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Disciplina Sociologia da Responsabilidade Social

Nº da Aula 3
Prof. Conteudista - autoria Bruno Vicente Lippe Pasquarelli
Título da aula O processo de elaboração de um projeto social

Introdução

Olá estudante! Nossa próxima etapa é elaborar um modelo de projeto social – uma
proposta de ação social na qual o grupo desenvolverá sua atividade extensionista, seja de
maneira presencial ou remota (em razão da pandemia do COVID-19). Para tanto, iremos
compreender a elaboração de um projeto de forma mais ampla, apresentando um esquema
lógico para construir o texto de um projeto.
Um plano lógico de elaboração de uma ação social deve ser composto por itens que,
ao serem preenchidos por cada grupo que irá desenvolvê-lo, transformam ideias ou desejos
em uma proposta clara e coerente, que pode ser entendida e traduzida em ações que visam
promover o bem-estar, a cidadania e a responsabilidade social para a comunidade.
Dessa maneira, o objetivo geral da aula é conhecer os passos sucessivos e os
instrumentos utilizados no processo de elaboração de um projeto social. Para tanto, iremos
identificar o tema e o público-alvo do projeto social, os objetivos e ações, a justificativa do
trabalho, a metodologia, o cronograma e os recursos necessários para sua implementação. Por
fim, é necessário compreender acerca da possibilidade de realização dos projetos sociais de
maneira presencial ou remota, o que os auxiliará no preenchimento do modelo de projeto
social.

As etapas do modelo de ação social

De acordo com Stephanou et al. (2003, p. 43), um bom projeto social é aquele que
consegue responder a seis questões: Quem? O quê? Por quê? Como? Quando? Onde?
Quanto?
“Quem” é o elemento que identifica os componentes do grupo que irão realizar o
projeto; “o que” consiste na definição dos objetivos gerais e específicos; “por que” está
relacionado com a justificativa do trabalho; “como” refere-se à metodologia; “quando” e
“onde” estão relacionados com o tempo e espaço de desenvolvimento do projeto; “quanto”
alude aos recursos necessário para sua execução.
Porém, antes de definirmos todos esses elementos, também devemos escolher um
título para o projeto social. A escolha do título merece muita atenção, pois será um elemento
importante para o reconhecimento do projeto junto aos grupos sociais envolvidos. Por
conseguinte, é necessário que o título seja sugestivo e com significado para a população
envolvida. Por sua vez, a equipe do projeto social já foi definida em aulas anteriores. Assim,
mais uma vez é necessário definir de forma clara quem será responsável pelas ações,
indicando também um(a) coordenador(a) do projeto. Isso significa que, antes mesmo de
redigir o modelo de projeto, já deve estar formada a equipe que irá executá-lo. Importante
ressaltar que podemos ter dois tipos de equipes: a equipe direta, que é o grupo de alunos que
realizará o projeto social, sendo os responsáveis imediatos pelas ações propostas; e a equipe
indireta, que podem ser parceiros que atuam junto à população envolvida no projeto,
responsabilizando-se pela execução de algum aspecto de sua implementação. Contudo, a
responsabilidade de execução é sempre da equipe direta, não podendo responsabilizar outros
atores pelos resultados do projeto.
Definido o título e os integrantes do grupo do projeto social, é necessário inserir a área
e o público do projeto social. A tabela 1, abaixo, mostra exemplos que podem ser utilizados
pelos estudantes, contendo as áreas de atuação e o público-alvo.

Tabela 1 – Área e Público


Área e Crianças Jovens e adultos Idosos Comunidade
público
Educação e Monitoria em Alfabetização aos Teatro e coral; Oficinas de artesanato,
cultura aulas de reforço que não tiveram organização de culinária, jardinagem,
acesso bailes; língua fotografia, etc.; doação de
inglesa material escolar
Saúde e Atividades Prevenção de uso Palestras e trocas Atividades de
assistência recreativas e de drogas e de experiências entretenimento,
social artísticas em transmissão de entre jovens e relacionando saúde e
hospitais DSTs idosos cidadania
Ecologia Estimular a coleta Replantio de Palestras sobre Conscientização da
seletiva de lixo árvores devastação problemática da água
ambiental potável e temas afins
Segurança Educação no Campanhas contra Prevenção de Identificar vias urbanas
trânsito a violência acidentes problemáticas e com altos
domésticos índices de acidentes
Esporte e Teatro em Organizar Aulas de Ajudar a planejar áreas de
lazer creches e campeonatos ginástica, yoga, lazer para a cidade
organizações etc.
sociais
Cidadania Sensibilizar para Criar um grupo de Experiências de Artigos sobre voluntariado
temas de voluntariado vida dos idosos em jornais
cidadania
Fonte: dados elaborados pelo autor.
Ainda, o projeto social deve ter um tema relacionado a pelo menos um dos 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas,
disponibilizados em https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.

Saiba Mais:
Quer saber mais sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU?
Acesse o link: https://www.youtube.com/watch?v=u2K0Ff6bzZ4

Inseridos os pontos iniciais do projeto social, é hora de avançar na compreensão da


problemática em questão. Para tanto, precisamos elaborar um diagnóstico, considerando a
situação-problema com o que grupo deseja lidar. O diagnóstico deve promover um
detalhamento de dados e informações que “possam caracterizar as condições de vida dos
potenciais beneficiários da intervenção” (Armani, 2009, p. 43), identificando as dinâmicas
sócio-políticas, econômicas e culturais que explicam a situação-problema. Ainda, um
diagnóstico pode identificar e avaliar algumas iniciativas similares relevantes e que tenham
como “pano de fundo” a temática do seu projeto social.
Um dos momentos mais importantes do diagnóstico é “a identificação dos principais
problemas concretos enfrentados e de suas causas. Busca-se aqui analisar a problemática
enquanto processo social complexo com múltiplas causas”. (Ibid., p. 45). Dentre as estratégias
para elaborar um diagnóstico, podemos citar:
a. Identificar as situações-problema ou desafios que melhor expressam a
problemática social em questão.
b. Sintetizar um problema central.
c. Selecionar as principais causas do problema central escolhido.
d. Descrever um breve histórico que expresse como os proponentes compreendem o
problema social que será alvo da ação.
e. Utilizar dados, informações e referências provenientes de diversas fontes que
auxiliem na caracterização da realidade. Exemplos: dados estatísticos oficiais;
textos científicos; notícias e artigos de jornais; mapas, gráficos e imagens, dentre
outros.

Ainda em relação ao diagnóstico, é necessário realizar uma análise dos atores


envolvidos, identificando o público-alvo do projeto social – ou seja, os potenciais
beneficiários (o universo do projeto). Um projeto social quase sempre envolve populações de
duas formas: direta e indireta. Enquanto a população diretamente envolvida é “aquela que se
relaciona de forma concreta e imediata com o trabalho” (Stephanou et at., 2003, p. 59), o
público indireto é uma parcela que, indiretamente, também usufruirá dos benefícios do
projeto, mas que não participará ativamente de sua implementação. Assim, uma boa proposta
de ação social é aquela que tenta mapear estes dois públicos: enquanto o público direto deve
ser quantificado, o público indireto precisa ser estimado.
Portanto, o diagnóstico tem a função de tornar mais claro o contexto sobre o qual o
projeto social irá funcionar, demonstrando o conhecimento do grupo sobre a realidade social
na qual o projeto se insere e que esta realidade deve ser adequada à realização do projeto. De
acordo com Stephanou et al. (2003, p. 52), “de um lado a análise do contexto demonstra uma
situação de fragilidade e necessidade mas, por outro lado, faz compreender que ali também há
possibilidades e forças que vão contribuir para o desenvolvimento do projeto”.
O diagnóstico está diretamente relacionado com a justificativa, que consiste na
apresentação clara e objetiva das razões e dos motivos que justificam a realização da
intervenção social. Este item pode ser considerado como a defesa da proposta, apresentando
os argumentos para o “porquê” de se realizar o projeto social, sendo necessário que o grupo
tenha conhecimento sobre o tema e uma visão consistente acerca dos problemas sociais, que
apresente formas adequadas e eficientes de abordá-los e que tem legitimidade necessária para
executar o projeto social. O grupo responsável pelo projeto social poderá responder às
seguintes perguntas que auxiliarão na construção da justificativa: por que o projeto deve ser
implantado? Por que devemos realizar este projeto? O projeto está relacionado com algum
problema social relevante?
Já os objetivos estão diretamente relacionados com as metas e resultados a serem
alcançados com o projeto social, demonstrando sua finalidade. Segundo Vianna (2001, p. 81),
é a partir dos objetivos que será definido o problema, a questão central do projeto social, as
questões de investigação, o tipo de pesquisa, a metodologia e os instrumentos, bem como os
dados que serão coletados.
Os objetivos ocupam um lugar especial na formulação do projeto, visto que com ele
podemos saber com mais exatidão o que efetivamente o grupo quer fazer e onde quer chegar.
Os objetivos são de dois tipos: geral e específicos. No objetivo geral, é expresso o impacto
mais geral do projeto, e ele deve responder às seguintes perguntas: para que o projeto vai ser
implementado? Quais efeitos são esperados junto aos beneficiários?

Saiba Mais:
Em Bauru, temos o “Projeto Formiguinha”, que tem como objetivo promover a
inclusão social e a cidadania solidárias de crianças, adolescentes e idosos em
vulnerabilidade social por meio da educação, da cultura, do lazer e do esporte.
https://projetoformiguinha.tumblr.com/

O objetivo geral deve ser claro, preciso e conciso, com verbos no infinitivo, definindo
explicitamente o que se pretende alcançar com a realização do projeto. Ainda, está vinculado
aos motivos pelos quais o projeto deve ser desenvolvido. Dependendo do conteúdo de cada
projeto, são comuns termos como “qualidade de vida”, “melhoria na auto-estima”,
“cidadania”, “apoio à socialização”, “maior integração na comunidade”, etc.
Por sua vez, os objetivos específicos são de caráter operacional e definem etapas ou
fases que devem ser cumpridas para alcançar o objetivo geral, ou seja, são um detalhamento
do objetivo geral, vinculando-se com ações e resultados que se espera que o projeto atinja.
Deve-se ter em mente que o conjunto dos objetivos específicos nunca deve ultrapassar a
abrangência proposta pelo objetivo geral. E, ao contrário do objetivo geral, os específicos
dificilmente serão somente um, pois apenas com um conjunto deles o projeto obterá
resultados. Como consequência, o grupo responsável pela realização do projeto social deve
assegurar-se que os objetivos específicos sejam alcançados, pois “um projeto é efetivo na
medida em que consegue atingir as metas propostas a partir de seus objetivos específicos. Esta
noção será fundamental para a avaliação de qualquer projeto” (Stephanou et al, 2003, p. 57).

Fique atento:
Muitos projetos tendem a redigir de maneira confusa o objetivo geral e os específicos.
Para evitar tal fato, façamos o seguinte exercício: numa folha, escreva os diferentes
objetivos propostos. Em seguida, examine-se, verificando a sua hierarquia. O que for
mais superior, ou seja, mais amplo, é o objetivo geral.

A metodologia parte do princípio de que o projeto social deve apresentar o tipo de


delineamento que será utilizado, descrevendo os procedimentos, ações e fases que serão
seguidos em sua realização, bem como os instrumentos necessários. Para tanto, é necessário
abordar a metodologia a partir das diversas fases do projeto social, considerando as fases de
identificação (ideia), concepção (elaboração) e execução (realização). É um termo que está
normalmente associado ao campo da investigação científica, mas que, no caso dos projetos
sociais, é uma palavra que assume um sentido mais amplo, que pode ser traduzido por
expressões tais como “maneira de agir” ou “modo de proceder”.
Quais são, então, os tipos de metodologia que podemos descrever em um projeto
social? Podemos citar algumas mais importantes, e que sempre devem ser inseridas no
contexto da fase do projeto (identificação, concepção e execução), dentre elas:
 A realização de pesquisa exploratória ou de levantamento de dados para subsidiar
as ações propostas pelo projeto (fase de identificação).
 Um Trabalho prévio de seleção do local, do público-alvo, do tema.
 O delineamento de pesquisas de campo para a descrição da realidade do local.
 A execução de entrevistas, questionários e formulários.
 Os canais e formas através dos quais se pretende estabelecer o contato com a
população.
 As atividades e ações concretas realizadas para chegar ao objetivo do projeto. Ex.:
visitar regularmente a Casa Abrigo, realizar oficinas de formação os professores,
ministrar aulas de preparação e reforço escolar.
 Os instrumentos que serão utilizados para informar e mobilização a população.
Ex.: cartazes, panfletos, podcasts, palestras, festas, oficinas. Assim, se a ação
envolver o emprego de ferramentas de ação, deve aparecer no modelo de proposta
do projeto uma breve descrição dos métodos e técnicas.
* Obs.: caso o projeto social tenha que ser desenvolvido de forma remota,
considerando a pandemia do COVID-19, os instrumentos de execução do projeto social estão
restritos à produção de materiais informativos em redes sociais, aplicativos ou divulgação
eletrônica.

Toda metodologia de realização das ações do projeto social está necessariamente


ligada com o cronograma, que é o tempo de execução necessário para cada fase do projeto e
para que os objetivos possam ser atingidos, sendo importante elaborá-lo em função das
atividades previstas para a sua conclusão. Por conseguinte, o cronograma é o esforço de
organizar o tempo de existência e de desenvolvimento das ações do projeto, permitindo ao
grupo uma disposição espacial do tempo em que cada ação será desenvolvida. O mais comum
é montarmos uma planilha, conforme a tabela 2, considerando o mês ou semana de atividade,
a fase (ideia, execução e implementação, bem como a entrega do relatório final), a atividade a
ser realizada e quem a realizará.

Tabela 2 – Planilha do cronograma


Mês ou Fase do projeto Atividade Integrantes do projeto
seman
a

Todas as ações de um projeto social devem ser pautadas por um orçamento. Um bom
orçamento deve ser claro, objetivo e suficientemente detalhado, indicando os itens de despesa
ao longo do tempo de duração do projeto social. É importante deixar claro, por exemplo,
quais materiais serão adquiridos, quais os custos de transporte e viagens, etc, desde que
compatíveis com o conjunto do projeto. Caso o projeto social tenha doações, é necessário
elaborar as fontes de contribuição, mencionando os apoios recebidos. Em função do ensino
remoto, o orçamento terá apenas custos de divulgação do material (caso o grupo opte por
patrocinar o instagram, o que não é obrigatório).
Por fim, o modelo de projeto social deve ter a indicação do referencial teórico que
colaborou com a construção do documento, identificando as fontes bibliográficas utilizadas e
que dão sustentação científica à proposta. Em momento posterior, na elaboração do relatório
final com os resultados do projeto social, o conhecimento teórico deverá ser aprofundado,
apresentando as teorias que serviram de base para o tema e para o problema de pesquisa.

Considerações Finais
Nesta aula, apresentamos uma série de noções, conceitos e elementos relacionados
com a atuação social sob a forma de projetos, oferecendo uma orientação prática para a
elaboração do modelo de projeto social (ou plano de ação social). Todos os itens elencados
nessa aula formam uma sequência lógica, composta por informações, interpretações e
proposições que devem estar presentes em qualquer projeto social.
Cabe ressaltar que os projetos sociais são ferramentas de ação, devendo ser utilizados
na medida em que forem considerados úteis e adequados às realidades sociais em que o grupo
pretende atuar. Ainda, a construção de um projeto social faz com que seus proponentes
tenham uma compreensão prévia da realidade que irão agir – o que significa que os projetos
sociais começam muito antes de sua formulação escrita. Por fim, os projetos sociais devem
surgir de avaliações sobre as necessidades e prioridades locais, devendo ser conduzidos de
forma maleável, sendo constantemente monitorados e estando abertos para a incorporação de
atualizações e modificações que sejam propostas a qualquer momento.
E antes de construir o projeto social, sempre reflita: eles devem ser instrumentos
importantes para a promoção da justiça social e do exercício da cidadania. Bom trabalho ao
grupo e ótimo desenvolvimento dos projetos!

Referências
ARMANI, Domingos. Como elaborar projetos? Guia prático para elaboração e gestão de
projetos sociais. Porto Alegre: Tomo Editoral, 2009.

GIDDENS, A. Sociologia. Porto Alegre: Penso, 2012.

STEPHANOU, Luis; MÜLLER, Lúcia; CARVALHO, Isabel. Guia para elaboração de


projetos sociais. Sinodal: São Leopoldo, 2003.

VIANNA, A. O. I. de. Metodologia do trabalho científico: um enfoque didático da produção


científica. São Paulo, 2001.

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