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1.

Diante desse acontecimento, milhões de usuários das plataformas WhatsApp,


Facebook e Instagram foram impactados social e economicamente: muitos as utilizam para se
comunicar, se atualizar e até trabalhar, como empresas que vendem diariamente seus
produtos pela internet e que dependem dela para seu faturamento.
O desespero causado pela falta de uso de tais plataformas demonstra como a nossa
sociedade hoje é completamente dependente das redes digitais. Assim, muitas vezes sem
perceber, as pessoas se submetem por si próprias às forças de dominação, através do controle
ativo dos dados que são voluntariamente expostos e analisados na internet. Esta é a era da
psicopolítica, mais precisamente a psicopolítica digital, uma técnica de dominação
neoliberalista que transforma a liberdade e a comunicação ilimitadas em monitoramento e
controle total, por meio de um poder sedutor e inteligente, que tem como características a
positividade, a motivação e a otimização.
Através dos big data, ou seja, as “enormes quantidades de dados” expostos nas redes,
é possível intervir na psique do usuário e influenciá-la em um nível pré-reflexivo, descobrindo
suas preferências e possibilitando prognósticos sobre o comportamento humano. Esses data,
então, se tornam um big deal, ou seja, um “grande negócio”, porque os dados pessoais
coletados são completamente monetizados e comercializados, transformando as próprias
pessoas em mercadorias e escravas do capital. Portanto, o futuro humano torna-se controlável
e previsível.
Porém, para escapar do controle psicopolítico, existe o idiotismo, um mecanismo que
representa uma prática de liberdade diante da coerção da comunicação e da conformidade: o
idiota é aquele que dispõe de livre escolha por ter se desviado da ortodoxia controladora. Por
exemplo, ele pensaria duas vezes antes de clicar em anúncios recomendados na sua página do
Facebook, para que seus atos não sejam tão previsíveis e ele possa exercer seu livre arbítrio.
2. A peça Édipo Rei tem como ponto inicial uma alerta que o oráculo de Delfos faz a
Laio, de que uma maldição iria se concretizar em sua família e seu próprio filho, Édipo, o
mataria e depois se casaria com a mãe, esposa de Laio. Assim, o Rei julgou que o melhor a ser
feito era matar seu próprio filho antes que a profecia se concretizasse. No entanto, o menino
acabou sobrevivendo e foi adotado por Pólibo, rei de Corinto. Anos mais tarde, Édipo decide
abandonar a cidade que cresceu e, no caminho, encontra um homem e acaba o matando. Esse
homem era seu pai biológico. Assim, a primeira parte da profecia se concretiza. Após algum
tempo, Édipo encontra uma esfinge que lhe propõe um enigma – “qual animal que tem quatro
patas de manhã, duas ao meio-dia e três à noite?” – Édipo consegue solucionar o enigma e se
torna um herói e Rei de Tebas e casa com Jocasta, sua mãe biológica, concretizando a profecia.
Anos mais tarde, Tebas está enfrentando uma terrível peste. Após consultar o oráculo de
Delfos, Creonte informa ao rei que para salvar a cidade da epidemia é preciso encontrar e
punir o assassino de Laio. Por meio de testemunhos e evidências, Édipo descobre sobre a
profecia.
De acordo com o Complexo de Édipo defendido pelo psicanalista Freud, quando uma
criança entende as diferenças entre os sexos, ela passa a ter sentimentos contraditórios de
amor e hostilidade (amor à mãe e ódio ao pai), o que desempenha um papel fundamental na
estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. No entanto, Foucault
discorda dessa interpretação, pois a peça não se trata de revelar os desejos e emoções
inconscientes dos indivíduos, e sim de poder e saber - “não é aquele que não sabia, mas, ao
contrário, é aquele que sabia demais. Aquele que unia seu saber e seu poder” - Édipo temia
perder o seu poder mais do que qualquer outra coisa.
Ademais, a produção da verdade nessa Tragédia Grega é fundamentalmente o
primeiro registro das práticas gregas judiciais e expressa um dos primeiros exemplos de
inquérito. Isso é possível, pois, ao perguntar à Apolo quem matou Laio e o mesmo não
responder, será necessário que um mortal dê as respostas, por meio de evidências e
testemunhos. Portanto, a peça de Édipo é uma maneira de deslocar a enunciação da verdade
de um discurso de tipo profético a um outro discurso, do testemunho.

3. Para Sócrates e Platão, o conhecimento não pode ser ensinado nem transmitido: o
único que pode chegar ao conhecimento verdadeiro é o próprio indivíduo, de forma
raciocinada, a partir dos juízos feitos sobre as coisas. Nos diálogos Mênon e Teeteto, Sócrates
sustenta que o conhecimento é anamnese, ou seja, uma forma de recordação das verdades
desde sempre conhecidas pela alma que reemergem de vez em quando na experiência
concreta. Para que se possa relembrar o conhecimento, é essencial a aporia, a dúvida, o
encontrar-se diante de um empasse. Assim, através da dialética (método filosófico dialógico),
tem-se a experiência maiêutica, em que o conhecimento é “partejado”, colocado para fora.
Hannah Arendt afirma que a maiêutica de Sócrates, ou dialegesthai, é uma forma
filosófica de falar sem persuasão ou retórica, formas artisticamente gregas de oratória política
que se preocupavam com a maneira certa de discursar. Diante da condenação de Sócrates,
Platão passa a duvidar da persuasão, que diz ter origem nas opiniões da polis, e adota como
base de seu pensamento a oposição entre doxa (opinião) e episteme (ciência), desvalorizando
a primeira. Arendt, porém, acredita que tal oposição é anti-socrática, pois Sócrates se
dispunha a participar da polis e a dialogar com as diversas doxas ali presentes. Logo, sua
dialética revelaria a doxa em sua própria verdade, sem o intuito de destruí-la: ele queria
aperfeiçoar as doxai para melhorar a vida política, sendo o papel do filósofo sábio aquele de
tornar seus cidadãos mais verdadeiros.

4. De início, é importante ressaltar que a verdade pode ser abordada em três


perspectivas, sendo elas a aletheia, que defende a ideia de que a verdade é evidência, sendo
contrária à ilusão; a veritas, que afirma que a verdade se apoia no testemunho e, neste caso, a
verdade se opõe a falsidade; e a emunah, que se apresenta em uma realidade judaico-cristã e
diz respeito a imaginação, a uma promessa entre o criador e seu povo, se opondo a mentira.
Nesse sentido, o conceito de pós-verdade foi criado em 1992 pela revista The Nation,
em um contexto de Primeira Guerra do Golfo. Essa expressão é utilizada para apontar que os
fatos objetivos, a segurança, a imparcialidade e a veracidade dos fatos não são influentes na
formação da opinião pública, perdendo foco para as crenças particulares, para a emoção e
para as conclusões precipitadas. Apesar de ser óbvio afirmar que as redes sociais facilitaram e
aumentaram a difusão desse termo, a pós-verdade sempre esteve presente na vida dos seres
humanos. De acordo com Yuval Noah Harari, a capacidade exclusiva do Homo Sapiens de criar
e disseminar ficções permitiu a criação de comunidades, pois, enquanto todos tiverem as
mesmas crenças, todos cooperarão efetivamente – “Para o bem ou para o mal, a ficção está
entre os instrumentos mais eficazes na caixa de ferramentas da humanidade”.
Exemplificando, é possível encontrar a pós-verdade no antissemitismo.
Especificamente, em 1255, espalhou-se um boato por toda a Inglaterra de que uma criança
tinha sido vítima de um assassinato ritual realizado pelos judeus locais. Isso resultou na
execução de 19 homens judeus e, posteriormente, toda a população judaica da Inglaterra foi
expulsa do país – “uma mentira dita uma vez continua uma mentira, mas uma mentira dita mil
vezes torna-se verdade”. Além disso, as fake news são encontradas em conflitos atuais, como a
guerra da Ucrânia e da Rússia, por meio de compartilhamento nas redes sociais de vídeos com
informações falsas e divulgação de imagens antigas, o que resulta em mais caos na vida dos
ucranianos.
Portanto, percebe-se a necessidade de um maior controle de fake news na sociedade
atual. Isso será possível por meio da verificação das fontes de informação, seja por meio do
uso de notícias pagas – para evitar que o produto seja o leitor -, seja por meio da literatura
científica. Além disso, os cientistas precisam estar mais envolvidos nos debates públicos atuais
e na criação de livros de ficção científica, a fim de comunicar as teorias científicas para a
população geral.

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