitar a concepção de cooperação social da

qual ela deriva. Mas ao fazermos isso não deveríamos perder de vista o papel especial dos princípios

da justiça ou o objeto principal ao qual eles se aplicam.

Em seu livro O Liberalismo Político (1993), Rawls aponta dois princípios muito importantes de justiça:

a) Toda pessoa tem um direito igual a um sistema plenamente adequado de liberdades fundamentais iguais que

seja compatível com um sistema similar de liberdades para todos.

-4-
b) As desigualdades sociais e econômicas devem satisfazer duas condições. A primeira é que devem estar

vinculadas a cargos e posições abertos a todos em condições de igualdade equitativa de oportunidades; e a

segunda é que devem redundar no maior benefício possível para os membros menos privilegiados da sociedade.

Ao fazermos uma leitura dos princípios enunciados por Rawls anteriormente descritos, percebemos que sua

concepção de igualdade procura abarcar a todos e estabelecer condições para minimizar as desigualdades.

4 Ronald Dworkin
Outro importante teórico que está presente em nossas discussões é Ronald Dworkin. Filósofo da área de Direito,

nasceu em 1931, em Rhode Island, e faleceu em 2013.

Para ele, há a necessidade de reconhecer os direitos individuais e liberais como inerentes aos indivíduos e

elementos primordiais para a lei. Ele enxergava a igualdade e a dignidade como fundamentais para o indivíduo,

não devendo as decisões jurídicas serem rigidamente aplicadas de forma mecânica e as leis devem ser

interpretadas levando-se em conta os princípios da justiça, procurando melhorá-la sempre que possível.

O filósofo defendia que era possível existir Direito onde não houvesse norma legislada, superando certo

positivismo jurídico.

A questão da igualdade balizou toda a obra de Dworkin, pois para ele, esse era um dos princípios mais

importantes para as sociedades.

4.1 Ronald Dworkin - "Casos difíceis"

Dworkin enfatizou em sua obra o que chamou de “casos difíceis”. Vamos analisar o que é isso!

De acordo com a regra jurídica normal, o juiz deve analisar um caso e julgá-lo de acordo com as regras da justiça

já existentes, sem propor a aplicação de nada novo. No entanto, há o poder de criar regras novas caso não

existam ainda, mas isso deve ser feito com coerência, aplicando a questão dos princípios.

Os juízes devem aplicar os princípios que estejam vigentes dentro do sistema jurídico e reconhecendo, em uma

dada sentença, a razão de uma das partes aplicando a existência dos princípios, fator que deve nortear a prática

de decisões judiciais de forma a alcançar o maior nível de coerência possível.

Para Dworkin, o Direito está muito associado à questão da moral e, apesar de suas regras e princípios, a

existência da moralidade política não pode ser de forma alguma desconsiderada, estando Direito e moral unidos

de forma intrínseca.

A prática jurídica é claramente passível de interpretação e deve ser comum a todos os âmbitos sociais, de forma

a enfocar a justiça como princípio básico.

-5-
De acordo com Dworkin, um juiz, ao decidir sobre um caso de difícil solução, onde não haja regras ou

precedentes de jurisprudência, deve fazer uso do senso moral da prática jurídica para tomar a melhor decisão,

não se distanciando em momento algum das ideias de liberdade e igualdade, que devem ser as mesmas para

todos.

Assim, concluímos que para Dworkin, os princípios da justiça devem ser aplicados à luz da igualdade para todos,

e questões morais e políticas devem ser debatidas em maiores proporções.

Há que se ter a melhor interpretação possível das práticas em vigor dentro de uma determinada sociedade,

considerando que todos os indivíduos nessa sociedade devem ser tratados iguais independente de condições

sociais, econômicas, raciais.

Igualmente, as decisões jurídicas de difícil solução não devem se ater apenas ao que já foi discutido sobre o

assunto, mas, às questões que envolvem aspectos mais amplos do que a simples norma estabelecida.

5 Peter Singer
Outro pensador que faz parte de nossa análise é Peter Singer, um filósofo australiano que aborda diversos temas

acerca da liberdade e seus desdobramentos e da ética aplicada, debatendo esses aspectos na defesa do direito à

vida, também no âmbito do mundo animal aplicando a máxima de que todos têm os mesmos direitos de

igualdade e liberdade.

Em sua obra Libertação Animal (1975), pretendeu trazer à luz o debate sobre os tratamentos dispensados aos

animas e o grau de igualdade que eles têm em relação aos homens, principalmente no quesito dor e sofrimento.

Singer defende que os juízos devem ser formados a partir de uma análise universal, a fim de evitar que posições

exclusivas possam interferir em determinadas decisões.

Para ele, a questão da igualdade é de uma grande abrangência e, nesse sentido, destaca dentre outros aspectos

que homens e animais têm os mesmos direitos de valor à vida, em uma clara alusão ao Direito dos Animais,

enfocando que sua dor deve ser minimizada ao máximo.

Defende ainda que a distribuição de renda entre ricos e pobres deve ser feita de forma igualitária, e a

necessidade de indivíduos sempre agirem moralmente e de forma ética na defesa de seus pontos de vista, agindo

de acordo com o certo e convencidos de que sua ação resultará em algo positivo.

Singer analisa a questão da igualdade, que deve ser aplicada a todos de forma igual pois todos a sentem da

mesma maneira. Para ele “dor é dor”, independente de quem a sente, sendo irrelevantes aspectos como

orientação sexual, raça, espécie ou qualquer outra distinção.

-6-
No entanto, o filósofo chama a atenção para o tema da igualdade considerando os interesses de cada um, pois

oportunidades iguais para quem tem interesses diferentes é algo que também deve ser pensado.

Mesmo analisando a questão da igualdade, que deve ser acessível para todos, há que se priorizar as situações, de

forma a que a igualdade alcance a todos, mas de acordo com a realidade de cada um.

5.1 Peter Singer – Obra

Em seu livro Ética Prática (2000), diversos questionamentos são apontados acerca de como igualdade pode ser

analisada e várias perguntas podem ser feitas. Ao olharmos os temas abordados pelo autor, identificamos sua

proposta de trabalho e o quão ampla ela pretende ser.

Singer aborda os seguintes temas:


• A natureza da ética
• A noção de igualdade
• Os direitos dos animais
• A eutanásia
• O aborto
• A fome no mundo
• O problema dos refugiados
• A ética do meio ambiente
• A desobediência civil
• A natureza da ação ética
• O sentido da vida

6 Amartya Sen
Outro autor interessante para nossa análise é o economista indiano Amartya Sen, que se propõe a analisar a

temática de que o desenvolvimento de um país está diretamente ligado às oportunidades que ele oferece para os

seus cidadãos, de poderem fazer as suas próprias escolhas e praticarem o exercício da cidadania, principalmente

no que diz respeito à igualdade.

Sen é considerado uma autoridade mundial em análises sobre liberdade e justiça social e foi um dos inventores

do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), índice que pretende ser um fator de medição do desenvolvimento

humano a partir de diferentes aspectos tais como dimensões econômicas, culturais, políticas, educacionais,

dentre outras.

Fique ligado
Foi o ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1988.

-7-
Amartya Sen procura analisar, em suas obras, diversos assuntos que caracterizam a sociedade contemporânea e,

apesar de desenvolver vários estudos na área de Filosofia, sempre defendeu seu amor pela Economia.

6.1 Amartya Sen – Obra

Em sua obra Desigualdade Reexaminada (2008), ele analisa a questão do igualitarismo e inicia seu trabalho

questionando a igualdade com duas perguntas principais: Por que igualdade? e Igualdade de quê ? Afirma ainda

que para delimitarmos o espaço de ambas e temos que compreender do que estamos falando quando tratamos

da noção de igualdade.

A igualdade pode ser compreendida como um desejo a ser alcançado pelas sociedades, mas devemos nos

questionar sobre como os seres humanos são desiguais.

7 Conclusão
Agora que conhecemos um pouco mais sobre alguns teóricos que debateram temas de suma importância, em

nossa sociedade, tais como igualdade, liberdade e justiça, devemos construir a nossa análise crítica acerca desses

assuntos e ampliar o nosso olhar, fugindo do senso comum e consolidando nosso saber acadêmico.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Estabeleceu as influências do pensamento de John Rawls e Ronald Dworkin a partir da ideia de justiça e
igualdade;
• Analisou as influências dos escritos de Peter Singer e Amartya Sen acerca das mesmas ideias,
construindo uma análise comparada dos autores propostos.

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