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Universidade Federal de Juiz de Fora

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

A transformação social através da


arquitetura:
Dos modelos punitivos aos modelos socioeducativos

Jéssica de Souza Christo

JUIZ DE FORA
01, 2022
A transformação social através da
arquitetura:
Dos modelos punitivos aos modelos socioeducativos

Jéssica de Souza Christo

Universidade Federal de Juiz de Fora


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

Orientador: Megg Francisca Sousa

JUIZ DE FORA
01, 2022
A TRANSFORMAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA ARQUITETURA:
Dos modelos punitivos aos modelos socioeducativos

Jéssica de Souza Christo

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO FACULDADE DE AR-


QUITETURA E URBANISMO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA,
COMO PARTE INTEGRANTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO
DO GRAU DE BACHAREL EM ARQUITETURA E URBANISMO.

Aprovada por:

Megg Francisca Sousa


Prof.

<<Nome do Examinador 1>>


<<Tı́tulo do Examinador 1>>

<<Nome do Examinador 2>>


<<Tı́tulo do Examinador 2>>

JUIZ DE FORA
01 DE 01, 2022
INSERIR DEDICATÓRIA
Resumo

Este projeto tem como objetivo instaurar uma proposta de reintegração de menores in-
fratores à sociedade, através de medidas socioeducativas.
A proposta inicial é a apresentação de um centro que acomode atividades de
ensino, lazer, acompanhamento, saúde, além de um espaço para abrigar jovens desampa-
rados ou que por motivos de força maior não possam permanecer sob cuidados de seus
responsáveis e que por isso necessitem ficar sob tutela do governo.
O centro terá como finalidade promover um ambiente saudável e que garanta a
recuperação desses jovens, para que os mesmos sejam reinseridos na sociedade de modo
a preservar seus futuros como cidadãos e a segurança de toda a comunidade a qual estão
inseridos.

Palavras-chave: Palavra1, Palavra2, Palavra3, Palavra4.


Abstract

Texto do resumo em inglês

Keywords: Word1, Word2, Word3, Word4.


Agradecimentos

Texto de agradecimento
Texto epigrafe
Autor (texto retirado de)
Conteúdo

Lista de Figuras 7

Lista de Tabelas 8

Lista de Abreviações 9

1 Introdução 10
1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2 Metodologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 Resultados esperados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2 Sociedade Atual 12
2.1 Grandes Centros Urbanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.1 Crescimento Populacional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.2 Ocupação descontrolada das grandes cidades . . . . . . . . . . . . . 12
2.1.3 Desigualdade social . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.1.4 Segregação do uso e espaços . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.5 Violência e criminalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.6 Jovens infratores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3 Perspectiva histórica 19
3.1 Problema histórico mal resolvido (Raiz do problema) . . . . . . . . . . . . 26
3.1.1 Brasil Colônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1.2 Deposito de criminosos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3.1.3 Linha do tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4 Conceitos 27

5 Metodologia 34

6 Estudos de caso 35

7 Proposição de projeto 36

Bibliografia 37
Lista de Figuras
Lista de Tabelas
Lista de Abreviações

DCC Departamento de Ciência da Computução


UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora
10

1 Introdução

1.1 Objetivos

Trabalhar a função social da arquitetura e do urbanismo dentro de um tema estigmati-


zado pela sociedade. Mostrando a importância da aplicação de conhecimentos da área
para desenvolvimento humano e social, bem como a responsabilidade dos profissionais
arquitetos e urbanistas para com o desenvolvimento social da comunidade como um todo.
Conectar arquitetura e sua relação com a humanidade, com isso sua função social
bem como sua existência como ferramenta que fomenta meios lógicos e justos do ser
humano existir, viver, trabalhar, estudar e suas aplicações no que tange ao educar e
socializar. No seu cerne a arquitetura é uma das ferramentas mais antigas e importantes
no que tange a prática dos conceitos de diversas áreas de estudos aplicadas às ciências
sociais. Tendo isso em vista, este trabalho busca “estudar” a aplicação de tal ferramenta
em um assunto sensı́vel às vistas de uma sociedade que foi construı́da ao longo de milênios
em fundamentos retrógrados, que alimentam bloqueios tornando assuntos de extrema
importância social e para desenvolvimento humano, em tabus. Portanto, o objetivo deste
trabalho é mostrar a importância da arquitetura e do urbanismo na desconstrução de pré-
conceitos, que ao longo dos anos só resultaram em segregação, degradação, humilhação e
estigmatizou toda uma classe.
Enquanto arquitetos e urbanistas, temos como dever colaborar na construção de
uma sociedade mais justa e igualitária, promovendo através de ações e projetos espaciais,
resultados positivos sociais.

1.2 Metodologia

Revisão bibliográfica, pesquisa documental, Pesquisa Ex-Post Facto, estudos de caso.


Abordagens de pesquisa dos tipos:
1.3 Resultados esperados 11
1.3 Resultados esperados

Atender a função social da arquitetura promovendo:

• Combate a evasão escolar

• Profissionalização

• Proteção e orientação

• Infraestrutura e suporte

• Espaço destinado a utilização da população

• Trabalho comunitário
12

2 Sociedade Atual
Há uma grande discussão a cerca do tema “Como a violência modifica/constrói as grandes
cidades”, mas pouco se discute sobre como as grandes cidades e seus modos insustentáveis
implicam no aumento da violência.
O Brasil apresenta em seu cerne uma grande problemática, a desigualdade so-
cial. Fatos ocorridos desde o descobrimento do paı́s, perpassando o perı́odo colonial,
sua independência, proclamação da república e que, ainda nos tempos atuais, garantem
condições negativas que impactam a sociedade e geram feridas(Cicatrizes) que impedem
o crescimento saudável da população no geral.
Os grandes centros urbanos apresentam atualmente, de forma mais preocupante
e descarada, os reflexos das más escolhas feitas no passado. Sendo portanto construções
resultantes de um processo histórico falho, desigual, violento e segregacionista.

2.1 Grandes Centros Urbanos

Em o “Fenômeno Urbano, A metrópole e a vida mental”, Georg Simmel apresentará um


ensaio que irá discorrer sobre uma análise moderna, fazendo um paralelo entre a cidade
pequena e a grande metrópole e seus impactos na vida de seus integrantes.

2.1.1 Crescimento Populacional

É uma marcante no mundo e impactante nos grandes centros urbanos, já que os imigran-
tes, que buscam melhores condições de vida e oportunidades, tem como foco as grandes
cidades. Infelizmente o avanço estrutural não acompanha a crescente populacional, o que
muitas vezes resulta na ocupação informal.

2.1.2 Ocupação descontrolada das grandes cidades

A ocupação informal tem raiz histórica segregacionista e traz problemáticas de cunho


social, econômico e racial. Baixa qualidade de vida, bem como falta de infraestrutura
2.1 Grandes Centros Urbanos 13
para a população, principalmente no que tange a saúde, educação, moradia, mobilidade
e também a segurança, são extras.

2.1.3 Desigualdade social

Visivelmente gritante, é um termo minimamente cabı́vel. A desigualdade social no Brasil


cresceu e com ela os:
(https://www.politize.com.br/desigualdade-social/)
(https://www.politize.com.br/desigualdade-social/)
- Privilégios de alguns grupos sociais
(“Fenômeno Urbano, A metrópole e a vida mental”, Georg Simmel)
Em detrimento de outros.
-[Desigualdade social: um problema sistêmico e urgente - Politize!]
(https://www.politize.com.br/desigualdade-social/)
“O fenômeno da desigualdade se manifesta no acesso aos direitos mas, principal-
mente no acesso a oportunidades. De acordo com Rosseau, a desigualdade tende a se
acumular.”
É um ciclo vicioso: esses grupos se mantêm com seus privilégios e num cı́rculo
restrito, relacionando-se social e economicamente por gerações a fio. A grande questão é:
o que fazem aqueles que estão à margem dessa bolha social?
A Perpetuação das desigualdades:
As pessoas que são marginalizadas sofrem os maus efeitos da existência dessas
bolhas sociais e econômicas, sem lhes ser concedidas oportunidades de vida, de estudo
e de crescimento profissional da mesma maneira que às outras pessoas. Nesse sentido,
quem é de uma famı́lia pobre tem menos probabilidade de ter uma excelente educação e
instrução; assim, com baixo nı́vel de escolaridade, terão destinados a si certos empregos
sem grande prestı́gio social e com uma remuneração modesta, mantendo seu status social
intacto.
Por essa razão, a meritocracia é um mito: não há como clamar que uma classe
social alcança bons feitos por mérito, frente a outra que sequer consegue acessar as mesmas
oportunidades. Um princı́pio do direito prega em tratar os iguais como iguais e os desiguais
2.1 Grandes Centros Urbanos 14
como desiguais, com o intuito de reconhecer como a força das vivências, dos locais de
origens e da vida social tendem a se manter os mesmos por décadas.
[...] a concentração do dinheiro, ou seja, a má distribuição de renda. Sendo
a desigualdade social o fruto da concentração de dinheiro e poder a uma parte muito
pequena da população, o que resta à grande parcela da sociedade é dividir o restante.
Algumas das causas da desigualdade social
- Má distribuição de renda – e concentração do poder;***
- Má administração de recursos – principalmente públicos;***
- Lógica de mercado do sistema capitalista – quanto mais lucro para as empresas
e os donos de empresa, melhor;
- Falta de investimento nas áreas sociais, em cultura, em assistência a populações
mais carentes, em saúde, educação;***
- Falta de [oportunidade de trabalho](https://www.politize.com.br/principios-do-
direito-do-trabalho/).***”
*** Minhas propostas atendem a
A desigualdade social está em diversos âmbitos da sociedade, desde questões de
gênero, raça e de classe, o que torna ainda mais importante sua discussão e, para além
disso, ações efetivas para sua redução (mitigar) em vias de fato.
“De gênero: discriminação de oportunidades, de tratamento, de direitos, de li-
berdade.
Racial: A desigualdade começa já na discussão de oportunidades: onde as pessoas
negras moram e crescem hoje? (Procurar: Estudo que fala sobre como a região onde as
pessoas nascem impactam nas oportunidades que ela terá na vida) Como herança da escra-
vidão,[72% dos moradores de favela são negros](http://virgula.uol.com.br/comportamento/novo-
livro-revela-que-72-dos-que-moram-em-favelas-sao-negros-95-se-dizem-felizes/). Sete em
cada dez casas que recebem o benefı́cio do Bolsa Famı́lia são chefiadas por negros,[segundo
dados do estudo Retrato das desigualdades de gênero e raça, do Ipea](http://exame.abril.com.br/brasi
dados-que-mostram-o-abismo-social-entre-negros-e-brancos/). Além disso, o analfabe-
tismo é duas vezes maior entre negros do que entre brancos.
Desigualdade de classes: Varia de acordo com o autor apresentado.”
2.1 Grandes Centros Urbanos 15
”- Desigualdade Social a partir das Ideias de Max Weber: Ligadas aos privilégios
e prestı́gios, sendo uma forma de estratificação social. Essas classes tendem a se manter
estáveis ao longo de gerações, reproduzindo a desigualdade com as classes inferiores.
- Desigualdade Social a partir das Ideias de Karl Marx: Existem duas grandes
classes: a trabalhadora (proletariado) e os capitalistas (burguesia). Enquanto os traba-
lhadores se importam em sobreviver, os capitalistas se preocupam com o lucro. E, assim,
criam as desigualdades e os conflitos sociais, como a opressão e a exploração.
- [Desigualdade Social a partir das Ideias de Rousseau - FASBAM](https://fasbam.edu.br/201
social-a-partir-das-ideias-de-rousseau/):
“Rousseau fala que a propriedade foi a causa da corrupção do homem, a partir
do momento em que ele entra na sociedade, a qual é originada da própria propriedade. O
homem, portanto, torna-se um pervertido e passa a se deixar levar pelas condutas egoı́stas
visando os seus interesses particulares com a criação da propriedade. Podemos constatar
o nascimento de tal tragédia, por exemplo, quando o primeiro homem que, tendo cercado
um terreno, atreveu-se a dizer: Isto é meu, e encontrou pessoas simples o suficiente para
acreditar nele, foi esse o iniciador da sociedade civil.
Para Rousseau, aquele que institui a propriedade privada, é o legı́timo fundador
da sociedade civil.
A desigualdade nasce com a propriedade. E, com a propriedade, nasce a hostili-
dade entre os homens. No mundo primitivo, tudo era de todos, totalmente diferente do
que vemos atualmente.
É pela aquisição da posse de bens que os homens passam a ser desiguais entre si.
Rousseau fala que os homens, desfrutam de um grande lazer, empregam-se para
obter vários tipos de comodidades desconhecidas de seus pais; e foi esse o primeiro jugo
que impensadamente se impuseram e a primeira fonte de males que prepararam para seus
descendentes, pois além de continuarem assim a enfraquecer o corpo e o espı́rito, ao se
habilitarem com essas comodidades, estas perderam quase todo o atrativo e ao mesmo
tempo degeneraram em verdadeiras necessidades. Assim a privação delas tornou-se mais
cruel do que doce era a sua posse, e sentiram-se infelizes por perdê-las, e sem serem felizes
por possuı́-las (as comodidades). Ele expõe ainda que o mal foi imposto pelo próprio
2.1 Grandes Centros Urbanos 16
homem, ao criar tal situação prazerosa em ambição de si, mas que ao perder o controle
desse estado ele entra em desespero; o que parecia algo maravilhoso passou a ser uma
tortura, quando esse não possui a posse do bem desejado. De acordo com Rousseau o que
também gerou o surgimento da desigualdade são os sentimentos de grandeza e de vaidade
e outras desmoralizações:
Por isso vemos que o primeiro passo para a desigualdade e para o vı́cio ao mesmo
tempo; dessas primeiras preferências nasceram de um lado a vaidade e o desprezo, do
outro a vergonha e o desejo; e a fermentação causada por esses novos germes produziram
por fim compostos contra à felicidade e à inocência.
Em suma, percebe-se que o que faz a desigualdade aumentar na sociedade é o
sentimento de altivez em relação ao próximo, o orgulho e a soberba de alguns em relação
a outros. Aqueles que de alguma forma possuı́am um grau mais elevado de perfeição,
que se auto julgam melhores em analogia ao outro que não se sobressaı́am a eles. Para
Rousseau, este sentimento é ilusório, pois aparenta uma felicidade e uma superioridade,
mas na verdade é um sentimento inocente, pois este sentimento traz consigo o engano
e o mal para si e para aqueles que estão próximos. Tais atitudes causam entre os seres
humanos situações de desigualdades sociais em grande escala, pois com eles a bondade e a
auto-piedade natural do homem desapareceram, só restando o egoı́smo cruel que consome
o homem em maldade.”
-[Rousseau e a desigualdade entre os homens - Filosofia - InfoEscola]
(https://www.infoescola.com/filosofia/rousseau-e-a-desigualdade-entre-os-homens/):
“toda desigualdade se baseia na noção de propriedade particular criado pelo ho-
mem e o sentimento de insegurança com relação aos demais seres humanos.
[...] ideia de propriedade, fosse ela um animal, terras, armas e, até mesmo, outras
pessoas.
Essa noção de propriedade criou nos primitivos a ideia de acumulação de bens
e, consequentemente, superioridade frente aos demais. Essa suposta superioridade foi o
estopim para o inı́cio dos conflitos entre os homens de uma mesma tribo e, posteriormente,
entre cidades e nações.
[...] o lazer se instituiu, porém, com o passar do tempo, o que era comodidade
2.1 Grandes Centros Urbanos 17
passou a ser visto como necessidade e novos conflitos surgiram, fazendo com que o homem
ficasse mais infeliz pela privação das comodidades, do que feliz de possuı́-las.
Assim, segundo Rousseau, as desigualdades entre os homens têm como base a
noção de propriedade privada e a necessidade de um superar o outro, numa busca cons-
tante de poder e riquezas, para subjugar os seus semelhantes.
- Dados atuais:
“De acordo com o [estudo] (https://www.anfip.org.br/geral/aumenta-desigualdade-
social-no-pais-revela-pesquisa-do-ibge/) liberado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatı́stica (IBGE), a concentração de renda aumentou em 2018 no paı́s. Os dados mos-
tram que o rendimento mensal dos 1% mais ricos do paı́s é quase 34 vezes maior do que
o rendimento da metade mais pobre da população.
Ainda, o estudo [mostrou] (https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/10/16/desigu
aumentou-no-brasil-em-2018-aponta-ibge.ghtml) que a renda dos 5% mais pobres caiu em
3%, enquanto a renda dos 1% mais ricos aumentou em 8%. Assim, o Índice de Gini –
instrumento utilizado para medir a desigualdade no Brasil – voltou a subir. Em 2018,
alcançou o número de 0,509. Vale lembrar que o ı́ndice varia de zero a um. Quanto mais
próximo de um, pior é a distribuição de renda no paı́s.”
[Discurso sobre a origem da desigualdade (dominiopublico.gov.br)]
(http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cv000053.pdf) (Material Rous-
seau)
- Poder de compra “Fenômeno Urbano, A metrópole e a vida mental”, Georg
Simmel - Melhor acesso a serviços públicos básicos (privilégio de localização, saneamento
básico)

2.1.4 Segregação do uso e espaços

Especulação imobiliária

Desapropriação

Áreas periféricas

- Negligência governamental
2.1 Grandes Centros Urbanos 18
- Ausência de infraestrutura
- Baixa qualidade de vida

Filme: “Cidade de Deus”

Apropriação desigual dos espaços públicos

Discriminação espacial de determinadas classes sociais

Ausência de áreas de lazer (comuns e gratuitas)

Condomı́nios da classe média/alta

Filme “O som ao redor”

Descontentamento da população

2.1.5 Violência e criminalidade

Questões de saúde e segurança públicas

Mas que, infelizmente, graças a

Construção de preceitos e preconceitos

Que limitam a ação social, virou um tema tabu.

Atualidade

Construções sociais que limitam

2.1.6 Jovens infratores


19

3 Perspectiva histórica
A. Mundo
Século XVI com as casas de correção na Europa:
1º momento:
- Século XVI, em 1589, quando a corte de Amsterdã foi contra uma sentença
destinada a um garoto de dezesseis anos, que tinha sido condenado à pena de
morte por roubo.
. Começam a repensar a punição para menores;
. Abrigo aos excluı́dos: mendigos, mulheres de comportamento imoral, crianças
abandonadas e jovens que cometiam algum crime;
. Adaptação de construções já existentes: antigos conventos, hospı́cios e hospitais;
. Não se considera a importância do espaço na recuperação.
2º momento:
- Século XVIII e XIX:
. Abrigo para jovens: abandonados, delinquentes ou órfãos; . Novas edificações;
. Diferenciação quanto a idade, mas não quanto ao crime cometido;
. Exemplo: A casa de correção de San Michele em Roma, arquiteto Carlo Fontana,
ano de 1705, parece ser a primeira edificação construı́da com o propósito de ser uma casa
de correção.
. Arquitetura como instrumento de disciplina: Controle como forma de disciplina
e vigilância generalizada para imposição do poder. (tal como na idéia do panóptico de
Bentham para as prisões)
- Século XIX:
. Primeiras colônias destinadas ao aprisionamento de crianças e jovens; . Exem-
plo: Colônia de Mettray, de 1840. Baseada em tecnologias coercitivas do comportamento;
. Não há separação pelo erro cometido;
. Modelo construtivo de “vilas” com uma igreja ao centro.
3º momento:
3 Perspectiva histórica 20
- Final do século XIX:
. Instituições destinadas a usos cada vez mais especı́ficos;
. Utilizam-se dos mecanismos prisionais: continuidade às estratégias punitivas;
. Espaços diferenciados de acordo com as especificidades de cada grupo: orfana-
tos, escolas para aprendizes e instituições especı́ficas para os jovens que cometem crimes;
. Surgimento da justiça para menores.
- Após a Segunda guerra mundial:
. Discussão sobre a garantia aos direitos humanos: Declaração Universal dos
Direitos do Homem, em 1948;
. Visão humanista;
. Em 1959, a Assembléia Geral da ONU aprova a Declaração Universal dos
Direitos da Criança: Distinção entre o tratamento de crianças e adolescentes dos adultos.
. Na década de 1980, é destacada a garantia de direitos e deveres dos jovens
privados de liberdade;
. Tratados e convenções que envolvem crianças e adolescentes:
Regras Mı́nimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Meno-
res (Regras de Beijing - 1985), Regras Mı́nimas das Nações Unidas para a Proteção dos
Jovens Privados de Liberdade (1990) e Diretrizes das Nações Unidas para Prevenção da
Delinqüência Juvenil (Diretrizes de Riad - 1990) são alguns exemplos de normas interna-
cionais voltadas para jovens privados de liberdade;
“As mudanças ocorridas na Europa têm rebatimento no Brasil, e se refletem nas
novas formas de pensar sobre esse espaço e nas diversas alterações em nossa legislação ao
longo da história.”
B. Brasil
“Assim como ocorreu na Europa, considerando as diferenças e especificidades
locais, distinguem-se no Brasil algumas fases que retratam o panorama dos espaços des-
tinados à internação dos adolescentes em conflito com a lei. Tais questões estão atreladas
às mudanças sociais e polı́ticas ocorridas em nosso paı́s.”
- Código Criminal do Império de 1830:
. Distinção de tratamento entre adultos e crianças e adolescentes, assim como a
3 Perspectiva histórica 21
responsabilização dos menores que 21 anos.
. Os menores eram lançados em prisões de adultos.
- Século XIX:
. Abrigos em instituições - Companhias de Aprendizes Marinheiros e as Escolas
de Aprendizes dos Arsenais de Guerra -, bem como em casas de detenções adultas;
. Sem distinção, para jovens criminosos, abandonados ou com atitudes divergentes
da geral;
. Existência de colônias de caráter filantrópico, baseadas nos modelos europeus.
1º Momento:
- Perı́odo Imperial:
. Escolas militares e instituições filantrópicas: para excluı́dos de um modo geral;
2º Momento:
- República:
. Aumento da industrialização e concentração urbana;
. Polı́tica de higienização social: abrigo para os excluı́dos: pobres, abandonados,
mendigos e os menores.
. Decreto de 11 de julho de 1893: autoriza a criação de instituições destinadas
aos jovens delinqüentes e aos abandonados;
. Reformatórios: “isolavam os “desviantes da ordem” para prevenir a “conta-
minação” e para ensinar os internos a necessidade de comportamentos e disciplinas.”
. Casas de correção: surgem no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Rio de Janeiro: A Colônia Correcional de Dois Rios (1902) e a Escola de Menores
Abandonados (1907). As prisões destinadas a adultos continuavam a receber menores e
atuavam como local de castigo.
São Paulo: Instituto Disciplinar em (1902), que era dividido em alas, sendo uma
delas exclusiva para receber jovens infratores.
As casas de correção se situavam em ilhas e espaços bem distantes da cidade,
enfatizando o estigma da instituição, desde a sua criação, como local de isolamento.
. Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância (1920).
. Polı́ticas de Proteção e Assistência ao Menor Abandonado e Delinquente (1921),
3 Perspectiva histórica 22
Lei Federal no 4.242: Caráter assistencialista de repressão.
. Surgimento do “Regulamento de Assistência aos Menores Abandonados e De-
linquentes” (1923), Decreto no 16.272.
. Código de Menores (1927), Decreto nº 17.943: caráter higienista e correcional.
Conceitua o termo ‘’menor”, aplicado ao jovem pobre, marginal e delinquente.
3º Momento:
- Era Vargas (1930 -1945):
. Governo baseado no populismo e no paternalismo: O estado adota a polı́tica
do bem estar social;
. São criados vários estabelecimentos de assistência e proteção ao menor.
- Ditadura Vargas (1937-1945):
. Reformatórios SAM - Serviço de Assistência a Menores: Sem diferenciação
entre infratores e abandonados.
- Regime liberal populista (1950 e 1960):
. Denúncias da imprensa revelam os problemas estruturais, torturas e maus tratos
no SAM: Revoltas e motins;
- Ditadura militar (1964):
. Extinção SAM;
. Criação FUNABEM - Fundação de Amparo ao Bem Estar do Menor: Ideologia
de segurança nacional contra o comunismo. Propõe reeducação dos jovens e proteção a
torturas e maus tratos;
Propósito integrativo e educacional com ênfase à participação da famı́lia, entre-
tanto, manteve-se a conduta tecnocrata e autoritária.
. Surgimento da FEBEM - Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor: mesma
estrutura fı́sica e é caracterizada pela repressão e assistencialismo.
“tendo a FEBEM herdado as instalações do SAM, mantendo as caracterı́sticas
opressoras e de difı́cil visibilidade dos acontecimentos em seu interior”.
. CPI do Menor em 1976: denúncias de falta de estrutura fı́sica, torturas, maus
tratos e rebeliões. Falência do sistema repressivo de tratamento do menor. Mesma estru-
tura, mesma ineficácia.
3 Perspectiva histórica 23
. Novo Código de Menores, Lei no 6.697/1979: O jovem deixa de ser abandonado
e delinqüente e passa a ser considerado “em situação irregular”.
Caráter punitivo, com sanções disfarçadas de proteção.
- Fim do regime militar:
. Grande mudança na sociedade brasileira;
. Discussões internacionais sobre os direitos humanos, 1980: maior preocupação
dos juristas ao que tange a cidadania;
. Reformulação do sistema de amparo legal ao menor: Art. 227 da Constituição
Federal Brasileira de 1988.
4º Momento:
- Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, LEI Nº 8.069, 1990:
. Teoria da proteção integral: Agora os direitos de qualquer jovem estão protegi-
dos, esteja ele ou não em conflito com a lei.
. A imputabilidade penal inicia-se somente aos dezoito anos (artigo 228 da Cons-
tituição Federal e artigo 104 do ECA).
. A conduta delituosa da criança e do adolescente, seja ela crime ou contravenção
penal, é denominada tecnicamente de ato infracional, nos termos do artigo 103 do ECA.
. Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
. A criança que cometa ato infracional, fica sujeita à aplicação de medidas pro-
tetivas constantes no artigo 101 do ECA.. O adolescente que cometa ato infracional,
fica sujeito, a depender da gravidade do ato e de suas condições pessoais, à aplicação de
medida socioeducativa elencadas no artigo 112 do ECA. Quais sejam:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
3 Perspectiva histórica 24
. Criação do Conselho Nacional de Direitos da Criança – CONANDA (1991):
Órgão responsável pela implementação da Teoria da proteção integral.
- Medidas socioeducativas:
. Cabı́veis a adolescentes que cometem atos infracionais;
. “possui dimensão jurı́dico-sancionatória e uma dimensão substancial ético-
pedagógica”;
. A internação em estabelecimento educacional é a mais grave de todas as me-
didas, pois é a única onde o adolescente é privado totalmente da sua liberdade de ir e
vir;
. O ECA estabelece a necessidade de um espaço arquitetônico adequado para que
sejam desempenhadas as atividades pedagógicas:
Art. 123 (...)
Parágrafo único. Durante o perı́odo de internação, inclusive provisória, serão
obrigatórias atividades pedagógicas.
Art. 124 (...)
VII – receber visitas, ao menos semanalmente; (...)
X – habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI – receber escolarização ou profissionalização;
XII – realizar atividades culturais, esportivas e de lazer; (...)
XV – manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para
guardá-los (...)
. A FEBEM, assim como polı́ticas repressivas continuam existindo neste mo-
mento;
. “Mapeamento realizado em 2003 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
– IPEA – sobre a situação do sistema de atendimento socioeducativo ao adolescente em
conflito com a lei, constatou-se que, mesmo após 12 anos de implantação do Estatuto
da Criança e do Adolescente, 71% das unidades existentes no Brasil não apresentavam
espaço fı́sico adequado para a consecução das propostas pedagógicas.”
. Presença de caracterı́sticas de unidades prisionais: Questões de segurança em
detrimento da polı́tica socioeducativa.
3 Perspectiva histórica 25
Ainda era preciso a adoção de diretrizes para a construção de novas estruturas
fı́sicas, com função primordial de educar, bem como para o trabalho com os profissionais
envolvidos na ação socioeducativa, caso contrário, o Estatuto se tornaria uma letra morta,
tal como as legislações anteriores.
- O SINASE e a arquitetura socioeducativa:
. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA
aprova o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE em 2006;
Primeiro documento que traz parâmetros arquitetônicos aliados com parâmetros
de gestão pedagógica para a construção de edificações destinadas aos adolescentes em
conflito com a lei.
. É apresentado o projeto de lei (PLC 134/2009), que exige o cumprimento das
diretrizes contidas no documento do SINASE, que foi aprovado como Lei Nº 12.594 em
2012.
. O documento do SINASE é o primeiro a se utilizar do termo Arquitetura
Socioeducativa;
Prevendo o espaço fı́sico como elemento promotor do desenvolvimento pessoal,
relacional, afetivo e social do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa.
. Arquitetos e engenheiros não participaram tão ativamente da elaboração das
diretrizes do documento;
. “O programa de necessidades vem sendo criticado por alguns arquitetos, pela
grande dimensão das áreas mı́nimas que inviabilizam a execução da proposta em alguns
terrenos cedidos pelo governo.”
. “[...] programa de necessidades do SINASE não define uma arquitetura como
sendo socioeducativa ou não. É preciso que se considerem as diretrizes que envolvem a
ação socioeducativa, bem como as bases éticas e jurı́dicas que a norteiam.”
3.1 Problema histórico mal resolvido (Raiz do problema) 26

3.1 Problema histórico mal resolvido (Raiz do pro-

blema)

3.1.1 Brasil Colônia

3.1.2 Deposito de criminosos

3.1.3 Linha do tempo

Eventos históricos relacionados

Ressocialização de menores infratores


27

4 Conceitos
Criança: Indivı́duos menores de 12 anos.
. Adolescente: Indivı́duos entre 12 e 18 anos.
. Medidas socioeducativas: previstas no art. 112 da Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), as quais têm por objetivos:
I - a responsabilização do adolescente quanto às consequências lesivas do ato
infracional, sempre que possı́vel incentivando a sua reparação;
II - a integração social do adolescente e a garantia de seus direitos individuais e
sociais, por meio do cumprimento de seu plano individual de atendimento; e
III - a desaprovação da conduta infracional, efetivando as disposições da sentença
como parâmetro máximo de privação de liberdade ou restrição de direitos, observados os
limites previstos em lei.
. Teoria da Proteção Integral: versa pela proteção dos direitos das crianças e
adolescentes, sem qualquer tipo de diferenciação, ou seja, em qualquer situação os seus
direitos básicos dos jovens devem prevalecer.
. Ato infracional: conduta delituosa da criança e do adolescente, seja ela crime
ou contravenção penal.
. Sinase: conjunto ordenado de princı́pios, regras e critérios que envolvem a
execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais,
distrital e municipais, bem como todos os planos, polı́ticas e programas especı́ficos de
atendimento a adolescente em conflito com a lei.
. Ressocialização:
. Suplı́cio: Pena corporal, dolorosa, mais ou menos atroz [dizia Jaucourt]; e
acrescentava: é um fenômeno inexplicável a extensão da imaginação dos homens para a
barbárie e a
crueldade.5
O suplı́cio repousa na arte quantitativa do sofrimento.
O suplı́cio faz correlacionar o tipo de ferimento fı́sico, a qualidade, a intensidade,
4 Conceitos 28
o tempo dos sofrimentos com a gravidade do crime, a pessoa do criminoso, o nı́vel social
de suas vı́timas.
- O suplı́cio penal não corresponde a qualquer punição corporal: é uma produção
diferenciada de sofrimentos, um ritual organizado para a marcação das vı́timas e
a
manifestação do poder que pune.
. PANÓPTICO DE FOUCAULT:
“O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princı́pio
é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é
vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção
periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da
construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas
da
torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a
lado.
Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco,
um
doente, um condenado, um operário ou um escolar. Pelo efeito da contraluz,
pode-se
perceber da torre, recortando-se exatamente sobre a claridade, as pequenas silhu-
etas
cativas nas celas da periferia. Tantas jaulas, tantos pequenos teatros, em que
cada
ator está sozinho, perfeitamente individualizado e constantemente visı́vel. O
dispositivo panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e
reconhecer imediatamente. Em suma, o princı́pio da masmorra é invertido; ou
antes,
de suas três funções — trancar, privar de luz e esconder — só se conserva a
primeira
e suprimem-se as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor
4 Conceitos 29
que
a sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha.”
“O Panóptico é um local privilegiado para tornar possı́vel a experiência com ho-
mens, e para analisar com toda certeza as transformações que se pode obter neles. O
Panóptico pode até constituir-se em aparelho de controle sobre seus próprios mecanis-
mos. Em sua torre de controle, o diretor pode espionar todos os empregados que tem a
seu serviço: enfermeiros, médicos, contramestres, professores, guardas; poderá julgá-los
continuamente, modificar seu comportamento, impor-lhes métodos que considerar melho-
res; e ele mesmo, por sua vez, poderá ser facilmente observado.”
“É polivalente em suas aplicações: serve para emendar os prisioneiros, mas
também para cuidar dos doentes, instruir os escolares, guardar os loucos, fiscalizar os
operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. É um tipo de implantação dos corpos
no espaço, de distribuição dos indivı́duos em relação mútua, de organização hierárquica,
de disposição dos centros e dos canais de poder, de definição de seus instrumentos e de
modos de intervenção, que se podem utilizar nos hospitais, nas oficinas, nas escolas, nas
prisões. Cada vez que se tratar de uma multiplicidade de indivı́duos a que se deve impor
uma tarefa ou um comportamento, o esquema panóptico poderá ser utilizado.”
CAPÍTULO III O PANOPTISMO (Vigiar e punir)
. ;Modelo panóptico, figura arquitetural idealizada por Jeremy Bentham:
. Punição - discorrer sobre contexto (Vigiar e punir):
- “A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena. E tudo o que pudesse
implicar de
espetáculo desde então terá um cunho negativo; e como as funções da cerimônia
penal deixavam pouco a pouco de ser compreendidas, ficou a suspeita de que tal
rito
que dava um “fecho” ao crime mantinha com ele afinidades espúrias: igualando-o,
ou mesmo ultrapassando-o em selvageria, acostumando os espectadores a uma
ferocidade de que todos queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a freqüência
dos
crimes, fazendo o carrasco se parecer com criminoso, os juizes aos assassinos,
4 Conceitos 30
invertendo no último momento os papéis, fazendo do supliciado um objeto de
piedade e de admiração.”
- “Desaparece, destarte, em princı́pios do século XIX, o grande espetáculo da
punição fı́sica: o corpo supliciado é escamoteado; exclui-se do castigo a encenação
da dor. Penetramos na época da sobriedade punitiva. Podemos considerar o
desaparecimento dos suplı́cios como um objetivo mais ou menos alcançado, no
perı́odo compreendido entre 1830 e 1848.”
- “Se não é mais ao corpo que se dirige a punição, em suas formas mais duras,
sobre o que, então, se exerce?” “Mably formulou o princı́pio decisivo: Que o
castigo, se assim posso exprimir, fira mais a alma do que o corpo.17”
- “O laudo psiquiátrico, mas de maneira mais geral a antropologia criminal e o
discurso repisante da criminologia encontram aı́ uma de suas funções precisas: introdu-
zindo solenemente as infrações no campo dos objetos susceptı́veis de um conhecimento
cientı́fico, dar aos mecanismos da punição legal um poder justificável não mais simples-
mente sobre as infrações, mas sobre os indivı́duos; não mais sobre o que eles fizeram, mas
sobre aquilo que eles são, serão, ou possam ser. “
“[...] os juizes, pouco a pouco, mas por um processo que remonta bem longe no
tempo, começaram a julgar coisa diferente além dos crimes; a “alma” dos criminosos.”
“Impossı́vel, pois, declarar alguém ao mesmo tempo culpado e louco; o diagnóstico
de loucura uma vez declarado não podia ser integrado no juı́zo; ele interrompia o processo
e retirava o poder da justiça sobre o autor do ato.”
“E a sentença que condena ou absolve não é simplesmente um julgamento de
culpa, uma decisão legal que sanciona; ela implica uma apreciação de normalidade e uma
prescrição técnica para uma normalização possı́vel. O juiz de nossos dias — magistrado
ou jurado — faz outra coisa, bem diferente de “julgar”.”
“Pequenas justiças e juizes paralelos se multiplicaram em torno do julgamento
principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da aplicação das penas, edu-
cadores, funcionários da administração penitenciária fracionam o poder legal de punir;”
“Resumindo: desde que funciona o novo sistema penal — o definido pelos
grandes códigos dos séculos XVIII e XIX — um processo global levou os juı́zes a
4 Conceitos 31
julgar coisa bem diversa do que crimes: foram levados em suas sentenças a fazer
coisa diferente de julgar; e o poder de julgar foi, em parte, transferido a instâncias
que não são as dos juizes da infração. A operação penal inteira carregou-se de
elementos e personagens extrajurı́dicos. Pode-se dizer que não há nisso nada de
extraordinário, que é do destino do direito absorver pouco a pouco elementos que
lhe são estranhos. Mas uma coisa é singular na justiça criminal moderna: se ela
se
carrega de tantos elementos extrajurı́dicos, não é para poder qualificá-los
juridicamente e integrá-los pouco a pouco no estrito poder de punir; é, ao contrário,
para poder fazê-los funcionar no interior da operação penal como elementos não
jurı́dicos; é para evitar que essa operação seja pura e simplesmente uma punição
legal; é para escusar o juiz de ser pura e simplesmente aquele que castiga”
- Tratava-se bem de uma revolta, ao nı́vel dos corpos, contra o
próprio corpo da prisão. O que estava em jogo não era o quadro rude demais ou
ascético demais, rudimentar demais ou aperfeiçoado demais da prisão, era sua
materialidade na medida em que ele é instrumento e vetor de poder; era toda
essa
tecnologia do poder sobre o corpo, que a tecnologia da “alma” — a dos educado-
res,
dos psicólogos e dos psiquiatras — não consegue mascarar nem compensar, pela
boa
razão de que não passa de um de seus instrumentos. É desta prisão, com todos
os
investimentos polı́ticos do corpo que ela reúne em sua arquitetura fechada que eu
gostaria de fazer a história. Por puro anacronismo? Não, se entendemos com isso
fazer a história do passado nos termos do presente. Sim, se entendermos com isso
fazer a história do presente.23
. Trechos Vigiar e punir:
- Arquitetura:
CAPÍTULO I: Os CORPOS DÓCEIS
4 Conceitos 32
“O cadafalso onde o corpo do supliciado era exposto à força ritualmente manifesta
do soberano, o teatro punitivo onde a representação do castigo teria sido permanentemente
dada ao corpo social, são substituı́dos por uma grande arquitetura fechada, complexa e
hierarquizada que se integra no próprio corpo do aparelho do Estado. Uma
materialidade totalmente diferente, uma fı́sica do poder totalmente diferente, uma maneira
de investir o corpo do homem totalmente diferente. A partir da Restauração e sob a
monarquia de julho, encontraremos, por pequenas diferenças, entre 40 e 43.000 detentos
nas prisões francesas (mais ou menos um prisioneiro para cada 600 habitantes). O muro
alto, não mais aquele que cerca e protege, não mais aquele que manifesta, por seu prestı́gio,
o poder e a riqueza, mas o muro cuidadosamente trancado, intransponı́vel num sentido
e no outro, e fechado sobre o trabalho agora misterioso da punição, será bem perto e às
vezes mesmo no meio das cidades do século XIX, a figura monótona, ao mesmo tempo
material e simbólica, do poder de punir.”
“O mais antigo desses modelos, o que passa por ter, de perto ou de longe, inspirado
todos os outros, é o Rasphuis de Amsterdam, aberto em 1596.44 Destinava- se em princı́pio
a mendigos ou a jovens malfeitores.”
“Vemos pela própria definição da lei que ela tende não só a defender mas também
a vingar o desprezo de sua autoridade com a punição daqueles que vierem a violar suas
defesas.29”
“A justiça persegue o corpo além de qualquer sofrimento possı́vel.”
“Na França, como na maior parte dos paı́ses europeus — com a notável exceção
da Inglaterra — todo o processo criminal, até à sentença, permanecia secreto: ou
seja
opaco não só para o público mas para o próprio acusado. O processo se desenro-
lava
sem ele. ou pelo menos sem que ele pudesse conhecer a acusação, as imputações,
os
depoimentos, as provas. Na ordem da justiça criminal, o saber era privilégio
absoluto da acusação. “O mais diligente e o mais secretamente que se puder
fazer”,
4 Conceitos 33
dizia, a respeito da instrução, o edito de 1498.”
“ A forma secreta e escrita do processo confere com o principio de que em matéria
criminal o estabelecimento da verdade era para o soberano e seus juizes um direito absoluto
e um poder exclusivo.”
(Pag 48: Imagens)
“Ayrault supunha que esse procedimento (já estabelecida no que tange ao essen-
cial no século XVI) tinha por origem o medo dos tumultos, das gritarias e aclamações que
o povo normalmente faz, o medo de que houvesse desordem, violência e impetuosidade
contra as partes talvez ate mesmo contra os juizes; o rei quereria mostrar com isso que a
“força soberana” de que se origina o direito de punir não pode em caso algum pertencer
à “multidão”.8
Diante da justiça do soberano, todas as vozes devem-se calar”
34

5 Metodologia
35

6 Estudos de caso
36

7 Proposição de projeto
BIBLIOGRAFIA 37

Bibliografia

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