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Adolescencia

O primeiro amor e a primeira desilusão, a rebeldia e a disposição de mudar o mundo são


sentimentos próprios de uma etapa da existência marcada por intensa atividade de iniciação,
decisiva para a vida posterior do indivíduo. A adolescência normalmente é vivida como um período
em que coexistem grandes transformações e crise profunda.

Entende-se como adolescência a fase compreendida entre a infância e a idade adulta, durante a qual
se definem os caracteres sexuais secundários e se evidenciam as qualidades específicas do
indivíduo. Nas sociedades simples e homogêneas, como as comunidades rurais, o período de
preparação do adolescente para a vida adulta é mais curto e menos conflitivo do que nas sociedades
complexas. A longa fase de dependência, que na civilização contemporânea se estende por
aproximadamente dez anos, entra em choque com o desenvolvimento parcial alcançado pelo
adolescente e determina uma etapa crítica e repleta de contradições.

A importância que psicólogos e educadores atribuem à adolescência é fenômeno recente. Até o


começo do século XX, a etapa de transição era breve e caracterizada principalmente por alterações
biológicas. A integração à vida adulta se dava de forma mais imediata, pois os papéis sociais eram
menos diversificados e já estavam determinados pela herança familiar. Os estudos antropológicos
indicam que nas comunidades primitivas contemporâneas a adolescência é marcada apenas pelo
desenvolvimento físico. Uma simples cerimônia de iniciação integra o indivíduo na vida adulta. O
progresso científico e tecnológico trouxe maior complexidade à sociedade moderna e a conseqüente
dificuldade de integração do adolescente, além do aumento quantitativo das populações jovens que
se verifica em grande parte dos países.

Características físicas. A adolescência se caracteriza, do ponto de vista anatômico, por fenômenos


como o crescimento acelerado (estirão), o desenvolvimento do corpo e a modificação da aparência.
O surgimento dos seios na moça, o crescimento da barba e a mudança de voz no rapaz obrigam o
adolescente a adquirir uma nova consciência de seu corpo. Do ponto de vista fisiológico, as trocas
hormonais próprias do período provocam reações diversas, das quais a mais importante é o
aparecimento do desejo sexual.

Todas essas novidades relativas ao corpo são perturbadoras para o adolescente, sobretudo porque
não ocorrem sempre da mesma maneira, ou na mesma idade. É mais comum, por exemplo, que a
menina apresente a menarca (primeira menstruação) entre os dez e os 14 anos, mas o fenômeno é
muito variável em função de determinações genéticas, socioeconômicas ou emocionais.

Características psicossociais. As transformações físicas por que passa o adolescente têm forte
repercussão psíquica, que se revela em comportamentos típicos e transitórios. A consciência recém-
adquirida da masculinidade ou feminilidade desperta a necessidade de auto-afirmação, que se
manifesta em primeiro lugar como um anseio de liberdade em relação à família. O núcleo familiar,
que durante a infância funcionou como fonte de proteção e segurança, na adolescência se torna
opressivo. O ambiente doméstico se transforma em palco de conflitos que podem dar margem a
graves sentimentos de rejeição.

A aprendizagem formal pode ser prejudicada pelo fato do indivíduo estar especialmente voltado
para si mesmo e para o objeto de seu desejo sexual. Nessa etapa, em que as emoções impedem um
exercício intelectual disciplinado, pode ocorrer pela primeira vez o fracasso escolar, agravado pela
atitude desafiadora e crítica que o adolescente costuma manter para com os educadores e qualquer
adulto investido de alguma autoridade.
A percepção do desejo sexual e os comportamentos agressivos são responsáveis pelo surgimento do
sentimento de culpa, que se atenua quando o adolescente descobre um objeto amoroso. Os
romances na adolescência, no entanto, podem conduzir a grandes frustrações, para as quais o
indivíduo não se encontra ainda preparado. Nesse caso, estará sujeito a estados alternados de
depressão e euforia. A integração a um grupo de jovens que compartilhem os mesmos interesses
pode ser uma boa alternativa para contrapor as frustrações e substituir, em alguns aspectos, a
família, em cujo seio o adolescente já não se sente à vontade.

Teorias sobre a adolescência. Os especialistas têm estudado o comportamento dos adolescentes sob
diversos enfoques. De modo geral, a psicologia moderna reserva ao adolescente um espaço próprio,
do qual estão afastadas as atitudes autoritárias e repressivas.

Teoria biogenética. A primeira tentativa de sistematização do comportamento do adolescente,


influenciada pela teoria evolucionista de Darwin, foi a teoria biogenética. Pretende explicar as
condutas como decorrentes de alterações biológicas geneticamente determinadas. A exuberância do
adolescente se explica pelo desenvolvimento neurológico e glandular. A teoria biogenética é
basicamente descritiva e não propõe alternativas terapêuticas.

Teoria culturalista. A fonte principal da teoria culturalista é a antropologia cultural. Os traços


característicos do comportamento do adolescente são resultado da integração do indivíduo na
comunidade. Os conflitos decorrem de pressões culturais. A adolescência pode ser uma fase de
crises ou de alterações graduais, segundo o tipo de cultura em que apareça.

Teoria psicanalítica. A psicanálise atribui relativamente pouca importância à adolescência. O


desenvolvimento da personalidade é vinculado à evolução da libido e à passagem progressiva do
princípio do prazer ao princípio da realidade. As fases de evolução da libido, no entanto, não são
estáticas. Apresentam uma integração contínua e dinâmica, e isso significa que as características
sexuais primitivas não desaparecem por completo quando a personalidade avança para um estágio
superior. O final da infância é marcado por um estado de latência, devido às pressões da
socialização. A adolescência é o período em que as fases pré-genitais da libido regridem para dar
lugar à sexualidade genital madura. O complexo de Édipo, o complexo de castração e outros
conflitos próprios da sexualidade infantil desaparecem, mas podem reeditar-se em comportamentos
típicos da transição, como a paixão por pessoas muito mais velhas. Em síntese, a teoria psicanalítica
enfatiza na adolescência o conflito entre os impulsos instintivos e o estabelecimento de valores.

Teoria de Spranger. A teoria de Eduard Spranger fundamenta-se na filosofia da cultura, para a qual
as leis que regem a natureza não são aplicáveis às ciências humanas. Assim, o crescimento físico e
as transformações sexuais sofridas pelo adolescente não constituem o essencial de seu estado. A
consciência da sexualidade é o que importa, não o fenômeno fisiológico que ocorre
independentemente da consciência. Spranger distingue erotismo de sexualidade. O erotismo não é
uma função da sexualidade, mas esta é decorrente do erotismo. Ambos constituem uma totalidade
de vivências. O desenvolvimento da personalidade na adolescência depende de uma estruturação
psíquica que se dá principalmente pela aquisição da consciência de si mesmo. Os conflitos são
produto do choque de valores sociais, éticos e religiosos. O sistema de valores depende do meio em
que o adolescente vive e se integra.

Teoria de campo. Para Kurt Lewin a adolescência é uma fase marginal, que não se situa no campo
definido do adulto nem da criança. O aumento da perspectiva temporal é intenso na adolescência: o
adolescente integra o passado e vive em função dos objetivos situados no futuro. Tal como acontece
com os que pertencem às minorias, o adolescente procura apoio em seu próprio grupo e se revolta
contra os outros. As diferenciações somáticas são relevantes na adolescência e produzem efeitos na
auto-imagem, um de seus valores predominantes, assim como o modo como é visto pelo grupo. A
teoria de campo mostra que a adolescência é um período transitório, de aspecto altamente dinâmico,
entre o espaço de vida da criança e o da maturidade.

Teoria cognitiva de Jean Piaget. As intensas alterações decorrentes do amadurecimento psíquico e


sexual do adolescente provocam um desequilíbrio provisório que conduz posteriormente a um
equilíbrio superior. O reconhecimento do mundo exterior se dá na criança pelo contato dos sentidos
e pela ação concreta. Na adolescência, as estruturas intelectuais que comandam o conhecimento se
tornam aptas ao raciocínio lógico e abstrato, sem necessidade de apoio na experiência e na ação. O
adolescente é capaz de formular teorias e de desenvolver atitudes críticas e contestatórias. A partir
do pensamento abstrato recentemente adquirido, o adolescente elabora planos de vida. A intensa
atividade reflexiva explica a fantasia e a idealização. A integração na sociedade adulta se faz por
meio de projetos, sistemas teóricos e mesmo de reformas sociais. O amor e a vida afetiva assumem
grande importância em conseqüência do afastamento da realidade pela via da abstração. A
adaptação social definitiva ocorre quando o adolescente parte da criação reflexiva para a realização
objetiva de projetos.

©Encyclopaedia Britannica do Brasil Publicações Ltda.

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