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Metodologia de Arte e

Movimento: Corporeidade
Autoras: Profa. Tércia de Tasso Moreira
Profa. Maria Jose Dias de Freitas
Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado
Prof. Nonato Assis de Miranda
Professora conteudista: Tércia de Tasso Moreira / Maria Jose Dias de Freitas

Profa. Tércia de Tasso Moreira


Possui graduação em Pedagogia (Licenciatura Plena) pelas Faculdades São Marcos (1989), especialização
em Psicopedagogia pela Universidade São Marcos (1995), especialização em Psicopedagogia Clínica pelo EPSIBA
(Escola Psicopedagógica Buenos Aires, 2000) e mestrado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie (2005).
Publicou, pela editora Loyola, o livro de literatura infantil A cantora semibreve, artigos em revistas eletrônicas
da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade de Guarulhos e revistas do EPSIBA, além de ter participado e
apresentado diversos trabalhos em congressos, simpósios e fóruns, participando, ainda, da organização de eventos em
escolas e universidades nas quais trabalhou.
Atualmente, é professora na Universidade Paulista — UNIP, no Centro Universitário Módulo de Caraguatatuba
(UNICSUL) no curso de pós-graduação em Psicopedagogia.
Profa. Maria Jose Dias de Freitas
Possui graduação em Licenciatura Plena em Pedagogia — Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental,
tendo iniciado seus estudos na UFRGS e concluído na UFRJ (2006). Especialista em Saúde Ambiental pela Faculdade de
Saúde Pública da USP (2008). Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo — UNIFESP.
Atuou em escolas de Porto Alegre e do Rio de Janeiro. Em São Paulo, foi consultora pedagógica da UNESCO junto à
ONG Alfabetização Solidária. Trabalhou como coordenadora pedagógica em um Centro da Criança, Adolescente- CCAs
conveniado à Prefeitura Municipal de São Paulo.
Atualmente, trabalha como professora adjunta da Universidade Paulista — UNIP nas disciplinas de Relações
étnico-raciais e afrodescendência, História do pensamento filosófico e Jogos e brinquedos na infância. Também atua
na formação de professores no Campus Avançado de Extensão da UNIFESP em Embu das Artes e Santo Amaro e integra
o Grupo de Estudos sobre Corporalidade e Promoção da Saúde — GECOPROS/UNIFESP. Atua como tutora contratada
do curso a distância SUPERA — Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas:
Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e Acompanhamento) da Secretaria Nacional para Drogas
(SENAD) em parceria com UNIFESP. Também trabalha como professora adjunta da UNIP nas disciplinas de Relações
étnico-raciais e afrodescendência, História do pensamento filosófico e Jogos e brinquedos na infância.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

M838m Moreira, Tércia de Tasso

Metodologia de arte e movimento: corporeidade / Tércia de Tasso


Moreira; Maria José Dias de Freitas. – São Paulo: Editora Sol, 2012.
104 p. il.

Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, n. 2-069/13, ISSN 1517-9230.

1. Arte e movimento - metodologia. 2. Corporeidade. 3.


Modalidades de arte. I. Título.

CDU 796.03

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Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Humberto Venderlino Richter

Pró-Reitor Administrativo: Prof. Robson do Nascimento


Sumário
Metodologia de Arte e Movimento: Corporeidade
Apresentação.......................................................................................................................................................7
Introdução............................................................................................................................................................8

Unidade I
1 Os caminhos da arte no Brasil...........................................................................................................9
1.1 O que é arte?........................................................................................................................................... 10
1.2 Definição de arte....................................................................................................................................11
1.3 Onde utilizamos a arte?...................................................................................................................... 12
1.4 Arte e cultura.......................................................................................................................................... 13
2 História da arte........................................................................................................................................... 14
2.1 Arte rupestre........................................................................................................................................... 14
2.2 Arte na Mesopotâmia.......................................................................................................................... 16
2.3 Arte no Egito........................................................................................................................................... 17
2.4 Arte na Grécia......................................................................................................................................... 18
2.5 Arte em Roma......................................................................................................................................... 19
2.6 Arte na Idade Média............................................................................................................................. 20
2.7 Renascimento......................................................................................................................................... 21
2.8 Barroco...................................................................................................................................................... 23
2.9 Classicismo............................................................................................................................................... 24
2.10 Romantismo.......................................................................................................................................... 25
2.11 Modernismo.......................................................................................................................................... 26
2.12 Impressionismo.................................................................................................................................... 27
2.13 Expressionismo.................................................................................................................................... 28
2.14 Fauvismo................................................................................................................................................ 30
2.15 Futurismo............................................................................................................................................... 31
2.16 Dadaísmo............................................................................................................................................... 32
2.17 Cubismo.................................................................................................................................................. 34
2.18 Pop art..................................................................................................................................................... 35
2.19 Op art....................................................................................................................................................... 35
2.20 Land art................................................................................................................................................... 36
2.21 Body art.................................................................................................................................................. 36
2.22 Abstracionismo.................................................................................................................................... 37
2.23 Surrealismo........................................................................................................................................... 38
2.24 Hiper-realismo .................................................................................................................................... 38
3 Modalidades de arte................................................................................................................................ 38
3.1 Dança......................................................................................................................................................... 38
3.2 Música........................................................................................................................................................ 40
3.3 Artes visuais............................................................................................................................................. 40
3.4 Artes plásticas......................................................................................................................................... 41
4 Arte-educação............................................................................................................................................ 41
4.1 Quem foram nossos professores?................................................................................................... 42
4.2 Capacidades e habilidades para ensinar Artes.......................................................................... 45
4.3 Leitura de imagens............................................................................................................................... 46
Unidade II
5 Fundamentação da área....................................................................................................................... 51
5.1 Educação Física na escola.................................................................................................................. 56
5.1.1 As aulas de Educação Física................................................................................................................. 57
5.1.2 Educação corporal: um processo contínuo................................................................................... 64
5.1.3 Um olhar sobre os conteúdos............................................................................................................. 64
5.1.4 Objetivos gerais da Educação Física................................................................................................. 66
5.1.5 A educação física escolar, o sedentarismo e a aprendizagem............................................... 67
5.2 A Educação Física no Brasil............................................................................................................... 69
6 Sistema de avaliação................................................................................................................................71
6.1 Características do processo avaliativo.......................................................................................... 72
6.1.1 Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental I............................................................... 73
6.1.2 Ensino Fundamental I – 2º a 4º ano................................................................................................. 73
6.2 Ações gerais a serem desenvolvidas pelo professor .............................................................. 75
Unidade III
7 ATIVIDADES PROPOSTAS............................................................................................................................... 80
7.1 Reconhecimento corporal................................................................................................................. 80
7.2 Movimentos naturais imitativos..................................................................................................... 81
7.3 Atividades de integração e socialização...................................................................................... 82
7.4 Jogos motores com corda.................................................................................................................. 85
7.4.1 Atividades motoras com corda.......................................................................................................... 86
8 Jogos competitivos e jogos cooperativos................................................................................ 87
8.1 Jogos competitivos............................................................................................................................... 87
8.2 Jogos cooperativos............................................................................................................................... 89
Apresentação

Vamos iniciar nossos encontros e nossas reflexões com esta frase: “Breve é a vida, longa é a arte”,
pois falar sobre arte e movimento requer várias abordagens, principalmente quando um de nossos
objetivos é sensibilizar educadores que trabalham com crianças. Essa frase é do filósofo grego Hipócrates,
considerado o “Pai da Medicina”, que defendia, entre outras teorias, a “arte” como cura e tratamento. Com
isso, é possível concluir que toda e qualquer forma de manifestação artística e física pode se perpetuar
durante décadas, influenciando e cativando gerações, que, cada vez mais, se distraem e se perdem no
sedutor mundo das imagens, dos sons e dos gestos. Embora se trate de um assunto muito exposto e
discutido, nossas reflexões trarão fundamentações de teóricos dos temas e, portanto, estudaremos e
desenvolveremos tais teorias com a criança de modo criativo, inteligente e fundamentado.

Se olharmos com atenção ao nosso redor, veremos como o ambiente está repleto de artes e
movimentos, desde um simples quadro ao design de uma cadeira, ou mesmo seu filho, seu sobrinho
ou irmão pequeno fazendo traços em um papel com tinta, lápis de cor ou virando cambalhotas.
Também cita-se a música que você ouve ou mesmo uma bailarina, que, com seus movimentos
suaves, nos emociona. Esses tipos de manifestações, com suas peculiaridades, enriquecem o nosso
cotidiano.

A arte e os gestos podem ser observados, compreendidos e apreciados. Trata-se de um mundo de


possibilidades, e, por meio dele, é possível desenvolver a imaginação, a criatividade, e o indivíduo tem
a chance de aprender e conviver com seus semelhantes, respeitando as diferenças. Tudo isso possibilita,
ainda, a busca pelo entendimento de quem somos, de onde estamos e do que fazemos no mundo.

Nosso primeiro contato com o conhecimento teórico inicia-se ainda na Educação Infantil, época em
que somos desafiados a entender as cores, as imagens, a elaborar movimentos com técnicas, entre outras
brincadeiras. E, no decorrer de nossa história escolar, passamos a conhecer um pouco mais sobre esses
mundos tão ricos. Ocorre, porém, que nem todo professor está devidamente preparado para ensinar
didática e metodologicamente, e é de suma importância ter em mente que é a partir de nosso professor
que iremos caminhar para o educador que queremos ser.

Assim, neste estudo, temos outro objetivo importante: preparar-nos para trabalhar com a disciplina
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade. Não precisaremos apenas de teorias das fases do
desenvolvimento físico-motor ou da história da arte, e sim refletir sobre como é nossa relação com a
criança e como avaliaremos sua produção estética. Também será necessário pensarmos sobre algumas
importantes competências, como a formação do professor de Educação Básica no âmbito da disciplina
de Artes, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental.

As reflexões do nosso livro-texto indicarão estudos importantes para a formação do educador e


também contribuirão para a compreensão das épocas, das modalidades, dos estilos e das vivências
aplicadas a partir dos conhecimentos teóricos estudados e discutidos.

Os fundamentos do trabalho do educador são: ressignificar o período passado, reelaborando o


presente e trabalhando com as abordagens interdisciplinares. Não podemos ignorar as diversidades dos
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Unidade I

alunos que encontraremos na escola de Ensino Básico, é muito importante respeitar os desenvolvimentos
corporais e cognitivos das faixas etárias específicas.

As Unidades I e II apresentarão conceitos teóricos importantes para nossa práxis, pois, como sabemos,
é a teoria que sustenta o nosso fazer em sala de aula. Se não entendemos determinados conceitos, não
saberemos como conduzir nossos alunos ao conhecimento.

Na Unidade III, nota-se a importância de propiciar um ambiente rico em atividades artísticas e


corporais por meio de jogos e brincadeiras, proporcionando a criatividade, o desenvolvimento cognitivo
e motor e socializando nosso aluno para que possa adquirir sua autonomia para a vida.

Esperamos que o livro-texto sirva como referência para seu trabalho como educador.

Introdução

Neste livro-texto, teremos a oportunidade de estudar os mais diferentes estilos de obras de artes que
apareceram no mundo desde os primórdios, como a arte rupestre. Estudaremos o período da Antiguidade,
da Idade Média, do Classicismo e até os nossos dias. A compreensão e o entendimento dos contextos
políticos, religiosos e sociais em que as artes surgiram dimensionarão o nosso aprendizado. A partir de
tais estilos, compreenderemos os questionamentos de cada época e suas transformações, possibilitando
nossos olhares em relação ao ensinar e ao aprender.

Com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), discutiremos as fundamentações e os


estudos realizados em nosso livro-texto, bem como autores que desenvolveram pesquisas interessantes.

Você entenderá a importância de vivermos a experiência fundamentada ao ver nosso aluno se


desenvolvendo em todos seus aspectos biopsicossociais. Vamos estudar o pensamento de Vygotsky, que
questiona a definição do brinquedo como atividade que dá prazer à criança. Esse livro-texto despertará
o olhar do educador às linguagens corporais decifradas em nossos alunos mediante as atividades lúdicas
propostas. Essas atividades vão auxiliar na interação social, na organização das tarefas diárias e na
autonomia, mas sem perder o foco do lúdico.

Também vamos trabalhar com alguns jogos e brincadeiras, articulando o binômio corpo e mente,
a lateralidade, o equilíbrio, o relaxamento e a importância de tais atividades e as interações que
proporcionam.

Esperamos que você possa aproveitar todas as propostas em suas aulas e que seja participativo.

Sucesso!

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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Unidade I
1 Os caminhos da arte no Brasil

Nesta Unidade, estudaremos como aconteceu o reconhecimento e a implantação do curso de


Educação Artística no Brasil. Para isso, precisamos destacar a Lei 9394/96. Esta é baseada no princípio
da Constituição Federal de 1988 e foi sancionada pelo então ministro da educação — Paulo Renato de
Souza, em 20 de dezembro de 1996. A lei trouxe modificações significativas no âmbito da Educação
Infantil, sendo que as creches e as pré-escolas tornam-se a primeira etapa da Educação Básica. Veja a
citação a seguir:

[...] no currículo estabelecido em 1971, as artes eram aparentemente a única


matéria que poderia mostrar alguma abertura em relação às humanidades
e ao trabalho criativo, porque mesmo Filosofia e História haviam sido
eliminadas do currículo (BARBOSA, 2007, p. 49).

A LDB obrigou o ensino de Artes nas escolas, mas muitos professores não estavam preparados para
ministrar a disciplina. As “escolinhas de arte” preparavam alguns docentes e estes tinham permissão
para lecionar a disciplina para as 5ª séries daquele tempo.

Em 1973, a universidade abriu o curso superior em Artes com o objetivo de preparar melhor os
docentes. O curso foi composto em apenas dois anos, ou seja, o professor de artes teria que ser capaz
de lecionar as seguintes disciplinas: artes visuais, dança, desenho, desenho geométrico, música e teatro.

Ainda sobre os dados históricos do nascimento do ensino do profissional de Artes no Brasil, as


diferenças aconteceram de forma muito lenta, pois, devido a essa concepção histórica na formação
desse profissional, pouco foi feito em relação à formação, visto que na pesquisa de Barbosa, o termo
“criatividade” foi o mais ouvido durante a pesquisa realizada com os estudantes desses cursos. A autora
entrevistou 2.500 professores de Artes de escolas de São Paulo. Veja seu relato a seguir:

Todos eles mencionaram o desenvolvimento da criatividade como o primeiro


objetivo de seu ensino. Para aqueles que enfatizaram as artes visuais, o
conceito de criatividade era espontaneidade, autoliberação e originalidade,
e eles praticavam o desenho no seu ensino; para aqueles que lecionavam
principalmente o canto-coral, a criatividade era definida como autoliberação
e organização (BARBOSA, 1983, p. 53).

Ferraz e Siqueira (1987), em uma pesquisa com 150 professores, constataram que os livros didáticos
são a fonte de ensino para 82,8% deles. Barbosa (1983) criticou o conceito que os professores trouxeram
de dados à pesquisa, pois este é um conceito do senso comum, não é preciso ser um professor com
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Unidade I

formação em Artes para trazer essa contribuição. Além disso, eles tiveram acesso aos livros didáticos
para a arte-educação e modernizaram apenas na autoliberação — deixar o aluno fazer o que quer
(laissez-faire).

As informações dessa pesquisa indicam que os professores de arte-educação, ou de educação


artística têm uma formação precária. Trabalham sem objetivos, sem roteiros de aulas e sem projetos. Em
contrapartida, os alunos têm sido vítimas desses professores e de uma história. Atualmente, notamos
que são profissionais/alunos dessa época que trabalham a disciplina de Arte, não há qualquer trabalho
com a formação sociocultural, histórica e crítica, que provavelmente a história da arte contemplaria.

Baseado nessas questões, notamos que o ensino de Artes resume-se a pinturas e colagens
descontextualizadas sem qualquer objetivo, e os professores fazem releituras sem apoio do contexto
histórico das obras trabalhadas, e estas ficam sem sentido.

Tanto a pesquisa de Ana Barbosa como a de Ferraz e Siqueira destacam que o corpo docente não
atendeu aos programas de ensino estabelecidos e nem às determinações da LDB. Sabemos que o que
foi mantido em artes visuais foi o trabalho com o desenho geométrico. Na época dessas pesquisas, o
país era governado pela Ditadura Militar e a educação brasileira tinha o acordo do MEC/USAID — United
States Agency for International Development, o qual estabelecia convênios de assistência técnica e
cooperação financeira à educação brasileira. A escola secundária era profissionalizante, pois havia o
intuito de atender às companhias multinacionais que dominavam o país.

Encontram-se motivos divergentes para se entender de arte. Desde a Idade Média, ela estava no
lugar do sagrado, nas catedrais, nos templos e nas catacumbas. O senso comum atribui à arte um lugar
especial, de nobres, ricos, deuses e semideuses. A sacralização da arte, arte como objeto, como produto,
como algo para poucos, algo para ricos.

Portanto, refletir as questões da história da Educação Artística no Brasil e da história dos métodos
da implantação dessa disciplina, passou-se a entender o porquê do modelo de ontem ser repetido
atualmente. O aluno de ontem, que é o professor de hoje, aprendeu pela metodologia antiga. Assim,
quando ministra suas aulas, ele mantém aquilo que foi ensinado.

Lidar com a arte implica crítica, história, criatividade e o bem para todos. Ela ocupa, contrariamente,
outro lugar que o senso comum enxerga.

1.1 O que é arte?

Nossas aulas serão alicerçadas por questões e assuntos que fazem parte dos conhecimentos e das
informações desta disciplina. Antes de começar, será importante que você pense, e, se possível, registre
o que é arte e o que ela representa para você.

Esse registro será útil para você comparar seu aprendizado de agora com o do final curso. E por que
não escrever? Essas anotações são um exercício do pensamento!

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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

1.2 Definição de arte

Nosso primeiro questionamento é: o que é arte? Então, vamos conceituá-la.

Em primeiro lugar, veja o conceito que o dicionário atribui à arte: Etimologicamente: Lat. ars, artes
‘maneira de ser ou de agir, habilidade natural ou adquirida, arte, conhecimento técnico (p.opos. ao lat.
natúra ‘habilidade natural’), tudo que é de indústria humana, ciência, ofício, instrução, conhecimento,
saber, profissão destreza, perícia, habilidade, gênio, talento, qualidades adquiridas (p.opos. a ingenium
‘qualidades naturais’), pej. ardil, fraude’, p.ext. ‘produto da arte, regras de uma arte, a parte teórica de
uma arte, tratado, obra importante; ver art(i)-; f. hist. XIV arte (HOUAISS; VILLAR, 2001).

Vimos o quanto é complexo o conceito de arte e em quantos universos ela transita e habita; mas
veremos tais conceitos ao longo de nossas discussões. Os debates formarão outros conceitos e estes vão
compor essa área do conhecimento.

Essas complexidades acompanham as muitas expressões e linguagens da arte envolta na emoção de


quem a produz. Ao nos depararmos com uma obra, vemos a beleza dos traços, dos efeitos cromáticos,
do ritmo, das mensagens estéticas e ao mesmo tempo os sentimentos se afloram. Tais valores estéticos
representam nossa história, nossos sentimentos, nossa cultura e o contexto ao nosso redor, isso
é uma criação humana que chamamos de arte. Aplicando nossos conhecimentos num conjunto de
procedimentos, realizamos algumas obras, ou seja, arte.

Existem vários outros conceitos, e podemos citar ainda que a arte é uma experiência dos humanos
que possuem conhecimento em estética, que transmitem emoções e ideias por meio de obras, como
arquitetura, dança, desenho, escultura e outras manifestações que possuem seu valor e representatividade
individual.

Quando aprendemos sobre arte, podemos apreciá-la. Ao criticarmos ou observarmos uma obra,
precisamos fazer uma análise, pois quando nosso olhar é bem fundamentado, podemos refletir
adequadamente para emitir opiniões. Os embasamentos sustentarão nossas opiniões tanto para os
materiais, os gostos e os estilos, quanto para os diferentes modos de fazer arte. Sabemos que o ser
humano, desde sua evolução, deixou registros de sua presença na Pré-História, e foi por meio dessas
expressões que demonstrou sua arte, seus medos e suas crenças. Criou formas nas cavernas, como as
garatujas pintadas e os utensílios domésticos, que, aos poucos, se transformaram em comunicação.
Posteriormente, descobriu, com as pesquisas arqueológicas, templos religiosos, quadros, entre outros.

A arte apresentou-se de várias formas, como: dança, escultura, arquitetura, teatro, plástica, música
etc. Essas formas podem ser observadas por três ângulos: visual, auditivo ou misto (audiovisual).

A criação de objetos surgiu como meio de vida ou divulgação de crenças para distração, estimulação
e exploração, além de possibilitar a interpretação de objetos e cenas. Existem também criações muito
interessantes em que o caráter instrutivo está intrínseco. Nos primórdios, os objetos criados foram
ferramentas para cavar ou para serem utensílios de cozinha, ou seja, para as necessidades essenciais de
sobrevivência.
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Unidade I

Por meio de matérias orgânicas e materiais diversos, o artista fazia sua produção, e esta gerava
formas, espaços e figuras. Isso tudo resultou em obras que fascinam até hoje, mesmo que não estejamos
ambientados com seu contexto, mas que mesmo assim adquirem vida própria e findam sempre, sendo
uma verdade do próprio artista.

Observação

A arte não tem como função retratar a realidade com fidelidade, e sim
representar, com símbolos, a humanidade.

Para entendermos melhor o que é arte, faremos um exercício que terá como objetivo sensibilizar o
olhar para o mundo da arte. Um olhar que ampliará nossos conhecimentos e repertórios artísticos, e,
principalmente, que aproximará tais teorias do nosso dia a dia. Imagine algo que você sempre via de
súbito aparecer aos seus olhos de uma forma totalmente diversa. Você passará a olhar as coisas a partir
de outras referências.

Procure olhar ao seu redor: quantas coisas são arte? Pense em como ocorreu a construção desses
objetos. Lembra-se de alguma construção que viu há pouco tempo?

Verifique outros objetos ao seu redor. O que mais chama sua atenção? O que não lhe agrada? Qual
a utilização desses objetos? Percebe suas funções?

1.3 Onde utilizamos a arte?

Essa pergunta nos leva a pensar no mundo da arte e o quanto ela nos cerca e nos anima, ela faz
parte do nosso dia a dia. Percebeu?

As ideias de outros tempos e culturas são levadas às pessoas pelos artistas, que divulgam suas
obras pelos marchands, pelos empresários e pela mídia. Com a tecnologia, as técnicas e as teorias se
difundiram ainda mais.

Espalhamos essas técnicas e teorias quando descobrimos objetos de outras civilizações por meio da
arqueologia.

Com a reprodução de fotos, a arte também passou a ser reproduzida nas revistas internacionais
dos anos 1890. Com o advento do rádio e da TV, em 1895 e 1926, respectivamente, tudo ficou mais
dinâmico para a divulgação de ideias pelo mundo. Por meio da imprensa, que foi inventada por Johann
Gutenberg, em meados de 1450, podemos debater, interagir e compartilhar inúmeras ideias e técnicas.

A arte pode ser realizada para ajudar no dia a dia, para decorar o mundo, enfeitá-lo, no design de
móveis, em nossas vestimentas etc. Quando falamos no porquê de fazer e usar arte, estamos falando
de sua função. Utilizamos a arte para nos expressar e criamos de forma simbólica as coisas que nos
rodeiam. A verdade é que a obra artística expressa não o que de fato existe (embora seja concreta), e sim
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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

o que representa para o artista, que nem sempre é o que o povo vê. Como exemplo, podemos pensar
numa tela em branco. Quando um pintor utiliza esse espaço criando uma imagem, a tela deixa de ser
apenas uma tela, esta se transforma na imagem que ele produziu.

Agora que estudamos sobre a arte e sua utilização, entraremos numa outra discussão. E seria
interessante que fosse registrada numa outra linguagem — o desenho —, mas, se preferir, você pode
fazer o registro por escrito. Como a arte e a cultura se articulam? O que existe em comum entre elas?
Vamos estudar isso no próximo tópico.

1.4 Arte e cultura

Agora iremos refletir mais sobre esses dois conceitos. Pensou? Descobriu algo em comum? Eles são
semelhantes ou diferentes?

Os dois se entrelaçam e nos dão a possibilidade de ampliá-los. Embora a arte esteja diretamente ligada
à nossa cultura, se nos atentarmos para cada obra de arte, poderemos perceber um pouco da cultura
do artista, do país onde vive e o tempo da realização da obra expressa; assim, é possível dizer que a arte
trata-se de um produto cultural. Chauí (2003, p. 38) elucida que a arte consiste na “eterna novidade
do mundo”, e o artista é aquele que “busca o mundo em estado nascente”. Por meio da arte, é possível
criarmos uma nova realidade utilizando-se daquela já conhecida, transfigurando-a, transformando-a,
dando-lhe novas significações.

Assim, por meio das músicas folclóricas, das brincadeiras, dos jogos tradicionais, dos cordéis, das
danças, da gastronomia e das pinturas, é possível conhecer muito a cultura de um povo, fator essencial
para o desenvolvimento social do homem.

Falando em músicas folclóricas, destacamos o que é folclore. Etimologicamente, essa palavra deriva
de duas palavras saxônicas: folk — povo, e lore — conhecimento. Essa definição foi criada em 22 de
agosto de 1846 pelo antiquário inglês William John Thoms. Com o pseudônimo de Ambrose Merton,
William publicou um artigo com o nome Folk-lore, na revista The Athenaeum, de Londres. Nesse artigo,
indicava o folk-lore como uma expressão apropriada ao estudo das lendas, das tradições e da literatura
popular, definindo-o como “a sabedoria do povo”.

Nesse contexto, é possível afirmar que a arte é parte integrante da cultura, trazendo possibilidades
de integração, de divulgação e de desenvolvimento da cultura popular.

A arte na educação como expressão pessoal e como cultura é um importante instrumento para
a identificação cultural e o desenvolvimento individual. Por meio da arte, é possível desenvolver a
percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica,
permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida, e desenvolver a criatividade para mudar a
realidade que foi analisada (BARBOSA, 1983).

Em complemento ao parágrafo anterior, cabe aqui destacar a afirmação a seguir:

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Unidade I

O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é


herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento
e a experiência adquiridos pelas numerosas gerações que o antecederam.
A manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural permite as
inovações e as invenções. Assim, em cada sociedade, é possível notar uma
diversidade de valores morais, religiosos, artísticos etc., os quais se integram
à cultura popular. Vale ressaltar que esses valores podem sofrer modificações
ao longo do tempo, pelo dinamismo da sociedade (LARAIA, 2001, p. 41).

Considerando que arte e cultura estão interligadas, pode-se dizer que a arte também se manifestou
de diferentes modos ao longo dos tempos e nas diferentes sociedades. Para verificar essa diversidade, no
próximo tópico faremos um estudo sobre a arte na História.

Agora nos aproximaremos de outros conceitos para entender melhor esse homem em sua dimensão
artística, cultural, em suas formas de expressão, e, principalmente, no uso de uma linguagem e de traços
históricos e sociais que o acompanham.

Faremos uma viagem através dos tempos e assim nos apropriaremos da história dos povos, de suas
manifestações, como também compreenderemos as expressões do homem nas mais variadas épocas,
vinculando a arte ao tempo e ao artista.

Vamos, então, refletir sobre a história da arte. A arte tem uma história? Ela acompanhou as
manifestações dos povos através dos tempos? Quais foram essas transformações? Quais foram os povos
mais influenciados? Precisamos fazer uma relação entre o significado da arte, entre o homem que a
realizou, em um contexto sócio-histórico-cultural.

2 História da arte

Então, pensou? Imaginou a quantidade de quadros famosos? E as esculturas que estão nos jardins?
E o vestuário das óperas, as músicas dos corais?

A história da arte não se trata de uma mera leitura visual. Ao estudá-la, entra-se numa espécie de
dicionário de símbolos, sejam plásticos, cênicos, musicais, gestuais ou literários. Ela faz parte da vida
humana desde a Antiguidade, quando o homem fazia rabiscos nas cavernas para ilustrar sua vida, até os
nossos dias. Ao longo dos tempos, a arte assumiu várias modalidades e estilos, e nós vamos explorá-los
em pormenores.

Imagine qual era a arte do homem há 4 mil anos a.C. Como era essa arte? Quais recursos materiais
ele utilizava? Como se vestia? Como se enfeitava?

2.1 Arte rupestre

Ao refletirmos sobre o homem paleolítico, poderemos partir para a construção do cenário desse
tempo e para os desafios que esse homem enfrentava. Diante do mundo em que vivia, sabemos que
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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

esse homem passou por processos de compreensão dos fenômenos da natureza inimagináveis, pois seus
enfrentamentos com esses fenômenos geravam medos, e ele encontrou na arte a forma para se curar
desse mal.

Ele não tinha o controle da natureza; por isso, a todo o momento, assustava-se com trovões e raios.
Com o intuito de amenizar esses medos, atribuía nomes aos fenômenos como se eles fossem deuses.

A arte rupestre surgiu a partir da necessidade de o homem registrar sua história, quando passou
a buscar símbolos que representassem graficamente as palavras da mesma forma como eram faladas,
registrando seus sonhos e cenas do cotidiano. Uma das primeiras obras do período paleolítico é a Vênus
de Willendorf.

Figura 1 – Vênus de Willendorf

Encontram-se em Altamira, na Espanha, as mais conhecidas obras de arte rupestre, as pinturas em


cavernas de 30000 a.C. a 12000 a.C. Já na França, podem ser vistas pinturas rupestres de animais pré-
históricos, indicando rituais de caça.

No Brasil, a arte rupestre pode ser encontrada no Parque Nacional de Sete Cidades, no Piauí, em
Lagoa Santa, Minas Gerais, e em Rondonópolis, no Mato Grosso.

Saiba mais

Para conhecer vários estudos sobre a arte rupestre pelo mundo, acesse:

<http://www.macua.org/rupestre/rupestre.html>.

15
Unidade I

Agora, iremos pensar num outro povo, outro tempo e civilização. Os rios Tigre e Eufrates foram
cenários dos povos de que você provavelmente já ouviu falar. Lembra-se dos sumérios? E dos assírios e
dos babilônios? Esses povos viveram na antiga Babilônia, capital da Suméria. Você sabia que hoje essa
região é Israel?

Vamos conhecer um pouco da arte desses povos.

2.2 Arte na Mesopotâmia

Figura 2 – Arquitetura da Mesopotâmia – Torre de Babel

Ao refletirmos sobre as terras da Mesopotâmia, poderemos então partir para pensar na construção
desse cenário, no tempo e nos desafios que esses homens enfrentaram.

Esses povos, sumérios, assírios e babilônicos, viviam em disputas, guerras e árduas lutas, e estes eram
o tema de suas composições. Vemos a representação desses episódios entalhados e pintados em suas
obras, fixados em paredes, túmulos, vasos e pinturas em seus utensílios domésticos.

Quanto à arquitetura, mesmo não sendo tão notável quanto à egípcia, ela destacava-se pelo luxo e
pela exuberância dos templos e castelos, que eram considerados cópias dos existentes nos céus. Eram
construídos com tijolos, por não haver pedra suficiente para construção na região. Para termos uma
ideia dessa cultura, os faraós acreditavam que quando morressem, a fortuna deveria ser levada ao céu
junto com eles.

A arquitetura funerária era suntuosa, constituída das melhores peças de ourivesaria. Como
exemplo, temos o cemitério real, localizado em Ur — cidade da antiga Mesopotâmia, reservado
para monarcas da primeira dinastia, coberto por falsas abóbadas, onde estavam enterrados o
monarca e seu séquito.

16
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

As esculturas na Mesopotâmia são raras, pois a maioria foi feita com argila e não resistiu ao tempo. As
que ainda existem, de pedra ou outros materiais mais resistentes, representam a realeza. Não podemos
nos esquecer dos túmulos, todos esculpidos, muitos deles em ouro maciço.

Na pintura, por meio de cores em tom pastel, eram reproduzidas caçadas, batalhas e cenas do
cotidiano dos reis e dos deuses. Entres os persas, destacavam-se os objetos de cerâmica ou de tijolo com
trabalho esmaltado.

Ressalta-se a ourivesaria, que constituía uma das atividades artísticas mais importantes da região,
com a fabricação de estatuetas de cobre e mármore, colares usados por todos e braceletes com pedras
de estilos variados.

Novamente, vemos as produções de arte cujo eixo temático é a história de um povo.

Dessas civilizações, restaram poucas coisas; além das enchentes e inundações, esses povos insistiram
nas disputas de terra e poder.

Agora, as pirâmides serão a referência para o próximo tema, elas foram consideradas uma das sete
maravilhas do mundo, e você já deve ter ouvido falar delas, não é mesmo?

2.3 Arte no Egito

A civilização egípcia sempre teve uma organização social rica em realizações culturais e uma escrita
bem estruturada. As obras de arte se caracterizavam pelo forte caráter religioso e funerário, devido à
crença dos egípcios na vida após a morte — na verdade, tudo no Egito era orientado pela religião.

Entre os motivos da arte, o mais exposto era a figura do faraó, soberano absoluto, representante de
Deus na Terra; além disso, havia vários deuses personificados em aves e animais.

Figura 3 – Desenho egípcio

Sem dúvida, uma das obras artísticas mais expressivas do Egito são as pirâmides, com sua
monumentalidade e ampla base, simbolizavam a total autoridade do faraó. Sua estrutura é composta
por um triângulo isóscele, que garante equilíbrio e segurança.
17
Unidade I

As três pirâmides de Gizeh são o símbolo do Egito. O templo do vale é ligado ao templo mortuário,
abrigando a esfinge de Gizeh, que foi esculpida diretamente na rocha do planalto com corpo de leão e
cabeça de ser humano, sendo considerada por muitos a própria imagem do faraó.

A pintura egípcia é sempre bidimensional, com cores provenientes de substâncias minerais,


predominando o vermelho-tijolo para representar o homem, o amarelo ocre para a mulher, o preto para
cabelos e olhos, o azul para a água e o verde para as plantas.

Um fato interessante foi o reinado do faraó Amenófis IV, que tentou introduzir o monoteísmo,
cultuando o deus Aton, que tinha como símbolo o disco solar. Influenciou também a pintura com
caráter naturalista, representando a fragilidade humana em cenas comuns da rotina das pessoas. Para
completar, a cultura egípcia sofreu novas transformações ao ser vítima de invasões, colocando o povo
em contato com os gregos; porém, a imagem do faraó ainda é o símbolo do Egito e acredita-se que seu
reinado sempre será absoluto.

Você percebeu que pouco se sabe sobre essas civilizações que estudamos? Isso se deve ao
eurocentrismo — a visão de homem, de história e de civilização, a qual tem a Europa como referência.

2.4 Arte na Grécia

Na Grécia, outra cultura que teve sua especificidade em seu estilo e em sua linguagem, encontram-
se vários monumentos, principalmente na Ilha de Rodes, como o conhecido Colosso de Rodes, localizado
no porto do Mar Mediterrâneo, entrada da ilha, e a escultura gigantesca de Zeus.

Na arte grega, a natureza era o motivo mais retratado: touros, símbolos marinhos e animais
ilustravam a cerâmica. O artista grego procurava colocar em suas obras o equilíbrio, a harmonia,
tendo como características o racionalismo, o amor e a beleza, o interesse pelo homem e a
democracia.

Figura 4 – Laocoonte e seus filhos

18
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Lembrete

Para os egípcios, o mais importante era o faraó. Já para os gregos, o ser


humano ocupava um lugar especial no Universo, sendo que a razão estava
acima da crença em qualquer divindade.

Saiba mais

Para saber mais sobre a arte grega e egípcia, acesse: <http://www.


historiadomundo.com.br>.

Nas esculturas, os gregos preocupavam-se em manter a simetria do ser humano, tanto que esculpiam
em bronze e liga metálica a figura nua do homem ereto, em posição frontal e com o peso do corpo
distribuído sobre as pernas. As pedras eram também outro material utilizado.

A arquitetura grega era construída com as mesmas normas de simetria e proporções ideais, os
templos possuíam uma base de três degraus e eram estruturados por colunas, cobertos por dois telhados
altos no centro e inclinados para os lados.

Sobre as artes plásticas da Grécia, essas eram essencialmente públicas; localizavam-se em fontes —
com figuras mitológicas, em praças centrais — com figuras do poder, em templos ou nas colunas dos
teatros de arena.

A seguir, entraremos em contato com a arte romana e o Coliseu, um espaço mais utilizado pelos
romanos.

2.5 Arte em Roma

A arte romana teve como principais características a funcionalidade, porque tudo o que eles
construíram em termos arquitetônicos tinha função e praticidade, e também o realismo, que marcou
essa civilização. Ela foi influenciada pelos etruscos, gregos e orientais; porém, os romanos conseguiram
criar um estilo próprio, inovando a arte. Sua maior contribuição artística foi a arquitetura, pois valorizava
o espaço interno e a composição estética e natural dos elementos. Não podemos deixar de comentar
sobre outra característica importante da arte romana, representada pela grandeza dos monumentos
arquitetônicos. A importância do caráter do homem, no sentido político, que era muito maior do que a
beleza e a originalidade no contexto da época.

19
Unidade I

Figura 5 – Exterior do Coliseu de Roma, Itália

Os templos romanos tinham uma planta retangular, com colunas de ordem dórica, jônica, coríntia,
toscana e compósita. Os teatros foram construídos sobre uma estrutura de pilares e abóbadas, com
orquestra pequena, assentos e um palco maior com fundo em alvenaria. Nos anfiteatros, realizavam-se
as lutas dos gladiadores, sendo o Coliseu o mais majestoso. Seu exterior era decorado com esculturas de
pedra e colunas gregas com capitéis ornados nos estilos citados.

A pintura romana, como as demais, tinha como temas as cenas do dia a dia, apresentavam muitos
rostos em forma de retratos e animais. Além disso, destacavam-se pinturas homenageando e descrevendo
as entradas após as batalhas triunfais, vitórias militares das disputas e das regiões conquistadas.

Nossa viagem continua pelos séculos, e a Idade Média vem acrescentar a este estudo as mais curiosas
informações, dada sua riqueza de descobertas e inventos provocados pela ditadura da Igreja nos mais
diversos âmbitos da sociedade.

2.6 Arte na Idade Média

Durante a Idade Média, a arte se dividiu em três estilos: bizantino, românico e gótico. Esses estilos
aparecem após a Reforma Protestante e tiveram como líder Martin Lutero, que escreveu inúmeros
textos contra a Igreja Católica; por isso, muitas linhas religiosas apareceram por conta de suas críticas,
e os templos religiosos criaram seus estilos.

Entre as principais características artísticas desse período, citamos a questão do analfabetismo e das
ilustrações, que tiveram um lugar especial e importante para a divulgação do catolicismo. Como a Igreja
era rica o suficiente para bancar a arte dos templos, as igrejas eram decoradas com afrescos belíssimos,
e eles são famosos até hoje.

Naquela época, várias críticas foram feitas à Igreja em relação ao pagamento dos indultos; por esse
motivo, muitos fiéis abandonaram o catolicismo e migraram para outras doutrinas, como a de Bizâncio,
o protestantismo, entre outras. E, se pensarmos em termos de propaganda, essa decoração surgiu como
meio e avanço da época, que trouxe inúmeros fiéis de volta à Igreja. Posteriormente, veremos essa
atitude da Igreja com o nome de Contrarreforma.

20
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

O bizantino é o estilo das igrejas da Idade Média, e esta, em especial, apareceu após a época iconoclasta,
que proibia todos os tipos de imagem. Nessas igrejas, há produção do mosaico com inúmeras cores e
técnicas. Este foi utilizado na propagação do Cristianismo, e um dos mais famosos apresenta Cristo
como mestre.

A arte bizantina também tem como referência os ícones, que eram pequenos painéis de madeira
com imagens pintadas de santos e seres sagrados. Os vitrais ilustravam passagens bíblicas, a vida dos
santos, representando manuscritos iluminados gigantescos. Os vidros picados e coloridos sensibilizaram
os artistas para a percepção das cores.

Quanto à pintura gótica, era repleta de simbolismo espiritual. As cores eram definidas da seguinte
forma: o azul era atribuído a Virgem Maria; o marrom, a São João Batista.

Vale ressaltar que, apesar das obras citadas, inúmeras descobertas e inventos terem integrado a
Idade Média, relaciona-se a ela o preconceito existente no Renascimento, período posterior, que, para
sobrepor-se, criou essa cultura usada até os nossos dias.

Essa época volta-se para o período entre a Antiguidade Clássica até o século XVI, momento em que
teoricamente ela termina. Considera-se esse período, também conhecido como Idade das Trevas, como
algo vago, em que nada foi criado, período de barbárie, de ignorância e de superstição.

Infelizmente, muitos historiadores da arte têm o conhecimento de que a Idade Média é o tempo das
trevas, porque durante esses séculos, quem não fosse da Igreja não tinha chance de produzir, e a arte
que não utilizasse desse viés temático não era considerada. Assim, os temas e os motivos das obras sem
a religião como pano de fundo não poderiam participar do momento artístico.

2.7 Renascimento

As mudanças entre séculos e estilos não ocorrem de repente; assim, as transformações entre a Idade
Média e o Renascimento foram se configurando aos poucos, mesmo com a cultura do Renascimento, na
qual o homem renasce das cinzas da Idade Média.

O século XV ficou conhecido como o século do Renascimento, devido a diversas mudanças


sociais e várias conquistas. Na Idade Média, o livro manuscrito era monástico, ou seja, confeccionado
artesanalmente pelos monges copistas, e a disseminação de ideias era limitada, com erros frequentes e
em pouca quantidade (RIBEIRO et. al., 2007).

O termo “renascimento” foi utilizado justamente pelo preconceito existente em relação à Idade
Média, período vago e sem criatividade — chegava o momento de a arte renascer. O Renascimento
modificou fortemente o cenário europeu. Na Itália, houve elevado crescimento nas administrações
públicas. Em Florença, notavam-se melhorias na arquitetura e nas ciências — exceto na tipografia, por
conta da resistência dos mecenas quanto ao produto impresso, diferente de Veneza e Roma, que, devido
à presença de gravadores e impressores originados da Alemanha, a tipografia era bem aceita (FETTER et.
al., 2010).
21
Unidade I

Figura 6 – Crucificação de Cristo (Giotto di Bondone, 1306)

O Renascimento teve início no século XIV na Itália, recebendo esse nome porque seus integrantes
buscavam reavivar a cultura da Antiguidade Clássica greco-romana. A principal característica desse
movimento foi a busca da compreensão da humanidade como um todo. Em termos de arte, as principais
características foram o nome dado àqueles que protegem os escritores, os artistas ou os sábios. Houve
o desenvolvimento das técnicas de perspectiva e profundidade, o impressionismo, o realismo das obras
e a ampliação das técnicas de sombreamento. A figura humana na arte renascentista passa a refletir o
sentimento de autoconfiança de uma sociedade com vários níveis sociais.

Figura 7 – Tentação e expulsão do Éden (detalhe do afresco de Michelângelo)

Observação

O tema predominante nas obras artísticas e literárias do Renascimento


é sempre o homem e tudo o que diz respeito a ele.

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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Logo a seguir, estaremos diante de uma grande expressão! Algo grandioso, exagerado e rebuscado.

Você já viu alguma foto de igrejas douradas? Já viajou alguma vez para as cidades históricas
de Minas Gerais? Se a resposta for positiva, você já teve contato com essa grande arte, o Barroco.

2.8 Barroco

Quem nunca ouviu falar de Aleijadinho? Ele foi um dos artistas mais famosos da época e seus
trabalhos estão expostos em várias cidades de Minas Gerais. Essas cidades foram tombadas e são
consideradas patrimônio histórico universal. Nas esculturas de Aleijadinho, encontramos características
do rococó e dos estilos clássico e gótico. Os materiais que ele mais utilizou em suas obras foram a pedra-
sabão e a madeira.

Figura 8 – São Gerônimo (Guido Reni, 1635)

O Barroco pode ser compreendido como o movimento que rompe com épocas anteriores,
entre os séculos XVI e XVIII, valorizando o infinito, o dramático, refletindo um conflito entre
o divino e o homem. Ficou conhecido como um movimento complexo e contraditório. Veja a
citação a seguir:

O homem barroco é um saudoso da religiosidade medieval, a Igreja


reinspirou nele pelos artifícios artísticos e pela revanche dinâmica da
contrarreforma, redespertando os terrores do inferno e as ânsias da
eternidade. Mas é, ao mesmo tempo, um seduzido pelas solicitações
terrestres e pelos valores do mundo — amor, dinheiro, luxo, posição,

23
Unidade I

aventura, que a Renascença, o Humanismo e as descobertas marítimas


e as invenções modernas puseram em relevo. Desse conflito, desse
dualismo, é impregnada a arte barroca (COUTINHO, 2004, p. 19).

A pintura de Leonardo da Vinci, A última ceia, de 1498, do período renascentista, tornou-se a obra
referência do período barroco, devido às características que se fizeram presentes. Veja o que um dos
estudiosos de arte diz sobre essa obra:

A utilização da perspectiva, que pode ser percebida na paisagem


montanhosa da janela; a perfeição da imitação percebida na riqueza de
detalhes dos objetos, alimentos e forma humana; e a disposição simétrica
dos personagens, como pode ser visto Jesus ocupando o centro da cena
(GOMBRICH, 1986, p. 267).

Assim, a arte barroca promove um mundo de significados sobre a natureza do homem e sua cultura.
Essa riqueza de detalhes forma um painel de variedade de formas, de sombras, de luzes e de cores que
compõem sua exuberância, sendo a expressão artística mais sinestésica, como fala Percival Tirapelli
(1993, p. 40), o maior especialista do barroco no Brasil: “só entendemos o barroco, quando o vemos
frente a frente!”.

O Barroco foi a maior manifestação da Igreja em termos de propaganda, ou seja, teve um papel
importantíssimo na Contrarreforma. Foi utilizado como forma de divulgar o catolicismo e chamar os
fiéis de volta à Igreja depois da Reforma ocorrida na Idade Média, fato que já estudamos anteriormente.
Assim, podemos notar como o mundo das artes demonstra criteriosamente o que acontece em seu
tempo.

Saiba mais

Para saber mais sobre o Barroco e sobre Aleijadinho, leia: LEMOS, M. A.


B. Aleijadinho - homem barroco, artista brasileiro. São Paulo: Garamond,
2008.

2.9 Classicismo

Neste momento de nosso estudo, será importante retomar o período greco-romano, inserido no
período clássico, como o próprio nome indica, porque uma das características desse período buscou
valorizar os elementos artísticos da cultura clássica. Ocorreu no período do renascimento cultural nas
artes plásticas, no teatro e na literatura. Esse movimento, que teve o nome de Neoclássico, deve-se às
escavações realizadas na Grécia, e os motivos, obras e ruínas foram recuperados e voltaram a compor o
cenário da arte.

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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Figura 9 – O Rapto das Sabinas, Jacques Louis David, 1799

Entre as características já citadas, temos a recuperação dos aspectos culturais dos povos da
Antiguidade e a valorização das teorias filosóficas da cultura da Grécia e Roma Antiga. Outro aspecto
importante foi a influência do pensamento humanista, que possibilitou ao homem a valorização de suas
ideias e dos valores morais — solidariedade, respeito, honestidade, liberdade e amor. Diante da abertura
ao pensamento do homem, surgiu o termo antropocentrismo, que defendia o homem como centro
do universo, era crítico às explicações pautadas na religião, e tinha o objetivo da busca da pureza de
equilíbrio, da pureza formal e do universalismo com base no racionalismo.

Entre os artistas que mais se destacaram no Classicismo, citamos: Leonardo da Vinci, Michelangelo,
Rafael Sanzio, Andrea Mantegna e Claudio de Lorena.

2.10 Romantismo

A que podemos associar o termo romantismo? Alguns podem lembrar-se de uma rosa, de um amor,
ou quem sabe de uma paixão. Napoleão Bonaparte governou a França com paixão. Essa paixão tornou-
se posse, e essa personagem mostrou seu amor pela França com um nacionalismo exagerado. Assim, a
arte começou a mostrar as guerras em suas obras.

Beethoven compunha músicas a pedido de Napoleão, que queria dominar o mundo. Outro fator
social importante se deve à Revolução Industrial, que teve início no final do século XVIII e início do XIX,
pois foi a partir daí que novos materiais fabricados apareceram para atender à expectativa da produção
e do trabalho.

Nós, educadores, temos que nos atentar à pesquisa de Ariès (1978), quando questiona a mudança
do valor da criança na sociedade, devido ao interesse do poder econômico em relação a essa mão de
obra barata.

Outro importante movimento ocorreu para beneficiar socialmente a pessoa — a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão. A arte e os artistas mostraram essa mudança social e se libertaram das
técnicas acadêmicas, investiram mostrando os sentimentos do artista em suas obras; por conta disso,
a imaginação do artista apontou a natureza, o claro e o escuro, os valores humanos e o nacionalismo,
reforçando a tríade — Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
25
Unidade I

O pintor Goya, nesse momento, mostra essa tríade com os horrores da guerra e as lutas intermináveis.
O clássico tema mitológico é utilizado por ele, que retratou também as personalidades da corte espanhola
e pessoas comuns em guerra. Os fuzilamentos, como exemplo, é uma obra sobre a liberdade.

Nessa época, o Romantismo ainda dialogava com o Barroco, como podemos notar nos quadros de
Delacroix. Segundo esse pintor, o primeiro mérito de um quadro é o de ser uma festa para os olhos.
Ele traduziu isso em sombras, em luzes e num festival de cores por meio de alegorias. Seu quadro mais
famoso é A liberdade guiando o povo, e ele foi amigo íntimo do músico Chopin.

Com tantas transformações sociais e materiais confeccionadas pela indústria, o mundo se reveste de
novidades e em seu bojo traz o modernismo, que indica uma quantidade de estilos, escolas, culminando
com a arte entre as guerras. Enquanto o homem se libertava, construía a guerra. Algo paradoxal, mas
que ocorre até hoje.

2.11 Modernismo

O Modernismo foi um movimento artístico e literário que se desenvolveu entre os séculos XIX e
XX, como uma oposição ao período clássico. Teve como características a aceleração das inovações e
experiências vanguardistas, que foram conduzidas pela recusa do tema realidade como um modelo para
a arte.

Vários escritores, pensadores e artistas fizeram um corte nos meios tradicionais de organizar a
literatura, a pintura e a música, com a ideia de que, se a natureza da realidade estava em questão, assim
também teria de ser com a arte.

No Modernismo, a pintura ganhou traços delicados e elegantes, derivados do estilo gótico e do simbolismo
romântico de dois grupos importantes da Europa no século XIX: os pré-rafaelistas, composto pelos ingleses
Millais, Rosset, Hunt e Brown, e os nazarenos, formado pelos alemães Overbeck, Pforr e Cornelius.

Figura 10 – Prima Donna, Fernando Botero

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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Quanto à arquitetura, havia uma rigorosa coerência entre as formas sinuosas das fachadas e a
decoração interior, feita com ondulações. Era possível vislumbrar as vigas e as estruturas de ferro com a
combinação de cristais. Salienta-se que a estrutura da arquitetura modernista podia ser vista sob duas
tendências: formas sinuosas e orgânicas ou geométricas e abstratas.

No que concerne às esculturas, as formas eram diretamente relacionadas à arquitetura, apresentando


apenas função decorativa. Os materiais e utensílios de uso diário eram produzidos com materiais nobres
e decorados com desenhos que os elevavam à categoria de obras de arte.

Destaca-se que essa época trouxe a revalorização do artesão. Entre tais materiais, o mais importante
foi a invenção da máquina fotográfica, que ocasionou uma das maiores transformações sociais. Entre
o processo de invenção e sua construção, tem-se a pesquisa, que começou com Leonardo da Vinci, e
as transformações e adaptações cronológicas foram realizadas ao longo dos séculos por homens como
Daguerre, Talbot, Niépci, que culminaram com a pesquisa do brasileiro Kossoy, responsável pelo resgate
histórico das pesquisas que comprovaram a invenção paralela da fotografia no Brasil por Hércules
Florence, trazendo reconhecimento mundial a esse inventor.

Se a pintura retratava a realidade, como ficaram os pintores com esse instrumento mais aperfeiçoado,
mostrando o dia a dia dos homens? Vamos abordar esse tema no próximo tópico.

2.12 Impressionismo

Você refletiu sobre as questões levantadas? E como será que os artistas lidaram e transformaram a
arte diante de tais questões decorridas da invenção da máquina fotográfica?

Houve uma intensa revolução. De um lado, os pintores, em seus ateliês, do outro, no espaço público,
os fotógrafos registrando a realidade. Nesse momento, ocorre um fenômeno interessante, os fotógrafos
passam a colorir suas fotos, e os artistas, com os ideais de liberdade, saem dos espaços limitados
destinados às obras de arte e passam a produzir suas obras.

Nesse momento, prevaleciam as cores, as luzes e os matizes, que eram construídos pelos artistas em
suas palhetas. A partir dessas cores primárias, eles inventaram e reconstruíram seus olhares conduzidos
pela natureza. A descoberta das cores ocorreu por meio da luz do sol, e essas cores sofriam modificações.
Os artistas perceberam que o sol, ao nascer, pintava o mundo de uma cor, ao meio-dia de outras cores,
e, conforme seu andamento, a paisagem se transformava junto com ele.

Assim, um mesmo motivo era feito inúmeras vezes sob o efeito das luzes, das sombras e
dos raios de sol entre as nuvens e assim por diante. Consequentemente, a natureza direcionava
aos artistas seus matizes, e suas mãos habilidosas, aos poucos, deixavam de fazer uma pintura
de composição realista e repleta em detalhes para mostrar as cores e as manchas que as luzes
delineavam.

Como já mencionado, vários movimentos surgiram no início no século XIX, e o impressionismo


como característica revolucionou a pintura. Nota-se uma arte alegre e vibrante, com a presença de
27
Unidade I

inúmeras cores e a utilização desses contrastes da natureza, transparências luminosas, mescla de


claridade das cores, sugestões de felicidade e de vida harmoniosa.

Figura 11 – Jardim da casa de Claude Monet em Giverny (1900)

Em abril de 1874, com a realização de uma exposição de artistas impressionistas em Paris, o público
teve o primeiro contato com as obras impressionistas; entretanto, a reação foi contrária ao movimento,
devido à fidelidade aos princípios acadêmicos da pintura.

O termo impressionismo, dado às pinturas integrantes desse movimento, deu-se em decorrência do


quadro de Monet, Impression du Soleil Levant, que foi pintado ao ar livre, contemplando o espaço, a luz
e o movimento, sem considerar as referências mitológicas, históricas e religiosas utilizadas na época,
preferindo as impressões momentâneas do cotidiano.

Entre os principais artistas impressionistas, estão Monet, Renoir, Camile Pissaro, Vicent Van Gogh,
Cézanne e Boudin, com obras que encantam até hoje. É claro que as cores impressionavam até os
próprios artistas, visto que na época não eram fabricadas nas indústrias.

Como sabemos que um movimento se contrapõe a outro e muitas vezes o completa, com o
Impressionismo não foi diferente. E, pensando melhor, qual movimento surgiu para se contrapor
a ele, que utilizava as cores como matéria-prima? O Expressionismo. Como iremos construir esse
conceito?

2.13 Expressionismo

Ficou claro que os impressionistas pregaram as cores como a alavanca desse estilo. E é aí que o
Expressionismo aproveita para se sobrepor. Ele surgiu em 1910, na Alemanha, como um movimento
preocupado com as manifestações interiores, revelando os sentimentos, e em como expressá-las por
meio da materialização em uma tela ou numa folha de papel. Preocupava-se com o emocional, buscando
por meio da distorção das formas e das cores impactar os apreciadores.

Duas obras destacaram-se nesse estilo: O grito, de Munch, e Les demoiselles d’Avignon, de Picasso.
Esta última transita entre o Expressionismo, sobreposto nas faces pesadas das mulheres retratadas, e o
28
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Cubismo, pois o autor buscou imagens partidas em figuras geométricas para transpor os sentimentos
de uma vida difícil das mulheres que vendiam o corpo na região de Avignon.

Como já percebemos, o estilo trabalha com os sentimentos, e foi assim que os artistas criticaram o
Impressionismo, pois escolheram as pessoas, e não as cores e as tintas. Alguns pintores, muitas vezes
transitaram entre esses dois estilos.

Figura 12 – O Grito (Edvard Munch,1895)

No Brasil, em 1912, como representante desse estilo, temos a paulistana Anita Malfatti, que se
matriculou na Escola de Belas Artes de Berlim, na Alemanha, e conheceu o Expressionismo. Ao retornar
ao Brasil, em 1914, realizou sua primeira exposição, em São Paulo, ocasionando uma série de reações,
principalmente de Monteiro Lobato, que, em sua coluna no jornal O Estado de São Paulo, teceu
comentários destrutivos a respeito da obra da pintora. Após esse fato, consolidou-se o movimento
modernista, com intelectuais do Brasil, que, depois de dez anos, organizaram a Semana de Arte Moderna,
em 1922, instituindo a arte brasileira, liberta dos princípios da arte francesa.

Como auxílio de informação ao movimento, alguns escritores também se manifestaram, lançando


vários pasquins, revistas e jornais com severas críticas ao poder brasileiro. Também houve livros
que trouxeram à tona questões brasileiras como a seca e o cangaço, recorrentes nas mais variadas
modalidades de arte.

O Expressionismo declinou em meados de 1933, devido à ascensão de Hitler na Alemanha, que


buscava uma arte limpa, a qual transmitisse a superioridade germânica, e não uma caricatura, como se
dizia.

No que se refere à literatura expressionista, ela é rara no Brasil; porém, merece destaque a poesia de
Augusto dos Anjos, pré-modernista que teve suas obras publicadas em 1912.

29
Unidade I

Retomando nossos aprendizados, tomamos conhecimento dos estilos e das modalidades artísticas.
Agora vamos estudar outro movimento, o qual foi repudiado, teve artistas expurgados, inclusive
chacoteados, e que teve como batismo as feras.

Saiba mais

Para saber mais sobre o Expressionismo, acesse: <http://www.


portalsaofrancisco.com.br/alfa/expressionismo/expressionismo.php>.

2.14 Fauvismo

O termo “fauvismo” deriva de fauves, que significa bestas selvagens. Trata-se de um termo pejorativo
dado a um grupo de artistas em 1905, quando houve a primeira exibição pública de uma obra fauvista.
Ressalta-se que esse foi um movimento artístico de curta duração, entre 1898 e 1908, mas capaz de
revolucionar o conceito de cor na arte moderna. Como artistas fauvistas, citamos André Derain, Maurice
de Vlaminck, Raoul Dufy, Albert Marquet, entre outros.

Uma das características predominantes do Fauvismo foi o uso de cores fortes e das cores primárias,
dando ênfase expressiva às pinturas. Nota-se uma energia poética aplicada pelos artistas, por meio de
linhas vigorosas e com a simplificação dramática das formas.

A tendência das cores vibrantes do Fauvismo provavelmente foi o resultado de experiências realizadas
por Matisse, no ano de 1904; na ocasião, o pintor trabalhava com outros artistas não impressionistas, os
quais faziam aplicações, porções de tinta pura, buscando uma imagem mais real ao seu ponto de vista
do que aquelas imagens produzidas pelo impressionismo.

Figura 13 – Árvore na borda do Rio Sena em Chatou (Maurice de Vlaminck, 1905

Assim como a maioria dos movimentos artísticos, o Fauvismo chegou ao Brasil quando já estava
em declínio em seu país de origem; contudo, teve grande repercussão. Um artista brasileiro que merece
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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

destaque é Artur Timóteo da Costa, que, apesar de não ter adotado de forma integral as características
desse movimento, recebeu o prêmio de uma viagem, que foi conquistado no Salão de 1906, em Paris.
Em suas pinturas, era possível notar o predomínio emocional das cores características desse movimento.

Outro artista brasileiro que devemos destacar é o mineiro Inimá José de Paula, talvez o representante
mais autêntico do Fauvismo no Brasil, considerando que suas pinturas apresentavam nítidas características
desse movimento.

Saiba mais

Um site que apresenta obras muito interessantes do Fauvismo é


o do Museu de Guggenheim. Para saber mais, acesse: <http://www.
guggenheimcollection.org/site/artist_works_23_0.html>.

A seguir, estudaremos o Futurismo. E a literatura, assim como no Modernismo, novamente apoia ou


toma a frente de um movimento artístico.

2.15 Futurismo

O Futurismo foi lançado em 1909, em Paris, para defender a destruição do passado, destacando o
ritmo de vida moderno e exaltando o futuro. Para isso, os futuristas pregavam algumas questões, como:
a destruição da sintaxe, o uso do verbo no infinitivo, a abolição do advérbio e da pontuação.

Figura 14 – Dinamismo de um automóvel (Luigi Russolo, 1913)

Esse movimento artístico ficou conhecido pela ação e pela velocidade. Trouxe os aspectos da vida
moderna, demonstrados pelos ruídos das fábricas, dos carros e dos trens, que aos poucos entravam no
cenário mundial. Ao retratar a violência, os futuristas acreditavam que rompiam com a arte do passado,
rejeitando o moralismo.

31
Unidade I

O Futurismo deu grande ênfase à guerra e à violência, expressando o movimento real e destacando
a velocidade exposta pelas imagens em movimento no espaço. Assim, quando um pintor futurista fazia
a pintura de uma pessoa correndo, o que ele buscava na verdade era demonstrar a velocidade e o
movimento que ela fazia.

Sua repercussão se ocorreu principalmente nos países da Europa, como França e Itália. No Brasil,
vários artistas foram influenciados por esse movimento, entre eles, Oswald Andrade e Anita Malfatti.
Após a Primeira Guerra Mundial, o Futurismo enfraqueceu, deixando indícios para outro movimento, o
Dadaísmo.

A seriedade, a velocidade, os ruídos, as máquinas e a violência pesaram, e o Dadaísmo surgiu com


seu estilo de brincar com as formas sem compromisso, utilizando-se da ingenuidade.

2.16 Dadaísmo

O Dadaísmo iniciou-se durante a Primeira Guerra Mundial, propondo um retorno à primitividade e


o começo de uma arte nova.

Com o dadaísmo, uma nova realidade toma posse de seus direitos. A vida
parece uma simultânea confusão de barulhos, de cores, de ritmos espirituais
que são imediatamente retratados na arte dadaísta pelos gritos e pelas
febres sensacionais da sua audaz psique cotidiana e em toda a sua brutal
realidade. Eis a encruzilhada bem definida que distingue o Dadaísmo de
todas as outras tendências da arte [...] (MICHELI, 1991, p. 41).

Figura 15 – Activated circles (Sophie Taeuber Arp, 1934)

Na verdade, esse movimento tinha a intenção de driblar o conflito gerado pela guerra, investindo na
não superioridade do artista como criador. Nele, prevalecia o improviso na arte. Um dos principais nomes
e também fundador do Dadaísmo é Tristan Tzara, autor que ensina muito a respeito desse movimento.
Veja o trecho a seguir:

32
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo
e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço, um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você [...]1

Se as dicas expostas no poema apresentado forem seguidas, chega-se à técnica do Dadaísmo, que,
no lugar da originalidade, procurava a seleção e a reorganização dos objetos escolhidos, fazendo que o
espectador visse o objeto com um novo olhar, sob uma nova perspectiva de recontextualização.

A imprensa tipográfica teve grande importância para o artista desse movimento, combinava-se o
produto industrializado com o artesanal, conforme explica Hannah Hoch:

Todo o nosso objetivo consistia em integrar os objetos do mundo das


máquinas e da indústria ao mundo da arte. Nossas colagens tipográficas, ou
montagens, pretendiam realizar isso impondo, sobre uma coisa que só podia
ser feita à mão, a aparência de uma coisa que havia sido totalmente feita a
máquina. Numa composição imaginativa, costumávamos reunir elementos
retirados de livros, jornais, cartazes ou folhetos, num arranjo que até então
nenhuma máquina podia compor (HOCH, 2005, p. 177 apud CHIPP, 1999,
p. 414).

No que se refere à literatura, aproximam-se da poesia dadaísta os versos de Mário de Andrade, que
define harmonia como:

Combinação dos sons simultâneos. Exemplo: “arroubos... Lutas... Setas...


Cantigas…
povoar!...” estas palavras não se ligam. Não formam enumeração. Cada
uma é frase, período elíptico, reduzido ao mínimo telegráfico. Se pronuncio
“arroubos”, como não faz parte de frase (melodia), a palavra chama a atenção
para seu insulamento e ficava vibrando, à espera duma frase que lhe fizesse
adquirir significado e que não vem (ANDRADE, 2007, p. 4).

Dessa forma, ressalta-se que o Dadaísmo caracteriza-se pelo uso da justaposição e pela ruptura
das obras com o padrão artístico vigente, exaltando sempre o desejo de liberdade sem regras nem
sequências.

O estilo que estudaremos a seguir foi mencionado quando tratamos do Expressionismo. Lembra-se
da obra Les demoiselles d’Avigon? Ela é aceita também no estilo cubista. Agora, vamos saber o motivo.

1
Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com.br/literatura/dadaismo.htm>. Acesso em: 30 jun. 2012.
33
Unidade I

2.17 Cubismo

O Cubismo foi um movimento artístico que valorizava as formas geométricas ao revelar os objetos
em seus múltiplos ângulos. Na pintura, os artistas mais conceituados foram: Picasso, Braque, Fernand
Léger e Mondrian. Picasso, que sabia pintar em vários estilos com maestria, ficou conhecido quando
utilizou as formas geométricas para produzir.

Figura 16 – Ás de espadas (Juan Gris, 1914)

Era como se o mundo fosse visto com óculos que construíam ângulos, como num filme de ficção. A
natureza, os homens, os animais, as frutas e as flores eram representados por meio de figuras geométricas;
não havia preocupação com a fidelidade à aparência real das coisas.

A origem desse movimento ocorreu a partir da obra de Cézanne, que acreditava que as pinturas
deveriam decompor as formas com cones, cilindros, esferas e quadrados. Todavia, esse foi apenas o
início do Cubismo, os artistas que aderiram ao movimento passaram a utilizar todas as formas para
representar os objetos.

Assim, como principais características do movimento, temos: a geometrização das formas e dos
volumes; a perspectiva foi renunciada, o claro-escuro não tem mais função; as superfícies planas
também perdem seu valor; o volume é representado por meio de cores; a pintura passa uma sensação
de escultura; as cores são austeras e fechadas, do branco ao negro, passando pelo cinza, bem como pelo
castanho.

Lembra-se de que comentamos sobre o uso desses estilos como método em sala de aula? Pois é, a
Pop art, que veremos a seguir, pode trazer inúmeras ideias para nossa práxis.

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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

2.18 Pop art

O movimento Pop art surgiu em 1956, na Inglaterra, onde os artistas criticavam o modo de vida dos
americanos utilizando histórias em quadrinhos, propagandas e objetos produzidos em massa.

Esse estilo preconizou a produção das fábricas, das indústrias, dos objetos feitos em grande
quantidade. Diante das mudanças e do contexto pós-Revolução Industrial, a sociedade se transformou
e o movimento acelerado das fábricas e dos carros influenciou os artistas, que passaram a produzir arte
em série, utilizando o tema da velocidade, que também foi visto no Futurismo.

O Pop art uniu o período pós-guerra às concepções do poder e da Guerra Fria, pois o recorte e a
colagem eram técnicas fáceis; assim, qualquer um podia ser artista. Um exemplo desse estilo mostrou
colagens repetidas em séries, transformando uma mesma imagem em várias outras, com o auxílio ou a
transformação das cores.

Outro exemplo é a imagem do ícone Marilyn Monroe, ilustrada por Andy Warhol. Ele utilizava
imagens de artistas conhecidos e cobiçados como se fosse um produto do mercado de consumo.

Destacam-se, entre os artistas desse movimento, Richard Hamilton, “popular,


transitório, descartável, barato, produzido em massa, jovem, espirituoso,
sexy, cheio de macetes, glamoroso e Grande Negócio” (PHAIDON, 2010, p.
509, grifo do autor).

No Brasil, o Pop art ocorreu na época em que o país enfrentava a ditadura dos militares. Vários
artistas, jornalistas, músicos foram perseguidos, presos, torturados, mortos e exilados.

Diferente do movimento americano, o pop art brasileiro utilizou a mesma técnica para registrar
em suas obras a insatisfação com a censura do regime militar. Em 1960, tem-se a Nova Figuração, um
movimento que tratava o pop art por meio da iconografia urbana e o abuso de cores, restringindo-se às
questões sociais de política e à violência sexual e urbana.

Segundo o crítico de arte Paulo Sérgio Duarte, a Nova Figuração representava


“pela primeira vez nas artes plásticas, a questão política e a crítica social
apareciam integradas às novas linguagens, e não associadas aos ‘realismos’
dos artistas ‘oficiais’ da esquerda” (CANONGIA, 2005, p. 50, grifo do autor).

Entre as exposições mais importantes, destaca-se a Opinião 65, que ocorreu no Rio de Janeiro,
composta por 17 artistas brasileiros e 13 estrangeiros, abordando a manifestação dos artistas em relação
ao Golpe Militar de 1964.

2.19 Op art

O termo op art vem do inglês optical art e significa arte óptica. Trata-se de um movimento artístico,
que teve por objetivo dar movimento às pinturas. O Op art promovia em suas obras efeitos óticos,
35
Unidade I

oscilando em relação a dois planos — o chão e a parede. Utilizou também o conhecimento da ciência
para sua pintura.

A arte óptica requer o efeito ótico, em que a ciência mostra efeitos visuais para que o apreciador
observe desenhos distorcidos e que apresentem algo inovador. É uma forma de arte fantástica, que
ludibria a visão do observador, transformando uma simples imagem numa figura representativa do real.

O Op art e suas pinturas fazem que as percepções ópticas se multipliquem. Para que os efeitos tomem
proporções dignas de uma ilusão, as cores são muito usadas. Alguns tons são vibrantes, e as figuras
geralmente possuem o mesmo centro, a fim de causar um efeito visual nas figuras, que geralmente
parecem pulsar em nosso campo visual!

Vários artistas impuseram suas técnicas para representar o Op art; alguns fizeram pinturas em preto,
que representava o minimalismo, marcando a fase após a década de 1960. Outros pintores americanos
utilizaram listras e cores em suas obras para gerar uma optical art.

Entre os artistas que mais se destacaram, estão Keneth Noland e Bridget Riley. Noland dá destaque
às cores; Riley, aos traços, tendo seu trabalho marcado por listras que se sobrepõem.

Arte foi o nome cravado nesses estilos, e a Land art também se apropriou disso.

2.20 Land art

A Land art é um movimento artístico de origem inglesa, que utiliza materiais da natureza
(como madeira, pedras, terras, rochas) para a criação de obras de arte. Está diretamente ligado às
preocupações ecológicas, visando desarticular a arte de um objeto comercial. Aprimora o olhar a
monumentos construídos em espaços públicos, e os registros são feitos por meio de fotografias,
vídeos e pinturas.

As obras de arte criadas por um artista desse movimento podem ser tanto elementos naturais que se
decompõem, quanto elementos artificiais que serão desfeitos, restando apenas as imagens feitas pelo
artista no momento.

No Brasil

2.21 Body art

Se falarmos em arte no corpo, lembramo-nos de quem? Índios? Tatuagem?

A Body art (arte no corpo) foi um movimento de curta duração, em que o corpo estava no centro
da criação artística, sendo o meio de expressão e a matéria para a realização dos trabalhos. Nesse
movimento, o corpo humano era o suporte para a pintura, a qual assumiu diferentes formas: tatuagens,
ferimentos, atos repetidos, deformações que assumiam a forma de arte.

36
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Assim, o corpo passou a ser o instrumento de trabalho do artista, dispensando os demais suportes
técnicos, como a tela. Essa arte faz relações com a vida cotidiana.

Saiba mais

Para saber mais sobre a Body art, acesse: <http://www.itaucultural.


org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/index.cfm?fuseaction=termos_
texto&cd_verbete=3177>.

2.22 Abstracionismo

O nome do Abstracionismo mundial foi Wassaly Kandisky. Esse movimento é caracterizado pela
falta de relação entre formas e cores, que, numa tela abstrata, não representam a realidade do ser
humano, tampouco narram alguma cena. Quando pretendo ensinar o Abstracionismo aos meus
alunos, costumo dizer: — Quando vocês olharem uma obra e não entenderem, ela é uma obra
abstracionista.

O Abstracionismo tem suas origens no expressionismo alemão, com o grupo Cavaleiro Azul, do qual
Kandinsky fazia parte. Em 1912, o artista russo Vladimir Tatlin visita Paris, e, influenciado pelas colagens
cubistas, começa a fazer pintura de relevo, usando materiais diversos. Suas obras eram completamente
abstratas e serviram de base para o movimento construtivista.

Devido a suas características mais precisas, duas tendências se firmaram: o abstracionismo informal,
no qual predominam as formas e as cores criadas livremente, e o abstracionismo geométrico, cujas
formas e cores devem ser organizadas de modo que a expressão final seja uma composição geométrica.
A falta de compreensão e lógica tomou conta dos estilos e então surgiu o Surrealismo, que estudaremos
a seguir.

Figura 17 – Círculo em um círculo (Vasily Kandinsky, 1923)

37
Unidade I

2.23 Surrealismo

O movimento surrealista surgiu no início do século XX, em Paris, resultado das teses de Sigmund
Freud, criador da Psicanálise. Foi utilizado em parte dos tratamentos clínicos e serviu de base para a
análise dos pacientes perturbados diante da comoção social que assolava o mundo por conta das perdas
familiares ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial. Freud adotou a arte e os sonhos em seu método
de análise; posteriormente, Jung passa a adotar esse método em hospitais e clínicas.

O Marxismo também influenciou esse movimento, pois enquanto o homem buscava seu inconsciente
por meio da arte e dos sonhos, esses pensamentos e a forma de ver o mundo se equilibravam em
contraposição às teorias marxistas, uma forma mais objetiva, voltada ao real e ao concreto.

Andre Breton escreve o Manifesto Surrealista, que também teve apoio dos escritores e de artistas
que pintavam em outros estilos.

2.24 Hiper-realismo

O Hiper-realismo foi um movimento que se iniciou nos anos 1960, a partir de uma pintura de
Edward Hopper. Foi criado como forma de respeito à competição desleal no mercado artístico mundial,
adquirindo um contexto de linguagem plástica, visual e performativa, copiando minuciosamente os
objetos em tinta acrílica, que, devido a essa tinta, se tornavam mais reais e intensas. Alguns críticos de
arte dizem que esse movimento também fez uma crítica aos espaços e construções úteis do público e
do privado, dialogando com a liberdade.

Edward Hopper deixou um legado de mais de 2000 obras. Os artistas que pertenceram a esse
movimento construíram obras gigantescas, em especial esculturas. Os que mais se destacaram foram
Chuck Close, Richard Estes e Malcolm Morley, que adotaram enunciados idênticos, reabilitando o
figurativismo.

Com a chegada dos anos 1980, esse movimento perdeu sua autonomia, convertendo-se em uma
tendência morfológica — por sua forma e tamanho, e utilitária — diante do uso de espaços culturais e
de circulação pública e processual.

A seguir, focaremos no plástico e nas possibilidades de outras modalidades artísticas.

3 Modalidades de arte

Além dos vários movimentos artísticos que a arte possui, ela também assume diferentes modalidades.
A dança, a música, as artes plásticas e visuais se diferenciam e enriquecem nosso cotidiano.

3.1 Dança

Há vestígios da dança desde os primórdios da humanidade. Sabe-se que a comunicação é resultado


de um longo processo de evolução. Inicialmente, a comunicação entre seres humanos consistia em
38
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

gestos e grunhidos que imitavam os animais e os barulhos da natureza. Os homens, por meio do corpo,
transmitiam e recebiam mensagens e também compartilhavam com seus grupos uma linguagem de
signos e sinais. De acordo com Ribas (1959), o homem se comunicava por meio de sinais, gestos e
expressões que exprimiram vários ritmos.

Existem indícios de que o homem dança desde os tempos mais remotos.


Todos os povos, em todas as épocas e lugares, dançaram. Dançaram para
expressar revolta ou amor, reverenciar ou afastar deuses, mostrar força ou
arrependimento, rezar, conquistar, distrair, enfim, viver! (TAVARES, 2005, p. 93).

Os movimentos executados pelo homem por meio da dança ficaram gravados em desenhos nas
rochas e nas paredes das cavernas. Nas eras Paleolítica e Mesolítica (9.000 a 8.000 a.C.), a dança estava
relacionada com a sobrevivência do homem, pois, acreditando que impediria fenômenos naturais, ele
fazia rituais por meio da dança. Durante esse período, pode-se dizer que se tratava de movimentos
desordenados, que foram evoluindo no decorrer da história (LANGENDONCK, 2004).

A dança pode ser apresentada de diferentes formas, seja como manifestação artística ou simples
diversão. Pode ser classificada por diferentes critérios, como: pelo modo de dançar, por sua origem ou
finalidade. Quanto ao modo de dançar, tem-se: a dança de solo, a dança em dupla e a dança em grupo.

A dança de solo consiste na apresentação de uma única pessoa, como a


coreografia de um solista de balé. A dança em dupla consiste na apresentação
de duas pessoas, indiferente do sexo, como o tango. E a dança teatral é uma
dança para espetáculos, como o balé (SCHWARTZ, 1999, p. 49).

No caso da origem, a dança pode ser classificada como folclórica, histórica, cerimonial e étnica. A
dança folclórica é a forma tradicional de dançar de determinado povo, como o carimbó. Como exemplo
dessa dança, temos a sarabanda, originada na Espanha, uma dança lenta. E, como dança cerimonial,
temos as danças rituais indianas.

Quanto à finalidade, a dança pode ser: erótica, como o strip-tease; cênica ou performática, como a
dança do ventre; social, que consiste na dança para o próprio prazer do participante, como a dança de
salão; e a religiosa, como a dança zouk.

Dessa forma, pode-se dizer que o mundo da dança é amplo, sua riqueza e diversidade atraem os mais
variáveis públicos, podendo ser uma manifestação artística, um exercício físico ou apenas divertimento,
e pode ser realizada por qualquer pessoa, independente de sua cultura, etnia ou religião.

Saiba mais

Para saber mais sobre danças, acesse: <http://www.efdeportes.com/


efd128/a-danca-no-contexto-da-educacao-fisica.htm>.
39
Unidade I

3.2 Música

A música é uma das modalidades de arte mais presentes em nosso cotidiano. Ouvindo apenas um
minuto de uma música, é possível notar sua expressão, seja em sua casa, vinda de um vizinho ou de um
carro que passa pela rua.

Em forma de arte, a música assume um meio em que mensagens são transmitidas por meio de
diversos sons.

Sobre o poder da música:

[...] a música está presente na vida do homem desde os primórdios, fato que
pode ser observado ao se analisar as épocas da história, pois, em cada uma,
ela está sempre presente. Apesar de o homem pré-histórico não ter como
objetivo fazer a música em si, e sim imitar os sons da natureza por meio de
sinais sonoros, como gritos, batidas em pedras ou com ramos de árvores; o
fato de produzir sons já pode indicar o início do longo percurso percorrido
pela música (FARIA, 2001, p. 4).

A música assumiu um papel de grande importância em civilizações antigas, como a grega, a egípcia
e a romana. Assim, sucessivamente foi assumindo lugar de destaque em cada uma das modalidades
artísticas de cada época.

Tal como a dança, a música traz muito da cultura de um povo. No Brasil, há uma grande variedade
de ritmos espalhados pelas regiões. A música brasileira foi resultado de uma mistura dos elementos
europeus, africanos e indígenas. Com o passar dos tempos, sofreu outras influências, como a música
americana. Hoje é possível escutarmos músicas de tipos variados, desde ritmos mais lentos até os mais
agitados, que estão sempre presentes na sociedade.

3.3 Artes visuais

As artes visuais são recursos e formas de expressão vistos por meio de desenhos, pinturas, gravuras,
esculturas e colagens, nos quais o artista busca representar seu mundo real ou imaginário.

O modo visual constitui:

Todo um corpo de dados, que, como a linguagem, podem ser usados


para compor e compreender mensagens em diversos níveis de utilidade,
desde o puramente funcional até os mais elevados domínios da expressão
artística. É um corpo de dados constituído de partes, um grupo de unidades
determinadas por outras unidades, cujo significado, em conjunto, é uma
função do significado das partes (DONDIS, 1997, p. 3).

E a identidade visual pode ser entendida como:


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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

O conjunto de elementos gráficos que irão formalizar a personalidade visual


de um nome, ideia, produto ou serviço. Esses elementos agem mais ou menos
como as roupas e as formas de as pessoas se comportarem (STRUNCK, 2003,
p. 57).

Nesse contexto, quando se cria uma identidade visual, procura-se sintetizar sua personalidade,
tornando-se uma busca da condição do homem em um determinado fazer por meio de imagens, de
sons e de textos que possuem sentidos determinados.

3.4 Artes plásticas

As artes plásticas retratam o afastamento do real, como uma necessidade interior, a busca da
liberdade, em que linhas, formas e cor têm seu próprio significado. Sempre existiu uma relação entre
a literatura e as artes plásticas, por meio da pintura e da poesia, devido à capacidade de os artistas
expressarem seus sentimentos por meio de sua arte. “Pintura é poesia muda. Poesia é pintura que fala”
(PLUTARCO apud MUHANA, 2002, p. 12).

Veja a citação de poesia a seguir:

Poesia é como pintura; uma te cativa mais, se te deténs mais perto; outra, se
te pões longe; esta prefere a penumbra; aquela quererá ser contemplada em
plena luz, porque não teme o olhar penetrante do crítico; essa agradou uma
vez; essa outra, dez vezes repetida, agradará sempre (HORÁCIO, 2005, p. 65).

Essas duas expressões tem seus méritos nas artes plásticas de acordo com suas características. Poesia
e pintura se cruzam à medida que o poeta relata e descreve suas personagens por meio de palavras, e o
pintor faz que o espectador as reconheça em suas obras.

4 Arte-educação

A educação pode ser considerada como um processo de desenvolvimento da capacidade física,


intelectual e moral do ser humano, com o objetivo de melhorar a sua integração individual e social.

Consiste em um dos segmentos mais importantes para o crescimento de um país, pois é por meio
da construção do conhecimento que há desenvolvimento e melhoria da qualidade de vida de toda a
população.

O Brasil é caracterizado como um país de diversidade cultural, tendo na arte uma de suas expressões
mais relevantes, o que compõe um amplo leque de possíveis aprendizados. A arte apresenta-se como
necessidade e característica essencial do ser humano desde os primórdios; independente de cor, raça,
cultura, ritmos, gestos, todos dançam, cantam, desenham, pintam etc.

Dessa forma, quanto mais cedo se vivenciar a arte, maior será o investimento na formação de
homens e mulheres conscientes da percepção de seu todo, e, consequentemente, da própria vida. A arte
41
Unidade I

na educação de crianças e adolescentes é de suma importância, já que, por meio de um bom trabalho
didático, é possível formar gostos, estimular a inteligência, e, ainda, contribuir para a formação da
identidade do indivíduo. E, às vezes, mais do que isso, formar artistas.

Ao criar uma arte, o indivíduo tem sua percepção aperfeiçoada, consegue soltar a imaginação e
raciocinar mais facilmente. No momento em que está criando, ele busca em sua própria imaginação o
que deseja criar, as cores que vai utilizar, os traços a serem feitos, consegue organizar seus pensamentos,
sentimentos e sensações, que são capacidades psíquicas que influenciam em seu processo de
aprendizagem.

Observando a escola como um meio para formar cidadãos, e como primeiro espaço formal que a
criança tem contato, nada melhor do que também possibilitar seu contato com o meio artístico, seja
por meio das artes visuais, da dança, da música ou mesmo pelo teatro; esse contato será enriquecedor
para seu desenvolvimento. Porém, a maioria das escolas brasileiras trata o ensino de artes como algo
secundário, uma atividade de lazer, e não como uma disciplina que merece atenção. Ana Mae Barbosa
(2007) elucida que é essencial que o espaço pedagógico promova o acesso à arte.

Na maioria das vezes, o profissional contratado para ensinar artes o faz de forma polivalente, por
não ter conhecimento necessário sobre o assunto; sem contar que a carga horária destinada às aulas de
arte é bastante reduzida.

O ensino das Artes já faz parte da realidade das escolas, contudo, não é dada a devida atenção que
esse estudo precisa.

Assim, é fundamental que se reconheça o ensino das artes como forma de contribuir para o
desenvolvimento de crianças e adolescentes, possibilitando a ampliação de seu potencial cognitivo e
expandindo sua visão de mundo. É necessário, ainda, que os educadores internalizem essa postura
para o ensino da disciplina, dando coerência à prática pedagógica e trazendo conhecimentos para o
repertório cultural do aluno, sem imposição nem separação a reflexão da prática.

4.1 Quem foram nossos professores?

É importante refletirmos sobre algumas indagações: quem foram nossos professores? O que
aprendemos sobre artes em nossa infância? Na adolescência, a arte continuou viva em nossa vida
escolar?

Há dezessete anos, a arte tem sido uma disciplina obrigatória na escola, e isso decorreu do acordo
oficial entre o Ministério da Educação e Cultura — MEC e o United States Agency for International
Development — USAID, a partir da visão ideológica de educadores norte-americanos, constatando a
disciplina como essencial para o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Assim, a partir desse
acordo, foi elaborada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Lei Federal nº 5.692, em 1971.

A introdução da Educação Artística no currículo escolar foi um avanço, principalmente pelo aspecto
de sustentação legal para essa prática e por considerar que houve um entendimento em relação à arte na
42
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

formação dos indivíduos. No entanto, o resultado dessa proposição foi contraditório e paradoxal. Muitos
professores não estavam habilitados e devidamente preparados para o domínio de várias linguagens que
deveriam ser incluídas no conjunto das atividades artísticas: Artes Plásticas, Educação Musical, Artes
Cênicas (BRASIL, 1998, p. 26).

No início, não havia uma preocupação com o ensino, não se exigia formação superior para ensinar,
buscava-se apenas a mão de obra barata para “passar” os conhecimentos. Utiliza-se esse termo “passar
conhecimentos” porque o professor, por muito tempo, foi apenas um mero transmissor de conhecimentos.

No decorrer do tempo, sua postura foi se modificando, novas teorias de aprendizagem foram
sendo desenvolvidas, e o professor assumiu a postura de educador. Da década de 1970 e até
meados da década de 1980, como não se exigia formação superior para lecionar, o Estado passou
a disponibilizar a profissionalização para alunos das chamadas escolas secundárias, hoje escolas de
Ensino Médio.

Constatando-se a necessidade de um docente com formação na área artística, o Estado decidiu criar
um novo curso superior: Licenciatura em Educação Artística. Pretendia-se preparar em apenas dois anos
um profissional capaz de lecionar música, teatro, artes, desenho, dança e desenho geométrico, algo
humanamente impossível. Esse início tão desqualificado talvez possa justificar o ensino de música tão
precário e desvalorizado nas escolas.

Hoje existem inúmeros cursos na área artística; porém, em muitas escolas, não há o reconhecimento
de sua importância para o desenvolvimento da criança e do adolescente. É tratada apenas como um
complemento do currículo escolar.

A arte-educação é uma questão que lentamente o Brasil tenta resolver; pois, de um lado, temos
professores que lecionam sem formação específica, e, de outro, pessoas formadas em artes que não
possuem didática metodológica para organizar seus conteúdos.

Voltemos a pensar nas perguntas feitas no início deste tópico. E então, como foram suas aulas de
Educação Artística? Foram chamadas de aulas de artes por muito tempo? Desenhos, pinturas, mistura
de cores, tudo feito de forma básica, resumindo a aula apenas aos desenhos e pinturas, não é verdade?

Ocorre que algumas escolas realmente resumem o ensino de Artes a essa esfera, esquecem-se da
riqueza da disciplina e se utilizam de uma visão equivocada do assunto. As práticas de ensino dessa
disciplina apresentam níveis de qualidade tão diversificados no Brasil, que em muitas escolas ainda se
utilizam, por exemplo, modelos estereotipados para serem repetidos ou apreciados, empobrecendo o
universo cultural do aluno. Em outras, ainda se trabalha apenas com a autoexpressão, sem introduzir
outros saberes de arte.

A polivalência ainda se mantém em muitas regiões. Por outro lado, já


existem professores preocupados em também ensinar história da arte
e levar alunos a museus, teatros e apresentações musicais ou de dança
(BRASIL, 1998, p. 29).
43
Unidade I

É preciso ter em mente que a arte não se resume apenas a desenhos e pinturas, pois, por meio de
seu ensino, é possível conhecer um pouco de sua própria história, de sua cultura e de outras espalhadas
pelo mundo. Conhecer os processos criativos das linguagens artísticas é fundamental. Alguns artistas
importantes como Leonardo da Vinci e Vicent Van Gogh pensavam que até mesmo uma simples
fotografia pode se tornar uma obra de arte.

A arte, além de integrar pessoas, possibilita outras formas de expressão e também faz que a pessoa
analise criticamente aquilo que vê, ouve, assiste ou faz, tendo uma base para poder construir uma ideia
ou um projeto.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), por meio do ensino de Arte, o aluno, ao
término do Ensino Fundamental, deve ser capaz de:

experimentar e explorar as possibilidades de cada linguagem artística;

compreender e utilizar a arte como linguagem, mantendo uma atitude


de busca pessoal e/ou coletiva, articulando a percepção, a imaginação,
a emoção, a investigação, a sensibilidade e a reflexão ao realizar e fruir
produções artísticas;

experimentar e conhecer materiais, instrumentos e procedimentos artísticos


diversos em arte (artes visuais, dança, música, teatro), de modo que os
utilize nos trabalhos pessoais, identifique-os e interprete-os na apreciação e
contextualize-os culturalmente;

construir uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal


e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas,
sabendo receber e elaborar críticas;

identificar, relacionar e compreender a arte como fato histórico


contextualizado nas diversas culturas, conhecendo, respeitando e podendo
observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do
patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de
diferenças nos padrões artísticos e estéticos de diferentes grupos culturais;

observar as relações entre a arte e a realidade, refletindo, investigando,


indagando, com interesse e curiosidade, exercitando a discussão, a
sensibilidade, argumentando e apreciando arte de modo sensível;

identificar, relacionar e compreender diferentes funções da arte, do trabalho


e da produção dos artistas;

identificar, investigar e organizar informações sobre a arte, reconhecendo e


compreendendo a variedade dos produtos artísticos e concepções estéticas
presentes na história das diferentes culturas e etnias;
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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

pesquisar e saber organizar informações sobre a arte em contato com


artistas, obras de arte, fontes de comunicação e informação (BRASIL, 1998,
p. 48).

Se realmente fosse colocado em prática o que propõem os PCNs — Parâmetros Curriculares Nacionais,
o ensino de Artes atingiria seu objetivo; todavia, infelizmente, isso não ocorre, haja vista que escolas e
professores não o consultam, fazendo que ele não passe de palavras escritas.

Nas escolas, as crianças são avaliadas na disciplina de Artes apenas por seu comportamento e
sua dedicação; infelizmente, ainda não há espaço para o ensino de história das artes, ou mesmo para
apreciação ou um olhar sobre a obra artística. O professor apenas segue um livro didático e transmite
aos alunos os conhecimentos elencados por ele num roteiro. Visitas a exposições e museus são raras em
algumas escolas. E a maioria dos docentes ainda é mal preparada para esse tipo de atividade.

Os alunos vivenciam as visitas muitas vezes sem ter informações básicas sobre as obras, seus autores
etc. Logo depois da exposição, recebem apenas uns folhetos na aula com o nome da obra e do artista e
a tarefa de preparar um relatório sobre o que viram. É aí que se pergunta: como esses relatórios serão
preparados, se a criança pouco teve contato com as obras? Pois o professor não teve o discernimento de
preparar uma aula rica, mesmo em um ambiente tão propício. Enfim, ainda há muito a ser visto para a
melhoria do ensino de Artes.

4.2 Capacidades e habilidades para ensinar Artes

O ensino da Artes tem sofrido diversas transformações. Assim, cabe ao educador avaliar sua prática,
pois é preciso ter disposição para responder às várias dúvidas que têm surgido.

Entre as habilidades em arte que precisam ser analisadas, tem-se o fazer artístico, em que é
necessário realizar produções artísticas individuais ou coletivas; apreciação artística, para refletir sobre
os processos de arte com seus diferentes instrumentos e manifestações sociais, bem como compreender
os critérios culturalmente constituídos de conhecimentos em caráter filosófico, histórico, sociológico,
antropológico, semiótico, entre outros; contextualização artística com a reflexão sobre determinadas
maneiras de arte e suas múltiplas funções.

Entre as habilidades citadas, o fazer artístico é o que se faz mais presente na arte, por englobar as
práticas de desenho, pintura, gravura, colagem e os meios tridimensionais.

Lembrete

Lembre-se de que qualquer prática está contida em um contexto


educacional, que exige, por sua vez, um grande esforço do educador, para
que a atividade não fique restrita apenas ao desenvolvimento de habilidades
manuais.

45
Unidade I

As atividades artísticas têm papel de destaque no que se refere ao conhecimento do educando e à


sua capacidade de analisar o universo das artes plásticas, tornando-se uma grande contribuição para
o processo de conscientização; porém, o exercício de apreciação acaba causando muitas dúvidas nos
educadores de Artes. Então, a adequação da atividade deve ser realizada de acordo com os objetivos a
serem alcançados pelo grupo ou com as atividades futuras que se deseja realizar.

É preciso, portanto, criar um roteiro de questões organizado de forma livre para realizar a apreciação
de uma obra do campo das artes plásticas, a fim de que seja desenvolvida uma atividade esclarecedora
sobre seu significado e as intenções do autor.

4.3 Leitura de imagens

A utilização de elementos verbais e não verbais dispostos em uma imagem caracteriza a extensão,
a distância, a profundidade, a verticalidade, a estabilidade, a cor, a sombra, a textura, entre outros,
buscando-se a definição de que modo se dá a leitura da imagem.

O signo linguístico é composto por duas partes, o significante e o significado, bem como pelo seu
caráter de eventualidade. Ele estará baseado na análise de todo e qualquer componente de significação
(SANTAELLA, 1995). Outro ponto a ser discutido permeia os trabalhos que se enquadram nesses aspectos
teóricos. É a questão da conotação da imagem, possível apenas por meio da palavra. Veja a concepção
a seguir:

A leitura da imagem vem sendo definida da mesma forma que a leitura


do signo linguístico, e todo texto visual acaba por reduzir-se a um texto
linguístico, as unidades propriamente visuais não devem ser reconduzidas a
categorias linguísticas, e sim a um sistema lógico-simbólico de representação
de categorias visuais (MALVESTITI; CAETANO, 2008, p. 4).

O autor não abandona um projeto de leitura da imagem centralizada no signo e investiga esse
projeto como se fosse um texto, no qual se registram unidades visuais e tornam a atenção para o
significado das unidades relacionadas à imagem, aprofundando a leitura de imagem e acrescentando o
autor da mesma, o contexto histórico social, entre outros.

Ao analisar a linguagem virtual, observa-se que, ao associá-la com o signo linguístico, ocorre
uma redução em relação ao seu entendimento. Isso porque, ao se pensar na linguagem visual,
acaba por se descrever a imagem, dando lugar a um trabalho de segmentação da imagem em
unidades discretas.

A linguagem descreve a imagem, mas não revela sua matéria visual. É a visibilidade que permite a
essência da imagem, e não a sua relação com o verbal. Essa não correlação não rejeita o fato de que
a imagem pode ser lida. Um exemplo é a representatividade, que dá subsídio para que possa haver a
leitura da imagem enquanto estado de linguagem. É o poder que ela exerce na mente das pessoas, a
competência de reproduzir algo já presente na consciência, é a representação visual e mental de cada
indivíduo.
46
Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

Resumo
Nesta Unidade, trabalhamos com a disciplina de Artes diante de variados
assuntos da história da arte no Brasil, como foi implantado seu ensino e
outros assuntos pertinentes.
Objetivou-se trabalhar o senso crítico de professores, fazendo-os pensar: o
que é Arte? O que é Cultura? Para que serve a Arte? E qual é o lugar da Arte em
seu dia a dia? Após essas perguntas, percorremos vários momentos dos caminhos
da Arte na humanidade e como ela se comportou retratando o homem inserido
em seu contexto histórico, social e outros pontos relevantes específicos de cada
época, sendo que a expressão, seja plástica, sonora ou gestual, apresentou-se
como linguagem e estética desses momentos em todas as modalidades.
Aprofundou-se o estudo do trabalho formativo de arte‑educação e
psicopedagógico, que implicaram ao professor um repensar de sua práxis
nos últimos tempos.
Ressaltou-se que o professor pode se apropriar de um olhar sensível às
obras de arte e transmiti-lo ao alunos, sabendo, também, da importância
das leituras de imagens.

Exercícios
Questão 1. Os mitos da Grécia Antiga elaboravam conflitos do homem diante do que não conseguia
explicar a respeito da natureza humana e da existência. Muitos dos temas trabalhados naqueles mitos
continuam atuais. É fato que uma das características do comportamento na sociedade contemporânea
é o narcisismo, retratado na pintura de Caravaggio exibida a seguir. O quadro, que se tornou um clássico
da iconografia ocidental, nos mostra a figura de Narciso, personagem que morre afogado diante do
encantamento com a sua própria imagem refletida nas águas de um rio.

CARAVAGGIO, Michelangelo Merisi da. Narciso (1597). Óleo sobre tela, 116 x 98 cm. Galleria Nazionale d’Arte Antica, Palazzo
Barberini, Roma – Itália.

47
Unidade I

Qual é a interpretação da obra mais pertinente à disciplina Metodologia de Arte e Movimento:


Corporeidade?

A) Durante o processo do envelhecimento há pessoas que sentem a perda do ideal do eu, da perfeição,
de tudo aquilo que se imaginou realizar na existência.

B) O excesso de amor próprio pode levar os indivíduos à perda do ideal do eu, da noção de perfeição,
de objetivos para a própria existência e de tudo aquilo que o eu pode imaginar realizar.

C) Enxergamos nossas características e nossos defeitos no outro.

D) Há pessoas que adotam tabus que impedem os processos de mudança e de autoconhecimento.

E) A corporeidade sempre foi um tema privilegiado nas artes, desde as pinturas rupestres até os dias
atuais.

Resposta correta: alternativa E.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: o mito de Narciso não aborda o medo do envelhecimento, e sim o amor-próprio


excessivo e o fascínio pela própria imagem.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: essa interpretação sobre o mito de Narciso é possível, porém não se relaciona com a
disciplina Metodologia de Arte e Movimento: Corporeidade.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: o mito de Narciso não aborda a transferência de nossas características e de nossos


defeitos para o outro.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: o mito de Narciso não aborda os processos de mudança; ao contrário, trata da fixação
na aparência e na imagem.

E) Alternativa correta.

Justificativa: o personagem Narciso, admirado com a sua própria beleza e perfeição refletidas nas
águas de um rio, acaba caindo dentro dele como se tivesse sido tragado pela água e morre afogado. Essa
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Metodologia de Arte e Movimento: corporeidade

história chama a atenção para o fato de que o ser humano deve manter o equilíbrio entre a sua essência
e a sua aparência, apesar do fascínio que a corporeidade possa exercer sobre ele.

Questão 2. A pintura de Manet reproduzida a seguir é uma importante obra de arte do século XIX e
gerou muita polêmica, tanto pela escolha do tema, que contrastava muito com o ambiente acadêmico
predominante na época, quanto pela liberdade da composição e do posicionamento dos elementos do
quadro. Essa obra estimulou uma geração de novos artistas europeus e serviu como referência para
outras pinturas.

MANET, Édouard. Le dejeuner sur l’herbe (1863). Óleo sobre tela, 208 x 264 cm. Musée D´Orsay, Paris.

A obra de Pablo Picasso reproduzida a seguir foi pintada quase 100 anos depois, como uma releitura
da de Manet.

PICASSO, Pablo. Le dejeuner sur l’herbe (d’après Edouard Manet) (1961). Óleo sobre tela, 130 x 195 cm. Musée National Picasso.

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Unidade I

Sobre a relação entre as duas pinturas, assinale a alternativa correta:

A) Pablo Picasso copia o quadro original fidedignamente, pois a composição é tão livre na sua
pintura quanto na de Manet, como se pode observar pelo posicionamento dos personagens em
ambos os quadros.

B) Apesar de Picasso deliberadamente fazer uma releitura do quadro original, seja no título, seja em
certa semelhança na posição dos personagens, a representação do corpo humano é tratada de
maneira muito diferente pelos dois artistas, demonstrando como a representação da corporeidade
foi se modificando ao longo da História da Arte.

C) A fidelidade à representação corporal, a capacidade de demonstrar a profundidade do espaço


representado e a liberdade de composição dos personagens na obra de Manet aparecem
nitidamente no quadro de Picasso.

D) A releitura do quadro original feita por Picasso utiliza apenas o tema como referência, pois não
há nenhuma característica plástica que demonstre haver qualquer relação entre as duas obras.

E) A liberdade de expressão de Picasso em sua releitura fica nítida ao se perceber que há apenas dois
elementos que lembram o quadro de Manet, a vegetação e o lago, sem outras características em
comum entre os dois.

Resolução desta questão na plataforma.

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