Você está na página 1de 4

SÂO PAULO — JANEIRO DE 1963

ANO III — N." 15


LUTAMOS CONTRA

ano
TODAS AS FORMAS DE
TIRANIA, DE EXPLORA-
ÇÃO E DE OBSCURAN-
TISMO -^ E EM PROL DE
LIBERDADE E BEM-ESTAR
PARA TODOS.

íxperíência Social no
Unidades Ativas e não Rio Grande do Norte
Mentores do Povo Uma noticia que poderíamos con-
siderar alviçareira se não partisse do
Estado, publicada na "Ultima Hora''
Criíica-se, com razão, a alividad© no cenáxio da
vida pública brasileira dos políticos profissionais que, de 3 de dezemfcro, dá-nos conta de que
se pretende fazer no Rio Grande do
praticando lôda sorte de explorações, apresentam-se
como combatentes ardorosos da democracia, da liber- Norte uma experiência social de gran-
dade e dos direitos do povo. de alcance. 400 famílias de campone-
ses jerimuns vão ser localibadas, à ma-
Nada mais natural do que essa critica. Expli-
neira dos "kibutzes" de Israel, em
ca-se porém o fato de que se origina: é que a corren-
uma área de 20.050 hectares de terras
teza aas enchentes não sacode apenas os lírios das
desapropriadas pelo governador Alui-
ribanceiras — arrasta também toda sorte de detri-
sio Alves, existentes em. quatro muni-
tos acumulados nas margens nas épocas de vasantes... cípios do Estado do Rio Grande do
O nefasto período de compressão da ditadura Norte.
embaraçou d^irante largo tempo a atividade de no- Fizemos a ressalva em relação ao
vos valores sociais na vida pública do pais e, por Estado, não sõ por que no« mantemos
isso, o ranço da velha politicagem continua a im- fiéis ao princípio anarquista de que é
pregnar o ambiente ao serem arrombados os com- preciso organizar a vida social sem
partiménlos estanques do passado. Estado, baseada no acordo mútuo e na
Isso, entretanto, não pode nem deve obliterar o mútua solidariedade, mas ainda por-
sereno raciocínio. A mocidade, em certos setores, que, no Brasil principalmente, o Esta-
aí está a se expandir em demonslriações de energias do não prima pela responsabilidade de
novas, que hãode servir de seiva para o movimento seus membros em relação às coisas pú-
renovador do pais. blicas. Haja vista o caso do abasteci-
Neste momento de equação de valores so- mento. Os agambarcadores e interme-
ciais, de baíejamento de consciências: nao é diários na venda de gêneros alimenti-
mais concebível haver elementos (jque preíen- cios usam e abusam do descaramento
dam agir como mandantes do povo e» prin- de sonegar ao povo os alimentos de
cipalmenle, da classe Irabalhadora, apresentando-se que necessita, com o propósito osten-
como seus mentores e guias situados em postos de sivo de aumentar os preços de manei-
mando de agrupamentos partidários, a expedir instru- ra absurda e insultante. Partidas de
ções e palavras-de-ordem de cima para baixo, de di- arroz compradas com o dinheiro do
rigentes a dirigidos. povo rio Rio Grande do Sul, pelos
Não é possível, neste instante decisivo de ten- órgãoü controladores de preços do go-
tativas de reestruturação da vida nacional, qüe haja verno (COAPS E COFAPS), desapare-
os que tentem arvorar-se em pastores políticos para cem nas alfândegas e não chegam ao
conauzir o povo em panúrgico rebanho eu preten- seu destino.. Os produtores de leite
dam que se lhes empresteni os ombros à guisa de elevam, o preço de 30 para 55,00, e es-
esscada, para o salto às alturas dos cargos de re- tão agora exigindo mais 20 cruzeiros ..n^! í«""s a _ím«fy.„, fiel da situação presente: o povo trabalhador
presentação ou de mando. ' por litro, ameaçando vender as vacas suportando o peso do capitalismo expotiador. Onãe-7 AQUí — e vor
Não é admissível que se queirai continuar con- para cortei ou transformar todo o leite todo mundo, como? O Estado - servidor dos dovujiadores de todos
duzindo o povo como serviçal submisso, sempre à cm quei.ios c outros sub-produtos do os tipos - sujeüa o povo à exploração por meio de sua engrenagem
mercê dos manejos e conchavos de vivedores da leite, se não forem atendidos. ' Os opressiva. Aos reclamos de suas vitimas, responde com. perseguições-
política'|oú de~ pireiensos salvadores, aparecendo êie, mandí-^^n? de' segurança têm feiti, ,_om encarcera, martiriza, enforca, fuzila, executa usan,U> de MrJ>aros
o povo, em todas as ocasiões, como mero comparsa. que eles tenham sem,pre razão... requintes.
Aqueles (Jue verdadeiramente estejam identifi- O mesmo acontece com o feijão o
1. ^^"^:"'"- " P"^-"^itagem que acumula colossais fortunas por meio
cados com a causa popular devem agir COM O POVO acucar, a batata, as; verduras, tudo, de sórdidas especulações, vive a esüanjar milhões em orgiacas Hs-
e não PELO POVO, pretendendo talar em seu nome, enfim, absolutamente imprescindível tanças, exihidas em afrontosas reportag'ens ilastra,las nas revistas de
como seus condutores. E, assim procedendo, não ao alimento do povo. E ninguém to- grande tiragem.. Ainda agora, ao findar do ano (de privações emisl
poderão fugir ao imperalivo da hora que passa, que ma providências, ninguém se preo-
exige decisão para à luta, mantendo-se à margem cupa se o povo têm de apertar a bar- ZoS'" " T'"''/ """'''""'' "^'"^■'"'^"" '^^^"^niou milhões em lu-
xuosos reveillons" realizados em São Paulo, Guanabara, em. outras
da arena onde os acontecimentos se desenvolvem, riga e deixar os filhos morrer à min-
gua,. cidades incluindo uma ão poligono das .sêca.s,„ gòmente numa dessas
ditando normas de conduta. Ao contrário, sua parti- farras da Guanabara foram consumidas quinhentas garrafas de Wí.sfcy
cipação deverá ser de unidades ativas no todo, supori- Uma experiência como a que se — fermentado com,, o suo,< e o sangue dos trabalhadores.
lando diretamente todos os azares das pelejas, dando, pretende- fazer no Rio Grande do Nor-
ainda, o exemplo de atividade, de dedicação e de te seria miuito interessante, e serviria s-o/„.t*t'"/rt ''"™™ '"'"■ "^*^ '""""'"' " PO^^o trabalh^^dor se re-
honestidade. de incentivo à realização de outras solver a libertar-se da politicagem, da mistificação dos peleaol da
O momento exije pronunciamentos precisos, expefiências em m,atêria de coloniza- intrunce de lideres, dirigente, e Imessias de todas as cLs-cdctt
atitudes serenas, mas positivas. Está em jogo a ção, se não estivessem metidos nela dir-se a agir diretamente em defesa de seus direitos conspurcaZs
causa popular, a causa do povo brasileiro. Quem ao elementos que se vão aproveitar da lavrando a sociedade dos parasitas e tiranos, para estabelecer! orça-
boa fé dos camponeses para se lo- nizaçao social baseada no trabalho que proporcione bem-estar e liber-
povo pertença, por condição social, por sentimento
cupletarem dos resultados, deixando os dade a todos os que labutam positivamente.
ou por convicções, não pode, agora, que se canalizam
camponeses na miséria e na degrada-
energias potenciais em vésperas de manifestações ção de sempre.
dominadoras, manter-se na cômoda situação de es-
Isso aconteceu com as obras con-
pectador neutro, observando displicentemente a
tra a seca e aconílcce com todas as

Mercado Comum Europeu


atuação alheia.
grandes iniciativas que visam melho-
Cada um deve entrar com sua quota-parte de rar os destinos do povo. As garras da
atividade para a campanha popular, alijando os pes- politicagem administrativa avançam
cadores de águas-turvas da politicagem profissional, em, todas as realizações feitas em no-
associando-se à luta contra as explorações e prepo- me do povo e para o povo. E o que é
tências de que o povo é vítima, defendendo, ao pior, abusa-se do direito de falar em De ALDO GUERRA
mesmo tempo, a reivindicação de seus direitos me- j nome do povo, numa desbragada de-
nosprezados. I magogia e irresponsável exibição de No fato da criação do Mercado
os com,ponentes do MEC são o forta-
E' preciso que na vida brasileira milite um povo atitudes. ' Comum. Europeu temos que considerar
lecimento das estruturas sociais con-
consciente, constifuído de individualidades, cada qual dois aspectos primordiais: o econômi-
Não queremos dizer que todos se- tra as pregações bolchevistas. Os
sabendo o que quer e o que faz, agindo de acordo co, predominante, e o polítícoi. o Mer-
jam canalhas e ladrões,. Mas há uma Partidos Comunistas, agências repre-
com os ditames de sua consciência esclarecida, e não cado deriva, em última análise, das
tal cáfila de aventureiros que se me- sen-úativas do bolchevismo mioscovita,
uma coisa imprecisa emanada de massas incoloites, tentativas fracassadas de unir politi-
tem na política com fins desonestos e não estão mais encontrando bases
iludidas p0T( encenações aparatosas, embrulecidas pelo camente a Europa, tentativas que ti-
visando utilidades pessoais, que as para sua política de agitação nos seis
espírito de obediência passiva a chefes, a pastores veram início com o Conselho Europeu
boas intenções saem sempre prejudi- países do MEC (Alemanha, França,
políticos, a líderes transformados em messias sal- em Strasburg e pelos seis países com-
cadas e os aproveitadores dos dinhei- Itália, Bélgica, Holanda e Luxembur-
vadores, em homens providenciais, que bem podem, ponentes do MEC na organização de
ros públicos gozam de imunidades que go). Estão perdendo influência a
ser um Antônio Conselheiro ou um "fueher" de fa- uma União de Defesa Européia.
os tornam inatingíveis, continuando olhos vistos, há diminuição' do contin-
bricação nacional, um padre Cícero ou um "duce" a exibir-se na direção do seus automó- O aspecto político só atualmente gente eleitoral e partidário.
qualquer, fanatizadores de multidões de camisas pre- está vindo à tona, e o sucesso da ini-
veis caros e luxuosos enquanto o povo 3.° — A associação de outros paí-
tas, rubras, pardas ou verdes. ciativa podemos facilmente aquilatar,
passa fome e vive em favelas imundas.
Sempre, em qualquer circunstância e em qual- pelos crescentes e virulentos ataques ses previsto pelo tratado de Roma,
Existe uma verdadeira mafia de bloco soviético que o visam politi- CKtendeu a influência à Grécia (já
quer meio, a ação deverá ser do povo, agindo por organizada com; todos os requintes de camente pelas seguintes e principais associada), Turquia e países Africa-
si e não a reboque de elementos que surgem e agem, banditismo a manejar por trás dos razões: nos. O sentido político é que ainda
em mementos como este, com atitudes e intuito de bastidores os cordéis das marionetes
"duces" de nova espécie 1.'^ — Se o Mercado Comum Eu- está criando dificuldade de associação
políticas de nosso país. Esta é a ver- ropeu formar uma terceira força será a países de tradição política neutra,
Assim, o povo terá a demonstração direta e con- dade, dura e cruel, mas a verdade! de apoio ao bloco ocidental e nunca tais como Áustria, Suécia e Suiça.
vincente do seu próprio valor e da eficiência de sua Que é feito, por" exemplo, da repressão neutra. Há alguns meses, a política
ação, o que o levará a confiar cada vez mais no 4." — A admissão da Inglate^rra, '
;.o contrabando? Ninguém sabe. Fo- exterior soviética se baseava nas su- Noruega e Dinamarcaj resultará em
resultado de seus esforços. Destarte, libertar-se-à do ram nomeadas comissões de inquérito, postas , velhas e tradicionais rivalida- conseqüências imprevisíveis para a
espírito messiânico q^e o tem feito esperar de falsos Os jornais encheram colunas de noti- des européias e nacionalismos antagô- política mundial.
defensores a consecução de suas aspirações, que so- ciário empolgante, ameagou-se meio nicos entre países da Europa. Acei-
mente poderão ser, conse-guidas por uma atuação 5." — Barrado em seu avanço em
m;unido, fêzi-se estardalhaço em torno tava Kruschev que os alemães e fran-
consciente e ininterrupta. dircçãoi ao Atlântico, o bloco soviético
do caso e. . . ficou por isso mesmo.' ceses nunca superariam velhos ressen-
E, assim, o povo brasileiro, longe de poder ser está receando que o MEC se torne o
Pelo menos é o que parece. As forças timentos Admitia que os antagonis-
considerado como um paciente rebanho, à mercê do golpe mortal contra o bolchevismo,
ocultas do Sr. Jânio Quadros conti- mos econômijos, concorrência de que perderia sua atração de ímã para
capricho alheio, ou como um conglomerado amorfo nuam a agir por trás da sombra co- trusts, imperialismo europeus, jamais
que se arrasta penosamente na vida nacional, será, as novas nações africanas e asiáticas
mo se não houvesse i governo nesta coordenariam seus interesses econômi- e para as nações enfraquecidas da
ao contrário, um conjunto vivo de unidades operan- terra, nem justiça, nem vergonha. cos. Acreditava que a segunda guerra América Latina,.
tes, vigilantes sempre no patrocínio da própria causa, Aplaudimos a iniciativa do Sr. mundial tinha aberto abismos insupe-
sabendo defender.se diretamente, ,em qualquer emer- Por tudo isto o Mercado Comum
Alufsio Alves, mas duvidamos dos re- ráveis entre alemães e visinhos. Europeu está conistituindo um verda-
gncia, sem a intromissão interesseira de guias ou de sultados dos "kibufaes" jerimuns. E Hoje, o poderoso' sr. Khruchev deiro osso atravessando na garganta
mentores. duvidamos por que não acreditamos está desesperado ante o "perigo" de de Kruschev, que até o momento não
Com esse objetivo sempre agiram e contiiiuain na a;ão do Estado numa realização uma Europa politicamente unida que conseguiu safar-se da incômoda si-
a agir os anarquistas. de tão elevado sentirríento socialista. se. transforme em barreira para o tuação, a não ser com as clássicas fú-
EDGARD LEUENROTH avanço do imperialismo soviético. rias de agressividade verbal, que já
SOUZA iPASSOS j 2.° — A resultantes políticas para vão perdendo o efeito inicial.

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
Faculdade de Ciências e Letras de Assis
cm 10 11 2 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33
Pág. 2 — Janeiro de 1963 O LIBERTÁRIO ANO lil N.° 15

"Ícaros Novos" O PensamcBlB Vivo de Bakynine


Relembrando om Grande De ANTÔNIO DA COSTA
Há nalvez quarenta anog eu já era

Vulto do Anarquismo
um incondiciima] admirador de Pedro
Feíreira da Silva,, Seu estilo claro,
simples e conciso de um saber tols-
toiano era admirável na pregação
A Ditadura do Proletariado
doutrinária. O homem rqais rude de
campo entendia sua linguagem per- De TAVARES ÁCRATA.
No movimento anarquista não se alimenta o culto da personalidade.
Não criamos ídolos. Em nossa luta emancipadora há ^ma equivalência suassiva, lógica, cristalina. Era sim-
de valores em todas as atividades. ples e profunda como um Sermão da São contundentes, certeiras e se tornaram proféticas as criticas ãe
Montanha. Na harmonia da boa pro- Baku.nine a Mar.c quanto ao aspecto da -'ditadura do proletariado". Com,o
Entretanto, se não seguimos ídolos, não esquecemos aqueles que# em sa já se vislumbrava o poeta que ia é sabido e como bem, acentua Mário Eerreira dos Santos no livro "Análise
suas múltiplas modalidades, dedicaram à nossa causa toda a seiva de despertar. Ao saudar Prendas de Porr Dialética do Marxism.o", pág. 59: "A expressão ditadura do proletariado"
suas vidas: eneiígia, inteligência, rudes atividades, suportando toda tugal, com,o prelúdio, eu já augurava
sorte de penúrias e sacrifícios. não aparece de forma explicita no Manifesto Comunista.. Há, entretanto,
uma obra de mais vastio conteúdo uni- naquele documento expressões tais como "elevado o proletariado à posição
Relembramo-los como exemplos de personalidades cujas vidas po- versal Não me enganei. ''ícaros No- de classe governante", e "Estado, isto é, o proletariado organizado como
dem servir de estímulo para todos nós empenhados na mesma peleja vos", que vai sair, parece um livro classe í^overnante".
social. I fadado a transpor fronteiras, para ser
lido, admirado, discutido. É lírico, re- Foi somente depois da revolução locaria à cabeça do governo? Há
É o caso de Luiza Michel, cujo vulto se destaca dentre as efemé- belde, pi-cfundo, humano. Ti-az no de 1S4S, que Marx deu um significado aproximadamente uns 40 milhões de
rides deste mês. seu bojo a mensagem dos anseios da concreto á idéia da ''ditadura do pro- alemães. Poderíamos imaginar todos
hora presente, da hora em que a ciên- letai-iado"., Foi na "Guerra Civil em esses 40 milhões membros do governo?
Luiza Michel, filha de um advo- |
gado de ideais liberais, nasceu era cia dá cartas e Joga de mão, sendo, França", onde vem,os esta frase;
entretanto, a hora mais cruciante e O povo inteiro governará e
3833. "... Em vJz das exigências de refor-
trágica da humanidade. Da ciência não haverá governados. Consequen-
ma.. . ouviu-se o grito audaz de guer-
Cedo sentiu a tristeza e a miséria que depôs nas mãos de alguns loucos temente, não haverá governo, não
ra: Derrocada da burguesia e Ditadu- haverá. Estado; enquanto qtis se há.
do homemi do campo, a trabalhar dia o desCino de todos os seres humanos. ra do proletariado! "
e noite, como a cumprir um castigo, Da ciência que deu quase o poder de Estado haverá governados, haverá
Vejamos, pois, o que diz Bakuni- escravos.
à maneira do de Tantalo da lenda tudo resolver, mas também de tudo ne, isto em 1873, portanto quase cin-
grega, no inferno, a morrer de sede destruir. Sc o humanismo evoluisse qüenta anos antes da Revolução Rus- O dilema é resolvido facilmente
dentro de u^m rio, ou qual Prometeu, no coração e mente dos governantes na teoria marxista. Entendem, por
sa, que veio provar irrefutavelmente
preso à rocha do Caucaso, com um. paralelamente com a evolução da governo do povo, "um governo de itm
abutre a arrancar-lhe pedaços do fí- quanto o teórico de anarquismo estava
ciência, esta seria aproveitada em be- certo, no livro "Estatismo e Anar- pequeno número de representantes
gado cxpositio. que se refazia, ao mes- nefício de todos. Mas a ciência a ser- clejtos pelo povo". O sufrágio uni-
mo tempo que ia sendo devorado. quia", tomo V, Obras Completas, págs.
viço de uma casta, mais aumenta o 2SC, 287, versal — o direito de eleição por todo
Atira-se à luta pela liberdade. B seu pcder de escravisar e destruir os <■ povo dos representantes do povo e
"Tivemos oportunidade, muitas
enquanto sé dedica ao ensino, prega que lhes opõem tenaz resistência. Nes- dos gerentes do Estado — tal a última
vêzcs, de expressar nossa discordância
ta corrida desenfreada de apcrfeiçqa- para com as teorias de Dassale e Marx palavra dos marxistas, idêntica a da
mcnto de armas nucleares estão i^e- que recomendavam., se não como ideal, minoria dominante, tanto mais peri-

ANO NOVO... LUIZA JVIICHEL


tratados os postulados da nossa civi-
lização. Nemi as religiões procuram
conter esta loucura. , Pelo contrário,
fazem coro com os loucos que preten-
ao me/ios como objetivo principal,
mais próximo — a fundação do Esia-
do popular, que, segundo eles, não se-
ria mais do que "o proletariado ele-
gosa quanto que aparece como expres-
são da chamada vontade do povo.
Portanto, de qualquer modo que
Ano novo, vida nova — diz nmi se examine esta' questão, chegaremos
dem destruir a humanidade, A Igreja vado à posição de classe dominante".
provérbio i)Opular, c é realmente inte- desassombradamente' contra a brutal sempre ao mesmo resultado:"ao go-
e o Estado sempre estiveram irmana-
ressante como a ingenuidade da gente dominaqão de Xapoleão lll, perscgui- Perguntamos: se o proletariado verno da, imensa maioria das massas
dos no mesmo objetivo: manter o
simples, dele se compenetra ao ponto aoi- de quantos defendiam a liberdade. se converte em classe dominante, so- do povo pela minoria previlegiada".
povo sob seu jugo para defesa de seus
ãe julgar que com o início de um bre quem dominará? Ficará, pois, Porém., essa minoria, afirmam. Og mar-
Tal era a sua convicção que ante princípios.
novo ano a sua situação mudará, que outro i)roletariado, que será svlnneti- xistas, será composta ãe trabalhado-
a proposta de úm oficial do exército É isto que Fei-reira da Silva nos
os -nifiles que o afligem, no jyresente do a essa mesma domiitação, a esse res. Sim ãe antigos trabalhadores,
imperial, de fazê-la sua esposa, res- diz com arte c elegância de estilo, sem
cessarão, e que com- o primeÍ7-o dia novo Estada. quiçá, porém, desde que se convertam
pondeu: — Senhor, decidi não ca- lantejoulas ou palavras rebuscadas.
dos 365 a decorrer, a vida se tornará Onde existe o Estado haverá ine-
sar-me nunc.T. Tenho horror quase Cm. governantes ou representantes do
para êle uni mar de rosas. vitavelmente a dominação e, conse- povo, cessarão de ser trabalhadores e
instintivo aos liamies legais. Por ATIVIDADE LIBERTÁRIA NO
Os jwnalões diários costumam quentemente, a escravidão; o Estada considerarão o mundo trabalhador
puhlicar no dia primeiro do ano um. mais tentadora que seja a vossa si- RIO JANEIRO
tuação, não aspiro a ser chamada — sem escravidão — aberta ou masca- desde sua altura estatísta; não repre-
balanço de todos os males que fize- O grupo libertário que continua rada — é impossível. Eis a razão pela sentarão então o povo, mas a si pró-
a Senhora Generala.
ram, sofrer o povo, e terminar dese- animando a nossa obra na Guanaba- qtuil somos inimigos do Estado. prios e as suas pretensões de querer
jando que, com o novo ano comece Livre e só, continuou Luiza a
sua luta. ra, reúne-se semanalmente para deli- Que significa o iiroletariado ele- governar o povo.. Quem duvidar disto
para "a nossa querida pátria, tão me- berar sobre as atividades a desenvol- vado à posição de classe, dominante? desconhece a natureza humana.
recedora de melhor sorte, uma era de Sobrevem o movimento popular veru Seria o proletariado inteiro que se po-
felicidade". As revistas ilustradas de 1S71 que faz fugir o novo Governo, Porém, esses eleitos serão convic-
ocupam as suas páginas com. figuras tão inútil e tão tirano quanto o outro tos ardentes e aãe^nais socialistas
representando um. velho estropeado — CUJO instrumento caíra cm Sedan, nas científicos. Estas palavras "socialis-
o ano velho — com. uma hítgagiem.
às costas, com. a nota dos principais
fatos ocorridos durante o ano, cami-
nhando para um ahismo: e do outro
lado, surgindo por entre raios de luz,
um rechonchudo menino, todo saúde,
garras dOs exércitos prussianos que
ainda cercavam Paris.
Meio aturdida a princípio, recobra
ânimo a burguesia, e volta como
bêsta-fcra sedenta de sangue.
Porque somos anarquistas
Com freqüência, pessoas que se dizem e se consideram de
tas científicos" que se encontra rti-"
ccssantemente nas obras e discursos
ãos lassalianos e dos marxistas, pro-
vam- por si mesmas que' o chamado
Estado ão povo não será mais do que
uma administrarão bastante ãespótica
Lá está Luiza nas barricadas, ao pensamento avançado, têm demonstrado sua surpresa ao conhe-
que representa o ano novo, promete- lado do povo, que não nasceu, como das massas de povo por uma aristO'
dor ãe alegrias e felicidades. cer B 'ntimidade de nossa,^ Idéias, como se o proclamar-se anar- cracia nova e pouco numerosa dos
ela, nurri castelo medieval. Ferida, quista em meados do século XX fôsse tanto como ignorar a
Os empregados do Correio, coita- logo voltla à luta. É combatente e é verdaãeiros e pseuãos sábios. O povo
dos, não têem. mãos a medir para dar atual ccndição e situação geral do mundo. não é sábio, portanto, será inteira-
enfermeira. líxalta e conforta. Há anarquistas pot' conhecimento, há-os por sentimento e
conta da expedição dos cartões de 7n<einte eximidr> das preocupações go-
"boas-festas", portadores da expressão A Comuna de Paris, por fim, é alguns mesmo por nascimento. Mas uns e dutros, identificados vernamentais e será globalmente in-
vencida. pela comunidade do ideal, que, alojado no mais profundo e ínti-
de tudo quanto se pode desejar de hoin cludo no rebanho administrado. For-
a uma pessoa. Eis Luiza Michel perante os jui- mo do ser, produz reações idênticas diante das injustiças que piosa libertação!
E não deixa de ser curiosa a ati- zes a defender-se com dignidade e va- nos riodeiam. Somos a representação viva de uma força que não
tude popular, quando vemos no dia lentia',. Condenada a nove anos de transige, que não vacila, ainda que transigência e vacilação se- Os marxistas se dão conta der.sa
31 os cafés, bares e, casas de diversões desterro na Nova Caledônia, no Ocea- jam comuns no viver de cada dia. contradição e reconhecendo que ti-m,
conservarem-se a noite toda abertos, no Pacifico, ensina as crianças, cura Scmos anarquistas porque nos negamos a admitir, e muito governo ãe sábios — o mais pesado,
sempre repletos de povo; as ruas e os enfermos e anima os tímidos. menos a acatar, as mentiras convencionais com que se' humilha o mais ultrajante e o mais ãespresivel
praças com. um, movimenta extraordi- Inspira-se Victor Hugo cm defesa a humanidade. do mundo — será, apesar de todas as
nário, e tildo pOr que? Porque na- da heroina, e faz-lhe um poema. Somos anarquistas — mesmo admitindo não ser c anar- formas democráticas, uma verdadeira
quela noite fecha-se o ciclo dos dias ditadura, se consolam com, o pensa-
Uma vêz livre, prossegue na luta. quismo uma filosofia ou simplesmente uma atitude perante a
que o convencionalismo chamou ano. mento de que essa ditadura será pro-
Está no cárcere, condenada a seis 'fià.a — e como tais, capazes de nos colocarmos no meio da rua
Aquela gente toda espera que com. o visórit^ e curta. Dizem que sua única
anos, quando morre o poeta. Retri- a gritar a nossa verdade e proclamar nossa persistente indigna-
soar d/is 12 horas terminará para ela preocupação e o único objetivo será
bui-lhe o poema, com outro poema,i. ção contra um mundo prostituído pela covardia de um lado e o
toda sorte ãe mal-estar. . . Isso' ou pre- mais desenfreado egoísmo do outro. educar, elevar o povo, tanto desde o
No Havre, certa vêz, quando fa- ponto de vista econômico como do po-
texto para um- desabafo'. lava a operários foi ferida a tiros. Somos anarquistas porque, sem defendermos a delinqüên-
Entretanto, na situação atual, lítico, a um nível tal que todo. governo
Não permitiu que os operários casti- cia, desprezamos a autoridade e porque através do saceídoíe
desejar aos que trabalham, com o co- se torne rapidamente supérfluo, e o
gassem o agressor, e no tribunal, ante vemos o farsante embrutecedor das conciências. Porque nã= Estado, perdesse todo seti caráter polí-
meço ãe um novo ano, composto de os juizes, ainda o defendeu. | aceitamos o domínio de Deus punidor das criaturas feitas à sua
dias iguais aos demais, felicidades, 1 tico, isto ê, ãe dominação, se transfor-
Em Marselha, duzentas miil pes- semelhança; porque negamos a legalidade ao Estado; pòrciue, m,ará em, uma organização absoluta-
bem-estar, é desejar bom apetite a 1 soas levam Luiza Michel, aos 71 anos diante tío "herói" adornado de cruzes e medalhas, só vemos
quem, está para arrebentar de fome e \ mente livre quanto dos interesses eco-
de idade, ao cemitério onde lhe vão sangue, dor e lágrimas. Porque desprezamos o conceito da pátria nômicos das comunas.
sem Um pedaço de pão para a saciar. | deixar o corpo cansado, porque sua na acepção da palavra usualmente conhecida. Para o anarquista, a
Desejamos, é verdade, não só hoje, \ personalidade vive em nossa mente aátria está onde quer que haja um ser humano com problemas Temos aqui uma contradição fla-
como todos os dias, em todos os mo- animando-nos na luta pela liberdade. iguais aos seUs; julgamos que patriotas, no sentido vulgar, são só grante. Se o Estado fôsse verãadeira-
mentos e onde quer que estejamos, que Faleceu Luiza Michel, a 10 de ja- os que não servem para outra coisa. mente popular., que necessidade have-
o povo, esse povo trabalhador que tu- ' neiro de 1905. Somes anarquistas porque sentimos a dor alheia em nossa ria ãe aboli-lo? E se o governo do
ão produz e nad<í goza, se instrua, Deixou novelas e poesias, um li- própria caíne; porque estareinos sempre ao lado do débil, do povo é indispensável para a emanci-
crie uma consciência necessária para vro sobre a Comuna de Paris e as suas que sofre e se afli.ge, do que chora e busca consolo. pação real do povo, como é que se
compreender que não deve esperar do memórias. Porque não cremos em seres proféticos, nem em governantes atrevem- a denominá-lo popular?
tempo as comodidades a que têm di- dominadores, nem em juizes que sentenciam seus semelhantes,
reito, mas lutar e sempre para as con-
nem nos deputados fabricantes das leis do Estado opressor, e
quistar. E não só o desejamos, mas
BIBLIOGRAFIA LIBERTÁRIA porque consideramos a diplomacia uma chantagem — instru-
agiremos sempre, e o melhor possí-
vel, para que tal fim seja alcançado. Em nosso número anterior, regis-
mento da divisão dos pKJvos. Porque nos julgam pequenos aque-
les que se julgam grandes.
Viver em Paz
Não será com o terminar de um, tramos as atividades editoriais da Edi-
ano e o entrar de outro igiuil que con- Porque nos negamos a ser rebanho... E porque continua- Invocam-se pacíficas idéias
tora Mundo Livre,. mos^ crendo no homem, no homem, com suas misérias/ suas
seguiremos a nossa' liberdade. Nós, os De existência metodizada bem Na falta de quem anda a governar,
trabalhadores, teremos também, o nos- angústias, surpreendido de sua própria obra, mas que é o prin- E tais nações potentes estão cheias
recente, já figura nas mostras das li- cípio e o fim, a peça fundamental de tudo o que nos rodeia.
so "ano bom.", as nossas "boas-fes- vrarias com dois bons livros lançados De engenhos novos prontos a estourar.
tas, mas só depois e à custa de m.v,ita Cremos nele porque estamos convencidos de que chegará o dia
em edições quase que seguidas.
luta. em que sua mente se ilumine é seu coração se abra a todas as É bom, que Os hormens falem, de bon-
Após o livro de Edgart Rodrigues bondades, para buscar no Ccuninho da fraternidade o verdadeiro
Trabalhadores, como vos podgre- — "O Retrato da Ditadura Portugue- [daãe,
m.os deseiar dias felizes, guando es- rumo de sua vida. Mas há ãe haver amor nos corações;
sa", apareceu, em segunda edição, a
tais sujeitos aos possuidores das fá- Esta fé no homem e a bonade do nosso ideal é que nos Não podem a soberba e a vaidade
excelente obra do nosso saudoso com-
bricas, dos campos, de todos os meios impele a ser anarquistas. Assim abertamente ANARQUISTAS, Gerar sossego e paz entre as nações.
panheiro José Oiticica — "O Anar-
de produção? Sem nada que se possa prestar a falsas interpretações.
quismo ao Alcance de Todos".
Sereis felizes, mas somente quan- Queremos que os pobres de espírito, e os brandos, os dés- Com fonne de m,ilhões de criaturas
Está agora a Editora Mundo Li-
do na Terra não existirem, ricos e po- potas e os malvados, não abriguem dúvidas sôbíre o que somos E tòãa a sorte de mortais agruras.
vre empenhada na edição do livro
bres, quando o hom,em não estiver su- "Anarquismo — Roteiro da Libertii- e o que desejamos. Também não nos importa a ânsia dos "fa- Que a opressão social inda nos traz;
jeito ao homem. Para conseguirmos ção Social", antologia de doutrina, zedores" de quinqualherias que tentam converter a palavra que
essa felicidade, devemos lutar constan- cultura, história e informações de Bd- encerra nosso ideal em adjetivo degradante. Com, almas torturadas pelo medo
temente contra a atual organização gard Leuenroth. Anarquia é o invenso da atualidade que se nos depara, vWe- De bélicos inventos em, segredo,
social, causa de tantos males. Sobre tudo que se relacionar com zas e egoismo glrosseiros, acompanhados pelo terror de sucumbir Como é que pode alguévi viver em
Trabalhemos, pois, para a con- a Editora Mundo Livre dirigir-se a: pela mais vil das mortes: o suicídio coletivo. Enquanto que [pazf
quista ão nosso ano bom. — a revo- Ester Redes, Caixa Postal 1 (Agên- Anarquia é vida, porque Anarquismo é o futuro.
lução social. cia da Lapa) — Rio de Janeiro — GUILARTE Pedro Ferreira da Silva
PALMIRO LEAL Guanabara.
(Do livro "ícaros novos", a sair.)

unesp^ CZedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

10 11 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33
ANO III — N.° 15 O LIBERTÁRIO Pág. 3 — Janeiro de 1963

O Heroísmo do Trabailio
Militantes Anarquistas na Na realidade, isto de trabalhar
dever ser um ato de heroísmo.. Primi- A Religião da Violência
Revolução Mexicana
tivamente, deveria ser saudável e ca-
valheiresco; umi cunho de honra para I III B ULTIMO
o homem! Em 1929, na Conferência contra a da regressão moral e social que acom-
Mas apareceu o primeiro amo i Guerra de Gases Letais, realizada na panha as tendências guerreiras. Cair
A tendência social <3'a revolução mexicana, de 1910, no que ela teve d^ sôbie a terra, trazendo consigo o sis- cidade germânica de Francfort, com- e recair é muito mais fácil que levan-
social, foi uma conseqtiência da propaganda libertaria desenvolvida durante, tema de exploração e o seu séquito petente químico alemão declarou ser tar-se e elevar-se. E há ainda indiví-
inuitos ahos pelos anarquistas do México. Entre outros elementos de valor burocrático estatal, e o tíabalho tor- mais inquieíante numa guerra total, duos e povos que demonstram suas
combativo que atuaram, diretamente de aiinas na m.ão, ao lado do povo nou-se uma maldição. não como se poderia crer, o emprego preferências pela regressão! . . . Com
coni/ra a ditadura do general Porfirio Diaz, os nornes de Praxedes O. Ouer- Senão, olhai esse operário que dos mais refinados meios de morte e efeito, para vencer a guerra e a vio-
rero, Ricardo Flores Magon e Librado Rihera tornaram-se símbolos da luta passa sujo, andrajoso, curvado sob o destruição, mas sim o fato ainda mais lência, deve-se não apenas, para não
libertária do México, não apenas pelo seu ardor revolucionário em prol peso da miséria, com os pés e as mãos detestável, e que o homem moderno já citar senão o professor Duprat, libe-
da libertação do povo, mas através de artigos e conferências, de agitações sangrentas, amarrado pela lei e pelo considera normal, — seja lá isso sob rar-se intelectual, moral e pràtica-
na iiraça pública, e dando vida ao jornal "Regeneracion", que ainda hoje patrão. Que fêz de mal para assim o comando de qual fôr autoridade ofi- miente de um "detenninismo social"
se ptthlicOK .sofrer? Ajj.enas isto: trabalhar, pro- cial, — de envenenar aos milhões seus profundamente enraizado e que se
duzir dia e noite. semelhantes, queimando-os e extermi- encontra dentro e fora de cada ser
Extraímos de um calendário da Vedes essa fábrica? Que se pas- nando-os. Segundo este sábio, já se
SIA (Sociedade Internacional Anar- humano, mas é preciso criar um
sará lá dentro? Que drama se agitii pode agora verificar que esta mentali- NOVO DETERMINISMO SOCIAL,
quista", a seg-uinte nota sobre a atua- entre suas paredes elegantes, mas dade coletiva assassina não deixou de
ção dos anarquistas na revolução me- determinismo da liberdade individual
cruéis? Espreitai. Ali, ao pé da má- exercer permjciosa influência na cri- e coletiva — determinismo que, ba-
xicana: quina, a pobre mãe proletária chora, minalidade individual em tempo de seado tanto na responsabilidade indi-
"1910 — 14 — No dia 14 de ãe- enquanto se lhe corta o coração por paz ou em tempo dito pacífico. Com vidual quanto na social, deve ser de-
zembro, em um combate travado con- não poder ver e dar de mamar a seu efeito, os gases letais não provêm se- senvolvido a tal ponto que, finalmente,
tra as forças do governo, encontrou filho, que emudece de frio> no barraco, não de espíritos envenenados e a guei--tornando-se por assim dizer instinti-
a mprte esse homemi generoso, inquie- sem abrigo. Ali corre, de um lado ra bacteriológica, de mentalidade con- vo, triunfe por sobre todas as tradi-
to, pensamento poderoso e personali- para outro, o garoto aprendiz, atemo- ,:'íimiinada. A sociedade moderna fun- cionais resistências^.
dade transbordante', que se chamou rizado pelos insultos do capataz.. damentalmente não é senão uma for- Isso significa que também do
praxedes G. Guerrero. Entretanto, deste cômodo salão e ma sutilíssima de barbárie que nosso lado precisamos de vigorosas
■Ricardo Flores Mag-on, Praxedes olhando como um abutre, o patrão di- contorna as loucuras individuais e personalidades; todavia, com forças
G. Guen-ero e Liibrado Ribera foram rige os escravos com o sádico prazer coletivas, confundindo-se freqüente- de natui-eza toda especial. Realmente,
artífices do movimento obreiro e anar- de escravagista. Daqui, êle vigia e mente com, elas. Desse modo, a guer- segundo esta concepção, não são for-
quista no México, os que prepararam saboreia babosamente a miséria da ra totial ameaça destruir não apenas tes senão aqueles que, tendo cada vêz
a consciência do povo mexicano para carne dolorida,. Êle não sabe que ca- toda a vei-dadeira civilização humana, menos necessidade da i violência e da
a Revolução de 1910. Ê preciso ter da um destes seres têm um coração mas também a vida mesma de deze- guerra, chegam finalmente a prescin-
em conta os elementos primários e necessidades a satisfazer; ou finge nas de milhões de seres humanos, sem dir delas. Não s,ão fortes senão os
que interviram de forma ativa naquele não saber.. . contar a exterminação infernal das que, tendo já vencido neles a guerra
gesto glorioso, para compreender quão Isto, sim, que não lhe venham plantas e dos animais. . . e a violência, souberam, tanto no pla-
grande foi a obra da' criação de cons-
com reclamações nem exigências de Nada mais difícil que romper com no politico-econômico quanto no pla-
ciência e de rebeldia realizada por melhores condições e melhor salário, todos esses métodos e tendências. Isso no geral da civilização, se subtraírem
esses homens, nos quais se reunia o
por que não o admitirá e os ameaçará exige, como já começaram a reconhe- às sugestões dos podercs oficiais. Não
verbo, o pensamento e a ação..
de pôr na rua. Se são muitos, e amea- cer, muito mais sacrifício, coragem, são fortes senão aqueles que, partici-
A Revolução do México, o grito
çam com uma greve, dará ordens às iniciativa, e espírito criador do que as
pando de nova consciência universal,
de "Tierra y Libertad" que agrupou
autoridades e estas farão com que se- próprias atividades guerreiras. Com
se apresentam inquebrantáveis diante
os operários e camponeses ao redor de
jam respeitados os seus direitos le-' efeito, "a paz é ALGO DE NOVO e é das exigências presunçosas do Estado,
Flores Magon e de Praxedes Guerrero; gais.
Praxedes G. Guerreiro necessário ganhá-la"'. A violência e a este Moloch Moderno, e inacessíveis à
a cooperação dos homens que inter- ( E como o Estado é o seu único guerra são. costumes fundamental- toda e qualquer "nacionalização ãe
nacionalmente afluiram ao M.éxico
Spartaco. Seu nome fica indissoluvel- I empregado bem. pago, da fábrica sai- mente arraigados na alma humana. consciências". Não são forces senão
para levar seu concurso ao povo em
mente ao lado de todos os que têm rão os insurretos para a cadeia, para Somos arrastados a isso não apenas aqueles que, numa sociedade baseada
armas — como em 1936, na Espanha
sido os forjadores de uma nova fé, de o exílio ou o fuzilamento. E sempre política e socialmente, mas também principalmente no puro m^édo animal
— ocupa seu lu.gar na história das re-
uma nova esperança e de uma nova ficará no arquivo policial um pro- moralmente e, com muita freqüência, e na desconfiança do próximo, se dis-
voluções mundiais.
aurora para a humanidade''. cesso e a imprensa reacionária os ta- inconscientemente. tingam dos demais por uma consciên-
Praxedes Guerrero, figura pura e
xará de extremistas perigosos, corro- cia que renova o universo e pelo
ardente de revolucionário, personali- Ricardo Flores Magon morreu nu- Na "Encyclopaedia LTniversalis
dade generosa e de coração ardente, sivos à sociedade. COMPLETO DESDÉM AO MEDO, Não
ma prisão dOs Estados Unidos, em Mundaneum", dirigida por Paul Otlet,
Não é um heroísmo trabalhar nes- são fortes senão aqueles que, ao invés
soube morrer como herói, com a conseqüência de sua atuação na Re- da cidade de Bruxelas, se verifica que
tas condições? de escravizarem os outros, sabem do-
grandeza e serenidade dignas de um volução Mexicana, de 1910. durante 3357 anos, começando-se lá
Ao ver-te, patrão hipócrita, tu minar e governar a si próprios; e que,
por volta de 1500 anos antes de Cristo olhando face à face a verdade, têm
que tratas de preguiçosos e perversos e indoi até o fim do século dezenove,
aos teus operários, eu te desafio a que até a coragem de reconhecer decidida-
HOUVE 3130 ANOS DE GUERRA mente as qualidades morais dos ho-
vivas uma semana na choça em que

ítos do Propósito do Coocílio


CONTRA 227 ANOS DE . PAZ! . . . mens e dos fenômenos sociais que, em
nós vivemos e que suportes a desnudez Uma proporção aproximadamente de princípio, combatem.
e as chagas do nosso corpo, e que um ano dei paz para cada treze anos
vejas teus filhos na ignomínia, cheios de guerra!...
o Concilio Ecumênico Segundo, aprovou uma mensagem ao mundo De B. DE LIGTH
de dividas, de temores, de ignorância
que, além de se evidenciar pelo seu teológico primarismo, um amon- como os nossos. E tua mulher esma- Compreende-se, pois, a razão pela
io^Ao de mentiras e hipocrisia. A própria expressão "concilio ecumê- gada pelo desespero que a embrutece qual é muito mais fácil ceder-se à vio-
nico" já éuma convencional mentira, pois que aquíeles que i^nparcial- e a consome. lência do que opor-se a ela. Não fosse
isso outra coisa senão a causa mesma OS CUP>.SOS DO CENTRO DE
mente estão acompanhando o andamiento do Concilio — que, diga-se Sim, eu te dou isso por uma se- ESTUDOS JOSÉ OITICICA
de passagem, até agora apenas tem marcado passo — já terão notado mana, nada miais,, e verás, veretaos se
que está longe de ser ecumênico. serás tão estoico e tão "cristão" para Continua com regularidade a ati-
CENTRO DE CULTURA SOCIAL vidade cultural deste centro do Rio de
Logo nas primeiras linhas, a men- \que está acontecendo nog países tota- aguentares caladamente o teu destino,
sagem afirma: "A Igreja não nasceu litários, como, por exemplo, em Por- como queres que agüentemos o nosso! Janeiro, com sede à rua Almirante
Não sofre solução de continuidade Barroso, 6, sala IIOL
para dominar "i. Ora, desde o impera- tugal e na Espanha, com a coadjura- a obra desta organização de S. Paulo
dor Constantino (cognominado o ção da Igreja. De resto, com a "luz P. SANCHEZ Presentemente, prossegue o curso
dedicada ao trabalho de divulgação da
Grande, mas que deveria ter sido de- da fé", da íé religiosa, ê claro, pouco, que têm por tema "Freud e a Análise
cultura nos meios populares.
nominado de o Sanguinário) no século üu nada se pode fazer cni beneficio dos Sonios'', a cargo do dr. Newton
Todos os sábados,à noite, em sua Ferreira Josettí.
IV, até ao papa Pio IX, isto é, até há de uma mais' ampla cultura, salvo se
um século atrás, a Igreja sempre se se trata de uma falsa cultura.
ADMINISTRAÇÃO DE sede, à rua Rubino de Oliveira, 85, no As aulas são realizadas na sede
bairro do Brás, realizamrse conferên- do Centro, às sextas-feiras, das 20 ho-
preocupou, por todos Os meios, de do- Mais adiante a mensagem diz-nos
m.inar. E dom,inou, não apenas po-
"O LIBERTÁRIO" cias, palestras comentadas e debateS' ras em, diante, onde as inscrições po-
que a Igreja não possui riquezas e de- sobre temas os mais diversos.
vos, como também, príncipes, reis e derão ser feitas.
pois alude à "(orça do Espírito Santo Com. o intuito de trazer os amigos
imperadores. E não há ninguém, por prometido por Jesus à sua Igreja". de "O Libertário" ao par de sua vid^i
m,ais erudito que seja, capaz de, ho- A afirmação de que a Igreja não administraliva, a exem.plo do que vi-
nestamente, contestar essas afirma-
ções. Os comprovantes da História,
nesse sentido, são mjuitios, infeliz-
nxente.
é dona de riquezas, implica na preten-
Qão de querer-se tapar o sol com uma
peneira, como se» diz vulgarmente.
Quanto ao "Espirito Santo", seja-
mos fazendo, publicamos a seguir a
relação^ das contribuições recebidas
até o inicio da preriaração deste nú-
mero, desde a saída do número ante-
ossa Estante
E a niensagem prossegue: me permitido, por uma associação de rior.
"Por isso, e à espera de que a luz idéias, contar um caso que, se não é
da fé possa resplandecer com maior verdadeiro, não está mal imaginado. Reiteramos o pedido para que nos "LA REVOLUCION" - Gustav Landauer Cr$ 380 00
claridade nos trabalhos do Concilio, Era uma vêz um par de crianças, seja comunicada prontamente «, falta "REQUIEM POR UN CAMPESINO" - Ramon Sender Cr$ SSO^O
acreditamos na realidade de uma re- irmão e irmã, que brincava com, muito i de registro de alguma contribuição NIKI O LA HIS.TÓRIA DE UN PERRO" — Tibor Dery Cr$ 350,00
novação espiritual, que suscitará um alaridd' cm um dos compartimentos da que porventura não haja sido, regis- 'A FOME EM PORTUGAL" - Edgart Rodrigues .... Cr$ 380,00
feliz impulso para favorecer os bens casa em que residia. Nisto a, vovòzi- trada. "O RETRATO DA DITADURA PORTUGUESA" --
humanos, ou sejam, Os inventos da nha aproxima-se e, admoestando-os, Edagart Rodrigues Cj-6 350 00
ciência, os progressos da, arte, da téc- pede-lhes que não façam tanto baru- CONTRIBUIÇÕES PARA "DELEGACIA A UM CONGRESSO SINDICAL"" —
nica, bem como uma difusão mais lho porque a mamãczinha estava no "O LIBERTÁRIO" - N.° 15 Alexandre Vieira , ■ cr$ 200 00
ampla da cultura". quartOi contíguo aguardando a chega- "EN MÉDIO DE LOS ENCOMBROS" — Conrado Liscano Cr$ 200 00
A "lUz da fé", é como a dos va- da da cegonha que lhes vêm trazer RIO DE JANEIRO Diversos, "UNA TRACION DE STALIN" — J. Garcia Pradas .... CrS 100.00
galumes: s6 "resplandece" no escuro. mais um irmãozinho. Depois que a 2.400; total 2.400,00. "SOLUÇÃO ANARQUISTA PARA A QUESTÃO SO
Por isso eu duvido de que o Concilio velhinha se retirou a menina teria CIAL" — E. Malatesta Cr$ 50,00
venha a íazei" algo pela renovação es- SAO PAULO - Lista do Germinal, "LAS INGÊNUAS — Conrado Rodrigues ........ Cr$ 50 00
perguntado ao irmão: "Será que a 2,, 500; Tesoro, l.OOO; Viotti, 1.000; An-
piritual da humanidade. O melhor vovó .fiinda acredita nessa história da "PASIONES CAMPERAS" — Conrado Rodrigues Cr$ 5o!oO
que a Igreja têm a fazer, neste sen- gel, 1.500; Panzarini, 1.000; Eurico, "MI PRIMER PLEITO" — Conrado Rodrigues Cr$ 50 00
cegonha ? " 1.000; Passes, 1.000; Planas, 2.000;
tido, é não atrapalhar. E não atra- E agora, por uma associação de i "PASION Y MUERTE DE LOS ESPANOLES EM FRAN-
Rojo, 500; Padilha, 500 -|- 500; Pedro, CIA" — Federica Montseny Cr$ 50 Of^
palhando, já está fazendo qualquer idéias, conforme já disse, eu pergun- 500; A. Soares, ÕOO; Gil, 500: Colli, "NÁUFRAGOS" — Adriano Valle Cr$ 50 00
coisa em favor dos bens humanos, por to: será que a Igreja ainda crê na
paradoai que esta afii-mação possa 500; Ahbot, 460; Teísta do Virgílio, "LA VOLUNTAD DEL PODER" — Rodolpho Rocker .. Cr$ 50,00
existência do Espirito- Santo, com 450; Raya, 200 -f 200; Eduardo, 100;
parecer. E se digo isto, é porque, his- pomba e tudo, ou pretende tomar-nos "EL TERROR BOLCHEVIQUE NA BULGÁRIA" —
tòricamenite falando, a Igreja sempre Dias, 200; Linhares, 160; Cuberos, F. O. R. A Cr$ 50,00
por seus netinhos? Além de nossa 200; Castro, 100; Florencio, 300; Pa-
perseguiu os inventores e os cientis- mestra ,também pretende ser , nossa "O TEATRO RUSSO" — Conferência de José Oiücica • . Cr$ 20,00
tas. A. D. White, quc foi reitor e ( lomar, 200; Lemos, 200; Fontana, 100;
mãe. Por que, pois, não pode tam- Montero, 100; Sole, 100; German, 200;
professor de História da Universidade bém ser nossa avó? Em termos de Já se encontra nas livrarias, em nova edição da Editora "NOVO
Dantas, 100; Castro, 270; Andreotti,
de Corneil, escreveu um notável livro, teologia, tudo é possível... MUNDO", o livro de José Oiticica "A DOUTRINA ANARQUISTA AO
desde há muito tempo esgotado, dedi- 200; Nunes, 110; M. Valverde, 200; ALCANCE DE TODOS".
E os inocentes úteis da Igreja
A. Gomes, 200; Castro, 200; Alfredo,
cado especialmente a esse assunto, (comio, por eixemplo, o sr. Gustavo
200; Salvador, 200; A. Martinez, 300.
que têm por título: "História da Luta Corção, que tanto implica com a bur- Remetemos pelo, correio, pedidos, acompanhados de valores, para
Toaal 13.950,00.
entre a Ciência e a Teologia". Pare- rice de certos comunistas) que nos Editora "Mundo Livre" — Caixa Postal, 1 — (Agência da Lapa) —
ce-me que, infelizmente, esse livro dizem sobre esse assunto? BAGÉ - (RGS) - H,. Gomes, 500; Rio de Janeiro.
não têm sido mais editado. Quanto '< Past. Sobrinho, 1.500; Amigo Bancá-
aos progressos da arte, haja vistas' ao ' OSVALDO SALGUEIRO rio, 100; P. Pereira, 200; Doraci, 300; "SOLUÇÃO ANARQUISTA PARA A QUESTÃO SOCIAL"
Amigo da causa, 50; Aparício, 50.
Total; 2.700,00. Brochura de 40 páginas, reunindo os seguintes capítulos, além da
Os anarquistas propõemrse a substituir a organização autori- biografia db aulor —■ Errico Malatesta:
tária pela organização voluntária, pelo livre contrato expontanea- Venda de Livros e Folhetos 2.275,00 Origem dos males sociais — Fins e formas da sociedade — O
mente formado e perpetuamente dissoluvcl, ligando os homens apenas Anarquismo — Socialismo e Anarquismo — O Anarquismo
pela comunidade de interesses, pela riciprocidaãe de conveniências, Total das Contribuições ... 21.325,00 e a Moral — lO emptêgo da Violência — Vias e Meios —
das afinidades e das simpatias. A luía econômica — A luta política — Que quererá e (juenv
EMILE GAUTIEP^ Saldo anterior 6.250,00 quererá a próxima transformação? — Conclusão.
Preço: Cr$ 40/00. Pedidos ao diretor do jornal, para a Caixa Postal
— TOTAL GERAL 27.575,00 5739 — São Paulo.

unesp^ CZedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa

cm 10 11 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33
Ca leídoscopío
Estávamos na revolução d© 1924. E enquanto o general Isidoro
Dias Lopes ímandava disparar alguns tiros de canhão na direção dos
chamados legalistas, que já se encontravam nos arrabaldes desta
Capital, alguns intelectuais casualmente achavam-se reunidos, em
visita à ilustre escritora Maria Lacerda de Moura, no Jardim
O IIBERTÁRie
SÃO PAULO — JANEIRO DE 1963 ANO lii — N.*» 15
América, entre os quais encontrava-se o poeta Aiisteu Seixas.
Trocavam-se idéias sobre política e a certa altura o sr. Seixas
perguntou a Maria Lacerda qual a forma de governo que ela achava
preferível. Eis a resposta, isto é, o diálogo que se feítabeleceu mais ou
menos com as seguintes palavras:
—' Para mim, a melhor forma de
governo é não existir governo algum.
rei. . . um tanto penoso; mas logo
houve' uma saída.
mOIflMENTO OPERÁRIO
— Como assim? Isso _é um para- Simiplício (não o do circo), um
doxo! Seria como na Rússia. dos presentes, até então permaneceu
— Como na Rússia, não. Eu dis- As funções admánistrativas das orgauizações proletárias não têm nada nunciar Os inconvenientes e os peri-
em um dos cantos da sala, encolhido
se nfio existir governo algum. E na de comum, nada de comparável podem ter com os cargos de mando das gos que, como os atos têm evidencia-
no fundo de uma poltrona e mudo associações de outro caráter.
Rússia existe Um governo. como um siri, porque Simplício gosta do, acarreta à vida associativa do oi>e-
— Mas como seria possível uma A vida sindical operária deve ser uma escola de solidariedade, onde rariado concederem-se ou permitirem-
mais de ouvir do que de falar. Maria
organização social sem governo, sem todas as deliberações sejam, tomadas e postas em prática por concenso geral se atribuições de mando a um ou à
Lacerda dirigiu-se a êle e pediu-lhe
garantias pessoais, sem policia, evi- e nunca nela vontade, de um ou de uns tantos indivíduos. vários agremiados, isoladamente ou
aue dissesse qualquer coisa, que se
dentemente? Assim, pOr exemplo, en manifestasse sobre o assunto em ques- constituídos em diretoriai.
saio só, a estias horas (era mais ou tão. Então Simplício, depois de re- Para se alcançar esse objetivo, i retores cujas atividades contrastam Dependendo a vitalidade da ação
menos meia-noite) daqui para minha fletir um instante, disse que as poií- desde que os libertários começaram a com a tendência da coletividade, sindical proletária de cada um e do
casa e, de repe'nte, uirl ladrão cerca-me cias não ajudam nada, que„ pelo con- desenvolver a sua atividade na vida | O sindicato operário deve ser um conjunto de seus componentes, ,é um
na rua e me obriga a entregar-lhe o, associativa dos obreiros, têm procura- organismo de ação, de luta, da qual erro, exuberantemente provado, colo-
tário, os policiais muitas vezes, ainda
meu relógio. E como não há policia- do influir no sentido de serem substi- devem participar todos os seus mem- car um ou mais associados em situa-
procuram, mancomunar-se com os la-
mento... o que é que a senhora me tuídas as diretorias investidas de man- bros, sem, o que qualquer atividade ção de poderem, agir discricionària-
drões para depois compartilhar do
diz a isto? datos autoritários e dispondo, muitas será nula. mciite, de maneira autoritária, ferin-
roubo. Que vivemos em uma organi-
vezes, de aitíribuições discricionárias,
Veio uma explicação um tanto zação social do salve-se quem pvider e Depositar, pois, diretamente, por do, assim, os princípios básicos de
em comissões administrativas, encar-
transcendental, para não dizer vaga. sob o lema egoísta de cada um por si efeito de cargos com atribuições de orientação sindicalista de ação direta,
regadas de pôr em; execução as resolu-
Não satisfez a ninguém. Então deu- e Deus por todos., Mas que Deus está mando ou de prestigio concedido pelo que se norteia pelo critério da co-
ções das assembléias gerais.
se um silêncio um tanto... como di- vtlho e muito cansado e como tinha indiíerentismo, pela preguiça ou por responsabilidade coletiva, da solidarie-
que atender a todos, acabou por não Esse é o metido, o único método boa fé, em um indivíduo, direitas de dade — único esteio da potência asso-
atender a mais ninguém^ Que é que se conduna com os fins imediatos agir a seu bel prazer, é sujeitar a vida ciativa, dos trabalhadores.
preciso, portanto, estabelecer, em todo e futuros das organizações operárias. sindical operária a perigos, a riscos Permitir que elementos no meio

A GUERRA o mundo, uma organização social sob


o lema de cada um por todos e todos
por um,.
mentar o espírito de mandonismo, de para a coletividade.
opei-ário possam agir como mandões
Procedei- de maneira diversa é ali- de desprestigio, de êrros prejudiciais governamentais, é dar lugar a discór-
j dias e, consequentem.ente, ao enfra-
caudilhismo, é contribuir para ali- Há uma longa experiência que j quecimento da influência dos sindi-
Quanto ao caso do relógio, Simplí- mentar discórdias e rivalidades pro- prova exuberantemente isso tudo. I catos.
cio afirmou, seíenamente, que isso vocadas pelos atlos autoritários de di- Portanto, não nos cansemos de de-
Bra no tempo da guerra, 1944. Es- FiREDERICO DE BRITO
não é problema: basta dar um relógio
tdvamos trabalhando, quando Lúcia,
para cada qual que o queira e não
a telefonista, entrov, na sala violenta-
mente. Vinha transfigurada, posses-
sa: seu filho, sua adoração, a razão de
sua vida, havia sido convocado! Ti-
nha que ir para a fffi.erra. Um absur-
haverá mais ladl-ões de relógios por-
que não terão a quem os vender. E
que o relógio era apenas um ponto de
partida.
Assim falou Simplício. Porque
I Terror Salazarisla em PortDgal
Após haver assassinado o pai — Arnaldo Simões Januário —
NOSSO CORREIO
Já o disseynos: este, canfínho do
da. Como poderia deiixd-lo ir, vê-lo Simplício é anarquista.
partir, tendo quase a certeza de que Por ser anarquisfa, a polícia portugueses persegue e tortura os jornal é destinado a antecipar as res-
não voltaria, que seria morto pelos filhos — Alberto e Caries Simões Januário postas, por carta, à coi-respondência
Um funcionário da URSS nos que recebemos. 31otivo:acúmulQ de
alemães. Todo o sacrificio de sua vida, EUA, cujo nome, no momento em que Nas masmorras da gestapo sala- Pasquim, reacionário "Correio detrabalho.
destruído assim., de uma hora para a escrevo estas linhas, não me vem à zariana sofrem os mais cruéis castigos Coimbra'', imprimindo-lhe orientação
oiítra? Não, não era possiixl. miG-mória (parece-me que foi Vassili milhares de oposicionistas, alguns dos odienta,. Por isso, o seu diretor se RIO DID JANUTíIRO — Angelina:
E as lágrimas corriam, pelas faces Kuznetsov) afirmou que os norte- quais se encontram! com seus dias viu às voltas com os trabalhadores, a Não se esqueça de que têm um espaço
de nossa pobre amiga. americanos estãO' ancioisos para que cfmtados. Para que tais crimes não quem .sempre que podia tentava dene- a preencher em cada número. Saúde!
Vm colega disse: "Alguém têm- que Cuba volte a ser vaca leiteira deles. se revistam de todos os requintesi de grir. Sendo Ai-naldo Simões Januário
ir. K a guerra. A defesa da Pátria!". RIO DE JANEIRO — P. Ferreira
Embora Kennedy não seja da es- crueldade, precisamos denunciá-los um, dos mais ativos e conhecidos mili-
Mais encolerizada ela respondeu:
"A defesa da Pátria? Forque não
tofa de um Coolidge, que, na quali- com urgência ! Precisamos denunciar tantes de Coimbra, várias foram as da ííiliva: Contamos com sua assídua
cliamam, para a guerra, para morrer dade de presidente dos EUA, ordenou à opinião univei-sal livre os crimes do discussões entre o operário barbeiro colaboração. Saudações.
a invasão da Nicarágua a fim dei li- tirano silencioso, do ditador Salazar. e o professor Salazar.
nos campos de batalha os malandros, RIO DE JANEIRO — li. A. Bar-
quidar Sandino e a sua gente, ainda Quem viveu e militou em Portu- O então diretor do "Correio de bosa: Atendendo ao pedido de sua car-
os vagabundos, esses seres tão preju-
hoje os governantesi norte-americanos gal, de 19.32 a 39, destaca entre os Coimbra", muitas vezes íôra forçado ta, enviamos-lhe o livro indicado.
diciais que não fazem falta a ninguém,
não terão bons argumentos para de- grandes crimes da Pide, ou mais cla- a publicar notas retirando afirmações
e deixam em paz os nossos filhos, que
fenderem-se dessas acusações. Mas por ramente de' Salazar, a tragédia do mi- que havia emitido, e isso feria-lhe o Publicamos em "O" Tfi5êrtártõ-'^
são pessoas de bem, que frequentarn
outro lado, e na mesma altura, leio litante liberLário Arnaldo Simões espirito de vingança que sempre ali- uma relação da livros. Vamos enviar-
escolas, que serão doutores amanhã".
cm um jornal europeu que "a Rússia .Januárioi; as suas deportações para mentara contra os seus opositores. lhe uma nova lista, os números atra-
Pobre Lúcia. No desespero da
pratica um colonialismo brutal nos Timor, depois na prisão de Coimbra, Com a subida ao poder, como ditador sados serão remetidos. Recebemos a
grande dôr que a atormentava,
países satélites (suas vacas leiteiras) Porte da Trataria, Aljubo (de Lis- absolufo, o tirano revela-se imediata- importância indicada, conforme pode-
não compreendia que: os malandros, os
apoiando-se na força militar, na Polí- boa), Fortaleza de São João Batista, mente. Aguça o seu ódio e sua policia rá ver na coluna "Administração de
ladrões, os vagabundos, tamòém, têem
cia e na exploração econômica daque- na Ilha de Terceira, (Açores), c final- cerca por toda parte o operário bar- o Libertário". Saudações.
mãe que sofre' por eles. Que a dôr de
les países, de que retira cerca de um mente o seu assassinato no Tarrafal, beiro que corajosamente defendia os
uma preta esfarrapada e descalça que
bilhão de dólares por ano''. em, 27-3-1938. seus ideais libertários. Vivendo por BAGÉ (RGS) — Fastorino: A du-
Tnora no morro, é também, dôr, como a
De modo que, se "yankees'' nonl, Arnaldo Simões Januário, era bar- muito tempo na ilegalidade, veio a ra realidade está bem espalhada em
que sente a mãe branca, qUe é menos
pobre.
rusos también non! 'ceiro em. Coimbra, cidade onde o então cair nas mãos da pide em janeiro de sua carta de 30 de noveniibro. Entre-
A guerra, no dizer de seus for- I ! O. S. '•João Ninguéni Salazar" dirigia o 1934. Como assumiu a responsabili- tanto, não nos esqueçamos de que a
m,entadores, é para defender: a pátria, dade do movimento de 14 daquele mês, capacidade do bom barqueiro é evi-
o lar, as instituições, as liberdades con- a polícia pôde executar as ordens de denciada quando rema contra a cor-
seu amio Oliveira Salazar; pôde plane- renteza. Há, porém, uma compensa-

a
quistadas pelos antepassados.
E os vagabundos, os malandros,
que têm. a defender? nada: moram nos
morros, sem, hipicne, sem conforto.
Não vão à escola, não aprendem a tra-
de jar e executar um crime e este ocor- ção: o anarquismo é o movimento que
reu
lonj
cadeias,
27-3-1938, depois de Arnaldo ter vem atravessando todas as borrascas
e penosa peregrinação pelas com toda a integridade de seu prestí-
gio, evidenciando-se que os seus pos-
balhar. Na trilha do crime, cometem,
barbaridades, e term,inam na prisão,
ou sob as halas policiais. Nada têm
a defender, pois nada possuem.. Nem
E' um apelo decisivo.
libertário"
Impõe.no o imperativo da difícil
Agora, a Gestapo portuguesa in- tulados ideológicos e seu método de
veste contra seus dois filhos — Al- ação estão sendo plenamente confir-
berto e Carlos Simões Januário, mado;^. Devemos ter a coragem de
ambos chefes de família, o primeiro sermos minoria consciente, vencendo
pai de 2 filhos e o segundo de 4. A a influência corruptora de multidões
lar, nem ambiente salutar, nada.
Não, Lúcia. Para a guerra não situação em que nos encontramos para manter a publicação re- pretextb de que Alberto e Carlos ha- embrutecidas. Valiosa a ajuda econô-
devem, ir os vagabundos, como não gular do jornal. A partir deste número, o custo de sua con. viam distribuído manifestos concla- I mica e mais valioso ainda o apoio
ãeve^n ir os outros jovens. Ninguém fecção sofreu novo e considerável aumento. Cada exemplar mando os trabalhadores a reunir-se I moral.
deve ir para a guerra. O gite é pre- (neste formado reduzido e apenas com 4 páginas!) passou a em praça pública, no dia 1.» de maio, PORTO ALEGRE (RGS) — R.
ciso, é que Se acabe com todas as guer- custar 24 cruzeiros! Apenas a sua impressão. Devendo-se (reunião que se efetuou, contrariando Fernandes: Foram indicadas nas lis-
■ ras. É preciso que os seres huynanos acrescentar as demais despesas forçadas, reduzidas ao mínimo): as ordens policiais), foram presos nos tas de expedição os nomes indicados
aprendam a resolver suas divergências pc«tais (exi>ediçãoi e correspondência), material administrativo, últimos dias de abril, juntam,en,te com em sua carta de 28 de outubro. O
sem violência, sem ódio, m,as com condução, transporte, etc. Sem contar os trabalhos de redação, José Marques. Desde então para cá, atraso no recebimento do jornal deve
amor, compreensão e tolerância. Que revisão, administração expedição, distribuição, etc, executados têm sofrido toda sorte de maus tra-
tos. ser atribuído à irregularidade postal,
desapareçam os interesses econôinicos, gratuitamente por müJUantes liberitáirios, que também ocncor-
a ânsia de poder e de dom-inio, para rem economicamente. Alberto Simões Januário foi sub- devido provavelmente ao excesso de
que todos os povos sejam, irmãos e o metido ao "Suplício da Estátua", (*) correspondência no fim do ano. As
Urgem, portanto, positivas e imediatas providências. Quais?
fantasma da guerra se afaste de todos Fácil é enunciá-las: coleta imediata de recursos econômicos e tendo caído desfalecido ao terceiro duas importâncias foram recebidas e
os céreirros. aproveitamento rigoroso da tiragem do jornal. dia. O seu estado de saúde tornou-se
grave. registradas na relação do n.» 13-14.
ANGELINA Pela nota administrativa publicada regularmente, constata-se
que o jornal está sendo mantido com a contribuição de um nú- Carlos Simões Januário, o mais Aguardaremos a indicação do
Jovem, resistiu 10 dias e 10 noites no novo endereço. Tênu razão: o mundo
mero relativamente limitado de pessoas.
"Suplício da Estátua" até que os seus
E não é pequeno o número de pessoas a quem o jornal
O LIBERTÁRIO algozes, .1á cançados de o torturar, burgiuês decompõe-se em meio às suas
está sendo remetido regularmente. A maioria, porém, ainda
interromperam sua malvada tarefa, contradições.
nem sequer acusOu o recebimento.
Diretor: entretanto, o cativeiro e os maus tra-
Êsíe jornal não se piublica com intuitos de lucros. Sua RIO -— Ideal: Os demais originais
PEDRO CATALO tos morais continuam'. Já são passa-
A publicação de "O Libertá- finalidade é a luta em prol de um princípio de justiça sociaL dos 5 meses sem que o seu julgamento aparecerão no próximo número. Há
rio" está confiada a uma comis- Para a sua manutenção não contamos com a renda da publi<^i- se tenha processado, embora rumores alguma novidade sobre o livro?
são do jornal, sendo de sua liade, nein de subvenções de qualquer natureza — que não vindes de Lisboa nos tragam a notí-
incumbência os trabalhos de podemos nem queremos aceitar. cia de' que o julgamento está anuncia-
redação, administração e divul- Vive "O Libertário" apenas das contribuições daqueles que do para breve, no Tribunal Plenário
julgam necessária a sua publicação. LIBERDADE
gação. Indica-se o nOme do daquela cidade.,
Conclusão: os militantes e simpatizantes de nosso mo-vimento Mas o certo é que julgados ou A liberdade é o maior bem
diretor por exigências de for- e os estudiosos que o queiram receber, precisam dar sua coope- não, suas vidas correm perigo! que possuímos sobre a terra, e,
malidades legais. ração àqueles que estão diretamente encarregados de publicação umxt vêz violado o direito que a
do jornal. Precisamos denunciar as prisões
de José M,arques e dos irmãos Carlos personalidade têm de agir, o ho-
Toda correspondência (com Cabe a todos — e a cada qual — a remessa de contribuições mens, para reconquistá-la, é ca-
e Alberto Simões Januário, que a, Po-
valores, originais, indicações, — suas e outras que pcssam conse^ir de pessoas interessadas paz de tudo: de um momento
pelo jornal. lícia de Salazar tenta dar o mesmo
etc.) deve ser enderuçada para outro, êle, que dantes era
fim que a seu pai, que ficou para sem-
EXCLUSIVAMENTE para a Quem não desejar continuar a recebê-lo, que o dc-volva covarde, torna-se um herói,
CAIXA POSTAL, 5739 — São pre na Ilha de Santiago, no pequeno
imediatamente. Cada exemplar de "O Libertário" deve ser cuida- êle, que dantes era a inércia se
Paulo em nome do diretor. dosamente aproveitado. cemitério de Tarrafal. E. R.
multiplica e .•subdivide; e ainda
Aos companheiros e simpatizantes o apelo final: Compa- mesmx) esmagado pelo peso da
Redação e Administração: (*) "Suplício de Estátua" consiste
nheiros! Desde o surgimento de nosso movimento no BrasiL dor e das perseguições, ainda
Bua Rubino de Oliveira N." 85 cm, manter o prisioneiro em posição
nunca lhe faltou peloi menos um órgão na imprensa como vozeiro de sentido, imóvel, sem poder se me- sujeito a m,orrer, de suas cinzas
São Paulo de nossa causa. renasce sempre mais bela e
xer nem mesmo para sacudir as mos-
Não se concebe que êle nos venha a faltar justamente neste cas, por vários dias e noites conse- mais pura a liberdade.
Assinatura Anual, Cr$ 200 00 instante conturbado e decisivo da história! cutivas. l5sse tipoi de tortura têm
Por certo não faltará, se todos cumpririem o seu voluntário matado muitos oposicionistas nos Marechal Deodoro da Fonseca
dever. E se faltar, a publicação do joinal será prejudicada. últimos anos.

unesp^ Cedap
Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa
Faculdade de Ciências e Letras de Assis
10 11 2 23 24 25 26 27 2í 29 30 31 32 33

Você também pode gostar