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13022014 1961
Caponi S, Valença MFV, Verdi M, Assmann SJ, orga- A unificação, no século XIX, dos dois polos do bio-
logia de governo dos povos colonizados, mas na Luiz David Castiel, médico epidemiologista
sua relação positiva com a vida que maximiza a no quinto capítulo sobre a Utopia/Atopia-Alma
força e o equilíbrio das populações ou as fontes Ata, Saúde Pública e o “Cazaquistão” discute a
de degradação da vida. Reconstitui este conceito promoção da saúde e o autocuidado. Demarca
e o de bios como saber, adotando o de biopolítica as conferências internacionais e suas diretrizes
como governo da vida. para as políticas de atenção primária (Alma Ata),
Dessa forma, examina algumas classificações apontando as resistências e as utopias, ao lado das
psiquiátricas, os transtornos e a identificação recomendações neoliberais do Banco Mundial
precoce dos comportamentos de risco, dos so- sobre os pacotes mínimos de saúde.
frimentos psíquicos “leves”, geradores de novas Admite a fragilização destes ideais utópicos
patologias, interferentes na construção do pro- e suas faces políticas; a produção de atopias, an-
cesso de reconstrução reflexiva das subjetividades, corada no paradigma imunitário biopolítico de
segundo Foucault. Esposito sobre as faces políticas e a formulação
Os filósofos César Candiotto e Thereza Salomé de novas utopias contemporâneas, propondo
D`Espíndula, no segundo capítulo sobre o Bipoder comportamentos saudáveis, a saúde perfeita, o
e Racismo Político: uma Análise a partir de Foucault controle e a manutenção à distância dos riscos.
abordam um caso clássico de experimentação em Admite dificuldades de organizar as coisas do viver
seres humanos que durou de 1932 a 1972, entre suscitadas pelas utopias desejáveis e indesejáveis.
negros de baixa renda, adoecidos de sífilis, mora- O último capítulo de Fernando Hellmann
dores do Estado de Alabama nos Estados Unidos. (doutorando em Saúde Coletiva), Mirelle Finkler
Denunciado o experimento por uma jornalista, (odontóloga) e Marta Verdi (enfermeira) sobre a
após a sobrevivência de poucos sujeitos, o fato im- Mercantilização de Órgãos Humanos para Trans-
pactou a sociedade norte-americana, conduzindo plantes Intervivos sob a Ótica da Bioética Social
o governo a indenizar seus participantes. Biopoder é menos, explicitamente, articulado ao tema da
e racismo político se uniram, dominando os que coletânea, embora toque a vida e a morte. Eles tra-
não tiveram chance de resistir à experimentação çam o debate e os argumentos bioéticos, expostos
farmacológica e política sem serem informados na literatura sobre o assunto, como a proposta do
de sua enfermidade. monopsônico, um modelo ancorado no mercado
O filósofo Marcos Nalli no terceiro capítulo ético do corpo humano, proposto pelo inglês John
sobre A Abordagem Imunitária de Roberto Esposito: Haris, que reivindica um mercado de órgãos com
Biopolítica e Medicalização analisa a contribuição apenas um adquirente centralizado, na Inglaterra,
deste filósofo italiano, que entende a biopolítica no National Health Service, administrado sob
como objeto da política, centrado na realização princípios éticos. Os argumentos e as propostas
da potência inovadora da vida, traduzida em um são recusados pelas autoras devido à possibilidade
conjunto de ações e estratégias, visando promover da interferência da lógica de mercado, os riscos e
e proteger a vida e a subjetividade, conduzindo à os efeitos da venda de órgãos sobre as populações
tanatopolítica. Dos seus efeitos positivos e negati- pobres e a valorização ética da vida de uns e a
vos resultam o enigma, solucionado por Espolito, desvalorização da vida de outros.
com o “paradigma imunitário”, que à semelhança A coletânea interessa aos cientistas sociais, pro-
da dinâmica do sistema imunológico de um or- fissionais de saúde, alunos, pesquisadores em geral
ganismo enseja a “produção negativa da vida”3. e ao público leigo, que nela encontrarão questões
O autor critica Foucault por não ter esclarecido o éticas, sociais e políticas da biopolítica sobre a
paradoxo da biopolítica. medicalização da vida, um processo em expansão.
No quarto capítulo, o filósofo argentino Ed-
gard Castro discorre Acerca de la (no) Distinción
entre Bios y Zoé discutindo bios e zoé. Endossa a Referências
proposta de Pierre Hardot sobre o intercâmbio de
significação destas expressões e seus significados, as- 1. Tesser CD. Medicalização Social e Atenção à Saúde no
SUS. São Paulo: Editora Hucitec; 2010.
sociando o bios ao mundo humano como duração
2. Rabinow P, Rose N. O conceito de biopoder hoje. Rev
da vida e modo de viver. O autor agrega reflexões Política & Trabalho 2006; 24:27-57.
sobre o processo moderno de politização da vida, 3. Esposito R. Bios: Biopolítica e Filosofia. Lisboa: Edições
comparando os diferentes entendimentos de Arendt 70; 2010.
e Foucault e de Angabem e Foucault a respeito.