Você está na página 1de 19

0

INSTITUTO PROMINAS
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE LINGUA PORTUGUESA

JOSECI FRANCELINA DE SOUSA

O LETRAMENTO E ALFABETIZAÇAO NO ENSINO FUNDAMENTAL DA


ESCOLA PUBLICA

PAULISTANA-PI
2014
1

LETRAMENTO E ALFABETIZAÇAO NO ENSINO FUNDAMENTAL DA ESCOLA


PUBLICA

RESUMO

Essa pesquisa se propõe a compreender como se dá o processo de letramento e alfabetização


na escola pública e a forma de trabalho da leitura com os alunos do ensino fundamental I.
Esses processos consistem numa forma de propiciar os conhecimentos, desenvolver
habilidades e compreensão na aquisição da leitura e da escrita. Visto que, saber ler e escrever
são condições necessárias a participação na sociedade letrada em que se vive. A escolha desse
tema surgiu das indagações, anseios e da necessidade de como futura educadora, estarem
busca de mais conhecimentos. Esse processo é muito importante para o desenvolvimento das
crianças, mas é bastante complexo decorrente de algumas dificuldades encontradas por elas
no ato da leitura e da escrita. Esse trabalho justifica-se pela importância do processo de
alfabetização de crianças perante a sociedade, que possa contribuir significativamente para os
estudantes e profissionais da educação como também para o engrandecimento da pesquisa
científica, no que se refere às concepções e práticas alternativas de se trabalhar no âmbito
educacional. A Alfabetização é um processo que começa a ser construído fora e antes da
entrada da criança na escola. Muitos pesquisadores vêm buscando compreender como se dá
essa construção; pouco, mas significativos pedagogos vêm criando alternativas teórico-
práticas de alfabetização como processo cultural. O letramento tem como objeto de reflexão,
de ensino, ou de aprendizagem os aspectos sociais da língua escrita. O estudo conclui,
portanto que a prática social é possível quando sabemos como agir discursivamente numa
situação, ou seja, quando sabemos qual gênero do discurso usar; por isso, é natural que essas
representações ou modelos que viabilizam a comunicação na prática social.

Palavras-chaves: Leitura. Alfabetização. Letramento. Prática Social.

ABSTRACT

AN ENCHANTING AND LITERACY IN ELEMENTARY PUBLIC SCHOOL

This research aims to understand how the process of literacy and literacy in public school and
the way of working of reading with your elementary students I. these processes consist of a
way to provide the knowledge, develop skills and understanding in the acquisition of reading
and writing. Since, knowing how to read and write are necessary conditions to participation in
literate society in which one lives. The choice of this theme emerged from the questions,
concerns and the need for future educator, are seeking more knowledge. This process is very
important for the development of children, but is rather complex arising from difficulties
encountered by them in the Act of reading and writing. This work is justified by the
importance of literacy for children towards society, which can contribute significantly to
students and education professionals as well as for the advancement of scientific research, as
regards alternative conceptions and practices of working under educational. Literacy is a
process that begins to be built outside and before the entry of the child in school. Many
researchers are seeking to understand how this construct; little, but significant pedagogues
have been creating theoretical and practical alternatives of literacy as cultural process. The
literacy has as object of reflection, of education, or the social aspects of learning written
2

language. The study concludes, so that social practice is possible when we know how to act
discursively in a situation, that is, when we know what genre of speech use; It is therefore
natural that these representations or models that enable communication in social practice.

Keywords: reading. Literacy. Literacy. Social Practice.

INTRODUÇÃO

A atividade de leitura não corresponde a uma simples decodificação de símbolos, mas


significa, de fato, interpretar e compreender o que se lê. A leitura precisa permitir que o leitor
absorva o sentido do texto, não podendo transformar-se a decifração de signos linguísticos
sem a compreensão semântica dos mesmos.
Percebe-se que a leitura é um veículo de informação que se sobressai diante os demais
veículos A leitura é a ponte para um processo educacional eficiente, proporcionando a
formação integral do indivíduo. Além disso, é a forma primordial de enriquecimento da
memória, do senso crítico de comunicação pelo fato de que a escrita é um ato milenar, onde é
armazenado todo o contexto histórico e cultural da vida humana. Por isso, oferece condições
para quem deseja conhecer coisas novas, conhecer a realidade de épocas passadas e da
sociedade atual sem sair de casa, aventurando-se a crescer criticamente.
Deste modo, a influência da leitura na sala de aula é uma ferramenta eficaz no
combate ao fracasso escolar. O problema é que o povo brasileiro não é tradicionalmente um
público leitor, ou seja, a leitura não faz parte da cultura do Brasil. Visto que, os profissionais
da atualidade têm em suas mãos, a mais árdua das missões, instituir na alma do povo
brasileiro o ato de ler, tornando-o algo integrante da sua cultura, como jogar futebol ou ver
novela. Eis a solução para os problemas do Brasil, ou pelo menos da maioria deles.
Sob a perspectiva de considerar o grau de importância e a complexidade do ato de ler,
essa pesquisa se propõe a compreender como se dá o processo de letramento e alfabetização
na escola pública e a forma de trabalho da leitura com os alunos do ensino fundamental I.
Esses processos consistes numa forma de propiciar os conhecimentos, desenvolver
habilidades e compreensão na aquisição da leitura e da escrita. Visto que, saber ler e escrever
são condições necessárias a participação na sociedade letrada em que se vive.
A escolha desse tema surgiu das indagações, anseios e da necessidade de como futura
educadora, estarem busca de mais conhecimentos. Esse processo é muito importante para o
desenvolvimento das crianças, mas é bastante complexo decorrente de algumas dificuldades
encontradas por elas no ato da leitura e da escrita.
3

Esse trabalho justifica-se pela importância do processo de alfabetização de crianças


perante a sociedade, que possa contribuir significativamente para os estudantes e profissionais
da educação como também para o engrandecimento da pesquisa científica, no que se refere às
concepções e práticas alternativas de se trabalhar no âmbito educacional.
Dessa forma, o trabalho se justifica ainda devido à leitura ser fundamentalmente, uma
ferramenta de ensino e para tanto se faz necessário que a mesma faça sentido para o aluno,
devendo responder do seu ponto de vista ao objeto de realização imediata. Pois os alunos só
estarão aptos a conduzir a leitura na escola para um melhor nível de conhecimento, se
incentivar a leitura e criar nos mesmos o desejo de ler, despertando interesses pelos aspectos,
fatos e sentimentos contidos em um texto.
Espera-se que este trabalho possa contribuir no sentido de os professores refletirem a
respeito da própria prática, e talvez encontrarem novos caminhos no ensino da leitura.
Tal pesquisa foi motivada nos estudos de Paulo Freire (1996), Emília Ferreiro (1991),
Vigotsky (2007), Soares (2004). A partir do presente estudo foi possível ampliar
conhecimentos e compreender tais reflexões do estudo.

1 O TRABALHO COM A LEITURA NA ESCOLA E SUA IMPORTÂNCIA PARA O


DESENVOLVIMENTO DO EDUCANDO A PARTIR DA ALFABETIZÇAO E
LETRAMENTO

A leitura, além de ser responsável pela formação do aluno como leitor, também é
responsável pela formação do educando como cidadão com capacidade de compreender
diferentes textos com os quais confronta diariamente, como "textos de mundo".
Para tornar alunos bons leitores fazem-se necessário, principalmente, torná-los
pessoas confiantes e para isso é preciso que eles acreditem no poder da leitura, tornando-a
interessante e desafiadora. Quando conquistada plenamente, eles obterão autonomia e
independência.
Sabe-se que a escola como difusora do conhecimento, tem-se utilizado da leitura para
viabilizar a circulação de informações. Contudo, a questão é que, ao longo de muitos anos, ela
tem deixado que o livro didático seja quase que o único e exclusivo instrumento da prática de
leitura e de disseminação de informações e conhecimentos.
Assim, passo a passo, os conteúdos a serem estudados, lidos, na maioria das vezes, se
apresentam sem sentido para os alunos. Acaba-se por reforçar a prática de uma educação
4

descontextualizada, quando continua utilizando materiais didáticos distantes do contexto,


onde os adolescentes não se vêem nem se reconhecem como sujeitos.
Segundo Reis (2006), a função do educador não é precisamente a de ensinar a ler, mas
a de criar condições para o educando realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus
próprios interesses, necessidades, fantasias, de acordo com as dúvidas e exigências que a
realidade lhe apresenta.
Compreende-se que, para circular no/com o mundo, empreenda-se a tarefa de
fazer-lhe a leitura. E essa leitura autônoma e crítica é uma trajetória que se faz
em espaços mais abertos, mais amplos, em condições de envolvimento, no qual o
leitor se sente parte da comunidade, além de aprendizagem linear, da
aprendizagem que se efetiva na instância escolar (REIS, 2006, p.46).

Mais do que métodos e técnicas de motivação para ler, são necessárias providências
que se relacionem à história do aluno na sociedade, principalmente em sua família. Não se
pode separar a prática da leitura da vida em família e na comunidade. Não é uma questão a
ser resolvida apenas na escola e pela escola.
Enquanto se lê, vive-se uma experiência transformadora. A mente tem várias funções,
entre elas a memória, a atenção, a sensibilidade e os diferentes tipos de raciocínios. Afinal,
com o processo mental operado ao ler, a pessoa transforma seu modo de ser, de ver o mundo
e interagir com ele. Embora a escola incentive e deseje a leitura, dificilmente formará o leitor
se não tiver o apoio dos pais. Isto, porque as relações sociais na família são espontâneas,
valores afirmados e/ou vivenciado por todos. Pais, avós, irmãos tem histórias de vida em
conjunto e influem fortemente sobre os filhos, principalmente por suas atitudes, gestos e
práticas em diferentes circunstâncias.
O conceito de leitura está geralmente restrito à decifração da escrita, sua
aprendizagem liga-se por tradição ao processo de formação global do indivíduo, a sua
capacitação para o convívio e atuações social, política, econômica e cultural.
O processo de alfabetização e letramento é de grande importância para o
desenvolvimento das crianças, pois, desenvolve várias capacidades e habilidades que vão
desenvolvendo no decorrer de toda a formação escolar e são indispensáveis para toda a vida.

1.1 HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO

Segundo afirma Barbosa (1995, p. 22) e Mortatti (2000, p. 1) a história da


alfabetização pode ser dividida em três fases ou períodos: no primeiro período inclui-se a
Antiguidade e a Idade Média que se caracterizou pela utilização do método da soletração. No
segundo período que compreende os séculos XVI e XVII tem-se inicio as reações contra o
5

método da soletração que se estendeu ate a década de 60 do século XX. Nessa fase, foram
criados outros métodos de alfabetização para responder às exigências do contexto. O terceiro
período é a fase atual e se caracteriza pela necessidade de responder aos questionamentos
provocados ate então em torno da alfabetização. Estes questionamentos se dão acerca da
oralização, ou seja, busca-se compreender a necessidade de associar os sinais da língua escrita
aos sons da língua falada para a aprender a ler.
Conforme ressalta Cagliari (1992, p. 15)
A escrita, pelo que se sabe hoje, começou de maneira autónoma e independente, na
Suméria, por volta de 3300 a.C. É muito provável que no Egito, por volta de 3000
a.C., e na China, por volta de 1500 a.C., esse processo autónomo tenha se repetido.
Os maias da América Central também inventaram um sistema de escrita
independentemente de um conhecimento prévio de outro sistema de escrita, num
tempo indeterminado ainda pela ciência, que talvez se situe por volta do início da
era cristã. Todos os demais sistemas de escrita foram inventados por pessoas que
tiveram, de uma maneira ou de outra, contato com algum sistema de escrita.

A invenção da escrita é um marco importante para a história da civilização, pois


surge como um divisor de aguas, na medida em que atualmente será difícil aproveitar a
qualidade de vida sem que não haja o domínio pleno da comunicação escrita.
Diante disso, o processo de alfabetização passa, necessariamente pelo crivo do
surgimento da escrita. Segundo Mortatti (2006, p.02) a escrita alfabética surge quando os
gregos tomaram emprestado o código silábico dos povos fenícios para torna-lo a base de sua
escrita. A autora diz que a descoberta do alfabeto que levou á ideia de sistematizar a escrita,
aconteceu em meados do século X a.C. contudo, afirma-se que, no Oriente a escrita já tivesse
se desenvolvido.
Para Marrou (2006, p. 74) após a criação do alfabeto surge o primeiro método de
ensino de leitura- método da soletração ou ABC, levando-se em conta que este tem inicio com
o ensino das letras. Dessa forma, o ensino da leitura e da escrita no período da Antiguidade
iniciava-se pelas letras do alfabeto, porem, sem visualizar suas formas.
Na Idade Media, a aprendizagem das letras e da escrita acontecia por meio das
tabuletas que, provavelmente foram objetos mais utilizados na aprendizagem. Alexandre
Bidon (2005, p. 94) também diz que já no final do século XII ate o inicio do século XIII
utilizava-se as figuras que passaram a ter a função explicativa na pedagogia. É no século XV
que surgem os abecedários entre os quais o alfabeto de Marguerite de Bourgogne. Essa fase
sofreu muitas criticas em face da lentidão com que se efetivava a aprendizagem, a
complexidade do grafismo. Com isso, o período de história da alfabetização que compreende
da Antiguidade á Idade Média é marcado pela dificuldade de aprendizagem na leitura. O
6

método utilizado é caraterizado como árido e, com efeito, causava no educando o


desinteresse.
No século XVI começa-se a perceber algumas reações em torno da dificuldade da
soletração e foi diante de tal dificuldade que criou-se os métodos fônico e silábico. Com a
criação do método fônico que se baseava no som das letras a pedagogia da alfabetização
alcança um grande avanço. Porem, constata-se que esse método traz um certo exagero no que
toca á pronuncia dos sons das consoantes e levou o método ao ridículo. Também apresentou a
não correspondência da língua escrita com a língua oral. Na procura para selecionar tal
problemas surge o método silábico que tem como base as silabas que se combinam, por sua
vez, para formar palavras, apesar de algumas diferenças, esses métodos são facilmente
confundidos.
Em 1655, surge o método global na pedagogia com Comenius. Esse método se
fundamenta na apresentação da palavra que é associada á representação gráfica de seu
significado, pressupondo que seja aprendida como um todo sem ter que atravessar o processo
de soletração. Nicolas Adam, no século XVIII em relação á esse método, assinala que é
importante admitir a ideia de que se deve ensinar a criança a ler da maneira como aprende a
falar. Nessa direção, esse método nasce para trazer não o aperfeiçoamento dos métodos
anteriores, mas para romper com o modelo sintético- analítico ate então vigente e se
efetivando em sentido contrário, u seja, do analítico para o sintético.
Ovidio Decroly foi o teórico e prático do método global e apesar de não ter sido
posto em prática, os manuais traziam um misto desses métodos que se baseavam
principalmente, na técnica da silabação, pois o estudo se iniciava com a análise da palavra e
seguida da silabação. No século XX, esse método teve amplo desenvolvimento.
No Brasil, a alfabetização ganha ênfase junto à história dos métodos de alfabetização
que desde o final do século XIX gera discussões em torno das explicações novas e antigas
para os problemas da alfabetização, sobretudo, aqueles em torno das dificuldades das
crianças aprender a ler e a escrever (MORTATTI, 2006).
Sendo assim, discutir a alfabetização implica em engendrar uma serie de temáticas
que estão envolvidas na alfabetização enquanto prática escolar. A alfabetização no Brasil
ganhou destaque como capo da educação no século XIX, pois foi neste século que a escola se
consolidou para atender aos ideais do Estado ( MORTATTI, 2006, p. 3).
A partir do século XIX, foi que se percebeu que saber ler e escrever era como um
instrumento para se adquirir o saber e, sobretudo, porque se tornou um imperativo da
modernização e do desenvolvimento social. Segundo assevera a professora Maria do Rosario
7

Mortatti (2006, p. 4) a alfabetização nasce a partir da necessidade de tornar a leitura e a escrita


um processo de ensino organizado que passou a exigir a qualificação e a competência dos
profissionais que atuaram nesse processo.
No século XX, o Brasil encontra-se marcado por inúmeras descobertas que,
conforme Pires et al (2010, p. 4) “começa-se a ter consciência de que não basta somente
alfabetizar, mas que é preciso viabilizar às pessoas a oportunidade do contato com as diversas
práticas sociais de leitura e escrita!.

1.2 OS METODOS DE ALFABETIZAÇAO

Os métodos de alfabetização foram inicialmente trabalhados a partir das cartilhas.


Com isso, antes de discutir acerca dos métodos propriamente dito, é importante discutir o
papel das cartilhas e sua utilização no processo de alfabetização.
Segundo Mendonça (2007, p. 29) as cartilhas nasceram da necessidade de se
alfabetizar a partir de algum material para ensinar a ler e a escrever. A primeira cartilha ou a
primeira versão surgiu no século XVI e as cartilhas brasileiras tiveram sua gênese em
Portugal. A cartilha mais antiga de que se tem conhecimento é a Cartilha para Aprender a ler
que tem como autor Joao de Barros e que foi impressa pela 1ª vez no ano de 1539 em Lisboa.
Entretanto, muitas outras cartilhas foram utilizadas ao longo do processo de alfabetização no
país.
Contudo, tem-se notícia de que também outras cartilhas foram utilizadas além desta
como o método Castilho para o Ensino Rápido e Aprazível do Ler Impresso, Manuscrito e
Numeração do escrever em 1850. Em 1876 surge a Cartilha Maternal do autor Joao de Deus
(2005, p. 5) que é descrita da seguinte forma:

Este sistema funda-se na língua viva: não apresenta os seis ou oito abecedário do
costume, senão um, do tipo mais frequente, e não todo, mas por partes, indo logo
combinando esses elementos conhecidos em palavras que se digam, que se ouçam,
que se estendam, que se expliquem; de modo que, em vez de o principiante apurar a
paciência numa repetição nescia, se familiarize com as letras e os seus valores na
leitura animada das palavras inteligíveis. (...) esses longos exercícios de pura
intuição visual constituem uma violência, uma amputação moral, contraria a
natureza: seis meses, um ano, e mais de dozes vozes sem sentido, basta para
imprimir num espirito nascente o selo do idiostismo (DEUS, 2005, p,5)

Concordando com João de Deus, é possível compreender que estre critica


severamente os métodos de soletração e silabação em relação ao uso deste para o ensino da
leitura e da escrita. Ate porque sua cartilha foi uma obra entre a perspectiva do abecedário e o
método analítico que se difundiram no Brasil.
8

Para Barbosa (1990, p. 68) inegável é que outras cartilhas foram significativamente
representativas para o Brasil. Nesta direção, na década de 30 estas tiveram um aumento
considerável quanto á publicação e na década de 1940 nasce o manual do professor a fim de
subsidia-lo quanto ao uso correto do material.
O método sintético estabelece correspondência entre o som e grafia, entre o oral e o
escrito, através do aprendizado por letra, ou sílaba por sílaba e palavra por palavra. Os
métodos sintéticos podem ser divididos em três tipos: o alfabético, o fônico e o silábico. No
alfabético, o estudante aprende inicialmente as letras e depois forma as sílabas juntando as
consoantes com as vogais, para depois formar as palavras que constroem o texto.
Nesse método as cartilhas são utilizadas para orientar os alunos e professores no
aprendizado, apresentado um fonema e seu grafema correspondente por vez evitando
confusões visuais e auditivas. O método sintético estrutura-se dentro da estrutura do
behaviorismo, e é considerado um dos mais repetidos, simples e antigo método de
alfabetização, podendo ser aplicado a qualquer tipo de criança. Opunha-se ao sintético,
questionando dois argumentos dessa teoria. Um que diz respeito a maneira como o sentido é
deixado de lado e outro que suponha que a criança não reconheceria uma palavra sem antes
reconhecer a sua unidade mínima (MORTATTI, 2006, p. 4-5).
A sua principal características que diferencia o método analítico é o seu ponto de
partida. Enquanto o primeiro parte do mesmo componente para o maior, a segunda parte de
uma lado maior para unidades menores.
O método analítico, também conhecido como “método olhar-e-dizer”, defende que a
leitura é um ato global e audiovisual. Partindo desse principio, os seguidores do método
começam a trabalhar a partir de unidades completas de linguagem para depois dividi-las em
partes menores. Por exemplo, a criança parte da frase para extrair as palavras e, depois, dividi-
las em unidades mais simples, as sílabas. Nicolas Adam, responsável pelo método analítico
utiliza-se de uma metáfora, dizendo que quando se apresenta uma camisa a uma criança,
mostra-se a ele o todo, e não a gola, depois os bolsos, os botões, etc. para Adan é dessa forma
que uma criança aprende a falar, portanto deve ser da mesma forma que deve aprender a ler e
escrever, partindo do todo, descompondo-o mais tarde em porções menores. Para ele, é
imprescindível ressaltar a importância que a criança tem de ler e não decifrar o que está
escrito, ou seja, ela tem a necessidade de encontrar um significado efetivo nas palavras
(MORTATTI, 2006, p. 5).
Este método pode ser dividido em palavração, sentenciação ou global. Na palavração,
parte-se da palavra. Primeiro existe o contato com os vocábulos em uma sequencia que
9

engloba todos os sons da língua e, depois da aquisição de um certo número de palavras,


inicia-se a formação das frases. Na sentenciação, a unidade inicial do aprendizado é a frase,
que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os elementos mais simples: as
sílabas. Já na global, também conhecido como conto e estória, o método é composto por
várias unidades de leitura que tem começo, meio e fim. Sendo ligadas por frases com sentido
para formar um enredo de interesse da criança.
O método analítico se decompõe em: Sentenciação cujo processo forma-se as orações
de acordo com os interesses dominantes da sala. Depois de exposto uma oração, esse vai ser
decomposto em palavras e depois em sílabas e o conto onde a idéia fundamental aqui é fazer
com que a criança entenda que ler é descobrir o que está escrito. Da maneira que as
modalidades anteriores, pretendia-se decompor pequenas histórias em partes cada vez
menores: orações, expressões, palavras e sílabas (MORTATTI, 2006, p. 6).
O método tradicional de alfabetização é centrado no professor, que tem a função de
vigiar o aluno, ou seja, observar se o aluno está seguindo a risca o que lhe foi pedido. Esta
metodologia tem a concepção de que a aula deve acontecer apenas dentro da sala, em que o
professor ensina a matéria, passa o exercício e depois corrige. Se seguindo com a matéria à
frente, fazendo sempre a mesma coisa, tornando a aula mecanizada, dando ao entender que o
aluno só iria aprender através do conhecimento do professor (MORTATTI, 2006, p. 6).
Nesse método o aluno só consegue produzir textos depois de dominar parte da família
silábica e o processo de formação das palavras, criando assim textos, sem sentido, pois o
aluno esta preocupado com a escrita ortográfica e não com o sentido lógico de seu texto. O
professor fala e o aluno ouve e aprende.
Nesse método a cartilha é o único material de trabalho, os textos para a leitura são
curtos com frases simples, desvinculados da linguagem oral, buscando o uso das sílabas já
estudadas. Esse método apesar de não ser indicado é muito utilizado em muitas cidades do
interior do Nordeste e Norte do país, já que é mais simples de ser aplicado, através da
repetição das cartas de ABC, na alfabetização doméstica.
O método construtivista nasceu a partir de estudos de diversos teóricos: Wallon,
Vygotski, Piaget, dentre outros. Esse método é um dos mais indicados e usados para
alfabetizar, por permitir que a própria criança construa seus conhecimentos de acordo com o
desenvolvimento cognitivo, pode ser aplicado de forma individual ou coletiva, trabalha com o
conhecimento que a criança traz para a escola, faz a união da língua falada, escrita e a feitura
em um único processo e pode ser aplicado a qualquer criança.
10

Nesse sentido para Ferreiro (1997, p.44 ), considera que a escrita, como toda
representação, baseia-se em uma construção mental, na qual cria suas próprias regras.
Já para Vygotski (apud FONTANA & CRUZ, 1997), o ingresso da criança na escola
representa um novo tipo de relação com a escrita, onde além de ser intensificada, passa a ser
sistematizada.
Portanto, o método incentiva a criança a expressar o que sente e a ler, escrever e falar
o que pensa, desperta a curiosidade e leva o aluno a buscar soluções para ir além de
conhecimento tanto na aquisição da leitura como da escrita.
Para Libaneo (1994, p.150) o conceito de método é o caminho para atingir um
objetivo. Na vida cotidiana estamos sempre perseguindo objetivos, mas estes se realizaram
por si mesmo, sendo necessário a nossa atualização, ou seja, organização de uma sequencia de
ações para atingi-los. Os métodos são assim mais adequados para realizar objetivos.
De acordo com Rêgo (2000, p. 29), durante muitas décadas predominou no Brasil a
discussão sobre a eficácia dos métodos de alfabetizar. Até a década de 1980, todos os métodos
focaram a alfabetização, tomando no sentido mais preciso da palavra, pois o aluno para poder
ler textos reais, primeiro tinha que ser capaz de decodificar letras e sons corretamente.
Alguns desses métodos colocam em risco o processo e a capacidade de aprendizagem
dos alunos que muitas vezes pode passar um certo grau de insegurança tanto para o professor
quanto para o aluno para se adequar a esses métodos, por isso se percebe, que apesar de ser
muito utilizado e de ter alfabetizado milhões de crianças, esses métodos consistem na
memorização do que é ensinado, colocando em dúvida o aprendizado do aluno.
Com o passar do tempo a alfabetização, foi sendo cada vez mais questionado a partir
do surgimento de novas concepções, fundamentadas em resultados de pesquisa. Essas
questões nos levam a crer que a alfabetização é um sistema de natureza bastante complexa.
Entretanto segundo (CAVALCANTE, 2006, p. 45). Para alguns educadores alfabetização não
é um método, mas um processo. Processo deriva do latim proceder, verbo que indica a ação
de avançar, ir para frente (pro+cedere).
De acordo com suas experiências com crianças, Ferreiro (1999, p. 44-47) esquematiza
algumas propostas fundamentais sobre o processo de alfabetização inicial.
- Restituir a língua escrita seu caráter de objeto social;
- Desde o início (inclusive na pré escola) se aceita que todos na escola podem
produzir e interpretar escritas, cada qual em seu nível;
- Permite-se acesso o quanto antes possível a escrita do nome próprio;
- Permite-se estimula-se que a criança tenha interações com a língua escrita, nos
mais variados contextos.
- Não se supervaloriza, superpondo que de imediato compreenderá a relação entre a
escrita e a linguagem;
11

- Não se pode imediatamente, ocorrer correção gráfica nem correção ortográfica.

O processo de alfabetização nas series iniciais, na maioria das vezes esses critérios não
são utilizados. Onde muitos professores ensinam da maneira como aprenderam quando eram
alunos e repreendem os erros de seus alunos cometem, de forma que possa levar a criança a se
desestimular, a criar alguns problemas.
O professor não pode então, se tornar um prisioneiro de suas próprias convicções, as
de adulto já alfabetizado. Para ser eficaz “deverá adaptar-se seu ponto de vista ao da criança.
Uma tarefa que não é fácil”. (FERREIRO, 2000, p. 61.), Portanto é dessa forma que se
concretiza um aprendizado de qualidade que perpassa aceitação e o respeito para um com os
outros.
A alfabetização, nos dias atuais, persiste na repetição excessiva de exercícios visando
à memorização de letras e sílabas para a formação de palavras, frases e textos e assimilação da
criança, de que há uma ligação correspondente entre fala e escrita.
Para Paulo Freire (2007, p. 13), a alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e a
sua utilização como código de comunicação, definida ainda, como um processo no qual o
indivíduo constrói a gramática e suas variações promovendo no mesmo sua socialização, já
que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com outros indivíduos,
acesso a bens culturais e a facilidade, oferecidas pelas instituições sociais.
A Alfabetização é um processo que começa a ser construído fora e antes da entrada da
criança na escola. Muitos pesquisadores vêm buscando compreender como se dá essa
construção; pouco, mas significativos pedagogos vêm criando alternativas teórico-práticas de
alfabetização como processo cultural, refere-se especialmente aqui a Freinet e Paulo Freire.
(KRAMER, 2002, p. 98).
Portanto, o uso das cartilhas está diretamente vinculado á concepção de alfabetização.
Nesse interim, cabe destacar alguns conceitos relevantes da alfabetização na visão de alguns
teóricos dessa área da educação.
O primeiro conceito de alfabetização é aquele que é considerada como um processo
pela qual se adquire o domínio de um código e das habilidades de utilizá-lo para ler e escrever
e assim exercer a arte da ciência e da escrita (SOARES, 2006, p. 36). Na visão de Magda
Soares (2006, p. 37) o processo de alfabetizar tem como finalidade precípua levar o aluno a
adquirir o domínio das habilidades que lhes são necessários para o ato de ler e de escrever.
Segundo Emília Ferreiro “a alfabetização não é um estado a qual se chega, mas um
processo cujo início é, na maioria dos casos, anterior a escola e que não termina a finalizar a
12

escola primária”. De acordo com Ferreiro (2007, p. 47) a alfabetização não é um estado em
que se pode considerar que o aluno chegou e que se finda nesse ponto. Mas a alfabetização dá
inicio a um processo de constante busca pela compreensão do que seria o ato de ler e escrever,
observando as convenções da língua escrita brasileira.
Em face desses conceitos, compreende-se que a alfabetização inicia-se antes da
criança ir à escola, em contato com o meio social, familiar cultural e na escola vai aprimorar
os conhecimentos adquiridos e construir outros, sendo assim um processo contínuo, que se
estende por toda a vida. Antes de chegar à escolas, o sujeito aprende no âmbito familiar e nas
diversas comunidades das quais faz parte.
Entretanto, já se sabe que durante o período histórico que antecedeu as escolas, cabia a
família ensinar a arte da escrita e da leitura a seus filhos, caso fosse de seu interesse e
conveniência social, política e religiosa. Muitos foram os receptores, mais a forma de ensinar
não variou muito (KRAMER, 2000, 74).
Com a criação das escolas, coube a estas a tarefa de alfabetizar, ensinar a ler e a
escrever. Surgiram então, as dúvidas, como fazê-lo? Que caminhos seguir? Como alfabetizar
vários alunos de uma só vez? A solução foi simples: transferiu-se a forma caseira de
alfabetizar para a escola: o processo ABC foi difundido e, com ele, a palmatória (FERREIRO,
2001, p 49).
Surgiram os teóricos da educação, a psicologia ganhou forma e terreno. Outros
processos ganharam vida. O método analítico difundiu-se, e com ele, as disfunções da
aprendizagem, a utilização do ensino, o método sintético ganhou a conotação de processo
reeducação (MAIDT, 2002, p. 25).
Refazendo o percurso trilhado em relação às concepções de alfabetização nas últimas
décadas, é possível afirmar que até o início dos anos 80, no Brasil, os estudos referentes à
aquisição da leitura e da escrita, além de não ocuparem muito espaço no domínio acadêmico
estavam restritos a busca mais eficaz dos métodos de alfabetizar.
Foi a partir do final dos anos 80 e início da década de 90 que conclusões resultantes de
investigações sobre o conhecimento e evolução psicogenética da aquisição da língua escrita.
Surgiram no âmbito educacional as antigas práticas tradicionais de alfabetização “seus
métodos”, materiais didáticos utilizados e principalmente deslocando o eixo da discussão de
como se ensina para como se aprende
Na visão de Silva e Ferreira (2007) a temática da alfabetização avançou muito na
discussão teórica, levando-se em consideração que hoje é um tema que agrega em torno dele
13

estudos e reflexões de vários campos do conhecimento, entre os quais pode-se destacar a


psicologia, a sociologia, a história da educação, a linguística, a psicolinguística,
Para Soares (2004) o que houve foi um avanço no próprio conceito, pois além da
criação do conceito de letramento, desiventou-se e reinventou-se a alfabetização . nesta
direção, Soares (2004, p. 16) diz que:
“[...] não parece apropriado, nem etimológica nem pedagogicamente, que o termo
alfabetização designe tanto o processo de aquisição da língua escrita quanto o
processo de seu desenvolvimento [...]” Sendo assim, a autora toma o conceito de
alfabetização em seu sentido próprio e específico, como o processo de aquisição do
código escrito, das habilidades de leitura e de escrita, ou seja, “[...] a alfabetização,
entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema de escrita, alfabético
e ortográfico [...]”

Para Magda Soares (2004) a alfabetização não é uma habilidade, mas um conjunto
de habilidades que exige uma articulação e integração dos estudos e pesquisas a respeito de
suas diferentes facetas. Assim, ela conclui afirmando que “essas facetas referem-se,
fundamentalmente, às perspectivas psicológica, psicolinguística, sociolinguística e
propriamente linguística do processo”. (SOARES, 1985)
Já na concepção de Paulo Freire (1985, p. 14),
O processo de alfabetização caracteriza-se no interior de um projeto político que
deve garantir o direito a cada educando de afirmar sua própria voz, pois, segundo o
autor, “a alfabetização não é um jogo de palavras; é a consciência reflexiva da
cultura, a reconstrução crítica do mundo humano, a abertura de novos caminhos (...)
A alfabetização, portanto, é toda a pedagogia: aprender a ler é aprender a dizer a sua
palavra”.

Sendo assim, a palavra letramento é considerada recém-chegada ao vocabulário da


Educação e das Ciências Linguísticas, tendo em vista que foi somente a partir da segunda
metade dos anos 80, que esta surge no discurso dos especialistas dessas áreas. Soares (1998)
diz que o termo letramento é uma palavra de origem inglêsa “literacy” traduzida para o
português, onde a expressão “letra” vem do latim littera, e o cy, denota qualidade, condição
ou estado. Portanto literacy é a condição de ser letrado.
Implícita a esta definição está a idéia de que a escrita traz consequências sociais,
culturais, políticas, econômicas, cognitivas, linguísticas, quer para o grupo social em que seja
introduzida, quer para o indivíduo que aprenda a usá-la.
De acordo com Amaral (2002) refletir sobre a prática de alfabetizar letrando, a partir
de temas que questionam a realidade, traz outro conceito muito importante na teoria de Paulo
Freire que é o diálogo enquanto um método para uma educação problematizadora. Neste
sentido, Amaral (2002) diz que o processo de alfabetização na perspectiva crítica só poderá
14

ser mediado por um professor-cidadão crítico, ou seja, por alguém que atue dentro e fora da
escola como um cidadão crítico.
Esta autora defende ainda que a concepção de alfabetização que Paulo Freire criou,
transforma o material com que se alfabetiza, o objetivo com que se alfabetiza e as relações
sociais em que se alfabetiza:
a) em relação ao material, porque para além de selecionar palavras do universo
vocabular dos alfabetizandos, as palavras selecionadas são aquelas que possuem
significado social, cultural, político e vivencial.
b) o objetivo se transforma de alfabetização como aprendizado detécnicas do ler e
do escrever, para alfabetização como tomada de consciência, como meio de
superação de uma consciência ingênua e conquista de uma consciência crítica3.
c) nas relações sociais o alfabetizando não é considerado apenas como aluno, mas
como participante de um grupo; o alfabetizador considerado não como professor,
mas como coordenador de debates; a interação entre coordenador e participantes
considerada não como aula, mas como diálogo (AMARAL, 2002).

Na visão de Paulo Freire (1996) torna-se essencial que se saiba que a postura do
professor e dos alunos, é “dialógica”, aberta, curiosa, indagadora e não apassivada, enquanto
fala ou enquanto ouve. A aula deve ser um desafio e não uma “cantiga de ninar”. Por isso, os
alunos devem cansar, não dormir, pois
a alfabetização é um ato criador, no qual o analfabeto apreende criticamente a
necessidade de aprender a ler e a escrever, preparando-se para ser o agente desta
aprendizagem. E consegue fazê-lo na medida em que a alfabetização é mais que o
simples domínio mecânico de técnicas para escrever e ler. Segundo o autor a
alfabetização compreende o entendimento do que se lê e se escreve. É comunicar-se
graficamente, implicando não em uma memorização mecânica das sentenças, das
palavras, das sílabas, desvinculadas de um universo existencial, mas uma atitude de
criação e recriação (FREIRE, 1983).

Segundo a visão de Freire, muito embora este não citar o termo letramento, a idéia
dele sobre a alfabetização, de algo mais do que apenas a decodificação de signos, demonstra
que o autor tem conhecimento de que na atualidade tem havido mudanças no paradigma da
alfabetização que indicam que não basta a pessoa dominar a “tecnologia de ler e escrever”
(SOARES, 1998).

1.3 O LETRAMENTO

Segundo Ângela Kleiman (2007, p. 1) o letramento tem como objeto de reflexão, de


ensino, ou de aprendizagem os aspectos sociais da língua escrita. Assumir como objetivo o
letramento no contexto do ciclo escolar implica adotar na alfabetização uma concepção social
da escrita, em contraste com uma concepção tradicional que considera a aprendizagem de
leitura e produção textual como a aprendizagem de habilidades individuais. Essa escolha
15

implica, ainda, que a pergunta estruturadora/estruturante do planejamento das aulas seja:


“quais os textos significativos para o aluno e para sua comunidade”, em vez de: “qual a
seqüência mais adequada de apresentação dos conteúdos (geralmente, as letras para formarem
sílabas, as sílabas para formarem palavras e das palavras para formarem frases)”.
Para Kleiman (2007, p. 1)
Determinar o que seja um texto significativo para a comunidade implica, por sua
vez, partir da bagagem cultural diversificada dos alunos, que, antes de entrarem na
escola, já são participantes de atividades corriqueiras de grupos sociais que, central
ou perifericamente, com diferentes modos de participação (mais ou menos
autônomos, mais ou menos diversificados, mais ou menos, prestigiados), já
pertencem a uma cultura letrada.

A referida autora discute ainda que uma atividade que envolve o uso da língua escrita
(um evento de letramento) não se diferencia de outras atividades da vida social: é uma
atividade coletiva e cooperativa, porque envolve vários participantes, com diferentes saberes,
que são mobilizados segundo interesses, intenções e objetivos individuais e metas comuns. Já
a prática de uso da escrita dentro da escola envolve prioritariamente a demonstração da
capacidade individual de realizar todos os aspectos de todas as atividades, seja: soletrar, ler
em voz alta, responder a perguntas oralmente ou por escrito, escrever uma redação ou um
ditado (KLEIMAN, 2007, p. 2).
Nesta direção, cabe ressaltar que a diferença entre ensinar uma prática e ensinar para
que o aluno desenvolva uma competência ou habilidade não é mera questão terminológica. Na
escola, onde predomina a concepção da leitura e da escrita como competências, concebe-se a
atividade de ler e escrever como um conjunto de habilidades progressivamente desenvolvidas
até se chegar a uma competência leitora e escritora ideal: a do usuário proficiente da língua
escrita. Os estudos do letramento, por outro lado, partem de uma concepção de leitura e de
escrita como práticas discursivas, com múltiplas funções e inseparáveis dos contextos em que
se desenvolvem. (KLEIMAN, 2007, p. 2).
Assim, sendo Kleiman (2007, p. 3) pontua que:
É difícil pensar o trabalho pedagógico com base nessa concepção, porque a
heterogeneidade não combina muito bem com a aula tradicional, com um professor
dirigindo-se a um aluno médio, idealizado, representativo da turma de trinta ou mais
alunos, interagindo apenas com o professor, falante primário e foco da atenção de
todos, que dá sua aula de acordo com um currículo definido para todas as turmas do
ciclo na escola ou no município Isso, porque em determinado dia, naquele ano, todas
as crianças da turma serão avaliadas segundo parâmetros (também supostamente
representativos dos conhecimentos a serem atingidos na série ou no ciclo) definidos
para toda a nação, como acontece com as já conhecidas avaliações do SARESP,
SAEB (KLEIMAN, 2007)

A concepção da escrita dos estudos de letramento pressupõe que as pessoas e os


grupos sociais são heterogêneos e que as diversas atividades entre as pessoas acontecem de
16

modos muito variados. Kleiman (2007, p. 4) assevera que “portanto, é viável que se
concebam princípios gerais para a organização do currículo” e complementa que tais
atividades para seu desenvolvimento, na interação entre professor e aluno(s) e entre aluno(s) e
aluno(s) envolvem tal sorte de fatores de ordem social e pessoal que seus resultados são
imprevisíveis.
De acordo com a autora, entre os princípios gerais do desenvolvimento do currículo,
segundo a concepção do letramento, pode-se destacar que teríamos:
1. O currículo é dinâmico;
2. O currículo parte da realidade local: turma – escola – comunidade;
3. O princípio estruturante do currículo é a prática social (não o conteúdo);
4. Os conteúdos do currículo têm a função de orientar, organizar e registrar o
trabalho do professor, não são, necessariamente, conteúdos a serem focalizados em sala de
aula.
Nesta direção, os “conteúdos” correspondem, basicamente, ao conjunto de saberes e
conhecimentos requeridos em práticas sociais letradas, tais como as de medição, cálculos de
volume, elaboração de maquetas, mapas e plantas (conteúdos matemáticos), e àqueles
necessários para a participação em práticas discursivas de leitura e produção de textos de
diversos gêneros. e no que toca ao último caso, fala-se, dentre outros, daqueles “conteúdos”
relativos ao domínio do código (como a segmentação em palavras, correspondências regulares
de som-letra, regras ortográficas de palavras comuns, uso de maiúsculas) e à formação de uma
noção de texto (coesão, coerência, multimodalidade, intertextualidade, gênero e discurso, etc.)
(KLEIMAN, 2007, p. 4).
Conforme deixa claro Kleiman (2007) numa prática social, sempre se tem a
necessidade de tudo isso e, portanto, é relevante que sempre surja a oportunidade de o
professor focalizar, de forma sistemática, algum conteúdo, ou seja, de apresentar materiais
para o aluno chegar a perceber uma regularidade, praticar um procedimento, buscar uma
explicação., pois será a partir de então que o letramento do aluno é definido como o objetivo
da ação pedagógica , o movimento será da prática social para o conteúdo, nunca o contrário,
se o letramento do aluno for o objetivo da ação pedagógica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento das capacidades linguísticas de ler e escrever com compreensão,
precisa ser ensinado sistematicamente e isso ocorre, principalmente, no ensino fundamental,
uma vez que é no aprendizado da língua escrita que vem se concentrando os problemas
17

localizados não apenas na escolarização inicial, como também em fracassos no percurso do


aluno durante sua escolarização.
Compreende-se que devemos ter um olhar direcionado para o aluno e o mundo que o
rodeia, para que a escola não se distancie da realidade social em que está inserida.
Com base em nosso estudo, foi possível concluir que o professor precisa estar
instrumentalizado para atuar com sucesso junto aos alunos e isso exige reflexão e
questionamento. Implica num redimensionamento do sentido da alfabetização e das ações do
professor, além da reorganização do currículo, planejando coletivamente uma intervenção
significativa no processo de aprendizagem dos alunos e valorizando as experiências dos
sujeitos envolvidos no processo de alfabetização – aluno, professor e comunidade escolar.
Por isso, cabe ao professor intervir oportunamente, mediando a interação dos alunos
com a escrita e favorecendo a descoberta da estrutura combinatória da língua. Mude-se,
assim, o enfoque da formação do professor de “como se aprende” - que mediação utilizar para
que o aluno avance na compreensão do significado e da estrutura da escrita.
As escolas devem elaborar um projeto adequado para seus próprios alunos e não seguir
modelos prontos, os professores devem estar sempre atualizando seus conhecimentos e
métodos de ensino, os alunos devem sentir orgulho da escola e valorizar a oportunidade que
estão tendo de estudar e ampliar seus conhecimentos.
Garantir o acesso à leitura e à escrita é direito de cidadania e a escola muito antes que
o professor tem um papel importante a desempenhar na concretização desse direito,
contribuindo na construção do conhecimento de crianças e adultos e ajudando-os a nunca
esquecer a história, a sempre rememorar o esquecido, para que se torne possível - mais do que
nunca - mudar a história.
A partir do momento que o educador realiza o trabalho diversificado, resgata a
criatividade adormecida no aluno pela rotina e monotonia de aulas freqüentes, investindo na
formação do futuro cidadão. Afinal, a leitura é responsável pela qualidade do cidadão por ela
formado.
Portanto, os alunos devem ser considerados como sujeitos sociais portadores de
experiências socioculturais e ativos nos seus processos de aprendizagens, sendo capazes de
construir, reconstruir e apropriarem-se criticamente dos conhecimentos.

REFERENCIAS
18

FERREIRO, Emília. Passado e presente dos verbos ler e escrever. São Paulo: Cortez, 2002.
92 p.

FREIRE. P. A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. 31ª ed.
São Paulo: Cortez, 1995.

KLEIMAN, Angela B. (2005). Preciso “ensinar” o letramento? Não basta ensinar a ler e
escrever? Cefiel/Unicamp & MEC.2007

MORTATTI, Maria do Rosário Longo. Educação e Letramento. São Paulo: UNESP, 2004.
136 p.

SILVA, L. L. M. da; FERREIRA, N. S. de A. Um livro, um evento, um tema: a alfabetização.


In: SILVA, E. T. da (org.). Alfabetização no Brasil: questões e provocações da atualidade.
Campinas, SP: Autores Associados, 2007.

SOARES, M. B. Alfabetização e letramento. 5. ed. São Paulo: Contexto,


2007.
______. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de
Educação, São Paulo, n. 25, p. 5-16, jan./abr. 2004.
______. Apresentação. Educação e Sociedade, Campinas, v. 23, n. 81, p. 15-
19, dez. 2002.
______. Letramento: um tema em três gêneros. 2. ed. Belo Horizonte:
Autêntica, 1998.
______. As muitas facetas da alfabetização. Cadernos de Pesquisa, São
Paulo, n. 52, p. 19-24, fev. 1985.

REGO, L.L.B. Repensando a Prática Pedagógica na Alfabetização. Isto se Aprende com o


Ciclo Básico; Projeto Ipê curso II, Secretaria do Estado da Educação - coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas, São Paulo, 2000, p. 44-55.

REIS, A. C dos. Baú da leitura. Feira de Santana: JB, 2008.

Você também pode gostar