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Tabuleiro das Meninas e o Acarajé: O prat o que conquist ou os fest ivais gast ronômicos de Sã…
Cint hia R A Meneguel
ALIMENTAÇÃO & CULT URA - PROCESSOS SOCIAIS: sist emas culinários em cont ext o de ressignificaçõ…
Elidio Vanzella
INTRODUÇÃO
A relação da comida com as religiões é bastante intensa nas mais
diversas confessionalidades e tradições. Dessa forma, a gastronomia
revela preceitos, práticas e preferências religiosas.
Flandrin e Montanari (1998) consideram que os regulamentos de
diferentes crenças e culturas religiosas relacionados à mesa são ditados
pela vontade de reafirmar e de manifestar as identidades culturais. E,
nesse processo, o alimento se materializa nos valores que é capaz de
transmitir. A maior parte das práticas religiosas está ligada ao ato de
comer ou de não comer (NADALINI, 2012).
Nas religiões provenientes de matrizes africanas, a importância
do alimento não é diferente. No Candomblé, foco deste capítulo,
alimento e alimentação é são essenciais, pois a comida representa uma
das principais ligações entre os seres humanos e os deuses. Oferendas
de alimentos e sacrifícios constituem uma de suas bases teológicas
(NADALINI, 2012).
Os heróis e reis das lendas, que se perpetuam pelo tempo e são as
bases relevantes do Candomblé, são denominados Orixás - divindades
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OLIVEIRA, M.A.S.A.; VANZELLA, E., BRAMBILLA, A. ALIMENTAÇÃO E CULTURA:
PROCESSOS SOCIAIS: sistemas culinários em contexto de ressignificações, comensalidade,
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METODOLOGIA
Esta pesquisa foi construída através de revisão bibliográfica em
literatura brasileira, através de obras publicadas em banco de dados, a
partir dos descritores: candomblé, comida, santo91, orixás, cultura. Após
levantamento bibliográfico, foi possível identificar a chegada dos negros
escravizados no Brasil, a transcrição do conceito de Candomblé, sua
história, cultura, valorização dos ingredientes e da alimentação, suas
Nações92 (o que são e suas representações), além dos deuses que são
cultuados.
Candomblé
A palavra candomblé vem do termo kandombile, que significa
culto e oração (LODY, 1987). A cultura preserva uma poderosa ligação
entre dois planos: o plano sagrado e o plano humano e, inegavelmente, é
a alimentação sagrada que determina a união e manutenção das ações dos
deuses (LODY, 2012). É através dos muitos pratos que constituem o
cardápio que se “possibilitam o reconhecimento, o conhecimento das
peculiaridades das divindades e de como agradá-las, mantendo, assim, a
vida religiosa” (LODY, 2012, p. 23).
Sobre o plano sagrado podem ser citados alguns pilares
importantes como o “Ser supremo”, “ascendentes e o conceito de
Deus”, e a religião se estrutura basicamente pela energia das pessoas e de
91
Termo utilizado dentro do Candomblé que significa Orixá.
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Divisão dentro do Candomblé que veio para o Brasil junto com os escravos. A divisão é baseada na localização que os escravos
moravam na África.
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Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como dono dos raios e dos trovões.
94
Orixá cultuado dentro do cCndomblé, reconhecido como dono da saúde e da morte.
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Divisão dentro do Candomblé que veio para o Brasil junto com os escravos. A divisão é baseada na localização que os escravos
moravam na África.
96
Termo muito utilizado dentro da religião que significa uma ação muito boa. O termo é utilizado quando se está fazendo uma
oferenda ao Orixá, quando se pretende transmitir coisas boas ao Irmão de Santo doente, por exemplo. A palavra remete ao conceito de
força e energia.
97
Dádiva composta por alimentos, adereços, louças e animais que são oferecidos aos Orixás como presentes para que estes atendam
uma graça.
98
Local dentro do terreiro onde são guardados o Ibás.
99
Paramento composto por louças de cerâmica ou de barro, local onde podem ser feitas ofertas ao orixá, pois simboliza a casa dele, é
enfeitado com corrente de Ibá, que é uma corrente com enefeites que simbolizam o Orixá (peixe, coroa, abebé, etc), é considerado um
fundamento da religião.
100
Paramento feio de cerâmica ou de barro que fica ao lado do Ibá no Quarto de Santo, comporta água em seu interior.
101
Entrelaçado de palha que serve como coxim para os Yaôs deitarem.
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contato direto com o chão e assim demonstrar respeito para com o que
ali está sendo oferecido. Do mesmo modo que para todo e qualquer ser
vivo a água é vital, também é para os Orixás, a Quartinha sempre se faz
presente, a fim de que o Santo possa captar a energia proveniente da
água (FARELLI, 2012).
Na figura 1 e 2, detalham-se os Ibás, fundamentos da religião.
Figura 1 – Imagem do Ibá, do Orixá Oxaguiã
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102
Termo utilizado dentro do Candomblé que significa sangue.
103
Termo utilizado dentro do Candomblé que designa as pessoas que frequentam a religião.
104
Celebração dentro do Candomblé que tem como princípio o nascimento do Orixá.
105
Termo utilizado dentro do Candomblé que designa o cargo de autoridade máxima dentro do terreiro.
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Termo utilizado dentro do Candomblé que designa resistência especialmente na questão alimentícia do Yaô.
107
Termo utilizado dentro do Candomblé que significa quem já foi iniciado dentro da religião.
108
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecida como dona dos ventos e das tempestades.
109
Termo utilizado dentro do Candomblé para designar os espíritos que ainda não encontraram uma evolução.
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110
Termo utilizado dentro do Candomblé que designa uma oferenda dedicada à um Orixá a fim de ganhar uma graça ou retirar algo
de ruim que se faça presente na vida da pessoa.
111
Termo utilizado dentro do Candomblé que designa um ritual onde ocorre a renovação da mente, agregando paz e leveza para a
pessoa.
112
Termo utilizado dentro do Candomblé que designa o serviço fúnebre.
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Termo utilizado dentro do Candomblé que significa cabeça, mente.
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114
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecida como a dona dos mares e da água salgada, simboliza a mãe de todos os Orixás.
115
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como o criador de tudo, simboliza o pai de todos os Orixás.
116
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecida como a dona dos pântanos e é um Orixá muito antigo, simboliza a fecundidade e
o primitivo.
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Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecida como a dona das águas doces e é a deusa da beleza, simboliza a fertilidade.
118
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como senhor da caça, simboliza o rei das matas.
119
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como orixá guerreiro, que batalha, renova e constrói as coisas, simboliza Oxalá
jovem.
120
Termo em Iorubá que designa tintura azul, muito utilizada dentro da religião, serve para decorar alimentos, lavagem de ibás e
pintura na cabeça dos filhos recolhidos.
121
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como senhor dos ciclos e dos movimentos, simbolizado pelo arco-íris.
122
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como o senhor da justiça, simbolizado pelos trovões.
123
Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como o senhor das folhas, simbolizando a cura de doenças através das folhas e
componentes que a natureza oferece.
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Orixá cultuado dentro do Candomblé, reconhecido como o senhor do ferro, simboliza o controle sobre a natureza.
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Termo utilizado para designar o azeite extraído através do fruto do dendezeiro. Possui alto índice de uso dentro da cozinha de
Candomblé.
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126
Termo utilizado para o início dos trabalhos evocando os Orixás.
127
Termo utilizado dentro da religião que designa a fava mais sagrada dentro da religião, através da qual o pai de santo se conecta à
uma divindade.
128
Termo utilizado dentro da religião que designa o momento em que os orixás através do Obí transmitem a mensagem de aceitação
ou rejeição da mesa e dos alimentos que ali compõem a mesa especialmente oferecida para eles.
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Termo utilizado dentro da religião que designa alimentos que não possuem características fortes em questão de cor, sabor e odor,
podem ser caracterizados como alimentos brancos arroz, batata, peixe e outros.
130
Termo utilizado dentro da religião que designa Orixás que preferem alimentos predominantes em questão de cor, sabor e odor, um
exemplo desse tipo de alimento é o azeite de dendê.
131
Termo utilizado dentro da religião que designa Orixás que preferem alimentos sem predominância de cor, sabor e odor, exemplos
desse tipo de alimento são a canjica e o inhame.
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Lenda de Omolu: conta a lenda que a mãe de omolu o abandonou na praia e que os caranguejos que o encontraram o beliscaram e
nele formaram muitas feridas. Ao ser percebido ferido, Ogum o cobriu com palhas. No dia da dança, Iansã curiosa para saber o que
havia embaixo daquelas palhas, fez ventar para que as palhas se levantassem e então percebeu que omolu era simplesmente normal e
que não tinha mais nenhuma ferida. Foi, portanto, por suas chagas que ele se cobriu de palhas.
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Termo utilizado dentro da religião para designar o ritual dos sacrifícios animais.
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A Lenda de Nanã conta que em certo desentendimento Ogum bateu em Nanã com um facão e por isso esses Orixás se restringem.
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Yaô-dentro da religião do Candomblé quando uma pessoa recolhe para Fazer o Santo é denominada por Yaô, após dar a obrigação
de sete anos de Santo é que passa a ser denominada como Pai ou Mãe de Santo.
136
Adôxo-é uma massa colocada na cabeça do yaô, sua coloração é azul e tem formato de pirâmide, esse frmato é de grande valia
dentro da religião, pois simboliza a ligação da terra com o céu.
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SANTOS, A.F.; RIBEIRO, C.S.G.; AULER, F. SABORES PARA ORIXÁS: uma mistura de
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para se fortalecer, como também da parte calma, para saber como lidar
com as dificuldades.
A restrição do pombo se dá para os Orixás Ogum e Oxum,
apenas. Segundo conta a lenda, Oxum foi aprisionada por Xangô em
uma torre. Para fugir de Xangô, Oxum pediu ajuda à Exú, o qual a
transformou em pássaro para que ela pudesse fugir. Desta forma, caso
seja oferecido e abatido um pássaro à Oxum, a representar-se-á que a
própria Oxum estará sendo morta (LODY,1987). Ou seja, “os animais
escolhidos para os sacrifícios e para servirem de alimento para os deuses
têm profunda identificação com a divindade obsequiada” (LODY, 2012,
p. 92), e por isso todas as escolhas devem ser pautadas em
conhecimentos profundos sobre as divindades e seus preceitos.
Comida de Oruncó
Quando a pessoa está recolhida143, o Yaô sempre come comidas
brancas, que se baseiam em arroz, sal, peixe, frango e batata, sempre
140
Termo dentro da religião que significa o mundo espiritual.
141
Folha muito utilizada na ritualística do Candomblé, os adeptos acreditam que essa folha traz sorte e prosperidade.
142
Termo utilizado dentro da religião que designa as danças específicas de cada Orixá, através destas que é retratada a própria vida do
Orixá, os seus gostos e preferências são elucidados através de gestos e danças.
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Termo utilizado dentro da religião dque designa a pessoa que está passando pelo processo de iniciação dentro da religião.
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SANTOS, A.F.; RIBEIRO, C.S.G.; AULER, F. SABORES PARA ORIXÁS: uma mistura de
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elaborados com pouco sal, e em cada dia da semana come a comida que
é um fundamento144. Por exemplo, como sexta-feira é dia de Oxalá,
deve-se comer a comida de Oxalá, que é a canjica (FREITAS, 1967).
Entretanto, mesmo tendo de comer somente as comidas brancas,
o Yaô deve comer, no dia de Ogum, o feijão preto, pois aquela comida
não está sendo oferecida especificamente a ele, e sim a este Orixá. Por
estar no Oruncó (no terreiro), aquela comida ou alimento acaba sendo
percebida como um fundamento religioso e, ele pode e, deve comê-lo.
Há para os que estão recolhidos outros rituais associados à
alimentação: as refeições são feitas em pratos de ágata, sendo do mesmo
material feito a sua caneca; há horários certos para comer; as refeições
consumidas são o café da manhã, chá da manhã, almoço, lanche da tarde,
café da tarde e jantar (BENISTE, 2002).
Em todos os momentos em que a pessoa vai se alimentar
ocorrem previamente rezas, cantigas e agradecimentos pelo alimento,
pelo fato do Orixá estar abençoando aquela refeição, pois aquele
alimento sagrado vai fortalecer e alimentar além da pessoa, também o
Orixá (BARCELOS, 1990).
Dentro do Quarto de Santo nunca se fala alto ou se fala sobre
coisas mundanas, sendo que aquele que está Recolhido não é informado
nem mesmo sobre as horas. O contato com o Recolhido é totalmente
restrito, somente aqueles que já são feitos no santo podem ter contato
com o recolhido, ou exceções autorizadas pelo Pai de Santo (RIBEIRO,
1985).
144
Fundamento: é a comida específica de um Orixá, servida ao Yaô no dia de consagração a esse Santo.
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Os banhos de alimentos
Os banhos utilizados dentro da religião remetem à ideia de que
todas as operações dentro de um terreiro de Candomblé (ou mesmo fora
dele) têm sempre os alimentos como base.
Os Banhos de Ervas são compostos por tudo o que poderia ser
ingerido pelos seres humanos, tais como erva doce, camomila, capim
cidreira, hortelã e hibisco são os principais, além de favas (Orobô e Ofá,
as quais não são comestíveis), folhas (como por exemplo, peregum e
danda da costa) e água de canjica. A água de canjica é utilizada por
significar paz, calma, leveza e prosperidade, que são energias positivas
esperadas por qualquer filho de santo após a sua feitura (VARANDA,
1986).
Segundo os entrevistados, os banhos tratam-se somente dos
líquidos, desta forma se existir algum componente como uma flor de
camomila, por exemplo, em um Banho de Ervas, deve-se passar o
mesmo por uma peneira a fim de se retirarem esses compostos. Os
banhos são jogados da cabeça para baixo do corpo, e a pessoa deve estar
sempre ajoelhada ou sentada em um banco de madeira.
Dentro do Candomblé são definidos e usados em rituais três
tipos de sangue, isto é, três tipos de Ejés: o verde (proveniente das
folhas, tem por finalidade limpar a pessoa), o branco (advindo do igbi
que é uma espécie de caramujo, animal representativo do orixá oxalá, e
que tem por finalidade trazer elementos bons para a pessoa, além de
acalmá-la) e o vermelho (oriundo dos animais, tem por finalidade
fortalecer a pessoa e o orixá) (BOTAS, 1996). Todos os tipos de Ejés são
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ano após a feitura, uma vez que se trata de alimentos ácidos e fortes
(FREITAS, 1967).
Todos os que receberam o Santo e cumpriram os rituais passam a
usar um colar de contas nas cores típicas do Orixá, o Quelê, e significa
que se está carregando o próprio Orixá no pescoço, fora do corpo. É
uma aliança com Orixá, e serve para garantir acima de tudo o
cumprimento das regras estabelecidas pela religião durante o período de
Preceito.
Caso, por exemplo, um fio do Quelê se desmanche, o Pai de
Santo estará ciente de que o Preceito não foi cumprido à rigor, e assim o
Santo pode vir a fazer uma cobrança ao Filho que não prosseguiu da
maneira correta durante o Preceito (CARNEIRO, 1961).
Durante o recolhimento são repassadas Rezas universais (Reza de
Orí) e também as específicas para cada Orixá (TRIANA, 2008). Quando
o Yaô está Recolhido existem diversas atividades que mobilizam o
terreiro e seus agregados, essa fase é chamada de Perfuré, e são nesses
dias que a pessoa que acabou de renascer vai aprender as Rezas, as
Quizilas, os Preceitos, os segmentos da religião, a hierarquia e o porquê
das realidades do terreiro, ainda vai aprender sobre o seu Santo e sobre a
religião num contexto histórico (RIBEIRO, 2014).
A partir do momento que a pessoa Fez o Santo ela passa a ter o
dever de zelar pelo Ibá de seu Santo. O Ibá se caracteriza por ser o
assentamento do Orixá, é por onde ele capta a energia da natureza, do
local onde está, e das pessoas, passando a ser a sua casa (VARANDA,
1986).
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145
Termo utilizado dentro da religião que designa uma pedra que a partir da montagem do Ibá, deve permanecer dentro da panela
que compõe o Ibá, simboliza a vitalidade e a energia do Orixá.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
É evidente que existe uma forte ligação entre os alimentos e as
divindades. O que sabe sobre como esses elementos se unem e como se
fazem necessários uns aos outros, uma vez que o alimento é força vital
para os Orixás, se faz presente e é louvado dentro da religião. O
alimento tem forte referência e simbolismo, pois, em um contexto geral
do candomblé e dos seus seguidores, o alimento traz a força, a vitalidade
necessária para que os Orixás usem a energia do alimento e se façam
presentes nos caminhos dos fiéis.
Há amplo conhecimento acerca dos alimentos próprios de cada
Orixá e respeitar tais questões é uma questão ímpar dentro do
candomblé. Os Orixás possuem certos alimentos (referidos no estudo
como “alimentos de valorização”) que são elementos de congratulação, e
quando estes alimentos são ofertados de maneira adequada podem gerar
benfeitorias na vida daquele que fez a oferta aos Orixás. Da mesma
forma que existem alimentos que são bons para ofertas, existe elementos
que são dados como alimentos de restrição, e quando estes alimentos são
ofertados podem ocorrer algumas punições para com aqueles que
fizeram a oferta.
Dentro de uma religião tão vasta como o Candomblé, tanto o
alimento, tal como as demais ofertas realizadas no âmbito da religião,
segue tradições, gerando um elo simbólico dos alimentos com o divino.
Seja pautado por contos e lendas, seja por tradições repassadas entre
gerações, o alimento está presente em todos os rituais realizados no
candomblé, sem exceções.
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OLIVEIRA, M.A.S.A.; VANZELLA, E., BRAMBILLA, A. ALIMENTAÇÃO E CULTURA:
PROCESSOS SOCIAIS: sistemas culinários em contexto de ressignificações, comensalidade,
processos discursivos e religiosos. João Pessoa: Editora do CCTA, 2019.
SANTOS, A.F.; RIBEIRO, C.S.G.; AULER, F. SABORES PARA ORIXÁS: uma mistura de
gastronomia e cultura
REFERÊNCIAS
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Universidade de São Paulo, 2010.
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Queiroz. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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espiritualidade dos orixás. Rio de Janeiro: Vozes, 1996.
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FREITAS, Byron Torres de. Os orixás e o candomblé. 2. ed. Rio de Janeiro: Eco,
1967.
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LODY, Raul. Candomblé: religião e resistência cultural. São Paulo: Ática, 1987.
PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
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SANTOS, Juana Elbein dos. Os nagôs e a morte. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
TRIANA, Barbara. Conheça seus orixás. 3. ed. Rio de Janeiro: Eco, 2008.
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