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Uma visão em direção a paz, a justiça e a

reconciliação nas Américas compilação de leituras e


guias de discussão do primeiro Instituto das Américas
para a transformação e a reconciliação
(2020-2021)

Iniciativa das Américas para a transformação e a reconciliação. Uma visão em direção a paz, a
justiça e a reconciliação nas Américas. De leituras e guias de discussão do primeiro Instituto
das Américas para a transformação e a reconciliação( 2020-2021).

Publicado em 2021, pelo Centro para a reconciliação da faculdade divindade da Universidade


de quê a iniciativa das Américas para a transformação e a reconciliação. Todos os direitos
reservados.

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para a reconciliação da faculdade de divindade da universidade duque. As citações das
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Design de capa e livro: Claudia Fulshaw Design

As imagens da capa da Iniciativa das Américas para a transformação e a reconciliação


desenhada por Flagship Interactive, Inc.

O centro para a reconciliação da faculdade de divindade da universidade Duke apoia


ativamente o diálogo teológico e o direito dos autores a expressar os seus pontos de vista. O
Centro para a reconciliação não respalda necessariamente os pontos de vista, nem as opiniões
expostas nas publicações ou nas obras citadas dentro das publicações. Nem o Centro para a
Reconciliação, nem a iniciativa das Américas para a transformação, e a reconciliação aceitam
responsabilidade alguma como consequência da leitura, o uso ou a interpretação do conteúdo
publicado.
Índice do Conteúdo

Prefácio

Agradecimento
Introdução.

A metodologia " o verbo se fez carne "


Edgardo Colón-Emeric

Roda de debates sobre a necessidade de transformação e reconciliação nas Américas


Yohan Álvarez, Vilma “Nina” Balmaceda, Rolando Pérez y Jocabed Solano

1 Para onde vamos?


A nova criação.
Edgardo Colón-Emeric

Testemunho ministério da Reconciliação num contexto de violência


Juan de Dios Peña

2 o que está acontecendo?


Aprender sobre a empatia: O Lamento como o currículo nulo na formação Cristã.
César Lopes

Testemunho de acompanhamento aos sobreviventes, lamento e ação pela justiça.


Germán Vargas

3 Quais são as resultantes de esperança que observamos ao nosso redor?


Uma reflexão sobre a esperança e a libertação.
Peter Casarella

Memória indígena a busca da transformação da reconciliação nas Américas.


Drew Jennings-Grisham

Um testemunho sobre a necessidade de transformação e reconciliação nas Américas.


Juana Luiza Condori Quispe

4 Por que é importante a paz justa?


Funções da Justiça na transformação das relações humanas desde o ponto de vista da Paz
justa.
Vilma “Nina” Balmaceda
Testemunho do programa de terras latino-americano e caribenho em direção a uma
Fraternidade possível.
Susana Nuin Núñez

5 por que eu que devo me importar?


Descobrindo nossa vocação no ministério da transformação e a reconciliação.
Ismael Ruiz-Millán

Testemunho e reflexões no que diz respeito a vocação conjunta e pessoal.


Ruth Padilla DeBorst

Lista de autores.
Equipe de projeto.
Apêndice.
Prefácio

A iniciativa das Américas para a transformação e a reconciliação é uma Fraternidade de


instituições acadêmicas e investigação, organização de serviço e Ação Social, comunidades de
fé dedicadas a diferentes aspectos do trabalho vinculado à justiça, a paz e a reconciliação em
nosso continente.

Esta Fraternidade foi fundada por iniciativa do centro para a reconciliação (CFR, de acordo com
suas iniciais em inglês) da Faculdade de Divindade da Universidade Duke em setembro de
2020. As instituições fundadoras participam da IAPTR com o propósito de promover a reflexão
teológica interdisciplinar e impulsionar iniciativas de Formação, intercâmbio, acompanhamento,
incidência e outras ações para cultivar uma espiritualidade ecumênica e profética,
apresentando um testemunho Cristão com o fim de promover a reconciliação através da
transformação a paz a justiça o bem comum.

No Instituto das Américas uma das linhas de trabalho começou pela primeira vez entre o 13 de
outubro de 2020 e o 27 de abril de 2021. Este volume coleta as apresentações teológicas e os
testemunhos desde o campo compartilhados por líderes e lideranças cristãs vinculados à
IAPTR, com o propósito de ver a formação teológica e motivar a ação em direção a
transformação e a reconciliação.

Em conjunto, os autores deste volume nos convidam a considerar seriamente a importância de


cultivar nossos relacionamentos com Deus, com os nossos próximos, nossas comunidades, e
nossa casa comum, procurando a reconciliação de todas as coisas. Como marco para as
sessões do Instituto das Américas, Edgardo Colón-Emeric, o decano da faculdade de divindade
da Universidade Duke e diretor do centro para a reconciliação, ofereceu uma introdução à
metodologia teológica "O verbo se fez carne" desenvolvida pela CFR. Yohan Álvarez dialoga
com alguns líderes da IAPTR, explorando o porquê as Américas precisam de transformação e
reconciliação.

No primeiro capítulo, Edgardo Colón-Emeric aborda a primeira pergunta da metodologia " o


verbo se fez carne " relacionado com a nova criação, descobrindo uma poderosa inspiração
para o longo caminho em direção à reconciliação. Juan Dios de Peña responde com um
testemunho comovedor sobre o ministério da Reconciliação em El Salvador.

No segundo capítulo, César Lopes analisa o papel da prática Espiritual do lamento no


aprendizado da empatia. Ele destaca a notável ausência de lamento na maior parte dos
currículos de Formação cristã da região. Germán Vargas demonstra a importância da
lamentação e da solidariedade na prática nos contextos de atrocidades cometidas contra os
direitos humanos, apresentando o trabalho de paz e esperança no Peru.
No Terceiro Capítulo, Peter Casarella explica que a esperança cristã é grande suficiente para
abranger a pequena esperança de salvação pessoal, também as nossas aspirações de justiça
social. Em resposta,Andrew Jennings-Grisham e Juana Condori Quispe compartilham as suas
perspectivas em relação às esperanças das Comunidades Indígenas e sobrevivência,
reparação, restauração e reconciliação de todas as coisas.

O Capítulo 4 explora as funções da Justiça desde o ponto de vista do Shalom. Vilma “Nina”
Balmaceda explica a necessidade de enfrentar as diferentes expressões do abuso de poder e
de trabalhar pela transformação das relações com Deus, os nossos semelhantes, a nossa
comunidade e o resto da criação. Susana Nuin Núñez acrescenta um poderoso testemunho e
reflexão desde o programa latino-americano e caribenho de terras para uma Fraternidade
possível.

Na sessão final, ismael Ruiz-Millán convida a seus leitores e leitoras considerar as qualidades
que, desde a perspectiva da humildade cultural, necessitam cultivar as pessoas que almejam
servir no ministério da transformação e a Ruth Padilla DeBorst ilustra esses pontos,
compartilhando o seu testemunho e reflexões em relação a vocação coletiva e pessoal. Ela nos
convida a entender a vocação como resposta fiel aos nossos dons, oportunidades, paixões e
também as necessidades que observamos em nossas comunidades.

Aqueles que servimos, no centro para a reconciliação e iniciativa das américas para a
transformação que a reconciliação, esperamos que este material seja um recurso de utilidade
para a reflexão e crescimento pessoal e comunitário e que nos inspire a seguir de instrução a
seguir a jesus de nazaré no ministério da transformação e a reconciliação américas. Uma visão
em direção a paz, a justiça e a reconciliação nas Américas.
Agradecimento
O primeiro Instituto das Américas para a transformação e a reconciliação cujas as
apresentações e testemunhos foram coletado neste volume, aconteceu através de
videoconferência ao longo de 7 meses, que foi caracterizado pelos impactos da pandemia de
Covid 19 em nosso continente, que ainda continuam afetando a milhões de pessoas ao redor
do mundo. O Centro para a reconciliação da faculdade de Teologia da Universidade Duke e a
iniciativa das Américas para a transformação e a reconciliação serviram como anfitriões das
seis sessões mensais em que participaram mais de cem pessoas de 18 países.

O Instituto não poderia levar a cabo, sem o apoio generoso da fundação Stewardship e a
dedicação de muitas pessoas, incluindo os facilitadores, testemunhas, aqueles que se
colocaram à disposição, apresentações fazem parte deste livro, e os membros do comitê
executivo da IAPTR. Uma menção especial merece também o doutor Edgardo Colón-Emeric
pelo seu contínuo ânimo e apoio relevante, assim como os nossos estudantes na Faculdade de
Teologia Mandy Rodgers-Gates, Chris West, Cat Clayburn, Britt Taylor y Morgan Dynes,
Alberto La Rosa Roja, que apoiaram de múltiplas maneiras o estabelecimento da IAPTR e a
implantação do nosso primeiro Instituto.

Este volume não existiria sem a extraordinária dedicação de Anne Marie Salazar, Abigail
Smith, Valerie Helbert y el Dr. James Huff, aos quais agradeço, a sua paciência e cordialidade,
a cada passo do projeto. Tem sido um privilégio desfrutar das suas amizades, companheirismo
e bom humor. Falando dessas coisas tão importantes, desejo também expressar o meu
agradecimento a Roberto Chia-Cherre e a Roberto Alfredo Chia-Balmaceda pelo seu afeto e
paciência cada dia nesta peregrinação em direção a reconciliação de todas as coisas.

Vilma “Nina” Balmaceda, PhD


Durham, 28 de junio de 2021
Introdução

A metodologia
" o verbo se fez carne "

Edgardo Colón-Emeric

A visão teológica que chamamos " o verbo se fez carne ", vem da verdade bíblica que " o verbo
se faz carne e habitou entre nós” (João 1:14a). Esta é uma metodologia teológica porque o
verbo, que é Deus, está no centro da nossa visão. É uma visão teológica sobre a reconciliação
porque em Cristo, Deus está buscando reconciliar todas as coisas. Nada fica do lado de fora
da missão reconciliadora de Deus com o mundo.

A visão desta metodologia " o verbo se fez carne " é também uma visão contextual porque este
verbo precisamente se fez carne. Fazer-se carne e fazer-se cultura, fazer-se história, fazer-se
povo, fazer-se comunidade. Eles são, o lugar onde fazemos teologia e a vivê-la importa
demais. Este verbo que se fez carne, habitou entre nós é uma visão prática, a teologia e a vida
caminham juntas. Por isso procuramos juntar a academia, a igreja e as organizações que estão
trabalhando na Vanguarda dos Ministérios da Reconciliação. Reconhecemos que cada um tem
algo para acrescentar que academia necessita das pessoas que estão no campo, prática; e as
pessoas que estão na prática no campo, também precisa da academia. Juntos apoiamos os
uns aos outros.

É um peregrinar, que não é solitário; é de um povo que forma novos nós.

Nesta peregrinação, temos várias Estações. Comecemos com uma pergunta: Para qual direção
vamos? Vamos em direção a uma nova criação esse é o nosso destino. E com base nesse e
destino conduzimos a nossa visão, nossos passos e esforços. Este destino, a nova criação,
nos promete que no futuro haverá uma grande multidão, a qual ninguém pode contabilizar de
todas as nações, tribos, povos e línguas. Na nova criação, a diversidade dos povos não se
elimina, mas sim se harmoniza, se reconcilia. Juntos, como irmãos, estaremos ao redor do
trono e do cordeiro.
Ao fazer esta pergunta, nós ficamos olhando o final. Nós conduzimos a nossa direção ao final
para olhar o presente e nos perguntarmos, o que está acontecendo? Onde nós encontramos?
E nesta hora quando Deus nos oferece o dom da lamentação. O lamento não é simplesmente
queixar-se, é uma prática que nos convida a olhar com honestidade as realidades presentes e
vemos como elas estão danificadas, como estão desfiguradas e perguntarmos a Deus, onde tu
estás? Até quando?

Neste olhar honesto, procuramos ver que Deus está presente em meio a estas realidades. Há
uma canção em inglês, que temos no centro para a reconciliação chamado "Til All Things Are
Reconciled'' ("Até que todas as coisas estejam reconciliadas”) Um dos versos desta canção diz:
'' Nas sombras da lamentação, vemos nova criação ".Procuramos os sinais de uma nova
criação em meio a estas realidades que lamentamos e choramos. Tratamos de fazer teologia e
falar de reconciliação à sombra 12 de outubro de 1492. Este momento que ainda tem impacto
em nossas realidades e nos leva a fazer do lamento uma leitura dos Sinais dos Tempos.
Lamentamos, não para nos queixarmos e sim para ter clareza no que diz respeito ao que está
acontecendo é invocar a presença de Deus, por que não nos lamentamos como aqueles que
não tem esperança. O lamentar se de alguma maneira nos leva também à esperança porque o
lamento e a escola da Esperança Autêntica.

Depois disto podemos chegar à terceira estação do nosso peregrinar e nos perguntamos, onde
vemos sinais de transformação e libertação?Procurarmos a esperança em meio às horas de
lamentos, mas esta esperança não é otimismo. Esta esperança não é como olhar a vida como
um mar de rosas. Está Esperança é difícil. É como Abraão que creu na esperança contra a
esperança.(Romanos 4:18). Há um ditado antigo que diz que a esperança é uma mãe com
duas filhas: A ira e o valor. A ira pela maneira em que as coisas foram danificadas, está
transtornada pela injustiça que há no mundo; e o valor para fazer alguma coisa, para mudar
estas realidades. Esta terceira Estação nos convida da lamentação para a libertação e
esperança.

Na quarta Estação nós nos perguntamos sobre a nossa vocação ,porque eu?,? Porque estou
aqui?. Estamos aqui porque recebemos um chamado e Deus está procurando formar uma
liderança para exercer o ministério da Reconciliação algo integral ao que Deus está fazendo
para transformar o mundo. A carta Encíclica Fratelli Tutti del Papa inclui uma visão de em
direção a onde vamos que talvez Deus esteja comprindo nessa iniciativa e faço minhas as
palavras do Papa Francisco:
Almejo que nesta época que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada ser humano,
possamos fazer renascer entre todos um desejo mundial de Irmandade entre todos e todas: ‘e
aqui maravilhoso segredo para sonhar e fazer da nossa vida uma aventura formosa. Ninguém
pode lutar na vida de forma isolada Precisamos de uma comunidade que nos sustente, que nos
ajude e na que nos ajudemos uns aos outros a olhar para frente! Quão importante é sonhar
juntos e juntas! Sozinhos corremos o risco de termos miragens, nas que vemos aquilo que não
há; os sonhos se constroem juntos ".

Eu creio que assim seja. Assim se constroem os sonhos aqui montando sonhos, um novo nós.
Agora sim encerro com duas estrofes de um Cântico de Justo González Teólogo Metodista
sobre o Ministério do nosso Kairós, os tempos em que estamos hoje em dia. Ele diz: Dos
quatro cantos do mundo, da Flórida à campina cubana, desde a Síria e a costa africana, de
Borinquen, Quisqueya e Aztlán. Nesta hora bendita, nós trouxe o segredo desígnio divino que a
todos juntou em Um Destino e de todos o reino criará. 1

1
Mil voces para celebrar (Nashville, Tennessee: United Methodist Publishing House, 1996): Hymn 378.
Mesa redonda sobre a necessidade de transformação e
reconciliação das Américas.

Yohan Álvarez: Por que trabalhar para a transformação e a reconciliação nas Américas? Para
explorar esta pergunta, com a participação de Jocabed Solano, diretora de memória indígena,
membro da nação Guna Dule de Panamá. Rolando Pérez, peruano comunicador e sociólogo
de religião, professor da Pontifícia Universidade Católica do Peru e diretor do Instituto Paz e
Esperança Nina Balmaceda é peruana Americana, diretora associada do centro para a
reconciliação e presidente de paz e esperança internacional.

Rolando Pérez - Pensando naquilo que acaba de compartilhar Edgardo, uma primeira resposta
e que precisamos construir o novo nós. E na América Latina, ainda sofremos fortes resistências
para olhar para o nosso próximo. Quando olhamos para uma outra pessoa, podemos
reconhecer passagens de nossa história onde há violência, desprezo e discriminação. Essas
marcas da nossa história são aquelas que deveriam seguir nos interpelando. É preciso voltar a
colocar na agenda o desafio Profético da Reconciliação. Temos um desencontro forte com a
nossa memória e não é possível falar sobre a reconciliação sem memória. A história e as vozes
das pessoas afetadas pelas violências em nossos países, nos convida a pensar que alguma
coisa ainda está pendente. As suas vozes ainda falam no âmbito privado, no âmbito invisível.

O nosso amigo Germán Vargas, membro de Paz e Esperança Peru, é um ativista dos direitos
humanos e da recuperação dos lugares de memória. Em Lima, temos um lugar que se chama "
o olho que chora ", um lugar de memória, como há muitos na América Latina. Tenho visitado
este lugar com ele e sempre me atinge ver como as vítimas das violências são acompanhadas
por muito pouca gente. Vemos-las sozinhas, visitando esses lugares honrando as pessoas que
perderam. Este é um ponto crucial do nosso contexto. A recuperação da memória tem haver
com a luta, e não somente por conhecer a verdade, mas também por reconhecer rostos
negados e as vozes silenciadas. É um elemento nevrálgico para pensar na reconciliação.

Por outro lado, temos o problema de um setor da sociedade que tenta reconstruir o passado
em cima da base da história oficial. Essa história oficial está sustentada, no que alguns
especialistas chamam, a memória da salvação. Mas não necessariamente a memória que
reconhece o outro. Paul Ricoeur dizia que essa memória oficial pode mascarar uma forma de
esquecimento, uma estratégia de evasão, de se iludir e de fugir da nossa realidade. Como
muitos dizem, ainda em nossa América Latina, a memória encontra-se sequestrada
necessitamos trabalhar por ela.

Em segundo lugar, creio que necessitamos pensar, falar e trabalhar pela reconciliação,
precisamos dar continuidade ao legado daqueles irmãos e irmãs das Comunidades de fé, que
durante a violência armada no Peru, se opuseram aos abusos do governo e dos Rebeldes
defendendo e acompanhando as vítimas. No Peru, esta passagem da nossa história corre o
risco de se perder, os anos de peregrinação desse remanente profético estão sendo
esquecidas. Isto contribui aqui, para que se legitime uma vertente do pensamento Cristão, que
em vez de trabalhar pela inclusão e os direitos humanos, fomenta a intolerância e a exclusão.
necessitamos olhar o legado deste irmãos que fizeram justamente o contrário acompanhando
as vítimas se esforçaram por incluir e construir como***** bem dito, comunidade. Necessitamos
repensar a construção de comunidade conectada ao desejo de viver numa sociedade
reconciliada.

Nina Balmaceda: Obrigado, Rolando, por trazer isto ao diálogo. Para enfrentar esta pergunta
em relação ao que Rolando tem dito, gostaria de fazer menção ao significado de reconciliação
para mim, a reconciliação é nos aproximarmos do que temos mantido distante.

Temos estado longe de Deus e tem sido a obra do nosso senhor Jesus Cristo a que nos
aproxima a Deus para experimentar seu shalom. Não há controvérsias no que diz respeito a
esta grande verdade bíblica de que a reconciliação é voltar para a comunhão, ao Shalom de
Deus pela obra do nosso senhor Jesus Cristo. O problema é que não ficamos aí. Como se o
grande propósito de reconciliar todas as coisas em Jesus Cristo se esgotasse na reconciliação
individual de cada alma. Como se um ser humano fosse uma alma que está aí boiando, que
não sente fome, que não sente frio, que não tem medo quando escuta balas, quando não temo
quando há um golpe de estado ou quando a seca.

Rolando nos comenta desde o contexto peruano algo que devemos levar em consideração em
todos os cantos das Américas. De quem estamos longe? No meu caso morando nos Estados
Unidos não posso dizer que tenho Reconciliação com as comunidades indígenas
norte-americanas. Apesar de não ter nada contra eles e espero que eles não tenham nada
contra mim, não vivo perto das suas lutas, de suas dores. Para uma pessoa comum nas
Américas, durante muito tempo, isso não significava somente a minha família e as pessoas que
parecem comigo. Não é propriamente nosso, levar em consideração quem está sofrendo ainda
que não se pareça comigo. Porque vou arriscar a minha situação confortável e segura pelos
direitos daqueles que não têm segurança e que não estão à vontade, que não tem estado bem
durante centenas de anos? Eles estão longe como posso estar perto de Deus quando estou
longe daqueles que sofrem, quando Deus está próximo dos que sofrem e estes têm prioridade
para ele?

Yohan Álvarez:O tema da memória como direito das vítimas e como um bem público que
pertence a sociedade é o que nos permite reconhecer as vítimas da violência e também
aqueles que têm resistido à injustiça ao longo do tempo. Isto se faz visível na ideia apresentada
por Nina sobre como estar próximo e entender a reconciliação de como nos aproximar aos
outros.

Nos discursos acadêmicos e nas discussões públicas em torno da reconciliação, podem


emergir diversas perspectivas sobre o seu sentido, por exemplo, nos cenários de diálogo
propiciado pelo funcionamento de diferentes comissões da verdade, fica evidente a diversidade
de abordagens em torno da reconciliação. Isso dá conta das possibilidades de transformação
que permite, mas isso também pode gerar desvantagens na aplicação de políticas públicas e
em processos concretos.

Jocabed Solano:Em relação a pergunta lançada, porque trabalhar para a reconciliação?


Primeiro devo mencionar que sou do Povo Guna Dule, um dos sete povos indígenas que
habitam o Panamá e Colômbia.

Queria me referir ao conceito de reconciliação desde da nossa espiritualidade e fé. Somos


seguidores de Jesus e dentro de nossa fé está o ethos de viver em harmonia uns com os
outros. Se eu me coloco também como parte do povo Guna Dule, a ética do Povo Guna Dule
reconhece a vida em harmonia como algo presente transversalmente, que nós chamamos de
cotidiano.

Diante disso, creio que devemos problematizar o conceito de reconciliação porque se estamos
assumindo que nós reconhecemos que somos uma pluralidade de pessoas em Abya Yala,
Temos que reconhecer desde onde estamos falando.Para os povos indígenas existe outra
forma de vida, outra maneira de entender a vida. Existe um outro núcleo ético, mítico.. O
conceito da Reconciliação não existe em muitas das línguas indígenas, portanto, como pode se
falar sobre um assunto que não se compreende a partir dessa Cultura?

Para os povos indígenas não pode haver uma vida em harmonia sem uma relação entre todos.
Por exemplo, Nina falou da nossa relação com as comunidades nativas americanas. Em nosso
caso, nós que estamos destilado de México até o Chile, podemos reconhecer que os povos de
origem também se fazem estas perguntas, porém desde o núcleo ético mítico da integralidade
da vida, ou seja, tudo. Se tocamos uma parte de algo, tocamos o todo. Este todo não envolve
somente as relações humanas, como também as relações com os seres viventes e a
comunidade de seres viventes. Aí a lógica é diferente como diria o Pensador equatoriano
Patrício Guerrero: Como se enxerga o próprio coração da vida?" Ou seja, há uma diferença
entre a cosmovisão e a cosmo-vivência como formas de vida. Ou, em palavras mais simples,
mas não menos profundas do meu avô de Guna Dule , entendemos que a vida em harmonia
acontece quando " a casa está em equilíbrio ".
Rolando Pérez:, esta pergunta " da onde falamos?" me parece uma pergunta que chama a
discussão. Nos traz necessidade de sentar-se à mesa para escutar o que é reconciliação
conforme o conceito de cada um. Porém sentados à mesa, estamos somente alguns, não
estamos todos. E necessitamos escutar as comunidades que tu mencionas.

Creio que temos medo do desacomodo porque temos irmãos e irmãs de comunidades
excluídas colocando em questão o nosso modelo de desenvolvimento. Questionando o tipo de
sociedade que nós mesmos afirmamos todos os dias. Todo o projeto do bom Viver questiona o
modelo de vida consumista e nosso voto. Mesmo nós votamos por pessoas que seguem
afirmando um sistema que exclui. Creio que esta pergunta é crucial.

Yohan Álvarez:: Estas perguntas nos convidam ao diálogo. Um diálogo que não vamos esgotar
aqui, e um convite a percorrer um caminho. Temos uma pergunta para Nina. Tu fala para nós
aproximar-nos ao outro. Quem é esse outro que está sofrendo nas Américas, desde o seu
ponto de vista?

Nina Balmaceda:: Quem são os outros ou as outras? São os que sofrem injustiça no dia a dia
da vida. Os que não têm a sorte de ter igual proteção. A experiência do sofrimento com certeza
nos afeta a todos nós. E ainda assim, tem certos sofrimentos que não nos afetam por igual.
Esta exposição acontece de forma virtual e não em algum lugar maravilhoso da América Latina,
e por que estamos atravessando um momento de pandemia. E isso é algo terrível e tenho
certeza que todos nós conhecemos uma família, senão é a nossa própria, que está sofrendo a
dor da morte ou a doença severa. É um sofrimento de todos, mas que não nos afeta a todos
por igual. Os que têm o privilégio de poder trabalhar de casa, estamos protegidos daqueles,
que têm que viver daquilo que podem ganhar trabalhando na rua, que estão desprotegidos. E é
verdade que toda a humanidade experimenta sofrimento, e há coisas que, mais cedo ou mais
tarde, vão nos afetar a todos: A doença, a morte de um ente querido e finalmente a própria
morte. Não importa quão rico seja. Quando a gente passa por uma enfermidade terrível ou vê
um ente querido sofrer, não há quantidade de dinheiro que possa nos consolar. O dinheiro, no
entanto, pode marcar a diferença de como se tratar de uma doença, porém é verdade, todos
sofremos em alguma medida.

O sofrimento causado pela injustiça, no entanto, é um sofrimento que não nos afeta a todos por
igual. Como pessoas cristãs, temos que perceber como a presença de Deus em nossas vidas e
comunidades têm o poder de transformar e reconciliar-nos de maneira que a injustiça tenha
menos poder para causar sofrimento. Senão, estamos perdendo de vista uma realidade
espiritual integral pela qual morreu e ressuscitou Cristo.
Também devemos reconhecer que em todo o mundo há uma recomposição de forças políticas.
Há divisão e polarização e, neste contexto, a religião é uma força poderosa na vida humana.
Como alguém dedicado ao estudo da política, considero inconcebível não prestar atenção ao
poder que tem a religião no mundo político. Temos sido convidados a fazer parte do novo, nós
não tão somente os convidamos a fazer parte da iniciativa das Américas e a estudar no
Instituto das Américas, e assim como cristãos devemos motivar-nos a abrir os olhos. Estamos
vivendo momentos em que, em vez de buscar a reconciliação, de procurar ficarmos perto uns
dos outros, podemos cair debaixo da força de manipulação religiosa que ao invés de aliviar o
sofrimento, causa ainda mais sofrimento. Em vez de confrontar a injustiça, aprofundar ainda
mais a injustiça contra os mais fracos. Em vez de promover a inclusão e a dignidade humana,
trata de tirá-las. O que estamos fazendo os cristãos para mostrar um caminho em direção a
reconciliação pelo poder de Cristo em nossas vidas e nossas comunidades?

Yohan Álvarez Há um conceito que ficou ressoando. Como construir esse novo nós, Edgardo?
Edgardo Colón-Emeric: É uma pergunta importante; Em primeiro lugar existe um risco de que
ao construir um novo nós, temos novas exclusões de pessoas ou grupos que se veem como
problemáticos nessa construção e devem ser descartados. Então, temos que reconhecer que
somos os que estamos construindo e a partir de onde estamos fazendo-o. Se bem não temos
um papel passivo e temos que reconhecer que não temos muito clara a realidade da direção
para onde vamos.

Qual é a visão deste novo nós? Devemos estar alertas e porque é fácil impor a nossa visão. Se
fizermos isso, estamos simplesmente perpetuando a exclusão. Devemos manter-nos na
esperança de que este novo nós não seja somente um sonho, mas sim uma promessa de
Deus. Portanto, o participar destes encontros de diálogo, não é em vão. Temos esperança e
possibilidade, mas devemos avançar com cautela porque também há muitos riscos neste tipo
de trabalho.

Yohan Álvarez: Falando em relação aos riscos e do risco específico que existe de continuar
excluindo, fazendo povos e pessoas invisíveis que podem ser incômodas ao nosso novo, tenho
uma pergunta para Jocabed. Quais seriam as principais ações para redimir as diferentes
culturas na América Latina América cuja a história tem sido ignorada?

Jocabed Solano:Creio que Rolando expôs corretamente a importância do assunto da


memória.12 de Outubro comemoramos a luta de resistência dos povos indígenas Abya Yala.
Certamente muitas pessoas se perguntam, por que os povos indígenas dizem que esta é uma
luta de resistência se já passaram mais de 500 anos? Devemos reconhecer que o trauma
histórico não está apenas no passado, e sim que continua estando no presente. Ainda hoje se
tenta silenciar as vozes e conhecimentos dos povos indígenas. anula-se participação política
atores cidadãos indígenas. Por exemplo, os Defensores da Terra são assassinados, estes
assassinatos que acontecem no dia a dia nos lembram estas lutas de resistência.

Quando falamos de memórias recordamos que somos parte desta memória os nossos
ancestrais também o São. Quando problematizamos a palavra reconciliação, fazemos porque
por trás deste existe toda uma Filosofia de vida que muitas vezes ignoramos. Se me permitem
separar a palavra nós outros, observamos a referência aos outros pontos, no entanto, quando
os Gunas viram pela primeira vez os outros que eram os invasores, não os reconheceram
como outros, e sim como dules. Quer dizer, eram pessoas, e os reconheceram como seres
viventes, igual a árvore, assim como o rio. Como vemos, há uma filosofia diferente. O Espanhol
nos fala (nós outros), mas a língua indígena fala do ser vivente que vive num espaço comum, o
qual é habitado para conviver.

Em resposta à pergunta, como o fazemos? O primeiro é reconhecer ao povo que está lutando e
resistindo. Uma palavra que os povos indígenas usam para a reconciliação é cura. Não são
exatamente conceitos paralelos porque a cura envolve a cura cósmica. Trata-se da cura de
tudo o que somos. Aqui, o idioma espanhol reduz o significado porque o ser é concebido
separadamente do fazer. Mas não é desse jeito em muitos idiomas indígenas. Há um processo
que os povos andinos chamam o bom viver que inclui o que somos e o que fazemos com o
planeta.
Os textos bíblicos falam de cura. Precisamos reler os relatos bíblicos com a ótica de quem
pode ver essa cura que Jesus quis conseguir na humanidade e que também os povos
indígenas trazem nas suas narrativas e suas memórias. Penso que este processo de cura
exige lembrar as memórias, reconhecendo outras formas de vida e outras sabedorias.

Yohan Álvarez: Quero retomar ideias que temos conversado neste caminho em direção a
reconciliação. É um caminho para trazer memórias e estas memórias a partir das vítimas, a
partir daqueles que resistem. Um caminho que nos convida a nos aproximar uns ao outro,
aqueles que são diferentes de nós. É o caminho que nos convida a reconhecer e visualizar
especialmente a aqueles historicamente têm sido excluídos, que tem ficado invisíveis, e a
aqueles que sofreram por uma identidade a qual foi imposta.

Gostaria que Rolando nos explicasse, quais implicações tem a reconciliação para as
comunidades de fé?

Rolando Pérez: Estamos num momento crítico para muitas das nossas igrejas nas Américas.
Especialmente no contexto evangélico, observamos o fortalecimento de mentalidades
integristas tratando de obter políticas para impor uma agenda que restringe os direitos. Com os
meus colegas de paz e esperança no Peru, temos sido testemunhas como as comunidades de
Fé resistiram ao fundamentalismo do Grupo Rebelde insurgente Sendero Luminoso, assim
como ao autoritarismo do Estado. Não são irmãos na serra peruana fizeram uma pastoral de
compaixão, porém agora algumas dessas igrejas fazem o contrário. Pergunto-me, como
fazemos pedagogia na igreja? Como podemos resgatar esse legado da pastoral de compaixão
é incluí-lo como processo em nossas igrejas atualmente? Temos um grande desafio como
igreja para recuperar essas memórias, não como eventos, e sim como modelos pastorais.
Necessitamos repensar novamente uma Pastoral da Reconciliação a partir da vida cotidiana,
memória, e das práticas da mesma igreja que mostrou compaixão e solidariedade com aqueles
que sofriam de violência. Essa igreja tem vivido a opressão e tem sido resiliente.

Nina Balmaceda: Em relação à reflexão de Rolando, é bom reconhecer que nós como
cristãos, temos algo que outras pessoas não têm, e às vezes, nós ficamos abatidos muito
rápido pela falta de esperança. Queixamo-nos de que o país encontra- se polarizado, que é
corrupto, violência, que há muita miséria... E somente nos queixamos. Mas, como Edgardo
disse "o lamento não é para queixar-nos ". O Lamento é para reconhecer essa ira santa, esta
coragem que surge quando percebemos que as coisas são tão diferentes do que Deus quer
para a humanidade. O Lamento nos serve para recuperar o fôlego e na presença de Deus
discernir a sua direção para a ação, aquilo que vamos dizer e para consolar as outras pessoas.
Como disse o Rolando, me questiono também que nós como cristãos nas Américas, não
pudemos até agora modelar e o caminho para a reconciliação. Só gostaria de dar somente uma
pista sobre isto, sei que esses tem muitas outras perguntas interessantes, porém creio temos
uma fixação em entender a nossa fé de maneira individual, vertical, a que conecta a minha
alma com Deus e Deus com a minha alma, porém não me conecta com o meu vizinho, nem
com o sofrimentos da comunidade, e nem com o resto da criação. O resultado dessa maneira
estreita em entender a fé facilita que muitos cristãos se apaguem apenas em certos assuntos
de agenda pública muito estreitos, sem enxergar quais são as causas desses problemas.

Em relação a temas políticos, por exemplo, tenho certeza que aqui há irmãos e irmãs que têm
opiniões diferentes. E isso é normal, por isso é que queremos um sistema democrático que
funcione bem em nossos países, no entanto, na prática, temos medo falar sobre temas
políticos de coisas sobre que haja divergência, em vez de dizer “Que bom que vamos falar com
pessoas que pensam diferente, vamos aprender e vamos seguir gostando deles nos amando
como irmãos em Cristo " Somos precisamente membros de uma família, e estamos perto de
outros através do Milagre da nossa fé em Deus, ainda que estejamos fisicamente longe .

Gosto muito quando a jocabed diz, "Vamos problematizar o termo reconciliação". Na iniciativa
das Américas dizemos que buscamos a transformação e a reconciliação. Poderíamos dizer que
a iniciativa é só para a reconciliação porque a compreendemos biblicamente, ou seja, a
transformação é inerente à reconciliação. No entanto, o termo reconciliação tem sido
desgastado, especialmente nas Américas que vemos a necessidade de referir-nos
explicitamente a transformação. É bom problematizar os termos que temos escolhido. Falando
nisso, para quem não está muito familiarizado, eu gostaria de explicar que a Abya Yala é como
as comunidades Guna de Colômbia e Panamá chama ao nosso continente.

Yohan Álvarez:: Recebemos mais uma pergunta e vamos terminando. É uma pergunta que nos
convida a pensar na esperança e o que inspira e motiva este Instituto das Américas para a
transformação e a reconciliação. Como manter viva essa esperança em uma reconciliação que
transforma?
Jocabed Solano:Abya Yala, como bem falou a Nina, é uma palavra na língua Guna Dule e
significa " terra em plena maturidade, terra segura, terra de sangue, terra Vital ".

Quando falamos com irmãos e irmãs das comunidades indígenas cristãs, encontramos uma
diferença naqueles que seguem a fé em Jesus. Uma das realidades que escutamos é que este
tema que falamos é como se fosse algo externo. Porém devemos perguntar-nos, o que
acontece com a igreja? Quem somos nós como parte do corpo de Cristo? Onde estão os
espaços para escutar e para participar numa construção política democrática?

Penso que há caminhos de esperança e lembro da igreja de Efésios que era uma igreja
pluricultural que não excluía aos gentios, nem às mulheres, e nem aos escravos. Os mesmos
relatos bíblicos nos convida a ler textos específicos nas realidades políticas e se vivenciam em
nossos contextos. Mas, esta leitura não deve ser tão somente a partir do império, digo aos
sistemas de poder e opressão, mas também a partir das nossas próprias realidades como
igreja.

Outra pista esperança é também ver como os povos indígenas propõem, desde suas
identidade, umas teologias indígenas que nos permitem ampliar a revelação o que podemos
entender no tema reconciliação e transformação, convida nos a considerar, não apenas
reconciliação entre os seres humanos, e sim nossa relação com a criação, incluindo animais e
plantas. Existe uma sabedoria muito profunda nas escrituras à luz desta exposição. Temos
outras possibilidades de entender a reconciliação em nosso percurso em Abya Yala

Yohan Álvarez: É útil considerar o mundo das Comunidades Indígenas que enriquece a
compreensão em relação à reconciliação. Muito obrigado..
Perguntas para refletir em comunidade.

1. Pensemos nos contexto desde onde nós estamos trabalhando para a reconciliação. De
quem estamos longe? Como podemos nos a eles? O que significa construir um novo nós e
como o fazemos?

2. Porque é importante o tema da memória? Qual é a história da nossa vizinhança, comunidade


ou país que tem sido esquecida voluntária ou involuntariamente e que necessita ser resgatada?
Quais comunidades têm sido excluídas em nossa sociedade? Como podemos escutar as suas
vozes? Porque povos originários são fundamentais no trabalho em direção a reconciliação nas
Américas?

3. Como entendemos nossa relação com Deus? É algo simplesmente vertical ou a entendemos
em relação aos outros seres humanos e a criação também? Como podemos estar perto de
Deus se estamos longe dos que sofrem?

Para onde Vamos


A nova criação

Edgardo Colón-Emeric

Estamos atravessando tempos difíceis. Pergunta que talvez vem à cabeça é, onde estamos e
como chegamos aqui? Gostaria que pudessemos recordar do assassinato 6 Jesuítas da
Universidade centro Americana. Mesmo tantos anos depois desses eventos tão comovedores
na história desta terra latino-americana, parece que estamos repetindo a história. Estamos em
momentos difíceis da covid, a situação no Peru, a situação do furacão na América Central e a
pergunta é, o que está acontecendo? Mas essa não é a pergunta que devemos nos fazer
agora. Melhor, quero que reflitamos sobre outra pergunta. Para onde vamos? Por quê em toda
a caminhada, em toda viagem, o destino final é o primeiro ponto de partida. E vamos em
direção a nova criação. Este guia pode ser útil para qualquer um que esteja vivendo estes
tempos inquietantes e confusos. Os convido para que consideremos primeiro a Cristo, o
princípio, centro do nosso caminho.
Segundo lugar, consideremos como peças de um retrato certas imagens bíblicas do fim do
percurso, para depois falar brevemente sobre o peregrino do caminho e a visão teológica de
Oscar Romero. Pensemos sobre o caminho da nova criação nas Américas como um guia para
pessoas desorientadas. Comecemos por Cristo, princípio, fim e o centro do caminho, que nos
diz: " eu sou o alfa e o ômega, o primeiro e o último, o começo e o fim " (Apocalipsis 22:13).

Nas escrituras, Cristo é apresentado como,


Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito sobre toda a criação, pois nele foram criadas
todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos sejam
soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele.Ele é
antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja;
É o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia. Pois foi
do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude e por meio dele reconciliasse consigo
todas as coisas, tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus, (Colossenses
1:15-20)

Tudo tem sido feito por e para Cristo. Ele deu forma ao universo e ele dá coerência ao mundo a
criação. Imagino a história da criação como um mosaico feito com o formato de Cristo. O
pecado, no entanto, desorganizou estas peças. E somente ficamos com fragmentos, com
peças da imagem de Cristo quem é o início, o centro,e o fim do caminho. Esta visão nos leva a
pensar como é que Cristo reconcilia as coisas, ainda que temos somente peças de um retrato.
Não temos uma imagem clara da direção aonde vamos, mas sim fragmentos. Fragmentos que
podemos ver nas seguintes imagens bíblicas.

Primeiro, consideremos a transfiguração, uma imagem que nos mostra em qual direção vamos,
nova criação. O apóstolo Paulo diz, "Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas
transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e
comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.(Romanos 12:2) A palavra para
transformado é “metamorfoses” que é um convite para ser transfigurado. Ele também explica,
“E todos nós, que com a face descoberta contemplamos a glória do Senhor, segundo a sua
imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é
o Espírito.” (2 Coríntios 3:18) Falar sobre a transfiguração é falar de mistério, o mistério do
nosso destino final. O apóstolo João escreveu: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda
não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar,
seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é”. E aqui temos um fragmento uma
peça do retrato do final da nossa história,a transfiguração.

Consideremos agora outra imagem. Uma imagem de Harmonia celestial nestes versículo muito
famosos Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia
contar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé, diante do trono e do Cordeiro, com
vestes brancas e segurando palmas. E clamavam em voz alta:"A salvação pertence ao nosso
Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro”. (Apocalipse 7:9-10)
É uma imagem, uma peça de retrato que nos fala de uma Harmonia Celestial, onde a
diversidade do mundo, a diversidade de raças, povos, línguas não se converte em uníssono.
Mas melhor se trata de uma multidão de vozes e línguas em harmonia, em um mesmo canto
com diversas partituras dentro desse cântico.

Em sentido oposto a essa harmonia encontram-se os cacofonias diabólicos do mundo em que


vivemos. Apocalipse 13 fala da besta que recebe autoridade e poder sobre todas tribos, povo,
línguas e Nações. Muitas vezes, quando os cristãos pensam nas autoridades governamentais,
mencionam Romanos 13 :1 que ensina devemos submetermos às autoridades públicas, porque
não há autoridade que Deus não tenha constituído.No entanto, olhando essa mesma realidade
do império romano se reconhece que o poder político e a autoridade da besta está presente
operando neste lugar. Em uma visita a Havana, Cuba, eu vi no átrio do Capitólio, uma estátua
de Lúcifer, um anjo caído; Foi fascinante para mim pensar como essa estátua representa uma
profunda verdade teológica que os poderes malignos deste mundo estão presentes nas
autoridades públicas também e portanto, se requer muito discernimento porque esta cacofonia
busca frustrar a harmonia a qual somos chamados.Uma Outra imagem do Fim: Um reino de
paz. No Famoso quadro de Eduardo Hicks " o reino a passível ", descreve a promessa dada a
Isaías: é
"Um ramo surgirá do tronco de Jessé,
e das suas raízes brotará um renovo. (Isaías 11:1)" E ao falar sobre o espírito do Senhor que
repousa sobre ele, um pouco também aqui, com ouvidos cristãos, escutar ecos trinitários “O
Espírito do Senhor repousando sobre ele” E esta realidade que o Espírito Santo manifesta
nesta pessoa, este servo, que vai julgar com justiça aos desvalidos. Quem dará uma sentença
justa em favor dos pobres da terra e quem escuta o clamor dos pobres e o clamor da terra,
porque apresenta um reino de paz onde haverá Harmonia entre os seres humanos e entre
todas as criaturas do mundo no final de contas ,são criaturas de Deus. Lembremos- nos de
colossenses 1: 16 - 20 que ensina que todas as coisas foram feitas por meio de Jesus Cristo, e
que são reconciliados por ele e para ele.
Consideramos uma outra imagem: Um novo Éden. Apocalipse nos ensina, " Então o anjo me
mostrou o rio da água da vida que, claro como cristal, fluía do trono de Deus e do Cordeiro, no
meio da rua principal da cidade. De cada lado do rio estava a árvore da vida, que frutifica doze
vezes por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações (Apocalipse
22:1-2); A cura das Nações implica que as nações têm feridas e reconhecemos elas. Na
fronteira entre nogales e Arizonas, num dos muros que separam México e Estados unidos, está
escrito em grafite,:" fronteiras: cicatrizes na terra " esse muro que foi construído com material
reciclado da Primeira Guerra do Golfo se usa agora para construir Barreiras e símbolo de
feridas que separa a humanidade que nos dividem os dos outros pontos está a promessa este
não é o fim. O fim é o novo Éden, e a promessa da cura das Nações, a cura das feridas tem se
causado entre as nações

Ben diz uma composição de Justo González, " aos quatro cantos do mundo, o pecado constrói
Barreiras, mas a fé não respeita fronteiras, a justiça e a paz triunfaram. Nos quatro cantos do
mundo, somos povo que anuncia o amanhã, quando a todos em paz Soberana Deus, em
Laços de Amor unirá.

Outra imagem mais, nova maneira de ver e viver:

Assim que daqui por diante ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos
conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.
Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se
fez novo. E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos
deu o ministério da reconciliação; Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não
lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação. De sorte que somos
embaixadores da parte de Cristo, como se Deus nos rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo,
que vos reconcilieis com Deus. (2 Coríntios 5:16-20)
No final, vamos ter uma forma de ver que começa já a se manifestar hoje. Nas épocas de
Paulo, os critérios meramente humanos eram os critérios romanos. Na famosa pintura de
Gerome intitulada “A Era de Augusto, o nascimento de Jesus ", se observa que o centro da
história não está com os poderosos, mas sim no princípio está nascendo Jesus Cristo. O
nascimento de Jesus, o centro da história, não é César, e nem seu trono em Roma. Não
consideremos ninguém agora segundo critérios meramente Romanos, nem critérios meramente
americanos, senão critérios que vem de outra realidade e a realidade da nova Criação em
Cristo

Esta nova realidade leva a uma nova maneira de viver como está descrito na carta de Mathetes
a Diogneto, na qual os cristãos ".... Habitantes na sua própria Terra, como Forasteiros; fazem
parte em tudo como cidadãos, mas suporta tudo como estrangeiros, toda terra estrangeira é
pátria para eles, mas estão em toda pátria como em terra estranha ". Esta é a vida de um
embaixador em Cristo. E vivemos neste mundo representando outra realidade

Numa ocasião tive a oportunidade de conhecer Cerro de Pasco, Peru, um povo mineiro muito
contaminado e desolado. No entanto, ao visitar uma das suas igrejas, encontrei umas irmãs se
dirigindo ao povo em louvor. E essa experiência me lembrou das palavras do profeta Isaías:

Porque, eis que eu crio novos céus e nova terra; e não haverá mais lembrança das coisas passadas,
nem mais se recordarão. Mas vós folgareis e exultareis perpetuamente no que eu crio; porque eis
que crio para Jerusalém uma alegria, e para o seu povo gozo. E exultarei em Jerusalém, e me
alegrarei no meu povo; e nunca mais se ouvirá nela voz de choro nem voz de clamor. Não haverá
mais nela criança de poucos dias, nem velho que não cumpra os seus dias; porque o menino
morrerá de cem anos; porém o pecador de cem anos será amaldiçoado. E edificarão casas, e as
habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu fruto. Não edificarão para que outros habitem; não
plantarão para que outros comam; porque os dias do meu povo serão como os dias da árvore, e os
meus eleitos gozarão das obras das suas mãos. Não trabalharão debalde, nem terão filhos para a
perturbação; porque são a posteridade bendita do Senhor, e os seus descendentes estarão com
eles. (Isaías 65:17-23)

Este outro sinal do fim, outra peça do retrato. Em meio a um mundo complexo em que vivemos,
ecoa este canto do Instituto de Grandes Lagos para a reconciliação no leste de África, que diz “
Bom Pastor te adoramos, ao ir para a missão por ti. Nas sombras do lamento, vemos a nova
criação. Nos guia nesta viagem e teremos a paixão, o valor, e a esperança pela conciliação".

Passemos agora a considerar um Peregrino neste caminho. Óscar Romero explicou que para
ser peregrinos deste caminho em direção a nova criação, temos que ter uma nova forma de ler
a Bíblia,ele disse " estes textos dos Profetas..... Não são vozes distantes de muitos séculos
atrás; são realidades cotidianas, cuja clareza, crueldade e intensidade, vivemos no cotidiano. 2

2
Romero, Óscar. “La dimensión política de la fe desde la opción por los pobres”. Discurso con motivo del
Doctorado Honoris Causa conferido por la Universidad de Lovaina, 2 de febrero de 1980, p. 5.
Uma nova maneira de ter esperança é, que a igreja está chamada a pregar seus novos céus e
nova terra, conhecendo e aprendendo que a esperança transcendente deve manter-se com os
sinais de esperança histórica. Ainda quando os sinais sejam aparentemente tão simples como
o profeta Isaías proclama, " E edificarão casas, e as habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o seu
fruto. (Isaías 65:21)

Isto nos convida a abraçar um novo jeito de valorizar a vida. Romero declarou que, “Os antigos
cristãos diziam: Gloria dei, Viven homo o que significa que a glória de Deus é um ser humano
que vive plenamente. Nós poderíamos concretizar isto dizendo: Glória dei, Viven pauper, a
glória de Deus uma pessoa pobre que vive plenamente ". Essa missão de uma nova maneira
de valorizar a vida é a visão que vemos no juízo descrito pelo Apóstolo Mateus quando diz,
Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou
estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos? Então lhes responderá, dizendo: Em
verdade vos digo que, quando a um destes pequeninos o não fizestes, não o fizestes a mim.
(Mateus 25:44,45)

Passemos a uma última reflexão sobre o caminho para a nova criação nas Américas como um
guia para pessoas desorientadas. Há certas pautas para este caminho. Primeiro, que a
iniciativa da transformação e a reconciliação vem de Deus e, é uma iniciativa cristocêntrica por
tal, trinitária. E por isso, explicitamente cristão. A pessoa Cristã tem algo a acrescentar
genuinamente e original ao trabalho da Reconciliação e a paz neste mundo.

Segundo, a nova criação é um dom de Deus e, é também uma tarefa eclesiástica. Nos leva a
mais além do conformismo ou de sentirmos que tudo depende de nós. O dom de Deus é
primário, porém nos dá a responsabilidade de nos comprometemos a compartilhar e a viver,
testificando desse dom de Deus. Necessitamos de uma nova cosmovisão que requer uma
conversão pessoal e institucional que requeira reorientar nosso ser, aprender novas maneiras
de viver, ler e viver, assim como instituições que fomentem novas maneiras de ver, ler e de
viver neste mundo.
O falar de fragmentos e peças de um retrato do fim, nos mostra uma pluralidade de
constelações. Não somente, temos que falar de reconciliação, nem podemos ficar somente na
reconciliação. Temos que falar também de reparação, conversão, transfiguração e do reino de
paz com justiça. A Bíblia nos oferece uma pluralidade de imagens para que não percamos de
vista que algumas imagens não aparentam tão bonitas em certos lugares. Temos que nos
orientarmos novamente e buscar constelações e imagens que sirvam para nossos contextos e
realidades. Quero enfatizar que a luz da nova criação é uma luz que se diferencia das luzes
com as centelhas entre as nuvens. Não é sempre a luz de um sol brilhante, às vezes é opaca.
Às vezes parece estar coberta por nuvens, mas se procurarmos , se construirmos estruturas
para ajudar-nos a enxergar melhor, podemos ver a luz de uma nova criação.

.
É um longo peregrinar, que é mais uma via crucis do que um projeto estratégico. Não temos
controle. Estamos caminhando como numa peregrinação, não vamos sozinhos, e sim como um
povo que vai por um duro caminho, no entanto, tem um caminho que tenho um destino
misterioso, mas também alegre. Por que o destino a conclusão da história, não é de agonia,
mas sim de celebração. Por isto, dizemos que não há futuro sem festa. Haverá festa no futuro,
e também aqui no presente, porque celebramos essas centelhas de luz de uma nova criação.
Celebramos as manifestações do destino ao qual temos sido chamados que está em Cristo,
ainda em meio da nossa história, especialmente nos lugares descartados pelo mundo.

Testemunho do Ministério
da Reconciliação num contexto de violência.

Juan de Dios Peña

O compartilhado por Edgardo Colón-Emeric nos sugere uma visão do futuro, porém nos
convida a tomar este futuro como ponto de partida. É interessante ver que o destino da
humanidade e de toda a criação é destino bom, conforme a vontade de Deus e todas as coisas
serão reconciliados com Deus.
Eu falo a partir da minha experiência como o pastor e Bispo Salvadorenho, e como um cristão
que nasceu e cresceu em terra de Mártires, cujas as vidas e testemunhos marcaram um antes
e um depois para todos aqueles que procuramos fazer a vontade de Deus num contexto de
muita violência e morte. Mártires como nossos irmãos e irmãs Doroty Kazel,
Jean Donovan, Maura Clarke, Ita Ford, Rutilio Grande, Óscar Arnulfo Romero, Ignacio
Eyacurilla, Ignacio Martín Baró, Segundo Montes, Armando López, Juan Ramón Moreno
Pardo, Joaquín López y López e muitos mais. E também denunciamos o assassinato deJulia
Elba Ramos, Celina Ramos, Manuel Solórzano, Nelson Rutilio Lemus e de mais de 90 mil
pessoas, homens e mulheres meninos e meninas, inclusive alguns que ainda não tinham
nascido, vítimas pouco reconhecidas massacres como as deEl Mozote, el Sumpul entre tantas
outras.

Para mim, ser salvadorenho e bispo da Igreja Metodista em terra de Mártires e Santos, me faz
sentir muito humilde, pouco merecedor do ministério que Deus tem colocado em nossas mãos.
Mas realizamos esta tarefa com alegria junto a muitas pessoas tão comprometidas como
aquelas que oferecerão as suas vidas. Tenho convicção que nossos líderes estão dispostos a
assumir as consequências do que significa ser um pastor e do que significa sentir com a igreja
como dizia nosso profeta, mártir e Santo, Óscar Romero.

O passado longínquo assim como o mais próximo, e ainda que os eventos que vivenciamos
hoje em dia nos levam a pensar, porque lutarmos contra a Correnteza? Por que procurar a
reconciliação e a transformação da nossa gente num contexto tão difícil? Lutamos porque
sabemos, cremos e confiamos que o fim será bom. Buscamos contribuir com este futuro pelo
qual lutamos, o futuro em que todas as coisas são reconciliadas com Deus. Também lutamos
porque cremos que o sangue derramado não foi derramado em vão. Esse sangue geme a terra
e clama a justiça, a justiça do Reino de Deus.

Não desanimemos pelo mal que as coisas estão, e sim sabemos que tudo será melhor na
nova criação. Trabalhemos para que através da igreja possamos vivenciar as pequenas
amostras de uma nova realidade. A igreja do Senhor dá sinais do reinado de Deus, da nova
criação. Contribuir para a transformação das realidades caóticas em que vivemos nos põe no
caminho em direção a uma realidade diferente onde a criação rende glórias ao nosso Deus.
Contribuir à transformação e a reconciliação não significa que vamos impor aquilo que
acreditamos, ou aquilo que pensamos que é bom para os outros. A nossa participação neste
ministério traz consigo o respeitar a diversidade de línguas, costumes, tradições, cosmovisões
e inclusive as diferentes espiritualidades, pois compreendemos que a nova criação será a partir
da criação na que vivemos. Nem tudo é ruim. Não estamos falando da mudança de um mundo
para outro, sim da nova criação a partir daquela em que vivemos.

Necessitamos entender o pecador desde uma perspectiva do perdão e da corrupção do ser


humano como algo que se transformará em incorruptível. Jesus se entregou ao martírio e a
morte para conseguir o perdão de nossos pecados porque sabia que esse sacrifício era um
passo que nos aproximava mais para uma nova realidade.

Óscar Romero não se conformou com a realidade que o povo vivia no seu tempo. Não se
acostumou com as violações dos direitos de tantas vítimas inocentes e outras nem tão
inocentes; Isto levou ele a adotar uma postura de não tão somente crer e falar como também
de agir, de levantar a sua voz contra o mal, independentemente da onde ele viesse.

Eu cresci numa teologia que insinuava que tudo aquilo que existia era tão mal que parecia que
não havia nada que pudéssemos fazer para mudar as coisas. Há 2 anos, alguns especialistas
do nosso país sugeriram que para mudar a realidade das gangues e a delinquência juvenil,
esta geração tinha que morrer quase que em sua totalidade e esperar aqui uma nova geração
a substituísse está em El Salvador. É triste, porém muitas pessoas pensam assim hoje em dia.

A igreja se mantém firme crendo que o final será bom e que Deus fez todas as coisas boas, e
incluindo aos jovens envolvidos em crimes. A nossa igreja tem a esperança de que muitos
destes jovens poderão viver uma realidade diferente. Vemos estes jovens como futuros
pastores, líderes, advogados, médicos, engenheiros, gente que contribui para a construção de
uma realidade diferente. Vemos mais do que pecadores, vemos pessoas que podem
experimentar o perdão de Jesus Cristo e cujas vidas podem ser transformadas.
Perguntas para refletir em comunidade.

1. Qual das imagens bíblicas da nova criação resulta mais impactante? Por quê? Quais são os
feixes de luz da nova criação que podemos ver hoje em dia? Convidamos cada membro do
grupo a compartilhar um exemplo de Nova Criação em sua vida cotidiana.

2. O doutor El Dr. Edgardo Colón-Emeric sugere que precisamos de uma nova maneira de ler a
Bíblia. cita Óscar Romero, que escreve :”” Estes textos dos Profetas.... Não são vozes
longínquas de muitos séculos passados. São realidades cotidianas, cuja claridade, crueldade e
intensidade vivemos diariamente. (Frase tirada da “a dimensão política da Fé desde a opção
pelos pobres ",Óscar Romero, 1980) Como poderemos voltar a ler a Bíblia a partir desta
perspectiva?

3. O Bispo Juan de Dios Peña apresenta as perguntas: " por que lutamos contra a Correnteza?
Porque procurarmos a reconciliação e a transformação dos nossos povos num contexto tão
difícil? O que vocês pensam sobre estas perguntas? Qual é a Correnteza contra a qual estão
lutando no seus próprios contextos?
O que está acontecendo?
Aprender a empatia: O lamento currículo nulo na
formação Cristã.3
César Lópes

Gostaria que pudéssemos refletir sobre a teologia do lamento é a importância de aprender a


empatia, por muitas vezes um currículo nulo, ou seja, não ensinado, na formação Cristã.

Faz uns anos, no primeiro de maio de 2018, as pessoas da minha cidade, São Paulo
acordaram sirenes de caminhões de bombeiros, helicópteros e uma fumaça preta no horizonte.
Um curto-circuito num é difícil importante da Cidade calçou um incêndio de proporções destruiu
as estruturas desse quarteirão. O mundo viu com horror as imagens resultantes desta tragédia
que aconteceu numa terça-feira. Houve milhares de publicações e comentários nas plataformas
sociais sobre o incêndio. As pessoas falaram sobre isso a semana toda. A conversa era o que
tinha acontecido ali inclusive, no Sábado houve um programa especial na televisão com
imagens do antes e do depois. Até que chegou o domingo e nós, cristãos, fomos para as
nossas respectivas igrejas. E na igreja não se falou nada do que havia acontecido. Essa
tragédia foi absolutamente ignorada na hora do culto. Como trabalho no Seminário Teológico,
eu perguntei para ele, meus colegas e alunos a respeito, na maior parte dos casos, me
confirmaram que este assunto não tinha sido abordado no culto. Por que aconteceu isto?
Porque semelhante ausência na hora de adorar a Deus? Por que uma tragédia que havia
dominado a conversa das pessoas durante toda a semana não apareceu em nenhum momento
na maior parte dos nossos cultos e celebrações cristãs?

Pode haver vários motivos. É verdade que nestes tempos as tragédias acontecem com muita
regularidade. Acabamos ficando duro com esse tipo de coisa. Alguém me comentou que
estamos sobrecarregados com tanto que lamentar e inclusive agora, isto tem se agravado no
contexto de pandemia em que vivemos. Entretanto, quero oferecer uma outra interpretação.
Entendo que precisamos aprender a empatia e para fazer isto precisamos tirar o lamento do
currículo nulo e incluir ele explicitamente e nossa formação Cristã.

3
Nota bene del autor: Este texto está basado en el capítulo, “Learning empathy: Removing lament from
the null curriculum in public worship,” escrito para el libro Worship through Latinx Eyes: Interdisciplinary
Perspectives on Public Worship Practices, editado por María Eugenia Cornou y Noel Snyder, que será
publicado por Cascade Books en 2022.
O primeiro que devemos reconhecer é que a nossa sociedade sofre de falta de empatia pelo
excesso de má notícias que vivemos diariamente. Segundo, temo que existe um problema no
enfoque da educação cristã. Agora gostaria de nos questionarmos sobre as nossas três
perguntas como fios condutores da nossa reflexão. A primeira pergunta é, até que ponto é
possível aprender um conteúdo afetivo como a empatia? Para responder a esta pergunta,
devemos considerar as dimensões do que são os conteúdos do ensino

Quais dimensões de conteúdo tem as pessoas que passam por um processo de formação
Cristã? O primeiro tipo de conteúdo ao qual somos expostos é o conceitual.de estes conteúdos
tem haver com a construção cognitiva e ativa das capacidades intelectuais das pessoas. São
essenciais para poder operar símbolos, imagens, ideias e representações que permitam à
pessoa conhecer a sua realidade. É através de conceitos básicos que todo ser humano
desenvolve a compreensão e pode analisar o que acontece ao seu redor. Na Perspectiva
tradicional da formação Cristã, os conteúdos conceituais vão desde a memorização de
versículos bíblicos até a capacidade de ver se envolver doutrinas os conteúdos conceituais são
os blocos básicos que põe o fundamento que nos permite construir ideias

O segundo tipo de conteúdo é procedimental e se refere basicamente a como fazer as coisas.


No entanto, não se refere necessariamente ao meramente mecânico. Estes conteúdos se
referem ao fazer ou agir que constrói instrumentos para que a pessoa possa analisar por si
mesma os resultados que obtém, e os processos necessários para pôr em prática as metas
propostas se trata de práticas conscientes e as maneiras em que as pessoas possam analisar
as práticas ao seu redor funcionalmente na formação Cristã, estes conteúdos procedimentais
tem a ver com coisas extremamente simples que acontecem por etapas por exemplo, dirigir
uma oração, compartilhar o evangelho, como agir diante de uma situação imprevista no
ministério urbano e pode chegar até um fazer procedimento mais profissional como a
elaboração de uma liturgia que se for no lamento, que possa dar a oportunidade às pessoas a
aprender sobre o lamento.

Devemos observar que os conteúdos processuais dependem dos conteúdos conceituais.


Aprendemos um procedimento a partir do momento que também a gente aprende alguns
conceitos elementares. Ao mesmo tempo os conteúdos conceituais são revisados e desafiados
a partir das práticas que a gente desenvolve ambos caminham juntos.
A terceira dimensão dos conteúdos é atitudinal. Esses conteúdos se referem à formação de
atitudes ou valores em relação às informações que recebemos, com o objetivo de intervir na
realidade ao nosso redor. Não basta aprender determinados versículos bíblicos ou doutrinas
teológicas de cor, nem é suficiente aprender a pregar bem. É necessário também envolver uma
ética da pregação. Uma atitude de não procurar manipular as pessoas que estão ao nosso
redor. Como no exemplo da oração, também necessitamos aprender expressões bíblicas que
nos auxiliem a clamar em momentos de angústia.

É necessário saber os conteúdos conceituais e processuais. É preciso saber orar, mas é


importante saber que não basta simplesmente articular uma bela oração, se as palavras não
são autênticas. Este é o primeiro fio condutor de nossa reflexão. É possível aprender a
empatia?

Talvez a resposta seja óbvia para algumas pessoas, mas é importante lembrar que não
aprendemos somente conteúdos. Não aprendemos somente a fazer as coisas mecanicamente.
É importante que aprendamos e ensinamos conteúdos que são mais bem afetivos, como a
empatia.

A segunda pergunta da nossa conversa é a nossa pergunta central. Qual é o lugar de lamento
em nossas comunidades de fé hoje em dia? A professora Paula Blanches da Universidade
Metodista aqui em São Paulo destacou: "É comum que se desacredite na necessidade do luto
como parte da procura da justiça e da prática ética nos relacionamentos sociais. Esta atitude
não só oculta a dor e a perda, e sim também elimina as possibilidades de reconciliação com a
vida. É pouco comum já que nos espantemos diante da violência. "4
4
Paula, Blanches. “Um Olhar Pastoral Sobre o Luto e a Violência.” Revista Pistis Práxis, Teologia
Pastoral,
vol. 10, no. 1, 2018, p. 105.
Esta teóloga não fala somente das igrejas, mas sim também da sociedade em geral. Ela
descreve muito bem a nossa realidade aqui no Brasil, mas isto não é o encontramos nas
escrituras. Pelo contrário, no livro de Salmos, por exemplo, um livro que usamos
constantemente em nossas liturgias e louvores, é um livro cheio de lamento. E isto é apenas
uma fração dos textos de lamento do Antigo Testamento e em todas as escrituras. No mundo
hebraico, o lamento é a forma de pedir ajuda, de expressar desespero como fizeram por
exemplo, os hebreus oprimidos quando expressaram lamentação diante de Deus e então veio
a sua libertação (Êxodo, capítulos 2 e 3).Desde o ponto de vista devocional e litúrgico, se
expressam várias coisas em primeiro lugar. O Lamento é uma forma de intercessão. Expressa
uma súplica, um pedido de socorro. Devemos expressar lamento, não somente por nós
mesmos, e sim também pelo nosso próximo, nossa comunidade, nossa sociedade, etc.

Segundo lugar, o lamento pode ser uma confissão de pecado. Ele apresenta a nossa
insuficiência pessoal diante de Deus. É interessante observar que o lamento tem uma oposição
dinâmica ao louvor ação de Graças, Junto com louvor e ação de Graças,o lamento compõem a
totalidade da devoção não existe uma versão completa. Não há uma relação completa com
Deus que seja somente de Graças. O lamento é em si parte integrante e fundamental da nossa
devoção. Luis Rossi, escritor brasileiro, em sua obra sobre Lamentações, explica que
Lamentações não é meramente um livro de poesia sobre o profeta Jeremias. Os Lamentos são
gritos de dor que também são gritos de libertação. Lamentações é um texto pedagógico e daí
vem o ditado, aqueles que não sabem gritar a sua dor, perdem a capacidade de lutar com Deus
e exercer a sua fé, nos seus sofrimentos pessoais e coletivamente pelos sofrimentos da sua
comunidade.

Jon Sobrino escreveu depois de um terremoto que, “... Fugir da tragédia é uma forma de
afastar-se da realidade do nosso mundo”. A gente deve , permitir-se ser afetado, sentir a dor
das vidas devastadas. Sentir indignação diante da injustiça que causa uma tragédia. No caso
do edifício que se queimou aqui em São Paulo, havia muitas injustiças que estavam por trás
desta tragédia. Devemos sentir vergonha pelo que fazemos ou deixamos de fazer, não
cuidando da criação. Aqui temos uma chave fundamental. Devemos permitir-nos ser afetados
pela tragédia, nos diz Jon Sobrino, e é também salvífico que nós permitamos ser afetados pela
verdade.
O lamento é a linguagem do sofrimento. No entanto, a tendência que observamos é que os
textos de lamento do Antigo Testamento são simplesmente ignorados. Na minha comunidade e
em muitas outras comunidades de fé passamos por uma profunda negação do sofrimento. Nós
removemos o lamento da vida cristã. Então, como devemos pensar no currículo formação
Cristã em nossa comunidade?

Se bem que nem todos somos educadores em universidades ou seminários, precisamos


prestar atenção nas experiências de aprendizado das pessoas que estão envolvidas em
nossos ministérios. Para isto, gostaria que pudéssemos considerar algumas teorias sobre o
currículo educativo. O currículo vem da palavra latim (currere) que significa caminho, jornada,
trajetória. Nas escrituras temos muitos versículos que falam da vida cristã como um caminho.
Quando nos referimos ao currículo não estamos falando de um programa, curso, disciplinas ou
matérias, e sim de levar aprendizado às pessoas, a construção de um repertório de conteúdos
conceituais, processuais e atitudinais. Estes elementos facilitam o desenvolvimento do caráter
cristão e um dos maiores pontos ausentes da formação atual cristã é o lamento.

Intencionalmente ou não, as instituições de Formação Cristã ensinam três tipos de currículo


para seus alunos. O primeiro tipo é o currículo explícito. Este é o que aparece no website da
escola. Se refere à lista de cursos que apresentamos nas agências acreditadoras. Tipicamente,
o currículo explícito prever conteúdos conceituais que vão sendo apresentados ao longo dos
anos de estudo. Podemos também em nossas comunidades de fé locais, não no contexto de
uma escola formal, mas pensando em nossas comunidades de fé como escolas. Ainda que
tenhamos lista de cursos, temos uma diretriz curricular deixada por Jesus para a sua igreja. Ele
disse “... Vai e faça discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do pai e do filho e
do Espírito Santo, ensinando a eles a obedecer o que eu tenho mandado a vocês.” (Mateus
28:19-20a).

Nós, como não podemos ensinar tudo, selecionamos umas coisas para pôr no currículo
explícito, por exemplo, temas de sermões, canções, textos para ler na liturgia, documento para
serem publicados nosso website, e com base nisso, desenhamos as ações concretas para
influenciar é nossa sociedade. Então, sim existe um currículo explícito, ainda que não exista
uma lista de cursos, por que em qualquer instituição temos uma lista de coisas que
intencionalmente desejamos ensinar.
Existe também o currículo implícito, o currículo oculto se trata de todos aqueles aspectos que
não aparecem no currículo oficial, mas que são ensinados de maneira implícita. Por exemplo,
aquilo que ensinamos através da forma como lideramos; como tratamos as pessoas de outro
gênero, como promovemos ou colocamos obstáculos no progresso de pessoas de diferentes
etnias em nossa estrutura organizacional, etc. Ainda que não seja intencionalmente, ensinamos
a partir de essas coisas que não são explícitas também, a partir daquilo que dissemos da forma
como o dizemos e de como agimos.

O último tipo de currículo é o currículo nulo, se trata dos conteúdos que simplesmente não
existem em determinado contexto Educacional. São conceitos, procedimentos e atitudes,
intencionalmente deixados fora das discussões, das lições, dos sermões, dos boletins, etc. A
diferença dos conteúdos de currículo oculto, o currículo nulo se refere a conteúdos que são,
muitas vezes intencionalmente, deixados de fora com o fim de silenciá-los. Ao silenciar o
lamento na prática cotidiana de nossas comunidades, o efeito colateral é que limitamos o
desenvolvimento de determinados conteúdos, procedimentos e atitudes essenciais para nossa
formação Cristã. Ou seja, o resultado de ter excluído o lamento de nossas liturgias, reflexões,
cânticos, orações, etc, é que temos um déficit no aprendizado de importantes atitudes como a
empatia.

Como podemos enfrentar esta ausência? Necessitamos trazer ao currículo explícito aqueles
conteúdos que são considerados fundamentais e que têm sido deixados do lado de fora outros
tipos de currículo, especialmente no currículo nulo. O desafio que você e eu temos nas
comunidades em que participamos, é fazer com que o lamento passe a ser parte do nosso
currículo explícito. Só assim conseguiremos desenvolver conteúdos importante atitudinais e
afetivos como a empatia, a solidariedade e a reconciliação
Testemunho de acompanhamento a Sobreviventes
no lamento e na ação pela justiça.
Germán Vargas

Estamos celebrando os 25 anos de fundação da associação paz e esperança no Peru. Este é


um tempo de comemoração e desejo compartilhar com vocês um exercício de memória para
que tragédias como as que se vivenciaram no período de conflito armado interno no Peru, não
voltem a acontecer. Paz e Esperança nasceu no contexto deste conflito no Peru, a partir de um
fato que afetou diretamente a comunidade evangélica Peruana. Se tratou do assassinato
perpetrado no 1 de agosto de 1984. Nesse dia, no templo da Igreja Evangélica Presbiteriana de
Callqui, no estado de Ayacucho, congregavam 28 pessoas. Uma patrulha da infantaria da
marinha, integrada por aproximadamente 30 militares, ingressou violentamente ao lugar onde a
igreja se congregava, pegou violentamente os seis jovens e, enquanto obrigarão a todos outros
integrantes da congregação que continuassem cantando, os assassinaram a poucos metros.

Uma chacina de Callqui não foi o primeiro acontecimento que afetou aos cristãos em Peru,
porém marcou de maneira especial as igrejas evangélicas, demonstrando que não éramos
alheios ao problema da violência e que éramos vulneráveis ainda dentro das nossas igrejas.
Esta chacina de Callqui fez com que o Concílio evangélico peruano, a Entidade representativa
da comunidade evangélica do país, criasse a comissão denominada Paz e Esperança, com o
propósito de atender as viúvas e órfãos que esse crime deixou. Quando os integrantes da
comissão viajaram para Ayacucho, ao ver a igreja de Callqui e encontrar-se com os
sobreviventes, perceberam que o desafio para as igrejas evangélicas era maior do que aquilo
que eles tinham imaginado.

O informe final da Comissão da Verdade e a reconciliação (CVR), criada para esclarecer os


fatos de violência no Peru entre os anos 1980 e 2020 identificou ao grupo insurgente Sendero
Luminoso como o principal responsável do desencadeamento deste conflito armado
interno.Sendero Luminoso quis impor através do terror, o modelo de organização social
apelando a práticas criminosas, como recrutamento de maneira forçada crianças e
adolescentes, prática de torturas para criar um clima de terror na população, massacres
seletivas e massacres de comunidades camponesas.
Este informe também afirma que as forças armadas do Peru, aplicando doutrinas e estratégias
desenhadas ou consentidas pelos governos nestes 20 anos, propiciaram ou confirmarão
execuções arbitrárias, desaparições forçadas, torturas, violência sexual. E outros atropelos aos
direitos fundamentais da população. Esse conflito armado tem sido o conflito de maior duração,
o mais longo no território nacional, e o que mais custou, em termos humanos e econômicos,
em toda a história republicana do país.

O Informe final da Comissão da Verdade e a Reconciliação indicou que o número de mortos e


desaparecidos durante o período foi de mais de 69 mil pessoas. Dessas vítimas, 75% de quem
perderam a vida, foram pessoas cujo o idioma materno era o Quechua. Além do mais, eram
camponeses de Ayacucho, Huancavelica, Apurímac, y Huánuco, quatro das cinco regiões mais
pobres do país, Isso mostrou a relação que existe entre pobreza e exclusão social e
intensidade da violência durante o conflito

Também em 1984, a comunidade de Putis, experimentou graves atos de violência. Putis está
situada nas alturas da Província de Huanta, no estado de Ayacucho. A população desta
comunidade, como tantas nestes anos, sofreu uma série de ataques. Já em janeiro de 1983,
um grupo de Sendero Luminoso tinha assassinado as autoridades civis da Comunidade. A
população, intimidada, se deslocou em direção às partes altas dos Andes, levando com eles o
que podia para alimentar. Buscando desta forma livrar-se do abuso dos Senderistas e também
da violência do exército Peruano que os consideravam subversivos, membros ou cúmplices do
Sendero Luminoso.

O drama que viveu a população de Putis se tornou pior com o passar do tempo. Nas alturas o
alimento era escasso, e muitas vezes, os pais voltavam à noite para suas casas em busca de
comida (chuño, papa seca congelada) que tinham enterrada, como era o seu costume
ancestral, para alimentar os seus filhos em tempos de escassez. Algumas vezes, no entanto,
ficavam sem comer. Durante aquele tempo, as famílias da comunidade de Putis, só tomava
água dos puquiales, mananciais, dormiam em covas e se deslocavam constantemente para
não serem seguidos pelos grupos rebeldes e nem pelos militares. Em 1984 instalou-se uma
base militar em Putis. Cansados de viver nessas condições terríveis e confiando na oferta dos
militares de propiciar-lhes proteção, em dezembro aproximadamente 200 pessoas, incluindo
meninos, mulheres, meninas e homens, desceram até a base militar para instalar-se perto dela,
com a esperança de receber proteção por parte dos militares. Na madrugada seguinte, os
membros das Forças Armadas do governo peruano, separaram as mulheres dos homens para
violentá-las sexualmente. Deram ordens aos homens para cavar uma fossa, supostamente
para a construção de uma piscina para uma granja. No entanto, concluindo o trabalho,
executaram extrajudicialmente a maioria deles, incluindo homens, mulheres, meninos e
meninas.
O crime aconteceu em 1984, mas apenas recentemente se conheceu a nível nacional em
novembro de 2001. Isto mostra que em certos lugares do Peru, atrocidades desta magnitude
poderiam acontecer sem que o resto do país ficasse sabendo. Paz e Esperança teve contato
com familiares das vítimas de Putis e com dirigentes da Comunidade no final do ano de 2007.
A sua principal petição era que pudessem ser ajudados a conseguir a exumação dos restos
dos seus familiares para poder dar um enterro digno. O Ministério Público finalmente realizou a
exumação, a qual foi feita entre Maio e julho de 2008. Quase um ano mais tarde, um laboratório
dos Estados Unidos informou que os exames de DNA confirmaram a identidade de várias das
vítimas.

Em agosto do ano 2009, a procuradoria entregou os restos das vítimas exumadas, aos seus
familiares, os quais puderam enterrá-los nesse mesmo mês. Durante esses anos de sofrimento,
a Paz e Esperança lhes ofereceu acompanhamento e apoio, não somente desde o ponto de
vista legal, como também pastoral e psicológico. Lhes ajudarmos a poder expressar o seu
lamento através de atos de comemoração em honra aos seres amados assinados pelos
militares peruanos.

Paz e Esperança, inclusive, apoiou o esforço para conseguir um lugar para a sepultura para os
restos e trabalhou com as autoridades locais para que apoiassem as famílias em luto. Paz e
Esperança representou e manteve informadas as famílias a cada passo do processo de
investigação, tanto a investigação feita pela CVR, assim como aquela iniciada pelo Ministério
Público. Foi importante também que Paz e Esperança continuasse apoiando as famílias depois
das Exumações.

Paz e Esperança, entendemos que o anúncio das boas novas e assumir o acompanhamento
das vítimas no lamento, o consolo e a busca de Justiça integral desde nossa fé em Jesus.

Continuamos com o acompanhamento emocional durante o luto e a despedida final. Foi


necessário proteger as vítimas e as testemunhas e lhes apoiar nas suas aspirações como
comunidade e dar continuidade a um processo judicial longo e complexo, Em 7 de dezembro
de 2020 começou o juízo oral sobre este caso, 36 anos depois do massacre sabemos que será
um juízo longo e difícil, mas persistimos porque o lamento e a esperança das famílias de Putis
também persistem e, apesar da demora, diferença e a dor, cremos que crimes como estes não
devem ficar impunes.

Assim afirmamos o nosso papel Profético e a ação solidária cristã em contextos de violência e
de outras formas de injustiça. Denunciar a injustiça implica contribuir em tornar visíveis os atos,
escutar e procurar para que seja atendida o lamento e as expectativas dos sobreviventes. O
anúncio das boas novas inclui a promoção e o acompanhamento de iniciativas que procuram a
justiça, a verdade e o pleno poder dos direitos humanos. Fazer memória e reivindicar a
dignidade das pessoas e os povos vulneráveis. A reconciliação é um sonho que nos convida a
unir esforços para construir o novo nós, não esquecendo, e sim tomando conta da realidade.
Perguntas para refletir em comunidade

1. Por que é importante criar espaços para o lamento em nossas congregações, e vidas
diárias? Se o lamento incluísse na vida e liturgia da nossa comunidade de fé, que mudanças
específicas implicaria? Consideramos o tempo de Adoração, oração, sermões, etc e
apresentamos um exemplo para cada um.

2. Falando no significado do currículo nulo em nossa teologia em nossa comunidade de fé, que
ensinamentos necessitam ser resgatados do currículo nulo e trazidos ao explícito? Por
exemplo, lembrar e falar de momentos históricos que tenham sido dolorosos ou injustos na
memória da igreja, comunidade ou país, como poderemos lembrar o lamentar estes momentos
históricos em nossas congregações?

3. Peru é um país que tem sofrido profundamente a causa do conflito armado interno, qual é o
significado do trabalho que tem feito paz e esperança no Peru (e outros países)? Que lições
podemos aprender do testemunho compartilhado por Germán Vargas?
4. Em que situações, fatos ou processos devemos lamentar em nossa comunidade? O que
podemos fazer para atrair a atenção da igreja ou da sociedade para confrontá-los?
Quais são as centelhas de esperança que observamos ao nosso redor?
Uma reflexão sobre a esperança e a libertação.
Peter Casarella

Começamos com uma reflexão bíblica, partindo das palavras de São Paulo:

Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora.
E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós
mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque em esperança
fomos salvos. Ora a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê como o
esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. (Romanos
8:22-25, ênfases adicionadas) Essa passagem é chave para nossa reflexão; Primeiro notamos
que toda a criação geme como um todo com dores de parto " isto significa que a esperança
cristã, tanto pessoal como cosmológica. Esta grande esperança inclui também as esperanças
das comunidades indígenas e de todas as pessoas nas Américas que tem preocupações
justas pelas crises ecológicas.

Em segundo lugar, o texto diz que, " nessa esperança fomos salvos " a esperança é uma
questão soteriológica, ou seja, com a salvação eterna. No entanto, me pergunto, o que tem a
ver a questão soteriológica com as outras esperanças que temos? Para ajudar-nos nesta
reflexão, consideremos o exemplo da nossa irmã francesa Madeleine Delbrêl (1904 - 1964) Ela
trabalhou com os pobres das periferias de Paris em Ivry - sur - Seine. Delbrêl foi uma estudante
brilhante da Universidade de Sorbonne. Aos 20 anos foi tocada por Deus e o evangelho a
converteu missionária. Ele trabalhou com os pobres numa região na França onde predominava
o pensamento comunista. A sua conversão ao evangelho não mudou o seu compromisso com
o trabalho entre os pobres, o qual se caracterizou pela proximidade e o amor. Delbrêl assumiu
a tarefa dupla de trabalhar com os pobres e de entrar em diálogo com os comunistas e ateus,
procurando também a evangelização dos seus companheiros e companheiras.

Delbrêl escreveu o texto “Espoir Marxiste et espérance chrétienne”, destacando o sentido da


esperança em francês. Filologicamente, ou seja, desde o ponto de vista do estudo do texto
original, espoir quer dizer esperanças materiais. Espérance em francês é a esperança
espiritual. Mas para ela espoir é uma esperança marxista, ou seja, uma esperança material e
impessoal. Y l’ espérance é a esperança Cristã que inclui as nossas pequenas esperanças
pessoais assim como a questão soteriológica. Conforme a Delbrêl:
A esperança comunista..... Está constituída por inúmeras esperanças pessoais, a esperança de
que um dia não haverá mais sofrimento, a esperança que no coração de cada um leva o nome
particular, um anelo singular, a esperança da mulher que diz " Já não haverá mais homens cujo
trabalho provoca a embriaguez ". A esperança da mulher que diz: Não haverá mais guerra que
Mate os nossos jovens de 20 anos ". E a esperança do ancião que compaixão salvará tudo o
que pode e diz: Mais tarde, quando ficar velho, viveremos sem restrições .5

Delbrêl investigou o sentido da esperança dentro da mentalidade ateia das pessoas


comunistas. Que tipo de Esperança tem a pessoa ateia que trabalha pela justiça social? É uma
Utopia marxista mas que está tecida de preocupações pessoais. Delbrêl também escreveu:

Em todas as esperanças dos homens, temos que reconhecer o eco do sofrimento de cada
pessoa. Todos reconhecem a sua própria maldade,... Acusados de ser o verdadeiro mal do
qual o homem deve ser libertado. Por isso, estas esperanças inumeráveis vivificam a
esperança do partido comunista que é uma grande esperança. Não faz falta procurar a causa
principal da expansão do comunismo, a causa sem a qual todos os esforços comunistas
ficariam incompletos e ineficazes, porque esta esperança constitui o seu próprio dinamismo.

Lhes convido a considerar, o que podemos aprender com Cristãos como esses? No caso de
Delbrêl, não havia perigo de voltar ao ateísmo, mas sim aprender sobre a relação que existe
entre as nossas preocupações, esperanças e relações pessoais e a justiça social. Segundo
Delbrêl, para a esperança comunista ou Utopia marxista é muito mais importante a grande
esperança do que as esperanças pequenas. O bom, segundo a autora, é a preocupação pelo
bem em comum, o não ser egoístas, não ser individualistas, no entanto o mal é desvio do
encontro pessoal.

Oposto a esta ideia é compreender a esperança do cristianismo como algo puramente interior.
Conforme isto, as esperanças pequenas têm a sua justa prioridade diante da grande esperança
do bem comum. No entanto, esta interpretação que nos coloca em perigo de desviar-nos da
justiça social . É necessário buscar outra opção.

O teólogo peruano Gustavo Gutiérrez escreveu no livro muito célebre um capítulo sobre
escatologia, sobre o estado das coisas futuras. Nos perguntamos em que consiste a esperança
Cristã conforme a teologia da libertação que não é a utopia marxista, nem tão pouco o
individualismo egoísta? Podemos encontrar pistas na atitude de Jesus frente a política da sua
época. Gutiérrez escreve :

O que pensar então da atitude de Jesus nestes assuntos políticos?

5
Delbrêl, Madeleine. “Espoir marxiste et espérance chrétienne.” May 14, 1961. Texto reproducido del
Tomo 12 de Oeuvres Complètes: En dialogue avec les communistes, Editions Nouvelle Cité, 2014, pp.
293-295.
Traducción de la editora.
Os fatos lembrados ratificam vigorosamente o que sabemos da universalidade e totalidade da
sua obra, essa totalidade e essa universalidade vão ao coração mesmo do comportamento
político, sua verdadeira dimensão e profundidade. A miséria e a injustiça social revelam " uma
situação de pecado ", de quebra de fraternidade e da comunhão; ao libertar do pecado Jesus
ataca a raiz mesma de uma ordem injusta. Para Jesus a liberação do povo Judeu não era só
um só um aspecto de uma revolução Universal e permanente, com qual longe de perder o
interesse por esta libertação a colocava no nível mais profundo e de frutíferas consequências.6

Nesta seção, Gutiérrez indaga a relação entre Jesus e os zelotes, o partido político que queria
defender o reino judeu por meio das armas. Frente a isso, Jesus apresenta o caminho da
não-violência essa é a primeira diferenciação entre os zelotes e Jesus de Nazaré. Na
mensagem de Jesus há um interesse na transcendência, porém também há interesse e na
justiça social, como os Zelotes a procuravam, mas sim como parte do Reino de Deus Gutiérrez
também escreve:

A esperança cristã nos abre, num tipo de Infância espiritual, ao dom do Futuro Prometido por
Deus, evitando toda confusão do reino com uma etapa histórica determinada. Toda idolatria
frente a uma conquista humana inevitavelmente ambígua, toda absolutização de uma
revolução. Graças a isto nos faz radicalmente livres para comprometermos na práxis social,
movidos por uma utopia libertadora e com os meios que nos propicia análise científica da
realidade. E não somente nos liberta para este compromisso como que, simultaneamente,
exige dele e o julga. O evangelho não nos proporciona uma utopia, esta não é uma obra
humana, a palavra é um dom gratuito de Deus. Porém o evangelho não é alheio ao projeto
histórico, pelo contrário, o projeto humano dom de Deus implicam mutuamente (ênfase
adicionadas).

Com este texto, Gutiérrez nos ajuda a entender duas coisas, que o Evangelho não é uma
utopia, mas que também não é alheio ao projeto histórico. Então, qual é a esperança na
teologia da libertação de Gustavo Gutiérrez? A esperança de libertação segundo Gustavo
Gutiérrez se realiza através do dom gratuito da graça mediante o encontro com a pessoa de
Jesus Cristo. Mas há um perigo, espiritualizar demais esta auto-consciência e perder de vista a
necessidade de lutar contra a injustiça social. Além do mais devemos reconhecer a importância
da ecologia integral e opor-nos ao extrativismo.

6
Gustavo Gutiérrez. Teología de la Liberación, 7a ed., Salamanca, Ediciones Sígueme, 1975, p. 307.
Encontramos o reino de Deus no encontro com pobre porque, como nos ensinou Madeleine
Delbrêl através de seu trabalho nas periferias de Paris, o reino se revela no encontro com uma
pessoa que tem um nome, uma classe social abstrata. Temos que começar no encontro com o
senhor Deus. A partir daí temos que seguir o caminho de Jesus Cristo com nossas esperanças
pequenas. Nesta infância espiritual de que fala Gustavo Gutiérrez, nossa relação pessoal com
o senhor é uma esperança pequena. Mas daí,temos que seguir o caminho até o
reconhecimento do conflito no campo social para dialogar com outras pessoas sobre as nossas
esperanças pela justiça, pela conversão ecológica e para canalizar nossas pequenas
esperanças e alcançar a solidariedade humana.

O processo deve ser entendido como um ciclo de retroalimentação aberta porque tem a ver
com as convergências e divergências entre esperanças materiais e esperanças do encontro
com Deus na eternidade. Não se trata de um círculo e sim de um ciclo aberto que representa a
luta pela justiça social, mantendo a abertura, à transcendência de Deus, que tem nome, o
nome de Senhor Jesus Cristo
Memória indígena e a procura da transformação e a reconciliação nas Américas
Drew Jennings-Grisham

Quando consideramos os povos indígenas do nosso continente, o primeiro sinal de esperança


para mim é simplesmente que ainda estão aqui. A resistência indígena frente a tantos séculos
de colonização e de tentativas de dominar, eliminar ou controlar as suas vidas e corpos, seus
conhecimentos e crenças, já é em si próprio é um sinal de esperança e libertação. Ao tratar de
prestar atenção, como pessoas que seguem a Jesus,de temas de reconciliação especialmente
em chave de esperança e libertação, necessitamos reconhecer as injustiças cometidas. O
genocídio, as violações, os roubos, escravidão e a negação das cosmovivências e sabedorias
das Comunidades indígenas foram e ainda são acometidas muitas vezes por pessoas cristãs
ou que no mínimo dizem ser cristãs.

Para muitos indígenas, é muito clara a conexão entre o cristianismo e a opressão tanto dos
seus corpos como da sua forma de ser e sua forma de saber. Por isto, antes de falar da
reconciliação, temos que nos perguntar se a fé cristã é parte do problema ou da solução. Se
vamos entrar em diálogo com comunidades indígenas e com igrejas indígenas sobre este
tema, temos que ver se o cristianismo a partir da perspectiva histórica e não somente a partir
das nossas respostas teológicas, podem nos dar esperança no contexto indígena. Em nosso
programa memória indígena procuramos gerar espaços para que pessoas e comunidades
indígenas possam abraçar o novo pacto de Cristo indígena, não como uma máscara para o
colonialismo, mas como uma expressão autêntica da sua própria libertação.

Nós perguntamos o que pode a igreja aprender das memórias, vivências de sabedorias dos
povos indígenas sobre o cultivo de uma esperança que gera uma reconciliação
transformadora? Se bem que estou convencido de que Jesus reconcilia todas as coisas e que
o seu evangelho nos dá uma esperança que pode germinar em libertação, ao observar a
história humana, me parece que os povos indígenas têm muito para ensinar nos sobre a
reconciliação indígena procura criar este tipo de espaço Libertador por e para as pessoas
indígenas e não-indígenas que têm perguntas assim, mas que talvez não se sente livre para
expressá-las nas suas próprias comunidades de fé ou comunidades étnicas. Desejamos que
todas as pessoas indígenas tenham um espaço seguro para falar da fé e da sua identidade
sem medo a censura assim, espaço onde o Espírito está operando para construir reconciliação
em nós mesmos, e nossa fé, nossa identidade, nossa cultura e nossa história. Este é um
primeiro passo para encontrar uma expressão autêntica de libertação própria em Jesus
indígena.
Um testemunho sobre a necessidade de transformação e reconciliação nas Américas.
Juana Luiza Condori Quispe

Eu sou uma mulher Aymara. Nasci numa família Aymara que abraçou a fé evangélica. Demorei
um tempo para me dar conta que nem tudo o que é Aymara era evangélico, nem tudo o
evangélico era Aymara. No começo, estas 2 realidades foram muito difíceis de compatibilizar.
Devido às raízes culturais que cada uma representa. No meu mundo Aymara, por um lado,
questionava duramente o avanço das igrejas, considerando as missões cristãs como
propiciadoras da divisão no seio das nossas comunidades. No meu mundo evangélico por
outra parte, assume uma dura posição contra as crenças e estilo de vida Aymara, os quais são
chamadas de pagãos.

Apesar deste conflito pessoal, quando era jovem, desfrutava plenamente da terra dos meus
ancestrais, língua, da nossa forma de ser e compartilhar a vida, cultivos, das plantas
medicinais, etc. Ao mesmo tempo apreciei também a minha experiência evangélica está no
núcleo da minha família, no ambiente íntimo que contém as minhas aflições e alegrias. Por 47
anos tenho sustentado plenamente a possibilidade de uma mulher Aymara evangélica, com
todas as ambiguidades e complexidades do que isto representa. Expor a minha insistência
desafiando as contradições entre o meu mundo evangélico e o meu mundo Aymara foi meu
maior desejo durante muitos anos. Queria que a minha existência fosse palco, onde o melhor
deste as duas culturas pudesse se encontrar. A lógica que guiava o meu povo é a
complementaridade de partes diversas na unidade. A partir desta perspectiva, me encontro
ativa na tarefa evangelizadora. Por outro lado, observo como é muitas das pregações,
discursos e doutrinas, os evangélicos questionam constantemente o nosso estilo de vida
Aymara e como enfrentamos as nossas lutas também percebo que muitos espaços dentro das
igrejas simplesmente se ignoram as lutas do povo Aymara para não entrar em debates, ou
desencontros que separem ou afetem a sensibilidade da membresia.

Este tipo de atitudes que estou descrevendo não tem mudado com o passar do tempo. É mais,
a raiz dos conflitos políticos exacerbados que, na Bolívia, que tem a cara muito racista, no país
se descreve as pessoas Aymara conflitivas, belicosas, selvagens idólatras. Por outro lado,
muitos evangélicos Aymaras questionam com severidade os defensores dos indigenistas,
socialistas e partidos de esquerda por considerá-los promotores do Pachamama, o que as
pessoas de fora consideram o culto à mãe terra. Em consequência, todo o que provém e se
percebe em relação a isto é considerado pagão, e portanto, indigno diante dos olhos de Deus.
Os nossos líderes evangélicos não conseguem enxergar nenhuma luz, somente trevas, nos
movimentos sociais indígenas que lutam pelas suas reivindicações.
O que tenho apontado até aqui só falta de empatia contemporânea, e sim um longo processo
histórico que tem afetado os nossos povos indígenas desde os tempos coloniais. Os povos
indígenas das Américas tem sido evangelizados duas vezes. Ambos processos de
evangelização foram guiados pelo paradigma ocidental, que fez que muitos dos evangelizados
tivessem vergonha de si mesmos e que negassem a si mesmos e que não pudesse se
enxergar como imagem de Deus

Sabemos que o sistema colonial impôs muita dureza, violência e brutalidade. Começou com
uma invasão que logo se deu como um resultado da assimilação forçada da cultura ocidental
de todas as comunidades Andinas . Isto levou a subsequente desestruturação da sua
espiritualidade e outros importantes espaços da sua vida, especialmente nas áreas econômica
social e política. Houve a imposição da negação das próprias formas de sentir, pensar e ver o
mundo cotidiano. Isso segue sendo reproduzido até nossos tempos. Com isso, se fortaleceu o
discurso colonizador, subordinando nossos antepassados. Isto segue reproduzindo até os
tempos de hoje as nossas pregações e discursos emanados dos púlpitos ou nas plataformas
das nossas igrejas funcionam como um dispositivo para aceitar a condição de nossos povos
pagãos como algo já definido e que tem que ser salvo.

Os púlpitos representam palcos a partir da onde se legitimam discursos de discriminação e


exclusão. Em muitos casos, nas igrejas lidam com códigos que exclui as pessoas. Os que
frequentam uma determinada Igreja são salvos e os que estão fora são pecadores perdidos. Se
presume que a pureza está dentro, que os que estão do lado de fora são impuros é assim
como os discursos que promovem a exclusão, se vão institucionalizando.

Este tipo de evangelização, seja na sua versão Colonial ou contemporânea, consolida a


alienação dos crentes que toma tudo ao pé da letra ‘negue-se a si mesmo’ e literalmente são
persuadidos a se esvaziar da sua história, da sua vida, do seu ser Ayama e inclusive de si
mesmos.

Aqui há um confronto de lógicas, uma que tem supremacia e que não busca compreender a
lógica do povo ao que está trazendo o evangelho. Na lógica Aymara, não existe separação
entre o espírito e a matéria. Ambas se refletem e influenciam mutuamente. Então, quando se
indica que uma pessoa deve negar-se a si mesmo, para a pessoa Aymara convertida ao
evangelho, negação atinge a totalidade, e esta opção implica a alienação completa da sua
comunidade. Por outro lado, é verdade que até a mais radical das conversões não consiga
extinguir a cosmovisão e percepção Aymara da cotidianidade em alguns crentes. Talvez vocês
se perguntem, qual é o problema então? O problema é que muitos evangélicos Aymara se
vêem forçados a esconder esta parte da sua vida. Muitos reprimem sua cosmovisão e sua
cosmogonia diante dos olhos dos seus líderes espirituais Por medo de serem repreendidos,
separados ou mandados embora da sua igreja.

Pensar na desestruturação deste modo de alienação é complexo e implica, desde o meu ponto
de vista, a procura real e necessária da minha reafirmação espiritual como Juana, mulher
Aymara. Ou seja, a restauração do plano individual e coletivo Aymara que permita vislumbrar
de maneira transparente no Cristo que ensina e permanece, como ancestral, e que faz parte da
fonte da sabedoria e da luta dos povos. A desestruturação deixa plataforma orientada, a
negação e a autonegação indígena devem ser olhadas com urgência para poder pôr na mesa
de discussão o real encontro de libertação e a esperança para um povo.

Identificar-me como evangélica no meu mundo cotidiano intelectual Aymara também é difícil.
Seria mais simples permanecer em espaços marginais do meu mundo Aymara e no meu
mundo evangélico, mas é preciso entrar em debates, ainda que encontre perigos e que os
incômodos sejam permanentes, ainda quando meu mundo evangélico e o meu mundo Aymara
parecem irreconciliáveis. No entanto, existem momentos em que a coesão entre estes dois
mundos se faz visível; Isso ocorre quando a própria vida está em perigo, quando a fome, ou a
seca estão a ponto de arrasar com a vida da comunidade. Então quando uma reconciliação
necessária com o entorno se faz urgente e nos dá uma possibilidade de esperança . Está
reconciliação implica um entorno compreendid e correlacionado de todos os seres humanos, as
montanhas e os espaço que nos rodeiam, as estrelas,

os animais e as plantas que gozam de um mesmo status neste trabalho da reconciliação. Isto
é o mais lindo que se transmite no meu mundo Aymara, que quando procuramos a
reconciliação, todos estamos envolvidos. Não somente os seres humanos e as nossas lutas,
como também o nosso mundo, nossa comunidade, que inclui o território, atmosfera, o céu, a
lax pacha (o mundo de cima) e a manqha, pacha (o mundo de baixo) ou seja o mundo de
baixo, todos esses passos confluem no trabalho da Reconciliação.

Entre os Aymaras, existem oferendas à Pachamama e à Pacha Tatas que se apresentam para
diminuir as força das tempestades, de granizo, das chuvas e dos deslizamentos. Os Aymaras
evangélicos, por sua parte, também fazem oferendas. Oferecessem seu tempo em jejuns e
orações com o mesmo fim, receber a benevolência de uma divindade. Tenho a esperança de
que tanto os Aymaras evangélicos como os não evangélicos se encontrem na reciprocidade
entre seres humanos . Espero que possam compreender que na reconciliação, o perdão e a
justiça se materializam na restituição como algo fundamental. Como tratamos os nossos irmãos
e irmãs em nossa comunidade e ao nosso redor, que consideramos sagrado porque da terra
comemos, influencia em nossa resposta à crise climática . E se isso, não se resolver, o conflito
com a tempestade, ou a seca, continuarão mostrando o seu incômodo na comunidade. Tanto
Aymaras evangélicos como os Aymaras de outras tradições espirituais se apresenta na tarefa
urgente da Restituição e reconciliação mediante as oferendas

No mundo Aymara, a reconciliação se faz em base a mútua satisfação de quem se encontra


num conflito. Por um lado, a pessoa afetada recebe uma compensação pelo mal sofrido. Por
outro, quem causou a ofensa alcança o perdão da pessoa ofendida e de toda comunidade em
atitude de humildade. Lembremos que a comunidade está integrada pelos seres humanos, o
território, todo o que habita no manqha pacha e no alax pacha.. É assim como os Aymaras
evangélicos e não evangélicos podem se encontrar num acordo baseado nos ensinamentos de
seus ancestrais e nos preceitos cristãos em torno a reconciliação, a justiça, e o perdão.
Podemos compartilhar a esperança de trabalhar juntos por uma vida plena, que em Aymara
chamamos a Qamaña (que é bom viver em comunidade). O trabalho pela reconciliação plena
nos ajuda a libertar a nossa terra da desintegração e da destruição. Definitivamente o espírito
do Senhor assopra onde quer.

Muitas pessoas consideram os Aymaras como conflitivos e belicosos. No entanto, devemos


reconhecer que, se os Aymaras permanecem numa posição responderia frente ao estado, e
porque as condições para reconciliação não estão presentes desde que se lhes impôs um
estado ocidentalizado. Muitos não querem entender que para se chegar a uma reconciliação,
considerando a perspectiva Aymara, a justiça e o perdão exige uma compensação, uma
restauração e uma relação o menos arrogante e assimétrica possível.

A partir da lógica Aymara, a reconciliação em relação a espiritualidade dos nossos povos e a


dupla evangelização imposta pelo mundo ocidental demanda justiça. Não tem havido
compensação, nem restauração alguma, no entanto ter sofrido despojo e alienação. Para
encontrar perdão, é necessário que se procure restauração e compensação. Só desse jeito já
estamos gerando uma verdadeira libertação de todas as partes no conflito. Uma reconciliação
desta magnitude seria uma oportunidade única que permitiria restaurar aos nossos povos a sua
verdadeira maneira de sentir, pensar e acreditar. emos nos olhos do criador como a imagem
que somos de Ele. Vislumbraremos finalmente a verdade as livres.

Faz uns anos, no encontro de memória indígena, aprendi uma das afirmações mais
libertadoras que me acompanham até os dias de hoje. O Deus no qual eu creio não veio com a
invasão, nem com a colônia, nem com a conquista. O Deus no qual eu creio já se encontrava
no meio do meu povo desde o início da vida. Foi parte da trajetória do meu povo, a vida dos
meus ancestrais, de sua história e do seu caminhar. Agora vejo como o Senhor da vida se
revela na sabedoria e no território dos meus avôs e avós. Ainda que a terra esteja tão ferida,
sempre brota dela sabedoria, consolo e sábios conselho congruente com a palavra escrita,
que, ainda que tão seco e árido possa sentir-se o verso no Altiplano boliviano, dele sempre
brota alimento e vida. Definitivamente, o espírito assopra onde quer.

Perguntas para refletir em comunidade.

1. A Bíblia e a tradição cristã nos oferecem diferentes esperanças, incluindo a esperança da


salvação pessoal e a esperança de justiça social. O que podemos fazer para cultivar uma visão
cristã da esperança que integra todas as esperanças?

2. Como responderemos a pergunta de Drew Jennings-Grisham sobre o que pode aprender a


igreja das memórias, das vivências e a sabedoria dos povos indígenas sobre o cultivo de uma
esperança que gera uma reconciliação transformadora?

3.Juana Luiza Condori Quispe fala de integrar plenamente a sua identidade como mulher
indígena e seguidora de Cristo em vez de exigir membros de nossas comunidades de fé que
negam suas próprias culturas, como podemos aprender com essas as culturas e deixar que
riqueza a nossa fé, espiritualidade e comunidade?

Por que é importante a paz justa?


Funções da Justiça na transformação das
relações humanas da Perspectiva da Paz justa.

Vilma “Nina” Balmaceda

Desejo compartilhar algumas ideias sobre a teologia da justiça e a transformação. No entanto,


quanto mais penso nisso creio que é melhor falar de uma Teologia da justiça e da
transformação, porque sem dúvida há outras perspectivas teológicas a respeito. Dirijo-me a
vocês como alguém que está lutando com estas ideias, alguém que está nesta peregrinação,
muitas vezes carregada pela realidade que nos rodeia, porém também confiava no Senhor que
nos tem chamado a servir no ministério da Reconciliação.

A metodologia " o verbo se fez carne " se aplicarmos no centro para a reconciliação, como tem
explicado Edgardo Colón-Emeric--, é o marco teológico que uso ao refletir sobre a justiça e a
transformação. Esta metodologia é um convite para refletir em conjunto, fazendo-nos algumas
perguntas. A primeira pergunta é: Para onde vamos? E essa pergunta nos convida a considerar
a visão de toda a Bíblia e, de maneira específica, a visão do Capítulo 7 do livro de Apocalipse
ainda que o livro de Apocalipse seja muito difícil de interpretar e não pretendo ativar nenhuma
revelação profética dos tempos finais, não resta dúvida ao ler Apocalipse 7 que podemos saber
para onde vamos.

Dirigimo-nos à presença de Deus e não vamos chegar sozinhos. Vamos chegar como parte de
uma grande multidão que ninguém pode contar, com pessoas procedentes de cada nação, de
cada tribo e de cada língua. Esta é a revelação de Deus e a sua vontade para a humanidade
seremos testemunhas da Vitória final de Deus sobre as forças do racismo do classicismo, do
ódio, e de todo tipo de discriminação e exclusão que os seres humanos muitas vezes
praticamos.

Na imagem que apresenta esta passagem, é interessante notar que Jesus não é representado
no Trono de Deus como leão e sim como o cordeiro e as multidões lhe adoram. Esta figura de
Jesus como o cordeiro de Deus nos lembra o seu sacrifício por nós e que podemos estar na
presença de Deus pelos seus méritos. Assim mesmo, se trata também de uma figura dócil,
ainda que tem todo o poder do universo, não busca dominar violentamente

A segunda pergunta da nossa metodologia nos convida a pensar no que está acontecendo ao
nosso redor. O que está acontecendo? Esta pergunta nos conecta com o nosso contexto
Porque é importante determinar onde estamos, em que contexto e com quem nos
identificamos. O Espírito Santo e a revelação de Deus não só são relevantes para as coisas do
céu. Se bem que sabemos qual é a nossa direção e sabemos que vamos em direção à
presença de Deus onde reina a justiça e a paz perfeitas, o seu Espírito quer nos transformar e
nos usar no processo de transformação e reconciliação aqui e agora.

A pergunta sobre o que está acontecendo nos motiva a olhar ao nosso redor. O que é que
observamos em nosso contexto.? Observamos coisas que temos que lamentar. Estamos
vivenciando uma crise global de saúde pública devido a pandemia do covid-19 que não impacta
a todas as pessoas da mesma maneira. não atinge igual a nós que podemos trabalhar em
nossa casa em comparação com aqueles que tem que se arriscar para sair à rua para poder
ganhar algum dinheiro para alimentar as suas famílias. A crise econômica exacerbada causada
pela pandemia tem afetado profundamente as classes sociais que menos têm, enquanto que
tem beneficiado aos setores que mais podem economicamente e muitos países.

Também precisamos abrir os olhos para as crises de violência que sofrem tantas famílias. A
prática da violência doméstica, tipicamente contra as mulheres e as crianças em nosso
continente, é algo que não devemos esconder. Devemos denunciá-la e trazer luz a esta
escuridão. Por outro lado, vários de nossos países estão enfrentando múltiplas crises nos
âmbitos político, econômico e social. Milhões de irmãos venezuelanos tendo que sair do seu
país foram em direção a Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Chile, assim como nossos irmãos
centro-americanos e mexicanos se vêem muitas vezes forçados a emigrar em direção a
América do Norte. Num contexto tão complexo, a maioria dos governos não sabe o que fazer
diante das crises humanitárias. Também temos que reconhecer que há crise na igreja. A
presença cristã neste continente deixa muito a desejar. Estamos vivendo tempos de um desafio
particular ao testemunho Cristão. Para a grande maioria de latino-americanos esta não é a
primeira vez que vivemos múltiplas crises, ainda que as experimentamos em diferentes graus.

.A segunda pergunta da nossa metodologia é um convite para abrir os olhos e em resposta ao


que vemos, para chegarmos perto de Deus em lamento. Se abrirmos os olhos, vamos poder
ver que muito do que acontece é resultado da Injustiça que prevalece em nosso mundo. É certo
que o sofrimento faz parte da experiência humana e às vezes a gente não pode identificar a
causa. No entanto, neste mundo há muito sofrimento que, podendo ser evitado, aceita
desproporcionalmente a certas comunidades devido a injustiça.

Consideremos a terceira pergunta: Que sinais de esperança observamos em nosso contexto e


como podemos unirmos ao que Deus está fazendo? Peter Casarella nos convidou a considerar
se nosso coração tem um espaço para uma grande esperança de justiça social junto a
esperança de salvação individual. Se há espaço para uma esperança coletiva que afete não só
dimensões espirituais individualistas como também nossa comunidade, nossa sociedade,
nosso país. Ou será que é nossa compreensão da revelação de Deus e tão estreita que só há
lugar para minha própria salvação e para uma interpretação individualista dos propósitos de
Deus para sua criação? O procurar onde Deus está agindo, é um convite a abraçar a
esperança do trabalho pela transformação e a reconciliação.

A quarta e última pergunta é dupla: Ao que está Deus nos chamando e como podemos
discernir qual é a nossa vocação como comunidade, como povo de Deus? Ao que Deus está
chamando no meio de tantas divisões, violência, ódio e necessidade de ordem material,
emocional e espiritual.? Deus nos convida a unirmos a sua obra no ministério da Reconciliação
e nosso contexto. Não só no mundo abstrato, nem só no campo das ideias, se bem que o
mundo das ideias é importante, Deus nos convida abraçar o ministério da Reconciliação na
prática.

O Shalom não existe se não há verdade, se não há justiça, se não há integridade pessoal e
cidadania. Para cultivar a paz justa se requer reparar o dano que temos causado, enquanto
continuar a injustiça não poderemos viver o Shalom. É fácil falar de paz, porém é mais
importante modelar nossa vida cotidiana e não podemos proclamar o Shalom de Deus de
maneira genuína se não estamos movendo um dedo para construir um mundo mais justo
O sacrifício de Jesus de Nazaré na cruz do Calvário abriu o caminho para uma reconciliação
completa. A reconciliação em Cristo inclui a transformação de nossa relação com Deus, com
nossos semelhantes, nossa comunidade e tudo que há ao nosso redor, como dizia a nossa
irmã Juana Condori, e inclusive como nós tratamos a nós mesmos. É um convite a construir o
Shalon ou a paz justa que permite a vida florescente e a oportunidade a todas e todos. O termo
Shalom no Antigo Testamento é eirene (grego), seu equivalente no Novo Testamento, fala de
uma paz positiva. Não se trata somente da ausência de conflito, ainda que a paz negativa
também seja importante. Como vamos construir Shalom se estamos nos matando? É muito
importante que parem os conflitos armados, porém estamos equivocados se pensamos que
basta a ausência de conflito para ter uma paz justa.

A injustiça tem muitas caras nas Américas. Existe um grande contraste entre o Jardim que
Deus nos encarregou de cultivar e o sistema atual de competência agressiva e exploração
selvagem da criação e do nosso próximo em necessidade. Por isto, lhe proponho que
consideremos a injustiça como o abuso de poder. Este abuso pode acontecer pela posição que
algumas pessoas têm de maneira individual na sociedade. Por exemplo, os homens violentos
que são pais de família numa sociedade predominantemente machista; as pessoas adultas que
abusam de sua força diante de meninos e meninas; As pessoas em posição de hierarquia ou
autoridade que abusa dos seus subalternos no centro de trabalho, inclusive na igreja, a pessoa
de aparência ou cultura favorecida diante daqueles que não têm esse aparência ou cultura;
fisicamente mais fortes ou, o que é mais comum, as pessoas que armadas frente a quem não
estão; as pessoas com recursos econômicos substâncias diante daqueles que passam
necessidade; as pessoas que têm contatos com o governo diante daqueles que não têm, etc.

Se observamos com cuidado, podemos discernir situações que acabo de descrever que vão
muito além das dimensões individuais e inclusive da vontade das pessoas. Trata-se de
problemas de caráter sistêmico. Diante disto, Como podemos contribuir para a transformação
das relações familiares, sociais, econômicas e políticas? Como pessoas dedicadas ao
Ministério da Reconciliação, como podemos promover a transformação das relações entre os
seres humanos e ao nosso redor sem termos que considerar as causas estruturais dos nossos
conflitos?

Para responder a esta pergunta, lhes proponho a reconsiderar nossa salvação em Cristo como
algo que está além da salvação individual e reconsiderar também a nossa percepção do mal
como algo individual porém também sistêmico.

Temos que ter cuidado de não perder de vista que a injustiça não só existe pelas más
intenções das pessoas. Muitas vezes o nosso acionar coletivos se vê frustrado pela nossa
incapacidade de ver a dimensão estrutural do pecado nas relações humanas e nossas relações
com o planeta. Na narrativa do livro de gênesis descreve a destruição das estruturas de
shalom, estruturas que incluíam a igualdade entre os primeiros seres humanos e a sua relação
harmoniosa com o resto da criação. Porque a nossa ação coletiva é tão limitada? Talvez parte
da resposta tem a ver com o que estamos muito concentrados nas dimensões individuais da
nossa fé.

Não digo que as nossas impressões pessoais de devoção não sejam verdadeiramente
importantes, porém nos faz perder de vista a necessidade de construir a paz justa em nossa
comunidade, a devoção pessoal pode ser um obstáculo, ao invés de ser instrumento para
cultivar a sementes do shalom. lembramos-nos da mensagem de Deus que recebida pelo
Amos (circa 760 AC),

Odeio, desprezo as vossas festas, e as vossas assembléias solenes não me exalarão bom
cheiro.E ainda que me ofereçais holocaustos, ofertas de alimentos, não me agradarei delas;
nem atentarei para as ofertas pacíficas de vossos animais gordos. Afasta de mim o estrépito
dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas. Corra, porém, o juízo como
as águas, e a justiça como o ribeiro impetuoso. (Amós 5:21-24)

Como responder diante do abuso de poder? Sendo instrumento de Deus na promoção da


justiça e da misericórdia em nossas comunidades, demonstrando que ainda que vivamos neste
mundo, somos uma humanidade alternativa que leva a sério o que significa o amor a Deus.
Não só falemos ou cantemos sobre o amor de Deus, e sim melhor demonstraremos esse amor
afirmando essa dignidade e os direitos fundamentais de todas as

As pessoas, ainda quando estejamos em desacordo com a sua ideologia ou a sua religião, e
não fiquemos calados quando as pessoas mais vulneráveis sofrem violência ou outras formas
de abuso. É necessário reconceitualizar a salvação que Deus nos oferece como libertação
individual e coletiva contraposta a todo tipo de opressão e exclusão.

Para terminar, desejo destacar 5 funções básicas da Justiça. A partir de uma perspectiva
restaurativa da Paz justa que contrasta radicalmente com a forma em que se administra Justiça
na grande maioria de nossos países. Estas funções, na prática, podem aparecer
simultaneamente, mas eu quis identificá-las conceitualmente por separado para ganhar
clareza.

Em primeiro lugar, a justiça verdadeira resgata as vítimas e as transforma em sobreviventes,


não as revitimizando. Esta função é muito importante para aqueles que trabalhamos no campo
da reconciliação. Não podemos ver que alguém esteja sofrendo abuso e ficar de braços
cruzados em nome da reconciliação. Pelo contrário, temos que ativar a justiça para resgatar as
vítimas.

Em segundo lugar, a justiça responsabiliza, confrontado aos que abusam do poder e exigindo
que prestem conta por suas ações ou omissões. A justiça não condena a impunidade, senão
permite que os perpetradores alcancem a libertação, não só que sejam castigadas.

Terceiro, a justiça também retifica e reforma. A intervenção da Justiça deve procurar corrigir as
pessoas que abusam do poder, mas também o mesmo processo de administrar Justiça,
melhorando ou criando novos sistemas para confrontar as causas dos ditos abusos e outras
formas de injustiça. Tudo isto é importante, porém não é suficiente. Não é suficiente que haja
um sistema de correção de conduta, também tem que reparar o dano que foi causado.

A quarta função da justiça é promover a reivindicação dos direitos e necessidades dos


sobreviventes, afirmando a sua dignidade através da compensação econômica ou em espécie
que, idealmente, deve ser o mais proporcional possível ao impacto causado pelo abuso sofrido.
A Reparação simbólica é também importante, em conjunto com outras fórmulas de
ressarcimento individual e coletivo..

A quinta função da Justiça que desejo destacar é o seu papel restaurador. A justiça restaura as
vítimas que agora são sobreviventes, mas também aos perpetradores, suas famílias e
comunidades, afirmando a dignidade de todas as pessoas e dando oportunidade ao
arrependimento, a confissão e as reparações devidas aos sobreviventes. E este é um ciclo
contínuo, não devemos ver essas funções como necessariamente separadas na prática.

A mensagem e a vida de Jesus de Nazaré, que dão sentido à toda a revelação de Deus, nos
ensina que necessitamos ir além do castigo como retribuição para o culpado. O ensino
completo da Bíblia apresenta uma visão da Justiça final que não é satisfeita somente com a
afirmação da dignidade das vítimas e sua restauração e sanidade. Deus também está
interessado na Restauração dos agressores mediante o arrependimento e a sua transformação
pessoal e na transformação das relações humanas.

Parece-me, que em nosso contexto atual de múltiplas crises nas Américas, o melhor
testemunho que os cristãos podemos dar, é viver numa comunidade que se caracterize por
amar e respeitar a verdade, promover as funções básicas da Justiça com misericórdia e
humildade, e trabalhar para reduzir a vulnerabilidade das pessoas já que muitos da injustiça se
explica pela desigualdade e a disparidade do poder

Em conclusão, não temos que abandonar as aspirações de justiça para poder trabalhar para a
reconciliação. Melhor, o poder libertador do Espírito Santo nos guia ao arrependimento, à
confissão, à reparação e ao perdão bem compreendido, que afirma a justiça e a restauração
das vítimas, não pise seus direitos. Esse poder libertador também afirma a oportunidade de
restaurar os agressores que se arrependem. Espero que estas ideias nos motivem, todas e
todos, a seguir explorando como podemos contribuir na transformação das relações humanas
que se caracterizam pela justiça final pelo abuso de poder.

Testemunho do programa latino-americano e caribenho de terras em direção a uma


Fraternidade possível
Susana Nuin Núñez

O programa latino-americano e caribenho de terras em direção a uma Fraternidade


possível(rede PDT) está integrado por membros de mais de 30 instituições de Latino América e
o Caribe, incluindo o movimento sem terra no Brasil. A via camponesa, O fundo Populorum
Progressio (FEPP---- do Equador e também a International Land Coalition vinculada a
organização de Nações Unidas em América Latina e o Caribe, entre outras. Desde a rede PDT,
nos perguntamos: Qual é a realidade da terra hoje na América Latina e o Caribe? A terra é
sagrada ou escrava? Nina Balmaceda tem exposto a necessidade de superar as injustiças
estruturais e vê se sair do intimismo pessoal para ir em direção a concreções comunitárias.
Devemos perguntar-nos: A partir de onde aportamos a esta reflexão? O fazemos desde o
continente mais rico em Recursos Humanos e naturais, porém também desde o mais desigual
e menos equitativo. Trata-se também do continente mais crente do mundo, se estivermos
falando de cristãos.

A História das Américas é uma história de luta pela terra já há séculos. Para as comunidades
originárias, a terra é a mãe terra, tem junto a ela um vínculo extraordinário e direto, temos já
vários séculos debatendo o tema de acesso à Terra e a sua distribuição. A terra hoje continua
sendo escrava, vive sem respiração. Como continente somos testemunhas do uso e abuso das
terras, da água e dos seus habitantes também. Num esforço por situarmos a partir do onde,
queremos também fazer um olhar a partir da geopolítica da esperança, que tem um olhar atual
a realidade e olhar profético. Um olhar capaz de ver também o reverdecer da vida. Dentro da
realidade atual encontramos a terra ameaçada pela tomada total das terras por parte do
agronegócio e os monocultivos. A terra está ameaçada também pela extração mineira e
petrolífera em todo continente e pela privatização da água. Há um grande conflito não só na
Amazônia, onde se encontra uma das principais fontes da água, como também em relação ao
Aquífero que reúne o Paraguai, Argentina, Uruguai e Brasil; hinos glaciares do sul. A terra
também está ferida pelo assassinato dos líderes camponeses, filhos destas terras segundo o
registro de INDEPAZ no ano de 2021, tem-se reportado um lider social assassinado a cada dois
dias na Colômbia7. Não é pouco este dado, trata-se de uma violência intensa.

Como dissemos antes, existe uma geopolítica da Esperança, da vida e da Esperança também
Profética. trata-se da consciência desses camponeses nesses em prol dos seus direitos. Isto é
muito forte e há uma atitude nova hoje em dia. Há uma consciência que cresce cada dia mais
no mundo camponês entrou dos seus direitos. Além do mais, os seus direitos têm sido
reconhecidos pela Organização das Nações Unidas e tem um crescimento nessa consciência.
Há também uma consciência crescente da cultura agroecologia e da agricultura familiar. Isto é
muito importante porque não se trata simplesmente de um método de cultivo. Não é um método
de utilização de terreno, nem um método produção. É uma cultura e uma decisão ética que

7
González Perafán, Leonardo. “Líderes sociales, defensores de DDHH y firmantes de acuerdo
asesinados en
2021.” INDEPAZ, Instituto de estudios para el desarrollo y la paz, 21 June 2021,
www.indepaz.org.co/lideres-
sociales-y-defensores-de-derechos-humanos-asesinados-en-2021.
2 Pope Francis. “Encyclical Letter Laudato si’ of the Holy Father Francis on Care for Our Common
Home.” The
Holy See, 24 May 2015,
https://www.vatican.va/content/francesco/en/encyclicals/documents/papa-francesco_
20150524_enciclica-laudato-si.html.
consiste em escolher agroecologia e agricultura familiar como a possibilidade de cultivar
respeitando a casa comum de todos. Há muitas pessoas em cidades diferentes da nossa
América Latina que têm empreendido decididamente o caminho para o campo e no campo.
Assim como ouvir o grande êxodo por décadas do campo para a cidade e com isto, o aumento
das grandes periferias do continente, hoje há um caminho de regresso ao campo que se torna
cada vez mais indispensável para dar a possibilidade de moradia a muitas famílias

Existem quatro aspectos nos quais rejuvenesce a profecia e a esperança em nosso continente.
Nós, a partir da rede PDT temos constatado que existe esse rejuvenescer. A terra pode ser
sagrada ou escrava?

Temos que considerar esta pergunta desde o nosso ser cristão, desde a nossa cosmovisão
teológica e da Justiça. A Terra é um bem Universal dado e doado pelo criador como direito
sagrado. Não é um objeto do direito positivo unicamente. Por isso é necessário repensarmos
em relação às origens para todos e do bem em comum. Na carta Encíclica Laudato si

"O Papa Francisco defende a dimensão do direito sagrado da terra. O papa fala dos 3 “T”:
Terra, teto e trabalho do direito sagrado à terra, o direito sagrado ao espaço vital, ao espaço
digno Vital, ao espaço produtivo vital e nos circunscritos ao denominador da propriedade
privada. Por isso não é unicamente um direito positivo.

Podemos perguntar-nos, como poderemos voltar do caminho da maneira avarenta que faz
sofrer a terra?

Precisamos compreender o direito sagrado de todo Bem da criação e prestar atenção ao bem
comum. Desgraçadamente, nossas sociedades nos têm formado e educado para o bem
privado e individualista. Por isso, me parece fascinante a proposta anterior de que não nos
podemos considerar unicamente no individualismo pessoal e intimista.É necessário o processo
comunitário até chegar ao estrutural e por incidir, reconhecendo o bem comum como o bem de
todos, como parte do nosso ser evangelho encarnado.É Importante a reorganização da terra de
maneira harmônica e para todos. Na América Latina há pessoas que possuem um milhão de
hectares enquanto que os meus vizinhos camponeses, com quem eu trabalho, lado a lado, tem
apenas um hectare ou meio hectare e está cheio de dificuldades para cultivar.
E essa distribuição da onde vem? Quem o abençoou? O que falar do respeito pelas culturas e
os habitantes? Por isso nos parece muito importante para compreensão do contexto e como
Rede PDT insistimos na importância da justiça restaurativa. Buscar a justiça, nos dar a grande
possibilidade de poder reconstruir o tecido social, político e econômico e do bem comum.

Nós do PDT levamos adiante o trabalho e vamos acompanhar processos políticos, sociais e
econômicos como, por exemplo, acompanhar aos camponeses da República Dominicana que
sofrem a opressão de uma empresa estrangeira que não tem problema em destruir as casas
camponesas para fazer o agronegócio. O agronegócio e o acaparamento das terras se
fundamenta muitas vezes na defesa da propriedade privada e condena a tomada de terras
pelos camponeses. É necessário entender que no acaparamento não há respeito nem pela
propriedade privada, nem pelo bem comum. Os processos de toma de terras se realizam em
casos extremos, sem violência e através da negociação. E sem dúvida, através de processos
de justiça porque o acaparamento das terras desde o agronegócio acontece sobre os bens dos
pequenos camponeses.

Estamos trabalhando em tudo isto com uma visão profundamente cristã baseada na
Fraternidade. Cremos que todos somos irmãos e irmãs, que todos temos um único pai e que,
portanto, todos podemos nos reconhecer e tratar nos como irmãos e irmãs. Faz mais de um
ano que os representantes das instituições da Red PDT nos reunimos na Colômbia. Foi então
que compreendemos juntos que a Fraternidade é um poço no qual todos podemos beber e do
qual há que beber constantemente.

Mantendo-nos, apoiando-nos, reconhecendo-nos, solidarizando-nos e vivendo também as


preocupações dos outros. Vivendo o perdão um perdão, Como disse a doutora Dra.
Balmaceda, sério, fundado na justiça e com capacidade de restaurar os danos cometidos.
Cremos firmemente que a justiça restaurativa situa as vítimas e os vitimários em um mesmo
cenário de tal maneira que possam reconhecer-se e possam voltar, neste reconhecimento
mútuo, adquirir sua dignidade. Como Red PDT, estamos nesse trabalho e sentimos que esse é
o poço do qual se pode beber fraternidade e dar a beber fraternidade aos demais.

Perguntas para refletir em comunidade.


1. Quais relações Injustas ou quebrantados necessitam ser transformadas em sua
comunidade? Por quê?

2. Como podemos responder ao abuso do poder em nossa sociedade, em nossas igrejas e


talvez em nossas próprias famílias?

3. Qual é a importância da terra e nossas comunidades de fé? Se a terra não é um elemento


importante em nossa fé, porque pensa que é assim? Como podemos mudar essa realidade?
Como podemos trabalhar para a restauração da criação como parte do trabalho da
Reconciliação?

4 Pensemos em abusos de poder que tem impactos negativos na terra, o ambiente e o


contexto em que vivemos como o consumismo e o extrativismo, por exemplo. como podemos
responder a estes abusos de poder?
Por que eu e por que devo me importar?
Descobrindo a Nossa vocação no ministério da transformação e a
reconciliação
Ismael Ruiz-Millán

A seguinte oração foi composta por uma menina de nove anos quando o arcebispo da diocese
de Worcester da igreja anglicana visitou a paróquia de St.Richard na Inglaterra.

Oro pela paz entre os países.


Oro para que as pessoas se aproximem umas das outras
com mãos generosas
e que não seja desafetos, e sim sensíveis;
Que não briguem e sim que esteja aberto ao diálogo
Que ofereçam amizade e que não obrigue nem sejam violentos;
Que aceitem a outras nacionalidades e que não seja racista
Que procure o bom nas pessoas e não os seus defeitos
Que não se deixem controlar pelo dinheiro e sim que dê ao pobre.
Que não usem a religião como uma arma e sim que a usem como apoio e que em verdade
creiam e finalmente, que não odeiem, e sim que perdoem e amem. Amém. 8

Esta oração comunica em poucas palavras o que um embaixador, ou embaixadora, da


Reconciliação deve levar em consideração. Consideremos agora o que o apóstolo Paulo
escreveu quando se dirigiu a igreja em Corinto:

Portanto, se alguém está em Cristo, é uma nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que
surgiram coisas novas! Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de
Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando
consigo o mundo, não lançando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da
reconciliação. Portanto, somos embaixadores de Cristo, como se Deus estivesse fazendo o seu
apelo por nosso intermédio. Por amor a Cristo lhes suplicamos: Reconciliem-se com Deus.
(2 Coríntios 5:17-20)

Esse texto é uma das passagens fundamentais que usamos na metodologia “o verbo se carne”
do centro para a reconciliação. Como lembraram, a metodologia tem quatro perguntas a
primeira e: Reconciliação para onde? A segunda é: O que está acontecendo? A terceira é:
Quais são as centelhas de esperança que observamos? É um chamado para identificar os
exemplos de resistência e resiliência frente à adversidade em nosso contexto, nutrindo assim
nossa própria capacidade para não ficarmos paralisados numa postura de lamentação.
E a quarta pergunta, que é aqui consideramos aqui, é: Porque eu por que devo me importar
com esse chamado a servir no ministério da Reconciliação? Esta pergunta tem a ver com o tipo

8
Oración atribuida por el autor a Catarina Mesquita-Reynolds.
de líderes que precisamos e com as características, habilidades, boas práticas, hábitos e ritmos
que necessitamos cultivar para ter uma liderança saudável a longo prazo.

O ministério da Reconciliação requer pessoas simples que desempenham a liderança com


uma disposição constante de aprendizado e introspecção. Pessoas que estejam dispostas a
melhorar constantemente seu estilo de liderança e como se relaciona com seu próximo e que
tem como meta não só a transformação individual, mas também a da sua comunidade. Para
responder a estas perguntas que temos nos questionado, consideremos os ensinamentos de
Óscar Romero para expandir nossa imaginação enquanto a espiritualidade que necessitamos
para ser instrumentos da Reconciliação.

A humildade cultural 9 é um conceito que tem informado a minha vida prática ministerial nos
últimos anos. Duas médicas afro-americanas que observaram as desigualdades que se tem na
área de saúde dos Estados Unidos conceitualizaram a humildade cultural. Elas têm articulado
alguns princípios que são úteis para uma liderança efetiva no ministério da Reconciliação.
Esses princípios são,a) o aprendizado e a instrucção incessantes; b) o desafio aos
desequilíbrios de poder; e c) A prestação de contas institucional

Lembremos o encontro entre Jesus ressuscitado e os dois discípulos que iam caminho a
Emaús10 Jesus aparece como um completo estranho e inicia uma conversa com eles. Os
discípulos se sentiram frustrados diante da ignorância de estranho, que não estava sabendo do
que havia acontecido nos últimos dias em Jerusalém. Nesse momento Jesus está disposto a
receber conhecimento dos seus discípulos. Ambos começam a ensinar-lhe. Depois, a uma
mudança de papéis, o completo estranho vira o mestre e os discípulos em aprendizes. O
estranho que se torna num aprendiz para depois ser mestre, muda de papéis novamente, e se
converte no hóspede dos dois discípulos. E logo há a última mudança de papéis, o hóspede
vira anfitrião. O Jesus ressuscitado toma o pão, o abençoa, o parte e lhes dá aos seus
discípulos. Nesse momento em que o véu é tirado dos seus olhos e estes conseguem
reconhecê-lo. Esta imagem nos mostra a postura que adota Jesus de estar aberto a aprender
antes de ensinar, a escutar a antes de falar, a deixar que outras pessoas contribuam para o seu
crescimento, antes de tratar de contribuir para o crescimento das outras pessoas. Também nos
convida para considerar o papel da espiritualidade em cada encontro que temos. Neste caso,
Jesus usa a mesa e o partir do pão para se revelar diante destes discípulos

Com esta imagem em mente, pensemos no primeiro princípio da humildade cultural que é o
aprendizado e introspecção incessante. Este é o tipo de líder que se necessita para o ministério
da transformação e a reconciliação, que tem a disposição a aprender continuamente, inclusive
em relação a si próprio.

9
Tervalon, Melanie, and Jann Murray-García. “Cultural Humility Versus Cultural Competence: A Critical
Distinction in Defining Physician Training Outcomes in Multicultural Education.” Journal of Health Care
for the Poor and Underserved, vol. 9, no. 2, 1998, pp. 117–25. National Library of Medicine, doi:10.1353/
hpu.2010.0233.
10
Ver Lucas 24:13-27.
Lembremos a declaração com que Jesus inicia o seu ministério como adulto, o reino de Deus
está Perto. Arrependam-se e creiam nas boas Novas (Marcos 1:15 ) O Arrependimento é
precisamente o chamado ao aprendizado e instrucção incessante e, é importante que
comecemos por uma reconciliação e transformação em nós mesmos e nos perguntarmos
constantemente sobre quais áreas em minha vida ou no meu estilo de liderança precisa
experimentar redenção e transformação.

O segundo princípio da humildade cultural é desafiar os desequilíbrios de poder. Este princípio


nos convida a estender o nosso aprendizado e introspecção incessante às nossas relações
pessoais mais próximas e imediatas.Precisamos avaliar e identificar o poder e influência que
possamos ter sobre as demais pessoas. Se não somos conscientes disto, podemos usar mal
ou inclusive abusar do nosso pouco ou muito poder ou influência.

Paulo ensinou para eles, aos crentes de Filipos:".. humildemente considerem os outros
superiores a si mesmos. (Filipenses 2:3). E aos que estava na capital do império: " Pois pela
graça que me foi dada digo a todos vocês: ninguém tenha de si mesmo um conceito mais elevado
do que deve ter; mas, pelo contrário, tenha um conceito equilibrado, de acordo com a medida da fé
que Deus lhe concedeu. (Romanos 12:3)

A América Latina tem uma história dolorosa de mau uso e abuso de poder por parte de muitos
governantes e inclusive líderes religiosos. É por isto que qualquer esforço de reconciliação e
transformação nas américas requer que as pessoas que servem no ministério da reconciliação
molde o seu poder ou influência nas maneiras saudáveis, empoderando as pessoas que têm
sido marginalizadas historicamente, e dando honra à semelhança de Deus com a que a
humanidade foi criada.

Para isto, devemos nos perguntarmos e nossas interações pessoais o seguinte: Há alguma
dinâmica de poder nesta interação? Como posso minimizar esta dinâmica de poder? Como
percebem as pessoas as quais eu sirvo, a maneira com que eu uso o meu poder e a minha
influência? Em quais áreas a maneira em que eu exerço o meu poder e influência precisa ser
redimida?

O terceiro princípio é a prestação de contas institucional. A entrada triunfal de Jesus a


Jerusalém, desafiando todas as expectativas sobre o Messias que haveria de vir, é uma
imagem que informa a prestação de contas institucional. Aqueles que servimos na procura de
transformação e reconciliação, devemos andar em integridade, consistência e com uma
espiritualidade profunda que nos nutra cada dia e nos sustenta a longo prazo.

Gostaria que consideremos a espiritualidade e os ensinamentos de San Óscar Romero para


ver estes princípios em ação. Tenho me perguntado muitas vezes, como pode alguém
continuar pregando uma mensagem de amor, esperança e vida abundante em meio da
violência, tortura e morte? Como pode São Romero viver diante da constante ameaça de ser
assassinado a qualquer hora? Ele disse num dos seus sermões: "Por isso, irmãos não nos
deve estranhar que uma igreja tenha muito de cruz porque senão, não terá muito de
ressurreição. Uma igreja que se acomoda, uma igreja que busca o prestígio sem a dor da cruz,
não é a igreja autêntica de Jesus Cristo. Este chamado é plenamente consistente com o que
Jesus disse para os seus discípulos: Digo-lhes verdadeiramente que, se o grão de trigo não cair na
terra e não morrer, continuará ele só. Mas se morrer, dará muito fruto.
Aquele que ama a sua vida, a perderá; ao passo que aquele que odeia a sua vida neste mundo, a
conservará para a vida eterna. (João 12:24,25) Esta é a passagem que São Romero pregou na
sua última homilia justo antes de ser assassinado

Sacrifício sofrimento, humildade e Amor não são necessariamente as marcas que hoje em dia
se consideram ao descrever a um líder. Alguns talvez até considerem que estas qualidades
correspondem a um líder fraco. No entanto, estas foram as características refletidas ao estilo
de liderança de Jesus, e eventualmente por São Romero e muitos outros Mártires.

São Óscar Romero liderou com sacrifício. Ele estava numa posição de influência e privilégio e
tinha um futuro garantido de tranquilidade em meio ao caos, mas ele decidiu renunciar a este
privilégio. Ele liderou com sofrimento. Se identificou completamente na comunidade,
Especialmente na comunidade marginada e mais afetada pela situação de violência no seu
país. Ele também liderou com humildade. A sua autenticidade e humildade fizeram com que ele
ganhasse a confiança do povo. As pessoas o seguiam porque encontraram nele a humildade e
autenticidade que não via em outros líderes do governo e da igreja. Romero liderou com amor
e se entregou por seu amor a Deus, a igreja e a todo o povo salvadorenho. Ele compartilhou o
sentir do povo num tempo muito difícil. Por isto, durante tempos de opressão, de violência, de
tortura e morte, ele foi capaz de oferecer palavras de vida e esperança.
Testemunho e reflexões em torno da nossa vocação conjunta e pessoal.
Ruth Padilla DeBorst

Dirijo- me a vocês como alguém que desfruta plenamente de viver a sua vocação. A
maternidade e a vida familiar são dimensões importantes da minha vocação, mas não as
únicas. Neste caminhar fui discernindo a minha vocação, primeiro, submetendo-me a uma
autoridade fora de mim. Reconhecer Jesus Cristo como senhor da minha vida, implicou
ingressar a um povo convocado por Deus para servir e não para ser servido. No coração da
minha vocação como seguidora de Jesus Cristo está este chamado, que compartilhamos
aqueles que por graça de Deus tomamos este caminho. William Temple apontou que, " a igreja
é a única instituição que existe primordialmente para o benefício daqueles que são os seus
membros11". O nosso chamado compartilhado é dar evidência à palavra e obra do Reinado de
Deus e sua justiça em nossos respectivos contextos.

O serviço aos outros a o estilo de Jesus é nossa vocação compartilhada. Mas, como discernir
uma pessoa qual é o seu chamado particular? Sugiro que a particularidade radica na conjunção
dons, oportunidade, paixão e necessidade. Não existe pessoa Cristão a quem a Ruah, o
espírito de Deus, não tenha outorgado dons. No meu caso, foi chave crescer numa
congregação local que nos animasse a provar as nossas capacidades desde jovens, já estava
ensinando, escrevendo, liderando programas com meninos e meninas ou servindo em
comunidades carentes. Foram abrindo oportunidades e este exercício me permitiu confirmar
em quais coisas eu era boa e em quais definitivamente não era. Ao ir provando essas
destrezas, foi crescendo em mim a paixão, um desfrutar, um gozo de ver os frutos nas vidas de
outras pessoas. Por sua vez, a vocação foi se confirmando ao ver aquilo que eu podia oferecer
que era útil, valioso e apreciado por outras pessoas. Proponho-lhes que, na somatória dos
dons, oportunidade, paixão e resposta a alguma necessidade se encontre a vocação pessoal.

.
Agradeço profundamente a Deus que continuo hoje tendo oportunidade de utilizar as
ferramentas que Deus tem me dado para edificar a outras pessoas, estimulando-as a assumir a
vocação que compartilhamos e a identificar as suas vocações particulares. Ensino, acompanho
a jovens nas buscas de sua própria vocação, nutro o trabalho em equipe com CETI
continental12com a Fraternidade internacional de missão como transformação13 e estímulo à
vivência comunitária e nossa Comunidade Internacional casa Adobe 14

11
Temple, William. “Letter from the Archbishop of the West Indies.” Publicado póstumamente en
Theology,
Vol. 59, octubre 1956.
12
www.ceticontinental.org
13
www.infemit.org
14
www.casaadobe.org
Seguindo as reflexões de Ismael Ruiz-Millán, lhes convido a perguntar-nos; como líderes,
abrimos oportunidades para que outras pessoas exercitem e descubram os seus dons ou nos
acomodamos em certos espaços e privamos aos mais jovens destas oportunidades?
Encorajamos aqueles que nos rodeiam a explorar as suas paixões, avaliando-as à luz da
vocação cristã do serviço, ou as forçarmos a encaixar-se nos espaços aos que
pré-determinamos? Nos Expomos e expomos a outras pessoas nas realidades cruas dos
nossos contextos injustos, para que possamos colocar juntos a paixão com necessidade ou
nos mantemos fechados em espaços seguros que não demandam risco? Seguir a Jesus
requer arregaçamos as mangas para lavar os pés cheios de chagas dos nossos povos cheios
de dores., requer que vivamos de corpo inteiro a vocação que nos faz o seu povo. Quem não
vive para servir, não serve para viver.
Perguntas para refletir em comunidade
.1. Qual é o nosso papel no ministério da transformação e da reconciliação?
Consideremos a nossa vocação individual, mas especialmente a comunitária, assim como a
espiritualidade que necessitamos para perseverar.

2. Quais áreas em nosso estilo de liderança precisa de redenção? Consideremos nosso


contexto, tendo como base os desafios ou as problemáticas sociais que enfrenta nossa
comunidade, de que formas a nossa liderança, necessita ajustar-se ou transformar-se?

3. Consideremos as relações de poder que existem em nossas interações com outras pessoas.
Há alguma dinâmica de poder injusta nestas interações? Como podemos transformar os
desequilíbrios de poder que reconhecemos em nossas relações com nossos semelhantes,
como exercemos o pouco o muito poder e influência que temos e em que sentido necessitamos
Redenção?

4 Quais são as oportunidades que podemos oferecer em nossas comunidades de fé para que
as pessoas, especialmente os jovens ou as pessoas que antes têm sido ignoradas, cresçam
em seu sentido de vocação?
Lista de Autores

Yohan é um cientista político pela Universidade de Antioquia, Colômbia. Sócio fundador e


ex-diretor Nacional de Paz e Esperança Colômbia, uma organização cristã de direitos humanos
dedicada à construção da paz no país, a qual pertence a Fraternidade internacional de paz e
esperança. Álvarez é membro do comitê executivo da iniciativa das Américas para a
transformação e a reconciliação e mora com a sua família em Medellín, Colômbia.

A Dra. Vilma, Nina, Balmaceda é a diretora associada a do centro para reconciliação,


professora consultora e co- diretora do certificado em organização incidência transformação
social baseada na fé da faculdade de divindade da Universidade Duke. É também presidente e
CEO de Paz e Esperança Internacional, uma organização cristã de Direitos Humanos dedicada
à construção da Paz na América Latina. Ela mora com a sua família em Durham, Carolina do
Norte, Estados Unidos.

O Dr. Peter Casarella é professor da faculdade de divindade da Universidade Duke e se


especializa em Teologia Latina e pneumatologia. Antes de chegar à Duque no ano de 2020,
colaborou como diretor do projeto Latin American North American Church Concerns na
universidade de Notre Dame e como professor de estudos católicos na universidade DePaul
onde também fundou o Centro para o estudo do catolicismo global e a teologia intercultural.
Casarella mora com a sua família em Durham, Carolina do Norte estados Unidos.

O Dr. Edgardo Colón-Emeric é decano da faculdade de divindade da Universidade Duke,


diretor do Centro para a Reconciliação e professor associado da Reconciliação e a teologia. O
seu país de origem é Porto Rico.Colón-Emeric é o presbítero ordenado na conferência anual de
Carolina do Norte e serve no comitê Metodista Unidos da Fé e Constituição, como também em
diálogos metodistas-católicos nacionais e internacionais.Colón-Emeric mora com a sua família
em Durham, Carolina do Norte, Estados Unidos.

Juana Luiza Condori Quispe é aymara, nascida em Chirapaca, Bolívia. Estudou antropologia na
Universidade Maior de São André na Bolívia e cursou estudos Culturais na Universidade de
Arizona nos Estados Unidos. Atualmente é coordenadora de memória indígena na Bolívia e
investigadora da Oficina de Historia Oral Andina, seu esforço focado no resgate de arquivos
orais e escritos aymaras. Condori Quispe mora em La Paz, Bolívia.

Drew Jennings-Grisham é cidadão dos Estados Unidos por nascimento e boliviano por vontade
própria. Com mestrados em agroecologia e desenvolvimento sustentável na América Latina
liderança global. Drew Jennings-Grisham tem dedicado a sua vida a cultivar espaços para
vozes indígenas na igreja latino americana. É cofundador de memória indígena e serve com a
junta diretiva de Paz e Esperança e Internacional. Como membro da Fraternidade teológica
latino-americana, um dos coordenadores do grupo de trabalho " identidade,**** e
interculturalidade. Drew Jennings-Grisham mora com a sua família em Medellín, Colômbia.
O Dr. César Lópes tem trabalhado durante 20 anos nos âmbitos acadêmicos e pastorais com
foco na Missão integral e na transformação. Tem mestrado em Teologia prática pela Faculdade
Teológica Sul Americana Brasil, um doutorado em estudos pedagógicos pela faculdade de
divindade da Universidade Trinity internacional Estados Unidos. Atualmente dirige o programa
de licenciatura em Teologia do Instituto Teológico de São Paulo e é decano de pós-graduação
no Centro de Estudos Teológicos e interdisciplinarios CETI mora como a sua família em São
Paulo, Brasil.

A Dra. Susana Nuin Núñez é doutora em Ciências Sociais com especialização em


comunicação social. Suzana é de origem uruguaia e de Cultura rioplatense, de ambas
margens . Argentino- uruguaio por ter morado três de cada em Buenos Aires, na Argentina. É
diretora do Centro de Estudos do conselho episcopal latino-americano CELAM e coordenadora
do programa latino-americano e caribenho de terras. Nuin Nuñes mora em Bogotá, Colômbia.

A Dra. Ruth Padilla DeBorst almeja ver que a paz e a justiça se abracem no formoso e
quebrantado mundo que constitui o nosso lar. Serve com a Resonate Global Mission dirigindo o
centro de estudos teológicos interdisciplinarios, a fraternidade internacional para a missão
como transformação e outras iniciativas de formação missiológica. Estudou Linguística na
Argentina, obteve um mestrado em estudos e interdisciplinarios pela faculdade Wheaton
College e um doutorado em Teologia pela universidade Boston. Padilla Deborst mora com o
seu esposo em casa Adobe, comunidade Cristã internacional em Santo Domingo de Heredia,
Costa Rica.

El Obispo Juan de Dios Peña recebeu a sua formação teológica na universidade bíblica
latino-americana de Costa Rica e nos cursos de Estudo da Junta Geral de Educação Superior e
ministério da Igreja Metodista com a Faculdade Teológica de Claremont, Estados Unidos. É
presbítero ordenado da Igreja Evangélica Metodista em El Salvador. OBispo é fundador da
primeira instituição educativa Metodista em El Salvador. Atualmente OBispo residente da
IEMES, presidente do Colégio de Bispos do Conselho de Igrejas Evangélicas Metodistas da
América Latina (CIEMAL) e membro do comitê executivo da iniciativa das Américas para a
Transformação e a Reconciliação. Peña Gallego mora com a sua família em Ahuachapan, El
Salvador.

O Dr. Rolando Pérez é professor associado e pesquisador do departamento de comunicação


da Pontifícia Universidade Católica do Peru, e tem um doutorado em sociologia da religião pela
mesma universidade. É diretor do Instituto Paz e Esperança, o centro de formação da
Fraternidade Paz e Esperança Internacional, organização Cristã de direitos humanos dedicada
à construção da Paz. É co-presidente da Iniciativa das Américas para a Transformação e a
Reconciliação e membro da junta diretiva de Micah Global. Ele mora com a sua família em
Lima, Peru.
.
O Rev. Ismael Ruiz-Millán é o superintendente do distrito de Herança da conferência de
Carolina do Norte na Igreja Metodista Unida. Originalmente de San Luis Rios Colorado em
Sonora, México, recebeu o seu mestrado em divindade pela a faculdade de divindade da
Universidade Duke. Depois serviu como diretor da casa de Estudos Hispanos da mesma
faculdade.Ruiz-Millan tem desenvolvido e implementado cursos sobre o cuidado Pastoral para
pastores e leigos que vem de toda a América Latina e sobre a missão e o cristianismo global
para o curso de estudo da Universidade Duke. Ruiz-Millan mora com a sua família em Durham,
Carolina do Norte, Estados Unidos..

Jocabed Solano é filha da nação Guna Dule do país de Panamá. Sua formação tem raízes na
cosmovisão, enraizadas na cosmovisão do ser Guna Duel em diálogos com os outros mundos
com os quais cosmo-existem. Desde criança tem vivido e servido com a sua família desde a fé
cristã e a identidade Guna Duel na cidade de Panamá. Atualmente é diretora de memória
indígena. Tem um mestrado em estudos teológicos interdisciplinares para a Missão integral
pela CETI Continental.Solano mora na cidade de Panamá, Panamá.

Germán Vargas é advogado pela Universidade Nacional Maior de São Marcos em Lima, Peru.
É o diretor de políticas públicas em incidência pública de Paz e Esperança Peru. Tem
trabalhado por décadas no campo da justiça social em Peru, advogando pelas pessoas mais
vulneráveis, os presos acusados injustamente de crimes e procurando justiça para as
comunidades indígenas que foram massacradas durante o conflito armado, e também
protegendo os direitos de mulheres e crianças que têm sido vítimas de abuso. Vargas mora
com a sua família em Lima, Peru.
Equipe do projeto

A Dra. Vilma “Nina” Balmaceda nasceu no Peru onde trabalhou no campo dos direitos
humanos. É advogada pela Pontifícia Universidade Católica do Peru e tem um mestrado em
estudo de paz internacional, entrado em governo internacional e o doutorado em Ciência
Política pela Universidade Notre Dame du Lac. Tem sido estagiária da comissão Fulbright
estagiária na John Stott no programa de necessidades humanas e recursos globais de
Wheaton College. Antes de integrar se a faculdade de divindade na universidade Duke,***
serviu como decana de estudo de posgrado de CETI continental.

Valerie Helbert é a coordenadora de programas do Centro para a reconciliação da faculdade de


divindade da Universidade Duke. Helbert recebeu seu mestrado em transformação de conflitos
em 2008 no Centro para a Justiça e a Construção da Paz (CJP) da universidade Menonita do
Leste em Harrisonburg, Virginia. Antes de mudar-se para Durham, trabalhou no Instituto de
Verão para a construção da PAZ CJP. Além do seu trabalho para o Centro de Reconciliação,
Hilbert serve atualmente como membro da junta de Durham Care e acredita viver o chamado
bíblico de "amar ao nosso próximo". Helbert mora com o seu marido Durham na Carolina do
Norte, Estados Unidos.

O Dr. James “Jamie” G. Huff Jr é professor associado de antropologia e diretor associado do


programa de Necessidades Humanas e Recursos Globais da Wheaton College em Illinois. As
suas investigações acadêmicas se focam no desenvolvimento nas comunidades rurais e, a
religião na América Latina, os movimentos sociais, as organizações não governamentais
baseadas na fé e nas iniciativas comunitárias compreensivas. Huff mora com a sua família em
Wheaton, Illinois, Estados Unidos.

Anne Marie Salazar cresceu numa comunidade Quechua nos Andes de Potosi, Bolívia, como
filha de missionários. Estudou espanhol e Educação em Wheaton College e ensinou espanhol
para hispanofalantes a nível secundário no subúrbio de Chicago. Tem um mestrado em
pedagogia na Universidade de Northern Illinois . Atualmente faz traduções para várias
Organizações e continua ensinando espanhol de maneira virtual. Ela mora com a sua família
em Chicago, Illinois , Estados Unidos.
Abigail J. Smith nasceu e cresceu nos Estados Unidos, e se formou na faculdade de Wheaton
com o foco em relações internacionais e espanhol. Trabalhou como assistente legal e tradutora
no escritório de assuntos internacionais no departamento de Justiça do seu país. Atualmente
trabalha como tradutora para várias organizações. Abigail é finalista da bolsa Fulbright-Garcia
Robles e atualmente é coordenadora de comunicações ( voluntária) de Paz e Esperança
Internacional. Smith mora com o seu esposo em Queretaro, México.

Apêndice
Instituto das Américas para a transformação e a reconciliação 20202021)
Seção 1: introdução
Primeira sessão do Instituto que ofereceu um painel de discussão sobre: Por que trabalhar a
transformação e a reconciliação. Filmada originalmente em 13 de outubro de 2020.
Seção 2: Nova criação
Segunda sessão do Instituto que se centrou na teologia da nova criação. Filmada
Originalmente no 17 de novembro de 2020
Seção 3 : Lamento
Terceira seção do Instituto que se centrou na teologia do lamento. Filmada originalmente dia 26
de janeiro de 2021.
Sessão 4: Esperança e libertação
Quarta seção do Instituto que se centrou na teologia da esperança e da libertação. Filmada
originalmente no dia 16 de fevereiro de 2021.
Sessão 5: Justiça E transformação
Quinta sessão do Instituto que se centrou na teologia da justiça e a transformação. Filmada
originalmente no dia 23 de Março de 2021.
Seção 6: Vocação
Sexta sessão do Instituto que se centrou na teologia da vocação.
Filmada originalmente no dia 27 de abril de 2021.

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