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AO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE MANAUS-AM.

________ , ________ , ________ , inscrito no CPF


sob nº ________ , ________ , residente e domiciliado
na ________ , ________ , ________ , ________ ,
________ , vem à presença de Vossa Excelência, por
meio do seu Advogado, infra assinado, ajuizar

AÇÃO INDENIZATÓRIA

em face de ________ , pessoa jurídica de direito privado,


inscrita no CNPJ sob nº ________ , ________ , com
sede na ________ , ________ , ________ , na Cidade
de ________ , ________ , ________ , e;

________ , pessoa jurídica de direito privado, inscrita no


CNPJ sob nº ________ , ________ , com sede na
________ , ________ , ________ , na Cidade de
________ , ________ , ________ , pelos motivos e
fatos que passa a expor.

DOS FATOS

Em ________ , o Autor ________ ________ junto à Loja


________ empresa Ré, com pagamento à vista no valor de ________ , o que
se comprova pela Nota Fiscal em anexo.

No entanto, contrariando qualquer expectativa depositada na


compra, após ________ dias da aquisição, o ________ apresentou vícios que
impossibilitaram seu uso, obrigando o Autor a buscar auxílio da empresa Ré
imediatamente.
No entanto, ao chegar no estabelecimento comercial, o Autor
obteve a informação de ________ .

O Autor, por não poder contar com a reposição imediata do


produto/serviço, nem dinheiro para buscar outro, teve que sofrer o desgaste de
ter que procurar por conta os contatos do fabricante, sem que tivesse
igualmente qualquer êxito.

Ao sentir-se lesado, sem qualquer posicionamento das empresas


Rés, o Autor buscou ajuda no PROCON, porém, até o momento nada foi
resolvido, razão pela qual intenta a presente demanda.

DO ENQUADRAMENTO NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A norma que rege a proteção dos direitos do consumidor, define,


de forma cristalina, que o consumidor de produtos e serviços deve ser abrigado
das condutas abusivas de todo e qualquer fornecedor, nos termos do art 3º do
referido Código.

No presente caso, tem-se de forma nítida a relação consumerista


caracterizada, conforme redação do Código de defesa do Consumidor:

Lei. 8.078/90 - Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou


jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem
como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividades de produção, montagem, criação, construção,
transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Lei. 8.078/90 - Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou


jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final.

Assim, uma vez reconhecido o Autor como destinatário


final dos serviços contratados, e demonstrada sua hipossuficiência
técnica, tem-se configurada uma relação de consumo, conforme entendimento
doutrinário sobre o tema:

"Sustentamos, todavia, que o conceito de consumidor


deve ser interpretado a partir de dois elementos: a) a
aplicação do princípio da vulnerabilidade e b) a
destinação econômica não profissional do
produto ou do serviço. Ou seja, em linha de princípio e
tendo em vista a teleologia da legislação protetiva deve-
se identificar o consumidor como o destinatário final
fático e econômico do produto ou serviço." (MIRAGEM,
Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6 ed. Editora RT,
2016. Versão ebook. pg. 16)

Com esse postulado, o Réu não pode eximir-se das


responsabilidades inerentes à sua atividade, dentre as quais prestar a devida
assistência técnica, visto que se trata de um fornecedor de produtos que,
independentemente de culpa, causou danos efetivos a um de seus
consumidores.

DA INDENIZAÇÃO DEVIDA

Ao adquirir um produto ou serviço, o consumidor tem a legítima


expectativa de receber adequado ao uso de acordo com as expectativas geradas
na compra, ou seja, sem a necessidade de qualquer adaptação, e principalmente,
que este não possua nenhum defeito ou algum vício que lhe diminua o valor ou
que o impossibilite de utilizá-lo normalmente.

É sabido que a responsabilidade refere-se a qualquer vício ou


defeito, seja ele de quantidade ou qualidade, nos termos do Código de Defesa do
Consumidor:

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou


estrangeiro, e o importador respondem,
independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores
por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua utilização e riscos.
(...)
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos
vícios de qualidade que os tornem impróprios ao
consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações
constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o
consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

Assim, constatado ________ e não solucionado no prazo legal,


tem-se o direito à substituição do produto ou devolução do valor pago.

DAS PERDAS E DANOS

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova testemunhal


que que será produzida no presente processo, o nexo causal entre o dano e a
conduta da Ré fica perfeitamente caracterizado pelo ________ , gerando o
dever de indenizar, conforme preconiza o Código Civil:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão


voluntária, negligência ou imprudência, violar
direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um


direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente
os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

Nesse mesmo sentido, é a redação do art. 402 do Código Civil que


determina: "salvo as exceções expressamente previstas em lei, as perdas e
danos devidas ao credor abrangem, além do que efetivamente
perdeu, o que razoavelmente deixou de lucrar".
No presente caso, toda perda deve ser devidamente indenizada,
especialmente por que a negligência do Réu causou ________ , assim
especificado:

________ - R$ ________

________ - R$ ________

A reparação é plenamente devida, em face da responsabilidade


civil inerente ao presente caso.

DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Toda e qualquer reparação civil esta intimamente ligada à


responsabilidade do causador do dano em face do nexo causal presente no caso
concreto, o que ficou perfeitamente demonstrado nos fatos narrados. Sendo
devido, portanto, a recuperação do patrimônio lesado por meio da indenização,
conforme leciona a doutrina sobre o tema:

"Reparação de dano. A prática do ato ilícito coloca o


que sofreu o dano em posição de recuperar, da forma
mais completa possível, a satisfação de seu direito,
recompondo o patrimônio perdido ou avariado do titular
prejudicado. Para esse fim, o devedor responde com seu
patrimônio, sujeitando-se, nos limites da lei, à penhora de
seus bens." (NERY JUNIOR, Nelson. NERY, Rosa Maria
de Andrade. Código Civil Comentado. 12 ed. Editora RT,
2017. Versão ebook, Art. 1.196)

Trata-se do dever de reparação ao lesado, com o objetivo de


viabilizar o retorno ao status quo ante à lesão, como pacificamente doutrinado:

"A rigor, a reparação do dano deveria consistir na


reconstituição específica do bem jurídico lesado, ou seja,
na recomposição in integrum, para que a vítima
venha a encontrarse numa situação tal como se o
fato danoso não tivesse acontecido." (PEREIRA,
Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol II -
Contratos. 21ª ed. Editora Forense, 2017. Versão ebook,
cap. 283)

Motivos pelos quais devem conduzir à indenização ao danos


materiais sofridos, bem como aos lucros cessantes.

DA RESTITUIÇÃO DA QUANTIA PAGA

Diante da demonstração inequívoca do defeito e tentativa de sanar


sem êxito junto aos réus, o Código de Defesa do Consumidor assegura, em seu
artigo 18, que:

"§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie,


em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga,


monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais
perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço."

Portanto, demonstrado que findo o referido prazo, sem que o


fornecedor tenha efetuado qualquer reparação aos danos gerados, dever que foi
negado, cabe ao consumidor a escolha de qualquer das alternativas acima
mencionadas.

A doutrina é uníssona nesse sentido:

"Não pode o fornecedor se opor à escolha pelo consumidor


das alternativas postas. É fato que ele, o fornecedor, tem
30 dias. E, sendo longo ou não, dentro desse tempo, a
única coisa que o consumidor pode fazer é sofrer e esperar.
Porém, superado o prazo sem que o vício tenha sido
sanado, o consumidor adquire, no dia seguinte,
integralmente, as prerrogativas do § 1º ora em comento. E,
como diz a norma, cabe a escolha das alternativas ao
consumidor. este pode optar por qualquer delas, sem ter
de apresentar qualquer justificativa ou fundamento. Basta
a manifestação de vontade, apenas sua exteriorização
objetiva. É um querer pelo simples querer manifestado.
(NUNES, Rizzatto. Curso de direito do Consumidor, Ed.
Saraiva. 2005, p. 186)"

Nesse mesmo sentido é o entendimento da jurisprudência sobre o


tema:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MATERIAIS E MORAIS - VÍCIO DO PRODUTO -
APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR - VÍCIO CONSTATADO - ALEGAÇÃO DE
MAU USO - AUSÊNCIA DE PROVA - SUBSTITUIÇÃO DO
PRODUTO DEVIDA - DANOS MORAIS -
CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO - DESCASO COM O
CONSUMIDOR - REPARAÇÃO DEVIDA. I -
Incontroverso o defeito do produto e ausente prova de que
o vício decorreu de mau uso pela consumidora, mesmo
após determinada a inversão do ônus da prova, mostra-se
acertada a condenação do fornecedor/vendedor a
substituir o bem por outro similar ou restituir os valores
pagos, devidamente corrigidos. II - Sem desconhecer do
entendimento de que o mero descumprimento contratual
não gera obrigação de reparar por danos morais, não se
pode olvidar de que, uma vez requerida indenização a esse
título, devem ser considerados os desdobramentos da
inadimplência, a fim de se aferir a existência (ou não) de
lesão à honra de um dos contratantes. III - A inércia na
solução do vício do produto relatado pela consumidora,
idosa de 85 anos, mesmo após diversas tentativas de
solução da pendência junto às fornecedoras, que incluem
acionamento junto ao PROCON e Juizado Especial, enseja
reparação por danos morais, vez que as situações
vivenciadas vão além de meros aborrecimentos cotidianos.
IV - Ausentes parâmetros legais para fixação do dano
moral, mas consignado no art. 944 do CC/02 que a
indenização mede-se pela extensão do dano, o valor fixado
a este título deve assegurar reparação suficiente e
adequada para compensação da ofensa suportada pela
vítima e para desestimular-se a prática reiterada da
conduta lesiva pelo ofensor. (TJ-MG - AC:
10016160025710001 MG, Relator: João Cancio, Data de
Julgamento: 16/05/2017, Câmaras Cíveis / 18ª CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 05/06/2017)

Desta forma, diante do desgaste ocasionado na relação de


consumo com os réus, tem-se por devida a restituição imediata da quantia
despendida, corrigida e atualizada monetariamente, com fulcro no disposto no
inciso II do § 1º do artigo 18, do diploma consumerista.

DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Demonstrada a relação de consumo, resta consubstanciada a


configuração da necessária inversão do ônus da prova, conforme disposição
expressa do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...) VIII - a


facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade


ou grande dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte do Autor,
sendo amparada pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova
implementada pelo Novo Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de
peculiaridades da causa relacionadas à
impossibilidade ou à excessiva dificuldade de
cumprir o encargo nos termos do caput ou à
maior facilidade de obtenção da prova do fato
contrário, poderá o juiz atribuir o ônus da prova
de modo diverso, desde que o faça por decisão
fundamentada, caso em que deverá dar à parte a
oportunidade de se desincumbir do ônus que lhe foi
atribuído.

No presente caso a HIPOSSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA fica


caracteriza diante da ________ .

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o


qual, todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os
limites de sua desigualdade. Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão
do ônus da prova para viabilizar o acesso à justiça:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO ORDINÁRIA DE


REVISÃO. CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO.
CONFISSÃO DE DÍVIDA. INVERSÃO DO ÔNUS A
PROVA. POSSIBILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA.
PRESENTE O REQUISITO DO ART. 6º, INCISO VIII, DO
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
PRECEDENTES DESTE TRIBUNAL. RECURSO
DESPROVIDO. (a) O Código de Defesa do
Consumidor adotou a teoria da distribuição
dinâmica do ônus da prova. Assim, a inversão do ônus
nesse microssistema não se aplica de forma automática a
todas as relações de consumo, mas depende da
demonstração dos requisitos da verossimilhança da
alegação ou da hipossuficiência do 16ª Câmara Cível -
TJPR 2 consumidor, consoante dispõe o art. 6º, inciso
VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Os elementos
que constam dos autos são suficientes para
demonstrar que a autora encontrará dificuldade
técnica para comprovar suas alegações em juízo,
uma vez que pretendem a revisão de vários
contratos, os quais não estão em seu poder. (b)
Insta salientar que os requisitos da verossimilhança das
alegações e da hipossuficiência não são cumulativos,
portanto, a presença de um deles autoriza a inversão do
ônus da prova. (TJPR - 16ª C.Cível - 0020861-
59.2018.8.16.0000 - Paranaguá - Rel.: Lauro Laertes de
Oliveira - J. 08.08.2018)

Assim, diante da inequívoca e presumida hipossuficiência, uma


vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte, indisponível
concessão do direito à inversão do ônus da prova, que desde já requer.

DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL

Conforme demonstrado pelos fatos narrados e prova que junta no


presente processo, a empresa ré deixou de cumprir com sua obrigação primária
de cautela e prudência na atividade, causando constrangimentos indevidos ao
Autor.

Não obstante ao constrangimento ilegítimo, as reiteradas


tentativas de resolver a necessidade do Autor ultrapassa a esfera dos
aborrecimentos aceitáveis do cotidiano, uma vez que foi obrigado a buscar
informações e ferramentas para resolver um problema causado pela
empresa contratada para lhe dar uma solução.
Assim, no presente caso não se pode analisar isoladamente o
constrangimento sofrido, mas a conjuntura de fatores que obrigaram o
Consumidor a buscar a via judicial. Ou seja, deve-se considerar o grande
desgaste do Autor nas reiteradas tentativas de solucionar o ocorrido sem êxito,
gerando o dever de indenizar, conforme precedentes sobre o tema:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE DE NEGÓCIO JURÍDICO C/C REPETIÇÃO
DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS -
(...). CONTRATO NÃO APRESENTADO PELA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - DANOS MORAIS
CONFIGURADOS - QUANTUM INDENIZATÓRIO
(DANOS MORAIS) MAJORADOS PARA R$ 10.000,00 -
REPETIÇÃO DE INDÉBITO NA FORMA DOBRADA -
MÁ-FÉ DEMONSTRADA - DA COMPENSAÇÃO DE
CRÉDITO - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO
IMPROVIDO. (...). A instituição financeira ré,
descuidando-se de diretrizes inerentes ao desenvolvimento
regular de sua atividade, não comprovou que os contratos
foram, de fato, celebrados pelo consumidor, tampouco
tenha sido ele o beneficiário do produto dos mútuos
bancários. Não basta para elidir a responsabilização da
pessoa contratada a alegação de suposta fraude. À
instituição ré incumbia o ônus de comprovar que agiu com
as cautelas de praxe na contratação de seus serviços, até
porque, ao consumidor não é possível a produção de prova
negativa (CDC, art. 6, VIII c/c CPC, art. 373, II).
Inafastáveis os transtornos sofridos pela idosa que foi
privada de parte de seu benefício de aposentadoria, por
conduta ilícita atribuída a instituição financeira,
concernente à falta de cuidado na contratação de
empréstimo consignado, situação apta a causar
constrangimento de ordem psicológica, tensão e abalo
emocional, tudo com sérios reflexos na honra subjetiva.
Levando-se em consideração a situação fática apresentada
nos autos, a condição socioeconômica das partes e os
prejuízos suportados pela parte ofendida, evidencia-se que
o valor do quantum fixado pelo juízo a quo deve sofrer
majoração para R$ 10.000,00 (dez mil reais), quantia que
se mostra adequada e consentâneo com as finalidades
punitiva e compensatória da indenização. (...) (TJMS.
Apelação n. 0801609-05.2015.8.12.0016, Mundo Novo, 4ª
Câmara Cível, Relator (a): Des. Claudionor Miguel Abss
Duarte, j: 25/04/2018, p: 26/04/2018)

Trata-se da necessária consideração dos danos causados pela


perda do tempo útil (desvio produtivo) do consumidor.

DOS DANOS PELO DESVIO PRODUTIVO

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que


desperdiçar seu tempo útil para solucionar problemas que foram causados pela
empresa Ré que não demonstrou qualquer intenção na solução do
problema, obrigando o ingresso da presente ação.

Este desgaste fica perfeitamente demonstrado por meio de


________ .

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de


DANO PELA PERDA DO TEMPO ÚTIL, pois afeta diretamente a rotina do
consumidor gerando um desvio produtivo involuntário, que obviamente causam
angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática


sobre o tema, aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

"Entretanto, casos há em que a conduta desidiosa do


fornecedor provoca injusta perda de tempo do
consumidor, para solucionar problema de vício
do produto ou serviço. (...) O fornecedor, desta forma,
desvia o consumidor de suas atividades para "resolver
um problema criado" exclusivamente por aquele. Essa
circunstância, por si só, configura dano indenizável no
campo do dano moral, na medida em que ofende a
dignidade da pessoa humana e outros princípios
modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé
objetiva e a função social: (...) É de se convir que o
tempo configura bem jurídico valioso,
reconhecido e protegido pelo ordenamento
jurídico, razão pela qual, "a conduta que
irrazoavelmente o viole produzirá uma nova espécie de
dano existencial, qual seja, dano temporal" justificando a
indenização. Esse tempo perdido, destarte, quando viole
um "padrão de razoabilidade suficientemente assentado
na sociedade", não pode ser enquadrado noção de mero
aborrecimento ou dissabor." (THEODORO JÚNIOR,
Humberto. Direitos do Consumidor. 9ª ed. Editora
Forense, 2017. Versão ebook, pos. 4016)

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

"Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a


partir de provocação doutrinária, a concessão de
indenização pelo dano decorrente do sacrifício do
tempo do consumidor em razão de determinado
descumprimento contratual, como ocorre em
relação à necessidade de sucessivos e infrutíferos
contatos com o serviço de atendimento do fornecedor, e
outras providências necessárias à reclamação de vícios
no produto ou na prestação de serviços." (MIRAGEM,
Bruno. Curso de Direito do Consumidor - Editora RT,
2016. versão e-book, 3.2.3.4.1)

Nesse sentido:

"Então, a perda injusta e intolerável do tempo útil


do consumidor provocada por desídia,
despreparo, desatenção ou má-fé (abuso de
direito) do fornecedor de produtos ou serviços deve
ser entendida como dano temporal (modalidade de dano
moral) e a conduta que o provoca classificada como ato
ilícito. Cumpre reiterar que o ato ilícito deve ser
colmatado pela usurpação do tempo livre,
enquanto violação a direito da personalidade,
pelo afastamento do dever de segurança que deve
permear as relações de consumo, pela
inobservância da boa-fé objetiva e seus deveres anexos,
pelo abuso da função social do contrato (seja na fase pré-
contratual, contratual ou pós-contratual) e, em último
grau, pelo desrespeito ao princípio da dignidade da
pessoa humana." (GASPAR, Alan Monteiro.
Responsabilidade civil pela perda indevida do tempo útil
do consumidor. Revista Síntese: Direito Civil e Processual
Civil, n. 104, nov-dez/2016, p. 62)

O STJ, nessa linha de entendimento já reconheceu o direito do


consumidor à indenização pelo desvio produtivo diante do desperdício do
tempo do consumidor para solucionar um problema gerado pelo fornecedor,
afastando a idéia do mero aborrecimento, in verbis:

"Adoção, no caso, da teoria do Desvio Produtivo


do Consumidor, tendo em vista que a autora foi
privada de tempo relevante para dedicar-se ao
exercício de atividades que melhor lhe
aprouvesse, submetendo-se, em função do
episódio em cotejo, a intermináveis percalços para a
solução de problemas oriundos de má prestação do serviço
bancário. Danos morais indenizáveis configurados. (...)
Com efeito, tem-se como absolutamente injustificável a
conduta da instituição financeira em insistir na cobrança
de encargos fundamentadamente impugnados pela
consumidora, notório, portanto, o dano moral por ela
suportado, cuja demonstração evidencia-se pelo fato de ter
sido submetida, por longo período [por mais de três anos,
desde o início da cobrança e até a prolação da sentença], a
verdadeiro calvário para obter o estorno alvitrado,
cumprindo prestigiar no caso a teoria do Desvio Produtivo
do Consumidor, por meio da qual sustenta Marcos
Dessaune que todo tempo desperdiçado pelo consumidor
para a solução de problemas gerados por maus
fornecedores constitui dano indenizável, ao perfilhar o
entendimento de que a "missão subjacente dos
fornecedores é - ou deveria ser - dar ao consumidor, por
intermédio de produtos e serviços de qualidade, condições
para que ele possa empregar seu tempo e suas
competências nas atividades de sua preferência.
Especialmente no Brasil é notório que incontáveis
profissionais, empre sas e o próprio Estado, em vez de
atender ao cidadão consumidor em observância à sua
missão, acabam fornecendo-lhe cotidianamente produtos
e serviços defeituosos, ou exercendo práticas abusivas no
mercado, contrariando a lei. Para evitar maiores prejuízos,
o consumidor se vê então compelido a desperdiçar o seu
valioso tempo e a desviar as suas custosas competências -
de atividades como o trabalho, o estudo, o descanso, o
lazer - para tentar resolver esses problemas de consumo,
que o fornecedor tem o dever de não causar. Tais situações
corriqueiras, curiosamente, ainda não haviam merecido a
devida atenção do Direito brasileiro. Trata-se de fatos
nocivos que não se enquadram nos conceitos tradicionais
de 'dano material', de 'perda de uma chance' e de 'dano
moral' indenizáveis. Tampouco podem eles (os fatos
nocivos) ser juridicamente banalizados como 'meros
dissabores ou percalços' na vida do consumidor, como vêm
entendendo muitos juristas e tribunais."
[2http://revistavisaoj uridica.uol. com.br/advogados-leis-j
urisprudencia/71/desvio-produto-doconsumidor-tese-do-
advogado-marcos -ddessaune-255346-1. asp] .(...). (AREsp
1.260.458/SP - Ministro Marco Aurélio Bellizze)

A jurisprudência, no mesmo sentido, ancora o posicionamento de


que o desvio produtivo ocasionado pela desídia de uma empresa deve ser
indenizada, conforme predomina a jurisprudência:

RELAÇÃO DE CONSUMO - DIVERGÊNCIA DO


PRODUTO ENTREGUE - OBRIGAÇÃO DE FAZER
CONSISTENTE NA ENTREGA DO PRODUTO
EFETIVAMENTE ANUNCIADO PELA RÉ E ADQUIRIDO
PELO CONSUMIDOR - INDENIZAÇÃO POR DANO
MORAL - RECONHECIMENTO. (...) Caracterizados
restaram os danos morais alegados pelo Recorrido diante
do "desvio produtivo do consumidor", que se configura
quando este, diante de uma situação de mau atendimento,
é obrigado a desperdiçar o seu tempo útil e desviar-se de
seus afazeres à resolução do problema, e que gera o direito
à reparação civil. E o quantum arbitrado (R$ 3.000,00),
em razão disso, longe está de afrontar o princípio da
razoabilidade, mormente pelo completo descaso da Ré, a
qual insiste em protrair a solução do problema gerado ao
consumidor. 3. Recurso conhecido e não provido.
Sentença mantida por seus próprios fundamentos, ex vi do
art. 46 da Lei nº 9.099/95. Sucumbente, arcará a parte
recorrente com os honorários advocatícios da parte
contrária, que são fixados em 20% do valor da condenação
a título de indenização por danos morais. (TJSP; Recurso
Inominado 0003780-72.2017.8.26.0156; Relator (a):
Renato Siqueira De Pretto; Órgão Julgador: 1ª Turma
Cível e Criminal; Foro de Jundiaí - 4ª. Vara Cível; Data do
Julgamento: 12/03/2018; Data de Registro: 12/03/2018)

APELAÇÃO - AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C.C.


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - CONSUMIDOR
DEMANDANTE INDEVIDAMENTE COBRADO, POR
DÉBITO REGULARMENTE SATISFEITO - Completo
descaso para com as reclamações do autor - Situação em
que há de se considerar as angústias e aflições
experimentadas pelo autor, a perda de tempo e o desgaste
com as inúmeras idas e vindas para solucionar a questão -
Hipótese em que tem aplicabilidade a chamada teoria do
desvio produtivo do consumidor - Inequívoco, com efeito,
o sofrimento íntimo experimentado pelo autor, que foge
aos padrões da normalidade e que apresenta dimensão tal
a justificar proteção jurídica - Indenização que se arbitra
na quantia de R$ 5.000,00, à luz da técnica do
desestímulo. (...) (TJSP; Apelação 1027480-
84.2016.8.26.0224; Relator (a): Ricardo Pessoa de Mello
Belli; Órgão Julgador: 19ª Câmara de Direito Privado;
Foro de Guarulhos - 8ª Vara Cível; Data do Julgamento:
05/03/2018; Data de Registro: 13/03/2018)

RELAÇÃO DE CONSUMO - VÍCIO OCULTO NO


PRODUTO(SOFÁ) - OBSERVÂNCIA DO CRITÉRIO DA
VIDA ÚTIL DO BEM DURÁVEL -DESVIO PRODUTIVO
DO CONSUMO - INDENIZAÇÃO POR DANOS
MATERIAIS E MORAIS - RECONHECIMENTO. 1. (...)
Caracterizados restaram, ainda, os danos morais
asseverados pelo Recorrido diante do "desvio produtivo do
consumidor", que se configura quando este, diante de uma
situação de mau atendimento, é obrigado a desperdiçar o
seu tempo útil e desviar-se de seus afazeres, e que gera o
direito à reparação civil. E o quantum arbitrado (R$
2.000,00), em razão disso, longe está de afrontar o
princípio da razoabilidade, mormente pelo completo
descaso da Ré, loja de envergadura nacional, para com o
seu cliente. 3. Recurso conhecido e não provido. Sentença
mantida por seus próprios fundamentos, ex vi do art. 46
da Lei nº 9.099/95. Sucumbente, arcará a parte
Recorrente com os honorários advocatícios da parte
contrária, que são fixados em 20% do valor total da
condenação. (TJSP; Recurso Inominado 1000711-
15.2017.8.26.0156; Relator (a): Renato Siqueira De Pretto;
Órgão Julgador: 1ª Turma Cível e Criminal; Foro de
Ribeirão Preto - 2ª. Vara Cível; Data do Julgamento:
05/02/2018; Data de Registro: 05/02/2018)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do


tempo que lhe seria útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba
sendo destinado na solução de problemas de causas alheias à sua
responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da


prestação do serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas
verdadeiro impacto negativo em sua vida, devendo ser INDENIZADO.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:

1. A concessão da Gratuidade Judiciária nos termos do


art. 98 do Código de Processo Civil;

2. A citação do réu, na pessoa de seu representante


legal, para, querendo responder a presente
demanda;

3. A procedência do pedido, com a condenação do


requerido ao ressarcimento imediato das quantias
pagas, no valor de R$ ________ , bem como à
indenização de danos materiais no valor de R$
________ e lucros cessantes no valor de R$
________ , acrescidas ainda de juros e correção
monetária,

4. Seja o requerido condenada a pagar ao requerente


um quantum a título de danos morais não inferior o
________ , considerando as condições das partes,
principalmente o potencial econômico-social da
lesante, a gravidade da lesão, sua repercussão e as
circunstâncias fáticas;

5. A condenação do requerido em custas judiciais e


honorários advocatícios;

6. Protesta provar o alegado por todos os meios de


prova em direito admitidas e cabíveis à espécie,
especialmente pelos documentos acostados;

7. Por fim, manifesta que ________ na audiência


conciliatória, nos termos do Art. 319, inc. VII do
CPC.

Termos em que, pede deferimento.

Valor da causa R$ ________

________ , ________ .

________

ANEXOS

1. Documentos de identidade do Autor (RG e CPF)

2. Comprovante de residência

3. Procuração

4. Prova da compra

5. Prova dos defeitos/vícios


6. Provas da solicitação do consumidor

7. Provas da negativa de solução

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