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não são produzidas pelo costume mas por um órgão Introduzione alla sociologia del diritto, Einaudi,
ad hoc, assumindo a forma de lei. Esta diferença de Torino I9802; MAX WEBER, Wirtschaft und Gesellschaft.
ordenamento estatal em relação aos ordenamentos das Mohr, Tübingen 1922; Comunità, Milano 1961.
sociedades primitivas e aos ordenamentos
internacionais constitui o tema central da teoria de [NORBERTO BOBBIO]
Direito de Hart. Uma das características distintivas do
Estado é colocada por Hart na presença de normas
(secundárias) que atribuem a órgãos determinados a
função de produzir novas normas gerais ou de mudar Direito de Asilo. — V. Asilo, Direito de.
as existentes.
A superposição, característica das teorias políticas e
jurídicas que acompanham a formação do Estado Direitos Humanos.
moderno, da imagem do Direito como ordenamento
normativo relativamente concentrado com a do Estado
como aparelho para uso da força concentrada, deu I. DECLARAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS E HISTÓRIA
CONSTITUCIONAL. — O constitucionalismo moderno
lugar à persistente imagem do "Estado de Direito", na
qual as duas idéias do Direito e do Estado estão tem, na promulgação de um texto escrito contendo
estreitamente unidas, até constituírem um corpo só. uma declaração dos Direitos Humanos e de cidadania,
Nenhuma coisa é mais válida do que a doutrina do um dos seus momentos centrais de desenvolvimento e
Estado de Direito tornada doutrina oficial do Direito de conquista, que consagra as vitórias do cidadão
público europeu durante quase um século, pelos sobre o poder.
juristas da Restauração até à República de Weimar, Usualmente, para determinar a origem da
para sintetizar plasticamente o processo da estatização declaração no plano histórico, é costume remontar à
do Direito e de juridificação do Estado, que Déclaration des droits de l'homme et du citoyen,
acompanha a formação do Estado moderno. Dessa votada pela Assembléia Nacional francesa em 1789,
doutrina podem dar-se duas interpretações, uma na qual se proclamava a liberdade e a igualdade nos
teórica e outra ideológica. Teoricamente, ela exprime, direitos de todos os homens, reivindicavam-se os seus
como já o acentuou Kelsen, a exigência meramente direitos naturais e imprescritíveis (a liberdade, a
científica de descrever o Estado como um propriedade, a segurança, a resistência à opressão), em
ordenamento jurídico, e ficaria ainda para provar que vista dos quais se constitui toda a associação política
uma teoria não ideológica do Estado pudesse ser legítima. Na realidade, a Déclaration tinha dois
construída sem ser como teoria jurídica. grandes precedentes: os Bills of rights de muitas
Ideologicamente, a doutrina referida exprime o ideal colônias americanas que se rebelaram em 1776 contra
do moderno constitucionalismo, ou seja, o ideal do o domínio da Inglaterra e o Bill of right inglês, que
Estado limitado pelo Direito, cujos poderes agem no consagrava a gloriosa Revolução de 1689. Do ponto
âmbito do Direito e cuja legitimidade depende do fato de vista conceptual, não existem diferenças
da sua ação se desenvolver dentro dos limites de substanciais entre a Déclaration francesa e os Bills
regras preconstituídas. americanos, dado que todos amadureceram no mesmo
clima cultural dominado pelo jusnaturalismo e pelo
CONTRATUALISMO: os homens têm direitos
naturais anteriores à formação da sociedade, direitos
BIBLIOGRAFIA. - S. COTTA, Perchè il diritto, La que o Estado deve reconhecer e garantir como direitos
Scuola, Brescia 1979; H. L. A. HART, The concept of do cidadão. Bastante diverso é o Bill inglês, uma vez
law. Univ. Press. Oxford 1961. Einaudi, Torino 1965; que nele não são reconhecidos os direitos do homem e
F. HAYEK, The constitution of liberty. Univ. Press. sim os direitos tradicionais e consuetudinários do
Chicago 1960; La società libera. Vallechi, Firenze cidadão inglês, fundados na common law. Durante a
1969; H. KANTOROWICZ, The Definition of law. Univ. Revolução Francesa foram proclamadas outras
Press. Cambridge 1958, Giappichelli, Torino 1962; H. Déclarations (1793, 1795): interessante a de 1793
KELSEN, General theory of law and State. Univ. Press. pelo seu caráter menos individualista e mais social em
Harvard 1945, Comunità, Milano 1952; Id., Reine nome da fraternidade, e a de 1795, porque ao lado dos
Rechtslehre. Deuticke, Wien 1960, Einaudi, Torino "direitos" são precisados também os "deveres",
1966; S. ROMANO, L'ordinamento giuridico. Sansoni, antecipando assim uma tendência que tomará corpo no
Firenze 1945; A. Ross, On law and justice. Stevens século XIX (podemos pensar nos Doveri dell'uomo,
and Sons, London 1958, Einaudi, Torino 1965; Id., de Mazzini); a própria
Directives and norms, Routledge and Kegan Paul,
London 1968, Comunità, Milano 1978; R. TREVES,
354 DIREITOS HUMANOS
Constituição italiana tem como título da primeira parte desconfiada da classe governante, quis uma
"Direitos e deveres do cidadão". Constituição rígida, que não pudesse ser modificada a
A declaração dos direitos colocou diversos não ser por um poder constituinte e um controle de
problemas, que são a um tempo políticos e constitucionalidade das leis aprovadas pelo legislativo.
conceptuaís. Antes de tudo, a relação entre a Isto garante os direitos do cidadão frente ao
declaração e a Constituição, entre a enunciação de despotismo legal da maioria. Os países que viveram a
grandes princípios de direito natural, evidentes à experiência do totalitarismo, como a Itália e a
razão, e a concreta organização do poder por meio do Alemanha, inspiraram-se mais na tradição americana
direito positivo, que impõe aos órgãos do Estado do que na francesa para a sua Constituição.
ordens e proibições precisas: na verdade, ou estes Finalmente, estes direitos podem ser classificados
direitos ficam como meros princípios abstratos (mas em civis, políticos e sociais. Os primeiros são aqueles
os direitos podem ser tutelados só no âmbito do que dizem respeito à personalidade do indivíduo
ordenamento estatal para se tornarem direitos (liberdade pessoal, de pensamento, de religião, de
juridicamente exigíveis), ou são princípios ideológicos reunião e liberdade econômica), através da qual é
que servem para subverter o ordenamento garantida a ele uma esfera de arbítrio e de liceidade,
constitucional. Sobre este tema chocaram nos fins do desde que seu comportamento não viole o direito dos
século XVIII, de um lado, o racionalismo jusnaturalista outros. Os direitos civis obrigam o Estado a uma
e, de outro, o utilitarismo e o historicismo, ambos atitude de não impedimento, a uma abstenção. Os
hostis à temática dos direitos do homem. Era possível o direitos políticos (liberdade de associação nos partidos,
conflito entre os abstratos direitos e os concretos direitos eleitorais) estão ligados à formação do Estado
direitos do cidadão e, portanto, um contraste sobre o democrático representativo e implicam uma liberdade
valor das duas cartas. Assim, embora inicialmente, ativa, uma participação dos cidadãos na determinação
tanto na América quanto na França, a declaração dos objetivos políticos do Estado. Os direitos sociais
estivesse contida em documento separado, a (direito ao trabalho, à assistência, ao estudo, à tutela da
Constituição Federal dos Estados Unidos alterou esta saúde, liberdade da miséria e do medo), maturados
tendência, na medida em que hoje os direitos dos pelas novas exigências da sociedade industrial,
cidadãos estão enumerados no texto constitucional. implicam, por seu lado, um comportamento ativo por
Um segundo problema deriva da natureza destes parte do Estado ao garantir aos cidadãos uma situação
direitos: os que defendem que tais direitos são de certeza.
naturais, no que respeita ao homem enquanto homem, O teor individualista original da declaração, que
defendem também que o Estado possa e deva exprimia a desconfiança do cidadão contra o Estado e
reconhecê-los, admitindo assim um limite preexistente à contra todas as formas do poder organizado, o orgulho
sua soberania. Para os que não seguem o do indivíduo que queria construir seu mundo por si
jusnaturalismo, trata-se de direitos subjetivos próprio, entrando em relação com os outros num plano
concedidos pelo Estado ao indivíduo, com base na meramente contratual, foi superado: pôs-se em
autônoma soberania do Estado, que desta forma não se evidência que o indivíduo não é uma mônada mas um
autolimita. Uma via intermediária foi seguida por ser social que vive num contexto preciso e para o qual
aqueles que aceitam o contratualismo, os quais a cidadania é um fato meramente formal em relação à
fundam estes direitos sobre o contrato, expresso pela substância da sua existência real; viu-se que o
Constituição, entre as diversas forças políticas e indivíduo não é tão livre e autônomo como o
sociais. Variam as teorias mas varia também a eficácia iluminismo pensava que fosse, mas é um ser frágil,
da defesa destes direitos, que atinge seu ponto máximo indefeso e inseguro. Assim, do Estado absenteísta,
nos fundamentos jusnaturalísticos por torná-los passamos ao Estado assistencial, garante ativo de
indisponíveis. A atual Constituição da República novas liberdades. O individualismo, por sua vez, foi
Federal alemã, por exemplo, prevê a não possibilidade superado pelo reconhecimento dos direitos dos grupos
de revisão constitucional para os direitos do cidadão, sociais: particularmente significativo quando se trata
revolucionando assim toda a tradição juspublicista de minorias (étnicas, lingüísticas e religiosas), de
alemã, fundada sobre a teoria da autolimitação do marginalizados (doentes, encarcerados, velhos e
Estado. mulheres). Tudo isto são conseqüências lógicas do
O terceiro problema refere-se ao modo de tutelar princípio de igualdade, que foi o motor das
estes direitos: enquanto a tradição francesa se cingia à transformações nos conteúdos da declaração, abrindo
separação dos poderes, e sobretudo à autonomia do sempre novas dimensões aos Direitos Humanos e
poder judiciário, e à participação dos cidadãos através confirmando por isso a validade e atualidade do texto
dos próprios representantes, na formação da lei, a setecentista.
tradição americana,
DIREITOS HUMANOS 355
A atualidade é demonstrada pelo fato de hoje se convivência humana estão estreitamente ligados à
lutar, em todo o mundo, de uma forma diversa pelos força e ao conteúdo dos ideais humanitários que nelas
direitos civis, pelos direitos políticos e pelos direitos entraram, na qualidade de princípios de ação política,
sociais: fatualmente, eles podem não coexistir, mas, em e também ao grau em que as mesmas puderam ou
vias de princípio, são três espécies de direitos, que para souberam encontrar apoio num conjunto de forças
serem verdadeiramente garantidos devem existir sociais capazes de as promover e de lhes assegurar de
solidários. Luta-se ainda por estes direitos, porque após fato um respeito normal.
as grandes transformações sociais não se chegou a Na comunidade internacional, os ideais
uma situação garantida definitivamente, como sonhou humanitários foram durante longo tempo e normal
o otimismo iluminista. As ameaças podem vir do mente invocados somente em relação ao tratamento
Estado, como no passado, mas podem vir também da dos estrangeiros, e mais esporadicamente em relação
sociedade de massa, com seus conformismos, ou da ao tratamento de indivíduos que faziam parte de
sociedade industrial, com sua desumanização. E minorias étnicas ou de grupos religiosos. A grande
significativo tudo isso, na medida em que a tendência importância que os Estados, os membros de base da
do século atual e do século passado parecia dominada comunidade internacional, atribuíram à defesa da
pela luta em prol dos direitos sociais, e agora se assiste própria soberania e, por conseqüência, ao respeito dos
a uma inversão de tendências e se retoma a batalha outros fez que eles tivessem agido pela promoção e
pelos direitos civis. pela tutela dos Direitos Humanos somente quando seus
direitos estavam em jogo, para dar proteção
BIBLIOGRAFIA. — AUT. VÁR., The philosophy of human rights, diplomática aos próprios súditos no exterior ou para
ao cuidado de A. S. ROSENBAUM, Aldwych Press. London 1980: solidarizar-se com indivíduos ligados à população
Id., Bioetchics and human rights, ao cuidado de F. BANDMAN, nacional por particulares vínculos de ordem étnica,
Little, Brown and Co.. Boston 1978: Id., Comparative human lingüística ou religiosa.
rights, ao cuidado de R. CLAUDE. The Johns Hopkins Press. Foi só no decurso da Segunda Guerra Mundial, após
Baltimore 1977, Id., Vietims of politics: the State of human as aberrações do nazismo e as reações por ele criadas,
rights, ao cuidado de K. GLASER, Columbia University Press. New e depois da intensificação da tentativa das Nações
York 1979: Id., Human) rights: cultural and ideological Unidas em multiplicar os esforços para realizar uma
perspectives, ao cuidado de A. POLLIS, Praeger, New York mais estreita cooperação e solidariedade internacional,
1979: Id., Political theory and the rights of man ao cuidado de que foi possível a criação de um perfil de ação
D. D. RAFAEL. Indiana University Press. Bloomington 1967: internacional pela promoção e tutela do homem
B. A. ACKERMAN, Social justice in the liberal State Yale enquanto tal. No clima de cooperação pela realização
University Press. New Haven, Conn., 1980: J. DUNN. Western de ideais comuns que então se realizou, no dia 1." de
political theory in the face of the future, Cambridge University janeiro de 1942, os Governos signatários da
Press. Cambridge 1979: R. DWORKIN, Taking rights seriously Declaração das Nações Unidas disseram-se
Harvard University Press. Cambridge. Mass., 1978: F. convencidos de que uma vitória completa sobre seus
KAMENKA, Human rights. St. Martin's Press. New York 1978: inimigos era "essencial para defender a vida, a
G. LOESCHER, Human rights: a global crisis F. P. Dutton, New liberdade, a independência e a liberdade religiosa,
York 1979: A. SCHALL, Marxism and the human individual assim como para conservar os Direitos Humanos e a
McGr. w-Hill Book, New York 1970. justiça nos próprios países e nas outras nações" Um
pouco mais tarde, a 26 de junho de 1945, em São
[NICOLA MATTEUCCI]
Francisco, os redatores da Carta das Nações Unidas
retomaram, entre os fins das Nações Unidas (ONU), o
de "conseguir a cooperação internacional na solução dos
II. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. problemas internacionais de caráter econômico, social
— 1. A ação internacional pela promoção e pela e cultural ou humanitário, e o de promover e encorajar
tutela dos Direitos Humanos antes e depois da o respeito pelos Direitos Humanos e pelas liberdades
Segunda Guerra Mundial. — As exigências fundamentais para todos sem distinção de raça, de
apresentadas em todos os tempos e em todos os sexo, de língua ou de religião" e introduziram no
ambientes sociais pela melhoria da condição do Estatuto da mesma Organização dois artigos (artigos 55
homem terminaram na reivindicação de liberdade e de e 56), segundo os quais "os membros se empenham a
direitos sinteticamente qualificados de Direitos agir coletiva ou singularmente em cooperação com a
Humanos. O modo e os limites em que estas organização...", a fim de "promover o respeito e a
reivindicações conseguiram triunfar nas diversas observância universal
comunidades onde passou a ter lugar a