PROJETO PILOTO DE ACOLHIMENTO - UNIDADE DE SAÚDE DA FAMÍLIA
JARDIM KARLA
INTRODUÇÃO
O acolhimento é uma diretriz da Política Nacional de Humanização (PNH), na
qual não há um profissional singular, uma hora correta para ocorrer ou inclusive um local exato para fazê-lo, implica na escuta das demandas e das queixas dos usuários, levando ao reconhecimento de sua importância no processo de saúde e adoecimento, e na responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes (BRASIL, 2010). A palavra acolhimento está relacionada ao ato de acolher, sendo realizado nas Unidades de Saúde como uma forma de escuta e formação de vínculo entre o usuário e o profissional. O usuário tem o seu primeiro contato através do acolhimento, e o profissional deve dispor de uma postura receptiva, com um olhar humanizando, transmitindo interesse, confiança e apoio ao usuário que procura os serviços de saúde, ofertando não somente um espaço de escuta, mas a garantia do acesso e resolutividade nos serviços, sendo a Unidade Básica de Saúde de seu território um espaço disponível para acolher qualquer tipo de demanda em saúde, acompanhado e cuidado de forma compartilhada. O acolhimento tende a direcionar o cuidado diretamente no usuário em si, e não somente com um olhar voltado para o processo de doença, da mesma forma modificando o foco da atenção, centralizada antes no médico para o enfoque na equipe multidisciplinar. (BRASIL, 2010). Considerando a importância do acolhimento e sua inserção na atenção primária, os residentes do primeiro ano de Saúde Mental do Programa de Residência da Secretaria de Estado da Saúde do Paraná SESA- Escola de Saúde Pública do Paraná ESPP, um projeto piloto de acolhimento, que será implementado inicialmente na Unidade de Saúde da Família Jardim Karla, localizada no munícipio de Pinhais, campo de atuação da residência. O projeto piloto tem enfoque na formação permanente em saúde, para assim ampliar a qualificação dos profissionais e das equipes na abordagem da escuta qualificada, a fim de estabelecer uma relação mais solidária e humanizada com os usuários, tal como o reconhecimento das demandas em saúde mental no nível de atenção básica, sob o ponto de vista de uma equipe multiprofissional, contribuindo para formação e o fortalecimento da equipe, com a intenção de permitir uma corresponsabilização dos casos do seu território, diminuindo os encaminhamentos e aumentando a capacidade resolutiva dos casos relacionados à demanda de saúde mental leve pela equipe local. (Quinderé, 2012). PROBLEMA DE PESQUISA
Quais as ações necessárias para a qualificação da equipe da Unidade de
Saude Jardim Karla - Pinhais referente ao acolhimento das demandas em saúde mental? JUSTIFICATIVA
A atenção básica tem caráter estruturante e estratégico na constituição das
Redes de Atenção, tendo acesso privilegiado ao território e uma vasta gama de ações de promoção de saúde, prevenção de agravos e mesmo intervenções de baixa complexidade. Esse nível de atenção é capaz de dar conta de grande parte das necessidades de saúde de um território, não podendo ser resumida a um ponto pelo qual os usuários passam na busca por encaminhamentos. Para tanto, se faz necessária a articulação de diferentes tipos de tecnologias, a construção de disposição e corresponsabilização, a capacidade de identificar demandas e produzir intervenções de forma resolutiva e abrangente. As ações em saúde mental não são vistas como pertinentes ao escopo da atenção básica por uma série de motivos. Seja por haver uma concepção errônea de que são objeto de trabalho de profissionais especializados, pelo estigma social que associa loucura com periculosidade, ou mesmo pela visão biomédica que situa a subjetividade e o sofrimento psíquico como sendo alheios aos cuidados em saúde, todos esses elementos se traduzem em modos de produção de cuidado com uma série de limitações. Tais falhas podem ser constatadas estatisticamente ao analisar a resolutividade das demandas de saúde mental na atenção básica, que quando não consegue suprir as necessidades da população acaba por exigir um desdobramento dos aparelhos de atenção especializada. São cenários nos quais a baixa corresponsabilização tem como consequência a dependência de níveis mais complexos de intervenção, não pelos casos serem considerados de média ou alta complexidade desde seu início, mas pelo agravamento decorrente da cronificação quadros de saúde mental leves que poderiam ter desfechos muito distintos se tivessem recebido a devida atenção. OBJETIVOS
Objetivo Geral
Qualificar a equipe da Unidade de Saúde da Família Jardim Karla - Pinhais
para o acolhimento de demandas em saúde mental no nível da atenção básica.
Objetivo Específicos
● Elaborar diagnóstico situacional da Unidade de Saúde da Família Jardim
Karla; ● Compreender a percepção da equipe sobre a temática do acolhimento em saúde mental; ● Qualificar o repertório conceitual da equipe referente ao campo da saúde mental; ● Promover a corresponsabilização dos profissionais e serviços; ● Proporcionar ferramentas referente as ofertas de cuidado que estejam de acordo com a demanda dos usuários e os recursos da rede; ● Sensibilizar os trabalhadores da unidade de saúde para reconhecer aspectos de saúde mental em quadros clínicos. REVISÃO DE LITERATURA
Para respondermos a pergunta !Como acolher e estabelecer a gestão do
cuidado na atenção básica ?” é necessário estabelecermos os principais conceitos que nos servirão de base para quaisquer discussões no campo da gestão do cuidado, i.e., “demanda espontânea” e “acolhimento”. Para tanto, utilizaremos para tais fins os Cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde - Volumes I e II, bem como o Caderno de Saúde Mental.
Demanda espontânea pode ser definida como quaisquer questões,
necessidade de informação ou dúvida de quaisquer usuários que não envolvam um plano de intervenção específico, agendado, em acompanhamento ou realizado anteriormente por uma Unidade de Saúde da Família (BRASIL, 2013, Volume I). O acolhimento é a ação de recepção por parte dos agentes que trabalham nas unidades dos usuários, realizando o primeiro contato com estes dispondo-se ao atendimento, ouvindo-os em suas demandas e, por fim, realizar os devidos procedimentos com destreza.
Um dos pontos importantes a serem destacados nos cadernos da atenção
básica é a referência a necessidade de saúde definida pelo usuário "queiramos ou não, o usuário também define, com formas e graus variados, o que é necessidade de saúde para ele" (BRASIL, 2011, p. 20). Destaca-se, para os fins do presente projeto piloto de intervenção, que a unidade de saúde é capaz de reorganizar o processo de seus fluxos e estratificação de risco se se focarem na capacitação profissional do acolhimento. Algumas dúvidas e circunstâncias do usuário acolhido podem ser esclarecidas, tanto melhor se o forem, no acolhimento. O instrumento mais evidente para se realizar com efetividade um acolhimento é a escuta qualificada (BRASIL, 2013, Volume II, p. 15), isto é, a escuta sem julgamentos, atenciosa e elucidativa do ponto de vista do melhor atendimento a ser prestado para o usuário. Quando irá se discutir sobre as dificuldades de se realizar uma acolhimento efetivo e de como se realizará a capacitação dos profissionais envolvidos (principalmente no caso de "demanda espontânea" em que nenhuma prescrição normativa resolveria a instrução à capacitação) deve-se frisar a seguinte premissa: Os profissionais da recepção não são os unicos que realizam o acolhimento. Todos os profissionais da equipe de saúde da família devem estar preparados para acolher a demanda espontânea do usuário da melhor forma possível pois TODOS SÃO AGENTES DE INTERVENÇÃO em níveis diferentes (BRASIL, 2013, Volume I). Nesse sentido, todos esses agentes devem estar atentos aos seguintes pontos a serem analisados na escuta de um usuário:
● Avaliar a necessidade de cuidados imediatos.
● Prestar ou facilitar os primeiros cuidados. ● Identificar as vulnerabilidades individuais ou coletivas. ● Classificar o risco para definir as prioridades de cuidado. ● Organizar a disposição dos pacientes no serviço, de modo a acomodar os que necessitam de observação, ou administração de medicação, ou que estejam esperando remoção para outro serviço, ou que sejam suspeitos de portar doenças infectocontagiosas de transmissão aérea (meningite, por exemplo). ● Encaminhar o usuário para o cuidado de acordo com sua classificação. (BRASIL, 2013, Volume II, p. 20)
Há outros atores que podem contribuir com o acolhimento. Os trabalhadores
do NASF, por exemplo, podem (e devem) atuar para ampliar a resolutividade/capacidade de cuidado das eSF, inclusive diante de situações que se apresentam por demanda espontânea, tanto do ponto de vista clínico como por meio da participação em conversas e atividades relativas ao fluxo dos usuários. Todos os profissionais da equipe de saúde da família (o artigo destaca os residentes médicos e multiprofissionais em saúde da família especialmente) devem estar cientes que o acolhimento é uma chave primordial para o fluxo dos usuários e, mais ainda, compreenderem que a atenção básica é a grande articuladora de rede: referenciando os usuários para o SAMU, UPA e aos setores de atenção secundária e terciária. Ao final, é fundamental construir diálogos, pactos e fluxos com os serviços de retaguarda, sobretudo o SAMU e as unidades de pronto-atendimento e pronto-socorro. O QUE A GESTÃO PODE FAZER PARA AUXILIAR OS PROFISSIONAIS EM SUA CAPACITAÇÃO para o ACOLHIMENTO: sensibilização do estado dos usuários referentes ao território da unidade e a apresentação de diversas situações de acolhimento e dos fluxos corretos para as mesmas situações. METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa-ação, também conhecida como projeto de intervenção.
De acordo com Thiollent (1986) a pesquisa-ação é uma ferramenta utilizada por diferentes áreas de estudo com objetivo de transformação de pequenos e médios grupos, visando facilitar a busca para soluções de problemas reais que estes grupos enfrentam, considerando as prioridades estabelecidas pelos participantes mediante um diagnóstico situacional. Para Padilha (2015), nesta metodologia de pesquisa, o pesquisador está propriamente envolvido em um viés de mudança, onde é necessário que haja uma relação dialética entre pesquisa e ação e tal pesquisa precisa abranger a função de transformação da realidade. Por se tratar de uma pesquisa-ação, para a coleta de dados será utilizado um questionário com os profissionais da Unidade de Saúde, os quais poderão dispor de um diagnóstico situacional adequado, por vivenciarem a realidade da Unidade de Saúde diariamente. Para Marconi e Lakatos (2003), o questionário é um instrumento da coleta de dados, composto por uma série estruturada de perguntas, as quais devem ser respondidas por escrito e sem o auxílio do pesquisador. Normalmente, de acordo com os autores, o questionário é entregue ao participante e assim devolvido para o pesquisador, com o qual deve-se ter informações referentes a natureza da pesquisa, sua relevância e importância da obtenção de respostas, buscando despertar o interesse do participante. Após realizada esta coleta de dados, será realizada uma análise de dados qualitativa, a qual de acordo com Prodanov e Freitas (2013) é aquela que leva em consideração a dinâmica existente entre o mundo real e o sujeito, sendo um vínculo inseparável entre o mundo objetivo e a subjetividade do indivíduo, impossível de transmitir através de dados quantitativos. Os autores referem que tal análise não requer métodos e técnicas estatísticas, mas valoriza o ambiente genuíno como fonte direta para coleta de dados, sendo o pesquisador o instrumento em questão. Por fim, após a análise dos dados, será realizada a estrutura da capacitação em acolhimento em saúde mental destes profissionais. A capacitação será realizada através de oficinas, rodas de conversa, discussão de temas específicos e relevantes e apresentação de materiais informativos. Esses instrumentos serão de grande relevância para apresentação dos aspectos importantes do acolhimento em saúde mental, possibilitando que os profissionais possam, no futuro, realizar cotidianamente esta atividade. CRONOGRAMA
FASE 1- Coleta de dados: pesquisa documental, diagnóstico situacional, aplicação
de questionário. FASE 2- Intervenção: questionário com profissionais da Unidade de Saúde; capacitação com profissionais; FASE 3- Análise de Resultados: cruzamento de dados. RECURSOS NECESSÁRIOS
Recursos Humanos
Profissionais residentes em saúde mental da Escola de Saúde Pública do
Paraná - turma 2021.
Organizacional
Sala com capacidade para até 15 pessoas.
Cognitivo
Informações sobre o tema proposto e estratégias de comunicação.
Material
● Notebook com acesso a internet;
● Datashow; ● Álcool em gel; ● 15 cadeiras; ● Cadernos de Atenção Básica 28 e 34; ● Papel sulfite A4; ● Pranchetas; ● Canetas; ● Flip chart; ● Canetão. RESULTADOS ESPERADOS
Com o desenvolvimento do projeto a ser aplicado na Unidade de Saúde da
Família Jardim Karla, espera-se que o processo de acolhimento às demandas de saúde mental possibilite ampliação do repertório de ações programáticas existentes na USF no que tange o cuidado à saúde mental; de acordo com os objetivos da Atenção Básica à Saúde de promoção, prevenção e proteção, possibilitar maior assertividade no encaminhamento para as ações programáticas dentro do território da USF, considerando prática intra e extramuros; a partir da qualificação do acolhimento às demandas em saúde mental, reduzir o intenso quantitativo de encaminhamentos aos serviços de maior nível de complexidade, reduizindo filas de espera, resultando também na maior qualidade da oferta de cuidados da rede de atenção psicossocial. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
QUINDERÉ, Paulo Henrique Dias et al. Acessibilidade e resolubilidade da
assistência em saúde mental: a experiência do apoio matricial.Ciência & Saúde Coletiva, Ceará, v. 7, n. 18, p. 2156-2166, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/csc/a/6QmmBSvRK5H5X8vQW4TtF7D/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 15 set. 2021.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE (ed.). ACOLHIMENTO NAS PRÁTICAS DE
PRODUÇÃO DE SAÚDE. 2. ed. Brasília-Df, 2010. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento_praticas_producao_saude. pdf. Acesso em: 15 set. 2021.
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE (ed.). Acolhimento à demanda espontânea /
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – 1. ed.; 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 56 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica; n. 28, V. 1)
BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE (ed.). Acolhimento à demanda espontânea /
Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. – 1. ed.; 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 290 p. : il. – (Cadernos de Atenção Básica n. 28, Volume II)
PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho científico [recurso
eletrônico] : métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico / Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013.
THIOLLENT, Michel, 1947- Metodologia da pesquisa-ação / Michel Thiollent. - São
Paulo : Cortez : Autores Associados, 1986.
LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica 1 Marina de Andrade
Marconi, Eva Maria Lakatos. - 5. ed. - São Paulo : Atlas 2003 Questionário para os profissionais da Unidade de Saúde
1. Qual seu entendimento sobre saúde mental?
2. Você saberia definir o que é acolhimento? 3. Qual a função da triagem na atenção básica? 4. Saberia identificar a diferença entre a triagem e o acolhimento? 5. Quais as ações de saúde mental podem ser desenvolvidas na Unidade Básica de Sáude? Você já participou de alguma? 6. Quais ações já têm sido feitas na UBS com relação à saúde mental? 7. Você sabe quais são os tipos de encaminhamentos possíveis no município de Pinhais com relação a saúde mental? 8. Qual é o perfil dos usuários com demanda em saúde mental na Unidade Básica de Saúde?
ESTUDO DO PROCESSO DE APLICAÇÃO DE UM MODELO DE ATENÇÃO EM SAÚDE NA SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE BELO HORIZONTE, SEGUNDO A LINHA DO CUIDADO - O CASO DE DOIS CENTROS DE SAÚDE, NA VISÃO D