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TRIBUNAL MARÍTIMO

PROCESSO Nº 34716/2021

ACÓRDÃO

Catamarã “BOM JESUS I”. Alagamento. Rio Tocantins, às margens da Ilha Pau
Utinga, município de Limoeiro do Ajuru - PA. Fortuna do mar. Arquivamento.

Vistos e relatados os presentes Autos.


Consta dos Autos que, no dia 10 de dezembro de 2019, por volta das 18h30min,
ocorreu um alagamento no Catamarã “BOM JESUS I”, quando a embarcação navegava pelo rio
Tocantins, às margens da Ilha Pau Utinga, município de Limoeiro do Ajuru - PA. O acidente causou
apenas danos materiais à embarcação, não havendo registro de vítimas ou poluição hídrica.
Características da embarcação:
Tipo de Embarcação: CATAMARÃ
Atividade: TRANSPORTE DE PASSAGEIRO
Área de Navegação: INTERIOR 2
Arqueação Bruta: 80
Comprimento: 18,90 m
Proprietário: REBELO & CIA LTDA.
Material do Casco: FIBRA DE VIDRO
O IAFN 0004018 da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR) apurou
que, no citado dia, por volta das 14h10min, a embarcação “BOM JESUS I” desatracou do Terminal
Hidroviário de Belém - PA, com 4 (quatro) tripulantes a bordo, transportando cerca de 82 (oitenta e
dois) passageiros, com destino à cidade de Limoeiro do Ajuru - PA, sob o comando do Contramestre
Fluvial (CMF) JOCIVALDO MARTINS PORTILHO.
Por volta das 17h40min a embarcação atracou às margens da Ilha Amorosa, em frente
à cidade de Limoeiro do Ajuru - PA, pois a maré estava baixa e o tempo estava muito ruim, sem
visibilidade, muita chuva, vento muito forte, razão pela qual foi realizado o transbordo dos passageiros
para uma lancha menor, a fim de desembarcarem aqueles que ficariam na cidade de Limoeiro do Ajuru.
Às 18h, o “BOM JESUS I” seguiu viagem com destino à cidade de Cametá - PA, transportando cerca
de 58 (cinquenta e oito) passageiros.
Por volta das 18h30min, quando navegava no rio Tocantins, em águas do município
de Limoeiro do Ajuru, o vento aumentou, com muita maresia, e a embarcação, pela força do vento,
começou a navegar saindo de rumo, ocasião em que o condutor JOCIVALDO avistou, a cerca de 3
metros de distância da proa do catamarã, uma grande vaga na água, o que, somado à velocidade
empreendida, cerca de 20 nós, fez com que o Catamarã caísse na vaga, abicando na onda que se
formou.
Nesse momento, entrou uma grande quantidade de água pela proa, arrebentando a
porta de acesso ao interior da embarcação e alagando o convés principal onde ficam os passageiros. Na
sequência, a tripulação acalmou os passageiros, foi nos porões e na praça de máquinas verificar se
havia entrado água, constatando que estava tudo seco. Assim, seguiu viagem normalmente, atracando
na cidade de Cametá - PA, por volta das 19h15min.
Embora não tenha havido danos pessoais ou registro de poluição hídrica, as poltronas
da embarcação foram arrancadas do convés e um pé de carneiro na entrada da embarcação ficou
envergado. Houve perda de alguns objetos pessoais dos passageiros como telefones celulares e
calçados.
No Inquérito instaurado pela CPAOR, foram ouvidas duas testemunhas, elaborado
Laudo de Exame Pericial e anexados os documentos de praxe, destacando-se o Boletim de Informações
Ambientais, do Centro de Hidrografia da Marinha (fls. 61/62).
No referido Boletim constou que a região nas proximidades de Limoeiro do Ajuru
estava sob a influência de áreas de instabilidade associadas à presença da Zona de Convergência
Intertropical no dia 10/12/2019, com a ocorrência de nuvens que mantiveram o céu entre quase
encoberto e encoberto e ventos de direção Norte/Nordeste com intensidade entre 5 e 11 nós e rajadas de
até 30 nós. Houve observação de chuva moderada a forte com trovoadas no período de interesse,
reduzindo a visibilidade horizontal para restrita (entre 1 e 4 km).
No Laudo Pericial (fls. 19/21) os peritos registraram que a causa determinante do
acidente da navegação foram as condições adversas da natureza, podendo ser considerada como fortuna
do mar. Conforme o Laudo, a força do vento e a maresia levaram o Catamarã “BOM JESUS I” a bater
fortemente na água, fazendo com que a porta de proa da embarcação fosse arrancada, permitindo a
entrada de grande quantidade de água e alagando o convés principal onde ficam os passageiros.
Foram ouvidas no IAFN as testemunhas JOCIVALDO MARTINS PORTILHO,
Comandante da embarcação (fls. 39/42); e RAIMUNDO HODIR BATISTA COSTA, Chefe de
Máquinas (fls. 47/50).
No Relatório de IAFN (fls. 93/103), o Encarregado concordou com o Laudo,
concluindo que a causa determinante para o acidente foram as condições adversas da natureza,
podendo ser considerada como fortuna do mar.
No mais, ressaltou que a empresa proprietária do Catamarã “BOM JESUS I”,
REBELO & CIA. LTDA., praticou a infração prevista no art. 19, inciso III, do RLESTA, uma vez que
seu Certificado de Segurança da Navegação venceu em 07/12/2019, sendo certo que o acidente
aconteceu no dia 10/12/2019.
A Douta Procuradoria Especial da Marinha, após análise dos Autos e conforme a
petição 0007545, manifestou-se pelo arquivamento, uma vez que o alagamento resultou de condições
adversas da natureza, configurando fortuna do mar.
No entanto, por dever de ofício, requereu a PEM fosse oficiada a CPAOR a respeito
da infração ao art. 19, inciso III, do RLESTA, cometida pela proprietária da embarcação.
Publicada Nota para Arquivamento no Diário Eletrônico do Tribunal Marítimo -
E-DTM Nº 144, de 22 de setembro de 2021, conforme Despacho 0008071. Prazos preclusos sem
manifestações de terceiros interessados, conforme a certidão eletrônica 0012035.
Diante dos elementos trazidos aos Autos, constata-se que o acidente decorreu de
fortuna do mar, sendo, portanto, de se deferir o requerido pela PEM, mandando arquivar os Autos.
Assim,
ACORDAM os Juízes do Tribunal Marítimo, por unanimidade: a) Quanto à natureza
e extensão do acidente da navegação: alagamento do convés principal Catamarã “BOM JESUS I”
quando este navegava pelo Rio Tocantins, às margens da Ilha Pau Utinga, município de Limoeiro do
Ajuru - PA. Não houve registro de vítimas ou poluição hídrica, porém foram registradas avarias na
embarcação; b) Quanto à causa determinante: condições climáticas adversas, que fizeram com que uma
grande quantidade de água entrasse na embarcação, arrebentando a porta de acesso ao interior da
embarcação e alagando o convés principal onde ficam os passageiros, sendo a causa considerada
fortuna do mar; c) Decisão: julgar o acidente da navegação capitulado no art. 14, alínea “a”, da Lei nº
2.180/54, como decorrente de fortuna do mar, mandando arquivar os autos, conforme a promoção da
PEM; e d) Medidas Perventivas: Oficiar à CPAOR, Agente da Autoridade Marítima, a infração
cometida pela empresa proprietária do Catamarã “BOM JESUS I”, REBELO & CIA. LTDA., prevista
no art. 19, inciso III, do RLESTA, uma vez que seu Certificado de Segurança da Navegação venceu em
07/12/2019, sendo certo que o acidente aconteceu no dia 10/12/2019.
Publique-se. Comunique-se. Registre-se.
Rio de Janeiro, RJ, em 22 de fevereiro de 2022.

Documento assinado eletronicamente por Attila Halan Coury, Juiz, em 06/04/2022, às 16:18,
conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.

Documento assinado eletronicamente por V Alte W P Lima Filho, Juiz Presidente, em


11/04/2022, às 10:20, conforme art. 1º, III, "b", da Lei 11.419/2006.

A autenticidade do documento pode ser conferida no site https://www.sei.tm.mar.mil.br


/sei/controlador_externo.php?acao=documento_conferir&id_orgao_acesso_externo=0 informando
o código verificador 0016749 e o código CRC 1F7AE3DC.

34716/2021 0016749v3

Assinado de forma digital por MARINHA DO BRASIL - TRIBUNAL


MARITIMO:00394502022970
DN: c=BR, st=RJ, l=RIO DE JANEIRO, o=ICP-Brasil, ou=videoconferencia,
ou=33683111000107, ou=Secretaria da Receita Federal do Brasil - RFB, ou=ARSERPRO,
ou=RFB e-CNPJ A3, cn=MARINHA DO BRASIL - TRIBUNAL MARITIMO:00394502022970
Dados: 2022.06.14 14:33:33 -03'00'

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