Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Conselho Editorial
Agda Felipe Silva Gonçalves, Cleonara Maria Schwartz, Eneida Maria Souza
Mendonça, Gilvan Ventura da Silva, Glícia Vieira dos Santos, José Armínio Ferreira,
Julio César Bentivoglio, Maria Helena Costa Amorim, Rogério Borges de Oliveira,
Ruth de Cássia dos Reis, Sandra Soares Della Fonte
Revisão | Autores
Capa, Projeto Gráfico e Diagramação | Sérgio Rodrigo da S. Ferreira
Fotos da capa | Ciro Rox com colaboração do Coletivo Femenina
Revisão Final | Alexsandro Rodrigues e Sérgio Rodrigo da S. Ferreira
T772 Transposições [recurso eletrônico] : lugares e fronteiras em
sexualidade e educação / organização, Alexsandro Rodrigues,
Catarina Dallapicula, Sérgio Rodrigo da Silva Ferreira. - Dados
eletrônicos. - Vitória : EDUFES, 2015.
366 p. : il.
Inclui bibliografia.
ISBN: 978-85-7772-234-1
Também publicado em formato impresso.
Modo de acesso: <http://repositorio.ufes.br/?locale=pt_BR>
1. Educação. 2. Sexo. 3. Comunicação. I. Rodrigues,
Alexsandro, 1970-. II. Dallapicula, Catarina, 1983-. III. Ferreira,
Sérgio Rodrigo da Silva, 1987-.
CDU: 37.01
CIRCULANDO PELAS ESCOLAS
Lugares e Fronteiras em Sexualidade e Educação
5
HETERONORMATIVIDADE E
VIGILÂNCIA DE GÊNERO NO
COTIDIANO ESCOLAR
Introdução
101
Nas festas da pré-escola, a gente costuma distri-
TRANSPOSIÇÕES
102
titui-se um artefato político e uma produção cultural e discur-
103
A escola é um espaço obstinado na produção, reprodu-
TRANSPOSIÇÕES
104
expressões e das identidades de gênero, como também das iden-
105
Dizer que a homofobia e o heterossexismo pairam amea-
TRANSPOSIÇÕES
106
como dissonantes em relação às normas de gênero e à matriz
107
sexo-gênero-sexualidade concorram diversos espaços sociais e
TRANSPOSIÇÕES
108
to dos “normais” (DOUGLAS, 1976). A existência de um “nós-
109
prezo público. Com efeito, ele implica uma gestão das fronteiras
TRANSPOSIÇÕES
110
Em frases como “Vira homem, moleque!”, tão comumen-
111
de um aluno que vire “homem” pode sentir-se um emissor ins-
TRANSPOSIÇÕES
112
e ao incremento da qualidade da educação17 se se dedicassem à
113
múltiplas implicações. A norma os presume, e sua incessante
TRANSPOSIÇÕES
114
mutuamente e cada um vigia a si mesmo.18 De todo modo, não
115
É patente a insuficiência do discurso dos direitos humanos
TRANSPOSIÇÕES
116
silenciamento do feminino e da mulher, seu corpo e sua sexualida-
117
nidade humana, o reconhecimento político da legitimidade de sua
TRANSPOSIÇÕES
118
fobia e heterossexismo, repercutindo o que se produz em outros
119
Na esteira dessa pedagogia, entre bem-pensantes é recor-
TRANSPOSIÇÕES
120
além: revela uma correlação negativa entre ambiência escolar
Referências
ARONSON, Elliot. O animal social. São Paulo: Ibrasa, 1979.
121
BUTLER, Judith. Cuerpos que importam. Buenos Aires: Paidós, 2002.
TRANSPOSIÇÕES
_____. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do “sexo”. In: LOURO,
Guacira L. (Org.). O corpo educado. Belo Horizonte: Autêntica, 1999, pp.
151-172.
ÉRIBON, Didier. Reflexões sobre a questão gay. Rio de Janeiro: Cia de Freud,
2008.
122
do cotidiano da escola básica”. Proposições, Campinas, v. 5, n. 3 [15], pp. 111-
123
_____. Um corpo estranho. Belo Horizonte: Autêntica, 2004b.
TRANSPOSIÇÕES
RUBIN, Gayle. “Pensando sobre sexo: notas para uma teoria radical da polí-
tica da sexualidade”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 21, pp. 1-88, 2003.
124
Lugares e Fronteiras em Sexualidade e Educação
6
127
como uma experiência com a qual professores e educadores
TRANSPOSIÇÕES
129
Caminhos e trajetos
TRANSPOSIÇÕES
130
tilo, o espírito do entendimento (e compreensão) do professor
131
5) fazer inúmeras leituras dos depoimentos/
TRANSPOSIÇÕES
132
Patologia e ou Psicopatologia) só têm significado dentro de um
133
coisificação, com autoestima baixa. O jovem é “coisa”, é objeto
TRANSPOSIÇÕES
134
Maia e Camossa (2002), por sua vez, trabalharam com
135
manter um relacionamento amoroso e sexual;
TRANSPOSIÇÕES
136
grupos. Conclui-se que a ampliação do debate
137
Comumente a família, os profissionais e os
TRANSPOSIÇÕES
Intervenções
Furlani (2011) classifica as abordagens atuais para in-
tervenção/interferência em Educação Sexual, descrevendo a
biológica-higienista, a moral-tradicionalista, a terapêutica, a
religiosa-radical. E depois a autora prossegue citando as abor-
dagens mais positivas, ou seja, as mais planejadas contempora-
neamente quando o professor está interessado em sair da mes-
mice do moralismo, do conteudismo biológico (e da higiene),
do sentido de considerar toda expressão sexual uma doença psi-
cológica e orgânica, do fundamentalismo religioso: a dos direi-
tos humanos, a dos direitos sexuais, a emancipatória e a queer.
Essas últimas quatro abordagens da/na Educação Sexual, em
nossa opinião, estão ligadas diretamente também ao discurso e
práxis de Paulo Freire (2005). Nesse sentido, o texto de Furlani
(2011) dá subsídios filosóficos, sociológicos e psicossociais para
uma formação continuada dos/ das docentes em sexualidade, e
aqui explicitamos a sexualidade da pessoa com DM/ DI como
destaca Vieira (2012).
Costa (2000) é, na época do seu artigo, uma quartanista
de um curso de Psicologia, e monta um programa de Orientação
Sexual para jovens deficientes de uma escola estadual comum –
em sala inclusiva. Os discentes tinham paraplegia, paralisia ce-
rebral e paralisia infantil. Para a autora, incluir “não é negar as
138
diferenças, mas desvendá-las no processo social, como diferentes
139
co Coletivo – HTPC. Das 16 reuniões, as preocupações foram
TRANSPOSIÇÕES
Resultados e discussão
Diante do exposto nos tópicos que fazem parte desse
nosso artigo, que também visa – mais do que responder algo –
problematizar e trazer à tona outras/novas inquietações acerca
da capacidade humana de “ser mais”, apresentamos nossos da-
dos, que em alguns momentos refletem e em outros retratam os
apresentados anteriormente, mas que contribuem para “manter
a chama do debate acesa”.
Sempre “ousas dizer o nome” de uma “flor” sempre infantil - do
ingênuo, do bondoso
Professora 1: “Eu acho que nosso aluno tem
sexo não! [risos] Tem, mas não o modo de
expressar [risos] É uma espécie de anjinho
ele ou ela, e por isso eu rezo sempre pra essas
crianças”.
140
sexo que esses alunos especiais podem ter...
141
que assexualizados), indo em direção de parte das discussões
TRANSPOSIÇÕES
de Giami (2005).
Há o professor simplesmente nega e diz que nem pensa.
Não ousa tocar no tema. O tema não lhe diz respeito e nem ao
aluno e ou aluna.
A professora reconhece que os alunos e ou alunas “até”
podem ser sexualizados, mas isso não aparece nas suas aulas;
isso é negado, e ela faz uma travessia para um menino ou me-
nina idealizado/a. Falando de sexo pode macular, ferir, conta-
minar. Então se nega esse conteúdo que poderia transitar pelo
cotidiano escolar e até nas aulas propriamente ditas, no ensino
de conteúdos.
Outra vez acontece da professora entender a Educação
Sexual planejada, executada e avaliada nas emergências do coti-
diano escolar, onde mais o desejo parece vir à tona, como algo
do descuidado, como perversão. O conteúdo que existe advindo
como aspecto natural da sexualidade humana passa a ser desca-
racterizado, parece-nos. Há a denúncia de uma sociedade hipó-
crita que pode agir histericamente em “denuncismos” contra o
mestre que opta fazer um trabalho desses – há um medo, um
sentimento persecutório.
Sempre “ousa dizer o nome” do humano sem humanidade – do
pecado, da tara.
Professor 5: “Esses alunos são uns tarados [ri-
sos]. Se eu tocar no assunto eles se descontro-
larão, e bem mais do que os normais que já
aprontam. Minha representação é essa”.
142
não dou conta de um desavisado desses... Ele
143
cisam ser problematizadas no cotidiano escolar urgentemente,
TRANSPOSIÇÕES
144
O professor 7, então, se aproxima do sentido do cuidado
145
sendo) de tornar-se mais e mais humano.
TRANSPOSIÇÕES
(In)Conclusão
Entre os sujeitos da pesquisa, professores de escolas
públicas, que trabalham com jovens alunos com DM/DI, não
ocorreram respostas intercambiáveis entre os três tipos detecta-
dos na pesquisa, desvelando um modo ser sendo rígido advindo
desse mundo que apregoa essa pretensa solidez frente a ameaça
do ser processo. O incrível é refletir que isso gera ação na socie-
dade, na cultura, na história – subjetividades poderosas.
Foram respostas rígidas que não fizeram nenhum tipo
de travessia entre os três tipos de representações existenciais – e
por isso parece estar os professores “crentes” dessa verdade uni-
versal (que é pretensa, que é pseudo). Uma travessia entre Deus
(bondade, anjo – ser assexuado), diabo (perversão, maldade –
ser hipersexuado) e a Terra do Sol 9 (compreensão da sexualidade
como algo comum aos seres humanos; ser do desenvolvimento e
9 Brincando com o título do filme brasileiro, de 1964, “Deus e o
Diabo na Terra do Sol”, direção de Glauber Rocha.
146
da aprendizagem sexual). Na formação continuada, é preciso re-
147
Referências
TRANSPOSIÇÕES
148
handicapped people. Tunbridge Wells: Costelo, 1983.
PINEL, Hiran. Apenas dois rapazes & uma educação social de rua; existencia-
lismo, educação e cinema. Vitória: Do Autor, 2004.
149
______. Deficiências e sexualidades no cinema; uma representação fenomeno-
TRANSPOSIÇÕES
SUPLICY, Marta et al. Sexo se aprende na escola. São Paulo: Olhos D’água,
1999.
150
Lugares e Fronteiras em Sexualidade e Educação
7
Para seguir-me,
o fundamental é não seguir-me.
Paulo Freire, 1985.
Introdução
151
canda explica à encabulada educadora: “pro-
TRANSPOSIÇÕES
152
As nossas experiências como educadora e educador da
153
e as experiências educacionais de Paulo Freire. Selecionamos as
TRANSPOSIÇÕES
154
pensamento pós-identitário na educação brasileira. Com uma
155
fundamentais para o próprio funcionamento das aprendizagens
TRANSPOSIÇÕES
156
Nesta perspectiva de problematização e de tensionamen-
157
risco”), bem como a visibilidade de um universo de minorias
TRANSPOSIÇÕES
sexuais mais plural que antes era silenciada tanto pelas práticas
perversas do preconceito, quanto pelos próprios movimentos
homossexuais. Louro (2004b), tendo como referências o pen-
samento de Judith Butler (2008), nos aponta que novos sujeitos
ganham visibilidade na cena pública. Não apenas as travestis e
transexuais se constituem em sujeitos políticos, mas também
outros sujeitos desviantes, excêntricos, estranhos se visibilizam
com suas performances de gênero que atravessam o masculino e
o feminino, o hetero e o homossexual.
Neste contexto, Louro (2004b) se pergunta sobre as pos-
sibilidades de uma prática pedagógica referenciada pela perspec-
tiva pós-identitária, já que o campo da educação seria tradicio-
nalmente normalizador e regulador dos sujeitos, com suas listas
de conteúdos, programas, projetos e avaliações de desempenho:
Nós, educadoras e educadores, geralmente
nos sentimos pouco à vontade quando somos
confrontados com ideias de provisoriedade,
precariedade, incerteza – tão recorrentes nos
discursos contemporâneos. Preferimos contar
com referências seguras, direções claras, metas
sólidas e inequívocas (LOURO, 2004b p. 41).
158
Tal pedagogia não pode ser reconhecida como
159
nos ajuda a vislumbrar um nomadismo no pensamento de
TRANSPOSIÇÕES
160
nossas sociedades latino-americanas, possuem uma cultura de
161
tas essenciais que nosso corpo, nossa existên-
TRANSPOSIÇÕES
162
certeza como convite à criação de outros caminhos para o exer-
163
tizado, no preestabelecido, na rotina em que
TRANSPOSIÇÕES
164
O primeiro relato se refere a uma educanda de EJA de
165
exercício do direito à educação que persiste na cultura escolar e
TRANSPOSIÇÕES
166
educador questiona se ela não teria outro nome que gostaria de
167
Referências
TRANSPOSIÇÕES
168
Disponível em: www.telefilme.net/sinopse-do-filme-13440_AMANDA-E-
PRECIADO, Beatriz. Multidões “queer”: notas para uma política dos “anor-
mais”. Disponível em: <www.intersexualite.org/MULTITUD_ES_”QUE-
ER”.pdf>. Acesso em 13 Jul. 2008.
169