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Tem sido difícil escrever.

Tenho que lhe confessar algo, tem sido difícil escrever. Entreguei o
melhor dos meus vinhos logo de cara. Não que haja problemas em se servir o
melhor já no início, contudo os próximos terão um gosto fraco, todos os
posteriores serão meros projetos perto daquele entregue inicialmente. Mas não
tenho nada a fazer, você já bebeu o vinho, resta-me buscar a perfeição nas
produções posteriores.
Assim me sinto sempre que quero escrever um novo texto, sinto que
esgotei toda minha melhor inspiração nos textos anteriores. Como se todas
novas palavras fossem apenas mais verbos jogados ao vento que nada
expressam, e nada representam.
Não quer dizer que perdi a inspiração, ou que tenho sentido menos
inspiração, não, continuo com o mesmo entusiasmo. Mas nada que escrevo
parece chegar perto do que fiz inicialmente. Toda vez que tento falho em
conseguir expressar tudo que sinto. Fracasso em eternizar meus sentimentos,
ou mesmo de expressá-los como gostaria.
Hoje mais uma vez tentei e falhei, duas vezes por sinal. Mas tudo bem,
ao falhar mais uma vez em eterizar o que sinto, tenho mais vontade de fazer
melhor no próximo. Talvez isso seja apenas uma desculpa para continuar
tentando fazer que pequenos momentos, ou grandes sentimentos ganhem
forma através da escrita.
Sei que não posso comparar meus trabalhos anteriores com os novos,
os textos são formas de deixar a vida fluir, e a vida não pode ser medida por
momentos, mas pelo todo. Dessa forma sei que minha escrita deve ser
avaliada por mim mesmo por todo seu processo, e por tudo que esse processo
faz. Mas as vezes é difícil não deixar que essa fútil comparação venha a
mente.
Assim deixo as palavras para voltar para o silêncio que me traz ideias,
como dito por Manoel de Barros, “uso as palavras para compor meu silêncio”.
Usei esse texto como desculpa para preencher o silêncio que grita por novas
inspirações da vida.

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