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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CAMPUS UFRJ-MACAÉ
Professor Aloísio Teixeira

CURSO DE ENGENHARIA

MÁQUINAS DE FLUXO
PROFESSOR RUDINELI DEMARQUE

BOMBAS DE FLUXO OPERANDO COMO TURBINAS – PROCEDIMENTO DE


SELEÇÃO

Christian Gibaldi

Larissa Justino

Lays Machado

Lucas Alcantara

Luiz Azevedo

MACAÉ

2021
INTRODUÇÃO

Por conta da escassez dos recursos naturais, e o aumento dos problemas


ambientais em escala global, há uma necessidade de desenvolver fontes renováveis
e energia, com o mínimo de impacto ambiental FERNANDEZ (2004). O alto custo de
equipamentos e projetos de micro-hidroelétricas, são grandes preocupações para se
utilizar de uma pequena hidrelétrica para geração de energia elétrica, NAUTIYAL
(2011).

Em 2002, por meio do Ministério das Minas e


Energia, foi criado o Programa de Incentivo às Fontes
Alternativas de Energia Elétrica, o PROINFA, destinado a
oferecer incentivos à implantação de centrais geradoras de
energia em pequena escala e de forma regional. Apesar do
esforço desenvolvido, ainda existe um forte obstáculo
econômico, representado pelo elevado custo de implantação
dessas alternativas de geração. No caso da implantação de
uma microcentral hidrelétrica, o grande custo está relacionado
com as unidades geradoras, representadas pelo conjunto
turbina-gerador. FERNANDES et. al 2008.

De acordo com Nautiyal et. al. (2011), bombas centrífugas funcionando como
turbina se mostram como uma boa alternativa para a geração de pequenas e micro
hidrelétricas para a geração de eletricidade, motivado pelo alto custo da energia e o
alto desgaste do ambiente devido aos combustíveis fósseis, a energia elétrica limpa
se mostra como uma solução apropriada para esses problemas.

A seleção de uma bomba funcionando como turbina (BFT) se torna um


desafio. De acordo com Nautiyal et. al. (2011), diversos pesquisadores como
Stepanoff, Childs, Sharma, Wong, Willians, Alatorre-Frenk, etc. Apresentam algumas
relações para predição da performance da bomba funcionando como turbina. Estas
relações tendem a ter grande desvio quando comparada a experimentação e a
predição, de acordo com Chapallaz 1992 apud Nautiyal et. al. 2011, os desvios
chegam a ser de até 20%. O objetivo principal dessas predições é calcular o melhor

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ponto de eficiência (MPE), da bomba em funcionamento como uma turbina, utilizando
dados disponíveis pelo fabricante da bomba.

Figura 1 - Predição de performance proposto por pesquisadores, BFT (PAT) - fonte: Nautiyal et. al.
(2011)

BOMBAS HIDRÁULICAS

De acordo com FOX et. al 2017 as máquinas que adicionam energia a um


fluido, consumindo energia externa para gerar trabalho sobre um fluido, são
denominadas bombas para fluidos pastosos ou líquidos e compressores para fluidos
gasosos. Essas máquinas consistem em um elemento rotativo chamado de impulsor
ou rotor, acionado por uma fonte de energia externa aumentando a energia cinética
do escoamento, após isso é desacelerado o fluido gerando o aumento de pressão.

3
Figura 2 - Diagrama esquemático de turbomáquina centrífuga típicas. Fonte: Fox et.al. 2017

A figura acima mostra três tipos de máquinas que elevam a pressão do fluido,
convertendo energia cinética em pressão na saída.

Figura 3 - Diagrama esquemático de turbomáquinas de fluxo axial e de fluxo mistos. Fonte:


Fox et.al. 2017

Um estágio de um compressor de fluxo axial típico. De acordo com Fox et.al.


(2017) o escoamento entra quase totalmente paralelo ao eixo do rotor na figura (a). A
figura (b) mostra o escoamento sendo defletido e deslocado para raios maiores à
medida que atravessa o estágio. Máquinas de fluxo axial não são capazes de gerar
altas razões de pressão, por este motivo são aplicados múltiplos estágios, tornando-
as mais complexas e caras que as de máquinas centrífugas

TURBINAS

De acordo com FOX et. al 2017 as máquinas extraem energia de um fluido na


forma de trabalho, são conhecidas como turbinas. As turbinas podem ser hidráulicas
ou a gás, a massa específica do fluido de trabalho pode variar consideravelmente. A
turbina converte a energia de pressão em energia cinética, por um elemento rotativo
4
que faz essa extração de energia do escoamento por um conjunto de difusores, pás
montadas na roda.

Figura 4 - Diagramas esquemáticos de turbinas hidráulicas. Fonte: Fox et.al. 2017

Há duas classificações mais gerais de turbina: reação e impulsão. Na de


impulsão o acionamento se dá por jatos livres de alta velocidade, a energia cinética é
transferida para a roda, resultando em trabalho. Na de reação, a variação de pressão
do fluido acontece no exterior e também na parte de dentro das pás móveis. O
escoamento é defletido para entrar no rotor na direção apropriada, à medida que o
fluido passa por bocais estacionadas chamadas de pás-guias.

BOMBA CENTRÍFUGA FUNCIONANDO COMO TURBINA

Figura 5 - Bomba Centrífuga funcionando como bomba e como turbina: Viana 1990.

A bomba centrífuga funcionará como turbina, de acordo com Viana (1990),


quando o sentido do fluxo de escoamento de água for inverso, consequentemente
havendo uma inversão no sentido de rotação. O líquido entra com energia em forma
de pressão na parte da descarga, acionando o rotor em reverso e saindo com baixa
pressão pela parte da entrada.

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Os resultados a seguir foram obtidos através de resultados experimentais,
fornecendo curva de altura, potência de eixo e rendimento total pela vazão de uma
bomba típica e da bomba funcionando como turbina, na mesma rotação.

Coeficiente de vazão:

𝑄𝑏
𝑘𝑞 = (1)
𝑄𝑡

Coeficiente de altura:

𝐻𝑏
𝑘𝑎 = (2)
𝐻𝑡

GRÁFICO DE COMPARAÇÃO DA BOMBA E DA BFT

Figura 6 - Curvas de altura, potência de eixo, rendimento versus vazão para a bomba e BFT
Viana 1990

De acordo com Viana 1987 apud Viana 1990, as relações supracitadas são
funções da rotação específica da bomba. Rotação essa dada no sistema
internacional por:
6
3
𝑁𝑞𝐴 = (10 𝑛∗√𝑄
𝐻∗𝑔)0.75
(3)

CONSIDERAÇÕES

De acordo com Chapallaz (1992), quando se opera com a bomba


funcionando como turbina, o padrão do fluxo através da máquina é similar ao fluxo
operando numa turbina. O impelidor da bomba não foi feito para funcionar em
reverso, o que torna menos eficiente que uma turbina bem projetada.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DE UMA BFT – SEGUNDO CHAPALLAZ


(1992)

Vantagens

• Custo: o investimento de uma BFT pode ser até 50% menor que uma
turbina
• Construção: A construção da bomba é bastante simples
• Disponibilidade: É mais fácil encontrar uma bomba do que uma turbina
• Partes sobressalentes: Devido seu uso ser mais comum, peças de
reposição são mais fáceis de se encontrar.

Desvantagens:

• Não há controle de fluxo: É um custo adicional ao sistema, caso seja


necessário reduzir o fluxo da BFT;
• Eficiência: Turbinas mais modernas, tendem a ter uma eficiência bem
maior.

COEFICIENTES EXPERIMENTAIS

Para selecionar uma bomba correta para funcionar como turbina, o ideal é o
fabricante ter os resultados experimentais como bomba e como turbina, da linha
padrão de fabricação. Os fabricantes possuem em seus catálogos resultados como
bombas de fabricação seriada. Como no Brasil isto não ocorre, Viana e Nogueira
(1990), baseados em resultados experimentais obtidos em duas bombas da
fabricação nacional e retirados dos trabalhos de Kittredge (1961) e Buse (1981),
7
levantaram os coeficientes de vazão kq e altura ka em função da rotação específica
𝑁𝑞𝐴 , da BFT na faixa de 40 a 200, como mostra a figura 7.

Figura 7 - Coeficientes de vazão e altura versus rotação específica da BFT (Viana e Nogueira, 1990).

METODOLOGIA DE SELEÇÃO

Sabendo-se que a partir dos coeficientes de vazão e altura é possível


transformar a altura da queda d’água (𝐻𝑡 ) em altura da bomba (𝐻𝑏 ) e também a sua

vazão (𝑄𝑡 ) no aproveitamento em vazão da bomba (𝑄𝑏 ) basta selecionarmos tais


coeficientes a partir da rotação 𝑁𝑞𝐴 , equação (3).

Calcula-se 𝑁𝑞𝐴 com 2 rotações predeterminadas, 1800 rpm e 3600 rpm. A

depender dos valores de 𝐻𝑡 e 𝑄𝑡 tem que se verificar se ao menos um valor 𝑁𝑞𝐴 para
as 2 rotações estão compreendidos entre 40 e 200 como é o intervalo experimental
na figura. E assim, de posse do valor da rotação específica, seleciona-se os valores
de ka e kq.

Tendo 𝐻𝑡 , 𝑄𝑡 , ka e kq conseguimos os valores da vazão da bomba e o seu


head. Sendo assim podemos selecionar uma bomba correspondente em catálogos de
fabricantes.

A potência do gerador pode ser calculada por:


8
Pele = 9,81. Q t . Ht . ηT . ηG . ηac [kW]. (4)

Onde ηT é a eficiência da turbina, que será considerada igual a eficiência da


bomba, ηg é a eficiência do gerador e ηac é a eficiência do acoplamento que pode ser
considerada 100% se este for direto.

Por fim, podemos usar a equação das turbinas Francis para termos uma boa
estimativa de prevenção de cavitação. Podemos calcular 𝐻𝑠 , que é a distância vertical
entre o centro do eixo da BFT e o nível mínimo da água no canal de fuga, através da
equação:

Hs < H’ - σ × Hb; (5)

onde:

H’ = 10 - 0,00122 × A; (6)

σ = 0,0025 × (1 + (10−4 × N²qA); (7)

H’ – Altura barométrica, Hb – Head de carga da bomba, A – altitude local em metros,

σ – coeficiente de cavitação.

MODELO TEÓRICO (Si Huang et al.).

Este modelo busca prever os coeficientes de conversão de altura (ka) e vazão


(kq), em BEP (Best Efficiency Point, em inglês) entre o modo bomba e turbina. Tais
coeficientes serão importantes para selecionar, e porventura construir, uma bomba
ideal para o funcionamento como turbina para além do intervalo das rotações
específicas experimentais.

O ponto de melhor eficiência é mensurado a partir do princípio das


características correspondentes proposto por R. C. Worster (1967). Esse princípio
modela características (fator de carga e altura) tanto da voluta quanto do impelidor e
determina o BEP igualando essas características. Então para o caso da bomba com
turbina, é calculado suas características para o fluxo reverso e comparado com as

9
características da voluta (ponto B) que se mantém idêntica para os dois
funcionamentos.

Figura 8 - Correspondência de características do rotor e voluta nos modes de bomba e turbina.

O modelo utiliza-se apenas de parâmetros geométricos das pás e da bomba


para se calcular o fator de carga em função do fator de vazão. Essa modelagem
permite controle de fabricação para se obter uma bomba com as melhores
características para o funcionamento como turbina.

Figura 9 - Principais parâmetros geométricos de uma bomba.

10
Figura 10 - Relações de velocidade na entrada e saída de um rotor.

11
Tabela 1 - Parâmetros da bomba

A Tabela 1 exibe os principais parâmetros de geometria do impulsor e voluta


em uma bomba centrífuga, onde Z, D, b, δ, β, ƛ, F representam número de pás do
impulsor, diâmetro do impulsor, largura da pá passagem no plano meridional,
espessura da lâmina, o ângulo de lâmina do impulsor da direção circunferencial, o
ângulo de aerodinâmica da direção horizontal no plano meridional e a oitava área de
seção transversal da voluta, respectivamente.

A partir da equação adimensional de Euler chega-se a equação de


características para o impelidor:

(8)

E como proposto por R. C. Worster (1967) tem-se a equação adimensional de


características da voluta:

(9)

12
Onde 𝜓, φ, ɳv, σ e ѯ representam o fator de carga, fator de fluxo, eficiência
volumétrica da bomba, fator de deslizamento e coeficiente de bloqueio de lâminas,
respectivamente, e:

(10)

E assim obtemos as equações características da bomba (φP e 𝜓P), unindo as


equações características do impelidor e da voluta:

(11)

(12)

Analogamente para a correspondência entre voluta e turbina, temos as


equações características da turbina (φT e 𝜓T):

(13 e 14)

Agora os coeficientes de conversão de carga (ka) e de vazão (kq) podem ser


definidos em função dessas funções características da bomba e da turbina.

Ka = h = HT ÷ HP = 𝜓T ÷ (𝜓P × ɳ²h) ; kq = q= QT ÷ QP = φT ÷ φP (15)

ɳh = eficiência hidráulica

13
Após a conclusão das equações se pode prever os coeficientes de vazão e
carga e assim compará-los com os coeficientes experimentais. Bem como calcular as
cargas e eficiências da bomba e da turbina.

Figura 11 - Curvas de performance da bomba. Figura 12 - Curvas de performance para o modo turbina.

As figuras 11 e 12 comparam valores calculados de eficiência e o head de carga


com os valores testados experimentalmente - para a bomba e para turbina,
respectivamente - e dado os resultados o método se mostra bastante acurado para
seus cálculos no BEP.

14
Figura 13 - Comparação dos valores previstos e os valores testados no BEP para as 3 bombas.

Outra forma de validação foi comparar com outros métodos de obtenção dos
coeficientes e os resultados experimentais de 3 bombas. Nessa comparação podemos
ver que o método permanece dentro da faixa de erro aceitável de 10%, enquanto
alguns outros métodos não o fazem.

Figura 14 - Comparação dos resultados experimentais com os valores previstos por diferentes métodos .

15
O MÉTODO APRESENTADO TEVE AS SEGUINTES CONCLUSÕES:

“Com base na teoria de correspondência de rotor e voluta, uma abordagem


preditiva de desempenho para uma bomba tanto na bomba quanto modos de turbina
foram propostos neste artigo. Não só o fator de conversão, mas também os valores
de taxa de fluxo e carga no BEP pode ser estimado em ambos os modos de bomba e
turbina. O método previsto e os resultados foram verificados por teste de desempenho
em conformidade.

A taxa de fluxo, altura manométrica e seu fator de conversão no BEP podem


ser expresso em formulações preditivas com os principais parâmetros geométricos o
impelidor e voluta, sem a limitação da faixa estatística / empírica, dados de
desempenho ou geometria 3D detalhada em bombas. O método proposto pode ser
uma técnica eficaz para a seleção e aplicação de BFT devido à sua universalidade e
praticidade.” (SI HUANG ET AL., 2017)

VERIFICAÇÕES

Algumas considerações devem ser levadas em conta ao optar-se pela bomba


operando como turbina. Ao escolher-se a BFT, a altura é aumentada, o que torna
necessário a verificação da carcaça e a checagem se a mesma suporta a nova
pressão. A pressão máxima de uma BFT não deve exceder uma vez e meia o registro
fechado da bomba original.

Além disso, deve-se verificar a rotação máxima ou rotação de disparo da BFT,


esta pode alcançar nd = 1,6.nb.

A potência pode ser manipulada pelo eixo, mancais e acoplamento, uma vez
que o resultado do aumento de pressão e vazão deve ser limitado.

A solicitação do eixo pode ser calculada da seguinte maneira:

𝑃𝑒
𝜏 = 0,81. ( ) (16)
𝑛.𝑑 3

Onde,

• 𝜏 : tensão máxima aplicada ao eixo (N/m2);


16
• 𝑛 : rotação (rps);
• 𝑑 : diâmetro do eixo (m);
• 𝑃𝑒 : potência de eixo (W);

A tensão admissível é tabelada em função do eixo.

Deve ser analisado, ainda, se o rotor é fixado por parafusos ou cubo de


fixação, pois o sentido da rosca é contrário ao sentido de rotação. Na BFT o sentido
de rotação é invertido, o que torna necessário verificar a necessidade de pinagem ou
chavetamento.

CONSIDERAÇÕES RELATIVAS AO IMPACTO ECONÔMICO

Visando esclarecer a relação dos custos referentes ao BFT e um motor diesel


e verificar a viabilidade econômica, algumas estimativas foram analisadas.

Foi utilizado o parâmetro Taxa Interna de Retorno – TIR. Por definição a TIR
é a taxa que zera o Valor Presente Líquido – VPL. Assim, para maiores valores da
TIR, mais viável é o empreendimento.

A taxa é representada pelo seguinte cálculo:

(1+𝑇𝐼𝑅)𝑛 −1
𝐶𝐴. [ ] − ∆𝐼 = 0 (17)
𝑇𝐼𝑅.(1+𝑇𝐼𝑅)𝑛

𝐶𝐴 = 𝐸. 𝑐. 𝑃𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 (18)
∆𝐼 = 𝐼𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 − 𝐼𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 (19)

Onde,

• 𝐶𝐴 : Custo anual de operação do motor diesel (R$)


• ∆𝐼 : Diferença de investimento entre o motor diesel e a BFT (R$)
• 𝑛 : Período de pagamento do investimento, considerado igual à
vida útil da BFT (15 anos)
• c : Consumo específico do motor diesel (L/kWh)
• 𝐼𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 : Custo do motor diesel (R$)

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• 𝐼𝑏𝑜𝑚𝑏𝑎 : Custo da BFT (R$)
• 𝑃𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 : Custo do diesel (R$/L)

Os impactos ambientais foram estimados em termos da redução de


gases doe feito estufa – GEE conseguida pelo uso da BFT. A redução da emissão de
gases RGEE foi estimada como sendo o produto entre a quantidade de diesel evitada,
se a energia anual gerada fosse pelo grupo gerador diesel, e o índice de emissão da
queima do diesel, e é dado pela expressão abaixo:

𝑅𝐺𝐸𝐸 = 𝐸. 𝑐. 𝐼𝐸 (20)

Onde,

• 𝑅𝐺𝐸𝐸 : Redução de emissões de gases do efeito estufa


• 𝐸. 𝑐: Quantidade de diesel evitada (L)
• 𝐼𝐸 : Índice de emissão da queima do diesel (0,0026168 tCO2/L)

MODIFICAÇÃO PROVIDÊNCIAS A SEREM REALIZADAS

Apesar de existir uma teoria hidráulica básica parecida para as duas


máquinas, o comportamento diferente do fluido real, incluindo o atrito e turbulência em
cada caso justifica a necessidade de diferentes regras de design em cada máquina.
Em primeiro lugar, a bomba que será usada como turbina não possui um sistema de
pás diretrizes como uma turbina usual. Assim, é necessário que se instale uma
válvula, de preferência borboleta, na entrada de fluido do equipamento. Essa válvula
faz tanto o controle da vazão do fluido quanto serve como parada de funcionamento
do equipamento. Além disso, é necessário que a curva da tubulação de saída da BFT
tenha um raio longo, de forma que a perda de carga na linha de sucção seja a mínima
possível. Por último, o tubo de sucção na saída da BFT deve ser um pouco divergente
para que haja uma recuperação no gradiente de velocidade do fluido.

GERADOR E CONTROLE DE ROTAÇÃO

Para a aplicação de uma planta de BFT, é necessário a modelagem de um


sistema gerador de tensão e um sistema controlador para o mesmo. A situação de
aplicação proposta é de um micro aproveitamento em um sistema isolado. Para este
18
caso, o mais recomendado é a utilização de um gerador do tipo síncrono, este é o tipo
mais acessível no mercado. A base do funcionamento do gerador tem a mesma ideia
da máquina de corrente contínua, ou seja, sempre que houver movimento entre um
condutor e um campo magnético haverá uma tensão que será conduzida pelo
condutor. O tipo de gerador proposto e mais encontrado no Brasil tem rotação próxima
a 1800 rpm para potências inferiores a 50 KW. Ele alimenta um circuito trifásico e tem
um rendimento de 70% a 90% dependendo da faixa de trabalho a que é aplicado. A
melhor maneira de realizar o controle sobre a produção de energia elétrica é deixando
a válvula de entrada totalmente aberta, fornecendo assim a máxima energia
hidráulica. A regulagem fica sobre responsabilidade de circuitos de controle
eletrônicos que mantém a frequência, rotação e tensão constantes ao longo do tempo.

APLICAÇÃO

O estudo de caso foi realizado levando em conta um aproveitamento fictício,


em um sistema isolado brasileiro, com as seguintes características:

Dados Fornecidos:
Vazão de Projeto (𝑄𝑡 ) 0,1 m³/s
Altura de Queda (𝐻𝑡 ) 25 m
Gravidade (g) 9,81 m²/s

Aplicando a equação (3) foi calculado o 𝑁𝑞𝐴 do aproveitamento para 3600 rpm
(60 rps) e 1800 rpm (30 rps):

Para n = 3600 rpm


𝑵𝒒𝑨 306,1572078

Para n = 1800 rpm


𝑵𝒒𝑨 153,0786039

Como apenas o de 1800 rpm se encontra entre 40 e 200, então essa foi a
rotação adotada para a operação da BRT.

Após o valor encontrado para 𝑁𝑞𝐴 foi feita uma análise do gráfico dos
coeficientes de vazão e de altura vs rotação específica, presente na Figura 7. Segue
abaixo os valores aproximados:

19
𝑘𝑎 0,59
𝑘𝑞 0,71
Com os valores de 𝑘𝑎 e 𝑘𝑞 , foram calculados, a partir das equações (1) e (2),
os valores para o equipamento funcionando como uma bomba:

𝑄𝑏 0,071 m³/s
𝐻𝑏 14,75 m

O modelo da bomba foi escolhido de acordo com o catálogo dos fabricantes


cujas bombas foram ensaiadas. Foi selecionado um equipamento que se adequasse
ao estudo, que nesse caso é o modelo 125x25, possui um rendimento de 78%
aproximadamente. Além disso, foi adotado o rendimento de 86% para o gerador e de
100% para o acoplamento, pois considerou-se que a vazão de projeto desse
empreendimento fosse menor que a vazão mínima do fluxo da água do local de
instalação.

𝜼𝒕 78%
𝜼𝒈 86%
𝜼𝒂𝒄 100%

A partir dos rendimentos é possível calcular a potência através da equação


(4):

𝑃𝑒𝑙𝑒 16,45137 kW

O artigo parou no cálculo da potência elétrica, mas para provar a relação dos
custos BFT e um motor diesel, vamos mais adiante com estimativas dos impactos
econômicos. Para isso, definimos alguns pontos importantes de comparação:

Característica Diesel BFT


P (cv) 22 22
I (R$) 6800 2800
c (L/kWh) 0,21 -
𝑃𝑑𝑖𝑒𝑠𝑒𝑙 (R$/L) 4,38 -
n (anos) 12 15

Sendo, P a potência de 16,45 kW aproximada em 22 cv, estimamos os preços


de motores com essa potência através de pesquisas de mercado. Sendo assim, temos
20
que o motor diesel custa na faixa de R$ 6800,00 e o BFT R$ 2800,00. Com base nos
preços atuais do combustível, temos que o litro do diesel custa em média R$ 4,38. O
consumo específico do motor - 0,21 L/kWh - e a vida útil (n) são dados fornecidos pelo
fabricante.

Aplicando a modelagem apresentada pela equação (17), foi possível estimar


os impactos econômicos e ambientais do uso de uma BFT com potência de 16,45 kW.

∆𝐼 4000 R$
E (anual) 144114,0012 kWh/ano
CA (custo anual) 132556,0583 R$/ano

Onde ∆𝐼 é a diferença de investimento entre o motor diesel e o BFT, o E é a


energia anual gerada pela BFT em um ano (8760 horas) e CA é o custo anual de
operação do motor diesel.

Após o cálculo dessas últimas variáveis foi possível realizar a estimativa da


Taxa Interna de Retorno (TIR) - taxa necessária para igualar o valor de um
investimento, valor presente, com os seus respectivos retornos futuros ou saldos de
caixa gerados em cada período:

Impacto Econômico TIR 33,13912172 0,025 2.5% a.a

Além disso, foram estimados os impactos ambientais em termos de redução


dos gases de efeito estufa (GEE) através do produto entre a quantidade de diesel
evitada e o índice de emissão da queima do diesel – sendo 0,0026168 tCO2 /L –
representados pela equação (20) . Essa redução é de:

𝑹𝑮𝑬𝑬 79,19467885 t𝐂𝐎𝟐 /L

Por último realizamos o cálculo para a altura mínima (m) da água no canal de
fuga exigida a fim de evitar a cavitação, equação (5):

𝐻𝑠 7,879933815

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CONCLUSÃO

Tendo em vista o que foi discutido ao longo do artigo, que trata da metodologia
para seleção de uma bomba com efeito turbina. Pode-se dizer que a operação da
bomba como turbina (em reverso) é indicada por diversos motivos como, por exemplo,
o baixo custo e o bom funcionamento como turbina. Além disso, existem outros tipos
de bombas, como a tipo hélice, que vem sendo estudas para aproveitamento como
turbina, atendendo baixas quedas.

Também foram estimados os impactos econômicos pelo cálculo da taxa


externa de retorno – TIR, e ambientais, pelo cálculo das reduções de emissões de
gases do efeito estufa – GEE do uso de uma BFT em substituição ao uso de um motor
a diesel. O resultado apresentado mostra um potencial hidráulico para geração de
energia elétrica de aproximadamente 16,5Kw e opção do uso de uma BFT em relação
a um grupo gerador diesel propiciaria uma Taxa Interna de Retorno na ordem de 2,5%
e reduções de emissões de gases do efeito estufa de 79,19 tCO2 por ano.

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REFERÊNCIAS

CHAPALLAZ, Jean-Marc; EICHENBERGER, Peter; FISCHER, Gerhard. Manual on


pumps used as turbines. 1992.

FERNANDES, Regional Barbosa, Roberto Alves Braga Junior, Aberto Colombo,


Giovanni Francisco Rabelo. BOMBA CENTRÍFUGA OPERANDO COMO TURBINA
E MOTOR DE INDUÇÃO COMO GERADOR PARA PEQUENOS
APROVEITAMENTOS DE POTENCIAL HÍDRICO. I Jornada Científica e VI FIPA do
CEFET Bambuí Bambuí/MG - 2008

FERNANDEZ, J. et al. Performance of a centrifugal pump running in inverse mode.


Proceedings of the Institution of Mechanical Engineers, Part A: Journal of
Power and Energy, v. 218, n. 4, p. 265-271, 2004.

FOX, Robert W.; MCDONALD, Alan T.; MITCHELL, John W. Fox and McDonald's
introduction to fluid mechanics. John Wiley & Sons, 2017.

HUANG, Si et al. Performance prediction of a centrifugal pump as turbine using


rotor-volute matching principle. Renewable Energy, v. 108, p. 64-71, 2017.

NAUTIYAL, Himanshu et al. Experimental investigation of centrifugal pump


working as turbine for small hydropower systems. Energy Science and
technology, v. 1, n. 1, p. 79-86, 2011.

VIANA, Augusto Nelson Carvalho. Bombas de fluxo operando como turbinas–


procedimento de seleção. Dissertação de Mestrado. EFEI. Itajuba/MG. 1987

VIANA, Augusto Nelson Carvalho; NOGUEIRA, Fabio José Horta. Bombas de fluxo
operando como turbinas–procedimento de seleção. Universidade Federal de
Itajubá, p. 26, 1990.

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